Cinema do IMS Rio, junho de 22

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cinema jun.2022


Mariópolis (Mariupolis), de Mantas Kvedaravičius (Alemanha, França, Lituânia, Ucrânia | 2016, 83’, DCP) [capa] Preto é… preto não é (Black Is… Black Ain’t), de Marlon Riggs (EUA | 1995, 86’, arquivo digital)


destaques de junho 2022 Entre o final dos anos 1980 e o começo dos anos 1990, Marlon Riggs produziu oito filmes, – longas, médias e curtas-metragens – nos quais a experiência de ser um homem negro gay que vive com HIV nos EUA é somada ao rigor da pesquisa histórica, à inventividade formal e à produção de seus parceiros de ativismo e produção artística. Pela primeira vez, essa obra será exibida na íntegra nos Cinemas do IMS e no Galpão Bela Maré, em diálogo com curtas-metragens brasileiros contemporâneos. A mostra Bixaria Negra – O cinema de Marlon Riggs tem curadoria de Bruno F. Duarte e conta com a presença de pesquisadores e cineastas que discutirão o legado de Riggs. Entre eles, Cornelius Moore, que foi parceiro de criação e é distribuidor dos filmes do artista. Invasão, ocupação violenta, deslocamentos forçados e apagamento de memórias ancestrais são temas que orientam a exibição de Mariópolis, de Mantas Kvedaravičius – assassinado por tropas russas em abril deste ano –, junto aos filmes Carta a um amigo, de Emily Jacir, e Apyka´i “Banco do pensamento”, de Xadalu Tupã Jekupé, num diálogo entre Ucrânia, Palestina e a população indígena Mbya. A aparição de Zé do Caixão exposta a vítimas de um experimento alucinógeno é a premissa de Despertar da besta, filme de José Mojica Marins censurado pelo regime militar, que será exibido na Sessão Cinética deste mês. Junto aos filmes em cartaz, o Cinema do IMS exibe curtas-metragens produzidos para o IMS Convida: incêndios criminosos, artigos de neutralidade de gênero, a live que as amigas não podem perder e um poema do século XVIII subitamente transformado em rap. 1

Hino! (Anthem), de Marlon Riggs (EUA | 1991, 8’, arquivo digital)

Carta a um amigo (Letter to a Friend), de Emily Jacir (Território Palestino | 2019, 43’, DCP)

Dia do fogo, de Maria Augusta Ramos (Brasil | 2021, 7’, DCP)


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Má sorte no sexo ou pornô acidental + EX@ (110’) Amigos de risco + A live delas (98’) Má sorte no sexo ou pornô acidental + EX@ (110’)

Amigos de risco + A live delas (98’) Má sorte no sexo ou pornô acidental + EX@ (110’)

Má sorte no sexo ou pornô acidental + EX@ (110’) Espero que esta te encontre e que estejas bem + Cretinália (91’) Amigo secreto + Dia do fogo (135’)

Festival Varilux de Cinema Francês

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Pequena mamãe + Nascente (79’) Vitalina Varela + A gente acaba aqui (137’) Amigos de risco + A live delas (98’)

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Amigos de risco + A live delas (98’) Má sorte no sexo ou pornô acidental + EX@ (110’) Espero que esta te encontre e que estejas bem + Cretinália (91’)

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Amigos de risco + A live delas (98’) Má sorte no sexo ou pornô acidental + EX@ (110’) Espero que esta te encontre e que estejas bem + Cretinália (91’)

Má sorte no sexo ou pornô acidental + EX@ (110’) Espero que esta te encontre e que estejas bem + Cretinália (91’) Línguas desatadas + Noite das estrelas (78’) Seguida de debate com Cornelius Moore, Bàbá Adailton Moreira e Janaína Oliveira

Má sorte no sexo ou pornô acidental + EX@ (110’) Espero que esta te encontre e que estejas bem + Cretinália (91’) Amigo secreto + Dia do fogo (135’)

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Má sorte no sexo ou pornô acidental + EX@ (110’) Espero que esta te encontre e que estejas bem + Cretinália (91’) Amigo secreto + Dia do fogo (135’)

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Espero que esta te encontre e que estejas bem + Cretinália (91’) Má sorte no sexo ou pornô acidental + EX@ (110’) Sessão Cinética: O despertar da besta (Ritual dos sádicos) (92’) Seguida de debate com os críticos da revista

Má sorte no sexo ou pornô acidental + EX@ (110’) Curtas 1 - Bixaria Negra: O cinema de Marlon Riggs (61’) Do estereótipo negro + A luz, Matheusa (82’)

Má sorte no sexo ou pornô acidental + EX@ (110’) Curtas 2 - Bixaria Negra: O cinema de Marlon Riggs (67’) Preto é... preto não é + Fartura (112’)

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Pequena mamãe + Nascente (79’) Vitalina Varela + A gente acaba aqui (137’) Mariópolis + Carta a um amigo + Apyka´i “Banco do pensamento” (131’)

Má sorte no sexo ou pornô acidental + EX@ (110’) Espero que esta te encontre e que estejas bem + Cretinália (91’) Ajuste de cor + Tudo o que é apertado rasga (115’)

Má sorte no sexo ou pornô acidental + EX@ (110’) Espero que esta te encontre e que estejas bem + Cretinália (91’) A paixão de Marlon Riggs + O blues de Oakland (89’)

Programa sujeito a alterações. Eventuais mudanças serão informadas em ims.com.br. 3


Bixaria Negra – O Cinema de Marlon Riggs por Bruno F. Duarte

Gênio. Marlon Riggs (1957-1994) é antes de tudo um gênio. Um homem negro, homossexual, que viveu com HIV e foi um exímio narrador. Riggs construiu uma filmografia inconfundível, celebrada por equilibrar-se entre pesquisas rigorosas e ousada experimentação estética. O documentarista nasceu no Texas, sul dos Estados Unidos, graduou-se em história na Universidade de Harvard e obteve o título de mestre em jornalismo na Universidade da Califórnia em Berkeley, onde iniciou sua trajetória singular no audiovisual. Entre 1981 e 1994, escreveu, produziu e dirigiu oito filmes de não ficção – quatro deles de longa-metragem – antes de ter sua vida interrompida precocemente, aos 37 anos, em decorrência do HIV/aids. O diretor obteve reconhecimento de público e crítica, em festivais e mostras de cinema, mas também por exibições em rede de TV aberta. Foi premiado em ambos os circuitos com honras do Emmy, do Festival de Sundance e do Festival de Berlim. A biografia do diretor reúne muitos elementos para uma bela história de exceção extraordinária. Mas foi a busca 4

pela experiência coletiva comum, impulsionada por uma urgência de comunicação com pessoas negras, que moveu seu fazer artístico. Em retrospectiva inédita no Brasil, a mostra Bixaria Negra – O cinema de Marlon Riggs exibe todos os filmes do diretor, em junho, mês do Orgulho LGBTI+, nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. As celebrações do orgulho como conhecemos hoje originam-se dos protestos da Revolta de Stonewall, liderados por pessoas trans e travestis negras e latinas em Nova Iorque, nos EUA, em 1969. Entretanto, a filmografia de Riggs parte de protestos populares anteriores, apresentando principalmente imagens de arquivo da luta pelos direitos civis da população negra nos EUA entre 1954 e 1968 – não sem questionar o isolamento oferecido ao ativista Bayard Rustin (1912-1987), assumidamente homossexual, conselheiro de Martin Luther King Jr. e um dos principais articuladores da Marcha sobre Washington de 1963. De forma interseccional e afirmativa, Riggs discute em sua obra as opressões e estratégias de

sobrevivência das comunidades negra e gay. É nos anos 1980 que a pandemia de HIV/ aids chega ao mundo. E nesse contexto de incertezas e pânico, a experiência corporal e subjetiva de homens negros gays é informada pelo excesso de morte. Riggs toma conhecimento de sua sorologia positiva para HIV em meio à produção de Línguas desatadas (1989), naquela época, uma sentença. O chamado da poeta e ativista Audre Lorde (1934-1992) pela “transformação do silêncio em linguagem e ação” é uma chave importante para compreender o compromisso de Riggs em seu segundo longa-metragem. Parte significativa da obra de Lorde é dedicada a encarar o silêncio e as sombras de seu processo de enfrentamento de um câncer. É na humanidade do fim, inflexível e transparente, e na potência vital da poesia que suas obras se encontram. O processo de Línguas desatadas é em si um desdobramento de uma cena ampla de grupos de arte e poesia articulada por pessoas negras espalhadas pelo país, onde criação, debate político, encontros, motins e publicações coletivas


eram desenvolvidos. Havia uma subjetividade coletivizada sendo forjada em meio ao movimento de pessoas negras dissidentes de gênero e sexualidade em grupos políticos atuantes na esfera pública por meio das artes. Riggs celebra em toda sua filmografia figuras daquele tempo, como James Baldwin, bell hooks, Angela Davis, Isaac Julien, Essex Hemphill, Bill T. Jones, Joseph Beam, Assotto Saint, Sylvester, Blackberri e Willi Ninja. Mas também convoca a presença de lideranças abolicionistas dos séculos 18 e 19 – como Sojourner Truth, Frederick Douglas e Harriet Tubman. Se, em sua época, Riggs e seu coletivo Black Gay Men United se organizavam em torno da ideia de solidariedade e potencialização da vida de homens negros gays, hoje, no contexto brasileiro, a designação bixa preta, grafada com “x”, vem sendo utilizada constantemente como um posicionamento anti-hegemônico por artistas, ativistas e coletivos de pessoas negras dissidentes de gênero e sexualidade para se afirmarem enquanto grupo social que traz em seus corpos e subjetividades 5

marcas do racismo, da cisheteronormatividade, da opressão de classes, e do colonialismo. Diferentes grupos historicamente marginalizados têm realizado torções em signos forjados para controlar e envergonhar. A palavra, escrita e falada, oferece possibilidades de expressão e materialização de tradições de resistência e emancipação fora do tempo. Esse processo coletivo de transmutação de dor em potência de vida parece se aproximar de processos rituais trazidos às Américas com a diáspora negra, em que diferentes expressões das religiões de matriz africana seguem sendo perseguidas e criminalizadas até os dias de hoje. É investindo na retomada e potência de tudo que pode ser disparado a partir da medida do sobrenatural que também se disputa a ideia de magia negra. Em meio às construções realizadas no campo simbólico, especialmente por gerações de artistas, ativistas e intelectuais que desenvolvem seus trabalhos em torno da celebração da experiência negra na diáspora, aciono aqui a noção de Bixaria Negra, desenvolvida em minha

pesquisa de mestrado sobre Marlon Riggs, como uma pista para compreender a dimensão encantada do trabalho coletivo empenhado pelo diretor na produção desse conjunto de imagens. Filmografia que desafia não apenas os conceitos de raça, masculinidade e sexualidade, mas principalmente se rebela e dança diante das noções de linguagem, emancipação e poder. O compromisso de Riggs e do coletivo que se encontra de forma não casual, com intencionalidade, a fim de “imagear” e emancipar um comum em que possamos existir e festejar, por meio de magia, técnica, arte e política, é o que aponto aqui enquanto um ato de bixaria negra. Uma aposta em reconstruir o comum e projetar-se no futuro enquanto estratégias importantes para o estabelecimento da relação de cuidado coletivo e, em última instância, um plano de fuga para a vida.


Lançado em 1989, Línguas desatadas é seu trabalho mais provocativo, além de ser o filme mais conhecido do cineasta no Brasil, devido a exibições em diversos festivais e mostras. O longa-metragem ganhou o Prêmio Teddy de Melhor Documentário sobre questões da população LGBTI+ em 1990 no Festival de Berlim e é citado de forma recorrente em pesquisas acadêmicas e pela crítica cinematográfica enquanto um filme inovador no campo da não ficção. A profusão de gêneros que convergem em suas sequências cheias de ritmo e poesia, os corpos que tomam a cena em imagens revolucionárias de homens negros amando homens negros, Riggs, em primeira pessoa, falando sobre dores e delícias de ser um homem negro gay nos EUA da década de 1980, em meio à pandemia de HIV/aids, elevam o filme à categoria de clássicos. Os curtas-metragens Afirmações (1990), Hino! (1991) e Non, je ne regrette rien (1992) avançam o exercício de desfazimento do silêncio e da vergonha imputados a corpos e subjetividades de homens negros gays. 6


Antes do corajoso posicionamento ético e estético, diante de si e dos outros, de encarar sua finitude próxima, sem arrependimentos, em um filme exibido na rede pública de TV dos EUA em meio a ataques de políticos conservadores, Riggs já havia conquistado reconhecimento enquanto acadêmico, ativista e documentarista. Seu curta-metragem O blues de Oakland (1981), realizado para a conclusão de seu mestrado, narra a vibrante cena musical que nasce a partir da migração de comunidades negras do sul dos EUA para a East Bay Area, na cidade de São Francisco, após a Segunda Guerra Mundial – ele recebeu um prêmio Emmy para discentes pelo documentário. O diretor também ganhou um prêmio Emmy no ano de 1987 por seu primeiro longa-metragem, Do estereótipo negro, uma rigorosa pesquisa sobre as raízes de estereótipos racistas disponíveis na cultura imagética dos EUA, a fim de desumanizar e justificar o uso da violência contra pessoas negras. Em Ajuste de cor (1991), ele avança seu projeto de dissecação dos espaços reservados à negritude na cultura 7

de massa e seus desdobramentos para analisar a emergência de um novo tipo de experiência negra em programas de entretenimento exibidos em horário nobre da TV após a Segunda Guerra: pessoas negras bem-sucedidas na sociedade de consumo norte-americana. Além de pesquisadores da área da comunicação e das relações raciais, produtores de televisão e artistas da época complexificam ideias em torno da demanda e produção de imagens supostamente positivas de grupos sociais marginalizados – principalmente em um contexto em que as mesmas estavam em oposição direta às imagens do noticiário, onde ativistas pelos direitos civis eram vistos sendo brutalmente reprimidos pelas forças de segurança do Estado. O último filme de Riggs, Preto é… preto não é (1995), foi finalizado postumamente. Neste documentário, o cineasta parte da receita de gumbo, um tradicional prato da culinária do sul dos EUA feito por sua avó, para complexificar o debate sobre as diversas experiências da negritude nos planos individual e coletivo.

Uma possibilidade de nos posicionarmos mais próximos de nossos desejos do que das expectativas que recaem sobre nós. O longa-metragem foi exibido pela primeira vez no Brasil em 2019, no Museu de Arte do Rio (MAR), por ocasião da mostra 30 anos de Línguas desatadas – Tributo a Marlon Riggs, no Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul. A trajetória de Marlon Riggs enquanto realizador de cinema de não ficção passa desde a produção de documentários em formatos mais convencionais, informados por historiografias precisas e entrevistas com intelectuais de prestígio, até a experimentação de linguagem mais próxima de ensaios, videoclipes e performances, através de processos de criação coletiva horizontalizados e da encenação, num estilo que o diretor chegou a denominar de “promíscuo”, como revela Rhea Combs, phd pela Universidade Emory com uma tese sobre o impacto do diretor na prática do documentário e para a cultura nos EUA. Além da filmografia completa do realizador, a programação inclui a cinebiografia


A paixão de Marlon Riggs (1996), de Karen Everett, e um programa especial com nove documentários brasileiros de curta-metragem contemporâneos em diálogo com a produção de Riggs e realizados por jovens cineastas negres LGBTI+. Nas sessões de Línguas desatadas, apresentamos Noite das estrelas (Wallace Lino e Paulo Victor Lino, 2021), pesquisa-performance do coletivo Entidade para resgate e celebração de artistas LGBTI+ da favela da Maré. O mergulho nas imagens de arquivo e memórias afetivas de famílias negras em torno da comida, realizado em Fartura (Yasmin Thayná, 2019) acompanha Preto é… preto não é. Matheusa Passareli tinha 21 anos e cursava artes visuais na Uerj quando foi brutalmente assassinada em 2018. Em A luz, Matheusa (Sabine Passareli e Salacione Passareli, 2020), sua irmã e sua mãe compartilham as reflexões dela sobre limites e possibilidades da universidade, e o curta será exibido com Do esteriótipo negro. O afiado movimento de escuta dos arquivos de artistas da cena negra 8

brasileira empreendido em Tudo o que é apertado rasga (Fábio Rodrigues Filho, 2019) abre a sessão de Ajuste de cor. Dois programas de curtas-metragens com filmes de Riggs e artistas contemporâneos brasileiros completam a programação da mostra. Os manifestos de celebração ao poder negro gay Afirmações e Hino! acompanham Afronte (Bruno Victor e Marcus Azevedo, 2017), Negrum3 (Diego Paulino, 2018) e Pietá (Pink Molotov, 2020) no primeiro programa de curtas. Non, je ne regrette rien abre o segundo programa de curtas, organizado em torno da coragem de liderar movimentos de emancipação, composto por Corpos, afetos e memórias (Flip Couto, 2020) e Línguas selvagens (Elton Panamby, 2016). A mostra conta ainda com dois debates sobre a vida e obra de Marlon Riggs, com a participação de Cornelius Moore, curador de cinema e codiretor da California Newsreel, distribuidora de todos os filmes de Riggs. No IMS Rio, participam do debate Janaína Oliveira, curadora e diretora do Ficine – Fórum Itinerante do Cinema Negro, e Bàbá Adailton Moreira,

mestre em educação pela Uerj e líder do Ilê Axé Omiojuarô. No IMS Paulista, participam Heitor Augusto, curador e diretor do Instituto NICHO 54, e a cineasta Yasmin Thayná. Bixaria Negra – O cinema de Marlon Riggs também será exibida no Galpão Bela Maré, onde haverá sessão especial de abertura com participação de Cornelius Moore, além de Wallace Lino e Paulo Victor Lino, diretores do curta Noite das estrelas, e apresentação das artistas Dominick di Calafrio, Preta Queen B Rull e Pantera, que continuam o legado de festa e resistência de pessoas negras LGBTI+ na favela da Maré.


Marlon T. Riggs: de documentarista a guerreiro da cultura por Cornelius Moore, tradução de Valeria Lima

Quase 30 anos após sua morte prematura, aos 37 anos de idade, os filmes de Marlon Troy Riggs (1957-1994) ainda causam impacto nos espectadores – principalmente uma nova geração de criadores e ativistas. Gostaria de contextualizar o trabalho pioneiro de meu colega e amigo Marlon Riggs. Como a maioria dos negros norte-americanos, as origens de Marlon remontam ao sul dos Estados Unidos, onde a maior parte de nossos ancestrais viveu por gerações. É uma região que produziu muitos de nossos contadores de histórias e, à sua maneira, Marlon continuou essa tradição. Após o ensino médio, ele foi admitido na Universidade de Harvard, onde se graduou magna cum laude [com grandes honras] em história, em 1978. Sua próxima parada seria a radical e boêmia Bay Area, no norte da Califórnia (por exemplo, o Partido dos Panteras Negras foi fundado em Oakland, Berkeley era um polo de ativismo estudantil e São Francisco tem uma grande população gay), para frequentar a Escola de Jornalismo na Universidade da Califórnia. Essa região também tem 9

uma relevante e solidária comunidade de cineastas documentaristas, à qual Marlon se integrou. Ao formar-se, em 1982, seu projeto de graduação foi O blues de Oakland (Long Train Running: The Story of the Oakland Blues). Em pouco tempo, ele começou a lecionar na Escola de Jornalismo, tornando-se o mais jovem professor titular da instituição. Inspirado após assistir a uma exibição de ar tefatos retratando imagens

estereotipadas de pessoas negras, Marlon fez seu primeiro documentário, Do estereótipo negro (Ethnic Notions, 1987). O filme expandiu-se no assunto ao mergulhar na história de caricaturas racistas antinegras na cultura popular dos Estados Unidos (imagética, teatro, animação, filmes) desde antes da Guerra de Secessão até o crescimento do movimento pelos direitos civis da década de 1960. O filme foi lançado durante a gestão


do presidente Ronald Reagan, momento em que as conquistas dos movimentos dos direitos civis, dos trabalhadores, das mulheres e dos direitos dos gays estavam sob ataque de forças conservadoras, e que o financiamento governamental às artes e à transmissão pública estavam constantemente ameaçados. Do estereótipo negro tornou-se uma ferramenta vital para educadores e ativistas antirracistas. O documentário ganhou um prêmio Emmy, continua amplamente referenciado e continua a ser o filme mais exibido e adquirido de Marlon, com um faturamento bruto de mais de 1,3 milhão de dólares. A minha empresa, California Newsreel, tornou-se distribuidora do filme, e foi nesse contexto que Marlon e eu nos conhecemos. Ele me convidou a entrar no seu clube na Bay Area, chamado Black Gay Men United (BGMU – União dos Homens Negros Gays), cujos membros incluíam educadores, advogados, atores, trabalhadores administrativos, escritores e outros artistas. O estilo e a abordagem documental de Do estereótipo negro refletiam a formação 10

de Marlon como historiador e jornalista. No entanto, Marlon também queria explorar formas mais experimentais de cinema. Dessa forma, animou-se ao receber, no final de 1988, um pequeno financiamento para fazer um vídeo curto experimental sobre gays negros e dirigido a eles. Porém, logo adoeceu e descobriu que era HIV positivo, em uma época em que não havia medicamentos que tratassem a aids com êxito. Com esse diagnóstico e diante da iminência da morte, a montagem do filme de Marlon tornou-se mais urgente. Línguas desatadas (Tongues Untied, 1989) foi a resposta de Marlon – um trabalho experimental em que ele corajosamente insere sua própria experiência de vida como um homem negro e gay. Embora Marlon fosse o autor do filme, exibiu poesia, músicas, dança e performances de outros homens negros de várias regiões dos Estados Unidos, inclusive membros do BGMU. A colaboração mais notável foi com o eloquente poeta Essex Hemphill. Línguas desatadas fez sua estreia mundial em outubro de 1989 no American Filme Institute Video Festival, em Los

Angeles, e foi muito aclamado por sua ousadia, inovação e temática. Eu já sabia da sua produção, mas não tinha visto nada do filme antes da estreia. Fui impactado por sua intimidade, honestidade e mistura de alegria e dor. Pouco tempo depois, o filme estreou em São Francisco para seu público principal, que o acolheu, assim como os demais. Marlon dedicou a exibição a Gene Garth, um dos artistas do filme, hospitalizado com pneumocistose, uma doença relacionada à aids. Gene faleceu pouco tempo depois – algo que infelizmente acontecia com demasiada frequência naquele tempo. Marlon gostava de viajar com o filme e discuti-lo com o público e com a imprensa, e inevitavelmente assumia o papel de ativista e defensor das comunidades e assuntos representados (gays, negros, pessoas com aids, liberdade artística). Isso se tornou um componente essencial do trabalho. Embora, por um milagre, o filme tenha sido exibido em rede nacional na televisão, algumas emissoras locais recusaram-se a transmiti-lo ou mostraram-no às 3 horas da manhã! O senador


de extrema-direita Jesse Helms denunciou Línguas desatadas em uma sessão legislativa (chamando-o erroneamente de Línguas unidas [Tongues United], ao invés de Línguas desatadas [Tongues Untied]) e exigiu o fim do financiamento governamental para as artes. Sem permissão e com o objetivo de assustar, o candidato reacionário à presidência Pat Buchanan usou imagens do filme em um anúncio de campanha, o que levou Marlon a escrever um artigo no New York Times. E o filme também alcançou um dos objetivos de Marlon: gerar conversas – muitas vezes desconfortáveis – nas comunidades negras sobre o tema polêmico da homossexualidade. Algumas pessoas talvez não saibam que Marlon escreveu poemas e ensaios, incluindo um (com Ron Simmons) intitulado “Sexuality, Television and Death: A Black Gay Dialogue on Malcolm X”, e participou da antologia Brother to Brother: New Writings by Black Gay Men, editada por Essex Hemphill. Em meio a toda essa atividade, Marlon conseguiu completar três 11

curtas-metragens de temática gay, Afirmações (Affirmations, 1990), Hino! (Anthem, 1991) e Non, je ne regrette rien (1992), assim como o documentário que é mais dirigido a plateias convencionais, Ajuste de cor (Color Adjustment, 1992), sobre a representação dos negros norte-americanos na televisão desde a década de 1950 até a década de 1980. Foi como se Marlon dividisse sua obra cinematográfica em dois gêneros diferentes. Preto é... preto não é (Black Is... Black Ain’t, 1995), seu último filme, uniu essas duas abordagens. Premiado em Sundance, o filme explora a diversidade nas comunidades negras norte-americanas, defende a aceitação da diferença, enquanto analisa criticamente (por meio dos comentários de Angela Davis, bell hooks, Cornel West e outros) o sexismo, o patriarcado, a homofobia, o colorismo e o classismo nas famílias, na igreja e em outras instituições negras. Mesmo com a saúde frágil, a presença de Marlon é central no filme. Ele trabalhou de perto com seus colegas de confiança Christiane Badgely e Nicole Atkinson, que completaram o filme de

acordo com seus desejos, após sua morte pela aids em abril de 1994. Já que ele não está aqui, cabe a nós continuar os debates e inspirar-nos pela mensagem do filme. Nas palavras da escritora Alice Walker, “como o próprio Marlon, Preto é... preto não é é brilhante, ponderado, destemido frente a críticas antecipadas e profundamente salutar”. Em 2019, houve exibições em homenagem ao 30º aniversário de Línguas desatadas em todo o mundo, inclusive no Rio de Janeiro, graças a Bruno F. Duarte e a Janaína Oliveira, do Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul. Marlon ficaria emocionado com essa retrospectiva de seu trabalho pelo Instituto Moreira Salles e teria participado com entusiasmo dos debates. E, quando a conversa se encerrasse, ele iria querer fazer outra coisa que lhe desse um prazer especial. Ele diria: “Vamos dançar em algum lugar. Onde é a boate?” Como seus filmes mostram, isso é parte de nossa libertação. Cornelius Moore é curador de cinema e codiretor da California Newsreel, distribuidora de todos os filmes de Marlon Riggs.


Ritual dos sádicos: a invenção de Mojica em estado de revolta total por Juliano Gomes e Julia Noá

Na metade de 2020, a revista Cinética publicou um conjunto de 12 textos, mais um ensaio em vídeo, pensando a obra de José Mojica Marins, em razão de seu falecimento em fevereiro do mesmo ano. Batizamos o conjunto com a tag #mojicainvenção. Provavelmente, o filme que melhor sintetiza a junção do nome do cineasta à ideia de “invenção” é Ritual dos sádicos. Impedido de ser exibido pela censura da ditadura civil-militar instaurada no país, o filme nunca teve lançamento comercial em salas, e só teve sua exibição liberada no início da década de 1980, depois de muitas tentativas de liberação, e passou a se chamar O despertar da besta. Em um depoimento realizado no início dos anos 2000, o cineasta comenta a obra: “Eu vinha acostumado a fazer fitas de aventura, musical, terror, bangue-bangue, policial, mas dessa vez eu fiz uma fita que era revolta total. Nenhuma fita eu fiz com revolta, todas eu fiz com uma satisfação de estar fazendo um filme diferente, bonito. Esse não. Eu tinha que acertar, porque eu estava numa época em que a 12

ditadura ultrapassou os limites e estava sufocando aquilo que eu mais amava: o meu cinema.”

No auge de sua popularidade, porém em dificuldades financeiras, Mojica realiza este filme com auxílio de amigos cineastas (alguns deles atuam no filme, como Carlos Reichenbach, Ozualdo Candeias, Maurice Capovilla, João Callegaro e Jairo Ferreira), que lhe cedem restos de negativos, com os quais ele realiza o filme, complementando com um pequeno financiamento. Fato que talvez esteja relacionado com a fragmentação e a radicalidade estrutural do filme. Ritual dos sádicos é uma explosão feérica do cinema de Mojica em um momento histórico onde nosso país vivia um de seus períodos mais violentos, o pós-AI-5. Inclusive, os policiais que aparecem no filme são da patrulha então comandada por Sérgio Paranhos Fleury, um dos mais sangrentos agentes dos porões da ditadura militar. E sobre este filme central para a história do cinema brasileiro, separamos abaixo

trechos de textos publicados em nosso dossiê que lançam ideias iniciais sobre esta obra icônica, realizada por um autor que nos parece ainda parcialmente incompreendido. Os trechos abaixo, de Bernardo Oliveira, Francisco Miguez e Pablo Gonçalo, vasculham uma miríade de temas acerca do filme, desde a multiplicidade ambígua do cinema de José Mojica Marins, passando pela intersecção entre o diretor e o personagem Zé do Caixão, até a discussão sobre o gênero terror e como o cinema de Marins ultrapassa este gênero ao qual está associado.


É inquietante perceber como Mojica torna-se agudamente autoconsciente do seu lugar num certo debate do cinema brasileiro dos anos 1970. Tome, por exemplo, Ritual dos sádicos/O despertar da besta (1970). Nesse filme, o personagem Mojica – e não a sua entidade – acaba sendo paulatinamente construído. É tema de conversas de psicanalistas, críticos, repórteres, empresários e até mesmo cinéfilos, ou seus espectadores. Adeptos a experimentações, Mojica e Zé do Caixão aceitam uma aproximação com técnicas como a hipnose, o trabalho com o medo, o pânico e o pavor de pacientes de psicanálise. Embora haja a encenação de um respeito aos “doutores” que trabalham nessas instituições, o filme, no seu manejo narrativo para além da metalinguagem, acaba zombando deles. [...] Versátil demais, o personagem de Zé do Caixão revela-se avesso, fugidio e inclassificável. Embora tenha ciência de sua persona pública, ele também tira sarro dela. O riso sarcástico tem, possivelmente, relações com essa diferença: o personagem público não abarca a entidade. Zé do Caixão esquiva-se de representações – ele só é de fato 13

eventualmente compreendido quando se permite sua possessão. E todos os demais personagens da sua trama que sucumbem à possessão são, inevitavelmente, conduzidos à morte. Crítica, racionalidade, conceitos psicanalíticos – mesmo aqueles que abarcam a loucura e o sobrenatural – revelam-se insuficientes para lidar com o estranho mundo de Zé do Caixão. Pablo Gonçalo em “Zé do Caixão: uma entidade, muitas possessões”

Poucas vezes na vasta história do cinema de horror vimos um procedimento como o que assistimos em Ritual dos sádicos. Mojica suspende provisoriamente a história para exibir a simulação de um programa de televisão, como quem convida a realidade para julgar o valor de sua ficção. Recorrendo ao modelo de sabatina característico dos programas brasileiros de TV dos anos 1960, Mojica cria uma linha narrativa acessória, uma linha de comentário que incide sobre a ficção. Entre os entrevistadores, a turma “experimental” da Boca do Lixo: João Callegaro, Maurice Capovilla, Carlos Reichenbach, Jairo Ferreira e Walter Portella. Ao ser chamado de “sr. Zé do Caixão”, responde: “Me desculpe, mas Zé do Caixão ficou no cemitério. Você está falando com José Mojica Marins.” Essa linha opera a função de multiplicação de perspectivas. O realismo literário exacerbou a perspectiva individual autoral, enquanto o hiperrealismo de Mojica, o antiautor, multiplica as formas de se verinventar o mundo e o cinema. [...] Mas o que nos seduz e intriga é o Mojica demiurgo, inventor do que ainda não foi inventado, seguro de


suas próprias invenções. Seria preciso então, continuamente, recapturá-lo das associações precipitadas ao primado do gênero e reinscrevê-lo na potência política do cinema brasileiro. Para isso, me parece necessário distanciá-lo da tradição referente ao horror e realocá-lo nas tendências mais inventivas do século XX. Restringi-lo a um “Mestre do Horror”, além de incorreto (pois dedicou-se a extrapolar esse papel), implica em situá-lo sempre em relação ao cinema de gênero, sob o primado hegemônico anglo-saxão. E isso, na maioria das vezes, a título de comparação, que, devido às idiossincrasias terceiro-mundistas, acabam por diminuir seu trabalho, associando-o ao registro cômico do “Cinema Trash”. [...] A imprevisibilidade e a ignorância das causas de nossos suplícios nos leva à insegurança e ao medo: eis o ciclo infernal que nunca se encerra. Seus filmes veem e projetam o ciclo como delineação criadora, a criação espantando as boas intenções, e não cessam de nos advertir para o que será mostrado de forma mais crua e sem véus possível: “Não fiquem, abandonem esse filme”, nos aconselha a cigana, a única personagem que conhece 14

a história do princípio ao fim. Segue-se o primeiro de uma série de enterros. Pois Zé do Caixão é, antes de mais nada, um assassino. Tudo o que lhe parece frágil soçobra à sua frente. As mulheres são vistas apenas como um meio para a realização de seu ideal de eternidade. Ele as violenta sucessivas vezes e não para: simula suicídios, cega e ateia fogo ao médico da cidade, agride um indivíduo com a coroa de espinhos de Jesus, promove carnificinas reais e espirituais, desafia os mortos, a Umbanda, a Igreja Católica, sua própria cidade, que detesta e despreza. A sanha assassina e o ódio ao ser humano contrastam com seus desejos de perpetuação da existência. Mas se coadunam com a necessidade de destruir os mitos em torno da vida, da morte, da religião e da fé, para ele símbolos da ignorância e da fraqueza humanas que pretende superar.

Bernardo Oliveira em “Antiestética da voracidade”

No Ritual dos sádicos/O despertar da besta, o experimento que conjuga sexualidade/inconsciente/ciência decanta para a estrutura e ganha um tratamento autorreferencial e autorreflexivo, em que especialistas debatem episódios envolvendo sexo e droga, entre a psiquiatria e a conduta moral sobre os limites da perversão – o que adiante se revela ser o experimento de um cientista com LSD. O que a princípio se apresenta como colagem episódica é afinal um dispositivo narrativo cuja locução é o próprio relato científico. Essa estrutura comenta a todo momento a si mesma, inserindo o próprio Mojica enquanto figura a ser escrutinada. Entre o show de rock, uma peça do Teatro Oficina e um filme de Zé do Caixão (onde é inserida uma de suas cenas de mortos saindo das covas), os participantes do experimento escolhem Zé do Caixão para a sua viagem de LSD: “Detesto Zé do Caixão, eu nunca suportei seus programas. Me abomina aquelas unhas longas. Mas tenho que convir, foi o que mais me impressionou”; “um artista como outro qualquer”; “um gênio”. [...] O par cineasta/falsário não é oposição para Mojica. Mojica é homem de


espetáculo, dos mágicos, da linha Méliès que faz truque para a câmera. Mas Mojica está nos anos 1960 e o faz jogando reflexivamente a partir de sua própria figura. Mojica é truqueiro, falsário, falsificador. [...] A partir daqui o duplo Zé do Caixão/José Mojica passa a ser tematizado em seus filmes como um conjunto de problemas de embate entre autor e personagem que se confrontam dentro da trama. A encenação desse complexo de identidade vira gesto performático do embaralhamento de regimes da ficção. Quando interpelado pelos “especialistas”, ele avisa: “Zé do Caixão ficou no cemitério, o senhor está falando com José Mojica Marins”. Mas, então, se coloca outra dobra, que é a da representação que Mojica passa a fazer de si como personagem dentro dos próprios filmes. [...] Mojica perdeu o controle do rosto que leva seu corpo, ensaiando várias vezes matar e exorcizar seu personagem mais famoso, sempre lidando com a precariedade da invenção, através de sua estética da fome e do sonho, colisão que arrisco chamar de estética do pesadelo. Mojica faz do seu manejo dos truques sua casa dos horrores, onde ficamos desorientados 15

à espera do próximo mecanismo de assombração. Mojica teve muitas vezes seu mundo confundido com o de Zé do Caixão, maldição de homem do espetáculo que é mistificado. Mas da mistificação se faz o truque, e Mojica o faz agora, com seu cinema, em passagem para o mundo dos mortos-vivos. Francisco Miguez em “Mojica/Zé do Caixão/morto/vivo”

Convidamos a quem se interessar, que busque pelo dossiê #mojicainvenção no site da revista Cinética e leia estes e outros textos na íntegra.


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Bixaria Negra - Os filmes de Marlon Riggs de 16 a 30 de junho, no IMS Rio e no Galpão Bela Maré

quarta

quinta

sexta

sábado

domingo

16/6

17/6

18/6

19/6

25/6

26/6

IMS Rio 18h Sessão Línguas desatadas seguida de debate com Cornelius Moore, Bàbá Adailton Moreira e Janaína Oliveira

22/6

23/6

29/6

30/6

Galpão Bela Maré 15h30 Sessão Línguas desatadas

Galpão Bela Maré 15h30 Sessão Ajuste de cor 18h30 Curtas 1

Galpão Bela Maré 15h30 Sessão A paixão de Marlon Riggs 18h30 Sessão Do estereótipo negro

Galpão Bela Maré 18h Exibição dos filmes Hino!, Afirmações, Non, je ne regrette rien e Noite das estrelas sessão apresentada por Cornelius Moore, Wallace Lino e Paulo Victor Lino 19h30 Performance das artistas Dominick di Calafrio, Pantera e Preta QueenB Rull + festa de abertura

IMS Rio 16h Curtas 1 18h Sessão Do estereótipo negro

IMS Rio 16h Curtas 2 18h Sessão Preto é... preto não é

IMS Rio 18h Sessão Ajuste de cor

IMS Rio 18h Sessão A paixão de Marlon Riggs

Galpão Bela Maré 15h30 Curtas 2 18h30 Sessão Preto é... preto não é IMS Rio: Rua Marquês de São Vicente, 476. Gávea. Rio de Janeiro. Galpão Bela Maré: Rua Bittencourt Sampaio, 169. Maré. Rio de Janeiro.

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Bixaria Negra O cinema de Marlon Riggs Em retrospectiva inédita no Brasil, a mostra Bixaria Negra - O cinema de Marlon Riggs exibe todos os filmes do diretor em junho, mês do Orgulho LGBTI+. Em oito filmes, entre longas, médias e curtas-metragens, Riggs expande os limites do cinema de não ficção em contato direto com a produção artística de seu entorno e com seus parceiros de vida e ativismo. De forma interseccional e afirmativa, sua obra discute as opressões e estratégias de sobrevivência das comunidades negra e gay nos EUA dos anos 1980 e 1990. O curador da mostra, Bruno F. Duarte, aciona aqui o termo ​​Bixaria Negra como uma pista para compreender a dimensão encantada do trabalho coletivo empenhado pelo diretor na produção deste conjunto de imagens. A mostra, que acontecerá em São Paulo, no IMS Paulista, e no Rio de Janeiro, no IMS Rio e no Galpão Bela Maré, apresenta ainda um documentário em torno da vida e obra do diretor e nove curtas-metragens brasileiros contemporâneos realizados por jovens cineastas negres LGBTI+ em diálogo com a produção de Riggs. No IMS Rio, Cornelius Moore, parceiro de criação e distribuidor dos filmes de Riggs, discutirá essa obra ao lado da pesquisadora e curadora de cinema Janaína Oliveira e do babalorixá Adailton Moreira. Já no Galpão Bela Maré, a noite de abertura contará com uma conversa entre Cornelius e os diretores do curta Noite das estrelas, Wallace Lino e Paulo Victor Lino, além de performance das artistas Dominick di Calafrio, Preta Queen B Rull e Pantera. Ingressos: IMS Rio: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia). Galpão Bela Maré: entrada gratuita. 18

Sessão Línguas desatadas

Línguas desatadas

Tongues Untied Marlon Riggs | EUA | 1989, 55’, arquivo digital (California Newsreel) Nas palavras de Marlon Riggs, “Línguas desatadas é um documentário que tenta desfazer o legado de silêncio sobre a vida de homens negros gays”. Ao assumir o compromisso de desatar línguas, muito próximo ao exercício proposto por Audre Lorde (1934-1992) para a transformação do silêncio em linguagem e ação, Riggs alargou possibilidades não apenas para bixas pretas compartilharem olhares sobre o mundo, mas também estabeleceu sua prática enquanto um novo caminho possível no cinema de não ficção. No limite do que o termo experimental lhe oferecia, o diretor, que se insere no quadro completamente despido, prefere definir seu estilo documental enquanto “promíscuo”. Muitos gêneros se encontram neste relato íntimo da experiência subjetiva compartilhada entre homens negros gays: documentário, biografia,

performance, poesia, rap, voguing, videoclipe, arquivos de telejornal, obituários, cinema verité, humor, medo da morte, magia e ritual. O cotidiano e o encantado se encontram, de forma não casual, para a conjuração de imagens revolucionárias de homens negros amando homens negros. Uma conjuração. Encanto coletivo para feitura de imagens e de materialização nos campos político e afetivo de transformações ainda em curso. O filme foi perseguido, atacado, censurado, mas ainda assim exibido na TV pública em rede nacional nos EUA. Aquela que é considerada a obra-prima do diretor venceu o Prêmio Teddy no Festival de Berlim de 1990 como melhor documentário sobre questões da população LGBTI+. Mais de 30 anos após seu lançamento, o feitiço de Línguas desatadas continua a conspirar, preservando a vida daqueles e dos muitos que ainda virão. “As pessoas verão que havia uma vibrante comunidade gay negra nos EUA em 1989”, disse Riggs. Sim, Riggs. Nós estamos vendo.


Sessão Preto é… preto não é Intelectuais como Angela Davis, Barbara Smith, bell hooks, Cornel West, Maulana Karenga e Michele Wallace contribuem com o diálogo através de entrevistas. Performances do coreógrafo Bill T. Jones e do poeta Essex Hemphill expandem a intersecção de gêneros neste clássico do cinema de não ficção dos EUA. O filme recebeu o Troféu dos Realizadores do Festival de Sundance em 1995.

Noite das estrelas

Wallace Lino e Paulo Victor Lino | Brasil | 2021, 23’, DCP (Acervo dos artistas) Na festa de aniversário de 46 anos de Madame, uma das artistas da histórica Noite das Estrelas, veteranas e novatas se encontram numa laje da favela da Maré. Entre glamour, closes, performances e memórias, costuram o tempo e celebram seus corpos, que vivem e resistem coletivamente através das artes. O curta-metragem é uma realização do Entidade Maré, projeto de pesquisa voltado para o resgate de narrativas de pessoas LGBTI+ do conjunto de favelas da Maré, Zona Norte do Rio de Janeiro.

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Preto é… preto não é

Black Is… Black Ain’t Marlon Riggs | EUA | 1995, 86’, arquivo digital (California Newsreel) A partir da receita de gumbo, um tradicional prato da culinária do sul dos EUA feito por sua avó, Marlon Riggs complexifica o debate sobre as diversas experiências da negritude nos planos individual e coletivo. O último filme do diretor, finalizado postumamente por parceiros de longa data, é um híbrido de seus documentários mais clássicos com a estética e transparência inconfundíveis de seus filmes mais experimentais. Além do retorno da crítica à supremacia branca, ao heterosexismo e às fobias infligidas para pessoas dissidentes de gênero e sexualidade, neste documentário Riggs afirma que as definições rígidas sobre “negritude” que os afro-americanos se autoimpuseram também foram, de certa forma, devastadoras. Existe uma identidade negra essencial? Existiria um teste para auferir o que nos define verdadeiramente enquanto homens negros ou mulheres negras?


Sessão Do estereótipo negro especialmente aquelas que escolheram o simbólico enquanto campo de disputa. Vencedor do prêmio Emmy de 1987.

A luz, Matheusa

Sabine Passareli e Salacione Passareli | Brasil | 2020, 10’, arquivo digital (Acervo das artistas)

Fartura

Yasmin Thayná | Brasil | 2019, 26’, arquivo digital (Acervo da artista) A partir de imagens domésticas, a comida revela um modo de viver em comunidade. Festa, ritual e cotidiano de famílias negras de periferias e favelas em torno da comida enquanto elemento simbólico. Entrevistas de Muniz Sodré, Jurema Werneck, Iyabassè Carmem Virgínia, entre outras. Finalista do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro em 2020 na categoria Melhor Curta-Metragem Documentário.

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Do estereótipo negro

Ethnic Notions Marlon Riggs | EUA | 1987, 56’, arquivo digital (California Newsreel) Em seu longa-metragem de estreia, Marlon Riggs disseca as raízes de estereótipos antinegros na cultura popular dos EUA. Ao equilibrar a precisão da pesquisa de sua formação enquanto historiador e a habilidade narrativa enquanto cineasta, Riggs nos conduz em uma viagem perturbadora através da história norte-americana, traçando pela primeira vez no audiovisual um panorama de estereótipos racistas profundamente enraizados na cultura do país. A partir da análise dessas imagens, podemos compreender a evolução da consciência racial norte-americana desde a fundação dos Estados Unidos até o movimento pelos direitos civis. Narrado pela atriz Esther Rolle (Conduzindo miss Daisy, 1989), o filme é um desafio para qualquer pessoa que ainda subestima as consequências devastadoras do chamado racismo recreativo – e essencial para todas as pessoas envolvidas na luta antirracista,

Matheusa Passareli (1997-2018) deixou Rio Bonito, no interior do estado do Rio de Janeiro, em direção à capital para estudar artes visuais na Uerj. A universidade foi apenas um dos espaços onde demonstrou a força de seu pensamento e corporeidade. A partir do registro de uma fala da jovem multiartista e imagens afetivas de sua cidade natal, sua irmã Sabine e sua mãe Salacione realizam uma performance audiovisual em que compartilham ideias e impressões de Theusa sobre a academia em uma conversa com a artista Bianca Kalutor. Pessoa negra não binária, Matheusa foi brutalmente assassinada em abril de 2018 na Zona Norte do Rio de Janeiro. Seu corpo nunca foi encontrado.


Sessão Ajuste de cor

Ajuste de cor

Color Adjustment Marlon Riggs | EUA | 1991, 87’, arquivo digital (California Newsreel) O documentário percorre 40 anos de relações raciais nos EUA através da análise de programas de entretenimento exibidos em horário nobre da TV e nos proporciona refletir sobre a efetividade de estratégias de inclusão de pessoas racializadas e grupos historicamente marginalizados em sistemas de visibilidade e apagamento de elites hegemônicas. Quatro anos após examinar a genealogia de imagens desumanizantes na cultura popular norte-americana em Do estereótipo negro (Ethnic Notions, 1987), Riggs retorna seu olhar para a cultura de massa e examina mitos e estereótipos raciais da televisão americana. Agora, é a investida de produtores de TV para incluir imagens supostamente positivas de pessoas negras bem-sucedidas e integradas ao sonho americano que contrastam com o noticiário, em que ativistas negros sofrem com a repressão do Estado aos protestos por direitos civis. Narrado 21

por Ruby Dee (Faça a coisa certa, 1989), o documentário revisita algumas das estrelas e programas mais populares da televisão dos EUA, entre eles The Amos ‘n Andy Show, The Nat King Cole Show, Os destemidos (I Spy), Julia, Good Times, Raízes (Roots) e The Cosby Show. “Todos os papéis são perigosos”, diz uma das recorrentes citações ao escritor James Baldwin escolhidas por Riggs para complexificar o debate. Ajuste de cor foi vencedor do prêmio de Melhor Filme no International Documentary Association Awards, em 1991.

Tudo o que é apertado rasga

Fábio Rodrigues Filho | Brasil | 2019, 28’, arquivo digital (Acervo do artista) Na tentativa de forjar uma ferramenta capaz de operar o corte por justiça, este filme retoma e intervém em imagens de arquivo, reestudando parte da cinematografia nacional à luz da presença e agência do ator e da atriz negra. Depoimentos de Antônio Pitanga, Antônio Pompeo, Elida Palmer, Eliezer Gomes, Grande Otelo, Henrique Felipe da Costa (Henricão), João da Cunha, Jorge Coutinho, Lázaro Ramos, Léa Garcia, Lélia Gonzalez, Luiza Maranhão, Mário Gusmão, Milton Gonçalves, Ruth de Souza, Watusi, Zezé Motta e Zózimo Bulbul.


Sessão A paixão de Marlon Riggs

Curtas 1

A paixão de Marlon Riggs

O blues de Oakland

A cinebiografia de Marlon Riggs (1957-1994) dirigida por Karen Everett fornece um retrato sobre o diretor e o impacto de seu trabalho na cultura norte-americana. O documentário acompanha sua trajetória desde a infância em Forth Worth, Texas, passando por seu despertar político em Harvard, até seus últimos anos, como defensor corajoso da livre expressão em nome de pessoas estigmatizadas. Jack Vincent, companheiro de vida de Riggs desde a chegada na Universidade da Califórnia em Berkeley até sua morte precoce, em decorrência do HIV/aids, que aparece em diversos créditos dos filmes do diretor, agora está também diante das câmeras. Clipes de todos os oito filmes de Riggs mostram como ele desenvolveu um estilo único de documentário experimental, misturando poesia e crítica, o pessoal e o político.

A história da vibrante cena do blues na cidade de Oakland, Califórnia, na sequência da migração de comunidades negras do sul dos EUA para a East Bay Area após a Segunda Guerra Mundial. O filme foi produzido e apresentado para a conclusão do mestrado em jornalismo de Marlon Riggs na Universidade da Califórnia em Berkeley. O documentário recebeu prêmios Emmy e do American Film Institute para discentes, em 1982.

I Shall Not Be Removed: The Life of Marlon Riggs Karen Everett | EUA | 1996, 59’, arquivo digital (California Newsreel)

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Long Train Running: A History of the Oakland Blues Marlon Riggs | EUA | 1981, 29’, arquivo digital (California Newsreel)

Pietá

Pink Molotov | Brasil | 2020, 5’, arquivo digital (Talavistas e ela.ltda.) Experimento audiovisual em que uma figura renascentista incorpora signos do Brasil contemporâneo, melodrama e bixaria. Produzido pelo coletivo As Talavistas e ela. ltda, o curta-metragem foi selecionado para a Mostra Foco Minas na 24ª Mostra de Cinema de Tiradentes, em 2021.


Afronte

Negrum3

Ficção e documentário se cruzam para mostrar o processo de transformação e empoderamento de Victor Hugo, um jovem negro e gay, morador da periferia do Distrito Federal. Seu relato se mistura aos depoimentos de outros jovens, cujas histórias revelam diferentes formas de resistência, encontradas em discursos de valorização do negro gay. Realizado através de financiamento coletivo, o filme recebeu o prêmio de Melhor Curta-Metragem no Festival Mix Brasil 2017.

Entre melanina e planetas longínquos, Negrum3 propõe um mergulho na caminhada de jovens negros da cidade de São Paulo. Um ensaio sobre negritude, viadagem e aspirações espaciais dos filhos da diáspora. Exibido em mais de 70 mostras nacionais e internacionais, o curta-metragem recebeu 48 prêmios, entre eles o Troféu Barroco (Melhor Filme Júri Popular) e o Prêmio Canal Brasil na 22º Mostra de Cinema de Tiradentes (MG), e nas categorias Melhor Direção e Melhor Curta-Metragem no 26º Festival de Cinema de Vitória (ES), ambos os festivais em 2019.

Bruno Victor e Marcus Azevedo | Brasil | 2017, 16’, DCP (Acervo dos artistas)

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Diego Paulino | Brasil | 2018, 22’, DCP (Reptilia Produções)

Hino!

Anthem Marlon Riggs | EUA | 1991, 8’, arquivo digital (California Newsreel) Uma experiência audiovisual sobre ser um homem negro gay nos EUA dos anos 1990. Vogue, rap, grafite, ancestralidade, acenos a irmandades latinas e a poesia de Essex Hemphill (1957-1995). Corpos desejantes que protestam e colidem. Uma videoperformance que reafirma o direito à vida e à liberdade em um contexto de negligência e estigma para uma população ameaçada pela epidemia de HIV/aids, o racismo e a homofobia.


Curtas 2

Afirmações

Non, je ne regrette rien

O Grupo de Homens Gays de Ascendência Africana (GMAD) e a Força Tarefa de Minorias sobre Aids participam da marcha que celebra o fim da escravidão nos EUA. Alguém parece se incomodar. Um ensaio sobre desejos e sonhos de homens negros gays. O curta-metragem apresenta relatos sinceros, afetivos e bem-humorados que revelam desejos de reconhecimento, solidariedade, respeito e liberdade.

Ensaio íntimo e poético em que cinco homens negros gays desafiam o estigma e o silêncio ao revelarem que vivem com HIV. Marlon Rigss faleceu por complicações relacionadas ao HIV/aids em 1994 e dedicou-se a confrontar a urgência da epidemia de aids entre as comunidades afro-americanas, especialmente entre homens gays negros. “Non, je ne regrette rien é o título da canção popularizada pela cantora francesa Edith Piaf, e reforça a filosofia que Riggs ansiava que todas as pessoas vivendo com HIV/ aids incorporassem”, afirma Rhea Combs, phd pela Universidade Emory com uma tese sobre o diretor e seu impacto cultural nos EUA.

Affirmations Marlon Riggs | EUA | 1990, 10’, arquivo digital (California Newsreel)

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Non, je ne regrette rien (No Regrets) Marlon Riggs | EUA | 1992, 38’, arquivo digital (California Newsreel)

Corpos, afetos e memórias

Flip Couto | Brasil | 2020, 14’, arquivo digital (Acervo do artista) Multiartista, produtor cultural e ativista baseado em São Paulo, Flip Couto é um dos fundadores do Coletivo Amem e da Parada Preta LGBT+. Em Corpos, afetos e memórias, realizado durante o isolamento imposto pela pandemia de covid-19, Flip reúne familiares para uma conversa sobre sua performance Sangue, em que fala abertamente sobre sua experiência enquanto uma bixa preta vivendo com HIV desde 2009.


de Tieta Macau, Abeju Rizzo e Inaê Moreira. Atualmente, encontra-se imerso em pesquisas sônicas, concentrando-se nas escutas, vozes, frequências, vibrações e escurescências. Línguas selvagens integra a série Poéticas do Sangue, conjunto de trabalhos onde seu sangue é a tinta de escritura, e seu corpo é o tecido sobre o qual se desenrolam uma série de aparições. Aviso de Acionadores: contém imagens de sangramento e procedimentos com bisturi/sutura.

Línguas selvagens

Elton Panamby | Brasil | 2016, 15’, arquivo digital (Acervo de artiste) Neste curta-metragem, Elton Panamby, artista do corpo, se propõe a “dividir a língua para dobrá-la sobre si mesma e radicalizar a linguagem”. Nascide na periferia sul de São Paulo, Elton reside em São Luís (MA) desde 2016 e desenvolve trabalhos em múltiplas linguagens, principalmente a partir de 2008, dedicados à pesquisa acadêmica e à criação em performance. Seus movimentos de abertura de caminhos têm gestado importantes espaços coletivos de experimentação corporal e performance para artistas contemporâneos no Brasil, com destaque para a CASA 24, no Rio de Janeiro pré-megaeventos, o processo de intercâmbios e escutas Performance Preta no Brasil (Palco Giratório Sesc 2019), em parceria com o artista visual Dinho Araújo, e como cyberogan na Plataforma Lança Cabocla, junto

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Bixaria Negra – O cinema de Marlon Riggs Curadoria: Bruno F. Duarte Tradução e legendagem: Bruna Barros Cartaz e identidade visual: Yhuri Cruz Vinheta: Natara Ney, com narração de Rico Dalasam Realização: Instituto Moreira Salles Parceria: Observatório de Favelas e Galpão Bela Maré Apoio: California Newsreel e Cabine


Sessão Cinética

O despertar da besta (Ritual dos sádicos)

José Mojica Marins | Brasil | 1969, 92’, arquivo digital (Liz Vamp) Um psiquiatra administra LSD em quatro voluntários para estudar os efeitos do tóxico sob a influência da imagem de Zé do Caixão. O personagem aparece de maneira diferente nos delírios psicodélicos de cada um, alternando sexo, perversão e sadismo. Ritual dos sádicos foi produzido em 1969 e imediatamente vetado pela censura do então governo militar, que, além de impedir a exibição do filme, pretendia também destruir todas as cópias e o negativo. Durante os anos 1980, foi exibido em mostras e festivais, com outro título: O despertar da besta. Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia)

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Sessão Especial Três pontos de vista sobre Ocupação e Território. Ucranianos, palestinos e Guarani-Mbyas estão reunidos nesta sessão, que propõe um diálogo sobre a manutenção da identidade num espaço invadido. Mantas Kvedaravičius, assassinado em março por tropas russas na invasão da Rússia à Ucrânia, é diretor de Mariópolis, um filme que descreve a vida cotidiana em uma cidade sob ataques constantes. Carta a um amigo, da artista multimídia Emily Jacir, resgata nuances e detalhes de Belém, capital do Estado palestino, no bairro onde a casa da sua família é imprensado pela presença de Israel. Apyka´i “Banco do pensamento”, de Xadalu Tupã Jekupé, discorre sobre a importância da terra para os Mbyas. Os filmes serão exibidos em uma mesma sessão na ordem: Apyka´i “Banco do pensamento”, Carta a um amigo e Mariópolis. Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia)

Apyka´i “Banco do pensamento” Xadalu Tupã Jekupé | Brasil | 2020, 5’, DCP (Acervo IMS)

Xadalu Tupã Jekupé é um instrumento de Nhanderu Tupã que leva a informação em forma de arte a serviço da comunidade Mbya. “Apyka´i”, ele diz, “não tem tradução para o português”. Neste vídeoensaio, a partir de uma instalação, ele conta um mito fundador da terra. Este filme foi produzido dentro do programa IMS Convida.


Carta a um amigo

Mariópolis

Um amigo próximo recebe o pedido de iniciar uma investigação antes que o inevitável ocorra. Entrelaçando imagens, texturas, movimentos, traços e sons de mais de um século, Carta a um amigo narra em detalhes minuciosos a força da violência num bairro, numa rua e ao redor de uma casa na cidade de Belém. Um relato pessoal como este é raro e destaca-se da narrativa usual da grande mídia internacional quando aborda a tragédia constante dos territórios ocupados.

O que vemos neste registro de 2016 é uma cidade de meio milhão de pessoas que não existe mais em junho de 2022. Foi varrida do mapa pelo exército russo, posta ao chão. Estima-se que 20 mil habitantes foram mortos, espera-se o fim do conflito para entender a escala real da violência. Nas imagens registradas por Mantas Kvedaravičius, vemos a cidade à espera de uma guerra, na época algo ainda difuso: para alguns, é uma oportunidade de lutar; para outros, é o melhor momento para consertar sapatos e ensaiar novas peças no teatro. A cidade de Mariópolis fica à beira do mar de Azov e também do rio Kalmius. A maioria dos moradores trabalha para a siderúrgica e pesca, por lazer ou por necessidade, entre os turnos. A igreja ortodoxa ergue-se acima da cidade, e suas cúpulas de bronze recém-construídas estão ao lado do prédio, esperando para serem

Letter to a Friend Emily Jacir | Território Palestino | 2019, 43’, DCP (Acervo da artista)

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Mariupolis Mantas Kvedaravičius | Alemanha, França, Lituânia, Ucrânia | 2016, 83’, DCP (Studio Uljana Kim)

revestidas. A estação abre às cinco da manhã, mas nenhum trem chega nos últimos meses. A ponte ferroviária foi bombardeada. As autoridades ucranianas e os representantes das repúblicas pró-Rússia alimentadas por Vladimir Putin para desestabilizar o leste da Ucrânia discutem em praça pública sobre os lados da história. À medida que as bombas caem nos arredores de Mariópolis e os tiroteios são mais fortes do que os sinos das igrejas, parece que o conflito está de fato chegando à cidade. Uma peça grega é ensaiada na Casa da Cultura; leões, lhamas e agora vacas de campos próximos são protegidos em um zoológico semifuncional; um grupo paramilitar que ocupa uma biblioteca luta contra o inimigo que se instalou na escola a algumas centenas de metros de distância. Mantas Kvedaravičius, realizador, foi assassinado por tropas russas em abril deste ano ao tentar deixar a cidade. Mariópolis 2, que ele filmou durante a ocupação russa, foi exibido em Cannes, no mês passado, com material montado por seu editor depois da morte do documentarista.


Em cartaz Amigos de risco

Daniel Bandeira | Brasil | 2007, 88’, DCP (Inquieta) Início dos anos 2000, após um tempo distante do Recife, Joca (Irandhir Santos) está de volta. O reencontro com os amigos (Rodrigo Rizla e Paulo Dias) numa noite de comemoração vira um pesadelo quando Joca subitamente passa mal. Sem dinheiro, transporte ou comunicação, seus amigos o carregam pela cidade deserta. O filme de Daniel Bandeira mantém laços evidentes com narrativas da noite, como Os selvagens da noite (The Warriors, 1979), de Walter Hill, ou Depois de horas (After Hours, 1986), de Martin Scorsese, atendo-se à filmagem em locações reais expressivas, personagens bem delineados e um sentido de ação e montagem afiados. Amigos de risco foi uma escola de cinema (com orçamento muito baixo) para nomes que construíram carreira mais tarde, como Pedro Sotero (fotógrafo de Um lugar ao sol, O som ao redor, Casa grande), Juliano Dornelles (corroteirista e diretor de Bacurau), Irandhir Santos (ator de Baixio das bestas, Aquarius e Tropa de elite 2). O filme, que estreou no Festival de Brasília em 2008, foi perdido a caminho da segunda exibição pública, na Mostra de São Paulo, pouco antes de entrar em salas comerciais. Amigos de risco foi rodado em Mini-DV numa câmera Panasonic HVX-100, tecnologia da década de 2000 que permitiu que realizadores e realizadoras experimentassem fora de padrões técnicos estabelecidos e longe de regiões que concentravam equipamentos de cinema e laboratórios de finalização. 28

Transferido para 35 mm, a única cópia-zero finalizada em película 35 mm de Amigos de risco permaneceu extraviada, e Bandeira, sem recursos para refazer a finalização. Quinze anos depois de seu sumiço, o filme entra em cartaz nos cinemas, tanto como um filme que deve ser descoberto quanto um retrato já diferente de um Brasil urbano alterado pelo tempo e pela tecnologia. Daniel Bandeira trabalha atualmente no seu segundo longa-metragem, Propriedade privada. Amigos de risco será exibido junto com o curta-metragem A live delas, de Yane Mendes, produzido para o programa IMS Convida. Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).


Amigo secreto

Maria Augusta Ramos | Brasil | 2021, 88’, DCP (Vitrine Filmes) Maria Augusta Ramos tem registrado como ninguém os desdobramentos sociais e políticos no Brasil há quase 20 anos, com seus filmes Justiça (2004), Juízo (2007), Futuro junho (2015) e O processo (2018). São relatos urgentes sobre como o país funciona, e em especial abordam anos recentes que viram a sociedade brasileira abandonar aos poucos um sentido democrático. Amigo secreto é a mais nova peça desse panorama histórico. A abordagem é a importância da imprensa na defesa do sistema democrático a partir da utilização já comprovada de law fare (guerra judicial) contra o ex-presidente Lula ao acompanhar o trabalho de jornalistas do The Intercept Brasil e do El País (que recentemente encerrou suas atividades no país). O filme é revelador hoje e uma cápsula para o futuro. Amigo secreto será exibido junto ao curta-metragem Dia do fogo, também dirigido por Maria Augusta Ramos, produzido para o programa IMS Convida. Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).

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Espero que esta te encontre e que estejas bem

Natara Ney | Brasil | 2020, 84’, DCP (Embaúba) Em janeiro de 2011, 110 cartas de amor foram encontradas em uma feira de antiguidades. Durante dois anos (1952 e 1953), uma moradora de Campo Grande escreve sobre a paixão e a distância para seu noivo no Rio de Janeiro. A partir dessa descoberta, uma investigação se inicia para localizar o casal apaixonado e descobrir o desfecho do romance. O título do filme revela um tempo em que nem sempre as mensagens chegavam ao seu destinatário. Um percalço distante e misterioso pros dias de hoje, quando não se pode culpar o correio pela falta da resposta da pessoa amada. Espero que esta te encontre e que estejas bem será exibido junto ao curta-metragem Cretinália, de Jorge Furtado, produzido para o programa IMS Convida. Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).


Má sorte no sexo ou pornô acidental

Babardeala cu bucluc sau porno balamuc Radu Jude | Romênia, Croácia, República Tcheca, Luxemburgo | 2021, 106’, DCP Emi trabalha como professora de história numa respeitada escola conservadora de Bucareste. Quando um vídeo de uma professora transando com seu marido vaza para todos os alunos, ela corre o risco de ser demitida. A instituição organiza uma grande reunião com pais de alunos, onde será decidido o destino da professora. Radu Jude apresenta em Má sorte no sexo ou pornô acidental cenas de sexo explícito. O marido é interpretado por Ştefan Steel, um ator pornô, e Katia Pascariu, que interpreta a professora, tem uma dublê. Em entrevista ao site CineEuropa, o diretor explica sobre a necessidade de exibir a sex-tape em seus detalhes mais íntimos: “Este vídeo é central no filme; tudo gira em torno dele. Considero este um filme de montagem, pois convida o público a fazer várias conexões e justa30

posições entre a chamada obscenidade deste vídeo e a obscenidade mais ampla que nos cerca, que é muito mais real e tóxica. Além disso, eu queria colocar os cinéfilos exatamente na mesma posição que os pais dos alunos. A relação entre cinema e voyeurismo já é comumente aceita – Laura Mulvey escreveu um ensaio fundamental sobre o assunto, ‘Visual Pleasure and Narrative Cinema’.” Má sorte no sexo ou pornô acidental será exibido junto ao videoclipe B.I.A – EX@ feat. Mun Há e Deize Tigrona, de biarritzzz e Tiago Lima, produzido para o programa IMS Convida. [Confira a entrevista na íntegra em inglês: bit.ly/ MaSorte] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).

Pequena mamãe

Petite maman Céline Sciamma | França | 2021, 73’, DCP (Diamond Films) Nelly acaba de perder sua avó e está ajudando seus pais a limpar a casa de infância de sua mãe. Caminhando pelo bosque, ela conhece uma garota de sua idade que está construindo uma casa na árvore. Assim como a mãe de Nelly, a garota se chama Marion. Partindo da imaginação infantil como recurso de acesso ao fantástico, Céline Sciamma, diretora de Tomboy (2011), Garotas (2014) e Retrato de uma jovem em chamas (2019), consegue que sua personagem Nelly se encontre com o que poderia ser o passado de sua mãe. “Eu ficava pensando: é um filme de viagem no tempo, preciso demarcar isso”, contou a diretora ao portal britânico The F. Word. “Mas acabei escrevendo com muita franqueza. Eu abordei a questão da viagem no tempo por meio do diálogo. Eu estava encontrando soluções simples, nada complicado. O elemento mágico era


uma oportunidade, mas seu impacto era real. É sobre o impacto.” “Quando me dei conta de que não estava pensando no filme como uma ficção científica, foi na verdade porque todos os filmes tratam de viagem no tempo. A edição é sempre uma viagem pelo tempo. Eu sou obcecada com o conceito de tempo. Retrato de uma jovem em chamas foi construído como um longo flashback. O tempo todo você está ciente de que aquilo já aconteceu. Tudo ali é memória. Trabalhar em torno do tempo é, para mim, trabalhar em torno da construção de memórias. Filmes constroem novas memórias. E essa é sobre uma infância comum partilhada entre mãe e filha. Todos os filmes são uma arquitetura do tempo.” Pequena mamãe será exibido junto ao curta-metragem Nascente, de Safira Moreira, produzido para o programa IMS Convida. [A íntegra da entrevista pode ser lida, em inglês, em: bit.ly/PequenaMamae] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).

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Vitalina Varela

Pedro Costa | Portugal | 2019, 124’, DCP (Zeta Filmes) Vitalina Varela, 55 anos, cabo-verdiana, chega a Portugal três dias depois do funeral do marido. Há mais de 25 anos que Vitalina esperava a sua passagem de avião. Pedro Costa conheceu Vitalina e sua história em 2013, quando buscava uma locação para outro filme no bairro de Cova Moura, região metropolitana de Lisboa. Desde então, passou a desenvolver o roteiro a partir de uma série de conversas com a personagem. Vitalina Varela apresenta traços que são característicos das últimas obras do diretor: o trabalho com não atores imigrantes, equipe de filmagem reduzida, gravações que duraram anos e que valorizam a atuação e a história das personagens. “Todos sabemos que pessoas como Vitalina, Ventura [personagem principal de Juventude em marcha (2006) e Cavalo dinheiro (2014)] ou Vanda são condenadas”, ele conta ao site Cine-File. “Quando o barco sai do porto, no minuto em que o avião decola,

eles estão condenados. Desde o dia em que nascem. E talvez eles tenham sido condenados muito antes disso. Simplesmente culpados. Não posso dar muito aos meus amigos cabo-verdianos. Não posso dar-lhes muito dinheiro, não posso dar-lhes um futuro brilhante, não posso dar-lhes esperança. Mas talvez haja muito a ganhar com nosso trabalho no cinema. O cinema pode esclarecer tudo e, de alguma forma, aqueles que foram prejudicados serão vingados. Um doce milagre, de fato.” Este é o primeiro filme de Pedro Costa a ter distribuição comercial no Brasil. Vitalina Varela será exibido junto ao curta-metragem A gente acaba aqui, de Everlane Moraes, produzido para o programa IMS Convida. [Íntegra da entrevista de Pedro Costa em inglês: bit.ly/vvcinefile, trecho traduzido por Eduardo Escorel, na revista piauí: bit.ly/VVPiaui] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).


IMS Convida Lançado pelo Instituto Moreira Salles em abril de 2020 como resposta aos danos causados na produção das artes pela pandemia, o Programa Convida comissionou mais de 150 projetos de artistas e de coletivos, apresentados no site e nas redes sociais do IMS. Nesta reabertura das salas de cinema do IMS Rio e IMS Paulista, cada um dos filmes em cartaz será acompanhado por um curta-metragem produzido no âmbito do programa. Seja por aproximação, contraste ou complementaridade, convidamos os filmes a conversar. Todas as obras produzidas estão disponíveis na página ims.com.br/convida.

A gente acaba aqui

Everlane Moraes | 2021, 13’, DCP (Acervo IMS) A presença da morte em meio aos vivos. O reencontro de familiares e amigos ao redor do corpo do tio da realizadora Everlane Moraes. Filmadas em 2011, as imagens do funeral só foram se tornar filme 10 anos depois, em 2021, durante a pandemia. “Por um tempo não fazia sentido produzir um filme com aquelas imagens, porque já não tinha conexão com elas. Achava um pouco sensacionalista, não sabia o que fazer. Mas depois da morte da minha mãe, tudo fez sentido. Voltei àquelas imagens e vi muita gente que agora está morta. Pessoas mortas que ali estavam vivas, olhando para um morto. Aquilo me tocou muito e falei: acho que é o momento”, comenta a diretora em entrevista ao portal Mulher no Cinema. “Tem um pouco de metalinguagem nas questões formais e também uma medida de ocultamento, porque a gente nunca vê o morto. A gente só vê vida no filme, só vê os corpos vivos. O tempo todo há uma brincadeira de vida e morte. A criança, as pessoas olhando para o corpo, os diálogos banais ali diante do morto. É um monte de vida ao redor do corpo sem vida.” A gente acaba aqui será exibido junto ao longa-metragem Vitalina Varela, de Pedro Costa, em cartaz no Cinema do IMS. [Íntegra da entrevista: bit.ly/AGenteAcabaAqui]

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A live delas

Cretinália

“A necessidade humana de precisar estar com outras pessoas não é algo que percebemos em 2020. Na periferia, é algo que nos acompanha desde sempre. A festa, a dança, os encontros são uma necessidade essencial para dar conta de tudo que vem no resto da nossa semana. Entre músicas, gritos, sorrisos e amor, te oportunizo a essa submersão afetiva que só a favela tem.” A live delas será exibido junto ao longa-metragem Amigos de risco, de Daniel Bandeira, em cartaz no Cinema do IMS.

“A arte não é, aos meus olhos, um prazer solitário.” Jorge Furtado encontra essa citação em um discurso de agradecimento de Albert Camus. O que o leva a um poema de Alexander Pope, que contém um verso futuramente musicado por Bob Dylan, que pode muito bem virar um rap de Jonas Lewis. Em isolamento, durante a pandemia do coronavírus, o diretor reflete sobre as possibilidades da criação coletiva e seu poder político. Cretinália será exibido junto ao longa-metragem Espero que esta te encontre e que estejas bem, de Natara Ney, em cartaz no Cinema do IMS.

Yane Mendes | Brasil | 2020, 10’, DCP (Acervo IMS)

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Jorge Furtado | Brasil | 2020, 7’, DCP (Acervo IMS)

Dia do fogo

Maria Augusta Ramos | Brasil | 2021, 7’, DCP (Acervo IMS) A câmera sobrevoa um desastre ambiental. e o microfone captura os ruídos da brasa. Dia do fogo é o nome dado a uma data específica em que é promovida uma série de incêndios criminosos na região amazônica. Dia do fogo será exibido junto ao longa-metragem Amigo secreto, também dirigido por Maria Augusta Ramos, em cartaz no Cinema do IMS.


B.I.A – EX@ feat. Mun Há e Deize Tigrona biarritzzz, Tiago Lima | Brasil | 2020, 4’, DCP (Acervo IMS)

B.I.A. - EX@ feat. Mun Há e Deize Tigrona é o primeiro clipe do álbum Eu não sou afrofuturista, lançado em agosto pela plataforma Satélite, do Pivô Arte e Pesquisa. Neste clipe e música, biarritzzz parodia a música da M.I.A., “XXXO”, de 2010. Dez anos depois, a artista faz uma releitura da letra e do clipe, que discutem pornografia online e, em sua visão, masculinidade tóxica, numa versão atual que coloca em jogo, assim como a original, estética de internet e sexualidade, porém dessa vez abordando a complexidade das questões de gênero nesta segunda década do século XXI: neutralidade de gênero, não binarismo, transexualidade e sexualidades dissidentes. Para isso, biarritzzz, assinando como B.I.A., convida Mun Há, cantora não binárie de ritmos eletrônicos do Nordeste, e Deize Tigrona, pioneira 34

absoluta do funk proibidão carioca, e parceira na BATEKOO, selo e movimento LGBTQIA+ negro, no qual também colabora há três anos. Sua mãe, Eliene Soares, reproduzindo um ritual que não faziam desde a adolescência, alisa seu cabelo, porém agora superando um trauma de reproduzir uma branquitude forçada, para, outrossim, se caracterizar de uma mulher de origem srilankesa: a própria M.I.A., ou Maya Arulpragasam. B.I.A – EX@ feat. Mun Há e Deize Tigrona será exibido junto ao longa-metragem Má sorte no sexo ou pornô acidental, de Radu Jude, em cartaz no Cinema do IMS.

Nascente

Safira Moreira | Brasil | 2020, 6’, DCP (Acervo IMS) Realizado dentro do programa IMS Convida, Safira Moreira filma a si mesma, sua casa e as mulheres de sua família. Nascente será exibido junto ao longa-metragem Pequena mamãe, de Céline Sciamma, em cartaz no Cinema do IMS.


coleção DVD | IMS

Criada em 2012 pelo então coordenador de cinema José Carlos Avellar (1936-2016), a coleção DVD | IMS já lançou diversos filmes, entre produções brasileiras e estrangeiras. Grey Gardens. de Albert Maysles, David Maysles, Ellen Hovde, Muffie Meyer | EUA | 1975, 94’)

As Beales de Grey Gardens. de Albert Maysles e David Maysles | EUA | 2006, 91’) Em 1973, um escândalo tomou as manchetes dos jornais americanos. Alegando falta de condições sanitárias, as autoridades de East Hampton, um balneário de luxo a 160 quilômetros de Nova York, tentaram expulsar as duas moradoras de uma mansão à beira-mar. Elas viviam isoladas ali, em Grey Gardens, há mais de 20 anos, entre guaxinins, sujeira e mato. Notícia banal, não fossem elas Edith Bouvier Beale e sua filha de 56 anos, Edie, respectivamente, tia e prima de Jacqueline Kennedy Onassis. Dois anos depois, Big Edie e Little Edie abrirão as portas de Grey Gardens a Albert Maysles e David Maysles. Eles registrarão a personalidade e os conflitos de mãe e filha, mulheres inteligentes e excêntricas. Esta edição em DVD duplo inclui ainda As Beales de Grey Gardens, em que, passadas três décadas do lançamento de seu filme, os irmãos Maysles revisitam e apresentam parte das sobras de montagem. Extras: - Faixa comentada por Albert Maysles, Ellen Hovde, Muffie Meyer e Susan Froemke - Entrevista de Albert Maysles a João Moreira Salles (2006) - Livreto com depoimentos de Albert Maysles, Susan Froemke e Ellen Hovde

O futebol, de Sergio Oksman O botão de pérola e Nostalgia da luz, de Patricio Guzmán Photo: Os grandes movimentos fotográficos Homem comum, de Carlos Nader Vinicius de Moraes, um rapaz de família, de Susana Moraes Últimas conversas e Cabra marcado para morrer, de Eduardo Coutinho A viagem dos comediantes, de Theo Angelopoulos Imagens do inconsciente e São Bernardo, de Leon Hirszman Os dias com ele, de Maria Clara Escobar A tristeza e a piedade, de Marcel Ophüls Os três volumes da série Contatos: A grande tradição do fotojornalismo; A renovação da fotografia contemporânea; A fotografia conceitual La Luna, de Bernardo Bertolucci Cerimônia de casamento, de Robert Altman Conterrâneos velhos de guerra, de Vladimir Carvalho

Vidas secas e Memórias do cárcere, de Nelson Pereira dos Santos O emprego, de Ermanno Olmi Iracema, de Jorge Bodanzky e Orlando Senna Cerimônia secreta, de Joseph Losey As praias de Agnès, de Agnès Varda A pirâmide humana e Cocorico! Mr. Poulet, de Jean Rouch Diário 1973-1983 e Diário revisitado 1990-1999, de David Perlov Elena, de Petra Costa A batalha de Argel, de Gillo Pontecorvo Libertários, de Lauro Escorel, e Chapeleiros, de Adrian Cooper Seis lições de desenho com William Kentridge Sudoeste, de Eduardo Nunes Shoah, de Claude Lanzmann Memórias do subdesenvolvimento, de Tomás Gutiérrez Alea E três edições voltadas à poesia: Poema sujo, dedicado a Ferreira Gullar; Vida e verso e Consideração do poema, dedicados a Carlos Drummond de Andrade

Os DVDs podem ser adquiridos nas livrarias especializadas, nas lojas dos nossos centros culturais e na loja online do IMS: bit.ly/imsdvd. 35


Curadoria de cinema Kleber Mendonça Filho

Programadora de cinema Marcia Vaz

Programadores assistentes Ligia Gabarra e Thiago Gallego Projeção Adriano Brito e Edmar Santos Legendagem eletrônica Pilha Tradução Revista de Cinema IMS

Produção de textos e edição Thiago Gallego, Ligia Gabarra e Kleber Mendonça Filho Diagramação Marcela Souza

Revisão Flávio Cintra do Amaral

Os filmes de junho

O programa do mês tem o apoio do Galpão Bela Maré, do Observatório de Favelas, da Revista Cinética, da Reptilia Produções, da Studio Uljana Kim, da Video nas Aldeias; das distribuidoras California Newsreel, Diamond Films, Frameline, Elo Company, Embaúba, Descoloniza, Imovision, Inquieta, Vitrine Filmes, Zeta Filmes e do Espaço Itaú de Cinema. E dedica agradecimentos a Cornelius Moore, Equipe curatorial Travessias, biarritzzz, Bruno Victor, Diego Paulino, Elton Panamby, Emily Jacir, Everlane Moraes, Fábio Rodrigues Filho, Flip Couto, Jorge Furtado, Liz Vamp, Marcus Azevedo, Maria Augusta Ramos, Natara Ney, Paulo Victor Lino, Raquel Gerber, Sabine Passareli, Safira Moreira, Salacione Passareli, Vivian Kleiman, Wallace Lino, Yane Mendes, Yasmin Thayná e ao coletivo Talavistas e ela.ltda. Apoio Bixaria Negra – O cinema de Marlon Riggs

Meia-entrada

Com apresentação de documentos comprobatórios para professores da rede pública municipal, estudantes, menores de 21 anos, portadores de Identidade Jovem, maiores de 60 anos, portadores de HIV e aposentados por invalidez. Cliente Itaú: desconto para o titular ao comprar o ingresso com o cartão Itaú (crédito ou débito). Venda de ingressos

Ingressos à venda na bilheteria, para sessões do mesmo dia. Vendas antecipadas no site ingresso.com. Ingressos e senhas sujeitos à lotação da sala (113 lugares). Devolução de ingressos

Em casos de cancelamento de sessões por problemas técnicos ou por falta de energia elétrica, os ingressos serão devolvidos. A devolução de entradas adquiridas pelo ingresso.com será feita pelo site. Sessões para escolas e agendamento de cabines pelo telefone (21) 3284 7400 ou pelo e-mail imsrj@ims.com.br. Programa sujeito a alterações. Acompanhe nossa programação em cinema.ims.com. br e facebook.com/cinemaims. As seguintes linhas de ônibus passam em frente ao IMS Rio: Troncal 5 - Alto Gávea - Central (via Praia de Botafogo) 112 - Alto Gávea - Rodoviária (via Túnel Rebouças) 538 – Rocinha - Botafogo 539 – Rocinha - Leme Ônibus executivo Praça Mauá - Gávea.

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O despertar da besta (Ritual dos sádicos), de José Mojica Marins (Brasil | 1969, 92’, arquivo digital)


Noite das estrelas, de Wallace Lino e Paulo Victor Lino (Brasil | 2021, 23’, DCP)

Visitação

Terça a sexta, das 12h às 18h

Sábado, domingo e feriados (exceto segundas) das 10h às 18h Entrada gratuita.

Mais informações: ims.com.br

Rua Marquês de São Vicente 476 CEP 22451-040 Gávea – Rio de Janeiro 21 3284 7400 imsrj@ims.com.br

ims.com.br

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