IMS Rio: os filmes de agosto/2018

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cinema ago.2018


terça

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quinta

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14:00 Alguma coisa assim (80’)

14:00 Alguma coisa assim (80’)

17:30 As boas maneiras (135’)

17:30 O processo (139’)

16:00 Ex-pajé (82’)

20:00 Alguma coisa assim (80’)

16:00 Ex-pajé (82’)

20:00 Alguma coisa assim (80’)

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14:00 Alguma coisa assim (80’)

14:00 Alguma coisa assim (80’)

14:00 Auto de resistência (104’)

17:30 O processo (139’)

17:30 O processo (139’)

18:30 Os curtas de Gabriela Amaral Almeida (58’)

16:00 Ex-pajé (82’)

20:00 Alguma coisa assim (80’)

16:00 Ex-pajé (82’)

20:00 Alguma coisa assim (80’)

16:00 O animal cordial (99’) 20:00 O animal cordial (99’)

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14:00 O animal cordial (99’)

14:00 Auto de resistência (104’)

14:00 O animal cordial (99’)

18:00 Alguma coisa assim (80’)

19:00 Sessão Cinética: Retrato de Jason (105’)

16:00 O animal cordial (99’)

16:00 O animal cordial (99’) 20:00 O animal cordial (99’)

16:30 Unicórnio (122’)

Seguido de debate com os críticos da revista.

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14:00 Alguma coisa assim (80’)

14:00 Alguma coisa assim (80’)

14:00 O animal cordial (99’)

18:00 O animal cordial (99’)

18:00 O animal cordial (99’)

18:30 Histórias que nosso cinema (não) contava

15:40 Unicórnio (122’) 19:50 Unicórnio (122’)

15:40 Unicórnio (122’) 19:50 Unicórnio (122’)

16:00 Unicórnio (122’) (79’)

20:00 Benzinho (97’)

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14:00 Unicórnio (122’)

14:00 Unicórnio (122’)

14:00 O animal cordial (99’)

16:30 Histórias que nosso cinema (não) contava (79’)

18:00 Riscado (85’)

20:00 Benzinho (97’)

16:30 Histórias que nosso cinema (não) contava (79’)

18:00 Benzinho (97’)

20:00 Que horas ela volta? (114’)

16:00 Unicórnio (122’)

18:30 Histórias que nosso cinema (não) contava (79’)

20:00 Se... (111’)


sexta

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domingo

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14:00 Alguma coisa assim (80’)

11:15 O processo (139’)

18:30 Auto de resistência (104’)

16:00 Ex-pajé (82’)

11:30 14:00 16:00 17:30 20:00

16:00 Ex-pajé (82’)

Seguido de debate com os diretores e convidados.

14:00 Alguma coisa assim (80’) 18:00 Auto de resistência (104’) 20:00 Alguma coisa assim (80’)

Auto de resistência (104’) Alguma coisa assim (80’) Ex-pajé (82’) O processo (139’) Alguma coisa assim (80’)

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14:00 Auto de resistência (104’)

11:30 O animal cordial (99’)

18:00 Alguma coisa assim (80’)

15:00 Shoah [Primeira época] (262’) 20:00 O animal cordial (99’)

11:30 O animal cordial (99’) 15:00 Shoah [Segunda época] (280’) 20:00 O animal cordial (99’)

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14:00 Alguma coisa assim (80’)

11:30 No intenso agora (127’)

18:00 O animal cordial (99’)

16:00 O animal cordial (99’)

11:30 14:00 16:00 17:15 19:50

16:00 O animal cordial (99’) 20:00 O animal cordial (99’)

15:40 Unicórnio (122’) 19:50 Unicórnio (122’)

14:00 Alguma coisa assim (80’) 17:50 Se... (111’)

19:50 Unicórnio (122’)

Loulou e outros lobos (55’) O animal cordial (99’) Os curtas de Gabriela Amaral Almeida (58’) Sudoeste (128’) Unicórnio (122’)

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14:00 Histórias que nosso cinema (não) contava

11:30 No intenso agora (127’)

20:00 Que horas ela volta? (114’)

11:30 No intenso agora (127’) 15:00 Sessão infantil: Loulou e outros lobos (55’) 16:30 Histórias que nosso cinema (não) contava (79’) 18:00 Riscado (85’) 20:00 Benzinho (97’)

(79’)

15:30 Imagens do Estado Novo 1937-45 (223’) 20:00 Benzinho (97’)

31 14:00 O animal cordial (99’)

14:00 Histórias que nosso cinema (não) contava (79’)

16:00 Retrato de Jason (105’) 18:00 Benzinho (97’)

16:00 Unicórnio (122’)

Programa sujeito a alterações. Eventuais mudanças serão informadas em facebook.com/cinemaims e ims.com.br.


capa

Riscado, de Gustavo Pizzi (Brasil | 2010, 85’, Arquivo digital) Se... (If...), de Lindsay Anderson (Reino Unido, EUA | 1969, 111’, DCP)


destaques de agosto 2018 Tensionamentos, fábulas, revisões – a programação deste mês do Cinema do IMS se volta à produção brasileira contemporânea ao focar no trabalho de Karine Teles como atriz e roteirista. Há também as estreias de O animal cordial e Unicórnio, acompanhados pelos filmes anteriores de seus realizadores; e o reencontro com a pornochanchada enquanto representação política do regime militar. Abrir o olhar ao cotidiano é uma das chaves para compreender o trabalho de David Perlov – retornamos a ele por ocasião do lançamento em DVD de Diário revisitado 1990-1999, em que ele volta

Benzinho, de Gustavo Pizzi (Brasil, Uruguai | 2018, 97’, DCP) 1

ao dispositivo de sua obra-prima Diário 1973-1983, desta vez para observar o nascimento dos netos, a morte de Ytzhak Rabin, a ascensão de Benjamin Netanyahu. Shoah quer dizer destruição em hebraico e é a palavra adotada por muitos para descrever o extermínio em massa de judeus durante a Segunda Guerra Mundial. Shoah é também o nome do documentário realizado por Claude Lanzmann, um monumento à memória desta tragédia. Como homenagem a esse trabalho do diretor, falecido em julho, a cópia restaurada do filme será exibida em duas partes nos dias 11 e 12 de agosto.

O animal cordial, de Gabriela Amaral Almeida (Brasil | 2018, 99’, DCP)

Histórias que nosso cinema (não) contava, de Fernanda Pessoa (Brasil | 2017, 79’, DCP)

Loulou e outros lobos (Loulou et autres loups) (França | 2003, 55’, 35 mm – dublado em português)


Hier ist kein Warum1 por Claude Lanzmann

Talvez baste fazer a pergunta em sua forma mais simples: “Por que matar judeus?”. Sua obscenidade fica patente de imediato. Há de fato uma obscenidade absoluta no intento de compreender. Não compreender foi minha regra inamovível ao longo de todos os anos da realização de Shoah: agarrei-me a essa recusa como sendo a única atitude possível, ao mesmo tempo ética e prática. Manter minha guarda erguida, usar esses antolhos, e mesmo essa cegueira, era a condição vital da criação. A cegueira deve ser entendida aqui como enxergar da maneira mais pura, o único meio de não desviar o olhar de uma realidade que é literalmente cegante: a cegueira como a própria clarividência. Para encarar o horror de frente, é preciso renunciar a todas as distrações e evasões e, em primeiro lugar e acima de tudo, renunciar à questão mais falsamente central, a do porquê, com as intermináveis futilidades acadêmicas e truques baixos que ela costuma suscitar. 1. Nota escrita em 1986 para o lançamento de Shoah. 2

Hier ist kein Warum (“Aqui não existe por quê”): Primo Levi relembra que um guarda da SS ensinou-lhe a regra de Auschwitz no exato momento de sua chegada. “Não existe por quê”: essa lei também vale para todo aquele que assume a responsabilidade de tal transmissão. Pois só o ato de transmissão importa, e nenhuma inteligibilidade, isto é, nenhum conhecimento, existe antes da transmissão. A transmissão é o conhecimento em si. Não se pode desmembrar o que é radical. Nenhum porquê, mas também nenhuma resposta a por que recusar o porquê – sob pena de cair de novo na obscenidade que acaba de ser mencionada. Comecei precisamente com a impossibilidade de recontar essa história. Situei essa impossibilidade bem no início do meu trabalho. Quando comecei o filme, tive que lidar, por um lado, com o desaparecimento dos vestígios: não havia coisa alguma, absolutamente nada, e eu tinha que fazer um filme a partir desse nada. E, por outro lado, tive que lidar com a impossibilidade, até mesmo dos próprios sobreviventes, de contar essa história; a impossibilidade de falar, a dificuldade – que pode

ser vista ao longo do filme – de trazer à luz e a impossibilidade de nomear: seu caráter inominável. Foi por isso que tive tanta dificuldade de encontrar um título. Ao longo dos anos, pensei em diferentes títulos. De um eu gostava bastante, mas era um tanto abstrato: O lugar e a fala. Havia um título provisório ao qual não cheguei por conta própria, pois para mim o filme ainda não tinha título, mas fui obrigado a nomeá-lo para o CNC:2 Morte nos campos. Lembro que quando eu disse pela primeira vez que iria enfrentar esse projeto, um amigo querido que agora está morto, Gershom Scholem, de Jerusalém – um grande cabalista –, disse: “É impossível fazer esse filme”. Ele acreditava mesmo, em certa medida, que o filme não deveria ser feito. E na verdade, sim, era impossível e altamente improvável produzi-lo e obter êxito em sua realização. 2. Centre National de La Cinématographie, hoje Centre National du Cinema et de l’Image Animée, instituição criada em outubro de 1946 para regular a atividade cinematográfica, preservar e estimular a difusão do patrimônio cinematográfico francês.


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Sobre Se... por Kleber Mendonça Filho

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Mês passado, circulou pelas redes um texto de David Cronenberg com o título “Gostaria de defender o crime da arte” (“I Would Like to Make the Case for the Crime of Art”), uma reflexão sobre o papel do artista no mundo. Ele cita Freud como ponto de partida: “Na formulação freudiana, a civilização é repressora. Isso significa que sem a repressão de impulsos humanos destrutivos e subterrâneos [...] a sociedade humana na sua forma coerente e funcional não existiria. Com isso, a função da arte é exatamente a de liberar esses desejos e instintos que Freud chamava de ‘o subconsciente’; assim, toda a arte é subversiva na civilização. E se a arte é subversiva por natureza, artistas são subversivos por natureza.” E como tudo isso casa bem com a nossa exibição neste mês de Se... (If...., Inglaterra, 1968), de Lindsay Anderson, em nossa singela seleção de filmes que estão completando 50 anos. Todo filme é retrato do seu tempo, mas alguns parecem ser ainda mais. Não é difícil ver Se... e imaginá-lo recebendo a bola de Godard em A chinesa (La Chinoise, 1967) e repassando-a para Easy Rider

(1969) e Laranja mecânica (A Clockwork Orange, 1971). O filme de Kubrick parece dar sequência ao personagem do mesmo Malcolm McDowell em Se... Os dois filmes são complementares e anunciam, em visão retrospectiva, o punk britânico com uma década de antecedência. Naquele momento do mundo e da cultura, vale observar os designs gráficos da época, tentativas do marketing dos grandes estúdios (entidades do establishment tanto quanto a escola/internato que é o cenário de Se...) para acompanhar os filmes que precisavam vender. “De que lado você estará?” era o slogan no cartaz do filme de Anderson, uma frase tão curiosamente “pra frentex” como a que a MGM usou para 2001: uma odisseia no espaço, lançado no mesmo ano – “The Ultimate Trip”, ou “A maior das viagens”. Em Se.., a Paramount Pictures precisou vender a ideia de uma revolução violenta no seio do elemento mais simbólico de formação social – bom, na Inglaterra, certamente: a escola. Regras, punições, hierarquias e o status quo opressor são arremessados pela janela, atacados a tiros e com explosões. O jovem Mick (Malcolm


McDowell) protagoniza um ataque às instituições, e impressiona até hoje a raiva processada por Anderson para fazer esse filme. Há uma atmosfera dúbia de licença poética, de sonho e de anarquia no quadro e na montagem que desconstrói a violência de forma um tanto única. Para tal, dois elementos se destacam: a personagem mulher, interpretada por Christine Noonan, possivelmente uma projeção romântica revolucionária, mas sempre em liderança, e a já muito discutida influência do fotógrafo tcheco Miroslav Ondricek, colaborador de Milos Forman em Os amores de uma loira (1965) e O baile dos bombeiros (1967), filmes lindamente insolentes feitos na Tchecoslováquia. Todos juntos fizeram um tipo de crime artístico que lembra a súplica recente de Cronenberg. Um filme irresponsável, que hoje, infelizmente, nos parece ainda mais incomum em nosso momento político.

Texto de David Cronenberg disponível em inglês no site The Globe and Mail: tgam.ca/2LhSJLE 5


Retrato borrado

Retrato de Jason (1967), de Shirley Clarke por Paulo Santos Lima

Um retrato entrega vida e até uma certa eternidade ao objeto, mas também pode revelar fissuras, pontos fracos, e matar a entidade em cena. Quando Shirley Clarke, numa longa noite em dezembro de 1966, levou ao seu apartamento, no mítico Chelsea Hotel, o essencial de uma equipe de quatro pessoas, uma câmera Éclair NPR 16 mm, um Nagra e equipamento de luz para filmar o Retrato de Jason, o propósito era confuso. Havia uma motivação pessoal e uma ânsia artística em experimentar e esgarçar os limites possíveis do documentário performático. Cineasta e seu personagem disputam o poder na cena. Uma obra sobre a capacidade de reinvenção infinita e a potência do que diz respeito à representação e ao representado, cujo efeito imediato do filme projetado na tela é a performance em si mesma. A intenção da artista Shirley Clarke em arrebentar os procedimentos do gênero estava longe de ser absurda. Sempre esteve muito próxima à geração do underground norte-americano, junto aos pioneiros Maya Deren e Kenneth Anger, assim como Jonas Mekas e Andy Warhol, ou mesmo diretores que experimentavam 6

dentro de modelos mais narrativos, como Monte Hellman e John Cassavetes. Numa “promiscuidade” bem distinta dos vanguardistas europeus dos anos 1920, ali mais detidos na ideia duma arte cinematográfica essencialmente de movimento e ritmo apartada do teatro e da narrativa literária, artistas como Shirley Clarke trabalhavam certas convenções para reconfigurá-las numa nova estética. Em suma, a contracultura: corromper tradições para responder, com novas formas, a um estado de coisas do mundo. O retrato de Jason seria, então, um experimento de documentário que deixaria o processo à mostra. Algo, aliás, que Clarke fizera nos dois longas anteriores, obras de ficção hibridizada com teatro, artes plásticas, cinema direto ritmado por jazz, mise en scène sofisticada em dança com estética de filme underground: The Connection (1961) e The Cool World (1964), do consumo catártico de heroína à violência como meio de sobrevivência, duas obras fortíssimas sobre a condição dos afro-americanos. O foco dos filmes anteriores de Clarke era investigar, com profundidade e sem demagogia, a vida

às margens do sistema, em especial da experiência negra americana. Shirley Clarke já conhecia Jason Holliday, que era amigo do pai de Carl Lee, na ocasião namorado da cineasta e objeto de desejo de Jason. O convite seria para ele contar suas histórias, uma continuação dos outros dois filmes, pois ele era negro e homossexual nos EUA dos anos 1960, onde a discussão racial e de gênero incandescia. Nascido Aaron Payne numa Nova Jersey não afeita à ousadia, e tendo o novo nome dado pela cidade libertária de São Francisco, Jason era pretenso ator profissional e permanente performer que fez de tudo para sobreviver: de serviços em casas de senhoras ricas a sexo por diversão “do Maine ao México”. Belo, excêntrico, genioso e estimulante, Jason, num rebuscado overacting, que na autenticidade confunde farsa e verdade, fala sobre passagens prosaicas de sua vida, faz referência a divas como Mae West, a personagens como Scarlett O’Hara e Carmen Jones, e assume a forte postura política do negro altivo que responde à violência racista com um dandismo arrasador.


Jason é a própria atuação, uma verdade que estaria na representação (Jason Holliday) e não na entidade Aaron Payne. Daí Clarke ter o objetivo inicial de desarmar a atuação em que ele tinha total controle, fazê-lo ir a si próprio, e assim colocá-lo à prova. Num método aparentado ao de Cassavetes (que amou o filme, assim como Jonas Mekas e Ingmar Bergman), Jason tem à mão uma garrafa de single malt, cigarros e maconha, consumidos durante as 12 horas de filmagem por um corpo que vai perdendo parte do controle rijo da atuação para, inesperada e espetacularmente, se recriar, bêbado, numa chave mais maneirista e consoante à tensão que vai tomando o filme. Mas, sendo Shirley Clarke, o sentido lhe é estético. Na lida com o material na ilha de edição, a disputa inicial transformou-se em amor, e a tal verdade que ela queria extrair de Jason realiza-se na própria cena, como fato estético, pois o que é da biografia do ator e o que é de seu personagem são indistintos no estar em cena. A performance é uma realidade indiscutível. Mas Jason luta com o sorriso, uma risada que é mais presença formal do 7

que enunciação. Um riso que é a maior criação do artista Jason Holliday, porque puxa para si todo um jogo que se estabelece entre o biografado, a diretora e sua equipe. Uma espécie de coringa que leva a cena a um estado de graça desconcertante. Dos fortes lábios de Jason, seus dentes e o som que deles sai, ele esgrima com a diretora. Clarke adota uma tradição, a do método de teste de elenco ao estilo da escola moderna de atuação, para subvertê-la e desnaturalizá-la de seu funcionalismo. Mesmo atrás da câmera, ela “aparece” em cena com sua voz no extracampo, cutucando seu ator, mas sujando o plano com rebarbas, imagens ausentes, aviso de número de rolo, o que, pela convenção, seriam os bastidores das filmagens que deveriam estar fora do corte final dum filme sobre uma galante e excêntrica personalidade. Clarke expõe as vísceras por trás do belo corpo duma obra de arte. Já no primeiro plano, quando a diretora transgride a regra e elege o fora de foco como a imagem por excelência, a figura borrada de Jason, a primeira de muitas outras no filme, expande a presença do

ator para além da cena, além do filme, misturando-o junto às matérias fílmicas, da banda sonora à química do acetato em 16 mm, fazendo dele um fato estético acima do figurativismo, uma obra de arte que carrega sua presença. Clarke traz para o cinema um equivalente da técnica pictórica do borrão, do retrato em que podemos observar a mão de quem pinta, e o efeito principal é justamente esta tensão entre a mediação visível e a figura. O retrato de Jason, é acima de tudo, um elogio radical a essencial impureza e fugacidade do gesto de retratar.


Entrevista: Karine Teles por Lígia Gabarra e Thiago Gallego

Por ocasião da estreia de Benzinho, de Gustavo Pizzi, no dia 23 de agosto, o Cinema do IMS promove uma programação especial em torno da atriz e roteirista Karine Teles. Serão exibidos os dois longas de Gustavo, Riscado (2010) e Benzinho (2018), nos quais Karine foi protagonista e corroteirista. A programação inclui também Que horas ela volta? (2015), dirigido por Anna Muylaert. Em dois dos filmes que estamos apresentando neste mês, você é ao mesmo tempo protagonista e corroteirista. E uma das questões que nos levou a fazer essa pequena seleção de trabalhos seus é justamente a dimensão criativa da atuação, pensar a atriz enquanto roteirista mesmo nos casos em que ela não está implicada na escrita propriamente dita do roteiro – o que, de certo modo, é o que acontece com a Bianca em Riscado. De que forma o seu trabalho como atriz intervém criativamente em filmes diferentes, e de que maneira diretores diferentes trabalham isso? Eu sou atriz porque descobri que essa era uma forma bastante eficiente de me 8

comunicar, de fazer perguntas e sugerir discussões. A arte, para mim, tem a potência de comunicar para além da linguagem racional. Coisas que sentimos vendo um filme, lendo um livro, escutando uma música muitas vezes são quase palpáveis de tão concretas, mas não cabem na lógica racional. Eu sempre escrevi, mas durante muito tempo era apenas uma válvula de escape íntima. Meus textos e ideias eram só um jeito de colocar para fora coisas que não sairiam de outra maneira. Estar em cena para mim é bastante parecido, seja num palco ou na frente de uma câmera eu estou me abrindo para o espectador. Eu estou colocando dúvidas, questionamentos, sentimentos, desejos e afins para fora, na intenção de trocar com quem assiste. No cinema especificamente – uma arte em que o ator é mais um dos elementos, e não o centro, como costuma ser no teatro – não dá muito para fingir, para não estar presente, vivo e inteiro em cena quando se está diante de uma câmera. Brinco que ela vê nossa alma, enxerga o que estamos pensando, vê para além do que estamos mostrando. Por isso adoro trabalhar com

diretores que gostam de trabalhar com atores. Quando essa colaboração na criação dos personagens acontece de forma eficiente, as chances de o trabalho render mais me parecem ser bem maiores. Esse trabalho de colaboração às vezes pode ser apenas uma conversa, uma lista de referências, um café. Às vezes esse trabalho passa pela sala de ensaio – coisa que eu sempre adorei porque acho importante demais poder errar, e ensaio é lugar de erro. As vezes passa por uma longa preparação. De toda forma, acho que a escolha de determinado ator para determinado personagem já é em si um convite à coautoria. Somos corpos e vozes que podem, claro, se transformar, mas que aliados ao que está escrito num roteiro criam imagens específicas e geram sentimentos específicos em quem assiste. Um ator x fazendo o personagem y cria um resultado, o ator z fazendo o personagem y cria outro. A escolha do ator já é linguagem. Eu adoro ser dirigida e descobrir em mim o que serve para cada momento de cada história. Quanto mais eu vivo e experimento, mais vocabulário emocional e empático eu tenho para


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trabalhar, e esse eu acredito ser o exercício do ator: a empatia. No entanto, quando eu percebi que era possível escrever as minhas “vertentes” em formato de roteiro, abriu-se um novo buraco em mim, um novo espaço para receber e transformar coisas que eu queria entender, discutir, mostrar... Transformar em som e imagem em movimento, e que eu poderia ser a atriz que daria vida a parte disso. Para mim, fazer uma personagem que escrevi – como em Riscado ou Benzinho – não é tão diferente de fazer uma personagem extremamente complexa e bem escrita por outra pessoa, como em Que horas ela volta?. De algum jeito, a descoberta das questões, a procura por referências e a construção da personagem passam pelo mesmo caminho dentro de mim no que se refere ao meu trabalho como atriz, porque a personagem só existe mesmo enquanto está em frente à câmera, em relação a outro personagem ou ao espaço – que no cinema, para mim, também é personagem. E isso só acontece quando o trabalho de todo mundo que pensou aquilo tudo converge para a cena. Eu posso ter escrito a personagem e a cena, mas o cinema só


começa de fato a existir quando estamos no set, filmando, depois que um batalhão de profissionais pensou cada elemento que está compondo aquele quadro, aquele take, aquele plano. Eu sou só mais um. Em Riscado, você faz uma atriz que interpreta uma atriz, mas que, de um ponto de vista de classe, está submetida a patrões e patroas muito violentos. A Irene, sua personagem em Benzinho, tem uma história pregressa que também sugere esse tipo de violência. Já em Que horas ela volta? você está do outro lado dessa lógica de opressão: Bárbara é a patroa. Poderia falar um pouco das construções dessas relações no roteiro e na sua atuação? Bianca e Irene são duas mulheres que foram escritas por mim, Bárbara não. Daí você pode tirar algumas conclusões sobre minhas origens e minhas questões com o mundo em que vivemos. Eu sou filha de professora e psicólogo – ambos os primeiros na história de suas famílias a cursar universidade –, e eu e meus irmãos estudamos em escolas particulares porque tínhamos bolsa. Anos de 10

inadequação, bullying e uma educação tradicional e religiosa que ainda precisam ser esfregados diariamente para remover persistentes nódoas na minha coragem, autoestima e liberdade. Eu comecei a trabalhar aos 14 anos (dava aulas de inglês em um curso) e trabalhei em diversas atividades durante todo o período em que cursei uma universidade federal, e custeei minha educação dessa forma. Eu também comecei a fazer teatro aos 14 anos, e de lá para cá não parei mais, mas foi só muito tempo de carreira depois que eu tive coragem de me assumir atriz e decidi não trabalhar em mais nada que não estivesse relacionado à profissão na qual eu havia me formado e dedicado tanto tempo e amor. Pedi demissão do meu trabalho de assistente pessoal (função que ocupava havia três anos) e fui “tentar a vida”. Daí veio Riscado e as coisas começaram a acontecer. Esse ano eu completo 25 anos de carreira, mas só vivo do meu trabalho de atriz há uns sete ou oito, e, mesmo assim, ainda não me considero estabilizada. Sinto que o caminho está sendo trilhado, mas sei que o trajeto que eu escolhi tem suas peculiaridades. Acho

que isso tudo está presente nas coisas que eu escrevo. Eu conheço mais de perto o lado do oprimido, das minorias, dos invisíveis. A Bianca de algum jeito sou eu e muitos amigos e conhecidos que vivem as incertezas e os mistérios dessa profissão. A Irene e a Sônia (as duas mulheres de Benzinho) são as milhões de mulheres comuns que têm sua força extraordinária menosprezada pela sociedade. Sou eu, que tenho dois filhos e trabalho feito louca para cuidar deles e boto para dormir cantando musiquinha; minha mãe, que tinha três empregos e cuidava praticamente sozinha de três filhos; a mãe do Gustavo (diretor e corroteirista do filme), que só conseguiu estudar depois de adulta porque precisou começar a trabalhar ainda criança; a minha avó, que era operária numa fábrica de tecidos, cozinhava para fora e cuidava de quatro filhas; minha irmã, que trabalha feito louca, mas sempre tem alegria e amor para educar e brincar com seus filhos; a mulher que passa por você na rua cheia de sacolas com ar de cansada e que você nem vê. Na Bárbara, de Que horas ela volta?, eu encontrei um desafio enorme porque não


tinha em mim e na minha vida mais próxima ninguém como ela para usar de referência, então trabalhei pelo lado avesso. Lembrei de cada vez que fui menosprezada, maltratada por um ou outro empregador, quando surpreendia as pessoas com as minhas opiniões inesperadas para uma menina como eu, quando incomodei, quando fui humilhada e procurei encontrar a lógica de quem faz isso com o outro, as razões e a formação de quem se acredita superior. A Anna falou muito sobre a Bárbara ser uma mulher que está também cumprindo as regras de uma classe social e, dessa forma, tentando fazer o que se espera dela. Foi um exercício difícil de empatia para mim, e em muitos momentos eu achei que seria incapaz de fazer uma cena ou outra sem julgar a personagem na minha interpretação. A gente sabia que quem estava assistindo ao filme precisava se ver em algum daqueles personagens e se questionar. Depois que o filme foi lançado, eu fui surpreendida algumas vezes por pessoas que vieram me parabenizar e dizer que concordavam com a Bárbara – os elogios mais tortos que eu já recebi na vida. 11

Em Benzinho, Irene está cercada de personagens masculinos: ela tem quatro filhos homens; o mais velho, que vai partir, sabe ajudar no trato com os mais novos; seu marido sonha com um futuro melhor, mas nem sempre dá conta de arcar com os sonhos que elabora; e seu cunhado é violento com a esposa. É possível falar na construção da subjetividade dessa personagem a partir das relações a sua volta? Irene e Sônia estão cercadas de homens por todos os lados, porque nós, mulheres, estamos cercadas de homens por todos os lados. Aos poucos essa dinâmica está mudando e em algumas “bolhas” já é possível ver uma diferença enorme. Homens participando ativamente das atividades até então restritas às mulheres na maioria das famílias. Sendo pais de fato (estando presentes na educação e no convívio com os filhos) e sendo responsáveis também pelos cuidados com a casa onde moram. Coisas tão óbvias, mas tão improváveis na dinâmica da maioria das famílias do mundo. As subjetividades da Irene e da Sônia, a meu ver, foram construídas muito mais a partir dos seus

desejos e anseios do que das suas relações com os homens. Uma ajuda a outra a dar conta do dia a dia para que ambas possam alcançar seus objetivos. O desejo maior de Irene é se formar e conseguir um emprego formal, e ganhar dinheiro com seu próprio trabalho. Irene está inserida ainda em um contexto machista; embora viva numa família amorosa, ela ainda é a única responsável pelos filhos e pela casa, mas junto com o amadurecimento dos filhos ela também está amadurecendo e buscando caminhos para mudar a dinâmica familiar vigente. Isso não é nem um pouco fácil, nem as condições que se apresentam em sua vida neste momento são favoráveis, mas ela segue... no caminho... ela vai.


Filmes em cartaz Alguma coisa assim

Esmir Filho e Mariana Bastos | Brasil, Alemanha | 2017, 80’, DCP Em 2006, Esmir Filho e Mariana Bastos realizaram o curta Alguma coisa assim sobre uma noite na vida dos adolescentes Caio e Mari (André Antunes e Caroline Abras) pelas ruas de São Paulo. O filme foi exibido na Semana da Crítica do Festival de Cannes e recebeu o prêmio de Melhor Roteiro. Em 2014, os realizadores fizeram um novo curta com os mesmos personagens, chamado Sete anos depois. Alguma coisa assim, o longa de 2017, reúne novamente Caio e Mari, agora em Berlim, e retoma os encontros anteriores. “A gente discute muito com esse filme questões que são importantes, e que estão em pauta; uma delas é a sexualidade, e outra, o relacionamento sem rótulos, a liberdade de você poder viver uma relação sem se categorizar em uma gaveta. O filme chama Alguma coisa assim justamente por isso, pois é uma relação que não é uma coisa nem outra, e eles vivem as dificuldades de não conseguir se colocar dentro do padrão. Mas há muita verdade no sentimento que têm um pelo o outro e vivem de maneira muito conectada. Uma relação que, como todas as relações muito próximas, trazem problemas, mas também trazem muitas surpresas”, contou a diretora Mariana Bastos à Rádio CBN. [Ouça a entrevista no link: glo.bo/2HM6RqK ] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 22 (inteira) e R$ 11 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia) 12

O animal cordial

Gabriela Amaral Almeida | Brasil | 2018, 99’, DCP Um restaurante de classe média alta em São Paulo é invadido, no fim do expediente, por dois ladrões armados. O dono do estabelecimento, o cozinheiro, uma garçonete e três clientes são rendidos. Inácio, o dono, tentará defender o restaurante e os clientes dos assaltantes. Em seu primeiro longa-metragem, Gabriela Amaral Almeida trabalhou o slasher, subgênero do terror que lida com grafismo, morte e sangue. Nas palavras da diretora, em entrevista ao Canal Brasil: “A alegoria desse sangue é o que mais me interessa. Esse sangue, esses cortes, são necessários num momento em que eu sinto o país guerreando ideologicamente e, até, em vias de fato. A nossa classe média já não está tão comedida, os monstros estão saindo à tona. Eu acho que O animal cordial usa isso como palco, se serve desse banquete brutal.” Pelo filme, Murilo Benício recebeu o prêmio de Melhor Ator no Festival do Rio, em 2017. No FantasPoa 2018, o filme foi premiado nas categorias Melhor Direção e Melhor Atriz, para Luciana Paes. O Cinema do IMS exibe paralelamente três curtas-metragens dirigidos por Gabriela Amaral Almeida: Uma primavera (2010), A mão que afaga (2011) e Estátua! (2014). Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 22 (inteira) e R$ 11 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia)

Auto de resistência

Natasha Neri e Lula Carvalho | Brasil | 2018, 104’, DCP Um documentário sobre os homicídios praticados pela polícia contra civis no Rio de Janeiro, em casos conhecidos como “autos de resistência”. O filme acompanha a trajetória de pessoas que lidam com essas mortes em seus cotidianos, mostrando o tratamento dado pelo Estado a esses casos, desde o momento em que um indivíduo é morto, passando pela investigação da polícia, até as fases de arquivamento ou julgamento. Em Auto de resistência, a diretora Natasha Neri, que estuda o tema há dez anos, opta por acompanhar os casos por meio do olhar dos familiares e pelo sistema de justiça: “Muitos casos que estão no filme são os que tiveram processo, e são a exceção”, comenta em entrevista ao portal Ponte Jornalismo. “Nosso recorte é de situações em que a militância dos familiares ou vídeos que caíram nas redes sociais contribuíram na investigação. Esses dois fatores acabam influenciando a possibilidade de haver processo, isso é dado de pesquisa.” A sessão do dia 3 de agosto, sexta-feira, às 18h30, será seguida por um debate com os diretores e Thula Pires, doutora em Direito e professora do departamento de Direito da PUC-Rio, Fatinha Silva, moradora da Rocinha e mãe de Hugo Leonardo, morto em 2012 por policiais do Batalhão de Choque, e mediação de Tiago Coelho, repórter da revista Piauí. [Íntegra da entrevista em: bit.ly/auto-neri] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 22 (inteira) e R$ 11 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia)


As boas maneiras

Marco Dutra e Juliana Rojas | Brasil, França | 2017, 135’, DCP Ana está grávida e vive sozinha em São Paulo. Ela contrata Clara para ser babá de seu futuro filho. Mas, nas noites de lua cheia, o bebê fica um pouco mais agitado do que o normal. Ao site Mubi, Juliana Rojas disse: “A ideia original de As boas maneiras veio de um sonho de Marco: duas mulheres morando em uma casa isolada e criando um bebê estranho. Começamos a investigar o folclore do lobisomem em diferentes culturas e vimos como o mito geralmente se relaciona com impulsos de violência e sexo, e também com valores religiosos e conservadores. Nós começamos a mergulhar mais fundo nas duas principais personagens femininas e seus conflitos de classe, raça e desejo. Em relação à criança lobo, nós o vimos como alguém que está descobrindo algo crucial sobre sua própria natureza, da mesma forma que todos nós fazemos quando crescemos.” O filme recebeu o Prêmio Especial do Júri no Festival de Locarno em 2017 e, no mesmo ano, foi premiado no Festival do Rio nas categorias de Melhor Filme, Melhor Fotografia, Melhor Atriz Coadjuvante, Melhor Filme LGBT (Prêmio Felix) e Melhor Filme pela Federação Internacional de Críticos de Cinema. [Leia a entrevista completa, em inglês, no link: bit.ly/2IAmSB7] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 22 (inteira) e R$ 11 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia) 13

Ex-pajé

Luiz Bolognesi | Brasil | 2018, 82’, DCP Os Paiter Suruí, habitantes da terra indígena Sete de Setembro, em Rondônia, viveram mais de metade do século XX isolados. Perpera, o protagonista de Ex-pajé, tinha 20 anos quando seu povo fez o primeiro contato com os brancos, em 1969. Até aquele momento, ele era pajé de seu povo. Mas, com os brancos, chegou o pastor evangélico que condenava o xamanismo, e Perpera viu-se obrigado a abandonar sua prática ancestral. O ex-pajé sabe que os espíritos da floresta estão bravos, já que ele não reza mais nem toca as flautas sagradas. Com medo, dorme sempre com a luz acesa. “Antes se consultava o pajé, hoje só tomam aspirina”, diz, contrariado. “O filme retrata a experiência indígena brasileira nos tempos atuais de dentro para fora. Se mantém longe dos clichês românticos. Ele mergulha na vida cotidiana de uma tribo de cerca de mil indígenas que ainda falam a língua Paiter Suruí, e até 1969 viviam isolados na floresta. [...] O conceito foi trabalhar no limite entre documentário e ficção. Os atores interpretam eles mesmos e retratam suas histórias verídicas. Torna-se difícil identificar a linha tênue onde a ficção começa e o documentário termina, e vice-versa”, conta o diretor Luiz Bolognesi. O longa recebeu Menção Especial do júri para documentário original no Festival de Berlim de 2018, onde teve sua primeira exibição. Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 22 (inteira) e R$ 11 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia)

Histórias que nosso cinema (não) contava

Fernanda Pessoa | Brasil | 2017, 79’, DCP O documentário realiza uma releitura dos anos 1970 no Brasil por meio de imagens e sons de filmes populares da época, muitos considerados “pornochanchadas”, o gênero mais visto e produzido no período. Segundo Fernanda Pessoa, seu filme não é sobre o conjunto heterogêneo de filmes a que se chama “pornochanchadas”, mas parte dele para pensar temas caros à história do país naquele período, como o chamado “milagre econômico”, as consequências diretas do êxodo rural e a expansão das favelas. “A gente nunca pensa na ‘pornochanchada’ como uma fonte histórica”, disse a diretora em entrevista ao jornal Nexo. “Ela é sempre vista como entretenimento, muita gente acha que foi um grande problema na nossa história do cinema, que causou danos ao cinema [brasileiro]. É muito inusitado, a gente nunca procura como esse cinema, que era o mais visto e o mais produzido, retratava a sociedade.” Na 9a Semana, em 2017, Histórias que nosso cinema (não) contava recebeu o prêmio Indie Lisboa e o prêmio de Melhor Filme pelo Júri da Crítica. Também em 2017, recebeu o prêmio de Melhor Filme no Festival Pachamama Cinema de Fronteira. Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 22 (inteira) e R$ 11 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia)


No intenso agora

O processo

Feito a partir da descoberta de filmes caseiros rodados na China em 1966, durante a fase inicial da Revolução Cultural, No intenso agora investiga a natureza de registros audiovisuais gravados em momentos de grande intensidade. Às cenas da China, somam-se imagens dos eventos de 1968 na França, na Tchecoslováquia e, em menor quantidade, no Brasil. As imagens, todas elas de arquivo, revelam o estado de espírito das pessoas filmadas e também a relação entre registro e circunstância política. O ponto de partida do filme foram imagens captadas pela mãe do diretor, encontradas por ele na época da finalização de Santiago (2007). “Eu precisava de imagens da casa onde minha família morou, na Gávea, e pedi a alguém para procurar”, conta João Moreira Salles em entrevista ao jornal O Globo. “Encontramos as imagens, mas eu não sabia direito o que eram, qual o sentimento dela durante a viagem. Aí encontrei uma reportagem que ela escreveu sobre a viagem, em forma de diário, para a revista O Cruzeiro. Fiquei muito impressionado com a comoção dela diante de tudo o que viu lá. Minha mãe e a Revolução Cultural são opostos absolutos, seria fácil imaginar uma reação dogmática. Mas não, ela ficou deslumbrada com aquilo. E eu fiquei tocado com esse deslumbramento dela e com a intensidade com que ela o descreveu, porque minha mãe foi perdendo isso com o tempo.”

Em cerca de 450 horas de filmagem, Maria Augusta Ramos acompanhou o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Concentrada em sua defesa, formada por José Eduardo Cardozo, Gleisi Hoffmann e Lindbergh Farias, a diretora faz um estudo particular dos bastidores desse momento histórico, ao longo de reuniões e discussões no Senado Federal, mas também por meio das expressões de seus protagonistas e dos defensores do impeachment. Em entrevista à Deutsche Welle, ao ser perguntada sobre a abordagem do ponto de vista da defesa de Dilma Rousseff, Maria Augusta disse: “Não é que seja a perspectiva da defesa: eu acompanho muito mais os bastidores da defesa porque a defesa me deu esse acesso. Eu tive acesso a reuniões da liderança da esquerda, da minoria que era contra o impeach­ment. A oposição não me deu esse acesso. Se tivesse dado, eu certamente teria filmado mais. Mas eu acho que era importante, sim, apresentar o argumento da direita, o argumento pró-impeachment. Para expor isso, eu escolhi, por exemplo, o senador Cássio Cunha Lima, que tem uma lógica de argumentação inteligente, ou que, pelo menos, faz sentido. Também a advogada Janaína Paschoal, que, independentemente de você concordar ou discordar dela, teve um papel essencial no impeachment.”

João Moreira Salles | Brasil | 2017, 127’, DCP

Imagens do Estado Novo 1937-45 Eduardo Escorel | Brasil | 2017, 223’, DCP

Recorrendo a vasto material de arquivo, entre cinejornais, fotografias, cartas, filmes familiares e de ficção, trechos de diário e canções populares, o documentário examina a herança do Estado Novo (1937-1945), comandado por Getúlio Vargas. A partir da comparação e da análise desses registros heterogêneos, produzidos para fins diversos, o filme reavalia esse momento histórico em suas fontes de inspiração externas, formas de funcionamento e contradições. Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 22 (inteira) e R$ 11 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia)

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Maria Augusta Ramos | Brasil, Alemanha e Holanda | 2018, 139’, DCP

[Leia a entrevista completa de João Moreira Salles para O Globo: goo.gl/PhCNxe]

[A entrevista completa pode ser acessada no link: bit.ly/DWprocesso]

Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 22 (inteira) e R$ 11 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia)

Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 22 (inteira) e R$ 11 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia)


Especial: Karine Teles Unicórnio

Benzinho

Maria tem 13 anos e vive em uma isolada casa de campo com sua mãe (Patrícia Pillar). Elas aguardam o retorno do pai de Maria, mas a relação entre as duas muda com a chegada de um outro homem (Lee Taylor). Livremente inspirado nos contos “O unicórnio” e “Matamoros”, de Hilda Hilst, Eduardo Nunes contou, em entrevista ao site Omelete, como se deu a adaptação da literatura para o cinema: “O conto ‘O unicórnio’ é a primeira ficção da Hilda. A sua obra – até então – era toda voltada para a poesia. E claro que essa poesia acaba invadindo toda a prosa que a Hilda criou durante a sua vida. É um texto que, mesmo quando em forma de prosa, não está baseado numa ação física, mas numa série de sensações. Eu não acredito que seja possível adaptar a obra desta autora na forma clássica como entendemos uma ‘adaptação cinematográfica’; acredito que seja possível adaptar apenas o que o texto nos provoca. A matéria-prima da Hilda Hilst é de uma natureza muito delicada. E talvez a única forma de fazer essa transposição é estar imbuído dessas sensações, para depois buscar nos elementos do cinema a composição de um filme com esse sentimento.” Em paralelo à estreia de Unicórnio, o Cinema do IMS exibe Sudoeste, o longa anterior de Eduardo Nunes, que faz parte da coleção DVD | IMS.

Irene (Karine Teles) tem quatro filhos com Klaus (Otávio Müller). Ela está terminando os estudos enquanto se desdobra para complementar a renda da casa e ajudar a irmã Sônia (Adriana Esteves). A poucos dias de sua formatura, ela recebe a notícia de que seu primogênito fora convidado para jogar handebol na Alemanha. O filme estreou internacionalmente no Festival de Sundance, quando Gustavo Pizzi e Karine Teles, corroteiristas do filme, contaram sobre o processo de criação em conjunto: “Nós trabalhamos o filme da mesma forma que criamos nossos filhos. Dividimos da mesma maneira, não dizemos ‘eu escrevi essa cena’ ou ‘ele escreveu essa fala’ […]. O primeiro rascunho do roteiro foi escrito enquanto ainda éramos casados, mas leva muito tempo para fazer um filme e encontrar os meios para financiá-lo; durante todo esse processo de separação ainda estávamos trabalhando no roteiro. Após esse primeiro período de constrangimento entre nós, conseguimos nos tornar amigos novamente e voltar a trabalhar juntos. Nós realmente gostamos de trabalhar juntos. Colaboramos de forma muito criativa e artística, então decidimos que não iríamos acabar com isso.”

Eduardo Nunes | Brasil | 2017, 122’, DCP

[Entrevista completa disponível em: https://bit. ly/2LEpGyL] Ingressos: R$ 12 (inteira) e R$ 6 (meia) 15

Gustavo Pizzi | Brasil, Uruguai | 2018, 97’, DCP

[Entrevista completa em inglês disponível no site ReMezcla: https://bit.ly/2A2wqFh] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 22 (inteira) e R$ 11 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia)


Sessões especiais Riscado

Que horas ela volta?

Sudoeste

Bianca é uma atriz cuja carreira não deslan­chou. Para se manter, ela imita divas do cinema e trabalha como promotora de eventos. Sua carreira muda de direção quando faz uma audição para o papel principal de uma grande produção internacional. Protagonista e corroteirista do filme, Karine Teles partiu de uma série de experiências pessoais para a criação de Riscado. Nas palavras da atriz, em entrevista ao site Mulheres do Cinema Brasileiro, o filme “surgiu de um momento de gota d’água. Porque eu sempre tive essa questão, desde que eu me entendo por gente no meio artístico: o que é que faz uma pessoa ter sucesso e a outra não ter? Será que é só talento? E, realmente, é uma dúvida que eu tenho até hoje. Será que é só o cara ser talentoso? Se ele for talentoso, e ele trabalhar, e ele for dedicado, ele vai ter uma carreira? Ele vai sobreviver disso, vai viver disso, vai ter sucesso, vai ter trabalho? Será? Eu estava numa fase muito complicada, de desilusão. “Mas eu sempre falava assim: ‘Riscado é um filme mais pessoal do que biográfico’. Porque no processo da escrita do roteiro as coisas foram se transformando; mesmo que elas tenham partido de experiências concretas, no filme elas viraram uma outra coisa. Então a Bianca não é uma representação minha, mas ela nasceu das minhas dúvidas, das minhas angústias.”

Regina Casé interpreta Val, uma mulher pernambucana que trabalha como empregada doméstica na casa de Bárbara (Karine Teles), em São Paulo. A rotina de trabalho muda quando ela recebe na casa dos patrões sua filha, que veio para a cidade a fim de prestar vestibular. “Comecei a escrever o roteiro há 20 anos, logo depois de ter meu primeiro filho. Eu, que sempre dei muita ênfase à carreira profissional, de repente percebi que o trabalho da mãe não era apenas o trabalho mais importante do mundo, era um trabalho sagrado. Ao mesmo tempo, atentei para o fato de que – no meu meio social – era um trabalho desvalorizado e que muitas mulheres preferiam entregar cotidianamente seus filhos aos cuidados de babás com baixos salários. E, muitas vezes, essas mulheres tinham que largar seus próprios filhos para poder cuidar dos filhos dos outros”, contou a diretora em entrevista ao jornal El País.

Por ocasião da estreia de Unicórnio, mais recente filme de Eduardo Nunes, o Cinema do IMS exibe Sudoeste, longa anterior do diretor. No filme, em uma vila isolada no litoral brasileiro, Clarice vive uma vida inteira, do nascimento à morte, em um único dia. “O ineditismo que a luz proporciona a cada instante de um dia, o fato de, do ponto de vista de luz e sombra, cada momento ser único, diferente do outro, cria a possibilidade de imaginar uma vida que dure um único dia”, comenta Eduardo Nunes. “Além da luz, o vento. Na edição de som, Gabriel D’angelo e Leandro Lima souberam aproveitar a presença constante do vento muito bem. Na sala de cinema, o espectador está o tempo todo cercado de vento. Usamos mais de 40 sons de vento para criar essa atmosfera. E nos servimos também do formato do quadro (3,66:1). Na verdade, uma sugestão da paisagem: na Região dos Lagos, varrida pelo vento, tudo é muito horizontal. A escolha do formato do quadro vem ainda da lembrança das experiências radicais de Abel Gance em A roda (La Roue, 1923) e Napoleão (Napoléon, 1927). Nesses filmes, o quadro está diretamente ligado ao que o filme conta.”

Gustavo Pizzi | Brasil | 2010, 85’, Arquivo digital

[Entrevista completa disponível em: http://bit.ly/riscadok] Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia) 16

Anna Muylaert | Brasil | 2015, 114’, DCP

[Entrevista completa disponível no site do El País: https://bit.ly/2Nsendy] Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia)

Eduardo Nunes | Brasil | 2011, 128’, 35 mm

Sudoeste faz parte da coleção DVD | IMS. Outros títulos e mais informações em: http://bit.ly/DVD-IMS Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia)


Shoah

Se...

Shoah é um documentário dirigido pelo francês Claude Lanzmann sobre o extermínio dos judeus durante a Segunda Guerra Mundial. O filme é inteiramente feito com depoimentos de sobreviventes de Chelmno, dos campos de Auschwitz, Treblinka e Sobibor e do Gueto de Varsóvia, e de entrevistas com ex-oficiais nazistas e maquinistas que conduziam os trens da morte. São depoimentos registrados com a colaboração de três intérpretes – Barbara Janicka, Francine Kaufman e a senhora Apfelbaum – presentes na filmagem para a tradução simultânea das falas em línguas que o realizador não dominava. O resultado dessas conversas provocadas pela câmera é um retrato terrível do genocídio nazista. Lanzmann levou mais de uma década para fazer o documentário. “Nós lemos, depois da guerra, uma série de testemunhos sobre os guetos, os campos de extermínio: nós ficamos transtornados”, observou Simone de Beauvoir. “Mas assistindo hoje ao filme de Lanzmann, percebemos que não sabíamos nada. Apesar de todo o nosso conhecimento, a horrenda experiência permanecia distante de nós. Em Shoah, pela primeira vez, nós a vivemos em nossa cabeça, em nosso coração, em nossa mente.” Shoah será exibido em cópia restaurada em DCP e divide-se em duas épocas, sendo exibido em duas sessões diferentes: a primeira com 263 minutos de duração e a segunda com 280. O filme foi lançado pela Coleção DVD | IMS: http://bit.ly/DVD-IMS

Em um rigoroso colégio interno para garotos na Inglaterra, Mick Travis (Malcolm McDowell) e seus colegas decidem se rebelar. McDowell foi protagonista da Trilogia Mick Travis, composta por Se...., Um homem de sorte (1973) e Hospital dos malucos (1982). Todos escritos por David Sherwin e dirigidos por Lindsay Anderson. Em entrevista à BBC, Sherwin contou que sonhava em escrever um Western nos EUA, mas que todas as histórias pareciam já ter sido contadas, e que lhe restava pensar na sua própria vida e escrever sobre sua experiência escolar. Seu roteiro original, chamado The Crusaders, foi adaptado junto a Anderson durante as revoltas estudantis de 1968 na França e ganhou o título em referência ao poema “Se” (“If”), de Rudyard Kipling, publicado em 1910. As reticências inferem um tom crítico. Em sua autobiografia, Lindsay Anderson Diaries, o diretor conta sobre um episódio de sua juventude: ele considerava o poeta um ufanista, mas seus educadores citavam um trecho do poema como um grande ideal de disciplina: “If you can dream — and not make dreams your master/ If you can think — and not make thoughts your aim” [Se liberto da ilusão podes sonhar/ E pensar sem chafurdar no pensamento;/ Se ao sucesso e ao insucesso sabes dar/ Sempre o mesmo indiferente tratamento]. Se.... recebeu a Palma de Ouro no Festival de Cannes de 1969.

Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia)

Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia)

Shoah Claude Lanzmann | França | 1985, 543’, cópia restaurada em DCP

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If.... Lindsay Anderson | Reino Unido, EUA | 1969, 111’, DCP


Curtas de Gabriela Amaral Almeida

Sessão infantil

Retrato de Jason

Em paralelo à estreia de O animal cordial, o Cinema do IMS exibe três curtas-metragens da diretora:

Portrait of Jason Shirley Clarke | EUA | 1967, 105’, cópia restaurada em DCP

Uma primavera

Gabriela Amaral Almeida | Brasil | 2010, 15’, 35 mm Em seu aniversário de 13 anos, Lara e sua mãe fazem um piquenique no parque. Tudo vai bem, até a menina desaparecer.

A mão que afaga

Gabriela Amaral Almeida | Brasil | 2011, 19’, 35 mm Uma operadora de telemarketing planeja a festa de aniversário para seu único filho, que completa 9 anos.

Estátua!

Gabriela Amaral Almeida | Brasil | 2014, 24’, DCP Isabel (Maeve Jinkings) está no sexto mês de gestação e mal pode esperar para ser mãe. Até que ela conhece Joana. Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia)

Sessão Cinética

Loulou e outros lobos

Loulou et autres loups Serge Elissalde, Marie Caillou, François Chalet, Richard McGuire e Philippe Petit-Roulet | França | 2003, 55’, 35 mm – dublado em português Cinco histórias de lobos desenhadas por diferentes artistas – entre elas, a história de um caçador que prende o lobo e o leva para a cidade; outra, com um lobo robô que fica famoso; e a Chapeuzinho, que não consegue encontrar a vovó. Tem ainda uma aula de como desenhar um lobo e a história do Loulou, um lobinho filhote que fica sozinho no mundo antes de aprender como é ser um lobo. Indicado para crianças maiores de 6 anos. Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia)

Durante 12 horas, ao longo da noite de 3 de dezembro de 1966, a diretora Shirley Clarke e seus amigos entrevistaram Jason Holliday, um homem negro gay que trabalha como michê e sonha com uma carreira de performer em cabarés. “Uma coisa que eu nunca esperaria era uma noite tão carregada do ponto de vista emocional, tal como foi”, comenta Clarke em entrevista ao cineasta Jonas Mekas. “Descobri antagonismos que eu reprimia com relação ao Jason. Estava de fato envolvida emocionalmente. Enquanto Jason falava para a câmera, durante a filmagem, havia outras pessoas na sala além de mim, que reagiam ao que ele dizia e fazia e também se envolviam com ele. Tínhamos uma pequena equipe, mais dois velhos amigos de Jason que conheciam todos os seus truques e já tinham sido alvo das suas inumeráveis maquinações, assim como já tinham desfrutado da sua graça e dos seus jogos. Como as pessoas por trás da câmera reagiram naquela noite é uma parte muito importante daquilo que o filme trata. Mal sabia o quanto de nós mesmos se revelaria conforme a noite avançava.” A primeira exibição de Retrato de Jason será seguida de um debate com os críticos da revista Cinética. [Entrevista completa disponível em: http://bit.ly/ clarkemekas] Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia)

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coleção DVD | IMS Lançamento Diário revisitado 1990-1999

David Perlov | Israel | 2001, 160’ Na década de 1990, David Perlov retornou ao formato dos diários filmados que produziu entre 1973 e 1983, organizados de outra forma, mais próxima do ensaio cinematográfico, dividindo-os em três capítulos temáticos, Infância protegida, Rotina e rituais e Volta ao Brasil. No primeiro, acompanhamos a infância de seus netos; no segundo, a rotina política de Israel, o assassinato do primeiro ministro Yitzhak Rabin, a ascensão de Benjamin Netanyahu e diversos rituais que compõem o dia a dia do país; no terceiro, Perlov retorna ao Brasil, refazendo suas viagens ao Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte. Acompanha esta edição um livreto com o ensaio “Olhar os pequenos acontecimentos”, de Marta Montiano.

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Criada em 2012 pelo então coordenador de cinema José Carlos Avellar (1936-2016), a coleção DVD | IMS já lançou diversos filmes, entre produções brasileiras e estrangeiras. Em cartaz esse mês no Cinema do IMS, Sudoeste, de Eduardo Nunes, e Shoah, de Claude Lanzmann, são alguns dos títulos da coleção, que reúne os seguintes filmes: O futebol, de Sergio Oksman O botão de pérola, de Patricio Guzmán Photo: Os grandes movimentos fotográficos Homem comum, de Carlos Nader Vinicius de Moraes, um rapaz de família, de Susana Moraes Últimas conversas e Cabra marcado para morrer, de Eduardo Coutinho A viagem dos comediantes, de Theo Angelopoulos Nostalgia da luz, de Patricio Guzmán Imagens do inconsciente e São Bernardo, de Leon Hirszman Os dias com ele, de Maria Clara Escobar A tristeza e a piedade, de Marcel Ophuls Os três volumes da série Contatos: A grande tradição do fotojornalismo; A renovação da fotografia contemporânea; A fotografia conceitual La Luna, de Bernardo Bertolucci Cerimônia de casamento, de Robert Altman

Conterrâneos velhos de guerra, de Vladimir Carvalho Vidas secas e Memórias do cárcere, de Nelson Pereira dos Santos O emprego, de Ermanno Olmi Iracema, de Jorge Bodanzky e Orlando Senna Cerimônia secreta, de Joseph Losey As praias de Agnès, de Agnès Varda A pirâmide humana e Cocorico! Mr. Poulet, de Jean Rouch Diário, de David Perlov Elena, de Petra Costa A batalha de Argel, de Gillo Pontecorvo Libertários, de Lauro Escorel, e Chapeleiros, de Adrian Cooper Seis lições de desenho com William Kentridge Memórias do subdesenvolvimento, de Tomas Gutiérrez Alea E três edições voltadas à poesia: Poema sujo, dedicado a Ferreira Gullar; Vida e verso e Consideração do poema, dedicados a Carlos Drummond de Andrade.

Os DVDs podem ser adquiridos nas livrarias especializadas, nas lojas dos nossos centros culturais e na loja on-line do IMS: http://bit.ly/imsdvd


Curadoria de cinema

Kleber Mendonça Filho Produção de cinema e DVD Barbara Alves Rangel

Assistência de produção

Thiago Gallego e Ligia Gabarra Projeção

Adriano Brito e Edmar Santos

Os filmes de agosto

Meia-entrada

O programa de agosto tem o apoio da revista Cinética, das produtoras RT Features, Super Filmes, Acere, Lira Cinematográfica, do Festival Internacional de Cinema Infantil, das distribuidoras Arthouse Distribuição, Boulevard Filmes, California Filmes, Gullane, Imovision, Pandora Filmes, Park Circus, Milestones, VideoFilmes, Vitrine Filmes e do Espaço Itaú de Cinema.

Com apresentação de documentos comprobatórios para professores da rede pública municipal, estudantes, menores de 21 anos, portadores de Identidade Jovem, maiores de 60 anos, portadores de hiv e aposentados por invalidez. Cliente Itaú: desconto para o titular ao comprar o ingresso com o cartão Itaú (crédito ou débito). Venda de ingressos Ingressos à venda na bilheteria, para sessões do mesmo dia. Vendas antecipadas no site ingresso.com. Ingressos e senhas sujeitos à lotação da sala (113 lugares). Devolução de ingressos Em casos de cancelamento de sessões por problemas técnicos ou por falta de energia elétrica, os ingressos serão devolvidos. A devolução de entradas adquiridas pelo ingresso.com será feita pelo site.

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Sessões para escolas e agendamento de cabines pelo telefone (21) 3284 7400 ou pelo e-mail imsrj@ims.com.br Programa sujeito a alterações. Acompanhe nossa programação em cinema.ims.com.br e facebook.com/cinema ims As seguintes linhas de ônibus passam em frente ao IMS Rio: Troncal 5 - Alto Gávea - Central (via Praia de Botafogo ) 112 - Alto Gávea - Rodoviária (via Túnel Rebouças) 538 – Rocinha - Botafogo 539 – Rocinha - Leme Ônibus executivo Praça Mauá - Gávea


Shoah (Shoah), de Claude Lanzmann (França | 1985, 543’, cópia restaurada em DCP)


Retrato de Jason (Portrait of Jason), de Shirley Clarke (EUA | 1967, 105’, cópia restaurada em DCP)

Terça a domingo, sessões de cinema até as 20h. Visitação

Terça a domingo, inclusive feriados (exceto segunda), das 11h às 20h Entrada gratuita.

Rua Marquês de São Vicente 476 CEP 22451-040 Gávea – Rio de Janeiro 21 3284 7400 imsrj@ims.com.br

ims.com.br

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