IMS Paulista: os filmes de dezembro/2018

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cinema dez.2018


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14:00 Torre. Um dia brilhante (106’)

14:00 Torre. Um dia brilhante (106’)

14:00 Tinta bruta (118’)

16:00 120 batimentos por minuto (144’)

16:00 Excelentíssimos (152’)

16:30 Tinta bruta (118’)

19:00 Como sobreviver a uma praga (120’)

19:00 Torre. Um dia brilhante (106’)

19:00 Tinta bruta (118’)

21:15 As boas maneiras (135’)

21:30 Tinta bruta (118’)

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14:00 Tinta bruta (118’)

14:00 Tinta bruta (118’)

14:00 Infiltrado na Klan (135’)

16:30 Tinta bruta (118’)

16:30 Tinta bruta (118’)

20:00 Boca de Ouro (101’)

19:00 Shaft (100’)

seguido de debate com os ativistas Aline Ferreira, Silvino e Carué Contreiras

21:15 Infiltrado na Klan (135’)

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14:00 Infiltrado na Klan (135’)

14:00 Infiltrado na Klan (135’)

14:00 Diamantino (96’)

17:00 O processo (M. A. Ramos) (139’)

16:30 Tinta bruta (118’)

16:00 Infiltrado na Klan (135’)

20:00 O processo (S. Loznitsa) (125’)

19:00 Pixote: a lei do mais fraco (128’)

19:00 Sessão Cinética: Limite (120’)

21:30 Halloween: a noite do terror (87’)

seguido de debate com os críticos da Revista

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não ocorrerão sessões de cinema

14:00 Diamantino (96’)

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16:00 Infiltrado na Klan (135’)

16:00 Infiltrado na Klan (135’)

19:00 Halloween: a noite do terror (87’)

19:00 Halloween: a noite do terror (87’)

21:00 Diamantino (96’)

21:00 Diamantino (96’)

Programa sujeito a alterações. Eventuais mudanças serão informadas em facebook.com/ cinemaims e ims.com.br.


sexta

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14:00 Torre. Um dia brilhante (106’)

14:00 Torre. Um dia brilhante (106’)

16:30 Positivas + A onda traz, o vento leva (106’)

16:00 Vinte dias sem guerra (97’)

19:00 120 batimentos por minuto (144’)

18:00 País bárbaro (63’)

21:50 Torre. Um dia brilhante (106’)

20:00 Obituário (96’)

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14:00 Tinta bruta (118’)

14:00 Tinta bruta (118’)

14:00 Tinta bruta (118’)

16:30 Tinta bruta (118’)

16:15 O processo (M. A. Ramos) (139’)

18:00 Boca de Ouro (101’)

19:30 As boas maneiras (135’)

19:00 O processo (S. Loznitsa) (125’)

20:00 Pixote: a lei do mais fraco (128’)

sessão comentada com Juliana Rojas,

21:30 Tinta bruta (118’)

Marco Dutra e Fernando Zuccolotto

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14:00 Infiltrado na Klan (135’)

14:00 Infiltrado na Klan (135’)

14:00 Infiltrado na Klan (135’)

16:30 Tinta bruta (118’)

17:00 Roberto Carlos em ritmo de aventura (98’)

16:30 Tinta bruta (118’)

19:00 Halloween: a noite do terror (87’)

19:00 Roberto Carlos e o diamante cor-de-rosa

19:00 Shaft (100’)

21:15 Infiltrado na Klan (135’)

(97’) 21:15 Infiltrado na Klan (135’)

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14:00 Diamantino (96’)

14:00 Diamantino (96’)

14:00 Diamantino (96’)

16:00 Infiltrado na Klan (135’)

16:00 Infiltrado na Klan (135’)

16:00 Infiltrado na Klan (135’)

19:00 Diamantino (96’)

19:00 Central do Brasil (113’)

19:00 Diamantino (96’)

21:00 Tinta bruta (118’)

21:15 Infiltrado na Klan (135’)

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14:00 Diamantino (96’)

14:00 Diamantino (96’)

14:00 Diamantino (96’)

16:00 Infiltrado na Klan (135’)

16:00 Infiltrado na Klan (135’)

16:00 Infiltrado na Klan (135’)

19:00 Halloween: a noite do terror (87’)

19:00 Halloween: a noite do terror (87’)

19:00 Limite (120’)

21:00 Diamantino (96’)

21:00 Diamantino (96’)


capa Halloween: a noite do terror (Halloween), de John Carpenter (EUA | 1978, 87’, DCP) O processo (The Trial), de Sergei Loznitsa (Holanda | 2018, 125’, DCP)


destaques de dezembro 2018

Infiltrado na Klan (BlacKk Klansman), de Spike Lee (EUA | 2018, 135’, DCP)

Shaft (Shaft), de Gordon Parks (EUA | 1971, 100’, Arquivo Digital)

Rever 2018 a partir de imagens de outros tempos. O cinema do IMS encerra o ano com as restaurações recentes de Central do Brasil, de Walter Salles, e Pixote: a lei do mais fraco, de Hector Babenco; duas obras que, de modos bastante distintos, se debruçam sobre imagens de arquivo: Infiltrado na Klan, de Spike Lee, e O processo, de Sergei Loznitsa, inédito no rasil e filmes e d cadas an am contin a es o rema es Halloween, a noite de terror de o n Carpenter, e Shaft, de Gordon Parks. Nelson Pereira em Cartaz, retrospecti a mensal em omena em 1

ao diretor no Cinema do IMS, exibe Boca de Ouro, uma adaptação da peça de Nelson Rodrigues, que expõe três ers es de ma mesma ist ria. Falecido em maio deste ano, Roberto Farias foi um dos mais marcantes realizadores brasileiros do cinema comercial e popular. O Especial de fim de ano dos reis Robertos exibe duas obras do diretor protagonizadas pelo músico e compositor Roberto Carlos. om mente listado entre os filmes mais importantes da ist ria do cinema brasileiro, Limite de rio eixoto ser exibido em c pia resta rada em na última Sessão Cinética do ano.

Limite, de Mário Peixoto (Brasil | 1931, 120’, cópia restaurada em DCP)

A onda traz, o vento leva, de Gabriel Mascaro (Brasil | 2012, 28’, arquivo digital)


Quatro notas sobre Limite Limite (1931), Mário Peixoto por Pedro Henrique Ferreira

1. Limite é uma resposta indireta ao espectro ideológico que pôs fim à República Velha e trouxe à cena o desenvolvimentismo e o trabalhismo. Uma mulher sai da cadeia e retorna à cadeia no mundo do trabalho – a máquina de costura toma a forma da roda de trem. Os signos do progresso se espalham, povoando o passado dos três personagens à deriva no mar de fogo. O limite é a distopia do progresso, a constatação de que estamos presos à onipotência da natureza e não a dominamos. O único outro filme que demonstra semelhante reticência com o Brasil dos anos 1930 é o clássico Ganga bruta (Humberto Mauro, 1933), em que os limites da mutabilidade do país são os impedimentos de sua psique – Eros e Tanatos, violência e sedução. Em Limite, o homem se rende à impávida natureza e à sua escravidão ao tempo. Não como aquele velho sábio de Terra (Aleksandr Dovzhenko, 1930), filme com o qual resguarda semelhanças, que entende com a proximidade da morte que a revolução não é um marco zero, mas uma flor desabrochando ou uma fruta da estação germinando nos ciclos 2

exatos. Aqui, há a dor e a angústia de quem sabe que foi tudo em vão, e o Brasil não mudará. Passaram-se mais de três décadas para que tais valores que tomavam a dianteira naquele momento fossem novamente confrontados (Porto das Caixas, de Paulo César Saraceni, 1962). 2. Limite é uma síntese estética das vanguardas modernistas à mesma medida que sua negação. Emula a investigação sobre a fotogenia de Louis Delluc ou Jean Epstein, a lente objetiva como aquilo que dota vida aos movimentos registrados da natureza, que encontra neles uma música da luz, um espírito das coisas no chacoalhar das árvores, no bater das ondas, na terra bruta. Persegue um experimentalismo do olhar, marcantes movimentos de câmera, angulações inusitadas, construtos formais únicos, em parceria com o enorme Edgar Brasil, mais ambientados aos filmes dos grandes inventores europeus dos anos 1920 (F. W. Murnau, René Clair, E. A. Dupont, Abel Gance) que aos nossos pioneiros. A concepção temporal é como a de Dovzhenko – o tempo como reinante

absoluto –, mas seu modo de elaboração da narrativa vem de James Joyce ou de William Faulkner, a polifonia como dado imediato do fluxo de consciência do mundo, o dentro e o fora como equivalentes – como poucas vezes visto no cinema. E há a tal “protoimagem”: as mãos algemadas sobre o rosto da mulher que Peixoto viu na capa da revista Vu. Ela é o centro propulsor de todas as outras. Todas nascem dela e retornam a ela. É uma imagem que traduz simbolicamente uma ideia, verbo e fonte geradora de todo o movimento do universo. E a narrativa segue o seu compasso, e, por isso, não se constrói. Sempre volta à estaca zero. A concepção narrativa desmonta o que o modernismo da forma constrói: não há avanço, não há evolução, não há utopia possível no mundo das máquinas ou no mundo do cinema (este que, no filme, exibe Carlitos fugindo da cadeia às bocas escancaradas e nojentas do público): há o eterno retorno à condição existencial mais básica. Mito de Sísifo. 3. Limite é cinema moderno avant la lettre. Jean-Claude Bernardet escreveu que é um dos raros precursores dos


filmes de deambulação, que se tornaria traço estilístico entre os anos 1950 e 1970 (Roberto Rossellini, a nouvelle v a g u e , M i c h e l a n g e l o A n to n i o n i ). “Anda-se muito, [...] e andar nem sempre é fácil: os sapatos machucam ou a ferida na perna dói.” Os personagens de Limite deambulam mais que qualquer coisa. Mas o andar é mecânico, e passa a ser ele próprio objeto de interesse, num quase inventário dos modos de se andar. O Sísifo que estava condenado a fazer sempre as mesmas coisas, no cinema moderno, anda sem rumo. Não há sentido garantido à imagem, mas o interesse de sua superfície e textura. O deambular é tédio, angústia, e depois morte; porque não se vai para lugar nenhum, e morreremos num barco a esmo. Mas nenhuma andada é igual à outra. Finda a teleologia e a progressão histórica, resta-nos uma suspensão no presente do deambular, que é objeto de investigação estética. Meditação. Objeto de criação. Proliferam-se as imagens, impressões da natureza que nascem da caminhada, formas absolutamente inventivas do olhar. Exercício de 3

composição cinematográfica. O prazer da criação como elixir contra o tédio ou a morte. Para o marginal, quando não há o que fazer, a gente avacalha. Para Limite, a gente cria. 4. Poucos filmes comprovam tão fortemente quanto Limite que o cinema brasileiro é uma enorme fábrica de mitologias fundadas por uma soma da ausência de material fílmico com os excessos de disse me disse. Entre imagens veladas (a Baía de Guanabara, de Segretto), morros desaparecidos (Favela dos meus amores, de Humberto Mauro), claquetadas famosas (Gregg Toland ou John Ford, em Moleque Tião, de José Carlos Burle) ou rostos estelares (Eva Nil em Barro humano, de Adhemar Gonzaga), as ocasiões são inúmeras. Mas nenhuma delas é objeto de tanto culto, pesquisa, análise e utilização política quanto este único longa-metragem concluído por Mário Peixoto. Limite foi frequentemente citado como um dos maiores filmes já feitos, mesmo por quem nunca o assistiu. A cópia mais recente não tem ainda o filme inteiro, e chega a nós envolto por sua habitual mística. Existe graças ao

esforço dedicado de gerações e gerações, partindo da alardeada sessão que Vinicius de Moraes fez para Orson Welles, até a campanha diplomática conduzida por Plínio Sussekind, que sensibilizou Jânio Quadros, ressurgindo no cuidado religioso da restauração de Saulo Pereira de Mello – a quem o cinema brasileiro deve demais –, e sacramentando-se na consciência de preservação e investimento que os Salles, e depois Scorsese e a World Cinema Foundation tiveram. Diante do vulto tremendo que o encobre, o que dizer sobre Limite hoje? Que ele é exatamente mais um (ou mesmo o maior) “tudo e nada” do cinema brasileiro? Presta-se a tudo, sem ser nada, objeto de contínua invenção de nossas origens, que mais nos assombra quão menos as entendemos e, justamente por isso, mais as sublimamos, mais as imaginamos. Ora produto do cosmopolitismo (Glauber), ora obra máxima de invenção (Jairo Ferreira), Limite é ele mesmo uma dessas titânicas protoimagens do cinema brasileiro à qual estamos inevitavelmente algemados, e, justamente por isso, precisamos dela demais.


Revisões 2018 por Kleber Mendonça Filho, Barbara Rangel, Thiago Gallego e Ligia Gabarra

Rever, restaurar, reapropriar, resgatar, refazer. No dicionário, o prefixo “re” tem o sentido de ação repetitiva ou retroativa. Como olhar 2018? Com o lançamento do teaser especial de divulgação da refilmagem de O Rei Leão, a Disney “quebrou a internet” no fim de novembro, anunciando procura gigantesca pelas imagens de um novo produto com lançamento em 2019. O termo “refilmagem” é curioso, pois O Rei Leão de 1993 é um desenho animado e o filme novo é aparentemente uma reconstrução digital fotorrealista da animação. O teaser de O Rei Leão sugere (e vem sendo comentado como tal) que houve algum tipo de decalque das imagens do filme original, plano a plano. Seria a garantia comprovada da qualidade Disney para um produto novo que não irá desviar-se do filme original, uma garantia de satisfação absoluta da clientela? O cinema passa por novas mutações técnicas. Também no mês passado, Bohemian Rhapsody, de Bryan Singer, tomou liberdades narrativas que já poderiam ser esperadas em “biopics” (os “biofilmes”), mostrando a trajetória da banda Queen 4

e do seu frontman, Freddie Mercury. No entanto, chamamos a atenção para um investimento do filme na sua sequência final que é a recriação (muito curiosa, ao nosso ver) de um evento histórico registrado por câmeras de TV, e disponível no YouTube: a participação de 21 minutos do Queen no Live Aid, no estádio de Wembley, em julho de 1985. Curioso que essa reconstrução “do real” use tecnologia normalmente percebida em filmes de ação, fantasia e super-heróis. A câmera vem num voo rasante impossível por cima de 80 mil espectadores digitais. No lado humano da coisa, os atores interpretam os personagens reais nos mínimos trejeitos. Talvez daqui a alguns anos, as pessoas adotem a sequência dirigida por Singer como o registro oficializado e preferido do Queen em Wembley 1985, e não mais o documento histórico da BBC TV feito ao vivo. A cada produção, uma forma de elaborar o tempo. E se, no extracampo, vigora o projeto de tornar o Brasil semelhante ao que era “ 40, 50 anos atrás”, o olhar para o passado parece ter mesmo se tornado um exercício constante e

inevitável. Olhar com urgência. Olhar com cuidado.

Nos parece que o gesto-chave do cinema neste ano foi olhar para trás – seja na estreia de filmes que tratam do nosso passado, que se apropriam de referências visuais longínquas em novas fábulas ou ainda que recriam nossas memórias afetivas. Nada exatamente novo, inclusive porque esse é há muitos anos (ou desde sempre?) o movimento do cinema, com suas adaptações literárias, suas refilmagens de peças de teatro ou inúmeras versões de um mesmo filme separadas


por gerações. É nesse sentido que reforçamos a proposta de partir de alguns lançamentos comerciais mais ou menos recentes para programar outros filmes, outros tempos. Halloween: a noite do terror (1978), de John Carpenter, é o primeiro filme da franquia que em 2018 lançou seu décimo primeiro título. O novo longa distribui piscadelas aos fãs fazendo referências a diversos momentos da série. Michael Myers, o psicopata mascarado, está de volta, assim como o tema da trilha sonora original, composta e realizada pelo próprio John Carpenter. Jamie Lee Curtis é novamente Laurie Strode, a personagem que interpretou pela primeira vez em 1978. Uma colegial que trabalhava como babá, no filme acalmava as crianças aflitas na noite de Halloween. Na nova versão do filme, Laurie é uma avó pronta para guerra, e tem certeza: o Boogeyman (algo como o bicho-papão) é real. Na presença do monstro, não parece à toa que o cinema brasileiro tenha produzido uma safra de filmes que abraçam e reelaboram o gênero, com forte inflexão para o horror, o slasher… Apropriando-se 5

de referências visuais longínquas em novas fábulas, As boas maneiras, que esteve em exibição no Cinema do IMS por alguns meses após sua estreia, retorna agora para uma sessão comentada ao vivo pelos diretores Juliana Rojas e Marco Dutra.

Restaurados esse ano e exibido no festival italiano Il Cinema Ritrovato antes de chegar às mostras brasileiras, estão Central do Brasil (1998), de Walter Salles, e Pixote, de Hector Babenco. Se Central, que completa 20 anos desde seu lançamento, buscava algum Brasil possível após

o horror político e econômico dos anos de ditadura e pós, o filme de Babenco projeta uma tragédia ficcional que continuou (e continua) se perpetuando muitos anos depois na realidade do país. A carreira artística do seu protagonista, interpretado por Fernando Ramos da Silva, não vingou e, parafraseando Eric Nepomuceno, “na falta de outro contrato, desempenhou o único papel que lhe restava: o de Pixote”. Fernando morreu com quatro tiros no peito em confronto com a polícia, aos 19 anos, em 1987. Ainda nos anos 1980, mas em outro ponto do espectro do descaso social, se situa o filme Como sobreviver a uma praga, de David France, um prelúdio a 120 batimentos por minuto, de Robin Campillo, que estreou no Brasil este ano. Ambos os filmes remontam às origens do grupo ativista Act Up, na luta contra a AIDS, em seus braços americano e francês. No drama dos primeiros anos de pandemia, o pessoal é político e também se articula enquanto coletivo. É nesse trânsito que reside a força de 120 batimentos, ao resgatar discussões, tensões, movimentos de aproximação e discordância.


Há ainda este mês nas duas salas do IMS os casos de imagens do Real que observamos em Infiltrado na Klan (BlacKkKlansman), do Spike Lee, e em O processo (The Trial/Den Pobedy), de Sergei Loznitsa. O filme de Lee é o gênero policial americano de linguagem popular com uma carga política forte, feito no país que tem hoje Donald Trump na Casa Branca. A energia combativa do momento presente é muito clara no filme. Lee aborda o racismo endêmico dos EUA via trama adaptada de fatos, ocorrida nos anos 1970, quando um policial negro infiltrou-se na organização de extrema-direita Klu Klux Klan (via contatos telefônicos), e através de um colega judeu que o representa presencialmente. 6

Apesar do período em que se situa, o filme se utiliza de imagens de arquivo para operar tanto uma revisão da história do cinema americano quanto um comentário afiado sobre o momento presente. Cenas de O nascimento de uma nação (1915), de D.W. Griffith, questionam a representação enobrecida da Klan realizada por esse que é por muitos considerado um dos mais importantes nomes da história do cinema. O filme já havia sido citado em outras obras de Spike Lee, como The Answer, seu segundo curta-metragem, realizado na faculdade, e Bamboozled, que enfoca a representação racista das pessoas negras nessa e em outras produções audiovisuais. Por outra via, há uma construção rumo a um outro final de forte catarse na utilização passional de material registrado em telefones e na mídia digital contemporânea referente ao atentado em Charlottesville, em julho de 2017, que deixou uma pessoa morta e os EUA dividido. Divisão essa reforçada no papel do presidente Trump, que não foi capaz de repudiar o incidente como fruto da intolerância da extrema direita. Munido de autorização da família da

vítima, Lee utilizou as imagens, que editadas e sonorizadas para a tela do cinema, e inseridas ao final de uma narrativa clássica envolvente, é ainda alavancada por uma contextualização poderosa nas duas horas que antecederam a montagem. Outro dos filmes citados em Infiltrado na Klan de fato entra em nossa programação: Shaft (1971), longa que deu início ao gênero Blaxploitation e teve diversos remakes desde então, um deles, inclusive, previsto para 2019.

Já na equação histórica e política de O processo, de Sergei Loznitsa, que exibimos em sessões especiais no IMS esse mês, a ideia de contextualização é algo que


precisamente parece não estar presente. É fácil compreender a mera coincidência de o filme dividir o mesmo título – e mesmo ano de lançamento – com o relato apresentado por Maria Augusta Ramos sobre o labirinto político e judicial imposto à Presidente Dilma por uma oposição que queria tomar e tomou mesmo o poder. Os dois filmes , que poderão ser assistidos lado a lado, trazem cargas políticas que são fruto de articulações feitas à mão em cenários históricos específicos, situações geradas artificialmente e registradas como Imagens do Real. A referência a Franz Kafka, feita pelos dois, são concordância sobre como os processos de lei podem ser articulados como narrativas roteirizadas pelas exigências do Poder. No caso do realizador ucraniano, temos um cronista e historiador cético da tragédia que para ele foi a União Soviética. Seu filme apresenta um bloco maciço de duas horas montadas a partir dos arquivos inacreditavelmente bem filmados e gravados sonoramente em 1932, em Moscou, dos “julgamentos espetáculo de Stálin”, como bem ficaram conhecidos esses eventos públicos e midiáticos. 7

Para o espectador, a orientação ideológica poderá abrir espaço para interpretações específicas, mas não fica dúvida alguma do posicionamento de Loznitsa ao apresentar não apenas esse arremedo de processo teatral diante das câmeras, mas especialmente nos interlúdios nas ruas, onde a revolta popular parece também ensaiada para manter as coisas exatamente como Josef Stálin queria que ficassem. Em alguns dos momentos mais fortes como imagem fílmica, membros da multidão tentam proteger seus rostos e seus olhos das poderosas luzes do cinema, que registram ali o teatro da política. Num ano de perdas sentidas, homenageamos os diretores Roberto Farias e Nelson Pereira dos Santos, falecidos no primeiro semestre, em um intervalo de menos de um mês. Os filmes de Nelson ocupam a sala de novembro de 2018 até o fim de 2019, em uma revista completa por uma filmografia que cavou profundas mudanças no repertório de imagens do cinema brasileiro. Com Roberto, encenamos o tradicional especial de fim de ano do rei (qual?) à nossa própria maneira.

Em Roberto Carlos e o diamante cor-de-rosa, alguns versos soam bastante atuais: as coisas estão passando mais depressa o ponteiro marca 120 o tempo diminui as árvores passam como vultos a vida passa, o tempo passa estou a 130 as imagens se confundem


Revisões 2018

As boas maneiras

Marco Dutra e Juliana Rojas | Brasil, França | 2017, 135’, DCP Na sexta-feira, dia 7, os diretores Juliana Rojas e Marco Dutra, junto ao diretor de arte Fernando Zuccolotto apresentam uma sessão comentada de As boas maneiras, sob a mediação de Kleber Mendonça Filho. Tal qual uma faixa comentada de DVD, o filme é exibido em volume baixo enquanto os realizadores debatem a obra. Essa sessão é recomendada àqueles que já assistiram ao filme. No dia 5/12, haverá uma exibição sem comentários. No filme, Ana está grávida e vive sozinha em São Paulo. Ela contrata Clara para ser babá de seu futuro filho. Mas, nas noites de lua cheia, o bebê fica um pouco mais agitado do que o normal. Juliana Rojas contou em entrevista ao site Mubi: “A ideia original de As boas maneiras veio de um sonho de Marco: duas mulheres morando em uma casa isolada e criando um bebê estranho. Começamos a investigar o folclore do lobisomem em diferentes culturas e vimos como o mito geralmente se relaciona com impulsos de violência e 8

sexo, e também com valores religiosos e conservadores. Nós começamos a mergulhar mais fundo nas duas principais personagens femininas e seus conflitos de classe, raça e desejo. Em relação à criança lobo, nós o vimos como alguém que está descobrindo algo crucial sobre sua própria natureza, da mesma forma que todos nós fazemos quando crescemos.” O filme recebeu o Prêmio Especial do Júri no Festival de Locarno em 2017 e, no mesmo ano, foi premiado no Festival do Rio nas categorias de Melhor Filme, Melhor Fotografia, Melhor Atriz Coadjuvante, Melhor Filme LGBT (Prêmio Felix) e Melhor Filme pela crítica Fipresci. [Entrevista completa, em inglês: bit.ly/2IAmSB7] Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia)

Central do Brasil

Walter Salles | Brasil | 1998, 113’, cópia restaurada em DCP Dora escreve cartas na estação Central do Brasil, no Rio de Janeiro, para pessoas analfabetas. Quando uma de suas clientes é atropelada, seu filho Josué, de nove anos, fica perdido na estação. A contragosto, Dora acolhe o garoto e o acompanha até o interior do Nordeste, à procura do pai. “Central foi lançado em 1998, mas a ideia do filme tomou corpo pouco antes de rodarmos Terra estrangeira, em 1995, ainda sob o impacto do desgoverno Collor. Além do caos econômico, o país vivia uma profunda crise de identidade, e a produção cinematográfica tinha caído a zero”, comentou Walter Salles em entrevista à Folha de S.Paulo publicada em julho deste ano. “O recomeço do cinema, naquele momento, foi marcado pelo desejo de reencontrar um reflexo brasileiro na tela, de dar voz a um não dito que estava represado. As cartas que pontuam o filme respondem a essa percepção. A busca de Josué pelo pai é também a busca por um país. Já a trajetória de Dora no filme é claramente um processo de ressensibilização, após 25 anos de ditadura militar e dos anos Collor.” No Festival de Berlim, em 1998, Central do Brasil foi vencedor do prêmio de Melhor Filme, Urso de Ouro, e Fernanda Montenegro, do de Melhor Atriz, Urso de Prata. Em 1999, o filme levou o prêmio de Melhor Filme Estrangeiro no Globo de Ouro. O filme foi restaurado pelo laboratório francês Éclair com o apoio do Centro Nacional de Cinema Francês (CNC), da VideoFilmes e da Mact Productions. [Íntegra da entrevista em: bit.ly/wscentral ] Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia)


Halloween: a noite do terror

Infiltrado na Klan

Quinze anos depois de assassinar sua irmã na noite de Halloween de 1963, Michael Myers escapa de um hospital psiquiátrico e retorna para a pequena cidade de Haddonfield, onde vive a jovem Laurie Strode (Jamie Lee Curtis). Halloween: a noite do terror, de John Carpenter, teve sua estreia na noite de 25 de outubro de 1978. Ao longo de 40 anos, arrecadou o equivalente a 2000% do seu orçamento original de produção, tornando-se o filme independente de terror mais bem-sucedido do cinema americano. Foram produzidos mais dez longas dentro da mesma franquia, sete deles com Jamie Lee Curtis, que está presente na versão mais recente, lançada em 2018 e dirigida por David Gordon Green.

Em 1978, Ron Stallworth, primeiro policial negro de Colorado Springs, conseguiu se infiltrar na Ku Klux Klan local. Ele se comunicava com os outros membros do grupo através de telefonemas e cartas, e quando precisava estar fisicamente presente enviava um outro policial, seu colega branco e judeu, em seu lugar. Infiltrado na Klan se baseia numa história real, relatada por Ron Stallworth no livro Black Klansman. Spike Lee foi apresentado à história por Jordan Peele, diretor de Corra! (2017) e um dos produtores do filme: “Eles [Peele e os coprodutores] adquiriram os direitos do livro e sentiam que precisava de um toque. E foi isso que eu fiz. Fiquei muito grato pela oportunidade, porque nunca havia ouvido falar em Stallworth”, contou Lee à revista Rolling Stone. Apesar de se passar na década de 1970, o filme tanto retoma o passado americano, sobretudo nas menções ao filme O nascimento de uma nação, de D. W. Griffith, quanto o presente, com men-

Halloween John Carpenter | EUA | 1978, 87’, DCP

Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia)

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BlacKkKlansman Spike Lee | EUA | 2018, 135’, DCP

ções diretas ao atual presidente, Donald Trump. Cate Blanchett, presidente do júri do Festival de Cannes em 2018, chegou a comentar que o filme seria essencialmente sobre uma crise americana, ao que o diretor declarou: “O que eu acho que ela deixou escapar, e que os outros jurados deixaram também – e não digo isso porque não recebi a Palma de Ouro – é que não é apenas sobre os Estados Unidos da América. Isso está acontecendo por toda a Europa: Grã-Bretanha, França, Itália, o crescimento dos neonazis na Alemanha. Eu queria que as pessoas entendessem isso. Essa ascensão de grupos fascistas de direita não é apenas um fenômeno americano.” Nesta edição do Festival de Cannes, Infiltrado na Klan recebeu o Grande Prêmio do Júri. [Íntegra da entrevista, em inglês: bit.ly/slblack ] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia)


Pixote: a lei do mais fraco

Hector Babenco | Brasil | 1981, 128’, cópia restaurada em DCP Vivendo a dura realidade dos menores carentes em um reformatório de São Paulo e revoltados com as injustiças dos administradores da instituição, quatro crianças fogem e passam a conviver com uma prostituta, envolvendo-se com traficantes de drogas e trapaceiros. “Acho que naquela época existia uma indignação muito grande pelas contradições sociais expostas que havia em São Paulo. E o que mais me incomodava era a total anestesia dos meios de comunicação, das pessoas pensantes, dos amigos jornalistas, cineastas, sociólogos, enfim, as pessoas que eu frequentava… Era um assunto no qual não se tocava e, quando se tocava, era sociologicamente”, comentou Hector Babenco em entrevista a Drauzio Varella. “Um dia eu fui à Febem no Tatuapé com um amigo meu fazer umas fotografias e me horrorizei com o que vi. As crianças vinham falar comigo com as mãos para trás e a cabeça baixa, que era já uma estruturação corporal policialesca, de você, 10

culpado, querer pedir perdão ao outro. E eu dei meu endereço, meu telefone pra alguém e sei que, uma semana depois, me ligou um garoto e disse: ‘Olha, a gente fugiu da Febem, estamos aqui uns 20 e queremos passar para conversar com você’. Aí vieram ao meu escritório, eram uns oito ou nove. Eu os levei pra comer um hambúrguer, eles começaram a me contar histórias e eu disse: tenho que fazer um filme dessa gente.” Esta cópia foi restaurada pelo World Cinema Project, que faz parte da The Film Foundation, e pela Cinemateca de Bolonha, no laboratório L’Immagine Ritrovata, em colaboração com HB Filmes, Cinemateca Brasileira e JLS Facilitações Sonoras. A restauração faz parte do projeto “Memória Hector Babenco”, da HB Filmes, que visa a recuperar toda a obra do cineasta, falecido em 2016. [Íntegra da entrevista em: bit.ly/hbpixote ] Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia)

O processo

The Trial Sergei Loznitsa | Holanda | 2018, 125’, DCP Moscou, União Soviética, 1930. Salão dos pilares da Central Sindical. Um grupo de economistas e engenheiros do alto escalão é julgado sob a acusação de tramar um golpe contra o governo soviético. A alegação: eles teriam feito um pacto secreto com o primeiro-ministro francês, Raymond Poincaré, com o objetivo de destruir o poder soviético e restaurar o capitalismo. Todas as acusações são fabricadas, e os acusados são forçados a confessar crimes que nunca cometeram. O tribunal determina a pena de morte. Imagens de arquivo reconstroem um dos primeiros juízos dos chamados Processos de Moscou. Uma série de julgamentos, apresentados como espetáculo, que condenaram os opositores de Joseph Stálin. “Decidi fazer o filme de maneira a dar aos espectadores a oportunidade de passar duas horas na URSS em 1930: ver e experimentar o momento, quando a máquina do terror do Estado, criada por Stálin, foi posta em ação. Minha intenção era reconstruir o julgamento etapa por etapa.


direita, o argumento pró-impeachment. Para expor isso, eu escolhi, por exemplo, o senador Cássio Cunha Lima, que tem uma lógica de argumentação inteligente, ou que, pelo menos, faz sentido. Também a advogada Janaína Paschoal, que, independentemente de você concordar ou discordar dela, teve um papel essencial no impeachment. Essas pessoas são ouvidas e contempladas no filme, mas, sem dúvida, eu tive muito mais acesso à perspectiva da esquerda.”

Nós restauramos e utilizamos todo o som que foi gravado em 1930. O único comentário que eu me permiti fazer em todo o filme aparece bem no final. Preciso desse comentário para dizer a verdade, já que é impossível apreendê-la em qualquer outro episódio deste documentário.” Declaração do diretor extraída do site do Festival de Veneza. Três filmes de Sergei Loznitsa estrearam nos principais festivais de cinema em 2018: Donbass foi exibido em Cannes, Dia da vitória, em Berlim, e O processo teve sua estreia em Veneza. [Leia o depoimento completo em inglês: bit.ly/ProcessoVeneza] Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia)

O processo

Maria Augusta Ramos | Brasil, Alemanha e Holanda | 2018, 139’, DCP Em cerca de 450 horas de material filmado, Maria Augusta Ramos acompanhou o processo que culminou no impeachment da presidente Dilma Rousseff. Concentrada em sua defesa, formada por José Eduardo Cardozo, Gleisi Hoffmann e Lindbergh Farias, a diretora faz um estudo particular dos bastidores desse momento histórico, ao longo de reuniões e discussões no Senado Federal, mas também por meio das expressões de seus protagonistas e dos defensores do impeachment. Em entrevista à Deutsche Welle, ao ser perguntada sobre a abordagem do ponto de vista da defesa de Dilma Rousseff, Maria Augusta respondeu: “Não é que seja a perspectiva da defesa: eu acompanho muito mais os bastidores da defesa porque a defesa me deu esse acesso. Eu tive acesso a reuniões da liderança da esquerda, da minoria que era contra o impeachment. A oposição não me deu esse acesso. Se tivesse dado, eu certamente teria filmado mais. Mas eu acho que era importante, sim, apresentar o argumento da

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[A entrevista completa pode ser acessada no link: bit.ly/DWprocesso] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia)


Dezembro Vermelho escreveu Heitor Augusto sobre o gênero em seu site Urso de Lata. Richard Roundtree representou Shaft nas sequências O grande golpe de Shaft (1972), também dirigida por Gordon Parks, Shaft na África (1973), de John Guillermin, e na série de TV Shaft (1973-74). Participou também da versão de Shaft (2000) protagonizada por Samuel L. Jackson, e terá um papel em Son of Shaft (O filho de Shaft), que tem estreia prevista para 2019.

Shaft

Shaft Gordon Parks | EUA | 1971, 100’, Arquivo Digital O detetive John Shaft é contratado por um chefe do crime de Nova York para encontrar sua filha sequestrada. O roteiro foi adaptado a partir de um romance de Ernest Tidyman. O protagonista do livro não é negro, e a decisão de chamar Richard Roundtree para interpretar Shaft foi de Gordon Parks. O filme foi um sucesso e um dos primeiros títulos do movimento conhecido como Blaxploitation. “O Blaxploitation é um cinema que responde ao seu tempo, um gênero composto por filmes que tiram os negros dos papéis coadjuvantes de serviçais e idealizam a figura do herói. Homens (Richard Roundtree, Melvin Van Peebles) e mulheres (Tamara Dobson, Pam Grier) gostosos, desejados, atrevidos, que flertam, mergulham ou trabalham com a lei e a marginalidade. Personagens reflexo de uma romantização da inversão do status quo: os policiais, ponta final do iceberg de opressão, são os mais espezinhados no Blaxploitation”, 12

[Leia o texto completo de Heitor Augusto em: bit. ly/ShaftUP] Ingressos R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia)

No mês de conscientização para as medidas de prevenção, assistência, proteção e promoção dos direitos humanos das pessoas vivendo com HIV, o Cinema do IMS traz uma seleção de filmes que abordam perspectivas históricas e atuais sobre o tema.


lojas. [...] Então, por necessidade e com a sorte da tecnologia, esses ativistas formaram o primeiro movimento social a gravar um mundo ignorado pela cultura dominante. A faceta mais íntima e épica dos anos dessa epidemia nos Estados Unidos – como testemunhado pelas pessoas mais afetadas – foi preservada em dezenas de milhares de fitas de vídeo.” Após a exibição do filme, no dia 4/12, haverá um debate com os ativistas Aline Ferreira, Carué Contreiras e Silvino.

Como sobreviver a uma praga

How to Survive a Plague David France | EUA | 2012, 120’, arquivo digital Nova York, 1987, o bairro de Greenwich Village é um epicentro precoce da epidemia. Lá, metade dos homens gays são soropositivos. O documentário acompanha um pequeno grupo de ativistas que, sem qualquer treinamento médico, foi capaz de influenciar a indústria farmacêutica e as políticas públicas americanas de forma decisiva no tratamento do HIV. “Como jornalista, comecei a cobrir a epidemia da Aids em seus primeiros meses, antes mesmo da doença ter um nome. Eu comecei minha carreira, na verdade, em resposta à epidemia. Todos os homens gays tinham responsabilidades a cumprir nessa crise. Exigir respostas e descobrir verdades se tornou minha principal missão”, conta o diretor David France, que fez uma vasta pesquisa por materiais filmados em vídeo em arquivos particulares. “É um fato peculiar, mas não inconsequente, sobre o HIV, que o vírus fez sua horrível estreia em revistas médicas poucos meses antes das primeiras câmeras de vídeo chegarem às 13

Entrada gratuita. Distribuição de senhas 30 minutos antes da sessão. Um ingresso por pessoa. Sujeito a lotação.

Positivas

Susanna Lira | Brasil | 2010, 78’, arquivo digital Entrevistas com Cida, Heli, Rosária, Medianeira, Sílvia, Ana Paula e Michelle, mulheres que contraíram o vírus HIV no casamento ou em relacionamentos heterossexuais estáveis. O documentário aborda suas trajetórias e vidas, o impacto da descoberta, o preconceito sofrido e a militância em campanhas pela prevenção da doença. Em 2010, o filme foi vencedor do prêmio de Melhor Longa-Metragem Documentário pelo Voto Popular no Festival do Rio e do prêmio de Melhor Filme do FestNatal. A onda traz, o vento leva, de Gabriel Mascaro, será exibido na mesma sessão desse filme. Ingressos R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia)


Filmes em cartaz A onda traz, o vento leva

Gabriel Mascaro | Brasil | 2012, 28’, arquivo digital Rodrigo é surdo e trabalha numa equipadora, instalando som em carros. O filme acompanha seu cotidiano em um bairro da periferia do Recife: o trabalho, o cuidado com a filha, consulta médica, encontros com amigos... A ideia do curta-metragem partiu de um convite feito a Gabriel Mascaro por uma produtora da Espanha interessada em registrar histórias que abordassem o tema do HIV. Em entrevista à revista O Grito, o diretor comentou: “Eu tentei estabelecer uma reflexão que não está no imaginário das campanhas de prevenção nem do ‘alerta público’ em relação à Aids, mas sim no âmbito do cotidiano, da normalidade, da indiferença, do ir e vir, do banal”. Exibido e premiado em diversos festivais nacionais e internacionais, A onda traz, o vento leva recebeu, em 2012, os prêmios de Melhor Montagem, no Festival de Brasília, o Prêmio Especial do Júri no Panorama Internacional Coisa de Cinema e, em 2013, o Prêmio Especial do Júri no Festival Internacional de Curtas de Oberhausen. [Íntegra da entrevista de Gabriel Mascaro em: bit. ly/otovl] Positivas, de Susanna Lira, será exibido na mesma sessão desse filme. Ingressos R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia)

120 batimentos por minuto

Diamantino

França, início dos anos 1990. O grupo ativista Act Up intensifica seus esforços para que a sociedade reconheça a importância das campanhas de prevenção e de tratamento da Aids. Recém-chegado ao grupo, Nathan fica impressionado com a dedicação de Sean. Os dois iniciam um relacionamento sorodiscordante, mas o estado de saúde de Sean é delicado. “Se há uma coisa que nós não imaginávamos durante esses anos de luta, é que um dia seria feito um filme e que ele seria aclamado dessa forma em Cannes. Quando eu recebi o roteiro, há um ano, Philippe Mangeot e Robin Campillo me perguntaram o que eu pensava, eu os parabenizei pela precisão factual sobre a nossa experiência e implorei para eles preservarem o humor nos diálogos; essa autodepreciação cômica foi o que nos fez atravessar os momentos mais difíceis, como os mais duros conflitos internos. Como fundador, eu era o único que assistiu às reuniões do Act Up em Nova York e fui fortemente influenciado pelo espírito queer, que servia como um vínculo fraterno a toda aquela raiva.” Depoimento de Didier Lestrade na revista Slate. No Festival de Cannes, o longa recebeu os prêmios do Júri e da Crítica Fipresci; em 2017, foi o filme escolhido pela França para representar o país no Oscar.

Diamantino, um famoso jogador de futebol português, encerra sua carreira ao perder um pênalti na final da copa do mundo. Em busca de um novo propósito na vida, o ícone internacional embarca em uma jornada delirante, em que enfrenta o neofascismo, a crise dos refugiados, mutações genéticas e a busca pela origem de seu gênio. Diamantino teve sua estreia mundial na Semana da Crítica, no Festival de Cannes, onde recebeu o grande prêmio do Júri. Durante o festival, a equipe concedeu uma entrevista ao site Adoro Cinema: “O filme que fizemos, que se passa em Portugal, é como um conto de fadas do século 21, sobre um super-herói cujo poder é sua ingenuidade, e essa ingenuidade e inocência o ajudam a lidar de maneira linda e surpreendente com a realidade assustadora de hoje”, contou o diretor Daniel Schmidt. Sobre a semelhança entre o protagonista e o jogador Cristiano Ronaldo, Gabriel Abrantes rebateu com tom sarcástico: “Qualquer semelhança com pessoas, eventos, locais ou produtos já existentes é pura coincidência e não deve ser inferida”.

120 battements par minute Robin Campillo | França | 2017, 144’, DCP

[Íntegra do artigo de Didier Lestrade na revista Slate, em francês: bit.ly/120didier] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia) 14

Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt | Brasil, França, Portugal | 2018, 96’, DCP

[Assista à entrevista completa: bit.ly/DiamantinoAC] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia)


Excelentíssimos

Douglas Duarte | Brasil | 2018, 152’, DCP Um registro dos fatos, personagens e articulações por trás do impeachment de Dilma Rousseff. Gravado dentro do Congresso ao longo dos meses em que corria o processo, o filme retrata quem, como e porque se derruba uma presidenta. Nos últimos anos, diversos documentários vêm sendo produzidos sobre o impeachment. Em 2018, Maria Augusta Ramos lançou O processo, que tem como protagonista a equipe de defesa de Dilma no Senado. O projeto de Petra Costa, Impeachment: dois pesos, duas medidas, deve ser exibido em 2019. Os diretores César Charlone e Lô Politi também possuem um filme em desenvolvimento. Em 2015, quando Douglas Duarte começou a filmar, seu projeto era fazer um retrato do Congresso Nacional: “A gente escreveu o projeto com esse ímpeto, ganhamos o dinheiro do filme com esse ímpeto. Mas, depois, tem um segundo ímpeto, igualmente forte, quando você se dá conta do que o filme pode ser. Quando a gente se toca que o filme foi sequestrado e que ele é um filme do impeachment, não adianta você segurar as rédeas e impedir que ele seja o que o material é. Então isso criou pra gente um ímpeto muito forte.” [Leia a entrevista completa no site Cine Festivais: bit.ly/CineFestivaisDD] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia)

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Torre. Um dia brilhante

Wieza. Jasny dzien Jagoda Szelc | Polônia | 2017, 106’, DCP É início de verão. Nina, a filha de Mula, está prestes a celebrar a sua primeira comunhão, e os parentes começam a chegar. Entre eles, Kaja, irmã de Mula e mãe biológica de Nina, que permaneceu ausente nos últimos seis anos. Seu retorno desencadeia as ansiedades de Mula, que teme que Nina seja levada embora. Enquanto a presença de Kaja provoca mudanças na família, acontecem, no entorno, uma série de estranhos eventos metafísicos. Em entrevista ao site Directors’ Guild of Poland, a diretora Jagoda Szelc comenta: “Há muitos filmes no mundo que escapam ao convencional, nem por isso tentam soar o alarme, que diz ‘Oh meu Deus! O que é isso?!’ Sinto que as atitudes abertas em relação à arte estão em declínio na Polônia e foram substituídas por uma pequena reação semelhante a ‘gosto disso, porque consigo entender isso’. Compreendo que o cinema nasceu da arte popular, mas estou interessada nele principalmente como meio. Queria fazer um filme que estivesse se desmantelando. Minha prota-

gonista sente a necessidade de controlar tudo. É uma doença decorrente da abundância em que vivemos. [...] O mundo inteiro nos diz que devemos admirar aqueles que estão no controle e têm ambição. Meu filme visa a confrontar o público com as consequências dessa atitude. Mostrar uma personagem que é patológica em suas tentativas de controlar o mundo ao seu redor; e mostrar também onde isso pode nos levar. O público irá tirar suas próprias conclusões sobre cada história. São exercícios para nosso senso de liberdade. Andrzej Wajda costumava dizer que, quando um espectador não sabe o que está acontecendo, ele fica com raiva... Não concordo: acho que quando você não entende algo, abre-se um espaço para que possamos refletir sobre essa questão.” [Íntegra da entrevista, em inglês, em: bit.ly/torreum] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia)


Nelson Pereira em cartaz Tinta bruta

Boca de Ouro

Enquanto responde a um processo criminal, Pedro é forçado a lidar com a mudança da irmã para o outro lado do país. Sozinho no escuro do seu quarto, ele dança coberto de tinta neon, enquanto milhares de estranhos o assistem pela webcam. Em entrevista ao site da Mostra de São Paulo, Filipe Matzembacher contou sobre a criação desse personagem: “Tinta bruta é nosso segundo longa-metragem e surgiu, de certa forma, como um embrião de um curta-metragem nosso que se chama O quarto vazio (2013), que tem um personagem que tem quase uma ‘síndrome de abandono’; as pessoas o deixam, conforme o filme vai passando. É um pouco o reflexo da relação que temos com Porto Alegre hoje. A cidade ficou menos humana, se tornou hostil e violenta, e isso faz com que principalmente a juventude queira ir embora. Esse foi o pontapé para desenvolvermos o nosso personagem, Pedro.” Tinta bruta teve sua estreia mundial no Festival de Berlim de 2018, onde recebeu o prêmio Teddy de melhor filme. No Festival do Rio desse ano, obteve os prêmios de Melhor Filme, pela escolha do júri oficial, Melhor Ator Coadjuvante (Bruno Fernandes) e Melhor Roteiro.

Boca de Ouro (Jece Valadão) é o chefe do jogo do bicho em Madureira, no Rio de Janeiro. Ele ganhou o apelido ao trocar todos os seus dentes por próteses de ouro. Após a morte do Boca, o repórter Caveirinha (Ivan Cândido) decide ir atrás de Guigui (Odete Lara), antiga amante do bicheiro. Ela revela três versões diferentes de uma mesma história, que envolvem Leleco (Daniel Filho) e sua esposa Celeste (Maria Lucia Monteiro) . O roteiro é uma adaptação da peça de Nelson Rodrigues, que assim como Nelson Pereira dos Santos fora jornalista. Em entrevista, o diretor contou que por esse motivo foi muito importante reproduzir de forma fidedigna no filme o ritmo frenético de uma redação de jornal. Boca de Ouro foi uma das primeiras adaptações da obra do dramaturgo ao cinema – a única adaptação anterior foi Meu destino é pecar (1952), de Manuel Peluffo, baseado em um folhetim assinado pelo pseudônimo de Nelson Rodrigues, Suzana Flag. Nelson Pereira também relatou a polêmica de adaptar a obra: “Havia um grande preconceito em relação ao Nelson Rodrigues, considerado um homem de direita; e eu, considerado um homem de esquerda, resolvi fazer o Boca de Ouro. Mas pensava ‘qual o problema? Acho um excelente teatrólogo’. Um dos momentos mais importantes da minha formação foi assistir em São Paulo, no Teatro Municipal, à peça dele O vestido de noiva, que, junto ao texto do Nelson, renovou o teatro brasileiro de uma forma revolucionária.” Entre 2018 e 2019, o Cinema do IMS apresenta uma retrospectiva completa da obra do diretor

Filipe Matzembacher e Marcio Reolon | Brasil | 2018, 118’, DCP

[Entrevista completa: bit.ly/TintaBrutaEnt] Ingressos: R$ 12 (inteira) e R$ 6 (meia);

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Nelson Pereira dos Santos | Brasil | 1963, 101’, 35 mm

Nelson Pereira dos Santos, falecido neste ano, em cópias restauradas em DCP e em 35 mm. Todos os meses, a programação apresenta uma parte da obra do diretor. [A entrevista completa de Nelson Pereira dos Santos pode ser encontrada na edição em DVD do filme, lançada pela Bretz Filmes.] Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia)


Especial de fim de ano dos reis Robertos Falecido em maio deste ano, Roberto Farias foi um dos mais marcantes realizadores brasileiros do cinema comercial e popular. A partir de 1968, do yeah yeah yeah para o iê iê iê, assim como nos filmes de Richard Lester para Os Beatles, Farias dirigiu três longas-metragens de ação e aventura protagonizados pelo cantor e compositor Roberto Carlos. Em homenagem ao diretor, o Cinema do IMS exibe a íntegra da trilogia em cópias digitais. Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia)

Roberto Carlos em ritmo de aventura

Roberto Farias | Brasil | 1968, 98’, cópia digital Roberto Carlos, ídolo da música jovem brasileira, é perseguido por um bando que pretende usá-lo para a produção em massa de canções, com a ajuda de um cérebro eletrônico. Roberto, que está fazendo um filme como o vilão francês Pierre, é obrigado a fugir de helicóptero, avião, automóvel, 17

tanque e até foguete espacial, indo do Rio a São Paulo, Nova York e Cabo Kennedy. “Os filmes do Roberto Carlos se autofinanciavam. Tinha uma mulher em São Paulo que era excelente vendedora de merchandising, e metade do filme, praticamente, foi de merchandising”, contou o diretor em entrevista para o catálogo da mostra Os múltiplos lugares de Roberto Farias, realizada em 2012. “Tinha que ficar inventando soluções pro merchandising e, naturalmente, com coerência dentro da história. Mas essa história do primeiro filme foi bolada também para me permitir uma metalinguagem, porque o Roberto Carlos, quando nós começamos a fazer o primeiro filme, me deu uma série de limitações com respeito à estrutura da história. Ele falou que ele não podia amar, não podia beijar, não podia sofrer, ele não podia uma série de coisas. Eu fui pra casa pensar que roteiro que eu ia escrever em que pudesse passar por fora de todas essas emoções, de todas essas possibilidades. Eu me lembro de alguns colegas meus que viram o filme na primeira vez e falaram: ‘Parece um long-play, tem um monte de canção do Roberto Carlos’, eu falei: ‘Eu vou fazer um filme com um cantor e não vou colocar ele para cantar?’.” Com roteiro de Roberto Farias e do escritor Paulo Mendes Campos, o filme inclui a interpretação de sucessos como “Eu sou terrível”, “Como é grande o meu amor por você” e “Só vou gostar de quem gosta de mim”. [Íntegra do catálogo em: http://bit.ly/rfmostra ]

Roberto Carlos e o diamante cor-de-rosa

Roberto Farias | Brasil | 1970, 97’, cópia digital Roberto, Erasmo e Wanderléa fazem uma excursão profissional ao Japão. Wandeca adquire uma estatueta misteriosa, que põe no encalço dos três uma terrível quadrilha internacional, pois a estatueta contém um mapa cifrado. Mas para enfrentá-los, eles contam com a ajuda de um gênio samurai. “Eu sempre tive paixão pelas curiosidades do Rio de Janeiro”, relatou o diretor. “Não sei se você já olhou para o Pão de Açúcar umas onze e meia da manhã, quando o sol projeta uma sombra e faz o desenho de uma ave, é uma coisa impressionante a fidelidade daquele desenho. Você olha pra aquilo e não acredita que não tenha a mão do homem ali. Então, eu bolei uma história em que aquela figura da Pedra da Gávea simbolizava uma civilização, uma época, e aquilo era perseguido e buscado pelo bandido do filme, que era o José Lewgoy. Era uma história de gato e rato, um procurando o outro, um fugindo do outro, e passando pelo Japão, por Israel. Eu aproveitei também para viajar e conhecer países que eu não conhecia. Mas a coisa mais curiosa foi o seguinte: muita gente achava que o Roberto Carlos não dava um segundo filme. Ele daria um segundo, um terceiro, ou quarto e até outros, até hoje.” Rodado em três países (Israel, Japão e Brasil), o longa fez mais de 2,5 milhões de espectadores e foi o filme mais visto no Brasil no ano de 1970. [Depoimento retirado do catálogo da mostra Os múltiplos lugares de Roberto Farias: http://bit.ly/ rfmostra ]


Sessão cinética

Sessão Mutual Films

Roberto Carlos a 300 quilômetros por hora

Limite

Vinte dias sem guerra

Lalo e Pedro são mecânicos que trabalham na oficina de Rodolfo, piloto brasileiro de fama internacional. Rodolfo decide participar da Copa Brasil. Lalo, piloto apaixonado pelas corridas, e Pedro, conhecedor de diversas técnicas de pilotagem, utilizam carros de clientes para treinar em Interlagos sem o conhecimento de Rodolfo. “No terceiro filme, ele falou que não queria cantar, eu concordei e falei pra fazermos o filme”, comentou Roberto Farias sobre Roberto Carlos. “Eu sempre considerei que o Roberto Carlos, sozinho, chamava mais público que qualquer outro ator brasileiro. E aí eu fiz e não me arrependi. Ele, hoje, não se acha um bom ator, ele acha que o Erasmo é mais ator do que ele. Eu acho bobagem, tem cenas no ‘300 quilômetros’ em que ele está muito bem. Eu só o coloquei cantando no fundo, ele e o Erasmo também. Aquele negócio de rótulo, começaram a falar: ‘Esse aqui é o Roberto Farias, o diretor dos filmes do Roberto Carlos’. E isso começou a me encher o saco, eu decidi não fazer mais filmes do Roberto Carlos. Ficamos procurando, não achamos mais história e decidimos adiar, por 30 anos ou mais, que a gente não fala mais sobre outro filme. De vez em quando ele dá uma entrevista, a gente se vê e eu falo: ‘Estou te devendo um filme’.” Com mais de 2,7 milhões de espectadores, Roberto Farias repetiu o feito e dirigiu o filme mais assistido no Brasil no ano de 1971.

Numa canoa perdida em alto mar, três náufragos – duas mulheres e um homem. Cansados, eles param de remar. Uma das mulheres conta sua história: ela escapou da prisão com a ajuda de um guarda, sem encontrar o conforto que esperava. Único longa-metragem dirigido pelo também poeta e romancista Mário Peixoto, quando tinha 22 anos, Limite é comumente listado entre os filmes mais importantes da história do cinema brasileiro. Foi exibido pela primeira vez em 17 de maio de 1931, no cinema Capitólio, no Rio de Janeiro, em uma sessão pública no Chaplin Club, primeiro cineclube do País. Restaurado pelo World Cinema Project da The Film Foundation e pela Cinemateca Brasileira em colaboração com o Arquivo Mário Peixoto e com Walter Salles. Restauração realizada na Cinemateca Brasileira e no laboratório L’Immagine Ritrovata da Cineteca di Bologna.

Roberto Farias | Brasil | 1971, 101’, cópia digital

[Depoimento retirado do catálogo da mostra Os múltiplos lugares de Roberto Farias: http://bit.ly/rfmostra ] 18

Mário Peixoto | Brasil | 1931, 120’, cópia restaurada em DCP

Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia)

Dvadtsat dney bez Voyny Aleksey German | URSS | 1976, 97’, 35 mm para DCP Major Lopatin (Yuriy Nikulin), um escritor e soldado de meia-idade, retorna para sua cidade natal no Uzbequistão, após receber uma licença de 20 dias, durante a Batalha de Estalingrado, em 1942. Além de trazer consigo os pertences de um soldado morto para serem entregues à sua família, Lopatin assessora uma produção cinematográfica sobre seus escritos de guerra, e diverge do diretor com relação à imprecisão histórica e ao retrato irrealista de heroísmo. Ele também encoraja trabalhadores de uma fábrica, que não passam de crianças, a fazer horas extras em prol dos soldados, discute com um grupo teatral, dizendo que um soldado não dá a vida pela pátria, mas luta por sua própria sobrevivência, e encontra tempo para um romance com uma antiga colega e funcionária do teatro (Lyudmila Gurchenko), conferindo à breve jornada uma certa dimensão doméstica e de normalidade. Baseado em uma história do correspondente de guerra, escritor e poeta Konstantin Simonov, o segundo longa-metragem autoral do cineasta russo Aleksey German foi filmado em preto e branco e carrega um tom melancólico, com ocasionais rupturas violentas. Assim como outros filmes de German, Vinte dias sem guerra foi censurado e lançado apenas cinco anos após sua conclusão. Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia)


Sessão especial País bárbaro

maioria das vezes, o reconhecimento lhe escapou, e eu nem posso começar a pensar como ele se sentiria se tivesse visto. Isso me levou a uma curiosidade profunda sobre a importância cultural, histórica e jornalística dos obituários. Assim que comecei um novo ritual diário de leitura dos obituários do The New York Times, logo descobri que quase todos apontam para uma incrível história humana, junto a contextos maiores de lugar e tempo, história e cultura. Alguns meses depois, entrei em contato com o The New York Times sobre fazer um documentário, e comecei logo em seguida.”

Pays barbare Yervant Gianikian e Angela Ricci Lucchi | França | 2013, 63’, DCP O último longa-metragem finalizado pelo casal italiano Gianikian e Ricci Lucchi começa com uma frase de Italo Calvino sobre a morte de Benito Mussolini em 1945: “Após estar na origem de tantos massacres sem imagem, suas últimas imagens são as de seu massacre”. Vemos uma multidão aglomerada que parece assistir alegremente ao fuzilamento do “Líder”. A partir daí, o filme faz uma regressão para o período da ocupação italiana na Etiópia, Eritreia e Líbia, entre as décadas de 1920 e 1940, através de imagens de arquivo que intercalam trabalhadores e desfiles de carnaval na Itália, paradas militares pomposas e cenas cotidianas de povos africanos e de seu extermínio impetuoso. Acompanhando as imagens, ouvimos as vozes dos cineastas e da cantora e compositora Giovanna Marini relatando as avassaladoras e silenciosas estratégias de guerra dos militares fascistas. O material fílmico de País bárbaro (que estreou no Festival de Locarno em 2013) provém primeiramente do arquivo particular do colecionador Diego Leoni. Como em outras obras do casal, Gianikian e Ricci Lucchi refotografaram o material original em película e manipularam as novas cópias com tinturas e efeitos de velocidade que proporcionam características surpreendentemente humanas e atemporais. O filme ainda contém uma trilha sonora minimalista de Keith Ullrich, que dá à obra uma atmosfera contemporânea, junto com o texto falado, que também expressa a continuidade do fascismo nos dias de hoje. Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia) 19

Obituário

Obit. Vanessa Gould | EUA | 2016, 96’, DCP Toda manhã, a pequena equipe de redação de obituários do The New York Times deposita nas páginas do jornal os detalhes de três ou quatro vidas. A ênfase editorial não é a morte, mas vivências extraordinárias, muitas vezes desconhecidas. A diretora Vanessa Gould se tornou uma ávida leitora do periódico a partir da morte de Eric Joisel, um dos artistas presentes em seu documentário sobre origamis Between the Folds [Entre as dobras]: “Eu queria que ele tivesse um reconhecimento final e público. Então enviei um pequeno anúncio para a maior parte dos grandes jornais de língua inglesa ao redor do mundo. Cerca de uma semana depois, a primeira e única resposta chegou do The New York Times. Eles publicaram um obituário bonito e adequado sobre Eric, com fotos dele e de seu trabalho. O artigo reconhecia o valor único das coisas às quais ele era tão dedicado. Fez dele parte de um registro histórico. Um bom relato de sua vida e obra está agora disponível. Na

[Leia o depoimento completo em inglês no site do filme: obitdoc.com] Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia)


Curadoria de cinema

Os filmes de dezembro

Meia-entrada

Kleber Mendonça Filho

Com apresentação de documentos comprobatórios para professores da rede pública, estudantes, crianças de 3 a 12 anos, pessoas com deficiência, portadores de Identidade Jovem e maiores de 60 anos.

Thiago Gallego e Ligia Gabarra

O programa de dezembro tem o apoio de Les Films d’Ici, Seagull Films, Lenfilm Video, Ars et Vita, revista Cinética, Espiral, Desvia, Modo Operante, Simple Cinema, Atoms & Void, Ipanema Filmes, Video Filmes, HB Filmes, das distribuidoras Spotlight Cinema Network, Greenfuse Films, Imovision, Vitrine Filmes, Zeta Filmes, Universal Pictures International e do Espaço Itaú de Cinema. E dedica agradecimentos a Elias Dourado, Maria Luiza Tucci Carneiro, Leticia Monte, Marcia Pereira dos Santos, Diogo Dhal e Márcia Faria.

Projeção

Apoio

Ana Clara Costa e Miciano Manoel da Silva

Sessão Cinética: Limite

Produção de cinema e DVD Barbara Alves Rangel Assistência de produção

Venda de ingressos Ingressos à venda pelo site ingresso. com ou na bilheteria, para sessões do mesmo dia. Desconto para o titular ao comprar o ingresso com o cartão Itaú (crédito ou débito). Ingressos e senhas sujeitos à lotação da sala. Capacidade da sala: 145 lugares. Devolução de ingressos Em casos de cancelamento de sessões por problemas técnicos e por falta de energia elétrica, os ingressos serão devolvidos. A devolução de entradas adquiridas pelo ingresso.com será feita pelo site. Programa sujeito a alterações. Eventuais mudanças serão informadas em facebook.com/ cinemaims e ims.com.br. Não é permitido o acesso com mochilas ou bolsas grandes, guarda-chuva, bebidas ou alimentos. Use nosso guarda-volumes gratuito.

20


Boca de Ouro, de Nelson Pereira dos Santos (Brasil | 1963, 101’, 35 mm)


Terça a sábado, sessões de cinema até as 22h; domingos e feriados, até as 20h. Visitação, Biblioteca, Balaio IMS Café e Livraria da Travessa Terça a domingo, inclusive feriados (exceto segunda), das 10h às 20h; quintas, até as 22h. Última admissão: 30 minutos antes do encerramento. Entrada gratuita. O IMS Paulista e o restaurante Balaio estarão fechados nos dias 24, 25 e 31 de dezembro e 1 de janeiro

Avenida Paulista 2424 CEP 01310-300 Bela Vista – São Paulo tel: (11) 2842-9120 imspaulista@ims.com.br

ims.com.br /institutomoreirasalles @imoreirasalles Como sobreviver a uma praga (How to Survive a Plague) , de David France (EUA | 2012, 120’, arquivo digital)

@imoreirasalles /imoreirasalles /institutomoreirasalles


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