cinema mar.2019
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14:00 Tito e os pássaros (73’) 15:30 Lembro mais dos corvos + Tea for two (105’) 18:00 Um elefante sentado quieto (230’)
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Neste dia não haverá sessões de cinema
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Sobre rodas (75’) Sobre rodas (75’) As filhas do fogo (116’) Urihi Haromatipë – Curadores da terra-floresta (60’) 21:30 As filhas do fogo (116’)
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Sobre rodas (75’) Sobre rodas (75’) As filhas do fogo (116’) Como era gostoso o meu francês (83’) As filhas do fogo (116’)
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Sobre rodas (75’) Diários de classe (72’) Sobre rodas (75’) António um dois três (95’), seguido de debate com Leonardo Mouramateus e Mauro Soares
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Tito e os pássaros (73’) Lembro mais dos corvos + Tea for two (105’) Tito e os pássaros (73’) Um elefante sentado quieto (230’)
Sobre rodas (75’) Diários de classe (72’) Sobre rodas (75’) Azyllo muito louco (83’) As filhas do fogo (116’)
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Tito e os pássaros (73’) Lembro mais dos corvos + Tea for two (105’) Tito e os pássaros (73’) Um elefante sentado quieto (230’)
Sobre rodas (75’) Sobre rodas (75’) Um elefante sentado quieto (230’) As filhas do fogo (116’)
Sobre rodas (75’) Diários de classe (72’) Sobre rodas (75’) Sessão Mutual Films: A marca do assassino (91’), com apresentação de Fernando Brito 66 (90’)
António um dois três (95’) Diários de classe (72’) António um dois três (95’) Como eliminar seu chefe (110’)
sexta 1 14:00 15:30 17:45 19:30
Tito e os pássaros (73’) Lembro mais dos corvos + Tea for two (105’) Tito e os pássaros (73’) Um elefante sentado quieto (230’)
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Tito e os pássaros (73’) Lembro mais dos corvos + Tea for two (105’) Tito e os pássaros (73’) Um elefante sentado quieto (230’)
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14:00 Tito e os pássaros (73’) 15:30 Lembro mais dos corvos + Tea for two (105’) 18:00 Um elefante sentado quieto (230’)
17 Sobre rodas (75’) Sobre rodas (75’) Azyllo muito louco (83’) Como era gostoso o meu francês (83’) As filhas do fogo (116’)
23 Sobre rodas (75’) Diários de classe (72’) Sobre rodas (75’) Diários de classe (72’) As filhas do fogo (116’)
14:00 Tito e os pássaros (73’) 15:30 Lembro mais dos corvos + Tea for two (105’) 18:00 Um elefante sentado quieto (230’)
10 Tito e os pássaros (73’) Lembro mais dos corvos + Tea for two (105’) Tito e os pássaros (73’) Um elefante sentado quieto (230’)
16 Sobre rodas (75’) Sobre rodas (75’) Um elefante sentado quieto (230’) As filhas do fogo (116’)
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domingo
9 Tito e os pássaros (73’) Lembro mais dos corvos + Tea for two (105’) Tito e os pássaros (73’) Um elefante sentado quieto (230’)
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sábado
14:00 Sobre rodas (75’) 15:30 Sobre rodas (75’) 17:00 Um elefante sentado quieto (230’)
24 Sobre rodas (75’) Diários de classe (72’) Sobre rodas (75’) Diários de classe (72’) Como eliminar seu chefe (110’)
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Sobre rodas (75’) Diários de classe (72’) 66 (90’) A marca do assassino (91’)
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Neste dia não haverá sessões de cinema
Neste dia não haverá sessões de cinema
14:00 António um dois três (95’) 18:00 António um dois três (95’) 20:00 Diários de classe (72’)
Programa sujeito a alterações. Eventuais mudanças serão informadas em facebook.com/cinemaims e ims.com.br.
Como era gostoso o meu francês, de Nelson Pereira dos Santos (Brasil | 1971, 83’) capa Como eliminar seu chefe (9 to 5), de Colin Higgins (EUA | 1980, 110’, DCP)
destaques de março 2019
Um elefante sentado quieto (Da xiang xi di er zuo), de Hu Bo (China | 2018, 230’, DCP)
Diários de classe, de Igor Souza e Maria Carolina da Silva (Brasil | 2017, 72’, DCP) Oitenta e quatro por cento das mulheres encarceradas são negras, dado imagético do filme Diários de classe, que se propõe a investigar uma dessas mulheres, e duas de suas colegas, em um programa de formação educacional para adultos. Emerge então um conjunto de vivências complexas, desencadeado pelo encontro com seus diretores, que organizavam cineclubes em sala de aula. Também baseado no entrecruzamento de trajetórias, Um elefante sentado quieto aborda a vida de quatro persona1
gens em uma cidade industrial chinesa, economicamente deprimida, o que resulta em cotidianos dos mais sombrios. Em registro completamente oposto, serão apresentados também dois filmes de Nelson Pereira dos Santos, filmados em Paraty durante o período mais sombrio da ditadura militar. Em diálogo com esse contexto, a resposta é imaginativa, quase lisérgica (sobretudo em Azzylo muito louco), em evocações alegóricas do passado para comentar o presente.
Azyllo muito louco, de Nelson Pereira dos Santos (Brasil | 1970, 83’, 35 mm para DCP)
66 (Sixty Six), de Lewis Klahr (EUA | 2015, 90’, DCP)
O que pensam as secretárias ao saírem do escritório? por Barbara Rangel
Nine to Five – título original de Como eliminar seu chefe – quer dizer, em inglês, “das nove às cinco” e faz referência ao horário padrão adotado por quem trabalha em escritório. 9to5 é também o nome de um sindicato de trabalhadoras americanas, criado nos anos 1970. Não por acaso, o título menciona essa luta – o filme em si é uma ode à subjetividade sindical, que vai à forra (dentro dos limites hollywoodianos, claro). Karen Nussbaum, fundadora do 9to5, já conhecia Jane Fonda dos protestos contra a Guerra do Vietnã quando Fonda fez a proposta para a realização do filme, que se tornou a primeira obra da atriz como produtora. Para a criação do roteiro, Fonda e o diretor Colin Higgins ouviram as reclamações e os anseios de trabalhadoras. Como resultado, em Como eliminar seu chefe, estão presentes a diferença salarial entre homens e mulheres, o abuso sexual dos que se valem da posição de poder, o roubo de ideias, a promoção acelerada de colegas homens em detrimento de suas pares femininas igual ou melhor capacitadas, entre tantas outras injustiças que as mulheres conhecem de perto. Nesse inventário de repressões a partir 2
do qual o filme se estrutura, a opção é por um registro panorâmico em detrimento da densidade psicológica de suas personagens. Propositalmente dessexualizador de suas vedetes Jane Fonda e Dolly Parton, a obra se constrói em torno de tipos bem delineados – Judy Bernly (Jane Fonda), uma recém-divorciada travada e afetivamente confusa; Violet Newstead (Lily Tomlin), mãe de quatro filhos e com longa carreira de decepções na empresa; e Doralee Rhodes (Dolly Parton), a secretária tomada por todos por secretina e amante do chefe. São tipos que se revelam complementares. Não à toa, figurino e atributos físicos têm um papel fundamental na construção e desconstrução de expectativas. Dolly Parton e suas roupas justas jogam com o clichê da “loira burra”, a ausência de decotes e curvas sugere uma Jane Fonda sem traquejo e as roupas largas e confortáveis de Tomlin insinuam uma mulher prática e cansada. Aos poucos, os antagonismos são amenizados, dando lugar ao convívio solidário e ao apoio mútuo neste ambiente em que todas são potenciais serventes, a despeito de sua posição profissional. Aos
poucos, o que poderia parecer um panfleto esquemático na verdade se torna um libelo catártico contra o cotidiano repetitivo e opressor na firma. Melhor exemplo disso são os sonhos de Violet, Judy e Doralee, de realização tão improvável, mas tão verdadeiros em sua especulação imaginária, que compõe o ponto alto do filme, junto com a canção tema, interpretada por Dolly Parton. Essa revanche contra as agruras que ainda alimentam as diversas correntes feministas até hoje é o que mantém (infelizmente) o caráter atual do filme. Em 2018, durante o relançamento de Como eliminar seu chefe em Londres, Jane Fonda foi perguntada sobre como seria uma versão atual do filme. “De certa forma, as coisas melhoraram, mas a vida para as mulheres no trabalho é pior hoje em dia, e eu te digo o porquê. Muitas delas não são contratadas por seu chefe ou pela empresa. Elas são contratadas por uma outra companhia e terceirizadas ao lugar onde trabalham, de forma que, se houver discrepância de salário, ou se uma mulher é demitida por estar grávida ou por conta de assédios sexuais, a quem ela deve recorrer? Ela não tem benefícios ou direitos, ela não tem aonde ir para se queixar
ou pedir compensação. […] As coisas vão muito mal, e o pagamento é tão baixo, que eu acho que, se fizéssemos um filme como esse hoje em dia, estaríamos falando de pessoas que trabalham em dois ou três lugares diferentes e, mesmo assim, não conseguem pagar o aluguel. Essa é a realidade da classe trabalhadora nos EUA hoje.” Ainda na perspectiva desse olhar atualizado, se o filme de 1980 adota um ponto de vista marcadamente branco – em termos de representatividade – com a presença muito coadjuvante de personagens negras e latinas, praticamente sem falas, dificilmente isso poderia se repetir em uma revisão. E, mais do que nunca, o que era tido como “delirante” ou improvável agora faz parte do debate – no contexto americano, basta pensar na figura de Alexandria OcasioCortez, a mais jovem deputada eleita no país, de origem latina, e que assume como pauta várias das “viagens” propostas em Como eliminar seu chefe. Uma visita recente ao site da associação 9to5 revela também um conselho com iguais proporções de mulheres negras e brancas. Se a face do chefe não seria a mesma, também não seriam as das trabalhadoras. 3
Sessão Mutual Films Dois lados do Pacífico: A marca do assassino e 66 Por Lewis Klahr (contribuição especial), Aaron Cutler e Mariana Shellard
A Sessão Mutual Films deste mês traz duas grandes obras do cinema pop/experimental, realizadas em Tóquio e em Los Angeles – A marca do assassino (1967), do renomado diretor japonês Seijun Suzuki (1923-2017) e 66 (2015), do cineasta e professor norte-americano Lewis Klahr (1956). A dobradinha foi criada a partir de uma conversa com Klahr, que comenta a relação entre os dois filmes no texto abaixo. A sessão é dedicada à memória de Suzuki e, também, à de Jonathan Schwartz, cineasta experimental e amigo de Klahr, que faleceu em outubro do ano passado. (AC/MS) Eu vi os filmes de Seijun Suzuki pela primeira vez no fim da década de 1980, durante a mostra Dark Side of the Sun [Lado Escuro do Sol], realizada no Collective for Living Cinema, em Nova York, com curadoria do icônico músico experimental John Zorn. Os programas foram criados a partir da extensiva coleção em VHS de filmes japoneses do músico (na época, Zorn morava parte do ano no Japão), inclusive vários filmes de Suzuki, entre eles A marca do assassino. As fitas 4
VHS não tinham legendas em inglês e, como eu não falo japonês, não conseguia acompanhar os diálogos, tinha apenas uma vaga ideia das histórias. Foi muito estimulante assistir a filmes narrativos dessa forma onírica e não linear. Eu fiquei particularmente cativado pelo ritmo frenético, pelo forte estilo visual e pelas referências de gênero de A marca do assassino. A energia implacável e crua do filme me convenceu de que havia me deparado com uma divindade de pura visão pop! A marca do assassino tornou-se um favorito imediato, e uma referência crucial para mim. Muitos anos depois, assisti a A marca do assassino em uma sala de cinema, com legendas em inglês. Para minha surpresa, a maior clareza narrativa não diminuiu em nada a intensidade onírica da obra. Na verdade, a capacidade de acompanhar os detalhes das intrigas criminais deixou claro para mim o uso da descontinuidade, revelando-se uma obra alucinante, de total surrealismo. Foi essa sensação de surrealismo que me levou a sugerir uma sessão dupla de A marca do assassino e meu
longa-metragem 66. A descontinuidade também é central em 66, e uma característica importante em todos os meus filmes de colagem. Na obra de Suzuki, reconheci um companheiro de viagem que, como eu, valorizava a sensação emocionante da surpresa criada por justaposições chocantes. Para citar um exemplo simples e claro: em uma cena inicial de A marca do assassino, o matador de aluguel Goro Hanada (interpretado por Jo Shishido, protagonista frequente nos filmes de Suzuki) está protegendo um cliente de outros assassinos dentro de um carro. Hanada dispara uma bala através do para-brisas para matar seus adversários, mas o vidro não quebra, nem mostra nenhum sinal ou impacto da bala. A imagem está, efetivamente e simultaneamente, construindo e destruindo sua própria ilusão fictícia. Em 66, esse tipo de ilusionismo paradoxal serve como base para minha colagem elíptica e associativa. Por exemplo, no capítulo “A filha de Erígone”, a protagonista loira é um remendo de várias fotografias de loiras que cortei das páginas de fotorromances portugueses
das décadas de 1960 e 1970 (encontrei as fotos na revista portuguesa Crônica, que comprei em uma visita a Lisboa durante o festival IndieLisboa em 2010). Estou pedindo ao espectador a compreensão de que as fotos se referem à mesma personagem – o elo sendo seu cabelo loiro –, mesmo que as “atrizes” sejam diferentes. O ilusionismo paradoxal coloca o público tanto dentro quanto fora do universo fictício de “A filha de Erígone”. Estou empolgado com o que este estado de engajamento parcial pode comunicar sobre a vida e sobre as formas de narrativa. Além disso, A marca do assassino e 66 compartilham o uso de gêneros cinematográficos arquetípicos como pontos de partida que permitem, e até catalisam, mergulhos em cinepoesia. Em 66, particularmente, a história de crime é um dos múltiplos gêneros do cinema (tanto experimental quanto narrativo) que utilizo. A sequência de 12 “capítulos” (cada um sendo um curta-metragem individual) se desenvolve para formar uma obra contínua e unificada ao longo de 90 minutos. Alguns dos gêneros que 66 evoca incluem melodrama, em “Impressão labial (Vênus)”, 5
flicker films, em “Diário de Saturno”, narrativa elíptica, em “Icor”, ficção científica, em “Letes”, e natureza-morta, em “Ambrosia”. Confie em mim – o todo é maior que a soma de suas partes. Um outro ponto de contato e contraste importante: A marca do assassino foi realizado durante a extensa experimentação estética que caracterizou o cinema de entretenimento na década de 1960, enquanto 66 é um olhar para trás de um
cineasta-artista para essa mesma década (a de minha infância) a partir do presente. Embora eu esteja otimista sobre o diálogo inesperado e surpreendente entre os dois filmes, não tenho certeza absoluta se A marca do assassino e 66 irão funcionar juntos. No entanto, se a dobradinha for um pouco absurda, estaria completamente de acordo com o espírito de risco e a quebra de convenções que envolve os dois filmes.
António um dois três, três perguntas para Leonardo Mouramateus por Ligia Gabarra e Thiago Gallego
O filme parece organizar um sistema de duplos: Portugal e Brasil, António e o pai, vida e cena, ida e volta para a Rússia. Nesse jogo, parece se dar um embaralhamento no tempo e no sentido. O espectador que tenta montar uma narrativa linear facilmente se vê traído, deslizando no sonho. Queria te pedir pra comentar um pouco essa estrutura. De que modo ela se relaciona com a trajetória subjetiva de António? O pontapé inicial para o surgimento do projeto era a figura de um rapaz. Um rapaz meio deslocado, sem muitas perspectivas, mas ao mesmo tempo tranquilo, talvez mesmo confiante, em relação ao presente. Havia nele um quê qualquer de Carlitos, o personagem do Chaplin. Uma fé cega na derrota, uma sensação de que do chão não passa. E algo extraordinário no Carlitos é sua multiplicidade de vidas: um dia está na grande cidade, outro dia no circo, outro dia na mina... Eu desejava fazer um filme em que o tempo, e mesmo os acontecimentos, não se acumulassem sobre os personagens, mas sim sobre os espectadores. E encontrei no Mauro, ator protagonista do filme, 6
a mistura perfeita de doçura e “camaleonismo” que o personagem necessitava para existir. Essa é a base da estrutura do filme, que trabalha com reconhecimento tanto como com a ideia de repetição. E é aí que mora o sistema dos duplos: é necessário ver uma segunda vez para se ver melhor, para começarmos a pensar. O espectador pode até se sentir desafiado a desenvolver a coerência interna de toda a narrativa, mas, uma vez que ele abandona esse pressuposto, o filme ganha na sensação de sonho, e acredito que esse é o retrato mais fiel possível da subjetividade do próprio António. A canção “I Put a Spell on You” é muito importante nesse sentido. Aparece em momentos diferentes e traz à tona algo de mágico. Assim como no curta A festa e os cães, parece haver uma vontade de entender a interação entre música e subjetividade. Você poderia falar sobre isso e sobre a escolha dessa canção? Justamente por amar tanto música, tenho muito cuidado em trabalhar com ela. Em muitos filmes, ela é usada para dar sensações que muitas vezes o diretor
não conseguiu atingir. Tento trabalhar a música como um elemento tão concreto como a luz ou os atores. António canta porque ouvi o Mauro cantar num espetáculo uma canção de Jacques Brel. Pensei ali que o António, a fim de conseguir algumas moedas, poderia cantar como os vários artistas de rua do centro da cidade. “I Put a Spell on You” surgiu a seguir, porque é uma música que fala de uma sensação mágica, talvez o desejo, como uma espécie de maldição, capaz de atravessar realidades paralelas... Essa é a maldição em que António se vê preso logo no início do filme, mas da qual ele parece libertar-se quando ele canta a música com sua própria voz. Você é brasileiro e vive em Portugal. António é português, mas tem encontros importantes com brasileiros durante o filme. Como a relação entre as duas culturas te inspirou a criar este filme? De que modo também o cinema português – contemporâneo ou não – foi uma referência para você? A dramaturgia dos meus filmes surge de elementos do meu cotidiano: histórias
que vivi, li ou ouvi. Eventos ocorridos com os próprios atores e com a equipe. Então, a relação entre as duas culturas surge de maneira natural. O tom dessa relação Brasil-Portugal nem sempre é divertido ou patético na realidade como o é no filme, mas a sensação de deslocamento, os jogos com as palavras, o impacto causado pelos encontros inesperados, 7
e o jet lag (tenho pra mim que parte do tom onírico do filme muito se deve à quantidade de vezes em que vemos a Débora dormir no filme) são elementos fruto do choque de fusos horários. Fazer um filme em sua maior parte no sotaque do português de Portugal não faz o filme ser mais ou menos português, ou mais ou menos brasileiro, talvez porque, no fundo,
justamente por amar as pessoas do meu país, eu odeie o conceito de pátria. Dito isso, tenho consciência de que essa língua, no sotaque de Portugal, é peça fundamental no discurso de artistas que vieram antes de mim. E que se gostei de fazer um filme com esse sotaque foi porque gente como João César Monteiro me ensinou a gostá-lo.
Filmes em cartaz
António um dois três
Leonardo Mouramateus | Brasil, Portugal | 2017, 95’, DCP Lisboa, Portugal. Após passar a noite fora de casa, António descobre que seu pai recebeu uma carta anônima revelando que o filho abandonou a faculdade há cerca de um ano. Diante da situação, António foge e encontra abrigo na casa de Mariana, sua ex-namorada. Lá, ele conhece Débora, uma brasileira que alugou um quarto por um único dia, e acaba se envolvendo com ela. António um dois três estreou no Festival de Roterdã em janeiro de 2017. Em entrevista ao site Cine Festivais, o diretor comenta: “A ideia inicial do António era fazer dele, o personagem, uma espécie de Carlitos ou sr. Hulot. Que as três ou mais histórias que eu filmasse com ele fossem autônomas. Adoro a ideia de que uma história narre uma grande desventura, mas que a seguir nada disso seja lembrado. É mais ou menos o que acontece nos livros de detetive, ou nos 007. Eu não sei em que momento me pareceu interessante essa relação entre continuidade de um personagem e descontinuidade de uma narrativa. [...] Filmamos 8
em três partes, com uma média de seis meses de distância entre elas. Partia de um enredo bem simples, escrevia os diálogos em ‘brasileiro’ e, com os atores nos ensaios, transformávamos o enredo e a língua, filmávamos, editávamos e pensávamos no que viria a seguir, ou antes, porque tínhamos a possibilidade de reestruturar tudo de trás para a frente.” Na terça-feira, dia 26/3, às 20h, o IMS Paulista promove uma exibição de pré-estreia de António um dois três seguida de debate com o diretor Leonardo Mouramateus e o ator Mauro Soares, protagonista do filme. [Íntegra da entrevista em: bit.ly/123ant] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia).
Diários de classe
Igor Souza e Maria Carolina da Silva | Brasil | 2017, 72’, DCP Diários de classe acompanha o cotidiano em sala de aula de três mulheres negras que estudam em centros de alfabetização para adultos em Salvador: Maria José, que também trabalha como empregada doméstica; Vânia Costa, em privação de liberdade; e Tifany Moura, uma jovem trans, moradora de um abrigo para menores. Durante seis meses, a equipe do filme acompanhou a rotina dessas mulheres. Também cineclubistas, os diretores também realizavam exibições de filmes nas salas de aula: “A gente começou um processo de cineclubismo mesmo em sala de aula, um processo que já vem de anos anteriores”, comenta Maria Carolina em entrevista ao site Cine Vitor. “Percebemos que os filmes eram importantes gatilhos pras discussões que a gente queria trazer para a tela. A partir dessas discussões, essas mulheres vieram nos procurar e dizer que queriam partilhar as histórias delas. Foi aí que a gente encontrou a Vânia.”
“Queríamos trabalhar a questão do gênero, de raça e classe, então os filmes tinham que abordar um pouco disso. Que horas ela volta? [de Anna Muylaert] impactou muito as mulheres. No presídio, tivemos um cuidado de não passar filmes que massacrassem ainda mais aquela realidade, queríamos levar filmes que trouxessem um pouco mais de acalento de um cotidiano bastante violento. Por isso, exibimos Vou rifar meu coração, de Ana Rieper, e foi muito bacana. O céu de Suely [de Karim Aïnouz] rendeu muitas discussões bacanas. Exibir os filmes nos fez compreender ainda mais o que queríamos abordar como linguagem.” Em 2018, no festival de documentários Pirenópolis Doc, Diários de classe recebeu os prêmios de Melhor Filme dos júris oficial, jovem e popular. É o primeiro longa-metragem dos realizadores, que iniciaram a parceria há cinco anos com o curta de animação Entroncamento e produzem a série de animação infantil Aventuras de Amí. [Íntegra da entrevista em: bit.ly/ddclasse] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia).
Um elefante sentado quieto
As filhas do fogo
Para proteger um amigo, o jovem Wei Bu empurra o valentão da escola escada abaixo e foge do local após o garoto ser hospitalizado. Wang Jin, um vizinho de 60 anos, se junta a Wei, para escapar de ser posto em um asilo. Além disso, Huang Ling, a melhor amiga e colega de classe de Wei Bu, está atormentada por manter um caso com o vice-diretor da escola. Desesperados, os três decidem fugir juntos. Embarcam em um ônibus em direção à Manchúria, onde, segundo dizem, há um elefante de circo sentado quieto. Um elefante sentado quieto é baseado no conto homônimo publicado no livro Huge Crack, de Hu Bo. Em entrevista concedida por ocasião do lançamento do livro, em 2016, Hu Bo afirmou que ainda não pretendia levar as histórias para o cinema: “Separo o cinema da literatura e não pretendo adaptar meus próprios romances. Se alguém quiser fazer adaptações de Huge Crack, espero que não seja em um filme sobre juventude. Porque o livro não é sobre juventude, mas sim sobre a maioria dos estudantes universitários na China.”
Violeta e suas companheiras viajam pela Patagônia argentina em busca de prazer, diversão e novas formas de se relacionar. Sobre a criação do filme, Albertina Carri conta: “Ele surge a partir dessa obsessão, um certo gosto que tenho por romper com os gêneros fílmicos, e não apenas romper, mas também com a ideia de reescrevê-los. Como se fosse fazer uma batida, ver o que acontece se você pegar o gênero policial e colocar nele uma peruca. Então o filme surge um pouco disso, pois quando disse que era um ‘pornô lésbico’, o disse como uma provocação […], não é nada do que se espera quando se fala em pornô lésbico, e isso faz com que seja mais interessante, pois, de qualquer maneira, trata-se mesmo de uma pornografia lésbica. O que não significa que eu, ou o coletivo de mulheres que fez este filme, estamos nos apropriando ou reapropriando do gênero, mas estamos escrevendo não um novo pornô lésbico, mas ‘um’ pornô lésbico, ‘uma possível pornografia lésbica’, e o resultado não é nem um pouco parecido com o que foi feito até agora.” Eleito o melhor filme da competição argentina do festival Bafici, As filhas do fogo é o quinto longa-metragem de Carri.
Da xiang xi di er zuo Hu Bo | China | 2018, 230’, DCP
[Entrevista disponível em: bit.ly/hu-bo] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia).
Las hijas del fuego Albertina Carri | Argentina | 2018, 116’, DCP
[Leia a entrevista completa em espanhol: bit.ly/ AsFilhasDoFogo] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia).
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Lembro mais dos corvos
Tea for two
Sobre rodas
Júlia conta histórias para atravessar uma noite de insônia. Gustavo Vinagre e Julia Katharine se conhecem há dez anos e já fizeram três curtas-metragens juntos: Os cuidados que se tem com o cuidado que os outros devem ter consigo mesmos, Filme-catástrofe e o inédito Medo medo medo. Em Lembro mais dos corvos, o roteiro assinado pelos dois apresenta um monólogo que une documentário, ficção e improviso. “Ele me deu muita liberdade, em momento nenhum sentamos para escrever diálogos. Parecia que eu estava fazendo terapia, porque ficou eu e uma equipe muita pequena a noite toda juntos. Uma noite e sem segundo take”, conta Julia Katharine, a primeira atriz trans a ganhar um prêmio no Festival de Tiradentes: o prêmio Helena Ignez, voltado para o trabalho de mulheres no cinema brasileiro. Em 2018, Lembro mais dos corvos recebeu também o Prêmio Joris Ivens e o Prêmio do Júri Jovem de Melhor Filme, no festival Cinéma du Reel, e o Grande Prêmio Longa-Metragem Cidade de Lisboa, no IndieLisboa.
Silvia é uma cineasta de meia-idade em crise com sua vida. Na mesma noite em que é surpreendida pela visita da ex-esposa, que a largou há alguns anos, conhece uma outra mulher que a fascina. Primeiro filme dirigido por Julia Katharine, Tea for two será exibido junto a Lembro mais dos corvos, sempre depois do longa.
Lucas tem 13 anos. Cadeirante, passou um ano em casa depois do acidente que o deixou sem movimento nas pernas. Ao voltar à escola, conhece Laís, uma menina que ajuda a mãe no trabalho, mas não conhece o pai. Tem dele apenas uma fotografia, em que não é possível ver seu rosto, apenas seu caminhão. Juntos, Lucas e Laís partem em uma viagem pelas estradas do interior paulista em busca do caminhoneiro misterioso. Sobre a vontade de fazer um filme voltado ao público infantojuvenil, o diretor Mauro D’Addio relata: “Queria contar a história desse momento de passagem da infância para a adolescência, esse momento belo e tumultuado de nossas vidas, quando saímos da ‘concha’, fazemos amigos, nos apaixonamos.” Sobre rodas, seu primeiro longa-metragem, recebeu o prêmio de Melhor Filme, pela escolha do público, no Festival de Toronto, na sessão Tiff Kids, e também na Mostra Geração, do Festival do Rio.
Gustavo Vinagre | Brasil | 2018, 80’, DCP
Junto ao filme, será exibido Tea for two, curta-metragem de Julia Katharine. Ingressos: R$ 12 (inteira) e R$ 6 (meia).
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Julia Katharine | Brasil | 2018, 25’, DCP
Ingressos: R$ 12 (inteira) e R$ 6 (meia).
Mauro D’Addio | Brasil | 2019, 75’, DCP
Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia).
Sessões especiais
Tito e os pássaros
Gustavo Steinberg, André Catoto e Gabriel Bitar | Brasil | 2018, 73’, DCP Tito é um menino tímido de 10 anos que vive com sua mãe. De repente, uma estranha epidemia começa a se espalhar, fazendo com que as pessoas fiquem doentes quando se assustam. Tito rapidamente descobre que a cura está relacionada à pesquisa feita por seu pai ausente sobre o canto dos pássaros. Então, ele embarca numa jornada com seus amigos para salvar o mundo da epidemia. Gabriel Bitar, codiretor e diretor de arte, comenta em depoimento veiculado no material de imprensa do filme: “Como estávamos lidando com questões como o medo e o caos social, durante a fase de pesquisa sentimos uma forte identificação com o movimento expressionista europeu do começo do século XX. Queríamos fazer todo o filme utilizando pintura a óleo, mas isto mostrou não ser um modelo de produção viável. Assim, por exemplo, fotografamos algumas pinceladas de tinta a óleo, que foram então utilizadas pelo pessoal da pintura digital.” 11
“A inspiração para os personagens veio de muitos lugares”, diz o também diretor André Catoto, “como o modo como uma vizinha se comporta, o modo como um professor escreve etc. O expressionismo alemão também inspirou diretamente a estética do filme. Artistas como George Grosz e Karl Schmidt-Rottluff são grandes influências, assim como o cinema expressionista, que distorce o cenário e os personagens, o que me fez olhar para a maquiagem utilizada para gerar essas distorções, especialmente em torno dos olhos, que transmitem um leve desconforto, entre o cansaço e o medo. Durante a elaboração do filme, testamos muitas versões dos personagens, mas uma coisa que nós nunca mudamos foram os olhos muito redondos, porque eles são parte da história – tudo começa com eles.” Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia).
Como eliminar seu chefe
9 to 5 Colin Higgins | EUA | 1980, 110’, DCP O que pensam as trabalhadoras ao saírem do escritório? Nessa comédia, a primeira produzida por Jane Fonda, são retratados os desejos mais “obscuros” e divertidos de um grupo de funcionárias (interpretadas por Fonda, Lily Tomlin e Dolly Parton) para punir seu chefe abusivo e machista. Em 2018, por ocasião do relançamento de Como eliminar seu chefe no BFI (Instituto Britânico de Filmes), Jane Fonda comentou seu envolvimento com filmes que eram politicamente engajados e que possuíam também apelo comercial: “Se você quer dizer algo importante sobre uma causa, você precisa descobrir um jeito de passar a mensagem de uma forma popular e divertida. Amargo regresso (1978) era uma história de amor sensual, Síndrome da China (1979) era um suspense, e Como eliminar seu chefe era uma comédia. […] O filme foi um grande sucesso, e fez muita diferença para mulheres no ambiente de trabalho. E, é claro, a música se tornou um hino para essas mulheres, elas não precisavam mais expli-
car o que elas enfrentavam, apenas descobrir como resolver o problema... Algo que ainda há de ser feito.” 9 to 5, título original do filme e da canção de abertura, composta por Dolly Parton, faz menção à jornada de trabalho das 9h às 17h, e é também o nome do sindicato de mulheres que inspirou Colin Higgins na criação do roteiro. A música foi indicada ao Oscar de Melhor Canção Original e, depois do sucesso estrondoso do longa – que arrecadou mais de 200 milhões de dólares de bilheteria no mundo inteiro –, a obra ganhou uma versão musical, lançada em 2009 na Broadway, com novas canções escritas também por Parton. [Assista à entrevista completa em inglês: bit.ly/9to5BFI] Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia).
Urihi Haromatipë – Curadores da terra-floresta
Morzaniel lramari Yanomami | Brasil | 2014, 60’, DCP Os trovões estão avisando: “A Terra está doente”. Para curá-la, Davi Kopenawa reuniu em Roraima os xamãs Yanomami de diversas regiões. Com a ajuda do alimento dos espíritos, o pó alucinógeno yãkoana, eles vão tratar os males provocados pelas cidades e pelas doenças dos brancos. Em depoimento para o Canal Curta, o diretor descreve o filme como um movimento de “registrar nossa cerimônia, nossos costumes, nossas festas. O que a gente usa, o que a gente faz nas nossas comunidades. O xamanismo é mais importante para nós Yanomami. Serve para curar quem é doente, serve para melhorar o mundo.” Segundo Pedro Portella, produtor-executivo e montador do filme, Morzaniel, formado em um ponto de cultura indígena, é o primeiro realizador de cinema Yanomami. “Tanto a fotografia como a forma como ele já edita filmando são muito particulares no universo desse realizador indígena”, comenta ele. Morzaniel Iramari Yanomami também dirigiu o curta Casa dos espíritos (2010), vencedor do prêmio de Melhor Filme, segundo o júri popular, na Mostra Aldeia SP, em 2014. Esta exibição acontece em paralelo à exposição Claudia Andujar: a luta Yanomami. [Íntegra dos depoimentos em: bit.ly/urihi-h]
Sessão Mutual Films: Dois lados do Pacífico A Sessão Mutual Films de março apresenta um diálogo entre Tóquio e Los Angeles por meio de filmes de um recém-falecido mestre do cinema pop japonês e de um cineasta experimental americano contemporâneo, muito influenciado por ele. A marca do assassino (1967), um dos filmes mais cultuados de Seijun Suzuki, é um neo-noir sobre a manipulação corporativa na disputa entre os maiores assassinos de aluguel do Japão. 66 (2015), de Lewis Klahr, é um filme colagem de narrativa fragmentada com referências à mitologia grega, organizado em 12 episódios que representam o ano de 1966. O programa mergulha no universo de vanguarda pop, a partir de uma obra marcante e icônica da época e uma contemporânea que se volta às referências do passado com o olhar do presente.
A marca do assassino
Koroshi no rakuin Seijun Suzuki | Japão | 1967, 91’, 35 mm para DCP
Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia). Ao voltar para Tóquio de sua lua de mel, Goro Hanada (interpretado por Jo Shishido), o terceiro 12
maior assassino de aluguel do Japão, que possui um fetiche por arroz branco, é contratado para um serviço por uma oculta organização criminosa. Ele executa a operação e, no processo, se depara com Misako Nakajo (Annu Mari), uma colecionadora de borboletas que o contrata para um novo trabalho. O assassino falha quando uma borboleta pousa na mira de sua arma, e seu erro o condena à morte. A partir daí, trava-se uma caçada e uma disputa de poder entre Hanada e a organização – cujos membros mais perigosos contam com o malevolente “Número Um” (Koji Nanbara). A marca do assassino é o filme mais cultuado de Seijun Suzuki. Foi o último dos mais de 40 que dirigiu para o estúdio Nikkatsu – em sua grande maioria, “filmes B”, com produções rápidas e de baixos orçamentos – e também aquele que culminou em sua demissão do estúdio, em 1968, resultando em uma carreira subsequente como cineasta independente. O filme, em preto e branco, com fortes toques de surrealismo, transitando livremente entre o tempo real e o tempo psicológico, realismo urbano e pesadelo psicodélico, foi um fracasso de bilheteria em seu primeiro lançamento e foi taxado por muitos como “incompreensível”. Porém, nas décadas seguintes, a crítica reavaliou A marca do assassino como uma grande obra subversiva, inclusive em sua alegoria sobre as relações de poder entre um artista e a indústria cinematográfica. O filme será apresentado no IMS em um novo DCP feito pelo Nikkatsu, após a morte de Suzuki aos 93 anos, em fevereiro de 2017. Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia).
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66
Sixty Six Lewis Klahr | EUA | 2015, 90’, DCP 66 é um filme-colagem criado a partir de recortes de revistas, propagandas e histórias em quadrinhos que evocam a cultura pop da década de 1960. O artista norte-americano Lewis Klahr (nascido em 1956) organiza o filme, situado em Los Angeles, em 12 capítulos autônomos, que correspondem aos meses de 1966 e fazem referências à mitologia grega, em especial ao mito do rio Lete, cujas águas causam o esquecimento. O estilo elíptico de 66 é característico da obra cinematográfica de Klahr (que adotou o digital na última década, após anos trabalhando em Super 8 e 16 mm), assim como imagens em stop motion de figuras arquetípicas femininas e masculinas, cujos movimentos são animados por uma sonoplastia composta por ruídos, música pop e trilhas sonoras de outros filmes e séries de televisão. O tom de 66 é estabelecido de início com uma frase de Paul Éluard e André Breton: “Dá aos sonhos que esquecestes o valor daquilo que não conheces.” No capítulo “Icor”, uma voz feminina
guia o protagonista (talvez um fugitivo, talvez um detetive), que parece imerso em uma investigação, a qual não temos acesso. Em “Helena de T”, acompanhamos a vida boemia de uma jovem loira, ou lembranças de uma mulher que envelhece, envolvidos por uma música luxuriante que delineia a dinâmica sedutora entre a protagonista e seu ambiente. A ação é sugerida por objetos como cigarros, sofás, flores e espinhos. Outros capítulos, como “Dia 19 de agosto, 1966: Júpiter envia uma mensagem” ou “Ambrosia”, são mais impressionistas e singelos e expressam apenas o sentimento de um momento. Os capítulos de 66 são dedicados a pessoas próximas do artista, enfatizando a qualidade efêmera da passagem do tempo. O filme terá sua estreia brasileira no IMS. Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia).
Nelson Pereira em cartaz Ao longo de um ano, a filmografia de Nelson Pereira dos Santos será exibida em uma retrospectiva integral no Cinema do IMS. A cada mês, uma parte da obra do diretor é exibida em cópias digitais e 35 mm.
Comenta Helena Salem, em Nelson Pereira dos Santos – O sonho possível do cinema brasileiro: “Se a revolta no conto é obra dos homens, no filme ela é puxada pelas mulheres (ainda que seja colocado um chefe homem). [....] Também são as mulheres as únicas que, mesmo dentro do hospício, não usam camisa de força, ao contrário dos homens. “Elas (as atrizes) não queriam”, justifica Nelson. [...]. O fato é que as mulheres no filme são mais livres, esvoaçantes, alegres, fortes – e sábias. Têm todo, e nenhum poder. Porque, em última instância, o poder é dos homens. Pelo menos o institucional.” Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia).
Azyllo muito louco
Nelson Pereira dos Santos | Brasil | 1970, 83’, 35 mm para DCP Nesta livre adaptação do conto “O alienista”, de Machado de Assis, Nelson Pereira dos Santos mantém o tom do livro, ao mesmo tempo que desconstrói ambientação e personagens, ao retratar a construção do sanatório em uma pequena cidade no século XIX. Filmado em Paraty, com Leila Diniz, Ana Maria Magalhães, Irene Stefânia, Nildo Parente (em seu primeiro filme com NPS) e Arduíno Colasanti, com figurinos lisérgicos e alegóricos, Azyllo muito louco evoca também aqueles que são os anos mais sinistros do regime militar iniciado em 1964, em internações/prisões sem sentido feitas por aqueles com delírios de controle e poder e tentativas de resistência. 14
Como era gostoso o meu francês Nelson Pereira dos Santos | Brasil | 1971, 83’, 35 mm para DCP
Livremente baseado nas vivências de Hans Staden (que era alemão e sobreviveu para contar sua história), Como era gostoso o meu francês demorou anos para ser realizado. Pesquisas intensas foram feitas por Nelson Pereira dos Santos desde a metade dos anos 1960; os diálogos em tupi foram elaborados por Humberto Mauro (estudioso da língua); e, apesar do baixo orçamento para uma produção de época, o resultado é outra alegoria do Brasil de então, desta vez em versão antropofágica. Nas palavras de Nelson, em depoimento a José Agustín Mahieu para a Cuadernos Hispanoamericanos (n. 395, maio 1983), “a concepção da história se baseia nessa recuperação da cultura brasileira colonizada há séculos. [...] A teoria antropofágica [...] é uma teoria de assimilação da cultura estrangeira pelo homem brasileiro. E pelo índio. O índio comia o inimigo para adquirir seus poderes, não para se alimentar fisicamente. Era algo ritual. Quanto mais poderoso era o inimigo, mais saboroso ele era.” Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia).
coleção DVD | IMS
Criada em 2012 pelo então coordenador de cinema José Carlos Avellar (1936-2016), a coleção DVD | IMS já lançou diversos filmes, entre produções brasileiras e estrangeiras.
Cabra marcado para morrer
Eduardo Coutinho Brasil | 1964-84, 119’
Escreveu Roberto Melo para o Jornal do Brasil em janeiro de 1985: “As filmagens começaram em fevereiro de 1964. Coutinho pretendia contar a história de João Pedro Teixeira, líder da liga camponesa de Sapé, na Paraíba, assassinado em 1962. Não queria atores profissionais: que os personagens fossem interpretados pelos próprios camponeses. Dezessete anos depois, Coutinho volta à região, consegue encontrar Elizabeth, através do filho mais velho, Abraão, investiga o destino dos outros dez filhos e de todos os envolvidos no projeto. Exibe os originais filmados há tanto tempo, os camponeses se alegram com seus rostos, mais jovens, vivem a emoção do reconhecimento e o jogo de identificações. Vinte anos depois, Coutinho conclui seu filme, um épico contado com clareza, paciência e perseverança, por alguém que confia no trabalho e nos dias. Uma experiência original na cinematografia brasileira.” Acompanham o filme uma faixa comentada, um livreto com análises críticas e dois extras exclusivos, nos quais, 50 anos após o início das filmagens e 30 anos após a conclusão do documentário, Eduardo Coutinho reencontra Elizabeth Teixeira, sua família e os camponeses do engenho Galileia.
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O futebol, de Sergio Oksman O botão de pérola e Nostalgia da luz, de Patricio Guzmán Photo: Os grandes movimentos fotográficos Homem comum, de Carlos Nader Vinicius de Moraes, um rapaz de família, de Susana Moraes Últimas conversas e Cabra marcado para morrer, de Eduardo Coutinho A viagem dos comediantes, de Theo Angelopoulos Imagens do inconsciente e São Bernardo, de Leon Hirszman Os dias com ele, de Maria Clara Escobar A tristeza e a piedade, de Marcel Ophuls Os três volumes da série Contatos: A grande tradição do fotojornalismo; A renovação da fotografia contemporânea; A fotografia conceitual La Luna, de Bernardo Bertolucci Cerimônia de casamento, de Robert Altman Conterrâneos velhos de guerra, de Vladimir Carvalho Vidas secas e Memórias do
cárcere, de Nelson Pereira dos Santos O emprego, de Ermanno Olmi Iracema, de Jorge Bodanzky e Orlando Senna Cerimônia secreta, de Joseph Losey As praias de Agnès, de Agnès Varda A pirâmide humana e Cocorico! Mr. Poulet, de Jean Rouch Diário 1973-1983 e Diário revisitado 1990-1999, de David Perlov Elena, de Petra Costa A batalha de Argel, de Gillo Pontecorvo Libertários, de Lauro Escorel, e Chapeleiros, de Adrian Cooper Seis lições de desenho com William Kentridge Sudoeste, de Eduardo Nunes Shoah, de Claude Lanzmann Memórias do subdesenvolvimento, de Tomas Gutiérrez Alea E três edições voltadas à poesia: Poema sujo, dedicado a Ferreira Gullar; Vida e verso e Consideração do poema, dedicados a Carlos Drummond de Andrade.
Os DVDs podem ser adquiridos nas livrarias especializadas, nas lojas dos nossos centros culturais e na loja on-line do IMS: bit.ly/imsdvd.
Curadoria de cinema
Os filmes de março
Meia-entrada
Kleber Mendonça Filho
O programa de março tem o apoio da Hutukara, da Filmes de Quintal, da Klaxon Cultura Audiovisual, da Regina Filmes, e das distribuidoras Bretz Filmes, Elo Company, Olhar Distribuição, Park Circus, Tamasa Distribution, Vitrine Filmes, Zeta Filmes e do Espaço Itaú de Cinema. E dedica agradecimentos a Júnia Torres, Pedro Portella, Ismar Tirelli Neto, Letícia Monte, Ana Maria Magalhães, Marcia Pereira dos Santos e Diogo Dahl.
Com apresentação de documentos comprobatórios para professores da rede pública, estudantes, crianças de 3 a 12 anos, pessoas com deficiência, portadores de Identidade Jovem e maiores de 60 anos.
Programação de cinema e DVD Barbara Alves Rangel Programadores assistentes Thiago Gallego e Ligia Gabarra
Apoio
Projeção Ana Clara Costa e Miciano Manoel da Silva
Exibições de A marca do assassino
Venda de ingressos Ingressos à venda pelo site ingresso. com ou na bilheteria, para sessões do mesmo dia. Desconto para o titular ao comprar o ingresso com o cartão Itaú (crédito ou débito). Ingressos e senhas sujeitos à lotação da sala. Capacidade da sala: 145 lugares. Devolução de ingressos Em casos de cancelamento de sessões por problemas técnicos e por falta de energia elétrica, os ingressos serão devolvidos. A devolução de entradas adquiridas pelo ingresso.com será feita pelo site. Programa sujeito a alterações. Eventuais mudanças serão informadas em facebook.com/ cinemaims e ims.com.br. Não é permitido o acesso com mochilas ou bolsas grandes, guarda-chuva, bebidas ou alimentos. Use nosso guarda-volumes gratuito.
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Urihi Haromatipë – Curadores da terra-floresta Morzaniel lramari Yanomami (Brasil | 2014, 60’)
A marca do assassino (Koroshi no rakuin), de Seijun Suzuki (Japão | 1967, 91’)
Terça a sábado, sessões de cinema até as 22h; domingos e feriados, até as 20h. Visitação, Biblioteca, Balaio IMS Café e Livraria da Travessa Terça a domingo, inclusive feriados (exceto segundas), das 10h às 20h; quintas, até as 22h. Última admissão: 30 minutos antes do encerramento. Entrada gratuita. Durante o Carnaval, o IMS Paulista funcionará normalmente, exceto na segunda, 4/3
Avenida Paulista 2424 CEP 01310-300 Bela Vista – São Paulo tel: (11) 2842-9120 imspaulista@ims.com.br
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