cinema jul.2019
terça 2 14:00 16:00 18:00 20:00 21:50
Santiago, Itália (80’) Divino amor (99’) Deslembro (96’) Santiago, Itália (80’) Divino amor (99’)
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Santiago, Itália (80’) Divino amor (99’) Deslembro (96’) Longa jornada noite adentro (140’)
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Santiago, Itália (80’) Divino amor (99’) Deslembro (96’) Santiago, Itália (80’) Divino amor (99’)
11 Santiago, Itália (80’) Divino amor (99’) Deslembro (96’) Longa jornada noite adentro (140’)
14:00 Deslembro (96’) 16:00 Estou me guardando para quando o Carnaval chegar (86’) 18:00 Santiago, Itália (80’) 20:00 Memórias do cárcere (189’)
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14:00 Deslembro (96’) 16:00 Estou me guardando… (86’) 22:00 Estou me guardando… (86’)
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Divino amor (99’) Estou me guardando… (86’) Santiago, Itália (80’) O mundo em perigo (94’) Estou me guardando… (86’)
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31 Divino amor (99’) Estou me guardando… (86’) Santiago, Itália (80’) Divino amor (99’) Estou me guardando… (86’)
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Divino amor (99’) Estou me guardando… (86’) Santiago, Itália (80’) Bloqueio (76’), seguido de debate com os diretores
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Divino amor (99’) Estou me guardando… (86’) Sessão Mutual Films A busca do lucro e o sussurro do vento (58’) A palavra, com apresentação de Laura Erber (125’)
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Santiago, Itália (80’) Divino amor (99’) Deslembro (96’) Santiago, Itália (80’) Divino amor (99’)
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Deslembro (96’) Bye bye Brasil (100’) A longa caminhada (100’) Santiago, Itália (80’) Estou me guardando… (86’)
20 Divino amor (99’) Estou me guardando… (86’) Santiago, Itália (80’) Divino amor (99’) Estou me guardando… (86’)
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Santiago, Itália (80’) Divino amor (99’) Deslembro (96’) Santiago, Itália (80’)
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Deslembro (96’) Estou me guardando… (86’) Santiago, Itália (80’) Divino amor (99’)
21 Divino amor (99’) Estou me guardando… (86’) Santiago, Itália (80’) Divino amor (99’) O mundo em perigo (94’)
14:00 Divino amor (99’) 16:00 Estou me guardando… (86’) 18:00 A busca do lucro e o sussurro do vento, com apresentação de Paula Gaitán (58’) 20:00 A palavra (125’)
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Programa sujeito a alterações. Eventuais mudanças serão informadas em facebook.com/cinemaims e ims.com.br.
Memórias do cárcere, de Nelson Pereira dos Santos (Brasil | 1984, 189’, 35 mm)
[capa] O mundo em perigo (Them!), de Gordon Douglas (EUA | 1954, 94’, DCP)
destaques de julho 2019 Neste mês, duas reflexões sobre as sombras dos anos 1970 no continente latino-americano, quando as pátrias se tornam hostis: Santiago, Itália, de Nanni Moretti, e Deslembro, de Flavia Castro. No primeiro, o gesto desesperado para sair de um regime militar (no caso, o Chile de Pinochet); no segundo, uma delicada crônica do retorno ao Brasil após a abertura política em 1979. Filmados na mesma década e exibidos em sessão dupla, estão A longa caminhada, de Nicolas Roeg, e Bye bye Brasil, de Carlos Diegues. Duas grandes jornadas em direção ao desconhecido, mas também em direção ao outro, ao próprio país, aos próprios dilemas de amadurecimento. Uma conexão imprevista, que se nota até mesmo na representação de
Bloqueio, de Victória Álvares e Quentin Delaroche (Brasil | 2018, 76’, DCP) 1
populações nativas – pontos delicados das obras quando vistas em 2019. Quais são os resultados de experimentos nucleares? Em O mundo em perigo, ficção científica de 1954 de Gordon Douglas, são formigas gigantes que aterrorizam os humanos e ameaçam o futuro do planeta. Uma mistura de paranoia com clarividência dos impactos negativos da interferência humana na natureza. Encerrando o mês, haverá a pré-estreia de Bloqueio, seguida por um debate com os realizadores Victória Álvares e Quentin Delaroche. O filme parte do impulso de filmar a greve dos caminhoneiros em maio do ano passado e entender as motivações de seus protagonistas neste preâmbulo turbulento das eleições.
A longa caminhada (Walkabout), de Nicolas Roeg (Reino Unido, Austrália | 1971, 100’, DCP)
Santiago, Itália (Santiago, Italia), de Nanni Moretti (Itália, França, Chile | 2018, 80’, DCP)
Estou me guardando para quando o Carnaval chegar, de Marcelo Gomes (Brasil | 2019, 85’, DCP)
Sessão Mutual Films: Caso nos esqueçamos... A palavra e A busca do lucro e o sussurro do vento por Aaron Cutler e Mariana Shellard Na madrugada de 21 de novembro de 1927, seis mineradores sindicalistas foram mortos na mina de Columbine ao lutarem por um salário-mínimo e pelo mínimo de dignidade humana. Inscrição no túmulo de cinco dos seis mineradores, em Columbine, Colorado Na primeira página de A palavra, Kaj Munk parafraseou algo que ouviu de uma viúva em uma fazenda de Vedersø. Se tivermos a fé dela, ele pensou, poderíamos acreditar nisso sobre seu marido ou qualquer um. Ela disse: “Sim, suas melhores roupas estão arrumadas porque nunca se sabe quando, numa manhã de Páscoa, ele retornará.” Carl Theodor Dreyer em conversa com Jan Wahl, citado em Carl Theodor Dreyer and Ordet: My Summer with the Danish Filmmaker, de Wahl
No breu, ouve-se um canto Kiowa evo cando um gesto receptivo à chegada dos europeus. Em seguida, observa-se um pé de romã agitado pelo vento, o mar por trás da mata e alguns túmulos não identificados que conectam a sequência ao memorial de Anne Marbury Hutchinson, colona britânica nascida em 1591, expoente na luta pela tolerância religiosa e incentivadora do tratamento igualitário entre colonos e nativos. A inscrição no memorial faz referência ao assassinato 2
de Hutchinson por indígenas na região da atual Nova York, em 1643. Ela foi confundida com colonos holandeses, que haviam estabelecido uma relação violenta com os nativos americanos. Assim começa A busca do lucro e o sussurro do vento (Profit motive and the whispering wind, 2007), de John Gianvito. Em 2005, após a reeleição do presidente George W. Bush, o cineasta e professor universitário norte-americano fez uma série de viagens ao redor dos Estados Unidos para registrar monumentos, sítios históricos e túmulos de mulheres e homens que lutaram por igualdade econômica, racial, religiosa e de gênero. Sua busca tinha como principal objetivo divulgar histórias pouco conhecidas que foram cruciais na formação da identidade cultural do país. Ele continuou a trabalhar no filme durante três anos, viajando na maioria do tempo de carro, acompanhado apenas por uma câmera Bolex, microfone e vários guias impressos e eletrônicos. Gianvito usou como referência o livro A People’s History of the United States [Uma história do povo dos Estados Unidos],
do historiador norte-americano Howard Zinn, publicado pela primeira vez em 1980 e atualizado em intervalos regulares até 2009. O livro traça o caminho de pessoas que lutaram por liberdades e direitos sociais e econômicos, da fundação do país até o período recente, e, embora Gianvito também tenha adotado uma sequência essencialmente cronológica, como na obra de Zinn, sua adaptação é mais poética e intuitiva do que ilustrativa. Em pouco menos de uma hora, cenas de mais de 100 memoriais são mostradas junto com alguns breves desenhos animados e trechos de músicas de artistas ativistas, como Paul Robeson e Ani DiFranco. Os locais registrados são símbolos da perseverança, tanto daqueles que foram os atores das histórias quanto dos que lutam por sua preservação, o que também remete à citação que introduz o filme: “A longa memória é a ideia mais radical da América”. As cenas são bucólicas e silenciosas – ouve-se apenas o som ambiente de cada local –, ainda que estejam relatando massacres, condenações injustas e assassinatos. Imagens de florestas
intercalam os monumentos e se apresentam como testemunhas das histórias que estão sendo contadas, convidando o espectador a imaginar o ocorrido. Em um monumento localizado em Chicago, dedicado aos mortos pela Justiça americana no caso da Revolta de Haymarket, de 1887, lê-se: “Chegará o dia em que nosso silêncio será mais poderoso do que as vozes que vocês estão sufocando hoje”. Uma afirmação que também pode representar a resistência, em outra parte do mundo, do teatrólogo e pastor luterano Kaj Munk, cuja peça A palavra, de 1925, foi adaptada para o cinema por Carl Theodor Dreyer em 1955. No início da década de 1940, Munk manifestou-se publicamente contra o nazismo e a ocupação alemã em seu país, em artigos e peças teatrais, especialmente em defesa dos judeus perseguidos. Por seu posicionamento, foi brutalmente assassinado e despejado em uma vala pela polícia alemã em janeiro de 1944, tornando-se um mártir e uma inspiração para a resistência dinamarquesa. Certa vez, Dreyer comentou que “A palavra deve 3
ser feita apenas de uma maneira: pela fé. Kaj Munk despertou não apenas Vedersø [onde atuava como pastor], mas toda a Dinamarca. Portanto, quero que este filme carregue seu espírito mundo afora.”1 O renomado cineasta dinamarquês foi prolífico na era do cinema mudo, sendo seu último filme do período, A paixão de Joana d’Arc (La passion de Joanne d’Arc, 1928), também seu mais conhecido. Com o cinema falado, ele se tornou mais exigente em seus projetos, fazendo com que A palavra (Ordet) fosse lançado 12 anos após seu longa-metragem autoral anterior, Dias de ira (1943). Penúltimo longa de Dreyer, A palavra retrata o conflito existencial e material de um patriarca devoto, Morten Borgen (Henrik Malberg, a escolha original de Munk para o papel), cujo filho primogênito, Mikkel (Emil Hass Christensen), é agnóstico, o segundo, Johannes (Preben Lerdorff Rye), enlouquece ao se aprofundar em 1 Citado em inglês no livro Carl Theodor Dreyer and Ordet: My Summer with the Danish Filmmaker, de Jan Wahl, publicado pela University Press of Kentucky em 2012. 4
estudos religiosos, e o caçula, Anders (Cay Kristiansen), pretende se casar com a filha do rival espiritual do pai. A fé de Morten é ainda mais desafiada quando Inger (Birgitte Federspiel), a esposa de Mikkel e conciliadora da família, sofre complicações no parto de seu terceiro filho e morre junto com o recém-nascido. Ao retratar as dificuldades enfrentadas por essa família (cuja história é ambientada no mesmo ano em que a peça de Munk foi publicada), o filme evidencia a hipocrisia do comportamento institucionalizado da igreja, a arrogância da ciência e a luta do homem comum em busca de sua fé pessoal enquanto é assediado por entidades externas. Em sua adaptação, Dreyer condensou o texto de Munk, subtraindo elementos específicos à vida dinamarquesa, como a definição religiosa dos dois patriarcas antagônicos, caracterizados no filme apenas como o alfaiate crente no sofrimento humano e o fazendeiro crente na felicidade cristã. Essa síntese é aplicada a todos os personagens e também ao cenário, onde cada objeto carrega um valor simbólico.
O movimento fluido da câmera, que circunda os ambientes em longos pans horizontais, prepara o espectador para cada nova interação e, somando-se à estética minimalista, cria uma unidade entre o plano material e o espiritual. A aspiração de Dreyer ao fazer uma versão cinematográfica da peça de Munk, uma década após a morte do autor, foi trabalhar cada elemento narrativo de forma sucinta para transmitir ao espectador a essência da história: o poder da fé de restaurar a vida. A palavra irá passar no IMS em uma nova versão, digitalmente restaurada em 4K pelo Instituto Dinamarquês de Cinema. A busca do lucro e o sussurro do vento será mostrado em uma cópia digital, seu único formato de projeção. John Gianvito nunca conseguiu fazer uma cópia do filme em 16 mm, e vem tentando angariar fundos para fazer um novo escaneamento dos materiais originais. A Sessão Mutual Films de julho é dedicada à memória de Freddy Buache, cofundador e ex-diretor da Cinemateca da Suíça, morto em 28 de maio de 2019.
Oito notas para entrar e sair do cárcere por Nelson Pereira dos Santos, em maio de 1984
1. A primeira ideia de adaptar o livro Memórias do cárcere para o cinema nasceu com Vidas secas, pela própria relação direta que mantive na ocasião com o trabalho do escritor Graciliano Ramos. Vidas secas, a primeira adaptação que fiz da obra de Graciliano, foi para o Festival de Cannes em 1964 e, logo em seguida, comecei a pensar em filmar Memórias do cárcere, em função da violência política e institucional que tomou conta do Brasil naquele mesmo ano. Memórias do cárcere contava esta mesma história transcorrida em outra época. A realidade estava se repetindo. Cheguei a dar início à preparação do roteiro, mas logo parei, pois no Brasil de 1964 não havia condições de produção e liberdade política para se levar adiante o projeto de Memórias do cárcere, que ficou arquivado. 2. Só tive condições de retomar o projeto de Memórias do cárcere em 1981, quando iniciei a elaboração do roteiro. A história do livro e do filme continua a ter uma certa articulação com o passado recente de nosso país, cujas atuais condições estão permitindo a realização deste 5
tipo de filme sem nenhum problema político de censura ou autocensura. Realizei Memórias do cárcere porque acho que o filme terá repercussão além das fronteiras do cinema, encontrando respostas na sociedade como um todo. 3. Acho que o mais importante para o espectador de meu filme é a emoção que lhe será transmitida em Memórias do cárcere. A ideia é a de sair da cadeia de uma sociedade ainda presa a comportamentos originados em relações duras. Aquela cadeia do filme é metafórica: não é de 1936 ou 1964. É a cadeia em que a gente vive e que nos inferniza. A proposta do filme é transformá-la em coisa do passado. Eu acho que qualquer significado político em Memórias do cárcere deve ser extraído pelo próprio espectador e, dessa forma, estou sendo fiel ao pensamento de Graciliano Ramos. O livro, como o filme, não é político. Trata da condição humana, de forma universal. É uma tentativa de contar uma história para todo o mundo. 4. Memórias do cárcere é um filme como os do início de minha carreira, sem
metáforas de linguagem, de comunicação direta com o público. Voltei a filmar sem qualquer influência da censura, deixando de lado recursos que só complicavam a expressão desnecessariamente e impropriamente. Este filme deveria ter sido realizado logo depois de Vidas secas. Chega, portanto, com um atraso de 20 anos, embora tenha sido válido todo aprendizado que tive nesse período conturbado da vida política brasileira. 5. Seria muito difícil para um ator que não tivesse nenhum tipo de experiência política entrar no personagem de Graciliano Ramos e viver tudo aquilo. Carlos Vereza foi o escolhido por ser um homem e um ator com condições psicológicas, intelectuais e ideológicas para embarcar na trajetória de Graciliano Ramos por sua própria conta. Vereza deu tudo de si durante as filmagens, foi de uma generosidade artística incrível e o resultado de seu trabalho é uma performance irrepreensível. A proposta que eu tive com os 103 atores de Memórias do cárcere foi a de uma aventura. O ator é um instrumento muito delicado, é o dono da emoção e, na
verdade, é quem descobre o personagem. A mim coube uma orientação e o cuidado de filmar da melhor maneira possível. 6. Este hábito de revezar atores em meus filmes tem a ver com a minha formação de cinema. Tem toda influência do neorrealismo, do ator não profissional e, por outro lado, na época de Rio, 40 graus, se eu fosse depender só de atores profissionais de teatro e cinema, não teria número suficiente para fechar o elenco. Não existiam muitos atores para interpretar personagens populares. Era preciso inventar mesmo. O grande exemplo de ator que eu saquei foi o Jofre Soares em Vidas secas. Em Memórias do cárcere, aparecem o Fábio Barreto, o David Quintans, um grupo de teatro de Maceió e estudantes de teatro de Campo Grande. 7. À medida que fui trabalhando e conhecendo mais aquele passado, entendi que não poderia assumir um compromisso biográfico em Memórias do cárcere, mesmo porque toda a síntese do livro que o filme exige foi misturando personalidades (do livro) diferentes em cada um dos personagens (do filme). 6
Nem mesmo com Graciliano (Vereza) há um compromisso biográfico, embora o personagem conserve o nome do escritor. Aliás, são poucos os que conservam o nome real: Graciliano, Heloísa, Dr. Sobral, Cubano e o Capitão Lobo, por exemplo. No caso do livro, evidentemente, há mais tempo, mesmo numa linha, com a maestria de escritor de Graciliano Ramos, para dar o caráter e até o físico real do personagem que tinha convivido com ele dois ou três dias naquele tempo de cadeia. Mas, no filme, eu não tenho a mesma vivência que Graciliano teve, e se eu qui sesse recuperar tudo, seria um trabalho interminável: no livro, são citados cerca de 300 personagens. 8. O cárcere em meu filme é uma metáfora da sociedade brasileira. No espaço exíguo da prisão, a dinâmica de cada um é mais clara: a classe média militar, o jovem, a mulher, o negro, o nordestino, o sulista. O encontro com o prisioneiro comum, o ladrão, o assaltante, o homossexual. Graciliano retratou tudo isso, lutando contra os próprios preconceitos, e conseguiu nos deixar um testemunho generoso,
aberto. Gostaria de transmitir, como era desejo de Graciliano, a sensação de liberdade. Sair da cadeia para sempre, para nunc a mais voltar. A cadeia no sentido mais amplo, a cadeia das relações sociais e políticas que aprisionam o povo brasileiro.
Texto disponível no livreto que acompanha o DVD de Memórias do cárcere, parte da Coleção DVD IMS.
Em cartaz resolvida. Se não há um trabalho efetivo, a memória se perde.” Em 2018, Deslembro recebeu os prêmios de Melhor Filme pelo júri popular e pela crítica no Festival do Rio e de Melhor Atriz Coadjuvante para Eliane Giardini. No mesmo ano, recebeu o prêmio do Sindicato Francês dos Críticos de Cinema no Festival de Biarritz América Latina, na França. [Íntegra da entrevista de Flavia Castro: bit.ly/deslembrofc]
Deslembro
Flavia Castro | Brasil | 2018, 96’, DCP Joana é uma adolescente que mora em Paris com a família quando a anistia é decretada no Brasil, no fim de 1979. De um dia para o outro, e à sua revelia, a família organiza a volta para o país do qual ela não tem muitas lembranças. No Rio de Janeiro, cidade onde nasceu e onde seu pai desapareceu nos porões do Dops, ela terá de lidar com seu passado. “O desejo de fazer uma ficção apareceu ainda durante Diário de uma busca (2010)”, comenta a diretora Flavia Castro em entrevista ao site da 42ª Mostra de São Paulo. “O que me interessava, inicialmente, era falar da memória na infância e na adolescência. Como a gente lembra das coisas que nos acontecem nessa idade? Eu até tentei escrever a história de uma menina que tinha perdido o pai ou a mãe em outra circunstância [não ligada à ditadura]. Mas não consegui. Em 2009, a memória da ditadura ainda era uma questão a ser 7
Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia).
Divino amor
Gabriel Mascaro | Brasil, Uruguai, Dinamarca | 2019, 99’, DCP No Brasil de 2027, Joana é uma devota religiosa que usa seu ofício num cartório para tentar dificultar os divórcios. Enquanto espera por um sinal divino em reconhecimento aos seus esforços, é confrontada com uma crise no próprio casamento, que a aproxima ainda mais de Deus. Em entrevista concedida ao portal UOL em fevereiro, o diretor conta que o projeto começou há três anos e partiu “de um desconforto meu em perceber cada vez mais a presença da religião no Estado”. Nas palavras do diretor, “o evangelismo deve ser pensado com a devida complexidade, com a sofisticação que o assunto merece. Eu tento olhar com sinceridade e proponho de maneira muito honesta um olhar para essa discussão. Não tem condenação a priori sobre esse projeto religioso.” Segundo a atriz Dira Paes, que interpreta Joana, sua personagem soar caricata “era um risco que eu corria e que eu tentava o tempo todo evitar.
Sempre fui muito apaixonada pelas histórias dos santos. Sempre me fascinou que tivessem provações muito grandes. Então fui muito nesse nicho da provação, aquela que você tem que passar para provar a sua fé para os outros.” “A ideia”, relata Mascaro, “foi trabalhar com um futuro em que não houvesse muita tecnologia de fato nova. O que há é uma mudança paradigmática e ideológica na sociedade, que permite que o estado civil das pessoas seja manifestado publicamente, uma mudança de perspectiva da privacidade e da concepção de projeto de família. Muita coisa do filme já existe. Fui para raves na periferia do Recife em que o pastor toca Guitar Hero. O que é curioso é que já está aí – e de forma potente.” Em 2019, Divino amor teve sua primeira exibição no Festival de Sundance e foi exibido na Mostra Panorama, do Festival de Berlim. [Íntegra da reportagem do UOL em: bit.ly/gmdivino] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia).
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Estou me guardando para quando o Carnaval chegar Marcelo Gomes | Brasil | 2019, 85’, DCP
A pequena cidade de Toritama, no Agreste pernambucano, é considerada a capital nacional do jeans. A cada ano, mais de 20 milhões de jeans são produzidos em fábricas de fundo de quintal pelos moradores da cidade. Quando chega o Carnaval, eles vendem seus eletrodomésticos e outros pertences e fogem para as praias. O diretor Marcelo Gomes, que nos anos 1980 visitava a cidade de Toritama com seu pai, conta que ficou surpreso ao descobrir que a pequena comunidade rural de sua infância hoje vive em função da indústria têxtil com rotinas de trabalho tão intensas. Em entrevista ao jornal O Globo, Gomes comenta: “Fiquei com um nó na cabeça para desvendar, e estou passando esse nó para o público – conta Gomes. Filmes sobre sweatshops, mostrando como os trabalhadores braçais são vítimas do capitalismo, já há vários por aí. O que temos em Toritama é uma situação complexa, não
queria vitimizar ninguém. O que me interessava era ouvir os desejos e os sonhos dessas pessoas que se apegam à ideia da autonomia, de ser o próprio patrão, sem perceber que estão sendo escravizadas por elas mesmas. É um filme que expõe a farsa do neoliberalismo. Fala de um Brasil que ninguém conhece. Toritama é uma China com um Carnaval no meio.” Exibido na mostra competitiva do 24º festival de documentários É Tudo Verdade, o filme recebeu menção honrosa do júri oficial e da Associação Brasileira de Documentaristas e Curta-Metragistas, além de ser escolhido como melhor filme pelo júri da Associação Brasileira de Críticos de Cinema. [Íntegra da reportagem de O Globo em: bit.ly/mgestou] Ingressos: R$ 12 (inteira) e R$ 6 (meia).
Longa jornada noite adentro
Di qiu zui hou de ye wan Bi Gan | China, França | 2018, 140’, DCP (3D) Luo Hongwu retorna a Kaili, cidade natal de onde havia fugido há vários anos. Começa, então, a procurar por uma mulher de que nunca esqueceu. Ela havia dito que se chamava Wan Quiwen. Em entrevista ao crítico Wang Muyan, o diretor comenta seu processo criativo e sua relação com o cinema de gênero: “Nunca fiz cursos de roteiro, então desenvolvi meus próprios hábitos de escrita. Para começar, no que diz respeito ao roteiro, Kaili Blues (2015) é um road movie. Após escrever o primeiro rascunho, comecei a destruí-lo por dentro, pouco a pouco. Isso criou uma forma que me agradou. Originalmente, Longa jornada noite adentro era um filme noir, próximo de Pacto de sangue, de Billy Wilder. A partir desse meu processo de ‘destruição’ de cena após cena, o filme finalmente assumiu o estilo que tem hoje.” “É um filme sobre memória. Depois da primeira parte (em 2D), queria que o filme assumisse uma textura diferente. Na verdade, para mim, o 3D é apenas uma textura, tal qual um espelho que transforma nossas memórias em sensações táteis. É somente uma representação tridimensional do espaço; mas acredito que essa sensação tridimensional remete às nossas lembranças do passado. De qualquer maneira, as imagens em 3D são bem mais falsas do que as imagens em 2D, mas se assemelham bem mais às nossas memórias.” [Íntegra da entrevista em: bit.ly/longaj] Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia). 9
Santiago, Itália
Santiago, Italia Nanni Moretti | Itália, França, Chile | 2018, 80’, DCP O documentário destaca o papel da embaixada italiana durante o golpe militar que derrubou o presidente Allende e instituiu uma violenta ditadura no Chile. Muitos opositores buscaram abrigo no local e conseguiram asilo na Itália. À época, Piero De Masi e Roberto Toscano eram os embaixadores italianos em Santiago. Eles contam que começaram a receber pessoas aos poucos, mas que, rapidamente, já eram centenas de refugiados políticos morando na embaixada, muitos com suas famílias, inclusive crianças. “Não tínhamos mais controle, as pessoas pulavam o muro da embaixada para entrar”, lembra De Masi. Quando um incidente coloca a vida dos exilados e a reputação da embaixada em risco, os diplomatas percebem que chegou a hora de conceder asilo a essas famílias na Itália. Em depoimento ao jornal francês Le Journal du Dimanche, o diretor declara: “Quando comecei a filmar, a sociedade era diferente na Europa.
Um governo de esquerda no meu país, e o problema da imigração não tinha a dimensão atual. Eu vejo que o longa-metragem adquiriu um novo sentido. Mas essa não era minha intenção ao longo da produção. Eu estava falando do Chile dos anos 1970, depois o propósito tomou um caminho inesperado, universal. Hoje, cabe ao espectador decifrá-lo à luz do que se passa: a crise dos refugiados, as fronteiras que se fecham. Eu mostro o acolhimento e a bondade dos italianos há 40 anos. É preciso manter as esperanças.” Em 2019, o longa foi o vencedor do prêmio Davi de Donatello na categoria Melhor Documentário, além de render a Moretti o prêmio Nastro d’Argento, concedido pelo Sindicato Nacional dos Jornalistas de Cinema Italianos. [Íntegra do depoimento de Nanni Moretti, em francês, em: bit.ly/nmsanti] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia).
Pré-estreia
Bloqueio
Victória Álvares e Quentin Delaroche | Brasil | 2018, 76’, DCP Maio de 2018. A cinco meses da eleição presidencial brasileira, o país vive uma crise política e econômica. Nessa atmosfera, caminhoneiros decidem fazer uma paralisação em busca de melhores condições de trabalho. Em meio às reivindicações desta classe de trabalhadores, surgem cada vez mais vozes pedindo uma intervenção militar. Em setembro do mesmo ano, Bloqueio teve sua estreia no Festival de Brasília, apenas quatro meses após a manifestação. “O processo de produção foi extremamente rápido, e pulamos a etapa de colocar no papel. Na verdade, filmamos em três dias e montamos em uma semana o primeiro corte do filme (bem próximo do corte definitivo). Foi um processo bem atípico”, conta Quentin Delaroche, que dirigiu o documentário com Victória Álvares. Ela complementa que, “quando se iniciou a paralisação dos caminhoneiros, sentimos que aquele momento poderia entrar para a 10
Sessão Mutual Films Caso nos esqueçamos… história. E, ao mesmo tempo, era tudo muito confuso, nós não entendíamos bem o emaranhado de narrativas que coexistiam ali: o que estava acontecendo, o que os caminhoneiros reivindicavam, como a população em geral reagia àquele movimento, o que a mídia tradicional e as redes sociais retratavam… Não tínhamos ideia do que poderia acontecer. E foi assim, guiados por uma intuição, muitas perguntas, sentimentos confusos e um grande desejo em ouvir o outro, que decidimos ir até um ponto de bloqueio.” No dia 31 de julho, o Cinema do IMS realiza a pré-estreia de Bloqueio em sessão seguida de debate com os diretores. [Entrevista completa disponível no site do Jornal de Brasília: bit.ly/BloqueioBSB] Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia).
Em um texto sobre a direção do filme A palavra (1955), o cineasta dinamarquês Carl Theodor Dreyer indica aos atores que todas as ações no drama familiar e humanístico devem ser condicionadas para tornar receptiva ao público a ideia de um milagre de ressurreição. Em A busca do lucro e o sussurro do vento (2007), o diretor norte-americano John Gianvito visita diversos sítios históricos, memoriais e túmulos para trazer à tona a história dos Estados Unidos, a partir da perspectiva daqueles que lutaram por igualdade de direitos. Ambos os cineastas da Sessão Mutual Films de julho utilizaram o cinema como ferramenta de expressão do valor atemporal da memória e da fé. A busca do lucro... terá sua estreia brasileira no IMS, e A palavra passará em uma nova cópia restaurada.
A palavra
Ordet Carl Theodor Dreyer | Dinamarca | 1955, 125’, 35 mm para DCP Em 1925, Morten Borgen (Henrik Malberg), devoto patriarca de uma família de fazendeiros no interior da Dinamarca, vive atormentado pela doença mental de Johannes (Preben Lerdorff Rye), um de seus filhos, que, após intenso estudo sobre a obra do teólogo Søren Kierkegaard, passa a espalhar a palavra de Deus, como uma encarnação de Jesus Cristo. Enquanto isso, o filho caçula de Morten apaixona-se pela filha do alfaiate e pastor da cidade, que prega uma fé dura, que vai contra a “felicidade cristã” da família. Os conflitos são agravados quando Inger (Birgitte Federspiel), nora de Morten, que está para dar à luz ao terceiro filho com o agnóstico primogênito Mikkel (Emil Hass Christensen), sofre de complicações durante o parto e falece junto com o recém-nascido. Este drama familiar, adaptado de uma peça de 1925 do teatrólogo e pastor luterano Kaj Munk, contrapõe fé e cristianismo, expondo a hipocri11
sia da religião institucionalizada. O penúltimo longa do canônico cineasta dinamarquês Carl Theodor Dreyer – de A paixão de Joana D’Arc (1928) e Dias de ira (1943), entre outros – foi uma preparação para um ambicioso projeto de filmar a vida de Jesus Cristo, que não conseguiu levar adiante por falta de financiamento. Atualmente, é considerado uma obra-prima de concisão narrativa, na qual suaves movimentos de câmera e diálogos sucintos trabalham com elegância para levar ao espectador uma visão clara do lugar da fé no mundo moderno. A palavra será projetado em uma nova cópia em DCP da restauração digital feita pelo Danske Filminstitut (Instituto Dinamarquês de Cinema), lançada no Festival de Berlim este ano. Será exibida pela primeira vez no Brasil no IMS. Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia).
A busca do lucro e o sussurro do vento Profit motive and the whispering wind John Gianvito | EUA | 2007, 58’, digital
No filme A busca do lucro e o sussurro do vento, a história complexa e pouco conhecida dos Estados Unidos é contada a partir de imagens em 16 mm de memoriais, túmulos e sítios históricos que descrevem a luta individual e coletiva por igualdade racial, religiosa, econômica e de gênero, entre os séculos XVI e XXI. O terceiro longa-metragem do diretor norte-americano John Gianvito se baseia livremente na obra do historiador Howard Zinn, A People’s History of the United States [Uma história do povo dos Estados Unidos, de 1980], uma crônica de vozes que inclui a abolicionista Sojourner Truth, fundadora da “estrada da liberdade”, que viabilizou a fuga de inúmeros escravos; Gabriel Prosser, organizador de uma das maiores rebeliões de escravos na Virgínia; as sufragistas Frances Harper, Susan B. Anthony e Elizabeth Cady Stanton; os ativistas César Chávez,
Sessões especiais líder sindical e fundador, junto com Dolores Huerta, da National Farmers Workers Association [Associação Nacional de Trabalhadores do Campo], e Frank H. Little, um dos líderes da organização sindicalista Industrial Workers of the World [Trabalhadores Industriais do Mundo]; entre vários outros. De forma poética, a informação dos monumentos e túmulos é intercalada por imagens do vento agitando galhos de árvores e animações desenhadas a lápis. Muitos dos jazigos resistem ao tempo em condições precárias e são de difícil acesso, tornando A busca do lucro... um registro histórico indispensável. A projeção do filme ocorrerá a partir de uma cópia digital, único formato de exibição de uma obra que espera por financiamento para uma nova digitalização do material original. Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia).
O mundo em perigo
Them! Gordon Douglas | EUA | 1954, 94’, DCP No Novo México, testes atômicos em fase inicial fazem com que formigas comuns se transformem em monstros gigantes devoradores de gente. Agora, o FBI, os cientistas e as forças armadas devem encontrar uma maneira de chegar à rainha das formigas para matá-la antes de seu acasalamento, o que povoaria a terra com os insetos mortais. Sucesso de público e crítica, esse é um dos filmes mais reconhecidos da carreira do diretor Gordon Douglas, que inclui musicais, westerns e dramas policias. De acordo com o catálogo de longas-metragens do American Film Institute, pesquisas modernas creditam O mundo em perigo como o primeiro longa-metragem de insetos gigantes. Segundo o catálogo, “o técnico Dick Smith, do estúdio Warner Bros., projetou dois modelos ‘em tamanho real’ de formigas enormes, que eram controladas por cordas e roldanas, para interagir com os atores. Filmagens de modelos menores e de formigas de verdade, ampliadas para parecerem ter entre dois e quatro metros de comprimento, foram intercalados com o resto do filme.” [A página do catálogo dedicada ao filme está disponível, em inglês, em: bit.ly/afithem] Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia).
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caminhada, nós tínhamos uma cena – era uma cena maravilhosa, Edward Bond, o roteirista, quem pensou nisso – em que o garotinho chega ao topo da colina, olha para o mato e diz ‘Lá está o mar! É o mar, não é?’ E justo nesse momento toda a excitação e todas as dúvidas se unem. ‘É o mar, não é?’ Maravilhoso! Isso vale um maldito roteiro, para mim.” [Íntegra da entrevista de Nicolas Roeg, em inglês: bit.ly/nrcaminhada] Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia).
A longa caminhada
Walkabout Nicolas Roeg | Reino Unido, Austrália | 1971, 100’, DCP Uma adolescente e seu irmão pequeno vagam no interior da Austrália e precisam sobreviver em meio à natureza. No caminho, eles encontram um jovem aborígene em sua caminhada, um rito de passagem no qual os jovens nativos são iniciados na idade adulta viajando pelo deserto sozinho. “Eu gosto de pôr as pessoas contra um pano de fundo desconhecido”, declarou o diretor em entrevista de 1980 para a revista American Film. “Eu acho que o pano de fundo pode ser tremendamente usado pelo ator. Faz com que ele se destaque. Eu não quero que os personagens se fundam com o ambiente. Em um lugar desconhecido, eles não têm como não se relacionar de forma diferente, até que o foco da sua concentração vá para o próprio problema, que é a história. Em um lugar estranho, você precisa ficar constantemente checando a realidade. Não é exatamente a mesma. Eu me lembro que, em A longa 13
Bye bye Brasil
Carlos Diegues | Brasil | 1980, 100’, 35 mm Uma trupe de artistas ambulantes viaja pelo interior do Brasil. Um caminhão colorido carrega a Caravana Rolidei e suas atrações – Salomé, a Rainha da Rumba, Lorde Cigano, o Imperador dos Mágicos e dos Videntes, e Andorinha, o Rei dos Músculos. A eles se juntam o sanfoneiro Ciço e sua esposa, Dasdô. Fazendo espetáculos e fugindo da concorrência da televisão, atravessam o Nordeste e o Norte do país, do vale do São Francisco até a rodovia Transamazônica. Com José Wilker, Betty Faria e Fábio Júnior no elenco, a equipe viajou por cerca de 15 mil quilômetros para filmar o trajeto da caravana. Em texto publicado na edição de 3 de fevereiro de 1980 do Jornal do Brasil, cerca de duas semanas antes da estreia comercial do filme, Carlos Diegues escreve: “Bye bye Brasil é o meu sonho sobre isso que se convencionou chamar de realidade brasileira. Ou seja, mais uma modesta versão pessoal, uma das muitas versões possíveis sobre alguns aspectos do que ocorre com o mundo e as pessoas mais próximas de mim. [...] Só que agora a mágica do cinema, o mistério da sua luz, captura um país em transe, onde convivem no mesmo espaço/tempo o moderno e o arcaico, a riqueza e a pobreza, a selva e a poluição, a comédia e a tragédia, numa situação-limite que pode estar anunciando a civilização do século XXI. Porque, embora o coração tente me dizer que o apocalipse já começou, é preciso acreditar que ele é inevitável e que a soma de cada uma de nossas esperanças será o seu principal bloqueio. Se cada um de nós acreditar firmemente que a autodes-
Nelson Pereira em cartaz truição não é uma fatalidade da história humana, talvez aí comecem a dar certo as mágicas trabalhadas pelos alquimistas dos anos 1960. Talvez aí a ideia brilhe vitoriosa sobre a mesquinhez dos interesses. Atormentada obsessão daqueles alquimistas, o Brasil é o personagem principal deste filme. Um Brasil que você ainda não viu, que surpreende a mim mesmo sempre que revejo. Acabou-se o tempo da pirraça. Bye bye Brasil é um filme onde se procura demonstrar que só é possível transformar a partir do transformado, com prazer e direito à felicidade. O cinema não pode ser uma reflexão olímpica sobre a realidade, ele precisa ser um dos reflexos dela.” O filme fez parte da seleção oficial do Festival de Cannes, em 1980, após um período de nove anos sem produções brasileiras indicadas para o evento. [Íntegra do texto de Carlos Diegues em: bit.ly/cdbye] Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia).
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Memórias do cárcere
Nelson Pereira dos Santos | Brasil | 1984, 189’, 35 mm Em março de 1936, o escritor Graciliano Ramos, então diretor de instrução do estado de Alagoas, foi detido sem processo, sob suspeita de ter participado da Aliança Nacional Libertadora, reunião de diferentes tendências de esquerda em oposição ao governo de Getúlio Vargas. Graciliano deixou em Memórias do cárcere um cuidadoso relato da prisão em Maceió, do período em que ficou no quartel do exército do Recife, da viagem de navio para a Casa de Detenção no Rio de Janeiro, e daí para a colônia penal da ilha Grande. Nesse “testemunho generoso, aberto”, inspira-se o filme de Nelson Pereira dos Santos para mostrar “o cárcere como uma metáfora da sociedade brasileira”, segundo o diretor. Memórias do cárcere é um dos títulos da Coleção DVD IMS. O crítico e idealizador da coleção, José Carlos Avellar, escreve no livreto que acompanha o DVD: “Na abertura, o Hino Nacional. No encerramento, o Hino Nacional. A história se
passa aí no meio. O hino, na verdade, não é propriamente o hino – não é o hino tal como ele é, mas tal como permanece esquecido num canto da memória. É uma reconstrução, uma variação sinfônica a partir do tema do nosso. A música chega aos ouvidos sem o ar solene de um canto à nacionalidade. Tem algo de solene, sim (a começar pelo título, ‘Marcha solene brasileira’): o peso da sonoridade da orquestra. Tem algo de canto à nacionalidade, sim: a lembrança de um verso que já cantamos um dia. É o Hino Nacional que está ali, no começo de Memórias do cárcere, e de novo no final. Mas soa de modo diferente. Não canta a grandeza da pátria. O hino, aqui, limita a nacionalidade, marca o espaço. Define o local da ação. O cárcere é o país. O país é um cárcere.” Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia).
coleção DVD | IMS
Criada em 2012 pelo então coordenador de cinema José Carlos Avellar (1936-2016), a coleção DVD | IMS já lançou diversos filmes, entre produções brasileiras e estrangeiras.
Box Graciliano Ramos
Este box reúne os três títulos da coleção de DVDs do Instituto Moreira Salles baseados em obras literárias do escritor Graciliano Ramos: Vidas secas Nelson Pereira dos Santos | Brasil | 1963, 103’ São Bernardo Leon Hirszman | Brasil | 1972, 111’ Memórias do cárcere Nelson Pereira dos Santos | Brasil | 1984, 189’ Os DVDs incluem livretos com textos de Nelson Pereira dos Santos, José Carlos Avellar, Júlio Bressane e Jean-Claude Bernadet.
O futebol, de Sergio Oksman O botão de pérola e Nostalgia da luz, de Patricio Guzmán Photo: Os grandes movimentos fotográficos Homem comum, de Carlos Nader Vinicius de Moraes, um rapaz de família, de Susana Moraes Últimas conversas e Cabra marcado para morrer, de Eduardo Coutinho A viagem dos comediantes, de Theo Angelopoulos Imagens do inconsciente e São Bernardo, de Leon Hirszman Os dias com ele, de Maria Clara Escobar A tristeza e a piedade, de Marcel Ophüls Os três volumes da série Contatos: A grande tradição do fotojornalismo; A renovação da fotografia contemporânea; A fotografia conceitual La Luna, de Bernardo Bertolucci Cerimônia de casamento, de Robert Altman Conterrâneos velhos de guerra, de Vladimir Carvalho
Vidas secas e Memórias do cárcere, de Nelson Pereira dos Santos O emprego, de Ermanno Olmi Iracema, de Jorge Bodanzky e Orlando Senna Cerimônia secreta, de Joseph Losey As praias de Agnès, de Agnès Varda A pirâmide humana e Cocorico! Mr. Poulet, de Jean Rouch Diário 1973-1983 e Diário revisitado 1990-1999, de David Perlov Elena, de Petra Costa A batalha de Argel, de Gillo Pontecorvo Libertários, de Lauro Escorel, e Chapeleiros, de Adrian Cooper Seis lições de desenho com William Kentridge Sudoeste, de Eduardo Nunes Shoah, de Claude Lanzmann Memórias do subdesenvolvimento, de Tomás Gutiérrez Alea E três edições voltadas à poesia: Poema sujo, dedicado a Ferreira Gullar; Vida e verso e Consideração do poema, dedicados a Carlos Drummond de Andrade.
Os DVDs podem ser adquiridos nas livrarias especializadas, nas lojas dos nossos centros culturais e na loja on-line do IMS: bit.ly/imsdvd. 15
Curadoria de cinema Kleber Mendonça Filho Programação de cinema e DVD Barbara Alves Rangel Programadores assistentes Ligia Gabarra e Thiago Gallego Projeção Ana Clara Costa e Lucas Gonçalves de Souza
Os filmes de julho
Meia-entrada
O programa de junho tem o apoio do Festival Olhar de Cinema, Festival Anima Mundi, da Regina Filmes, da LC Barreto Produções Cinematográficas, do Arquivo Nacional e das distribuidoras Imovision, Vitrine Filmes, Pandora Filmes, Screenbound, Park Circus e do Espaço Itaú de Cinema. E dedica agradecimentos a Marcia Pereira dos Santos, Diogo Dahl, Letícia Monte e Fernando de Mendonça.
Com apresentação de documentos comprobatórios para professores da rede pública, estudantes, crianças de 3 a 12 anos, pessoas com deficiência, portadores de Identidade Jovem e maiores de 60 anos. Venda de ingressos
apoios Anima Mundi A 27ª edição do Anima Mundi acontece em São Paulo entre os dias 24 e 28 de julho, e o Instituto Moreira Salles participa com uma seleção especial de curtas e longas de animação que sintetizam o universo dos filmes animados, em suas diferentes técnicas, narrativas e temas.
Sessão Mutual Films
Nelson Pereira em cartaz
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Ingressos à venda pelo site ingresso. com ou na bilheteria, para sessões do mesmo dia. Desconto para o titular ao comprar o ingresso com o cartão Itaú (crédito ou débito). Ingressos e senhas sujeitos à lotação da sala. Capacidade da sala: 145 lugares. Devolução de ingressos Em casos de cancelamento de sessões por problemas técnicos e por falta de energia elétrica, os ingressos serão devolvidos. A devolução de entradas adquiridas pelo ingresso.com será feita pelo site. Programa sujeito a alterações. Eventuais mudanças serão informadas em facebook.com/ cinemaims e ims.com.br. Não é permitido o acesso com mochilas ou bolsas grandes, guarda-chuva, bebidas ou alimentos. Use nosso guarda-volumes gratuito. Confira a classificação indicativa no site do IMS.
Bye bye Brasil, de Carlos Diegues (Brasil | 1980, 100’, 35 mm)
A palavra (Ordet), de Carl Theodor Dreyer (Dinamarca | 1955, 125’, 35 mm para DCP)
Terça a sábado, sessões de cinema até as 22h; domingos e feriados, até as 20h. Visitação, Biblioteca, Balaio IMS Café e Livraria da Travessa Terça a domingo, inclusive feriados (exceto segundas), das 10h às 20h; quintas, até as 22h. Última admissão: 30 minutos antes do encerramento. Entrada gratuita.
Avenida Paulista 2424 CEP 01310-300 Bela Vista – São Paulo tel: (11) 2842-9120 imspaulista@ims.com.br
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