IMS Paulista: os filmes de fevereiro/2020

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cinema fev.2020


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16:00 Nós (120’) 19:00 Yumeji (139’) 21:30 O filme do runo leixo

16:00 Nós (120’) 19:00 Pistol Ópera (112’) 21:30 O filme do runo leixo

16:00 Nós (120’) 19:00 rincesa uaxinim 101 21:30 O filme do runo leixo

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O filme do runo leixo Parasita (132’) Mulheres diabólicas (111’) Nós (120’)

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O filme do runo leixo Nós (120’) O filme do runo leixo Nós (120’)

14:00 O filme do runo leixo 16:00 Modo de rodução 5 19:00 Sessão Cinética: Curtas-metragens de Bárbara Wagner e Benjamin de Burca (109’), seguidos de debate com os criticos da revista

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14:00 O filme do runo leixo

14:00 O filme do runo leixo 16:00 Modo de produção 5 17:45 ntologia da cidade fantasma 20:00 Modo de produção 5 21:30 ntologia da cidade fantasma

14:00 Nós (120’) 16:30 Parasita (132’) 19:00 EQUIVALÊNCIAS: aprender vivendo (96’) 21:00 ntologia da cidade fantasma

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14:00 Nós (120’) 16:30 Parasita (132’) 19:15 Modo de produção

14:00 Nós (120’) 16:30 Parasita (132’) 19:15 Modo de produção 5 21:00 ntologia da cidade fantasma

14:00 ntologia da cidade fantasma 16:00 Você não estava aqui (100’) 18:00 Modo de produção 5 19:30 Você não estava aqui (100’) 21:30 ntologia da cidade fantasma

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Nosso sangue não perdoa Tóquio violenta (83’) Elegia da briga (86’) A juventude da besta (92’)

8 O filme do runo leixo Nós (120’) O filme do runo leixo Nós (120’)

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16:00 A marca do assassino (91’) 18:00 História de melancolia e tristeza (91’) 20:00 Portal da carne (90’)

9 Imagens de uma revolução (93’) Zigeunerweisen (144’) Kagero-za (139’) Yumeji (139’)

15:30 O filme do runo leixo 17:30 Pistol Ópera (112’) 20:00 rincesa uaxinim 101

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14:00 O filme do runo leixo 16:00 Modo de produção 5 17:45 ntologia da cidade fantasma 20:00 Modo de produção 5 21:30 ntologia da cidade fantasma

11:00 Imagens de uma revolução (93’) 14:00 O filme do runo leixo 16:00 EQUIVALÊNCIAS: aprender vivendo, com apresentação de Maureen Bisiliat (96’) 20:00 Modo de produção 5 21:30 ntologia da cidade fantasma

14:00 O filme do runo leixo 16:00 Mulheres diabólicas (111’) 19:00 Parasita (132’)

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14:00 Nós (120’) 16:30 Parasita (132’) 19:15 Modo de produção 5 21:00 ntologia da cidade fantasma

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14:00 Nós (120’) 16:30 Parasita (132’) 19:15 Modo de produção

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14:00 ntologia da cidade fantasma 16:00 Você não estava aqui (100’) 18:00 Modo de produção 5 19:30 Você não estava aqui (100’) 21:30 ntologia da cidade fantasma

14:00 ntologia da cidade fantasma 16:00 Curtas-metragens de Bárbara Wagner e Benjamin de Burca (109’) 18:00 Modo de produção 5 19:30 Você não estava aqui (100’) 21:30 ntologia da cidade fantasma

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Programa sujeito a alterações. Eventuais mudanças serão informadas em facebook.com/ cinemaims e ims.com.br.


Pistol Ópera (Pisoturo Opera), de Seijun Suzuki (Japão | 2001, 112’, 35 mm) [capa] Swinguerra, de Bárbara Wagner e Benjamin de Burca (Brasil | 2019, 22’, DCP)


destaques de fevereiro 2020 Ao receber a Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2019 por Parasita, o diretor Bong Joon-ho nomeou os franceses Claude Chabrol e Henri-Georges Clouzot como grandes influências de seu cinema. Em paralelo ao longa coreano, o cinema do IMS propõe um diálogo com um dos últimos filmes de Chabrol, Mulheres diabólicas, exibido em cópia em 35 mm. A exploração do trabalho é abordada em duas estreias deste mês. O documentário Modo de produção, de Dea Ferraz, retrata o Sindicato de Trabalhadores Rurais de Ipojuca e uma promessa de desenvolvimento em torno do porto de Suape. Já o longa Você não estava aqui, de Ken Loach, tem como personagem um pai de família que investe seus últimos recursos para trabalhar como entregador autônomo. Mais recente lançamento da Coleção DVD | IMS, no filme EQUIVALÊNCIAS: aprender vivendo, a fotógrafa Maureen Bisilliat revisita seus mais de 60 anos de trabalho. No dia 15, a exibição do filme será apresentada pela fotógrafa e diretora.

Parasita (Gisaengchung), de Bong Joon-ho (Coreia do Sul | 2019, 132’, DCP)

Modo de produção, de Dea Ferraz (Brasil | 2017, 75’, DCP)

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RISE, de Bárbara Wagner e Benjamin de Burca (Brasil, EUA, Canadá | 2018, 20’, DCP)


O corpo em estado de imagem por Hermano Callou

Na abertura da apresentação do grupo de swingueira do Recife Cia. Extremo, ouvimos um locutor falar, acompanhado por um teclado solene e sintetizadores, segundos antes do início do espetáculo: “Brasil. Um país maravilhoso. Realmente devemos honrar o que está escrito na bandeira: ordem e progresso.” No centro da cena, encontra-se Eduarda Lemos, modelo e bailarina, mulher trans negra, protagonista de Swinguerra (Bárbara Wagner e Benjamin de Burca, 2019). A sua presença é a de uma diva pop, que tem pleno domínio sobre sua própria imagem. O seu semblante na abertura é, contudo, o de uma guerreira. Com a mão firme sobre a testa, bate continência. Filme mais recente dos artistas visuais Bárbara Wagner e Benjamin de Burca, Swinguerra é um estudo sobre a cena de swingueira, brega-funk e passinho dos maloka do Recife, que tem se desenvolvido nos últimos anos nas periferias da cidade. Anualmente, os grupos se encontram em competições locais e intermunicipais, em que disputam com suas próprias coreografias, figurinos e cenografia, em 2

um sistema de validação reminiscente dos desfiles de escolas de samba. O filme dedica-se a reencenar as apresentações de três grupos – a Cia. Extremo, o Grupo La Mafia e o Bonde do Passinho –, que se preparam para as disputas em rituais coletivos de concentração, disciplina e rigor, que são dramatizados no filme. Os grupos dividem-se em formações “de meninos” e “de meninas”, que dançam frequentemente segundo modelos de gênero estereotipados. As classificações dos integrantes da Cia. Extremo, contudo, subvertem o que parecia uma divisão normativa entre dois gêneros: a “formação das meninas” é composta, sobretudo, por mulheres trans, queers e não binárias, assim como os “meninos” não se conformam à imagem hegemônica de masculinidade que seus movimentos parodiam. A hipótese de Swinguerra é de que tal universo oferece uma imagem exuberante de um país contraditório, que acabara de assistir à ascensão do bolsonarismo. Os grupos presentificam em suas apresentações uma certa forma de imaginar e

constituir em cena a coletividade, que remete, às vezes, às fantasias de um corpo social harmônico, com posições de gênero bem marcadas, que anima o imaginário conservador. Os movimentos de quadril, bunda e virilha convivem, em desconcertante naturalidade, com o imaginário militarista de um corpo coletivo treinado, ordenado e sincronizado. A violência é também uma questão onipresente. Em uma das coreografias do grupo La Máfia, garotos simulam armas de fogo com as mãos, sob o som de “DJ Binho do Coque, o pai da facção”. Em outra cena, duas mulheres trans ensaiam passos de dança com nomes sintomáticos – “faz a chateada”, “chuta, não me toca”, “sai daqui que eu tô na paz” etc. –, sugerindo formas de se impor e de se afirmar em um cotidiano hostil, permeado de violência. A dança em Swinguerra torna-se a cifra de um país que ainda não fomos capazes de entender. Neste mês, a Sessão Cinética mostra o novo filme de Wagner e De Burca em conjunto com quatro outros trabalhos. Artistas visuais de grande visibilidade,


a sua presença ainda é limitada no campo de cinema, se levarmos em consideração a relevância de seu trabalho. Em uma década particularmente rica do cinema brasileiro como a de 2010, são poucos os cineastas que produziram uma obra tão vigorosa e arriscada. A pesquisa artística de Wagner e De Burca teve como ponto de partida o conceito de cultura popular, noção fundamental para a formação dos imaginários nacionais e regionais brasileiros, matriz de ideias politicamente significativas, como identidade, tradição, comunidade, pertencimento e autenticidade. O olhar dos artistas desloca-se, contudo, para formas de viver o corpo, a música e a dança que ocorrem nas bordas tanto da cultura popular oficial quanto da indústria fonográfica, espaços onde uma certa ideia normativa do “popular” é desarticulada e reinventada. O método de Wagner e De Burca é o de uma etnografia de ficção, em que a postura de observação do documentário convive com os artifícios do musical. Os seus filmes são sempre um convite a prestar atenção ao corpo, 3


quando ele entra em estado de imagem: os seus modos de vestir-se e enfeitar-se, as suas maneiras, as suas poses, as suas marcas, as formas com que presentificam os tempos e os lugares mais diversos. A sessão tem como filme de abertura um dos trabalhos mais conhecidos da dupla, Estás vendo coisas (2016). Estudo sobre a cena da música brega do Recife, o filme é um dos retratos mais fascinantes da classe trabalhadora brasileira feito nos últimos anos. Dayana Paixão é cantora, mas trabalha como bombeira, Porck é MC, mas de dia é cabeleireiro. As suas canções falam de amor, sexo, ciúme, traição, mas também de luxo, poder e de um sentimento vago, mas sugestivo, de que tudo pode não passar de uma miragem. Filmado em um momento onde o “horizonte de expectativas” do país ainda parecia vasto, mas que a crise econômica e política trataria de encurtar brutalmente, é difícil revisitar o filme sem sentir uma certa melancolia por seu mundo reluzente, em que trabalhadores antecipam no palco um pouco do futuro brilhante que eles anseiam. O filme demonstra uma 4

capacidade bastante aguçada de enxergar nos clubes de brega dos subúrbios da cidade um certo imaginário futurista, com seus letreiros néon, suas luzes estroboscópicas e suas telas onipresentes, em que até mesmo as roupas de marca, as correntes de ouro falso e os adereços dos cantores parecem vir de um futuro radiante, marcado pela ascensão social. O ponto de partida do filme realizado em seguida foi o gênero musical Schlager, da Alemanha. Bye Bye Deutschland! Eine Lebensmelodie (2017) mostra um casal de covers de Munique que personifica cantores célebres do gênero, em cenas de musical criadas colaborativamente com os artistas. Os personagens imaginam em suas performances duplos de si mesmos, que desfilam por cenas suntuosas, em que o cotidiano cinza do mundo do trabalho e da família foi suspenso. Como no filme anterior, descortina-se uma sensibilidade que tensiona com a própria distinção de bom e mau gosto. As fantasias dos personagens, contudo, são outras, que revelam agora imaginários com outro lastro cultural e social: uma vida sentimental exuberante,

onde florestas tropicais, igrejas majestosas e pianos de cauda são signos de esplendor. Terremoto santo (2017) é possivelmente o filme mais arriscado e provocador do grupo. A partir do contato com a gravadora de música gospel Mata Sul, Wagner e De Burca conheceram um grupo de jovens cantores evangélicos da Zona da Mata de Pernambuco, parte de uma classe média emergente que frequenta as igrejas pentecostais da região. Como nos outros trabalhos dos artistas, os personagens foram chamados a colaborar com a criação de uma série de performances musicais, que eles protagonizam. As cenas apresentam um mundo de artifício, em que as lógicas do espetáculo e do rito, do palco e do altar, são indissociáveis. Em uma fotografia de cores e nitidez publicitária, o filme nos convida a escutar as orações e canções como práticas de cuidado de si, profundamente imbricadas na luta diária pela emancipação espiritual e material dos personagens, que vivem em uma das regiões do país onde mais se faz presente a memória da violência


colonial. Num momento em que o setor evangélico se tornou um ator político de maior relevância no país, Terremoto santo oferece um retrato empático e ambivalente de uma parte do segmento distante das grandes igrejas e centros de poder, integrada por pessoas que encontraram na religião um forma de transformar as suas condições de vida. A posição de RISE na obra de Wagner e De Burca, por sua vez, parece de início um tanto ambígua. Os últimos três filmes se debruçam sobre gêneros musicais estigmatizados, formas de viver a música que revelam o próprio caráter conflitivo e classista da experiência social do gosto. RISE, no entanto, parte de um ambiente de criação com uma moldura institucional legitimada socialmente. O título refere-se ao movimento homônimo sediado em Toronto, criado pelo poeta canadense Randell Adjei, em torno da prática da spoken word. O projeto é uma plataforma de encontros, em que jovens, em sua maioria pertencente à primeira geração de descendentes africanos e caribenhos nascidos no Canadá, narram 5

suas experiências pessoais e constroem sua própria identidade a partir da palavra. O olhar do filme sobre o universo, contudo, parece conservar certa desconfiança da retórica do movimento. Na única cena em que vemos o idealizador do projeto, ele se encontra no centro de uma roda de participantes. A sua fala é a de um líder motivacional, movido por um entusiasmo eloquente, mas um tanto pomposo. “Você pode ser a mudança ou permanecer em silêncio”, repete, em um discurso que glorifica a função redentora da palavra. O primeiro plano de RISE mostra a imagem do poeta indígena canadense Duke Redbird em um monitor localizado na estação vazia de metrô de Toronto onde o trabalho foi filmado. Ele recita um poema de título sugestivo, “O espelho”. A repetição do mesmo dispositivo cênico no fim do trabalho o coloca em evidência: o plano final mostra Redbird concluindo o poema, segundos antes da tela desligar-se subitamente. Wagner e De Burca utilizam um procedimento de ênfase, anômalo em sua obra, que determina a função privilegiada do poema na obra. Em um filme em que

jovens talentosos enunciam pela música e pela poesia suas identidades individuais e coletivas, trata-se de um gesto significativo trazer para o centro do filme um poema que fala, justamente, do espelho: a nossa imagem refletida, diz o poema, é uma “máscara zombadora”, que “envolve e esconde”, antes de mostrar e revelar. O poema remete, curiosamente, à canção do Conde do Brega, que toca sob os créditos de Estás vendo coisas. As palavras do compositor do Recife tocam em um único filme da sessão, mas parecem comentar, contudo, todos eles: “Vou mudar,/ um dia você mesmo vai dizer,/ quem eras, quem tu sois, é uma miragem,/ podes crer.// Vou mudar,/ um dia você mesmo vai se ver/ diante do espelho do poder.” O cinema de Wagner e De Burca parece nos provocar a cada trabalho, justamente, a fitar a miragem.


Retrospectiva Seijun Suzuki Até o dia 9 de fevereiro, o cinema do IMS Paulista recebe uma retrospectiva do cineasta japonês Seijun Suzuki (1923-2017), que ficou conhecido por seu trabalho iconoclasta e seu senso de humor particular, além de trabalhar com a desconstrução espaço-temporal em filmes como Tóquio violenta e Portal da carne. Suzuki teve uma carreira longeva de cerca de 50 anos, quando produziu filmes formativos para nomes como Quentin Tarantino, Jim Jarmusch e Takeshi Kitano. A mostra é feita em co-realização com a Fundação Japão, e exibe em maioria, filmes em 35 mm. As sinopses foram escritas pelo crítico Ruy Gardnier. Entrada gratuita. Sujeita à lotação da sala. Ingressos distribuídos 1 hora antes de cada sessão. Uma senha por pessoa.

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A juventude da besta

Portal da carne

Joji Mizuno era policial até ir para a cadeia, vítima de uma cilada da Yakuza. Depois de cumprir a pena, ele tem notícias da morte de um amigo, no que parece ter sido um duplo suicídio. Desconfiado, ele fará de tudo para descobrir a verdade sobre a morte do amigo. Assim, ele começa a agir como um bandido brutal, até chamar a atenção de um chefe da Yakuza, que o chama para a organização. Uma vez lá, ele começa a negociar com uma facção rival e cria situações para instigar uma guerra de gangues, ganhando muito dinheiro e status, enquanto os dois grupos se esfacelam. Será Mizuno desmascarado antes de descobrir como morreu seu amigo? A juventude da besta é considerado um marco na obra de Suzuki pelo modo como o estilo visual excêntrico começa a tender para a abstração, sendo o início do momento mais rico da primeira metade de sua carreira.

Alguns anos depois do fim da 2ª Guerra Mundial, um grupo de prostitutas habita um bairro sujo e destroçado. Elas moram num prédio em ruínas e seguem um código de comportamento severo, que envolve a proteção do território, a recusa de cafetões e a proibição estrita de fazer sexo não remunerado. Maya, uma jovem que perdeu toda a família na guerra, aparece por lá e começa a fazer parte do grupo. Em seguida, chega Shintaro, um ladrão que matou um soldado americano do exército de ocupação. Como ele está baleado e muito fraco, elas permitem que ele se esconda no prédio. À medida que o tempo passa, as mulheres passam a desenvolver sentimentos conflitantes em relação a Shintaro, especialmente Maya. Mas apaixonar-se é um tabu, e isso pode levar à expulsão dos dois do grupo. Segunda adaptação cinematográfica do popular romance homônimo de Taijiro Tamura, publicado em 1947.

Yaju no seishun Seijun Suzuki | Japão | 1963, 92’, DCP

Nikutai no mon Seijun Suzuki | Japão | 1964, 90’, DCP


© 1964 Nikkatsu Corporation

© 1966 Nikkatsu Corporation

© 1966 Nikkatsu Corporation

Nosso sangue não perdoa

Tóquio violenta

Elegia da briga

Ryota e Shinji eram crianças quando o pai deles foi assassinado pela Yakuza. Em seu leito de morte, a vontade final do pai foi que seus filhos jamais entrassem para a organização criminosa. Dezoito anos passados, o clamor de vingança reaparece. Ryota não obedeceu aos desígnios do pai e é um eficiente chefe na Yakuza, apesar da fachada de empresário bem-sucedido e da reputação de chefe de família. Shinji, por sua vez, trabalha como publicitário, mas seu sangue quente faz com que ele também se sinta tentado a flertar com o mundo do crime, principalmente depois que é demitido do emprego por suas arruaças. Ryota fará de tudo para que seu irmão menor não enverede pelas mesmas vias que ele. Mas, quando os dois irmãos têm a chance de fazer justiça a seu pai, eles se unem, e a narrativa conduz a um desfecho violento.

Kurata, um chefe da Yakuza, decide abandonar as atividades criminosas e dedicar-se apenas aos negócios lícitos. Ele desmembra seu grupo, mas Tetsuya “Phoenix Tetsu” Hondo, seu fiel escudeiro, decide acompanhá-lo. Depois de recusar a oferta de participar do clã Yakuza liderado por Otsuka, Tetsu começa a ser vítima de atentados, mas sempre escapa. Kurata convence Tetsu a sair de Tóquio e virar um andarilho, evitando assim novos ataques. Tetsu obedece, mas os atentados continuam, aonde quer que ele vá. Quando se encontra com Umetani, um aliado de Kurata, Tetsu descobre que seu antigo chefe uniu-se a Otsuka para matá-lo. Sentindo-se traído, o andarilho volta a Tóquio para confrontar-se com todos aqueles que planejaram matá-lo. Tóquio violenta é um dos filmes mais delirantes de Suzuki, e talvez aquele em que ele vai mais longe no uso da abstração e da cor em seu período na Nikkatsu.

Okayama, anos 1930. O jovem Kiroku frequenta o ensino médio e fica hospedado na casa de uma família católica. Ele se apaixona por Michiko, a filha da família. Incapaz de expressar seus sentimentos, por timidez e culpa católica, Kiroku canaliza sua libido na violência. Ele faz amizade com Turtle, um arruaceiro da área, aprende a lutar e entra para uma gangue da escola, a OSMS. Sua vida é brigar com as outras gangues da escola. Depois que Turtle desentende-se com o líder do bando, Kiroku assume a liderança do grupo e impõe um severo regime de desobediência total às regras da escola, além de proscrever o convívio com mulheres. Posteriormente, Kiroku é expulso e foge de Okayama junto com Turtle. Kiroku vai morar com seus tios em Fukushima e retoma a escola, mas novamente tenta entrar em gangues da área. Roteiro adaptado por Kaneto Shindo para o romance de Takashi Suzuki, tendo como âncora histórica a tentativa de golpe de Estado pelo exército imperial, em fevereiro de 1936.

Oretachi no chi ga yurusanai Seijun Suzuki | Japão | 1964, 97’, 35 mm

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Tokyo Nagramono Seijun Suzuki | Japão | 1966, 83’, 35 mm

Kenka erejii Seijun Suzuki | Japão | 1966, 86’, 35 mm


A marca do assassino

Zigeunerweisen

Goro Hanada é o “Número 3” no ranking de assassinos de aluguel do submundo japonês. Chegando a Tóquio, ele reencontra Kasuga, um ex-assassino de aluguel que trabalha como taxista. Juntos, eles são contratados para escoltar um cliente até Nagano. No trajeto, eles sofrem uma série de emboscadas, em que estão envolvidos o “Número 2” e o “Número 4” do ranking, que morrem no tiroteio. Ninguém conhece a identidade do “Número 1”, mas supõe-se que ele também esteja envolvido no esquema. Na volta para casa, ele conhece Misako, uma mulher misteriosa com obsessão por coisas mortas. Ela oferece a Hanada um contrato para matar quatro pessoas. Por causa de uma borboleta que pousa no cano de sua arma, ele erra o último alvo e precisa se esconder para continuar vivo. O estilo selvagem e elíptico do filme levou Suzuki a ser banido da indústria, por ter realizado uma obra “incompreensível”. Hoje, o filme é considerado um marco de invenção formal, fonte de inspiração para incontáveis cineastas.

Aochi, um professor universitário de alemão, encontra com seu antigo colega Nakasago quando viaja de férias para um vilarejo à beira-mar. Nakasago vive como nômade e é perseguido por um grupo local, acusado de ter seduzido e assassinado a mulher de um pescador. Depois que Aochi resolve a situação do amigo com a polícia, os dois jantam e conversam sobre a vida, acompanhados pela gueixa Koine. Seis meses depois, Aochi volta para visitar o amigo e descobre que ele está casado com Sono, uma mulher incrivelmente parecida com Koine. Repentinamente, Nakasago foge com Koine, abandonando Sono, que está grávida. Mas tudo pode ser sonho, delírio ou realidade. Acompanhando a trama, a peça musical “Zigeunerweisen” (1878), de Pablo de Sarasate, toca com insistência. Primeiro filme da “trilogia Taisho”, que faz referência ao Japão dos anos 1910-1920, foi vencedor de quatro prêmios da Academia Japonesa em 1981, incluindo os de Melhor Filme e Melhor Diretor.

Koroshi no rakuin Seijun Suzuki | Japão | 1967, 91’, 35 mm

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Zigeunerweisen Seijun Suzuki | Japão | 1980, 144’, 35 mm

História de melancolia e tristeza Hishu Monogatari Seijun Suzuki | Japão | 1977, 91’, 35 mm

Reiko Kashiwagi é uma modelo profissional. Ela é contratada e transformada em golfista por uma revista de moda que pretende usá-la como garota-propaganda de uma nova marca de roupas para golfe. Reiko sagra-se campeã logo em seu primeiro torneio e torna-se famosa da noite para o dia. Ela vira uma sensação televisiva, aparecendo frequentemente de biquíni e com um taco de golfe. Tudo começa a degringolar quando a sra. Semba, sua vizinha, desenvolve uma obsessão por Reiko, telefonando insistentemente e pedindo autógrafos no estúdio da TV. Saindo de uma noitada, Reiko e seu empresário atropelam acidentalmente a sra. Semba, e fogem sem prestar ajuda, temendo que o caso arruíne a carreira da modelo. Mas a sra. Semba sobrevive e passa a chantagear Reiko. Primeiro filme de Suzuki depois de dez anos de ostracismo, em estilo mais sereno e depurado, em comparação com as obras dos anos 1960.


Kagero-za

Kagero-za Seijun Suzuki | Japão | 1981, 139’, 35 mm Tóquio, 1926. Shunko Matsuzaki é um dramaturgo de teatro shinpa (moderno), e tem como mecenas o poderoso Tamawaki. Um dia, ele se depara com a bela Shinako numa ponte. Ela pede que Matsuzaki a acompanhe até o hospital para fazer uma visita a uma mulher moribunda. Ela deseja sua companhia pois tem medo de encontrar uma senhora vendedora de fisális, fruta que supostamente contém as almas das mulheres. Matsuzaki recusa, mas Shinako retorna em outras aparições, e torna-se sua amante. Em seguida, ela desaparece. Tempos depois, Matsuzaki descobre que Shinako pode ser o fantasma de uma antiga esposa de Tamawaki. Depois de receber uma carta de Shinako, Matsuzaki viaja para Kanazawa a fim de encontrá-la. No trem, ele encontra Tamawaki, que diz estar viajando para presenciar um suicídio por amor. Segundo filme da “trilogia Taisho”, que segue o mesmo estilo alucinatório do primeiro.

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Yumeji

Pistol Ópera

A vida ficcionalizada do pintor e poeta Yumeji Takehisa (1884-1934). Yumeji está em Kanazawa, esperando a chegada de sua amante Hikono, quando se depara com a bela viúva Tomoyo, que perambula pelas cercanias de um lago procurando o corpo de seu marido Wakiya, supostamente assassinado por um bandido. O pintor fica impressionado com Tomoyo e ajuda a viúva em sua busca. Em seguida, eles se tornam amantes. A trama fica mais complexa quando aparecem Matsu, o suposto bandido assassino, e a modelo Oyo, também amante de Yumeji. Até que o próprio Wakiya reaparece, sem que saibamos tratar-se de um fantasma ou de uma presença real. Último volume da “trilogia Taisho”, o filme intensifica os procedimentos oníricos e alucinatórios dos filmes anteriores, chamando mais a atenção para os elementos simbólicos e as atmosferas do que para a trama.

Miyuki Minazuki, apelidada de Gata de Rua, é a “Número 3” no Sindicato de Assassinos. Ela mora com sua avó, e sua arma preferida é uma pistola. Gata de Rua recebe suas ordens de Sayoko Uekyo, uma mulher enigmática de vestido branco. Ela parece confortável com sua posição no ranking, mas a rivalidade se intensifica quando o misterioso “Número 1”, apelidado de 100 Olhos, começa a atacar os outros assassinos que estão no topo da hierarquia. Quando Sayoko informa Gata de Rua de que 100 Olhos agora é um alvo para o sindicato, surge a oportunidade para matá-lo e assumir o primeiro lugar. Espécie de remake e continuação de A marca do assassino (Goro Hanada, protagonista em 1967, é agora “Número 0”, um conselheiro de Gata de Rua), o filme aplica o estilo tardio de Suzuki à matriz dos filmes de gângster que ele fazia na Nikkatsu, resultando num painel delirante de cores e ritmos, um balé ou uma ópera de sedução e morte.

Yumeji Seijun Suzuki | Japão | 1991, 128’, 35 mm

Pisoturo Opera Seijun Suzuki | Japão | 2001, 112’, 35 mm


Em cartaz Princesa Guaxinim

Operetta tanuki goten Seijun Suzuki | Japão | 2005, 101’, 35 mm A vida do príncipe Amechiyo está em risco depois que um profeta ou oráculo anuncia a seu pai, o lorde Azuchi Momoyama, que ele deixará de ser o mais belo entre todos os seres do universo. Lorde Azuchi ordena então que um monge vá até a Montanha Sagrada e mate o príncipe. Este é salvo por uma horda de guaxinins, que atacam o monge na floresta. A Princesa Guaxinim, em sua forma humana, encontra Amechiyo adormecido na floresta e cuida dele até que ele recobre os sentidos. No caminho para o palácio Guaxinim, a princesa fere seu pé numa armadilha, e agora é Amechiyo que salva sua vida. Os dois se apaixonam. Quando chegam ao palácio Guaxinim, os nobres rejeitam a união, pois é tabu que humanos e guaxinins possam se amar. Enquanto isso, lorde Azuchi descobre o paradeiro do filho e declara guerra ao reino guaxinim. Em seu último filme, Suzuki mergulha na fantasia do conto de fadas e da comédia musical, criando uma apoteose de cor e movimento.

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Antologia da cidade fantasma Répertoire des villes disparues Denis Côté | Canadá | 2019, 97’, DCP

Simon Dubé morre em um acidente de carro em Saint-Irénée-les-Neiges, cidade pequena e isolada, com uma população de 215 habitantes. Atordoados, os demais moradores relutam em discutir as circunstâncias da tragédia. Daquele momento em diante, tanto para a família Dubé quanto para várias outras pessoas, o tempo parece perder todo o sentido, e os dias se arrastam sem fim. Nesse período de luto e sob a neblina, estranhos começam a aparecer na cidade. Realizado a partir do romance homônimo de Laurence Olivier, o filme se inspira, nas palavras do diretor Denis Côté, na Quebec dos dias atuais. Em entrevista disponível no site da distribuidora Zeta Filmes, Côté declara: “Sinto que, hoje, as pessoas sentem muito medo de perder a sensação de conforto que a terra natal oferece. Esse medo se apresenta de várias maneiras, e nossa resistência à mudança é feroz. A ascensão do populismo

na mídia, a crise migratória, a relutância em se abrir para outras pessoas e o fechamento identitário são temas que me interessam. O livro de Laurence Olivier é uma coleção poética sobre extratos de vida e estórias desconexas; tentei manter este espírito. As mudanças e lágrimas que ocorrem no tecido social são fenômenos fascinantes, então criei uma estória com buracos nos quais o sobrenatural pode se infiltrar, introduzindo vários anticlímaxes. Não é um roteiro complexo, mas gosto de brincar com o tom; gosto quando as coisas não são fáceis de serem definidas ou categorizadas. Basicamente, queria escrever um roteiro sobre o Outro e o medo que ele inspira.” [Íntegra da entrevista em: bit.ly/antodc] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia).


O filme do Bruno Aleixo

João Moreira, Pedro Santo | Portugal | 2019, 92’, DCP Bruno Aleixo foi convidado a escrever um filme autobiográfico. Sem muitas ideias, resolveu pedir ajuda aos amigos mais próximos. O personagem, criado em 2008 por João Moreira e Pedro Santo, também diretores do longa, ficou conhecido em vídeos do YouTube, na rádio e na TV. Em entrevista a Luiza Wolf para a 43a Mostra de São Paulo, o diretor João Moreira comenta que, “quando recebemos o convite da produtora [O Som e a Fúria] para fazer o filme, consideramos que o Aleixo é que estava recebendo esse convite. E por isso que, no filme, o Luis Urbano, que é o próprio produtor, faz a proposta ao Bruno Aleixo.” “E pensamos que ele chamaria os amigos para ajudá-lo”, completa Pedro Santo. “E aí eles não entendem muito de cinema, mas usam referências de filmes que já viram. [...] As ideias que aparecem ali são dos personagens. Nós tentamos desconstruir os gêneros cinematográficos. Mas nós somos meros veículos daqueles personagens, então pensamos nas ideias que eles teriam e só fomos costurando isso no filme. Nós colocamos vários gêneros de filme ali e tivemos preocupações estéticas, mas fomos desconstruindo as narrativas do cinema.” [Íntegra da entrevista em: bit.ly/bamostra] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia).

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Modo de produção

Dea Ferraz | Brasil | 2017, 75’, DCP Um retrato do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Ipojuca, onde convergem histórias de burocracias, demissões e aposentadorias, além de um suposto sonho de desenvolvimento econômico-social que se avizinha com o porto de Suape. “Quando a gente pensou em fazer o filme, lá em 2013, ele tinha o desejo de começar a refletir e a questionar as escolhas de desenvolvimento socioeconômico que o país estava implementando, esse modelo de grandes obras, que tinha uma presença grande em Pernambuco”, relata a diretora Dea Ferraz. “A gente via que o governo vendia uma ideia de oásis brasileiro, tinha toda uma mística em torno de Suape, e a verdade é que nada mudava naquele entorno. Fora o trabalho braçal, que trazia operários temporários, a maior parte das pessoas que trabalhavam ali vinha de fora. Havia uma massa de pessoas que estava sendo movida o tempo todo por um sistema que lhes é imposto, pela necessidade de sobrevivência. A gente vai para dentro do sindicato muito mais entendendo o sindicato como um espaço de passagem daqueles trabalhadores.” [Entrevista completa no site Cine Festivais: bit.ly/ModoDeProdução] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia).

Nós

Us Jordan Peele | EUA | 2019, 120’, DCP Adelaide (Lupita Nyong’o) e Gabe (Winston Duke) decidem levar a família para passar um fim de semana na praia e descansar em uma casa de veraneio. Eles viajam com os filhos e começam a aproveitar a paisagem, mas a chegada de um grupo misterioso muda tudo. “Apliquei a ideia a nós enquanto comunidade e criei uma alegoria sobre o medo que os Estados Unidos têm do outro, juntando ao fato de que somos nosso pior inimigo”, explica o diretor Jordan Peele ao jornal O Globo. “Eu descreveria que minha missão como autor é apontar como as pessoas, quando em grupos, são capazes de se tornar os piores monstros. Claro que criamos coisas belíssimas, mas nossa habilidade de suprimir nossa própria responsabilidade nos leva ao ponto de reafirmar todo tipo de atrocidade.” [Entrevista completa: bit.ly/NósOGlobo] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia).


Parasita

Gisaengchung Bong Joon-ho | Coreia do Sul | 2019, 132’, DCP A família de Ki-taek está desempregada e vive precariamente em uma pequena casa subterrânea, até que seu filho mais velho passa a dar aulas de inglês a uma jovem rica. Indicado ao Oscar em seis categorias, incluindo a de Melhor Filme, Parasita foi o vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2019 e de Melhor Filme de Língua Estrangeira no Globo de Ouro em 2020. Ao receber este último prêmio, o diretor Bong Joon-ho fez uma provocação ao público americano: “Quando vocês ultrapassarem apenas alguns centímetros da barreira das legendas, vocês descobrirão tantos filmes incríveis”. Em entrevista à IstoÉ, o cineasta relata uma experiência que inspirou o roteiro: “Quando jovem, e ainda estava na faculdade, trabalhei como tutor na casa de uma família rica. Dava aulas particulares e, quando os pais não estavam, meu aluno me levava para conhecer os ambientes. Mostrou-me a sauna privativa, e aquilo me passou uma ideia de invasão de privacidade, como se eu fosse um voyeur, fantasiando sobre a vida daqueles estranhos. A ideia ficou comigo e, de alguma forma, germinou no que virou Parasita.” [Bong Joon-ho recebe o Globo de Ouro: bit.ly/GloboParasita; entrevista na IstoÉ: bit.ly/IstoÉParasita] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia). 12

Você não estava aqui

Sorry We Missed You Ken Loach | Reino Unido, França, Bélgica | 2019, 100’, DCP Ricky, Abby e seus dois filhos vivem em Newcastle, na Inglaterra. Enquanto ela trabalha diligentemente cuidando de idosos, ele só consegue trabalhos que pagam mal. Eles percebem que nunca se tornarão independentes ou mesmo donos de sua própria casa. Até que uma oportunidade aparece em meio à revolução digital. Abby vende seu carro para que Ricky possa comprar uma van e se tornar um motorista de entregas por conta própria. Mas os excessos dessa mudança terão grande repercussão em toda a família. Vencedor da Palma de Ouro por Eu, Daniel Blake (2016), o diretor Ken Loach conta como a pesquisa de seu filme anterior serviu de inspiração a Você não estava aqui: “Quando estávamos fazendo Daniel Blake, pesquisamos bancos de alimentos e ficamos chocados ao descobrir que muitas das pessoas que precisavam de ajuda estavam, de fato, trabalhando. Isso nos revelou

a quantidade de pessoas pobres trabalhando, e como essa situação está associada a um interesse de longo prazo, de como o trabalho passou de empregos seguros com horário regular – com benefícios, com férias, com atestados, com todos os ganhos que os sindicatos tinham feito ao longo dos anos – e vendo como isso agora foi corroído. E então, para pensarmos, qual é o efeito disso nas famílias? Porque as pessoas sustentam uma imagem pública sob estresse, mas quando chegam em casa esse estresse reaparece: eles não têm paciência com os filhos; eles não se veem até tarde da noite; eles estão exaustos; eles estão com fome; e é aí que o estresse e os problemas surgem.” [Entrevista completa em inglês no site do BFI: bit.ly/VocêNãoEstavaAqui] Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26 (inteira) e R$ 13 (meia).


Sessão Especial Mulheres diabólicas

La cérémonie Claude Chabrol | França | 1995, 111’, 35 mm Sophie (Sandrine Bonnaire) é contratada por Catherine Lelièvre (Jacqueline Bisset) para cuidar da rica mansão de sua família, no interior da França. Silenciosa e eficiente, Sophie logo faz amizade com Jeanne (Isabelle Huppert), responsável pelo correio local. O patriarca da família Lelièvre, Georges (Jean-Pierre Cassel), não aprova a proximidade entre as duas, e quando Melinda (Virginie Ledoyen), a filha mais velha, descobre o segredo de Sophie, o relacionamento cordial entre patrões e empregada acaba de vez. O diretor coreano Bong Joon-ho cita Mulheres diabólicas como uma das principais influências para criação de Parasita, filme indicado a seis categorias no Oscar de 2020, incluindo a de Melhor Filme. Ao receber a Palma de Ouro, no Festival de Cannes de 2019, Joon-ho disse: “Muito obrigado. Sinto-me muito honrado, sempre me inspirei muito no cinema francês, agradeço a Henri-Georges Clouzot e Claude Chabrol.” [Bong Joon-ho recebe a Palma de Ouro: bit.ly/BongChabrol] Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia).

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Sessão Cinética Curtas-metragens de Bárbara Wagner e Benjamin de Burca Neste mês, a Sessão Cinética mostra o mais novo filme de Bárbara Wagner e Benjamin de Burca, Swinguerra, em conjunto com mais quatro outros trabalhos da dupla, que transita entre as artes visuais e o cinema, como nota Hermano Callou. Sua pesquisa artística tem como ponto de partida o conceito de cultura popular, noção fundamental para a formação dos imaginários nacionais e regionais. O conjunto de filmes apresentados estuda o universo de gêneros como frevo, gospel, brega, swingueira e a Schlager, um tipo de música pop alemã. A primeira exibição do conjunto de filmes será seguida de debate com os críticos da revista Cinética. Ingressos: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia).

Terremoto santo

Bárbara Wagner e Benjamin de Burca | Brasil | 2017, 19’, DCP Em Terremoto santo, Bárbara Wagner e Benjamin de Burca estabeleceram parceria com uma gravadora de música gospel da cidade de Palmares, em Pernambuco, a fim de tratar dos aspectos sociais e estéticos da prática pentecostal. A liturgia dos cultos evangélicos é especialmente musical nessa região da Zona da Mata, marcada pela história da cana-deaçúcar e habitada por jovens que buscam nos cantos de louvor uma forma de trabalho.

Bye bye Deutschland! Eine Lebensmelodie

Estás vendo coisas

Bárbara Wagner e Benjamin de Burca | Brasil, Alemanha | 2017, 20’, DCP

Na paisagem social e profissional da música brega do Recife, a indústria dos videoclipes é catalisadora de uma ideia de futuro pontuada pelo desejo de sucesso tal qual encorajado pelo capitalismo. Estás vendo coisas observa esse mundo onde a autorregulação e a manipulação da imagem têm papel crucial na construção da voz, do status e da identidade de toda uma nova geração de artistas populares. Escrito e encenado por participantes do brega, o filme acompanha dois personagens principais – o cabeleireiro MC Porck e a bombeira e cantora Dayana Paixão – em seus percursos entre o estúdio e o palco.

Bye bye Deutschland! Eine Lebensmelodie acompanha a vida de cantores de Münster que se tornaram conhecidos como covers das vozes mais proeminentes de diferentes eras da música Schlager. Enquanto Markus ganhou reconhecimento pelos seus tributos no YouTube para Udo Jürgens (que introduziu a chanson francesa no Schlager em 1970), Steffi executa o repertório de Helene Fischer, um ícone do Schlager contemporâneo, que abriu o gênero para um padrão de pop global. Combinando as convenções do cinema documental e do musical, o filme aborda o renascimento de uma indústria que está muitas vezes associada a um sonho de terras estrangeiras, textos simples com imaginário nacionalista ou um pesado sentimentalismo.

Bárbara Wagner e Benjamin de Burca | Brasil | 2016, 16’, DCP


RISE

Bárbara Wagner e Benjamin de Burca | Brasil, EUA, Canadá | 2018, 20’, DCP Nos espaços subterrâneos do metrô de Toronto, um grupo de poetas, rappers, cantores e músicos negociam seu status como primeira e segunda geração de artistas da cidade, bem como colonos que vivem em terras indígenas. Apresentando participantes da R.I.S.E. (Reaching Intelligent Souls Everywhere) EDUTAINMENT – um evento que acontece semanalmente nos centros comunitários suburbanos de Toronto –, o filme adota o conceito de “edutainment”, termo que junta as palavras “educação” [education] e “entretenimento” [entertainment], como uma ferramenta para sua estrutura e seu roteiro.

Swinguerra

Bárbara Wagner e Benjamin de Burca | Brasil | 2019, 22’, DCP Na quadra de esportes de uma escola pública, um grupo de dançarinos ensaia sob o olhar atento de um coreógrafo, em rotinas altamente disciplinadas. As tensões do trabalho assombram os desejos pessoais enquanto, são observados pelas companhias rivais. Comissionado para o Pavilhão do Brasil na 58ª Bienal de Veneza, o filme foca em três estilos de dança da periferia do Recife: a swingueira, o brega-funk e o passinho dos maloka, representados pelos grupos Cia. Extremo, Grupo La Máfia e Bonde do Passinho/As do Passinho S.A.

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Lançamento DVD | IMS

Susan Meiselas: mediações

EQUIVALÊNCIAS: aprender vivendo

Imagens de uma revolução

Maureen Bisilliat | Brasil | 2019, 96’, DCP

O documentário traça uma ponte entre passado e presente através dos quase 60 anos da produção artística de Maureen Bisilliat e sintetiza situações vividas durante os anos de fotojornalismo, publicações, exposições e filmes. Costurando memórias com trechos de palestras, entrevistas e cenas com família e amigos, reúne dicas colhidas ao longo de uma vida de aprendiz. Muitos dos capítulos que compõem o filme foram iniciados tomando como base obras dos escritores Euclides da Cunha, João Guimarães Rosa, Jorge Amado, João Cabral de Melo Neto, Mário de Andrade e Jorge de Lima: suas realidades e regiões. Viagens a lugares fotografados no passado, revisitados e documentados 50 anos depois. As referências sonoras que inspiraram seu trabalho são uma parte importante de EQUIVALÊNCIAS: aprender vivendo. Este documentário é o mais recente lançamento da Coleção DVD | IMS. No dia 15 de fevereiro a exibição será apresentada por Maureen Bisilliat.

Pictures from a Revolution Susan Meiselas, Richard P. Rogers, Alfred Guzzetti | EUA, Nicarágua | 1991, 93’, Arquivo digital Em um diálogo intelectualmente estimulante sobre o poder das imagens, a renomada fotógrafa Susan Meiselas retorna às cenas de uma revolução que testemunhou e capturou com sua câmera. Impregnado de contexto e cor, Imagens de uma revolução encontra os lugares e as pessoas por trás de fotografias icônicas de Meiselas na Nicarágua, devastada pela guerra, ao final dos anos 1970 e 1980. Mergulhando na vida de sandinistas, membros da guarda nacional e de civis, espalhados de Miami a Manágua, uma década depois de se enfrentarem em uma luta sangrenta, o filme encontra tanto sentimentos de decepção como de um orgulho modesto em meio ao revirar de memórias ainda frescas. As histórias por trás das fotos trazem um novo entendimento da questão social, enquanto convidam a refletir sobre o complexo relacionamento do fotógrafo de guerra com seus personagens. O filme complementa a exposição Susan Meiselas: mediações, em cartaz no IMS Paulista. Entrada gratuita. Lugares limitados. Distribuição de senhas uma hora antes do evento. Limite de 1 senha por pessoa.


coleção DVD | IMS

Criada em 2012 pelo então coordenador de cinema José Carlos Avellar (1936-2016), a coleção DVD | IMS já lançou diversos filmes, entre produções brasileiras e estrangeiras.

EQUIVALÊNCIAS: aprender vivendo Maureen Bisilliat | Brasil | 2019, 96’ “Vivo há 60 anos nesta casa com esta árvore, suas raízes cambojanas e copa celestial, compondo, nesta ilha, capítulos de vida: mundos e fundos de gerações. Livros e mais livros, companheiros de viagem, forças fiéis a minha formação. Caos incontrolável no chão… fitas e fotos arquivadas nos armários da memória. Gosto das coisas em que vejo o tempo, que me trazem para uma história. É uma forma de assentamento.” Com essas palavras de Lygia Segala, a fotógrafa Maureen Bisilliat abre o filme em que revisita seus quase 60 anos da produção artística, sintetizando situações vividas durante os anos de fotojornalismo, publicações, exposições e filmes. Costurando memórias com trechos de palestras, entrevistas e cenas com família e amigos, reúne dicas colhidas ao longo de uma vida de aprendiz. A edição inclui um livreto com ensaio de Roberto Gervitz e cenas não incluídas na versão final do filme.

O futebol, de Sergio Oksman O botão de pérola e Nostalgia da luz, de Patricio Guzmán Photo: Os grandes movimentos fotográficos Homem comum, de Carlos Nader Vinicius de Moraes, um rapaz de família, de Susana Moraes Últimas conversas e Cabra marcado para morrer, de Eduardo Coutinho A viagem dos comediantes, de Theo Angelopoulos Imagens do inconsciente e São Bernardo, de Leon Hirszman Os dias com ele, de Maria Clara Escobar A tristeza e a piedade, de Marcel Ophüls Os três volumes da série Contatos: A grande tradição do fotojornalismo; A renovação da fotografia contemporânea; A fotografia conceitual La Luna, de Bernardo Bertolucci Cerimônia de casamento, de Robert Altman Conterrâneos velhos de guerra, de Vladimir Carvalho

Vidas secas e Memórias do cárcere, de Nelson Pereira dos Santos O emprego, de Ermanno Olmi Iracema, de Jorge Bodanzky e Orlando Senna Cerimônia secreta, de Joseph Losey As praias de Agnès, de Agnès Varda A pirâmide humana e Cocorico! Mr. Poulet, de Jean Rouch Diário 1973-1983 e Diário revisitado 1990-1999, de David Perlov Elena, de Petra Costa A batalha de Argel, de Gillo Pontecorvo Libertários, de Lauro Escorel, e Chapeleiros, de Adrian Cooper Seis lições de desenho com William Kentridge Sudoeste, de Eduardo Nunes Shoah, de Claude Lanzmann Memórias do subdesenvolvimento, de Tomás Gutiérrez Alea E três edições voltadas à poesia: Poema sujo, dedicado a Ferreira Gullar; Vida e verso e Consideração do poema, dedicados a Carlos Drummond de Andrade

Os DVDs podem ser adquiridos nas livrarias especializadas, nas lojas dos nossos centros culturais e na loja online do IMS: bit.ly/imsdvd. 15


Curadoria de cinema Kleber Mendonça Filho Programação de cinema e DVD Barbara Alves Rangel Programadores assistentes Ligia Gabarra e Thiago Gallego Projeção Ana Clara Costa e Lucas Gonçalves de Souza

Os filmes de fevereiro O programa de fevereiro tem o apoio da Nikkatsu, da Shochiku, da Little More Co., da NBCUniversal Entertainment Japan, da MK2, da Galeria Fortes D’Aloia & Gabriel e das distribuidoras Universal, Inquieta, Zeta Filmes, Vitrine Filmes, Pandora Filmes e do Espaço Itaú de Cinema. E dedica agradecimentos a Bárbara Wagner, Benjamin de Burca e Maureen Bisilliat.

co-realização Retrospectiva Seijun Suzuki

Venda de Ingressos Ingressos à venda pelo site ingresso. com e na bilheteria de terça a domingo, das 12h até o início da última sessão do mesmo dia, na Praça, no 5º andar. Ingressos e senhas sujeitos à lotação da sala. Capacidade da sala: 145 lugares. Meia-entrada Com apresentação de documentos comprobatórios para professores da rede pública, estudantes, crianças de 3 a 12 anos, pessoas com deficiência, portadores de Identidade Jovem, maiores de 60 anos e titulares do cartão Itaú (crédito ou débito). Devolução de ingressos

apoio Mulheres diabólicas

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Em casos de cancelamento de sessões por problemas técnicos e por falta de energia elétrica, os ingressos serão devolvidos. A devolução de entradas adquiridas pelo ingresso.com será feita pelo site. Programa sujeito a alterações. Eventuais mudanças serão informadas em facebook.com/ cinemaims e ims.com.br. Não é permitido o acesso com mochilas ou bolsas grandes, guarda-chuva, bebidas ou alimentos. Use nosso guarda-volumes gratuito. Confira a classificação indicativa no site do IMS.


Mulheres diabólicas (La cérémonie), de Claude Chabrol (França | 1995, 111’, 35 mm)


Terça a sábado, sessões de cinema até as 22h; domingos e feriados, até as 20h. Visitação, Biblioteca, Balaio IMS Café e Livraria da Travessa Terça a domingo, inclusive feriados (exceto segundas), das 10h às 20h; quintas, até as 22h. Última admissão: 30 minutos antes do encerramento. Entrada gratuita.

Avenida Paulista 2424 CEP 01310-300 Bela Vista – São Paulo tel: (11) 2842-9120 imspaulista@ims.com.br

ims.com.br /institutomoreirasalles @imoreirasalles @imoreirasalles Nós (Us), de Jordan Peele (EUA | 2019, 100’, DCP)

/imoreirasalles /institutomoreirasalles


Terça a sábado, sessões de cinema até as 22h; domingos e feriados, até as 20h. Visitação, Biblioteca, Balaio IMS Café e Livraria da Travessa Terça a domingo, inclusive feriados (exceto segundas), das 10h às 20h; quintas, até as 22h. Última admissão: 30 minutos antes do encerramento. Entrada gratuita.

Avenida Paulista 2424 CEP 01310-300 Bela Vista – São Paulo tel: (11) 2842-9120 imspaulista@ims.com.br

ims.com.br /institutomoreirasalles @imoreirasalles @imoreirasalles Nós (Us), de Jordan Peele (EUA | 2019, 100’, DCP)

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