destaques de setembro 2023
Uma seleção de filmes em que à disputa das noções de feminilidade e dos papéis reservados às mulheres na sociedade brasileiraa transgressão formal do documentário é indissociável é o foco do programa Seis vezes mulher, realizado em parceria com o Cinelimite e o Another Gaze. Com curtas de cineastas como Eunice Gutman, Katia Mesel e Helena Solberg, dirigidos majoritariamente entre os anos 1970 e 80, a programação inclui novas digitalizações e mesas de debate. Essas obras encontram eco na mostra Arquivos, vídeos e feminismos, que apresenta este mês curtas do mesmo período dedicados ao pensamento de Simone de Beauvoir; na figura da atriz e ativista política argelina Nardjes A, filmada por Karim Aïnouz; e no trabalho associativo de mulheres de diferentes partes do Brasil em Mulheres no front, de Eduardo Coutinho.
A Sessão Mutual Filmes de setembro se debruça sobre três filmes do cineasta, escritor e fotógrafo indiano Ruchir Joshi, todos inéditos no Brasil e em cópias restauradas. Em Egaro Mile (Onze milhas), seu único longa-metragem, Joshi apresenta a tradição milenar dos Bauls, artistas itinerantes que contam, cantam e dançam histórias. No programa de curtas, dois filmes de Joshi e um de Mani Kaul comentam a vida em três cidades indianas Correalizada com o Instituto Nicho 54, a oficina de preservação audiovisual Memórias pretas em movimento chega à quinta edição com uma aula aberta que discute a restauração de A Rainha Diaba, que será exibidonum diálogo intergeracional com os filmes curtos de Ana Julia Theodoro, conhecida por seu trabalho em redes sociais como @najur__
[imagem da capa]
A Rainha Diaba, de Antônio Carlos da Fontoura (Brasil | 1974, 100’, DCP, restauração em 4K)
Os Doces Bárbaros, de Jom Tob Azulay (Brasil | 1976, 100’, 35 mm)
Viver e morrer em Los Angeles (To Live and Die in L.A.), de William Friedkin (EUA | 1985, 116’, DCP)
16:00 Máquina do desejo (110')
18:00 Asteroid City (105')
20:00 Eami (85')
16:00 Máquina do desejo (110')
18:00 Asteroid City (105')
20:00 Eami (85')
7
14:00 Asteroid City (105')
16:00 Eami (85')
17:50 Lobo e cão (111')
20:00 Viver e morrer em Los Angeles (116')
12
16:00 Eami (85')
17:50 Lobo e cão (111')
20:00 Boca de lixo + Mulheres no front (85')
13
16:30 Lobo e cão (111')
19:00 Mulheres: uma outra história + Sulanca (76') seguida de conversa com Eunice Gutman, Katia Mesel e Lorenna Montenegro
14
15:20 Estranha forma de vida (32')
17:00 Estranha forma de vida (32')
19:00 Seis vezes mulher (86') seguida de conversa com Hannah Esperança, Mariana Queen Nwabasili e Patricia Mourão
19
16:00 Lobo e cão (111')
18:15 Estranha forma de vida (32')
20:00 Santa Marta - Duas semanas no morro + Volta Redonda - Memorial da greve (93')
20
16:00 Lobo e cão (111')
19:00 Sessão Mutual Films: Egaro Mile (Onze milhas) (160') sessão apresentada por Aaron Cutler e Mariana Shellard
27
Neste dia não haverá sessões de cinema
15:45 Lobo e cão (111')
18:00 Estranha forma de vida (32')
20:00 Os Doces Bárbaros - cópia 35 mm (103')
21
16:00 Lobo e cão (111')
18:15 Estranha forma de vida (32')
20:00 Sessão Mutual Films: Memórias da cidade do leite + Contos do planeta Kolkata + Chegada (74') sessão apresentada por Aaron Cutler e Mariana Shellard
28
16:00 Nardjes A (81')
17:40 Marinheiro das montanhas (98')
19:35 Terra de Deus (143')
1
14:00 Eami (85')
15:45 Asteroid City (105')
17:45 Máquina do desejo (110')
20:00 Eami (85')
22:00 Asteroid City (105')
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14:00 Máquina do desejo (110')
16:15 Asteroid City (105')
18:15 Eami (85')
19:50 Lobo e cão (111')
22:00 Asteroid City (105')
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14:00 Asteroid City (105')
16:00 Eami (85')
18:00 Estranha forma de vida (32')
19:45 Lobo e cão (111')
22:00 Estranha forma de vida (32')
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14:00 Eami (85')
15:45 Asteroid City (105')
17:45 Máquina do desejo (110')
20:00 Eami (85')
22:00 Asteroid City (105')
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14:00 Asteroid City (105')
16:00 Eami (85')
18:00 Santa Marta - Duas semanas no morro + Volta Redonda - Memorial da greve (93')
19:50 Lobo e cão (111')
22:00 Asteroid City (105')
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14:00 Asteroid City (105')
16:30 Pela memória + Homenagem de Kate Millet para Simone de Beauvoir + Kate Millet fala com feministas sobre prostituição + Feminismo americano (Beauvoir e as quebequenses) (53')
18:00 Boca de lixo + Mulheres no front (85')
19:45 Lobo e cão (111') 22:00 Estranha forma de vida (32')
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14:00 Eami (85')
16:00 Estranha forma de vida (32')
18:00 Lobo e cão (111')
20:15 Estranha forma de vida (32')
22:00 Asteroid City (105')
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14:00 Lobo e cão (111')
16:15 Memórias da cidade do leite + Contos do planeta Kolkata + Chegada (74')
18:00 Seis vezes mulher (86')
20:00 Estranha forma de vida (32')
22:00 Asteroid City (105') 30
domingo
3
14:00 Asteroid City (105')
16:00 Máquina do desejo (110')
18:15 A conferência sobre a mulherNairobi 85 (60')
20:00 Eami (85')
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14:00 Asteroid City (105')
16:00 Eami (85')
18:00 Pela memória + Homenagem de Kate Millet para Simone de Beauvoir + Kate Millet fala com feministas sobre prostituição + Feminismo americano (Beauvoir e as quebequenses) (53')
20:00 Lobo e cão (111')
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14:30 Eami (85')
16:30 Mulheres: uma outra história + Sulanca (76')
18:00 Estranha forma de vida (32')
20:00 Lobo e cão (111')
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18:00 Os Doces Bárbaros - cópia digital 4K (103')
20:00 Estranha forma de vida (32')
15:00 Nardjes A (81')
17:00 Marinheiro das montanhas (98')
19:00 Aula: Memórias pretas em disputa no cinema brasileiro ou O caso de digitalização do filme A Rainha
Diaba (1974), com Débora Butruce e Luís Fernando Moura
21:30 A Rainha Diaba + filmes de @najur__ (105')
14:00 Terra de Deus (143')
16:40 Egaro Mile (Onze milhas) (160')
19:40 Viver e morrer em Los Angeles (116')
22:00 Estranha forma de vida (32')
Programa sujeito a alterações. Eventuais mudanças serão informadas em ims.com.br
filmes em exibição
Filmes em cartaz
Sessão mutual films
Asteroid City
Wes Anderson | DCP
Eami
Paz Encina | DCP
Estranha forma de vida (Extraña forma de vida)
Pedro Almodóvar | DCP
Lobo e cão
Cláudia Varejão | DCP
Máquina do desejo
Joaquim Castro, Lucas Weglinski | DCP
Marinheiro das montanhas
Karim Aïnouz | DCP
Nardjès A.
Karim Aïnouz | DCP
Terra de Deus (Godland)
Hlynur Pálmason | DCP
Egaro Mile (Onze milhas)
Ruchir Joshi | DCP
Memórias da cidade do leite (Memories of Milk City)
Ruchir Joshi | DCP
Contos do Planeta Kolkata (Tales from Planet Kolkata)
Ruchir Joshi | DCP
Chegada (Arrival)
Mani Kaul | DCP
Memórias pretas em movimento
A Rainha Diaba
Antônio Carlos da Fontoura | DCP, restauração em 4K
2 filmes de @najur__
Ana Julia Theodoro | Arquivos digitais
Coutinho 90
Volta Redonda – Memorial da greve
Eduardo Coutinho | Arquivo digital
Sessões especiais
Viver e morrer em Los Angeles (To Live and Die in L.A.)
William Friedkin | DCP
Os Doces Bárbaros
Jom Tob Azulay | 35 mm e Arquivo digital
Santa Marta – Duas semanas no morro
Eduardo Coutinho | Arquivo digital
Boca de lixo
Eduardo Coutinho | Arquivo digital
Mulheres no front
Eduardo Coutinho | Arquivo digital
Seisvezesmulher
Mulheres: uma outra história
EuniceGutman|DCP
Sulanca
KatiaMesel|DCP
Preparação 1
LetíciaParente|DCP
A entrevista
HelenaSolberg|DCP
Duas vezes mulher
EuniceGutman|DCP
Ana
ReginaChamlian|DCP
Meninas de um outro tempo
MariaInêsVillares|DCP
Histerias
InêsCastilho|DCP
Arquivos, vídeos e feminismos: o acervo do Centro Audiovisual Simone de Beauvoir
A conferência sobre a mulher – Nairóbi 85
(La Conférence des femmes – Nairobi 85)
Françoise Dasques | Arquivo digital
Pela memória (Pour mémoire)
Delphine Seyrig | Arquivo digital
Homenagem de Kate Millet para Simone de Beauvoir (Hommage de Kate Millet à Simone de Beauvoir)
Anne Faisandier | Arquivo digital
Kate Millet fala com feministas sobre prostituição
(Kate Millett parle de la prostitution avec des féministes)
Catherine Lahourcade, Anne-Marie Faure-Fraisse, Syn Guérin | DCP
Feminismo americano (Beauvoir e as quebequenses)
(American Feminism (Beauvoir et les québécoises))
Luce Guilbeault | Arquivo digital
Seis vezes mulher
Concebido por Another Gaze e Cinelimite e realizado em parceria com o Instituto Moreira Salles, o programa Seis vezes mulher tem curadoria da pesquisadora Hanna Esperança e William Plotnick e apresenta trabalhos das cineastas Helena Solberg, Eunice Gutman, Inês Castilho, Regina Chamliam, Maria Inês Villares e Maria Inês Nunes Castilho, alguns deles em digitalizações recentes em 2k e 4K, viabilizadas pelo projeto Iniciativa de Digitalização de Filmes Brasileiros. Os filmes selecionados abordam questões como o lugar da mulher na sociedade durante a ditadura militar, liberdade sexual, desigualdades entre mulheres de diferentes classes sociais no Brasil, saúde mental, vozes femininas silenciadas e o cinema como ferramenta de reivindicação política e estética. A sessão de estreia será seguida por um
debate entre a curadora Esperança e as pesquisadoras Mariana Queen Nwabasili e Patrícia Mourão.
Este programa é um desdobramento da mostra Mulheres: uma outra história, realizada por Cinelimite e Another Gaze, da qual serão exibidas também digitalizações em resolução 2K dos filmes Mulheres: uma outra história (1988), de Eunice Gutman, e Sulanca (1986), de Katia Mesel, seguidas por uma conversa com as diretoras, mediada pela pesquisadora Lorenna Montenegro.
Além do texto de apresentação, incluímos aqui trechos de entrevistas inéditas com algumas das cineastas do programa. A íntegra das entrevistas poderá ser lida no Blog do Cinema do IMS em cinema.ims. com.br
Mulheres: uma outra história, de Eunice Gutman
Liberdade em movimento
Hanna Esperança
E esta é uma festa de palavras. Escrevo em signos que são mais um gesto que voz. [...] Refaço-me nestas linhas. Tenho uma voz.
Clarice Lispector, Água vivaNo livro Água viva, de Clarice Lispector, a palavra constante é “liberdade”. Ela pode ocasionalmente ser acompanhada de “solidão”, mas “liberdade” é sempre afirmativa. É algo que ela – a narradora não identificada, que podemos interpretar como a própria Clarice – sempre, inquestionavelmente, possui com veemência. Escrito em uma espécie de fluxo de consciência com frases cuidadosamente elaboradas, um incansável jogo de linguagem e completamente sem enredo, Água viva é sobre o que se pode criar quando se abandona a forma convencional. Esse é o significado do que Clarice tão claramente chama de “liberdade”: ela é livre porque escreve livremente. Como Clarice afirma em sua crônica “O artista perfeito”, “arte não é pureza, é purificação, arte não é liberdade, é libertação”. Libertação da linguagem, do significado, dos conceitos fixos. A arte, quando se permite ultrapassar os limites do esperado, nos dá voz.
Não é coincidência, então, que Histerias (1983), um documentário experimental dirigido por Inês Castilho, termine com a voz desencarnada de uma mulher, possuindo algumas das palavras de Clarice em Água viva. Histerias também é, afinal, sobre a transgressão da forma, sobre quebrar as regras tanto da narrativa quanto do documentário
em si. É também sobre destruir conceitos convencionais de feminilidade e suas representações. Além das muitas outras semelhanças temáticas, isso é o que une os seis filmes da mostra Seis vezes mulher: a busca pela liberdade de desafiar a norma e construir algo novo, seja por meio de uma linguagem inovadora que perturba a feminilidade e o seu significado – Histerias, Preparação I (Letícia Parente, 1975), A entrevista (Helena Solberg, 1966) – ou tornando visíveis as lutas e o cotidiano de mulheres marginalizadas – Duas vezes mulher (Eunice Gutman, 1985), Ana (Regina Chamlian, 1982) e Meninas de um outro tempo (Maria Inês Villares, 1987). Qualquer que seja o caminho, esses filmes desafiam a maneira como as mulheres são percebidas e representadas. A mera existência delas impressa em um pedaço de película é um ato de liberdade em si, de criação de uma nova imagem que não tínhamos antes.
Entre esses seis filmes, um período turbulento de pelo menos 20 anos da história brasileira, em que as transformações sociais e políticas da época foram atravessadas por uma ditadura militar violenta e opressora. Nas brechas da opressão e em oposição a ela, o feminismo se reestrutura dentro da sociedade e das organizações preexistentes – associações de bairro, sindicatos,
universidades –, e também do cinema, em que as mulheres multiplicam os espaços e passam a ocupar uma parcela expressiva da direção de filmes, sobretudo no documentário e no curta-metragem. Os filmes que integram a mostra refletem, portanto, as nuances desse momento, que está longe de ser homogêneo no que diz respeito à contextualização da história enquanto agente transformador da arte e do cinema. Se, em A entrevista, realizado apenas alguns anos após o golpe e anteriormente à promulgação do AI-5, a ditadura militar marca presença como narrativa histórica e política a ser discutida em relação direta ao conservadorismo patriarcal, em Preparação I e Histerias, ela paira nas entrelinhas da violência dos gestos ou da montagem disruptiva. Nos três filmes, entretanto, a mulher aparece como contradição entre aquilo que é ou deseja ser e como se apresenta ou deveria se apresentar. Nesse processo, a desmitificação – ou o exorcismo –da mulher perfeita e santificada. Por outro lado, em Ana , Duas vezes mulher e Meninas de um outro tempo , há um diálogo com o momento de reorganização dos movimentos sociais já no processo de redemocratização do país. Após anos de censura, a voz (corporificada)
e a continuidade narrativa ganham relevância nesses filmes, que têm como objetivo central dar espaço a mulheres marginalizadas da sociedade, que recontam a dificuldade dupla que enfrentam não só como mulheres, mas também como mulheres pobres, mulheres negras e mulheres idosas. A violência, por assim dizer, se estabelece não a nível de subtexto, mas a nível dos rostos em primeiro plano e da fala embargada que revisita e compartilha a própria história de vida.
E, entre todos eles, a solidão. Solidão não como fruto de uma individualidade amargurada que se constrói sozinha, mas como solidão coletiva que atravessa 20 anos e mais. Até hoje. Em uma sociedade patriarcal que negligencia a sexualidade, os afetos e a individualidade das mulheres, a solidão se apresenta como consequência das expectativas que nos são impostas. Se essas expectativas são cumpridas, seja no âmbito do matrimônio, da maternidade ou do sexo, como muitas das mulheres em A entrevista, há solidão porque não há outra perspectiva de ser além dos papeis que interpretam, uma solidão que acontece de dentro para fora. Se essas expectativas não são cumpridas, se as mulheres ousam envelhecer, como as meninas de Meninas de um outro tempo, se divorciar ou não se casar, há a solidão do
isolamento social, uma solidão que acontece de fora para dentro. É nesse sentido que a voz desencarnada de Histerias recita as palavras de Clarice: “Minha verdade espantada é que eu sempre estive só de ti e não sabia. Agora sei: sou só. Eu e minha liberdade que não sei usar.” Mas, como Clarice continua em seu texto, “grande responsabilidade da solidão”, porque “quem não é perdido não conhece a liberdade e não a ama”. Nesse processo de mais de duas décadas, ainda estamos aprendendo a amá-la. A pergunta é: quem nos ensina? Talvez Seis vezes mulher nos dê indícios de uma resposta. Afinal, se as mulheres que vemos em tela são sozinhas em sua particularidade cotidiana, os filmes têm a capacidade de conectá-las não apenas na própria diegese, que interliga depoimentos, vozes, rostos, contextos, mas também com o público que, hoje, as assiste e as relembra. Maria Inês Villares, em Meninas de um outro tempo, estava certa: “Uma volta enorme para chegar até você, até todas nós”.
Lorenna Rocha entrevista
Eunice Gutman
Lorenna Rocha Numa entrevista para o Another Gaze (2022), você comentou que fazia filmes como forma de revelar coisas para si mesma, para se autodescobrir enquanto mulher. O que acreditava que poderia entender melhor sobre si ou do Brasil nos anos 1980 quando decidiu se aproximar de Jovina e Marlene, duas mulheres negras de uma comunidade do Rio de Janeiro, para o Duas vezes mulher (1986)?
Eunice Gutman Esse é um filme sobre mulheres imigrantes. Há muitas pessoas que saem do Nordeste para as comunidades do Rio de Janeiro, para ter uma nova vida, outras oportunidades. O Brasil é um país de pessoas que vieram de outros lugares do mundo, seja por vontade própria ou forçada. Então, de certa forma, essa é uma história que está dentro de nós. Minha mãe veio de Pernambuco, e meu pai é da Polônia. Eu estava curiosa para ouvi-las contar sobre suas vidas, sua chegada ao Rio de Janeiro. Foi muito interessante para mim descrever a vida das comunidades. Fui até lá, pesquisei daqui e dali, e encontrei a Jovina e a Marlene.
e, por vezes, pouco racializado quando se pensava sobre a luta pelo direito à moradia?
EG Quando vamos falar de processos migratórios, e passo a entrevistar duas mulheres, é pelo interesse de saber como elas reagem a esse mundo patriarcal. Meu início no cinema não se deu com filmes feministas. Em algum momento, lendo livros de Simone de Beauvoir e me informando sobre o assunto, teve uma frase [de Carol Hanisch] que me tocou profundamente: “O pessoal é político”. Minha vida é política, e foi daí que veio a vontade de discutir sobre os temas a partir da perspectiva das mulheres.
LR Fico com a sensação de que você se tornou feminista ao mesmo tempo que se entendia enquanto diretora de cinema. Faz sentido?
LR Quando decidiu fazer Duas vezes mulher , de alguma forma, estava buscando dar respostas ao cinema brasileiro da época, muito masculinista
EG Exatamente. O primeiro filme que dirigi foi para o Mobral (Movimento Brasileiro de Alfabetização), um centro de alfabetização para adultos. A personagem era uma senhora de 77 anos, que dizia que à medida que ela aprendia a ler, ela descobria que o mundo era maior que sua casa. Achei isso fantástico. Foi uma batalha para fazê-lo na época, porque era um homem quem ia assumir a direção, alguém que não tinha conhecimento nenhum sobre cinema.
Falei com os diretores do Mobral que havia estudado na Bélgica e que ia dirigir o filme. Foi meu primeiro filme enquanto realizadora, porque me coloquei como uma pessoa que sabia fazer aquilo. Eles adoraram. Exibiram E o mundo era muito maior que a minha casa (1976) em todos os lugares. Me animei, porque nem eu mesma achava que conseguiria ser realizadora.
Quando cheguei na Europa, o curso de direção era voltado para homens. As mulheres lá faziam a montagem dos filmes. Mas, quando voltei ao Brasil, a sala
de montagem não era “um lugar apropriado para mulheres”. Dei muita risada, não desisti e comecei minha carreira como montadora.
Após o Mobral, dirigi três filmes: Com choro e tudo na Penha (1978), Anna Letycia (1979) e Só no Carnaval (1982), em parceria com Regina Veiga, que foi minha colega na Escola de Cinema de Bruxelas.
Existia uma grande onda feminista na Europa e nos Estados Unidos. Depois chegou aqui no Brasil. Isso ajudou a nos unirmos enquanto mulheres. Foi assim que começamos as atividades do Coletivo de Mulheres
de Cinema e Vídeo do Rio de Janeiro (19851987). Depois teve outro em São Paulo, em outras regiões, mas depois parou. Foi uma força que nos animou muito a fazer filmes. Resolvemos nos juntar porque havíamos percebido coletivamente que o cinema estava na mão dos homens. Era preciso dar uma força para a outra. Não aceitar essa divisão imposta pelo patriarcado.
Andrea Ormond
entrevista
Helena Solberg
Andrea Ormond Em vários momentos da sua trajetória, você precisou encarar e conversar com o outro. Você vê diferenças entre a Helena Solberg entrevistadora e a Helena Solberg entrevistada?
Helena Solberg Minha experiência de muitos anos com o documentário me deixou muito consciente do poder e do efeito da câmera na entrevista filmada. A possibilidade de manipulação é absurda. A presença dela é sempre perturbadora para o entrevistado. Sei exatamente o momento em que o entrevistado esquece a sua presença, e é uma vitória para o entrevistador. A entrevista por escrito permite a reflexão e a possibilidade de se construir como personagem. As duas são reveladoras de aspectos diferentes. Prefiro estar longe da câmera.
AO Passemos ao seu curta-metragem de estreia: A entrevista (1966). Na abertura, ouvimos um carrossel de referências que remetem à infância da sua geração. Entre elas, uma gargalhada de bruxa, daquelas que anunciavam o medo e a culpa nos contos de fadas. Para filmar A entrevista, você precisou vencer alguma bruxa (interior ou exterior), eu imagino. Fale um pouco sobre isso. HS Eu amo a bruxa! Ela diz: “Vou deixar que as outras fadas façam suas profecias para
depois eu fazer a minha”, e dá uma gargalhada sinistra. Milhares de mulheres foram queimadas em fogueiras como bruxas. Elas ameaçavam o sistema porque eram sábias. Eram curandeiras e poderosas nas comunidades, usurpavam o poder dos homens e tinham que ser eliminadas. A intenção da sua presença no filme foi uma provocação para alertar que o modelo programado pela sociedade para as moças não ia dar certo.
AO Nas perguntas acima, nós comentamos sobre o extraquadro, sobre o mundo fora das câmeras. Pelo fato de ser documentário, A entrevista trouxe muito do extraquadro. Isto foi uma opção consciente? Como surgiu a ideia de fazer ofilme?
HS As mulheres de minha geração não tinham o hábito de conversas muito íntimas entre si. Havia uma certa censura sobre assuntos, digamos, “periclitantes”. Achei que poderia derrubar essa barreira dando uma cara de assunto de pesquisa para um filme em que as identidades não seriam reveladas. Na verdade, precisava buscar respostas para muitas questões que eram ainda tabus entre nós, e essa foi uma tática.
O problema é que não queriam ser filmadas, e isso me obrigou a construir essa imagem da noiva sendo montada para o casamento
e desconstruída pelas entrevistas. Foi realmente um obstáculo salvador, pois senão terminaria com uma série de talking heads. Foi um desafio. Foi exigido um esforço criativo, e isso enriqueceu mais o filme e o tornou mais original.
AO Outros filmes seus têm a raiz em personagens femininas com o pano de fundo de um tempo específico. Meu corpo, minha vida (2017) é assim. Sem final feliz, sem o direito a respirar. Qual a ponte possível entre Glória Solberg, de A entrevista, e Jandyra Magdalena dos Santos, de Meu corpo, minha vida? HS Essa “ponte” a que você se refere está sendo contestada e analisada pelo movimento feminista agora. O feminismo negro está se fortalecendo e nos obrigando a entender nossas reivindicações com um outro olhar. A questão do lugar de fala é, no momento, a pauta mais discutida e contestada, e que – esperamos – vai nos ajudar a caminharmos juntas.
Laura Batitucci entrevista Inês Castilho
Laura Batitucci Como foi o processo de conseguir apoio de órgãos de cultura estatais para fazer Histerias (1983)? Houve alguma tentativa de censurar temáticas ou cenas? E como foi sua colaboração criativa com a empresa Tatu Filmes, que também produziu Mulheres da Boca (1982)? Inês Castilho A despeito da censura aos jornais, à música, ao teatro, mantiveram-se no estado de São Paulo os concursos de incentivo à produção do curta-metragem. A Embrafilme, federal, tinha naquele momento na direção, em São Paulo, o intelectual Carlos Augusto Calil, interessado em apoiar bons projetos. É preciso ainda lembrar o papel desempenhado pelo grupo de pesquisadoras sobre a mulher da Fundação Carlos Chagas (FCC), que lançou nos anos 1970 um concurso de pesquisas sobre o tema e apoiou o Mulheres da Boca, primeiro filme realizado por Cida Aidar e eu. Também a Fundação Ford, que financiava as pesquisas da FCC, colaborou com a finalização do Histerias . Como se vê, havia brechas na opressão ditatorial. A Tatu Filmes foi fundamental para a realização dos dois filmes. Os sete tatus se engajaram generosamente nos projetos, com o conhecimento técnico que nos faltava, os equipamentos, o entusiasmo. Deixo aqui um agradecimento especial a Chico Botelho, que se encantou em 1991.
LB O tema da neurose feminina é abordado de forma muito pungente em Histerias. Nos créditos, vemos várias psicanalistas de renome, como Maria Rita Kehl, que participaram na criação do filme. Como foi a experiência de trabalhar com elas?
IC Histerias começou a nascer, na minha cabeça, a partir da grande excitação observada em mim mesma e nas companheiras de equipe durante a produção do Mulheres da Boca. Era uma festa! Paralelamente, o grupo de psicanalistas ligado a Cida Aidar estudava o tema. Esses foram os disparadores para a ideia do filme, cujo título provisório era “Três Marias ou Histeria”. A síntese genial veio de Isa Castro, atriz, montadora e grande responsável pelo resultado final do filme. Além da contribuição da Cida, não houve participação direta do grupo.
LB Como foram as primeiras exibições do filme? De que forma ele foi distribuído?
IC A primeira exibição do Histerias foi inesquecível. Na pequena sala de montagem da Tatu Filmes, na rua Wisard, de outra Vila Madalena, estavam alguns cineastas consagrados. Entre eles, o crítico, escritor, professor e realizador Jean-Claude Bernardet. Insegura, eu observava as reações. Ao final da projeção, o silêncio só foi quebrado pelos soluços de Jean-Claude.
Oepisódiodeuinícioaumagrandeamizade. A distribuição era precária. O filme foi exibidoemalgumasuniversidades,grupos de mulheres, de psicanalistas, algumas mostras.FoiselecionadoparaaMostrade DocumentáriosdeCachoeira,noRecôncavo Baiano,erecusadoporumamostrada Folha de S.Paulo.ApesardoentusiasmodeJeanClaude, crítico influente, o filme teve uma carreiramaisquemodesta.
LB Ainda pensando na situação da neurosefeminina,ofilmetraçarelações
simbólicas entre a religiosidade cristã/ católica e o sofrimento da mulher. Qual é sua opinião sobre isso?
IC Aqui vale ressaltar que a opressão é de mulheres brancas sobre uma mulher negra. A igreja católica entra apenas como pano de fundo. A questão racial é apenas insinuada no filme, nessa cena e no olhar curioso do Geleia, office boy da Tatu, providencialmente filmado por Chico Botelho fora do roteiro. Acho que todos conhecemos o papel da Igreja Católica na repressão à sexualidade feminina, e das consequências que podem vir daí.
Glênis Cardoso entrevista
Katia Mesel
Glênis Cardoso Em 2022, você deu uma entrevista para a Karla Holanda que foi publicada pela Another Gaze. Em determinado momento, você falou que seus filmes estavam em tal estado de degradação que era como se a cada dia um filho seu morresse. Desde então, várias coisas aconteceram com seus filmes. Você pode compartilhar em que pé está a sua obra em termos de preservação?
Katia Mesel Além dos filmes em película, eu fiz um programa de TV chamado Pernambucanos da gema. O material mais adequado nas televisões no início dos anos 1990 eram as fitas de vídeo u-matic. Fizemos mais de 200 documentários sobre a cultura pernambucana em vídeo. Eu não aparecia. Eram documentários, não matérias jornalísticas. Eram obras de arte. Eu olhava aquelas 200 fitas e dizia: “Meu deus!”. Botei em muitos editais de preservação, e nenhum foi aprovado. No ano passado, William [Plotnick] veio ao Recife e perguntou: “Você tem super-8?”.
Eu disse: “Tenho, mas não presta mais pra nada. Daqui a pouco eu faço serpentina.”
Ele pediu pra ver e disse que dava pra digitalizar – não só digitalizar, como também finalizar, voltar com as cores. Eu perguntei: “Onde, em São Paulo?”. E ele: “Não, em novembro eu volto com um scanner de última geração”. Quando ele voltou para
digitalizar os super-8, ele viu as u-matics e disse: “Fala com o CTAv”. Aí eu liguei pra
Natália de Castro, do CTAv, e ela falou pra eu mandar as fitas. Eu passei uma semana tirando fita de cima da prateleira, passando pano, arrumando caixas para mandar. E pensando: “Como eu vou pagar isso?”. Porque eram 15 caixas, algumas de 20, 21 quilos. Entrei em contato com o presidente da Fundação Joaquim Nabuco e disse pra ele: “Antônio, é o seguinte: eu sou parceira da Cinemateca Pernambucana. Tudo que eu tenho no meu canal está disponibilizado para o portal da Cinemateca Pernambucana, para o uso que quiser. Minha proposta é a seguinte: vocês pagam o transporte até o CTAv, e todo o material que puder ser restaurado irá para a Cinemateca Pernambucana.” Aí ele consultou a pessoa que estava à frente da Cinemateca, e eles aceitaram.
GC Com a digitalização das suas obras, alguns dos seus filmes estão sendo exibidos novamente. Houve uma exibição no Spectacle Theater, em Nova York, e outra na Cinemateca Brasileira. Kleber Mendonça Filho usou parte do seu curta no novo filme dele, Retratos fantasmas (2023). Como está sendo esse processo de reencontro com as imagens?
KM Ver aqueles filmes na Cinemateca Brasileira, na sessão Mestras do Cinema
Documental Brasileiro – eu falo isso de boca cheia – foi de uma emoção! Eu fiquei rígida, pasma. Foi muito incrível. Até o super-8, apesar de todos os percalços, com todas as perdas, tinha momentos incríveis. A digitalização de Recife de dentro pra fora, eu ainda não vi. Kleber me fez um convite super gentil pra Recife de dentro pra fora abrir a sessão de estreia de Retratos fantasmas no Recife, então eu vou ver como ficou. As digitalizações geraram uma onda. Foi como
se os filmes tivessem ressuscitado, porque restituiu uma qualidade de imagem e uma possibilidade técnica de correr o mundo. Já houve um convite da Universidade Federal de Pernambuco para fazer uma Mostra Kátia Mesel. Vai ter uma exibição de Sulanca em Santa Cruz do Capibaribe.
Cultura de lá também, que pode ajudar em alguma coisa, e estou descobrindo algumas empresas que podem ser parceiras para eu fazer outro filme. O primeiro foi A revolução econômica das mulheres de Santa Cruz do Capibaribe [subtítulo de Sulanca], e esse agora vai ser A evolução econômica.
GC Você vai voltar para a cidade onde Sulanca foi filmado para exibir o filme?
KM O Museu da Sulanca, desde 2021, quer exibir o filme lá em Santa Cruz do Capibaribe.
Eu já tô em contato com o secretário de
Mudou o panorama. Agora é indústria, business . Acho que essa liberdade que elas tanto buscaram e conseguiram, eu tenho a impressão de que mudou muito.
Sessão Mutual Films
Uma terceira criatura: Filmes de Ruchir Joshi
A Sessão Mutual Films de setembro apresenta três filmes do cineasta indiano Ruchir Joshi que foram lançados na década de 1990. Eles serão apresentados em novas versões restauradas, que estrearam no Festival Internacional de Cinema de Berlim em 2019. Joshi (que nasceu em Calcutá em 1960) é também um celebrado escritor, cujo trabalho – tanto em obras de ficção, como no seu romance The Last Jet-Engine Laugh (2001), quanto em seus textos de não ficção para publicações como a revista inglesa Granta e o jornal indiano The Telegraph – se empenha em tratar dos dilemas da Índia como um país que abriga diversas realidades.1 Na ocasião destas exibições
brasileiras de seus filmes, Joshi escreveu o seguinte texto de apresentação, no qual elabora sua visão lúdica, política e autorreflexiva do cinema como o que ele chama de “uma terceira criatura”.
Aaron Cutler e Mariana Shellard (curadores da Sessão Mutual Films)
É uma honra para mim que meus filmes sejam exibidos pela primeira vez no Brasil. Apesar da Índia e do Brasil terem tanto em comum, os países são apenas uma ideia vaga na mente da maioria dos indianos que pensam no Brasil e na maioria dos brasileiros que pensam na Índia. É quase como se tivéssemos duas fileiras de dançarinos, uma diante da outra, compostas pelos principais clichês e arquétipos sobre o Brasil e sobre a Índia: de um lado está o futebol, a vasta floresta, o grande rio, Carnaval, Rio, Copacabana, a garota de Ipanema, enormes favelas e, do outro, templos, encantadores de serpentes, dançarinas exóticas, Gandhi, música de cítara, filmes de Bollywood, enormes favelas, fazendeiros famintos, os Himalaias e assim por diante.
Falando apenas por mim, tenho uma certa vergonha de saber tão pouco sobre cinema e literatura brasileiros. O que eu sei sobre o futebol2 ou as favelas, ou sobre a
ocasião de sessões de seus filmes em março deste ano: essayfilmfestival.com/ruchir-joshi/.
1. Diversos textos de Joshi foram juntados pela equipe do Essay Film Festival, em Londres, na
Um trecho de um texto em inglês dele sobre as restaurações de seus filmes, “The Hiss and Scratch of Time”, pode ser conferido através do link arsenal-berlin.de/en/berlinale-forum/archive/ program-archive/2019/archival-constellations/ egaro-mile-1/. [Nota dos curadores]
2. Eu sempre fui um torcedor do Brasil em uma cidade louca por futebol como Calcutá, que em cada Copa do Mundo fica ferozmente dividida, com cada bairro apoiando uma grande potência como Brasil, Argentina, França ou Alemanha. Nosso futebol está a anos-luz de distância no ranking
floresta amazônica ou a arquitetura de Oscar Niemeyer, é principalmente mediado pelo “norte-por-noroeste”, ou seja, pelas fontes do chamado “Primeiro Mundo”.
O motivo disso acontecer, é claro, pode ser encontrado na história contínua da colonização em nosso período “pós-colonial”. Na Índia, nossa atenção externa e imaginação estão sintonizadas em duas direções principais, primeiro para os países e culturas da vizinhança imediata e, segundo, para os Estados Unidos e a Europa Ocidental. Eu vou chutar que, no Brasil, a situação é basicamente a mesma. Espero que as exibições de meus filmes sejam um pulso na corrente elétrica necessário para derrubar a parede da estática euro-americana que ofusca nossas culturas uma da outra.
Os três filmes que vão passar no Instituto Moreira Salles foram realizados entre os anos de 1988 e 1993. Especificamente, o longa Egaro Mile (Onze milhas) (Egaro Mile, 1991) foi iniciado em fevereiro de 1988 e concluído em fevereiro de 1991, o curta Memórias da cidade do leite (Memories of Milk City, 1991) foi produzido rapidamente, durante três meses, em meados de 1991, mundial – eu não acredito que viverei para ver a Índia participar de uma Copa do Mundo.
e o filme de 40 minutos Contos do planeta Kolkata (Tales from Planet Kolkata, 1993) foi realizado entre dezembro de 1992 e março de 1993, com a discussão do roteiro iniciada alguns meses antes.
Egaro Mile trafega entre os gêneros de road movie, filme-diário, filme-ensaio e uma espécie de antietnografia ou etnografia alternativa, enquanto lida com músicos folclóricos tradicionais bengalis que são conhecidos como os Bauls. Dos três filmes, é o que vai para a Bengala rural, para o interior de Calcutá, bem como para a própria cidade grande. Memórias nos leva ao outro lado do país, à cidade de Amedabade, no oeste da Índia; é uma breve meditação sobre a luta, então em curso, entre a cidade velha e a cidade já não tão nova que surgiu do outro lado do rio Sabarmati, sobre a mutação da tradição e a propagação de uma certa americanização, e sobre o empurra e puxa entre uma cultura mais antiga e gentil e os novos impulsos consumistas que já estavam alimentando uma crescente violência religiosa majoritária. Com Contos, voltamos a Calcutá e às ideias concorrentes da cidade que, entre os anos 1960 e o início dos anos 1990, foi para o Ocidente o símbolo do “pior desastre urbano do mundo” e que, para
nós, nativos, foi o lugar do litost 3 interno e de absurdidades destruidoras. Algumas pessoas têm percebido esse filme como a quarta parte de uma obra, sendo as primeiras três as que compõem Egaro Mile. E, de certa forma, ele é, ao mesmo tempo que decola em uma nova direção.
Ao olhar para trás, algumas coisas vêm à mente sobre o momento em que os filmes foram feitos. Aqueles cinco anos marcaram um período turbulento no mundo. Internacionalmente, essa foi uma época em que o Muro de Berlim caiu e o Império Soviético se extinguiu (alguns diriam que deu uma pausa, antes de reacender em outro formato). Na Índia, sabíamos que o Brasil e outros países sul-americanos estavam completando o que foi chamado de “um lento retorno à democracia” ao longo da década de 1980. Em 1991, o apartheid terminou na África do Sul.
Esses cinco anos também podem ser vistos como um momento decisivo para a Índia. Duas coisas extremamente importantes aconteceram, e meus filmes são reflexos delas, mesmo que de forma bastante indireta. Em 1991, tivemos o que
3. O termo usado pelo escritor Milan Kundera define um certo tipo de exílio, nostalgia por um lar perdido.
se chamava de “liberalização”, quando o modelo anterior de uma economia mista com forte participação do Estado foi alijado e o país se abriu para os mercados internacionais pela primeira vez na história de nossos 40 anos de independência. Talvez não por coincidência, esse também foi o momento exato em que a extrema direita hindu começou uma nova investida pelo poder, usando a desculpa de “restaurar o local de nascimento” de Lord Rama (uma das principais divindades do hinduísmo) e insistindo que esse era exatamente onde havia uma mesquita do século XVI. Em 1992, os fascistas hindus finalmente conseguiram destruir a mesquita, levando a uma revolta massiva e a um derramamento de sangue no norte e oeste da Índia, que nos levaram ao período extremamente sombrio em que nos encontramos hoje.
Em termos de cinema de arte indiano, após o grande florescimento de novos filmes não comerciais entre os anos de 1950 e 1970, os anos 1980 provaram ser de estagnação no que diz respeito aos filmes sérios de ficção. Por outro lado, essa foi a década em que o documentário independente e o cinema de não ficção indianos atingiram maturidade. Anteriormente, tínhamos feito um grande trabalho inovador sob a égide
da Films Division, a instituição governamental para documentários e filmes educativos,4 mas foi durante a década de 1980 que um grande número de filmes independentes abordando questões políticas e sociais começou a ser feito em toda a Índia. Muito disso tinha a ver com a crescente disponibilidade de equipamentos em 16 mm e estúdios de pós-produção, e, para uma importante leva de documentaristas, o aumento do interesse e financiamento de canais de televisão estrangeiros (principalmente europeus).
Trabalhei no início dos anos 1980 como assistente para um cineasta em ascensão localizado em Bombaim, com a ambição de um dia também fazer filmes de ficção que seriam exibidos em festivais ao lado dos meus heróis (e heroínas) do cinema internacional. Entretanto, também vi vários filmes em festivais e cineclubes que não se enquadravam facilmente em nenhuma das duas categorias principais de ficção e documentário. Nessa época, eu não conhecia os
trabalhos de Chris Marker ou Harun Farocki, mas foi através dos filmes de Jean-Luc Godard, assim como dos escritos de Milan Kundera e Eduardo Galeano, que fui cada vez mais exposto à ideia de que uma obra artística também poderia ser uma terceira criatura – o que, no meu caso, significava fundir as formas do ensaio e do diário com as tradições cinematográficas de documentário e ficção.
4. Um bom número de filmes comissionados pela Films Division pode ser visto através do canal de YouTube da entidade: www.youtube.com/user/ FilmsDivision. [Nota dos curadores]
Dos cineastas indianos da época que trabalhavam com não ficção, achei Mani Kaul (1944-2011) o mais interessante e desafiador. Eu admirava as conquistas formais de seus célebres primeiros longas de ficção, mas o documentário A Desert of a Thousand Lines (1986), sobre o Rajastão, sua terra natal, realmente abriu meus olhos para oque era possível fazer com a realidade filmada. Depois disso, vi dois outros documentários dele, o curta Chegada ( Arrival , 1980) e o longa Dhrupad (1983), nos quais seu engajamento poético tratava respetivamente de sua amada Bombaim e do estilo de música clássica indiana pelo qual ele era apaixonado, e novamente achei seu uso da câmera emocionante e libertador. Mani também fez seu maravilhoso filme Siddheshwari (1989), em torno da grande cantora de thumri e sua cidade de Benares
(também conhecida como Varanasi), mas eu só vi esse filme alguns anos depois.
Chegada (que será mostrado com meus filmes no IMS) foi especialmente importante para mim. O primeiro filme que dirigi, chamado Bargain (1985), era sobre o New Market, um enorme edifício da era vitoriana em Calcutá. Em Chegada, Kaul filmou em torno do Crawford Market, a versão de Bombaim do New Market, e eu assisti a seu filme somente depois de ter concluído meu primeiro esforço estudantil. Embora ainda gostasse de muitas das coisas do meu filme, também pude ver como Kaul destilou de maneira magistral e criativa as qualidades da observação e do comentário cinematográfico e social. Uma cena em Chegada na qual ele se afasta das atividades da rua para seguir da janela de um apartamento, em um andar alto, um pedaço de papel voando, acompanhado por um trecho de uma música dhrupad, abriu meus olhos para o que um cineasta poderia fazer ao se dar a liberdade de usar a câmera tão pessoalmente quanto se faria com uma caneta ou um pincel. Embora eu nunca tenha seguido a máxima de Kaul de que cada cena de um filme deve ser autossuficiente (eu gostava da minha montagem picotada e das minhas cenas repentinamente interrompidas), essa foi uma
aprendizagem crucial à qual me apeguei com muita gratidão.
Meus três filmes em 16 mm foram todos patrocinados de uma forma ou de outra pelo Channel 4, no Reino Unido. Em Egaro Mile, obtivemos fundos para a conclusão graças a Alan Fountain, o coordenador de projetos do Channel 4 para filmes independentes e experimentais.5 Os outros dois filmes fizeram parte de uma série que Fountain lançou, chamada South ( South 1 e South 2 , em 1991 e em 1993), para a qual cineastas do Sul Global apresentaram propostas para financiamento e exibição no canal. Posso ver agora que meu trabalho esteve à beira de várias transformações. Os filmes foram feitos quase no final do movimento independente de 16 mm que começou na Índia no final dos anos 1970 e atingiu seu pico entre 1988 e 1995. Nessa época, câmeras DV com qualidade de transmissão entraram no mercado, assim como computadores de mesa com os quais era possível editar os filmes gravados em vídeo. Isso revolucionou a produção de não ficção em
todas as áreas, do financiamento necessário à maneira como a obra poderia ser exibida em diferentes contextos. No Reino Unido, o Channel 4, que foi criado como um canal para vozes minoritárias e marginais, teve suas premissas alteradas por exigências do mercado, com pessoas como Alan Fountain sendo forçadas a sair – dali em diante, ninguém mais seria capaz de lançar esse nosso tipo de filme limítrofe para a televisão mainstream europeia. A Índia, como já disse, entrou nos primeiros dias do seu tango com o mercado global, o que significou o encerramento abrupto de qualquer espaço que pudesse existir nas redes televisivas indianas para um cinema diferente.
Eu dirigi alguns documentários convencionais para a televisão britânica e depois passei a trabalhar como escritor e jornalista. No cinema, fiz apenas dois vídeos ensaísticos desde então.6 Nos 25 anos seguintes, Egaro Mile e Contos conseguiram ter vida própria, sendo programados de tempos em tempos em
5. Mais informações sobre Fountain podem ser lidas em inglês através do link www.theguardian.com/
tv-and-radio/2016/apr/12/alan-fountain-obituary.
[Nota dos curadores]
6. Os filme-ensaios de Joshi A Mercedes for Ashish (2005) e My Rio, My Tokio (2010) podem ser vistos através dos links www.youtube.com/watch?v=alqMTGaB0mo e www.youtube.com/watch?v=KZhYA70JAOs, respectivamente. [Nota dos curadores]
festivais na Índia e na Europa e ocasionalmente na América do Norte, enquanto Memórias não teve um destino tão feliz, pois não havia uma boa versão legendada do filme em DVD ou Betacam. Em 2013-2014, em parceria com o Arsenal – Institut für film und Videokunst e.V., em Berlim, iniciei um projeto de digitalização dos três filmes. Esse trabalho foi concluído no final de 2018, e os filmes restaurados começaram a ser reintroduzidos nas conversas de cinema a partir de 2019, com os anos de covid intervindo em 2020-2022.
De certa forma, esses filmes agora são duplamente terceiras criaturas. São o que eram quando foram exibidos pela primeira vez, em seu primeiro avatar, por assim dizer. Depois, foram exibidos erraticamente em mídias diferentes do 16 mm, como fitas VHS, U-Matic e Beta e, eventualmente, como DVDs, então fica a memória de como eles pareceram e se transformaram com seus diversos espectadores ao longo dos anos. E agora aqui estão, nascidos três vezes, não novos, mas novos, prontos para interagir com públicos inéditos. Graças às restaurações do Arsenal e aos esforços da Mutual Films, eles viajam pela primeira vez ao Brasil. Aguardo ansiosamente a repercussão.
Aliás: Eu gostaria de dedicar as sessões à memória de três pessoas: Deepak Majumdar (1934-1993), Vivan Sundaram (1943-2023) e Navroze Contractor (1944-2023).
Deepak foi um poeta, escritor, pensador cultural, provocador e professor que se deslocou pela zona rural de Bengala Oriental, por Calcutá, pela América, Grécia, França e Polônia, mas acabou vivendo principalmente em Calcutá. Para aqueles de nós, sortudos o suficiente para ter aprendido com ele e alimentado uma amizade, ele foi uma presença enorme, exasperante, enervante, estimulante e inspiradora em nossas vidas.7
Vivan foi um dos artistas mais importantes da Índia contemporânea (e ouso dizer do mundo). Desde seus dias de estudante em Baroda e depois em Londres, por volta de 1968, ele produziu uma variedade de trabalhos surpreendentes, de desenhos e pinturas narrativas a instalações, performances e vídeos. Sempre aliado a causas e formas progressistas, Vivan inspirou e apoiou energicamente as gerações seguintes. Sua perda no início deste ano parece terrivelmente
prematura, apesar dos problemas de saúde que sofreu no final de sua vida.
Navroze foi um dos maiores diretores de fotografia do cinema indiano. Ele começou a trabalhar com Mani Kaul, filmando o primoroso Duvidha (1973) com uma pequena câmera 16 mm com o mais lento dos estoques da Kodak. E, além de fotografar vários longas-metragens, ele foi um dos melhores cinegrafistas de documentários do mundo. Seu trabalho com sua esposa Deepa Dhanraj é apenas uma parte importante de sua vasta e variada obra. Sua morte em um trágico acidente de motocicleta em junho deste ano foi um golpe chocante para todos nós que o conhecíamos – mesmo aos 78 anos, Navroze era um dos mais jovens guerreiros do cinema.
Ruchir
Joshi, Berlim, julho de 20237. Majumdar tem um papel importante nos filmes Egaro Mile (Onze milhas) e Contos do planeta Kolkata. [Nota dos curadores]
Coutinho no Cecip
Claudius CecconEssas são as palavras de Coutinho, finalizando um texto escrito para o catálogo do festival Cinéma du Réel em 1992.
Eu só li essa frase muito tempo depois. Ela representa o que foi Coutinho no CECIP, o Centro de Criação de Imagem Popular. A decisão de trabalhar numa organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, que se propõe a atuar em comunicação e educação, na defesa e na ampliação de direitos de cidadania, é uma decisão arriscada, quixotesca, no limite do impossível, se não houver, para sustentá-la, uma fundação, um endowment, um lastro financeiro que garanta sua sobrevivência. O impossível se materializou no grupo que criou o CECIP. Tínhamos apenas a vontade, o desejo de realizar algo que contribuísse para a construção de um ideal democrático, depois de 21 anos de ditadura civil-militar. O que tínhamos a oferecer como garantia eram apenas nossas histórias de vida, as experiências que vivemos naqueles anos, a confluência dos vários percursos abertos, num caminhar em que esperança e utopia se alimentavam mutuamente.
Tínhamos Paulo Freire, Washington Novaes, Ana Maria Machado, Marialva Monteiro, Ennio
Candotti e Eduardo Coutinho, para nomear alguns nomes mais conhecidos. O Projeto Vídeo Popular era um sonho gestado durante muito tempo, que, após um momento inicial no Iser, tomou forma definitiva no CECIP, num processo do qual Coutinho participou intensamente. A TV Maxambomba, que produzia e projetava vídeos nas praças da Baixada Fluminense, é parte de experiências que aconteceram naqueles anos, mas sua inspiração, sua referência, era o Cabra marcado para morrer.
O que é “defender e ampliar direitos de cidadania”? Mesmo não tendo clareza sobre essa questão e muito menos uma resposta quanto aos caminhos para chegar lá, a presença de Coutinho nos livrou de sermos, como instituição, um instrumento de agit-prop (agitação e propaganda). No debate de um seminário realizado em 1997 na PUC-SP, sobre ética e história oral, Coutinho revelou o que está presente em tudo o que ele fez no CECIP, suas ideias, seu método de trabalho:
“Eu não faço roteiros escritos, inclusive, porque acho que, se eu fizer um roteiro escrito, não preciso filmar, já está feito ofilme. Tento fazer filmes em que tenho perguntas a colocar e vou tentar saber quais são as respostas fazendo o filme. Geralmente o filme, quando dá certo, não termina com uma resposta-síntese. Então,
“Só se pode subverter o real, no cinema ou alhures, se se aceita, antes, todo o existente, pelo simples fato de existir.”Boca de lixo, de Eduardo Coutinho
eu não faço cinema para militantes, graças a Deus, e meus filmes terminam, suponho eu, com perguntas e reflexões, e não com uma resposta.”
Os projetos que lhe foram apresentados tiveram dele uma respeitosa e intensa atenção. Coutinho tinha uma capacidade de concentração absoluta no tema proposto, até penetrar profundamente nele e, de certa maneira, incorporá-lo, em suas ambiguidades e incertezas. Só então se considerava em condições de ouvir, de escutar o outro, qualquer que fosse sua identidade, gênero ou característica pela qual comumente classificamos as pessoas que encontramos.
A valorização do que Coutinho realizou em vídeo, desde a consagração de seu Cabra marcado para morrer, em 1984, até sua volta às salas de cinema, em 1999, com Santo forte e Babilônia 2000, (também coproduzidos pelo CECIP), foi feita nesse terreno que alguns consideram como uma espécie de série B do campeonato A cinematográfico.
Volta Redonda, memorial da greve, Santa Marta, duas semanas no morro, Boca de lixo e Mulheres no front fazem parte dessa fase, da qual constam também O jogo da dívida – Quem deve a quem?; A lei e a vida, entre outras produções. São “filmes” que não foram para as telas do cinema, mas
fizeram outros percursos: circuitos universitários, associações comunitárias, sindicatos, comunidades de base. São produções que foram apresentadas em festivais nacionais e internacionais e que receberam quase uma centena de prêmios importantes. Foram consagrados, sobretudo, por audiências que fazem parte de movimentos cuja influência no dia a dia de comunidades não é percebida por pesquisas ou estatísticas, até que, por algum fato, aflorem à superfície, em protestos de todo tipo, como se fossem um fenômeno inesperado da natureza a desafiar o status quo.
A produção de Coutinho desvela essa fase cecipiana, onde ele teve toda a liberdade de aperfeiçoar a sua técnica da escuta, essa capacidade extraordinária que possuía, um dom genuíno e original.
O CECIP era o refúgio de Coutinho, uma base estável, protegida, onde ele podia ler, escrever com dois dedos na sua Olivetti 22, receber quem ele desejasse ou aquiescesse conversar e preencher cinzeiros com cigarros consumidos pela metade. Nas equipes formadas pelas produções que ele realizou no CECIP, passaram profissionais de primeira linha e jovens iniciantes que já o tinham como modelo. Sérgio Goldenberg, assistente em Santa Marta ,
Theresa Jessouroum, em Volta Redonda.
Pablo Pessanha, Jacques Cheuiche, Jordana
Berg, Cristiana Grumbach, Tim Rescala, um time de colaboradores que talvez não acontecesse em outro ambiente. Mas, além dessa turma, toda a equipe do CECIP foi influenciada pela presença cotidiana de Coutinho, por suas opiniões, pelas conversas, pelo seu senso de humor.
Cada uma das produções que constam dessa série tem histórias que precisariam de mais espaço para serem contadas. Mas o resultado que Coutinho obteve em cada uma delas mostra sua disposição em dar voz aos que não a têm e, com isso, revelar a realidade que não se deve naturalizar. Sindicalistas, favelados, catadores de lixo e mulheres que mudam a vida de suas comunidades são indícios de mudanças, do “inédito viável” que Paulo Freire propunha.
O que foi possível preservar da trajetória de Coutinho está hoje sob os cuidados do Instituto Moreira Salles. Além de filmes e documentários em vídeo, há anotações em inúmeros cadernos e recortes. Num pequeno texto de Claude Lanzman sobre os títulos que pensou para seu documentário Shoah, Coutinho sublinhou o que poderia ser o resumo de sua obra: “o lugar e a fala”.
Rio, agosto de 2023
Asteroid City
Wes Anderson | EUA | 2023, 105’, DCP (Universal)
No mais recente filme de Wes Anderson, somos apresentados aos bastidores e à encenação de uma peça chamada Asteroid City, que se passa em 1950 em uma cidade fictícia do deserto norteamericano. Na peça, uma convenção juvenil de astrônomos é interrompida por uma série de eventos misteriosos.
“Asteroid City era algo sobre o qual Roman Coppola e eu estávamos conversando. Durante muito tempo, pensei em fazer algo que tivesse a ver com o teatro aqui [na cidade de Nova York] quando ele estava em seu último auge – seu último momento de ouro, ou algo assim. A era do Actors Studio e a Broadway”, comenta Wes Anderson em entrevista ao portal The Daily Beast. “Tínhamos mais ou menos duas coisas. Queríamos fazer algo com Jason Schwartzman no centro; tínhamos a ideia de escrever um papel para Jason. Acho que tínhamos a sensação de que seria um pai que está lidando com um momento de extrema tristeza.
Depois, tivemos a ideia de fazer algo em um palco, e também contaríamos a história da peça que eles estavam montando, e isso seria uma grande parte do filme. [...] Estávamos pensando em algo parecido com Sam Shepard, em algum lugar do Oeste. Então, tudo se misturou e se tornou essa coisa dos anos 1950.”
“Há muitos filmes de deserto dos anos 1950 (e anteriores) – é meio que uma coisa americana. Voltei a alguns desses filmes e assisti a vários que nunca tinha ouvido falar antes, e foi interessante. Há um novo tipo de cinema que acontece nos anos 1950, com o Cinemascope. Há um tipo de cinema em widescreen, o de David Lean, que tem essa coisa épica. E há outro tipo com o qual me associo mais, não necessariamente de filmes B, mas não tão prestigiados, que têm uma natureza selvagem e uma energia diferente. Eles não têm o ritmo dos filmes dos anos 1930, mas têm algo feroz que, em parte, vem do mundo de [Elia] Kazan. Mas também acho que isso pode ter algo a ver com essa nova forma da imagem e para onde ela está levando os cineastas.”
[Íntegra da entrevista, em inglês: bit.ly/imsacity]
Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
Eami
Paz Encina | Paraguai, França | 2022, 85’, DCP (Filmicca)
No idioma do povo indígena Ayoreo Totobiegosode, “eami” significa “floresta”. Também significa “mundo”. Atualmente, eles vivem em uma área que está sofrendo o desmatamento mais rápido do planeta, no Chaco paraguaio.
A diretora paraguaia Paz Encina mergulhou na mitologia Ayoreo-Totobiegosode e ouviu histórias sobre como as pessoas estão sendo expulsas de suas terras. A partir dessa experiência, fez um filme sobre uma menina de cinco anos chamada Eami. Depois que sua aldeia é destruída e sua comunidade se desintegra, Eami vagueia pela floresta tropical. Ela é o deus-pássaro – explica em voice-over em seu próprio idioma – procurando por quem quer que tenha sobrado. “Lembre-se de tudo”, diz o lagarto/velho que acompanha Eami em sua jornada.
Em entrevista à revista Variety, Encina comenta o processo de realização do filme, desde o encon-
tro com a comunidade indígena até o trabalho de reelaboração do filme na sala de edição: “Logo no início do processo, me surpreendi ao ver que quase não havia contato físico entre pais e filhos, eles nunca se abraçavam, mal se tocavam. Logo percebi que isso se devia ao fato de que, para eles, tudo é transmitido por meio de palavras. É uma relação profunda com o mundo por meio da oralidade, a linguagem está no centro e estrutura toda uma relação. Eles não usam nossas convenções verbais com relação ao tempo. Por exemplo, falam todos ao mesmo tempo, ao contrário de nós, que esperamos que o outro termine a frase. É uma harmonia totalmente diferente, em que a palavra é essencial. Portanto, o filme só poderia seguir essa mesma estrutura lógica, em que não há futuro ou passado, e se baseia fortemente em suas palavras. Um dos momentos mais bonitos foi quando uma mulher me disse: ‘Para mim, isso é amor, o que estamos fazendo agora, o encontro com a palavra’.”
“Tive a imensa sorte de trabalhar com Jordana Berg, a editora dos filmes de Eduardo Coutinho. Foi como uma escola de edição, um sonho que se tornou realidade. Fiquei maravilhada com seu processo, e ela me ajudou imensamente, pois eu havia escrito o filme e, como sempre acontece, você chega à sala de edição, e o filme não é mais aquele. Eu havia filmado rostos e entrevistas que achei que seriam centrais e poderiam se tornar o fio condutor, mas não funcionou, então tivemos que reescrever o filme, literalmente. Fizemos muitas subtrações e reformulações. Mas ela fez uma imensa contribuição espiritual, estando na sala de edição com essa mulher que podia ver através do que havíamos encontrado durante a filmagem e
encontrar as pérolas. Parecia uma jornada interior que percorremos juntas, lado a lado. Foi maravilhoso, mas tempestuoso, porque muitas vezes eu me sentia muito perdida.”
Em 2022, Eami, foi o vencedor do Tiger Award, prêmio principal do Festival de Cinema de Roterdã.
[Íntegra da entrevista, em inglês: bit.ly/imseami]
Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
Estranha forma de vida
Extraña forma de vida
Pedro Almodóvar | Espanha | 2023, 31’, DCP (O2 Play)
Na primeira cena do novo média-metragem de Almodóvar, Caetano Veloso entoa o fado homônimo de Amália Rodrigues. “Que estranha forma de vida/ Tem este meu coração”. No filme, dois ex-pistoleiros de aluguel no Velho Oeste, interpretados por Ethan Hawke e Pedro Pascal se reencontram depois de trabalharem juntos há mais de 25 anos. Entre crimes e uma forte tensão sexual, logo fica claro que o motivo do reencontro não é estritamente amigável ou coincidente. Como em seu recente longa-metragem Dor e glória, Almodóvar retrata o reencontro de dois homens maduros que viveram uma paixão de juventude. Em entrevista à Radiotelevisión Española, ele comenta: “Achei mais atraente, porque já havia feito isso [o encontro amoroso entre homens] de outras idades. E não há muitos filmes que falem sobre o desejo entre homens maduros.
Praticamente nus, neste caso, porque eles estão levantando da cama, mas acima de tudo estão desnudos da palavra do que acabou de acontecer entre eles. Foi isso que me atraiu: dois velhos cowboys em um gênero tão masculino e dando voz a uma situação que nunca vi nesse gênero. Exceto em Johnny Guitar (Nicholas Ray, 1954), que é uma exceção, é um gênero masculino. Acho que há um grande espaço a ser investigado que tem a ver justamente com o desejo desses homens.” O filme estreou na edição deste ano do Festival de Cannes e tem figurino da Saint Laurent Productions, nova divisão cinematográfica da casa Yves Saint Laurent.
[Íntegra da entrevista, em espanhol: bit.ly/ extrañaIMS]
Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
Lobo e cão
Cláudia Varejão | Portugal | 2022, 111’, DCP (Filmicca)
Ana nasceu em São Miguel, uma ilha no meio do oceano Atlântico, em território português, marcada pela tradição e pela religiosidade das gerações mais velhas. É a filha do meio de três irmãos que vivem com a mãe e a avó. Em sua amizade com Luís, um jovem LGBT, Ana questiona o mundo que lhe foi prometido e os papéis de gênero que lhe foram designados. Quando sua amiga Cloé chega do Canadá, Ana embarca numa viagem que a levará a novas experiências.
Primeiro longa de ficção de Cláudia Varejão, diretora de Ama-san, Lobo e cão recebeu o prêmio de Melhor Filme da mostra Jornada dos Autores, do Festival de Veneza, em um júri presidido por Céline Sciamma. Em entrevista para o portal Comunidade Cultura e Arte, quando questionada sobre o caráter performático dos personagens LGBT, Varejão comenta:
“Não será a grande performance o papel da virilidade que os homens herdam da educação e
que são milénios de História? E agora estamos a falar dos homens, mas podemos falar do papel de género também da mulher. Enfim, não será essa a grande performance que aprisiona mais o ser humano? O que eu vejo neste filme, nestes jovens, é que eles quebram a performance e trazem uma coisa muito interessante: nós não somos só uma coisa, somos múltiplas coisas. E se nos permitirmos a brincar com as máscaras que pomos, esse lado performático, com mais liberdade, somos mais completos.”
"[...]As pessoas vão fazendo aquilo que melhor sabem fazer mediante do contexto. É como o pai neste filme. Nós não conseguimos odiá-lo, ele é agressivo, mas nós vemos naquele rosto o contexto, a história de vida dele. Nós pensamos: ‘Este homem também herdou um papel de género que não lhe permitiu experimentar outra forma de ser’. Ele não quer que o filho arrisque ser outra coisa, porque ele também não pôde ser, ele não conhece outro lugar. E, portanto, se calhar, o filme permite-me olhar para as pessoas com quem eu me fui cruzando ao longo da vida, com mais ou menos preconceito, com mais humanidade. Os filmes são um apaziguamento com a Humanidade, para mim. Vão-me ajudando a conhecer melhor a vida, as pessoas, como é que nós nos comportamos. Aprendo muito com as pessoas. É por isso que me fascina tanto o documentário – porque não vem só de mim.”
[Íntegra da entrevista de Varejão em: bit.ly/ lobocaoims]
Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
Máquina do desejo
Joaquim Castro, Lucas Weglinski | Brasil | 2023, 110’, DCP (Descoloniza Filmes)
Em seis décadas, o Teatro Oficina fez mais que revolucionar a linguagem teatral no país: a influência estética da companhia de José Celso Martinez Corrêa estende-se do Tropicalismo à renovação das linguagens audiovisuais brasileiras a partir dos anos 1960. A partir do precioso acervo audiovisual da Associação Teatro Oficina Uzyna Uzona, o filme revisita uma história que envolve personalidades como Caetano Veloso, Glauber Rocha, Lina Bo Bardi, Chico Buarque e José Mojica Marins, aproxima arte cênica, ecologia, arquitetura e sexualidade, e se propõe a misturar arte e vida em busca de uma linguagem verdadeiramente brasileira. Originalmente previsto para estrear em outubro, o filme teve o lançamento antecipado como parte de um mutirão artístico em homenagem a Zé Celso.
Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
Marinheiro das montanhas
Karim Aïnouz | Brasil, França, Alemanha | 2021, 98’, DCP (Gullane)
Um diário de viagem filmado na primeira ida de Karim Aïnouz à Argélia, país em que seu pai nasceu. Entre registros da viagem, filmagens caseiras, fotografias de família, arquivos históricos e trechos de super-8, o longa opera uma costura entre a história de amor dos pais do diretor, a Guerra de Independência Argelina, memórias de infância e os contrastes entre Cabília, uma região montanhosa no norte da Argélia, e Fortaleza, cidade natal de Karim e de sua mãe, Iracema.
“Esse é um filme evidentemente muito pessoal”, comenta Karim em entrevista a Patricia Moribe para a agência de notícias RFI por ocasião da exibição do filme no Festival de Cannes, em 2021. “Mas o maior desafio foi como tornar essa história relevante pro mundo. Porque eu podia ter feito algo num caderno, num álbum, guardado na minha gaveta e continuado no meu arquivo pessoal, mas o que foi importante pra mim foi um pouco falar
de como as nossas vidas hoje, como as vidas dos nossos pais, da geração que eu venho, desses lugares de onde eles saíram, são tão marcadas por experiências coloniais e pós-coloniais. Isso pra mim que foi muito bonito de entender, que meus pais se encontraram porque houve uma revolução na Argélia, uma guerra de independência colonial, que fez com que meu pai fosse para os EUA, que ele encontrasse a minha mãe, que era uma mulher que tava saindo do Brasil, o que era muito raro naquela época. [...] Pra mim foi um pouco uma maneira de falar da história e de uma história tão importante e tão pouco falada, dessas histórias cruzadas, mesmo que não fosse através de um livro de história, mas que fosse através de um poema.”
Na mesma viagem em que rodou Marinheiro das montanhas, Karim Aïnouz foi surpreendido por grandes manifestações de rua que aconteciam na Argélia naquele momento. Filmando essas manifestações, fez Nardjès A., também em cartaz no IMS Paulista.
[Íntegra da entrevista: bit.ly/marinheiroims]
Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
Nardjès A.
Karim Aïnouz | Brasil, Argélia, França, Alemanha | 2020, 80’, DCP (Gullane)
Na primavera de 2019, em sua primeira viagem à Argélia para realizar o filme que viria a ser Marinheiro das montanhas, também em cartaz no IMS Paulista, o cineasta Karim Aïnouz se deparou com uma série de protestos contra o quinto mandato do presidente Abdelaziz Bouteflika. Munido de um celular, por não ter autorização policial para filmar as manifestações com uma câmera, ele se propõe a documentar um dia da ativista e atriz Nardjès A. em uma grande manifestação.
“Eu achava que era muito importante que a gente pudesse seguir, estar presente, acompanhar aquela manifestação a partir de uma perspectiva que não fosse a minha”, comenta Aïnouz em entrevista ao portal Plano Crítico. “Claro que a minha perspectiva está lá, é evidente, mas que fosse a perspectiva de alguém que estivesse dentro do movimento. Eu não tô olhando o movimento, eu
não moro lá, eu tava chegando lá. É óbvio que o filme tem tudo isso, ele tem o meu jeito, um deslumbramento com as pessoas, tá tudo na imagem, eu não tentei esconder isso. Mas eu queria muito que a gente acompanhasse de dentro, então pra mim é muito importante que fosse uma militante. A Nardjès tinha algo muito fascinante pra mim, porque ao mesmo tempo queria que fosse alguém que conseguisse fazer isso e conseguisse ter uma relação com a câmera, de familiaridade, e não pegar qualquer um, e ela é atriz. Ela é atriz de cinema e teatro. [...] E aí ela me fez uma pergunta: ‘Eu topo que você me filme durante o dia da manifestação, mas não me peça para atuar, porque isso aqui é importante demais para eu fazer o papel de outra pessoa’. E aí eu achei aquilo fascinante, e aí foi um pouco essa escolha da gente atravessar esse momento, essa manifestação, a partir de um ponto de vista do personagem.”
[Íntegra da entrevista: bit.ly/nardjesaims]
Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
Terra de Deus
Godland
Hlynur Pálmason | Dinamarca, Islândia, França e Suécia | 2022, 143’, DCP (Filmicca)
Diz o letreiro inicial, em dinamarquês e islandês: “Uma caixa de madeira foi encontrada na Islândia com sete fotografias em chapa úmida tiradas por um padre dinamarquês. Essas imagens são as primeiras fotos da costa sudeste. Este filme é inspirado nessas fotografias.”
Exibido na mostra Um Certo Olhar do Festival de Cannes, em 2022, Terra de Deus acompanha um jovem padre dinamarquês que viaja para uma região remota da Islândia no fim do século XIX para construir uma igreja. Ele toma o caminho mais difícil para poder fotografar a população e a paisagem local. A dureza da terra desconhecida e a adaptação entre os locais vão dificultar ainda mais seus objetivos.
“Sou islandês e cresci na Islândia, mas morei na Dinamarca por muito tempo e criei meus filhos lá, então estou meio que entre países”, comenta o
diretor Hlynur Pálmason em entrevista à jornalista Tina Jøhnk Christensen. “Não faz muito tempo, nós [na Islândia] estávamos sob a coroa dinamarquesa – até a Segunda Guerra Mundial. Então, tem muita história aí. Eu queria trabalhar com esses opostos, que não são apenas em termos de história entre a Dinamarca e a Islândia, mas também em termos de idioma e da falta de comunicação entre esses povos.”
“Comecei a trabalhar nele [Terra de Deus] em 2014, portanto, é um processo longo e, para mim, é sempre sobre a exploração e a descoberta. Li muitos livros de viagem e me interessei tanto pelos de pessoas que vieram para a Islândia quanto as que viajaram pela Islândia, e muitas delas foram realmente bastante negativas quando falaram sobre os islandeses que encontraram em seu caminho e também sobre a dureza do país. Mas eu realmente tentei, tanto quanto possível, não apontar muito o dedo. Na maioria das vezes, eu estava brincando com isso – de ambos os lados.”
[Íntegra da entrevista, em inglês: bit.ly/godlandims]
Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
SESSÕES ESPECIAIS
Viver e morrer em Los Angeles
To Live and Die in L.A.
William Friedkin | EUA | 1985, 116’, DCP (Park Circus)
Na tentativa de rastrear o falsificador de dinheiro e artista plástico Eric Masters, interpretado pelo então jovem e pouco conhecido Willem Dafoe, um agente da polícia de Los Angeles é assassinado. Seu parceiro de trabalho jura vingança e desenvolve uma obsessão por capturar Masters, custe o que custar. Mas talvez ele não esteja à altura dessa operação.
Viver e morrer em Los Angeles é um dos grandes filmes de William Friedkin, mais conhecido por O exorcista (1973) e Operação França (1971). Falecido em agosto, Friedkin deixa uma filmografia a ser descoberta e revisitada. Convidamos o público do IMS Paulista a viver em sala escura a trilha sonora de Wang Chung – anos 1980 em sua melhor forma –, que por vezes se mescla quase que indissociavelmente à ação; acompanhar a estilização máxima de cada plano e os nove minutos coreografados de perseguição de carro.
Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).
Os Doces Bárbaros
Jom Tob Azulay | Brasil | 1976, 100’, 35 mm (Cinemateca Brasileira) e Arquivo digital (Acervo do artista)
Em homenagem e celebração da cantora Gal Costa, que no dia 26 de setembro completaria 78 anos, o Cinema do IMS exibe Os Doces Bárbaros, documentário musical sobre a turnê que Gal, Gilberto Gil, Maria Bethânia e Caetano Velloso fizeram em 1976 em comemoração dos dez anos de suas carreiras.
Essa é uma oportunidade única de assistir ao mesmo filme em dois formatos diferentes: uma cópia 35 mm feita em 2004 e depositada na Cinemateca Brasileira e em uma digitalização 4K gentilmente cedida pelo diretor Jom Tob Azulay.
Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).
Sessões especiais
Histerias (1983), um documentário experimental de Inês Castilho, terminaria com a voz desencarnada de uma mulher. Histerias é também sobre a transgressão da forma, sobre a quebra das regras da narrativa e do documentário. É também sobre a destruição das noções convencionais de feminilidade e das suas representações. Para além das muitas semelhanças temáticas, é isto que une os seis filmes de Seis vezes mulher, a procura de liberdade para desafiar a norma e construir algo novo, seja através de uma linguagem inovadora que rompe com a feminilidade e o seu significado (Histerias, Preparação 1, A entrevista) ou tornando visíveis as lutas e alegrias de mulheres marginalizadas (Duas vezes mulher, Ana, Meninas de um outro tempo). Seja qual for o caminho, todos esses filmes desafiam a forma como as mulheres são vistas e retratadas, e a sua própria existência, impressa numa película, é um ato de liberdade, de criação de uma nova imagem que não tínhamos antes. E, pouco a pouco, cria-se a própria voz.
Concebido por Another Gaze e Cinelimite e realizado em parceria com o Instituto Moreira Salles, o programa Seis vezes mulher tem curadoria da pesquisadora Hanna Esperança e de William Plotnick. Este programa é um desdobramento da mostra Mulheres: uma outra história, realizada por Cinelimite e Another Gaze, da qual serão exibidas também digitalizações 2K dos filmes Mulheres: uma outra história (1988), de Eunice Gutman, e Sulanca (1986), de Katia Mesel.
Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).
Mulheres: uma outra história
Eunice Gutman | Brasil | 1988, 36’, DCP, digitalização em 2K (IDFB)
Filmado enquanto o Brasil transitava de volta à democracia, após mais de duas décadas sob ditadura, Mulheres: uma outra história centra-se nos diversos aspectos da participação das mulheres no cenário político brasileiro e apresenta entrevistas com algumas das 23 mulheres que foram eleitas para a Assembleia Constituinte e que conseguiram obter a aprovação de algumas de suas propostas para a Constituição Brasileira, que estava sendo elaborada na época. O filme apresenta depoimentos da sufragista Carmen Portilho, que recorda a longa história da luta das mulheres para conquistar o direito de voto no país, e de Jandira Feghali e Benedita da Silva, que se tornaram algumas das líderes políticas mais influentes da história do país.
Exibição da nova cópia digitalizada em 2K pela Iniciativa de Digitalização de Filmes Brasileiros (IDFB) da Cinelimite.
Sulanca – A revolução econômica das mulheres de Santa Cruz do Capibaribe
Katia Mesel | Brasil | 1986, 41’, DCP, digitalização em 2K (IDFB)
A Feira da Sulanca continua a existir em Pernambuco, Nordeste do Brasil, como um mercado famoso, que vende e exporta artigos para a indústria têxtil nacional. Embora esses mercados já tenham sido um lugar hostil para mulheres, que lutavam para ganhar a vida, a Sulanca de Katia Mesel documenta a revolução econômica das mulheres de Santa Cruz do Capibaribe: costureiras que, através da colaboração e da determinação, conseguiram construir vidas para si mesmas e mudar o cenário socioeconômico de uma das regiões mais negligenciadas do Brasil.
Exibição da nova cópia digitalizada em 2K pela Iniciativa de Digitalização de Filmes Brasileiros (IDFB) da Cinelimite.
Preparação 1
Letícia Parente | Brasil | 1975, 3’, DCP (Acervo da artista)
Em frente a um espelho, a artista inverte sua própria imagem, mas não é uma visão de cima para baixo, é cegueira em vez de visão. Letícia Parente cuida de cada parte de seu rosto, como uma mulher que prepara a maquiagem antes de sair. Primeiro, ela cola a boca e, depois, delineia os lábios. Em seguida, repete o processo em seus olhos. O desenho da fita recria o que ela esconde. Sem fala ou visão, a mulher continua a arrumar o cabelo, depois fixa o olho maquiado bem aberto e sai do banheiro.
A entrevista
Helena Solberg | Brasil | 1966, 20’, DCP, digitalização em 2K (IDFB)
A entrevista (1966), de Helena Solberg, foi filmado em 1964, ano que marcou o início do golpe militar no Brasil. O filme foi lançado dois anos depois, no auge do movimento Cinema Novo, e gerou um burburinho na estreia devido a seus temas. O curta-metragem de 19 minutos é o resultado de entrevistas realizadas com várias mulheres entre 19 e 27 anos de idade que são da classe média alta. As entrevistadas falam sobre casamento, sexo, virgindade, fidelidade, felicidade, trabalho e os papéis sociais que são atribuídos ou impostos às mulheres. Por trás dessas entrevistas, emerge um perfil convencional da mulher brasileira, idealizado por questões relacionadas à opressão feminina e à repressão militar vivenciada no país. As lentes de Helena Solberg afirmam a presença da mulher no cinema como protagonista, seja filmando, produzindo ou atuando, sempre de forma autoral. Nesse contexto, A entrevista é
um documentário que condensa as aspirações de uma geração e de uma sociedade em contínua transformação.
Exibição da nova cópia digitalizada em 2K pela Iniciativa de Digitalização de Filmes Brasileiros (IDFB) da Cinelimite.
Duas vezes mulher
Eunice Gutman | Brasil | 1985, 11’, DCP, digitalização em 4K (IDFB)
Duas vezes mulher compara a vida de duas mulheres na favela do Vidigal, no Brasil. Jovina e Marlene deixaram o campo para se aventurar na cidade e tentar viver de forma diferente, construir sua própria vida e sua própria casa. Elas nos contam sobre a vida em um relacionamento, a vida como solteiras, sobre os filhos, as dificuldades em criá-los, o trabalho doméstico, em sua casa e na casa de outras pessoas, seu lugar como mulheres na sociedade, a vontade de independência, as batalhas que ainda precisam travar.
Exibição da nova cópia digitalizada em 4K pela Iniciativa de Digitalização de Filmes Brasileiros (IDFB) da Cinelimite.
Ana
Regina Chamlian | Brasil | 1982, 11’, DCP (Acervo da artista)
Em Ana, Regina Chamlian traça um perfil contemplativo e poético da artista Ana Moisés. O que elas contam reflete a realidade de muitas Anas, Reginas, e tantas outras mulheres brasileiras que lutam por igualdade. A obra de Ana expressa sua necessidade de extravasar, ao passo que o filme é um retrato intimista de uma artista. É através dela que ouvimos falar de amor, morte, frustração e maturidade.
Meninas de um outro tempo
Maria Inês Villares | Brasil | 1987, 25’, DCP (Acervo da artista)
Meninas de um outro tempo é o último filme dirigido pela cineasta Maria Inês Villares, no qual ela registra os depoimentos de mulheres de terceira idade que moram em um asilo. Singelamente, elas compartilham seus sentimentos e reflexões sobre amor, vida, sexo, solidão e velhice. Nas palavras da diretora, o filme é “uma reflexão sobre a vida quando já há pouco dela pela frente”, somos apresentados a um retrato melancólico sobre um momento da vida em que mulheres muitas vezes se encontram profundamente sozinhas. O filme foi realizado com uma equipe reduzida, que contava com a parceira criativa de longa data de Villares, Olga Futemma, e foi produzido pela empresa de Futemma e Renato Tapajós, a Produtora Tapiri.
Histerias
InêsCastilho|Brasil|1983,17’, DCP(Acervodaartista)
Entrecortadopeladança-performance Possessão, interpretadapelaartistaJulianaCarneiroda Cunha,ocurta-metragemexperimental Histerias, deInêsCastilho,sedebruçasobreaopressão femininacomumolharaguçado.Ofilmenos levanumajornadadesorientadora,comcortes abruptosdesomeimagem,perpassandopelo documental,oficcionalea performance,nos fazendoexperienciarpartedainquietudena qualelemergulha.CastilhofazmençõesàIgreja Católica,àsexualidadereprimida,àviolênciaracial perpetradapormulheresbrancas,àsolidãoeao cansaçomaternos,aochauvinismomasculino, aosvícios,culminandonafúriaenodesejoque nãopodemmaissercontidos,precisamencontrar vazãonocorpoenatela.
Sessão Mutual Films
Uma terceira criatura: Filmes de Ruchir Joshi
A Sessão Mutual Films de setembro destaca a obra do cineasta, escritor e fotógrafo indiano Ruchir Joshi (que nasceu em Calcutá em 1960). Joshi chama seu cinema de “uma terceira criatura” – nem ficção, nem documentário tradicional, mas uma não ficção que trilha seu próprio caminho em diálogo com os trabalhos e pensamentos de outros artistas. Os programas que vão passar no IMS contam com três filmes do cineasta que foram rodados em 16 mm e lançados no início da década de 1990, e que serão apresentados em novas restaurações digitais. O longa-metragem Egaro Mile (Onze milhas) (1991) apresenta de forma discursiva os cantores folclóricos itinerantes no estado indiano de Bengala Ocidental, conhecidos como Bauls, cujo trabalho constitui uma tradição milenar. O curta-metragem Memórias da cidade do leite (1991) explora a cidade de Amedabade com um olhar poético, em parceria com o dramaturgo Madhu Rye, e, o filmeensaio de média-metragem Contos do planeta Kolkata (1993) (feito em colaboração com o artista norte-americano Tony Cokes, entre outros) cria um jogo de espelhos entre a metrópole indiana do título e suas representações difamatórias na mídia ocidental. A sessão também inclui uma versão remasterizada do curto retrato da cidade de Bombaim Chegada (1980), do grande cineasta experimental indiano Mani Kaul, uma referênciachave para Joshi em sua busca cinematográfica por formas únicas.
A Sessão Mutual Films tem curadoria e produção de Aaron Cutler e Mariana Shellard.
Programa 1
Egaro Mile (Onze milhas)
Egaro Mile
Ruchir Joshi | Índia | 1991, 160’, DCP (Arsenal)
O único documentário de longa-metragem de Ruchir Joshi realizado até agora começa com uma dedicatória ao seu pai, o escritor Shivkumar Joshi, que morreu durante as filmagens e que estimulou seu filho a seguir uma vida nas artes. Segue-se, então, um intertítulo com uma velha história sobre um homem cuja barriga inchada produzia um som percussivo que espantava até os pássaros das árvores e cuja risada tornava-se uma canção. Assim, Ruchir faz a primeira descrição dos Bauls, artistas cujas presenças, obras e odisseias formam a matéria-prima de seu filme.
Egaro Mile foi filmado ao longo de três anos em diversos locais no estado de Bengala Ocidental, da aldeia de Aranghata ao coração de Calcutá. O título do filme (que conta com o subtítulo Um diário de jornadas) é o nome, inventado por um jovem Baul chamado Karthik Das, de um determinado lugar qualquer dado como ponto de partida para
novas explorações. Como explica o pesquisador e músico bengalês Deepak Majumdar – que aparece de forma periódica navegando em uma canoa no rio Ganges –, os Bauls são “um grande grupo de pessoas espalhado por Bengala Ocidental, que carrega por mais de mil anos uma tradição de contar histórias relativas ao ser humano através de músicas, danças, performances, gestos, silêncios, olhares...”. Ele os insere dentro do contexto global da cultura itinerante e folclórica, ao lado dos trovadores e ciganos europeus, hobos americanos e rastafáris jamaicanos.
O filme apresenta lindas performances dos Bauls ao longo de três capítulos e um epílogo, cujas cenas seguem uma ordem não cronológica e frequentemente contam com cartelas que trazem as letras das músicas sobre buscas pessoais. No processo, diversos “homens do coração” (como os Bauls são descritos em certo momento) entram em foco, como o sensível Paban Das e o conflitante Gaur Khepa, que se conheceram na infância, viveram e tocaram juntos por muito tempo e se separaram alguns anos antes do começo das filmagens. Também aparecem Bauls mais veteranos, como as fortes e francas figuras maternas Ma Gosai e Mira Mahanta, o emotivo Subol Das (professor de Paban e Gaur) e o grande guru Haripada Goshai, que, de forma perspicaz, ironiza o potencial etnográfico do projeto de Ruchir, dizendo a ele: “Nós filmaremos vocês, em suas casas, como vocês estão filmando o nosso festival”.
O cineasta também coloca sua própria voz de narrador no filme, refletindo em diversos momentos sobre por onde começar e como explicar as vidas de seus protagonistas. Entramos em sua
casa em Calcutá, observamos suas referências musicais, anotações, desenhos – os quais também aparecem nos intertítulos dos capítulos – e ouvimos as suas indagações sobre o que estamos assistindo, seja os Bauls ou um filme sobre eles. No processo, Ruchir situa os Bauls ao lado de artistas bengaleses, como o escritor Rabindranath Tagore e os cineastas Satyajit Ray e Ritwik Ghatak, assim como músicos e escritores americanos e europeus (Laurie Anderson, Bob Dylan, Michel Foucault, entre outros). Uma frase de T. S. Eliot, “e o fim de toda nossa exploração será chegar no ponto de partida”, sublinha a estrutura circular do filme, que serve como um inestimável registro histórico ao mesmo tempo que contempla sua razão de ser e método de execução.
Egaro Mile (Onze milhas) começou como uma produção independente em 1988 e foi finalizado com o apoio do Channel 4, no Reino Unido, em 1991, mesmo ano em que ele ganhou o prêmio Joris Ivens no festival Cinéma du Réel. O filme, junto aos outros dois filmes de Ruchir Joshi realizados no mesmo período, foi restaurado digitalmente entre 2017 e 2018 pelo Arsenal – Institut für Film und Videokunst e.V., em Berlim, a partir do negativo de câmera original em 16 mm e uma fita magnética em 16 mm da mixagem final do som. As exibições do filme no IMS marcam sua estreia brasileira.
Programa 2: Amedabade, Bombaim, Calcutá (3 filmes, 74 min)
O programa de três filmes passa pelas ruas de três cidades indianas, cada uma com suas particularidades. E assim reflete um deslocamento feito pela família de Ruchir Joshi, cujos pais migraram de Amedabade, no estado de Gujarate, para Calcutá antes dele nascer. Em um texto escrito para o WdW Review em 2015, o cineasta e escritor lembra da viagem anual feita durante sua infância para o outro lado do país para visitar seus parentes gujaratis, com a cidade de Bombaim se inserindo no caminho: “Os contrastes entre Calcutá, Bombaim e Amedabade eram enormes. Calcutá era tropical, superpopulosa, decrépita, com a sensação de que em todo lugar coisas e sistemas quebravam... Bombaim era tropical, superpopulosa e assustadora: as coisas funcionavam, mas a um ritmo feroz e surreal... Amedabade, entretanto, parecia ser completamente desconectada das tensões que torturavam as duas cidades grandes. As pessoas eram relaxadas, calorosas e generosas, e até seu humor era gentil”.
Memórias da cidade do leite apresenta cenas de Amedabade (filmadas por Ruchir e Ranjan Palit), com texto e narração do dramaturgo gujarati Madhu Rye, que casa versos rimados de uma peça de rádio da década de 1960 com um texto autobiográfico. Inúmeras vacas nos guiam pelas ruas de uma cidade popular e simples, com aspecto pacato, enquanto ouvimos sobre um processo rápido de modernização e americanização que atinge os habitantes. Os rebanhos de animais compartilham as praças com bancas de comida de rua e um fluxo constante de motocicletas. Acompanhando os momentos lúdicos, há um tom sombrio que aponta para a história de violência
e opressão na cidade contra a minoria muçulmana. Enquanto crianças, mulheres e homens brincam, comem e se divertem à noite, Rye fala de “Amedabade... Onde basta uma folha cair para incitar rebeliões religiosas”.
A Bombaim percorrida por Mani Kaul em Chegada é também uma cidade de contradições. Embora Kaul seja mais conhecido por dirigir obras-primas narrativas do movimento de Cinema Paralelo indiano, como Uski Roti (1970) e Duvidha (1973), ele também fez documentários majestosos, nos quais sua liberdade formal driblou as restrições da obra comissionada. As imagens de Chegada (embaladas pela trilha sonora do renomado compositor clássico indiano Raghunath Seth) descrevem, quase sem diálogos, a variedade dos trabalhos precários oferecidos aos mais pobres. Operários da construção civil sobem de chinelo, sem capacete, num elevador estruturado por finas toras de madeira. Trabalhadoras carregam bacias de pedras nas cabeças. Centenas de pessoas dormem no chão de uma estação de trem. As variedades das comidas são ao mesmo tempo produtos de labor e ocasiões para descanso de pessoas que olham para a câmera com expressões marcantes.
Em Contos do planeta Kolkata, Joshi (um artista influenciado por Kaul) coloca sua cidade nativa na tela com o intuito de questionar a maneira como o cinema e a mídia ocidentais a percebem – por exemplo, na exploração da miséria por Louis Malle no documentário Calcutá (Calcutta, 1969), parodiado pela interpretação de Ruchir de um cineasta francês em busca da “câmera impossível”, e na superficialidade hollywoodiana de A cidade de esperança (City of Joy, 1992), cujas fil-
magens com Patrick Swayze e um grande elenco são captadas ao lado das reações de habitantes de Calcutá, que não se reconhecem na história. O filme também apresenta outras narrativas possíveis, como em uma cena no qual o videoartista norte-americano Tony Cokes, cuja obra descontrói o racismo latente na mídia de seu país, aparece conduzindo um riquixá e encara o público para declarar que “parece haver uma indústria do medo do outro lado da câmera... Imagens familiares de Calcutá parecem existir para que o espectador ocidental se sinta mais confortável, mais humano e talvez até mais sortudo do que ele realmente é.” E há a vontade melancólica narrada por Ruchir de fazer um filme sobre a cidade com seu mentor Deepak Majumdar, um pesquisador e músico que morreu logo antes do começo do projeto a que estamos assistindo. A Calcutá do filme é uma e muitas cidades, aqui vista por alguém em busca de seu encantamento.
[ O texto “Ahmedabad Mutations” pode ser encontrado em inglês através do link bit.ly/ruchirjoshi. Um outro texto marcante de Ruchir Joshi sobre sua história familiar, “Tracing Puppa”, pode ser conferido em inglês através do link bit.ly/ ruchirjoshi2.]
O programa conta com os seguintes filmes, todos em suas estreias brasileiras e nas melhores cópias de exibição:
Memórias da cidade do leite
Memories of Milk City
Ruchir Joshi | Índia | 1991, 14’, DCP (Arsenal)
Chegada (Arrival)
Mani Kaul | Índia | 1980, 20’, DCP (Ashish
Rajadhyaksha + National Film Development Corporation of India)
Contos do planeta Kolkata
(Tales from Planet Kolkata)
Ruchir Joshi | Índia | 1993, 40’, DCP (Arsenal)
Memórias pretas em movimento
O IMS e o Instituto NICHO 54 correalizam a quinta edição do curso de preservação direcionado a profissionais negres que trabalham com audiovisual em áreas como direção, pesquisa, montagem, roteiro etc., bem como pessoas que pesquisam outras áreas das humanidades. Para esta edição, o curso conta com a curadoria convidada de Indeterminações, idealizado por Gabriel Araújo e Lorenna Rocha, que propuseram um percurso por eixos temáticos dando destaque a uma perspectiva interdisciplinar e com entrelaçamentos temporais. Da película à cultura digital, a proposta traça um diálogo entre passado e presente, passando por diversos suportes e estudos de caso que aproximarão o público ao universo da preservação audiovisual, de forma prática, implicada no seu cotidiano e na fruição do cinema brasileiro.
A aula de encerramento, no dia 29 de setembro, às 19h será aberta ao público e contará com a participação de Débora Butruce e Luís Fernando Moura para discutir o processo de restauração do filme A Rainha Diaba, de Antonio Carlos da Fontoura. Na sequência, às 21h30, o filme de Fontoura será exibido em cópia DCP restaurada em 4K, junto a uma seleção de filmes curtos da artista visual Ana Julia Theodoro, a Najur.
Oficina Memórias pretas em movimento
26 a 29 de setembro, de 19h às 21h30. Gratuito. 35 vagas destinadas a profissionais negres do audiovisual. Inscrições abertas de 11 a 18 de setembro. Mais informações em cinema.ims.com.br.
Aula aberta ao público
29 de setembro, 19h – “Memórias pretas em disputa no cinema brasileiro ou O caso de digitalização do filme A Rainha Diaba (1974)”, com Débora Butruce e Luis Fernando Moura. Entrada gratuita. Distribuição de senhas na bilheteria do IMS Paulistaa partir de 18h. Limite de uma senha por pessoa, sujeitas à lotação da sala.
Exibição especial A Rainha Diaba + filmes de @najur__
29 de setembro, 21h30. Entrada gratuita. Distribuição de senhas na bilheteria do IMS Paulista a partir de 18h. Limite de uma senha por pessoa, sujeitas à lotação da sala.
Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).
A Rainha Diaba
Antônio Carlos da Fontoura | Brasil | 1974, 100’, DCP, restauração em 4K (Acervo do diretor)
Do seu lindo quarto, Diaba comanda um esquema criminoso, cintilante, cheio de sangue e revés. Retomado como referência fundamental na historiografia – a se contar – de um cinema cuir brasileiro, A Rainha Diaba circunda com paixão a personagem de Milton Gonçalves, que devolve ao cinema uma obstinação furiosa. O visual marcante do filme foi desenhado com o apoio de Hélio Oiticica, e sua violência sangrenta foi um marco na época, após sua estreia na Quinzena dos Realizadores em Cannes.
A cópia em DCP 4K de A Rainha Diaba foi criada em iniciativa do Janela de Cinema do Recife em parceria com a organização Cinelimite e o laboratório Link Digital/Mapa Filmes, em processo supervisionado pela preservadora Débora Butruce a partir de negativos e positivos provenientes do Arquivo Nacional e do CTAv.
[Adaptação das sinopses disponibilizadas pelos festivais Janela de Cinema e Olhar de Cinema]
Filmes de @najur__
Ana Julia Theodoro | Brasil | Arquivos digitais
“Como explicar o Rio pro gringo? Mostra esse vídeo.”
Esse é um dos comentários presentes no Instagram da artista Ana Julia Theodoro, mais conhecida como Najur. A documentarista e diretora de fotografia registra, para o universo virtual, cenas de um cotidiano carioca que se espelha nas suas recorrentes contradições entre a beleza, o lazer e a violência. Peças sempre embaladas pela sonoridade dos ritmos brasileiros, como o funk, o samba, o rap e o axé, numa montagem que faz confluir a estética acelerada do TikTok e a reflexão visual de um cinema engajado.
Além de participar de uma das aulas da oficina Memórias pretas em movimento, a artista irá apresentar dois de seus trabalhos em exibição aberta ao público. Os filmes de Najur serão exibidos junto a A Rainha Diaba, de Antonio Carlos da Fontoura.
Arquivos,
e feminismos: o acervo do Centro Audiovisual Simone de Beauvoir
Impulsionados pela emergência de equipamentos portáteis para captação de som e imagens no final da década de 1960, coletivos feministas franceses adotaram a produção de filmes e materiais audiovisuais como ferramenta de mobilização, difusão e aprofundamento de pautas. Fundado em 1982 pelas cineastas e militantes Delphine Seyrig, Carole Roussopoulos e Ioana Wieder, o Centro Audiovisual Simone de Beauvoir (CaSdB) é um arquivo audiovisual que reúne e preserva parte expressiva da produção realizada nesse contexto de ebulição social.
Nessa, que é a maior retrospectiva desse acervo já realizada no Brasil, são apresentadas, mês a mês, obras que buscaram registrar e intervir na realidade não apenas da França, mas de outros países, com uma seleção de filmes históricos e contemporâneos preservados no Centro. São imagens que apresentam conferências feministas, manifestos, greves e movimentos de trabalhadoras, reivindicações por diversidade sexual, retratos de personalidades, como Simone de Beauvoir, Angela Davis e Flo Kennedy, além de abordar temas densos e ainda urgentes, como guerra, democracia, estereótipos televisivos, aborto, abuso, prostituição.
Com curadoria de Barbara Alves Rangel, ex-programadora do Cinema do IMS e atual diretora-geral do Centro, a mostra teve início em julho e segue até janeiro de 2024, exibindo novos programas mensais. Em texto publicado no blog do Cinema do IMS, a curadora faz um panorama inicial da trajetória do Centro e de suas fundadoras: bit.ly/br-casdb.
Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).
A conferência sobre a mulher –Nairóbi 85
La Conférence des femmes – Nairobi 85 Françoise Dasques | França | 1985, 60’, Arquivo digital (CaSdB)
Depois do México, em 1975, e de Copenhague, em 1980, as Nações Unidas escolhem o continente africano para sediar a terceira Conferência Mundial sobre a Mulher. Em paralelo à Conferência Oficial dos Estados, ocorre o Fórum das Organizações Não Governamentais (ONGs), do qual participam 14.000 mulheres. Ao longo de dez dias, no campus da universidade, elas se reúnem para debater questões de política geral e feminista, como paz, desenvolvimento, apartheid, islã, lesbianismo, violências e mutilações sexuais e o conflito entre Israel e Palestina.
vídeos
Pela memória Pour mémoire
Delphine Seyrig | França | 1987, 11’, Arquivo digital (CaSdB)
Um ano após a morte de Simone de Beauvoir (14 de abril de 1986), Delphine Seyrig lhe presta uma homenagem. Ela volta ao cemitério de Montparnasse, passado um ano do enterro, e o túmulo continua florido e cheio de cartas que chegam do mundo inteiro. O filme traz trechos de discursos de Simone de Beauvoir, imagens da marcha em sua homenagem, no dia 19 de abril de 1986, e de buquês de flores.
Homenagem de Kate Millet para Simone de Beauvoir
Hommage de Kate Millet à Simone de Beauvoir
Anne Faisandier | França | 1986, 12’, Arquivo digital (CaSdB)
Partindo das imagens do funeral de Simone de Beauvoir, a artista e ativista Kate Millett fala de sua relação com a mulher que desempenhou um papel crucial no feminismo internacional.
Kate Millet fala com feministas sobre prostituição
Kate Millett parle de la prostitution avec des féministes
Catherine Lahourcade, Anne-Marie Faure-Fraisse, Syn Guérin | França | 1975, 20’, DCP (CaSdB)
Durante a greve das prostitutas de 1975 e após a publicação de seu livro, Kate Millett debate questões ligadas à prostituição com feministas francesas, como Monique Wittig, romancista e teórica feminista francesa, e Christine Delphy, autora e pesquisadora no campo dos estudos feministas. Este filme foi realizado pelo grupo VIDEA.
Feminismo americano (Beauvoir e as quebequenses)
American Feminism (Beauvoir et les québécoises)
Luce Guilbeault | França | 1975, 10’, Arquivo digital (Centre audiovisuel Simone de Beauvoir)
Nesta entrevista, Simone de Beauvoir aborda questões como a recepção do livro O segundo sexo nos Estados Unidos e na França – a filósofa fala sobre o fato de, haver um furor dos homens na França contra o livro, mas a reação ser mais tranquila e racional nos Estados Unidos. Também são abordados temas como a influência de Beauvoir sobre as feministas americanas, as relações entre Beauvoir e o Mouvement de Libération des Femmes (MLF) [Movimento de Libertação das Mulheres] e a necessidade de repensar a psicanálise a partir de um ponto de vista feminista.
Em 1984, Eduardo Coutinho marcou a história do cinema de não ficção com o lançamento de Cabra marcado para morrer. Por onde passou, tensionou os limites da representação e do assim chamado “documentário”: dirigindo episódios históricos do Globo Repórter, na produção em vídeo junto ao CECIP e na formulação de um “cinema do encontro” bastante único a partir de Santo forte. Em 11 de maio deste ano, Coutinho completaria 90 anos. Como homenagem, o Cinema do IMS exibirá uma seleção de obras do cineasta ao longo do ano.
Em setembro, o IMS Paulista apresenta uma seleção de 4 filmes dirigidos por Coutinho no CECIP.
Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).
Eduardo Coutinho e Sergio Goldenberg | Brasil | 1989, 39’, Arquivo digital (CECIP)
No final da década de 1970, o movimento operário começa a ganhar força. Em 1988, os trabalhadores da Companhia Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda, decretam uma grande greve. A intervenção militar é imediata; a repressão assassina três jovens operários e fere dezenas. O filme de Coutinho e Goldenberg reconta essa história, a partir do depoimento de operários e familiares impactados pela repressão, resgata filmagens do período e aponta para as repercussões do episódio.
Santa Marta – Duas semanas no morro
Eduardo Coutinho | Brasil | 1989, 54’, Arquivo digital (CECIP)
O documentário mostra de perto o dia a dia dos moradores do morro Santa Marta, Zona Sul do Rio de Janeiro.
Coutinho comenta seu modo de fazer filmes em entrevista a Alcimere Piana e Daniele Nantes, publicada na revista Intermídias, em 2005: “Meus filmes começam dizendo que uma equipe de cinema foi num lugar, é sempre assim. Eu não moro na favela Babilônia, não moro no Santa Marta, eu não moro no Master. Então, sempre o filme começa com as regras do jogo. O jogo é o filme, e as regras são essas: no Nordeste, numa favela ou num prédio, tem uma equipe, tem um tempo e vamos ver o que acontece. Isso é dado inicialmente, sempre se trata de um filme, não é a vida na favela. Não é um filme sobre a religião na favela. É um filme sobre a equipe de cinema que vai ao morro conversar sobre religiosidade.
Ninguém pediu para ser filmado, ninguém está interessado em ser filmado, a gente vai lá. Não é televisão, é um ato gratuito.”
Premiado como Melhor Documentário Estrangeiro no Festival de Vídeo de Bogotá, 1989.
Boca de lixo
Eduardo Coutinho | Brasil | 1992, 50’, Arquivo digital (CECIP)
Trata do cotidiano dos catadores de lixo do vazadouro de Itaoca, em São Gonçalo, a 40 km do Centro do Rio de Janeiro. O lixo como trabalho e como estigma. O roubo da imagem alheia, pecado original de todo documentário.
“O lixo é um filme que aconteceu meio sem previsão…”, comenta Coutinho em entrevista a Cláudia Mesquita. “Eu tinha filmado um outro lixão para outro filme, O fio da memória, que acabou nem entrando… Eu fiquei lá uma meia hora, era minha primeira vez num lixão, e ali eu vi o que nunca havia se mostrado no cinema. Tinha gente fritando ovo, gente jogando bola, igual em qualquer lugar. Eu queria fazer um filme sobre aquilo. Não como o Ilha das Flores [de Jorge Furtado], o lixo como conceito, mas o lixo como realidade.”
Entre outros prêmios, Boca de lixo foi escolhido Melhor Filme no Rencontres des Cinémas d’Amérique Latine, em Toulouse, 1993.
Mulheres no front
Eduardo Coutinho | Brasil | 1996, 35’, Arquivo digital (CECIP)
Ainda muito pouco exibido dentro da filmografia de Coutinho, esse filme aborda três histórias próximas na luta de mulheres, mas distantes no espaço geográfico: a Associação de Moradores de Jardim Uchôa, no Recife; a Associação de Moradores de Rancho Fundo, Rio de Janeiro; o grupo de Promotoras Legais Populares, em Bom Jesus, Porto Alegre.
Mulheres no front foi realizado para a FNUAP/ Unicef/Unifem, exibido na Conferência Habitat II, em Istambul, 1996.
Grey Gardens
Albert Maysles, David Maysles, Ellen Hovde, Muffie Meyer | EUA | 1975, 94’
As Beales de Grey Gardens
Albert Maysles e David Maysles | EUA | 2006, 91’)
Em 1973, um escândalo tomou as manchetes dos jornais americanos. Alegando falta de condições sanitárias, as autoridades de East Hampton, um balneário de luxo a 160 quilômetros de Nova York, tentaram expulsar as duas moradoras de uma mansão à beira-mar. Elas viviam isoladas ali, em Grey Gardens, há mais de 20 anos, entre guaxinins, sujeira e mato. Notícia banal, não fossem elas Edith Bouvier Beale e sua filha de 56 anos, Edie, respectivamente tia e prima de Jacqueline Kennedy Onassis. Dois anos depois, Big Edie e Little Edie abriram as portas de Grey Gardens a Albert Maysles e David Maysles. Eles registraram a personalidade e os conflitos de mãe e filha, mulheres inteligentes e excêntricas.
Esta edição em DVD duplo inclui ainda As Beales de Grey Gardens, em que, passadas três décadas do lançamento de seu filme, os irmãos Maysles revisitam e apresentam parte das sobras de montagem.
Extras:
- Faixa comentada por Albert Maysles, Ellen Hovde, Muffie Meyer e Susan Froemke
- Entrevista de Albert Maysles a João Moreira
Salles (2006)
- Livreto com depoimentos de Albert Maysles, Susan Froemke e Ellen Hovde
Criada em 2012 pelo então coordenador de cinema José Carlos Avellar (1936-2016), a coleção DVD | IMS já lançou diversos filmes, entre produções brasileiras e estrangeiras.
O futebol, de Sergio Oksman
O botão de pérola e Nostalgia da luz, de Patricio Guzmán
Photo: Os grandes movimentos fotográficos
Homem comum, de Carlos Nader
Vinicius de Moraes, um rapaz de família, de Susana Moraes
Últimas conversas e Cabra marcado para morrer, de Eduardo Coutinho
A viagem dos comediantes, de Theo Angelopoulos
Imagens do inconsciente e São Bernardo, de Leon Hirszman
Os dias com ele, de Maria Clara Escobar
A tristeza e a piedade, de Marcel Ophüls
Os três volumes da série Contatos: A grande tradição do fotojornalismo; A renovação da fotografia contemporânea; A fotografia conceitual
La Luna, de Bernardo Bertolucci
Cerimônia de casamento, de Robert Altman
Conterrâneos velhos de guerra, de Vladimir Carvalho
Vidas secas e Memórias do cárcere, de Nelson Pereira dos Santos
O emprego, de Ermanno Olmi
Iracema, de Jorge Bodanzky e Orlando Senna
Cerimônia secreta, de Joseph Losey
As praias de Agnès, de Agnès Varda
A pirâmide humana e Cocorico! Mr. Poulet, de Jean Rouch
Diário 1973-1983 e Diário revisitado 1990-1999, de David Perlov
Elena, de Petra Costa
A batalha de Argel, de Gillo Pontecorvo
Libertários, de Lauro Escorel, e Chapeleiros, de Adrian Cooper
Seis lições de desenho com William Kentridge
Sudoeste, de Eduardo Nunes
Shoah, de Claude Lanzmann
Memórias do subdesenvolvimento, de Tomás Gutiérrez Alea
E três edições voltadas à poesia: Poema sujo, dedicado a Ferreira Gullar; Vida e verso e Consideração do poema, dedicados a Carlos Drummond de Andrade
Os DVDs podem ser adquiridos nas livrarias especializadas, nas lojas dos nossos centros culturais e na loja online do IMS: bit.ly/imsdvd.
Instituto Moreira Salles
Cinema
Curador
Kleber Mendonça Filho
Programadora
Marcia Vaz
Programador adjunto
Thiago Gallego
Produtora de programação
Quesia do Carmo
Assistente de programação
Lucas Gonçalves de Souza
Projeção
Ana Clara da Costa e Adriano Brito
Osfilmesdesetembro
OprogramadomêstemoapoiodeAnotherGaze,CECIP,CentroaudiovisualSimone deBeauvoir,Cinelimite,CinematecaBrasileira,Indeterminações,InstitutoNicho54, Mubi,MutualFilms,NationalFilmDevelopmentCorporationofIndia,dasdistribuidorasDescolonizaFilmes,Filmicca,Gullane,O2Play,ParkCircuseUniversalPictures. AgradecemosaAlexanderBoldt,AndreaOrmond,AntjeEhmann,AntonioCarlosda Fontoura,AshishRajadhyaksha,BarbaraRangel,ClaudiusCeccon,coletivo Coquevídeo,DeboraButruce,DinahFrotté,DomFiló,EuniceGutman,FernandaLomba,GabrielAraújo,GesaKnolle,GlênisCardosoPlotnick,HannaEsperança,HelenaSolberg,HeitorAugusto,JoãoBarbosa,JomTobAzulay,Karen Almeida,KatiaMesel,LetíciaParente,LilaFoster,LilianSoláSantiago,Lorenna Rocha,LuísFernandoMoura,InêsCastilho,MariaInêsVillares,MariaOdara,MarianaQueenNwabasili,MarkusRuff,MichaelTemple (EssayFilmFestival),MicheliMoreira,Najur,NicoleFernándezFerrer,PatriciaMourão, PeggyPréau,ReginaChamlian,RuchirJoshi,ShambhaviKaul,StoffelDebuysere (CourtisaneFestival).
Venda de ingressos
Ingressos à venda pelo site ingresso.com e na bilheteria do centro cultural, a partir das 12h, para sessões do mesmo dia. No ingresso.com, a venda é mensal, e os ingressos são liberados no primeiro dia do mês.
Ingressos e senhas sujeitos à lotação da sala.
Capacidade da sala: 145 lugares.
Meia-entrada
Revista de Cinema IMS
Produção de textos e edição
Thiago Gallego e Marcia Vaz
Diagramação
Marcela Souza e Taiane Brito
Revisão
Flávio Cintra do Amaral
AgradecemosaindaaMarcelaAntuneseTaianeBritopelaartedecartazedivulgaçãodamostra Arquivos, vídeos e feminismos: o acervo do Centro Audiovisual Simone de Beauvoir eaDeboraFleck,pelatraduçãodassinopsesdofrancês.
Com apresentação de documentos comprobatórios para professores da rede pública, estudantes, crianças de 3 a 12 anos, pessoas com deficiência, portadores de Identidade Jovem, maiores de 60 anos e titulares do cartão Itaú (crédito ou débito).
Devolução de ingressos
Arquivos, vídeos e feminismos: o acervo do Centro Audiovisual
Simone de Beauvoir
apoio
Fernanda Lomba, Heitor Augusto, Micheli Moreira, João Barbosa, Karen Almeida, Duca Caldeira
Seis vezes mulher correalização
Lorenna Rocha e Gabriel Araújo
Em casos de cancelamento de sessões por problemas técnicos e por falta de energia elétrica, os ingressos serão devolvidos. A devolução de entradas adquiridas pelo ingresso. com será feita pelo site
Programa sujeito a alterações. Eventuais mudanças serão informadas no site ims.com.br e no Instagram @imoreirasalles.
Não é permitido o acesso com mochilas ou bolsas grandes, guarda-chuvas, bebidas ou alimentos. Use nosso guarda-volumes gratuito.
Confira as classificações indicativas no site do IMS.
William Marc Cardoso Plotnick, Matheus
Pestana, Laura Batitucci, Glênis Cardoso Plotnick, Gustavo Menezes e João Montanaro
Daniella Shreir e Missouri Williams
Memórias pretas em movimento correalização curadoriaEstranha forma de vida (Extraña forma de vida), de Pedro Almodóvar (Espanha | 2023, 31’, DCP)
Terça a quinta, domingos e feriados sessões de cinema até as 20h; sextas e sábados, até as 22h.
Visitação, Biblioteca, Balaio IMS Café e Livraria da Travessa Terça a domingo, inclusive feriados das 10h às 20h.
Fechado às segundas.
Última admissão: 30 minutos antes do encerramento.
Entrada gratuita.
Avenida Paulista 2424 CEP 01310-300
Bela Vista – São Paulo tel: (11) 2842-9120
imspaulista@ims.com.br
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Egaro Mile (Onze milhas), de Ruchir Joshi (Índia | 1991, 160’, DCP)