Cinema do IMS Paulista, outubro de 2023

Page 1

.2023
cinema out
Jeanne Dielman (Jeanne Dielman, 23, Quai du Commerce, 1080 Bruxelles), de Chantal Akerman (Bélgica | 1975, 200’, restauração 2K, DCP)

destaques de outubro 2023

Enquanto fazia seus primeiros trabalhos em vídeo com o coletivo As Insubmusas, Delphine Seyrig intensificava a parceria com diretoras mulheres. É desse contexto que surge Jeanne Dielman, a obra-prima de Chantal Akerman, hoje apontada por muitos como um dos maiores filmes de todos os tempos. O filme de Chantal será exibido em DCP em sua versão restaurada como parte da mostra Arquivos, vídeos e feminismos: o acervo do Centro Audiovisual Simone de Beauvoir.

Próxima no tempo e no espaço, a artista austríaca VALIE EXPORT lançava em 1977 seu primeiro longa-metragem, Oponentes invisíveis, exibido na Sessão Cinética de outubro. Entre seres de outro planeta e disputas conjugais, o filme de EXPORT dobra e tensiona as políticas de gênero e as políticas de imagem. Parte da retrospectiva de Eduardo Coutinho, o IMS

Paulista exibe As canções, aquele que, para o diretor, foi seu trabalho mais fácil e prazeroso de realizar.

Com pré-estreia no IMS Paulista, o mais novo filme de Martin Scorsese aborda o massacre do povo nativo americano Osage após a descoberta de petróleo em suas terras.

Ainda este mês, estão em cartaz dois longas de Karim Aïnouz, fruto de sua primeira visita à Argélia, terra natal de seu pai. Em Adeus, Capitão, Vincent Carelli e Tita fazem um filme-devolução em homenagem à memória de Krohokrenhum, chefe do povo indígena Gavião. Representante da Islândia no Oscar 2024, Terra de Deus acompanha a viagem de um padre dinamarquês em franco delírio colonial.

[imagem da capa]

Oponentes invisíveis (Unsichtbare Gegner), de Valie Export (Áustria | 1977, 110’, DCP)

1
Marinheiro das montanhas, de Karim Aïnouz (Brasil, França, Alemanha | 2021, 98’, DCP) Assassinos da lua das flores (Killers of the Flower Moon), de Martin Scorsese (EUA | 2023, 206’, DCP) As canções, de Eduardo Coutinho (Brasil | 2011, 90’, cópia digital)

Neste dia não haverá sessões de cinema.

16:00 Terra de Deus (143')

19:00 Sessão Cinética: Oponentes invisíveis (110'), seguido de debate com Hermano Callou, Juliano Gomes e Pollyana Quintella

10

16:00 Nardjès A. (81')

17:40 Marinheiro das montanhas (98')

19:35 Terra de Deus (143')

11

15:20 Estranha forma de vida + Entrevista com Pedro Almodóvar (82')

17:00 Marinheiro das montanhas (98')

19:00 Adeus, Capitão (178')

17

15:00 Adeus, Capitão (178')

18:30 Assassinos da lua das flores (206')

18

16:30 Adeus, Capitão (178')

20:00 As canções (91')

5

16:00 Nardjès A. (81')

17:40 Marinheiro das montanhas (98')

19:35 Terra de Deus (143')

12

14:00 Estranha forma de vida + Entrevista com Pedro Almodóvar (82')

16:00 Marinheiro das montanhas (98')

18:00 Jeanne Dielman (200')

19

47ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

47ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

47ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

47ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo Confirmar

2 quarta quinta terça 3
24
31
Mostra
de
de São Paulo 4
47ª
Internacional
Cinema
25
26
programação em ims.com.br

6

15:00 Terra de Deus (143')

18:00 Nardjès A. (81')

20:00 Marinheiro das montanhas (98')

22:00 Estranha forma de vida + Entrevista com Pedro Almodóvar (82') 13

14:30 Nardjès A. (81')

16:30 Marinheiro das montanhas (98')

18:45 Adeus, Capitão (178')

22:00 Estranha forma de vida + Entrevista com Pedro Almodóvar (82')

7

14:30 Nardjès A. (81')

16:30 Marinheiro das montanhas (98')

18:30 Jeanne Dielman (200')

22:00 Estranha forma de vida + Entrevista com Pedro Almodóvar (82')

14

14:30 Marinheiro das montanhas (98')

16:30 As canções (91')

18:45 Adeus, Capitão (178')

22:00 Estranha forma de vida + Entrevista com Pedro Almodóvar (82')

domingo

1

15:00 Terra de Deus (143')

18:00 Nardjès A. (81')

20:00 Marinheiro das montanhas (98')

8

14:00 Estranha forma de vida + Entrevista com Pedro Almodóvar (82')

16:00 Nardjès A. (81')

17:40 Marinheiro das montanhas (98')

19:35 Terra de Deus (143')

15

14:00 Marinheiro das montanhas (98')

16:15 Oponentes invisíveis (110')

18:45 Adeus, Capitão (178')

47ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

47ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

22

47ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo 29

47ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

47ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

Programa sujeito a alterações. Eventuais mudanças serão informadas em ims.com.br

3 sexta sábado
20
27
21
28
47ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

filmes em exibição

Filmes em cartaz

Sessão Cinética

Adeus, Capitão

Vincent Carelli e Tita | DCP

Estranha forma de vida (Extraña forma de vida)

Pedro Almodóvar | DCP

Marinheiro das montanhas

Karim Aïnouz | DCP

Nardjès A.

Karim Aïnouz | DCP

Terra de Deus (Vanskabte Land/Volaða Land)

Hlynur Pálmason | DCP

Pré-estreia

Assassinos da lua das flores (Killers of the Flower Moon)

Martin Scorsese | DCP

Oponentes invisíveis (Unsichtbare Gegner)

Valie Export | arquivo digital

Coutinho 90

As canções

Eduardo Coutinho | arquivo digital

Arquivos, vídeos e feminismos: o acervo do Centro Audiovisual

Simone de Beauvoir

Jeanne Dielman

(Jeanne Dielman, 23, Quai du Commerce, 1080 Bruxelles)

Chantal Akerman | DCP

47ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo programação em mostra.org

4

Sessão Cinética Cuidado: produto inflamável

Oponentes invisíveis (Unsichtbare Gegner, 1977) é o trabalho para cinema no qual a artista VALIE EXPORT sintetizou grande parte da sua obra artística desenvolvida na década de 1970. No seu primeiro longa-metragem, a moldura da ficção distópica misturada à comédia de casal é o espaço perfeito para a insistente imperfeição dos exercícios de construção e desconstrução das convenções que a obra da artista austríaca realiza com brilho e inventividade. A linha que atravessa questões de gênero, representação, geopolítica e materialidade é o espaço de agitação deste divertido e agudo ensaio sobre como as políticas de gênero são um eixo constituinte de tudo que podemos chamar de política.

O filme funciona como uma ácida comédia autorreflexiva, que sintetiza grande parte das preocupações do Acionismo Feminista Vienense: a exploração de uma arte não afirmativa, radical, em que o corpo é o local de experimentação, permutas e desdobramentos constantes. Os créditos iniciais e finais são feitos como um recorte de jornal, com o nome do filme e as informações demarcando o espaço de confusão constante entre imagem, discurso e referente, explicitando como a mídia, a comunicação política e a história da arte são estruturadas como instâncias de controle

biopolítico, particularmente sobre os corpos das mulheres.

Uma das cenas mais notáveis do primeiro longa de VALIE mostra a protagonista Anna (Susanne Widl) maquiando-se em frente ao espelho, e o reflexo começa a se mover independentemente dela. O reflexo não reflete mais. Ela para de se maquiar, e a Anna através do espelho continua. As leis da óptica pararam de valer. Esse espírito de insubmissão é o sangue que pulsa em Oponentes invisíveis do primeiro ao último fotograma. Nem um reflexo deve ser obedecido, e assim o filme vai desdobrando os acontecimentos como imagem, como performance, como índice. É bom lembrar que VALIE EXPORT é o nome que a artista escolheu para si, a partir de uma marca de cigarros, e também buscando se livrar do sistema de nomeação que a fazia carregar o nome de seu pai e de seu marido como marcas obrigatórias. Portanto, seu ofício é justo esse, interromper os sistemas de replicação da norma e os expor ao ridículo que fica escondido sob sua invisibilidade automatizada. Como os homens que andam pelas ruínas escuras de Viena pateticamente se masturbando.

O estudo do ridículo da masculinidade tem aqui um de seus grandes capítulos da história do cinema. O companheiro de

5

Anna, Peter, é material de um inventário de condutas que descrevem o comportamento dos homens como um sistema de ações e discursos patéticos e agressivos, cuja autoconsciência é nula. Ele nunca para de explicar o que é certo – bufamente autoconfiante – e dizer que Anna é quem está errada, que ela é louca, sem nunca sequer considerar ouvir o que ela diz. Um exemplar bem típico de nossa performance masculina, assim como ainda vigora plenamente em nossos dias.

Oponentes invisíveis é, portanto, um estudo político do sistema comum que liga patriarcado e sistemas de representação. O realismo dos fotogramas em movimento é constantemente quebrado, transformado em fotografia still , ou em transmissão de vídeo. Essa passagem entre meios é essencial para o trabalho de arqueologia iconoclasta que EXPORT realiza. Num dos primeiros momentos em que Anna aparece em seu laboratório fotográfico, ela coloca em banho revelador uma foto com uma vulva em close , evocando seu clássico trabalho Genitalpanik (1969), em que a artista se vestia com uma roupa preta, com uma arma na mão, entrava numa exibição de cinema e sua roupa deixava sua vulva à vista. O cinema sempre foi um elemento constituinte da obra de VALIE. Não só seus mais

de 30 filmes, como Cortando (Cutting, 1967-1968) ou a A prática do amor (The Pratice of Love, 1985), exibidos em diversos festivais de cinema, mas também em trabalhos icônicos, como seu Cinema do toque (Touch Cinema, 1968), em que a artista acoplava uma caixa preta em seu busto, com cortininhas típicas de cinema, e a performance consistia que as pessoas enfiassem a mão na caixa e a encarassem por alguns segundos, desafiando ao mesmo tempo o dispositivo voyeurístico do cinema e invertendo as relações de olhar e de agência. A mesma agenda estrutura essa comédia screwball que marca sua estreia em longas. O filme trabalha o tempo todo por inversões para dinamitar as convenções “invisíveis” que submetem e condicionam os corpos, os espaços e as condutas, em especial das mulheres e dos sujeitos historicamente subalternizados.

Porém, o filme realiza essa tarefa política de destruição constante com um humor e uma imparável inventividade. Cada sequência parece ter uma lógica própria de encenação ou montagem. VALIE cria uma espécie de sistema de relações que, para se manter vivo, não para de diferir de si mesmo.

A cena em que Anna e Peter (vivido pelo homônimo artista Peter Weibel) discutem sua relação, ao lado de dois monitores de

vídeo que repetem suas falas com atraso de alguns segundos, não só denuncia a força de padronização das imagens em relação às práticas sociais, mas transforma essa história numa trágica comédia farsesca e dadaísta.

O que estabelece este filme como um clássico desconhecido e necessário da história do cinema é sua ação constante de demolição, explicitação e deriva. Ao mesmo tempo que estuda e desnuda os padrões e as ações do patriarcado, da identidade “hipócrita” de seu país e das forças do capitalismo europeu, EXPORT mantém sua radicalidade política ao recusar-se a dar lições, incendiando qualquer normatividade. A tarefa contracultural é necessariamente um trabalho afirmativo de indefinição, de fugitividade e desmantelamento da estrutura dos sentidos fixados. O significado é também uma forma de opressão sobre as possibilidades do corpo e da cognição. O drama do corpo é também um drama do sentido, do limite inflamável da significação. E é isso que essa farsa distópica ensaística não para de refazer e performar diante de nós. Afinal, não há cinema político sem violência plástica.

6

Qual a música da sua vida?

“É uma história bonita, triste. Mas é a história da minha vida”, diz Maria Aparecida, introduzindo seu relato autobiográfico. Sentada numa cadeira preta posicionada num palco, com cortinas igualmente pretas ao fundo, ela conta a sofrida história: uma gravidez quando ainda era jovem, seguida pela rejeição dos pais e uma alienação parental que quase a levou a matar a filha e cometer suicídio em sequência – até entrar em cena o homem que seria seu futuro marido. Foi um encontro casual no vagão do trem, que evoluiu para o amor da vida, resultando em um casamento de mais de 50 anos. “Eu sempre falo pra ele: não precisa você me amar não, bem. Meu amor dá pra nós dois, e ainda tem sobra. Eu amo demais esse homem. Se eu puder dar minha última gota de sangue por ele, eu dou. E se eu tiver que morrer por ele, eu vou morrer. E vou morrer satisfeitíssima.” Entre metáforas de morte e um amor sem bordas, uma história bonita, triste, que culmina com dona Aparecida cantando os versos do bolero “Perfídia”: “Sofre a tua dor resignadamente”.

Além de Maria Aparecida, dezenas de outras pessoas sentam-se na cadeira de As canções e cantam músicas que marcaram suas vidas, narrando as memórias inesquecíveis que tiveram o citado som como trilha sonora. São histórias de nostalgias,

desilusões, superações, erros, desencontros, alegrias, saudades, fantasias e tragédias. Mas, sobretudo, histórias de amor, tristes, bonitas, como descreve dona Aparecida. No filme, as músicas não são um mero pano de fundo. Elas indicam maneiras de inventar uma cultura sentimental, construindo um imaginário coletivo de como sentir o amor – e, claro, do que é sofrer. Os versos e as vozes de Roberto Carlos (o mais citado), Waldick Soriano, Maria Bethânia, Agostinho dos Santos, Noel Rosa, Aracy de Almeida, Silvinho, Tom Jobim e Jorge Ben são a espinha dorsal dos modos de experimentar o arrebatamento das paixões. A canção parece expressar algo que não seria possível no mundo cotidiano, alguma coisa que somente a fala não é capaz de incorporar. Um dos personagens do filme conta que, quando sua esposa faleceu, ele se despediu da mulher e “pediu para ela ficar longe”. Por trás das câmeras, Eduardo Coutinho indaga: “Como é pedir para alguém que morreu ficar longe?”. Ele não responde diretamente. Em vez disso, canta os versos de uma música, com letra feita por ele mesmo. A música é a resposta e também a marca de um sentimento ambíguo, a insistência de uma memória, a cicatriz de uma mágoa, o fundo indizível da experiência.

7

À primeira vista, As canções não demonstra o experimentalismo radical de outros trabalhos de Coutinho – como Jogo de cena (em que as fronteiras entre a ficção e o documental são tensionadas até o limite), Um dia na vida (feito inteiramente com imagens da TV aberta brasileira, simulando a programação de um dia inteiro) ou O fim e o princípio (um filme feito do zero, sem pesquisa prévia, locação ou personagens estabelecidos). A assinatura do diretor faz-se notável, sutilmente, no método de seleção de personagens, na condução de entrevistas e no trabalho de montagem.

Coutinho anunciou em jornais e espalhou panfletos pela rua com a pergunta: “Qual a música da sua vida?”. Dezenas de pessoas entraram em contato, mostrando-se interessadas em conversar a respeito. Após uma conversa inicial, mais de 40 homens e mulheres se sentaram para uma entrevista com o diretor. Desses, cerca da metade entrou para o corte final do filme. Cada um se senta diante da câmera e conta sua história tendo a música como mote inicial. O diretor, no entanto, explora também detalhes preciosos, como os momentos em que as pessoas se levantam e continuam em cena, às vezes se despedindo – como é o caso do comandante Barbosa e sua saída triunfal cantando “A volta do boêmio”. Assim, Coutinho aponta

para como as pessoas comuns também fabulam e encenam discretamente as suas próprias biografias e constroem suas autoimagens. A escolha de não incluir trilha sonora também é oportuna, revelando as diferentes expressões faciais de cada personagem, alguns mais convictos e entregues, outros mais tímidos, recatados, por vezes inseguros.

Além disso, há também o modo de entrevistar. Coutinho consegue ser atencioso e paciente, mas também direto e sem meias palavras ao fazer perguntas delicadas. Aos poucos, os personagens vão se abrindo em suas camadas mais profundas. Sonia, por exemplo, diz que não amou nenhum outro homem desde o seu namorado de adolescência – e que continua acompanhando o ex-parceiro pelo Orkut. Outra mulher diz que, em 20 anos de relacionamento, nunca se sentiu verdadeiramente amada. Enquanto isso, um idoso admite que fez sua mulher sofrer por muitos anos e agora tenta compensar no fim da relação. Já um outro homem chora ao cantar “Esmeralda”, de Agostinho dos Santos, e lembrar de sua mãe – que, ao contrário do que imaginamos, está viva. Ele comenta: “Não sei por que foi que eu chorei, é uma lembrança boa. O choro foi esquisito.”

Em certo ponto, Coutinho pergunta a uma das suas entrevistadas se o fato de relembrar aquele episódio e comentá-lo publicamente ajudava a cicatrizar as feridas. Ela então responde: “Foi como botar um fecho de ouro e contar pra todo mundo que procurei outro caminho”. É nesse movimento que As canções  emerge como uma delicada sessão de terapia. Não no sentido de cura ou de uma utópica salvação pela arte, mas como um compartilhamento cordial e sincero daquilo que há de mais íntimo. Nessa dinâmica de escuta, o filme constrói uma sensibilidade rara entre documentários: em vez de causos espetaculares, as histórias daquelas pessoas parecem falar diretamente sobre nós, conosco. Histórias tão únicas quanto iguais, tão particulares quanto coletivas – tudo cabe nas vidas nessas canções tristes, bonitas que habitam o Brasil e vivem em seu povo.

8

Adeus, Capitão

Vincent Carelli e Tita | Brasil | 2022, 178’, DCP (Papo Amarelo)

Krohokrenhum, chefe do povo indígena Gavião, conta às netas a sua história. Das guerras entre os “índios valentes” ao contato com o “homem branco”, da devastação do contágio ao fim do mundo Gavião, Krohokrenhum encabeça um movimento para reconstruir a memória do seu povo, acompanhado por Vincent Carelli desde as primeiras câmeras em VHS. Concluído após a morte do Capitão, o filme é a devolução póstuma desses registos à comunidade Gavião. Krohokrenhum deixa a sua sombra e dirige as novas gerações num canto individual.

“Minha referência quando faço um filme está sempre nos povos indígenas, sempre me perguntando ‘o que posso dizer’, ‘como devo dizer’”, comenta Carelli em entrevista ao portal Cineset. “Eles são o meu primeiro público. Adeus, Capitão é um filme devolução. A decisão de ter três horas de duração é porque cada momento histórico daquele povo é importante.”

“Quando eu mostrei a câmera e a experiência com os Nambikwara – que, ao produzirem as suas novas imagens, resolveram fazer a furação do beiço, uma tradição então abandonada – o Krohokrenhum viu nisso o caminho para a reconstrução da memória de seu povo. Durante 10 anos, fui o cinegrafista dele para realizar registros dos cantos inteiros, da historiografia, das narrativas, das festas. Trata-se de um arquivo de memória.”

“Antes dele morrer por conta de uma tuberculose terminal, ele falou para a filha: ‘Liga para o Vincent’. Entendi o recado na hora: peguei um avião e fui para o Pará. Filmei a morte dele, o enterro, o fim do luto um ano depois, fazendo esta devolução agora. Era um compromisso nosso. Logo, Adeus, Capitão é, antes de tudo, um filme para o povo Gavião, uma devolutiva construída a pedido do Capitão.”

[Íntegra da entrevista em: bit.ly/capitaoims]

Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).

Estranha forma de vida

Extraña forma de vida

Pedro Almodóvar | Espanha | 2023, 31’, DCP (O2 Play)

Na primeira cena do novo média-metragem de Almodóvar, Caetano Veloso entoa o fado homônimo de Amália Rodrigues. “Que estranha forma de vida/ Tem este meu coração”. No filme, dois ex-pistoleiros de aluguel no Velho Oeste, interpretados por Ethan Hawke e Pedro Pascal se reencontram depois de trabalharem juntos há mais de 25 anos. Entre crimes e uma forte tensão sexual, logo fica claro que o motivo do reencontro não é estritamente amigável ou coincidente.

Como em seu recente longa-metragem Dor e glória, Almodóvar retrata o reencontro de dois homens maduros que viveram uma paixão de juventude. Em entrevista à Radiotelevisión

Española, ele comenta: “Achei mais atraente, porque já havia feito isso [o encontro amoroso entre homens] de outras idades. E não há muitos filmes que falem sobre o desejo entre homens maduros.

9
Em cartaz

Praticamente nus, neste caso, porque eles estão levantando da cama, mas acima de tudo estão desnudos da palavra do que acabou de acontecer entre eles. Foi isso que me atraiu: dois velhos cowboys em um gênero tão masculino e dando voz a uma situação que nunca vi nesse gênero. Exceto em Johnny Guitar (Nicholas Ray, 1954), que é uma exceção, é um gênero masculino. Acho que há um grande espaço a ser investigado que tem a ver justamente com o desejo desses homens.”

O filme estreou na edição deste ano do Festival de Cannes e tem figurino da Saint Laurent Productions, nova divisão cinematográfica da casa Yves Saint Laurent.

Após o filme, será exibida uma entrevista de cerca de 50 minutos com Almodóvar produzida exclusivamente para a exibição nos cinemas.

[Íntegra da entrevista, em espanhol: bit.ly/ extrañaIMS]

Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).

Marinheiro das montanhas

Karim Aïnouz | Brasil, França, Alemanha | 2021, 98’, DCP (Gullane)

Marinheiro das montanhas é um diário de viagem filmado na primeira ida de Karim Aïnouz à Argélia, país em que seu pai nasceu. Entre registros da viagem, filmagens caseiras, fotografias de família, arquivos históricos e trechos de super-8, o longa opera uma costura entre a história de amor dos pais do diretor, a Guerra de Independência Argelina, memórias de infância e os contrastes entre Cabília, uma região montanhosa no norte da Argélia, e Fortaleza, cidade natal de Karim e de sua mãe, Iracema.

“Esse é um filme evidentemente muito pessoal”, comenta Karim em entrevista a Patricia Moribe para a agência de notícias RFI por ocasião da exibição do filme no Festival de Cannes, em 2021. “Mas o maior desafio foi como tornar essa história relevante pro mundo. Porque eu podia ter feito algo num caderno, num álbum, guardado na minha gaveta e continuado no meu arquivo pessoal, mas

o que foi importante pra mim foi um pouco falar de como as nossas vidas hoje, como as vidas dos nossos pais, da geração que eu venho, desses lugares de onde eles saíram, são tão marcadas por experiências coloniais e pós-coloniais. Isso pra mim que foi muito bonito de entender, que meus pais se encontraram porque houve uma revolução na Argélia, uma guerra de independência colonial, que fez com que meu pai fosse para os EUA, que ele encontrasse a minha mãe, que era uma mulher que tava saindo do Brasil, o que era muito raro naquela época. [...] Pra mim foi um pouco uma maneira de falar da história e de uma história tão importante e tão pouco falada, dessas histórias cruzadas, mesmo que não fosse através de um livro de história, mas que fosse através de um poema.”

Na mesma viagem em que rodou Marinheiro das montanhas, Karim Aïnouz foi surpreendido por grandes manifestações de rua que aconteciam na Argélia naquele momento. Filmando essas manifestações, fez Nardjès A., também em cartaz no IMS Paulista.

[Íntegra da entrevista: bit.ly/marinheiroims]

Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).

10

Nardjès A.

Karim Aïnouz | Brasil, Argélia, França, Alemanha | 2020, 80’, DCP (Gullane)

Na primavera de 2019, em sua primeira viagem à Argélia para realizar o filme que viria a ser Marinheiro das montanhas, também em cartaz no IMS Paulista, o cineasta Karim Aïnouz se deparou com uma série de protestos contra o quinto mandato do presidente Abdelaziz Bouteflika. Munido de um celular, por não ter autorização policial para filmar as manifestações com uma câmera, ele se propõe a filmar um dia da ativista e atriz Nardjès A. em uma grande manifestação.

“Eu achava que era muito importante que a gente pudesse seguir, estar presente, acompanhar aquela manifestação a partir de uma perspectiva que não fosse a minha”, comenta Aïnouz em entrevista ao portal Plano Crítico.

“Claro que a minha perspectiva está lá, é evidente, mas que fosse a perspectiva de alguém que estivesse dentro do movimento. Eu não tô olhando o movimento, eu não moro lá, eu tava chegando

lá. É óbvio que o filme tem tudo isso, ele tem o meu jeito, um deslumbramento com as pessoas, tá tudo na imagem, eu não tentei esconder isso. Mas eu queria muito que a gente acompanhasse de dentro, então pra mim é muito importante que fosse uma militante. A Nardjès tinha algo muito fascinante pra mim, porque ao mesmo tempo queria que fosse alguém que conseguisse fazer isso e conseguisse ter uma relação com a câmera, de familiaridade, e não pegar qualquer um, e ela é atriz. Ela é atriz de cinema e teatro. [...] E aí ela me fez uma pergunta: ‘Eu topo que você me filme durante o dia da manifestação, mas não me peça para atuar, porque isso aqui é importante demais para eu fazer o papel de outra pessoa’. E aí eu achei aquilo fascinante, e aí foi um pouco essa escolha da gente atravessar esse momento, essa manifestação, a partir de um ponto de vista do personagem.”

[Íntegra da entrevista: bit.ly/nardjesaims]

Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).

Terra de Deus

Vanskabte Land/Volaða Land

Hlynur Pálmason | Dinamarca, Islândia, França e Suécia | 2022, 143’, DCP (Filmicca)

Diz o letreiro inicial, em dinamarquês e islandês: “Uma caixa de madeira foi encontrada na Islândia com sete fotografias em chapa úmida tiradas por um padre dinamarquês. Essas imagens são as primeiras fotos da costa sudeste. Este filme é inspirado nessas fotografias.”

Exibido na mostra Um Certo Olhar do Festival de Cannes, em 2022, Terra de Deus acompanha um jovem padre dinamarquês que viaja para uma região remota da Islândia no fim do século XIX para construir uma igreja. Ele toma o caminho mais difícil para poder fotografar a população e a paisagem local. A dureza da terra desconhecida e a adaptação entre os locais vão dificultar ainda mais seus objetivos.

“Sou islandês e cresci na Islândia, mas morei na Dinamarca por muito tempo e criei meus filhos lá, então estou meio que entre países”, comenta o

11

diretor Hlynur Pálmason em entrevista à jornalista Tina Jøhnk Christensen. “Não faz muito tempo, nós [na Islândia] estávamos sob a coroa dinamarquesa – até a Segunda Guerra Mundial. Então, tem muita história aí. Eu queria trabalhar com esses opostos, que não são apenas em termos de história entre a Dinamarca e a Islândia, mas também em termos de idioma e da falta de comunicação entre esses povos.”

“Comecei a trabalhar nele [Terra de Deus] em 2014, portanto é um processo longo e, para mim, é sempre sobre a exploração e a descoberta. Li muitos livros de viagem e me interessei tanto pelos de pessoas que vieram para a Islândia quanto as que viajaram pela Islândia, e muitas delas foram realmente bastante negativas quando falaram sobre os islandeses que encontraram em seu caminho e também sobre a dureza do país. Mas eu realmente tentei, tanto quanto possível, não apontar muito o dedo. Na maioria das vezes, eu estava brincando com isso – de ambos os lados.”

[Íntegra da entrevista, em inglês: bit.ly/godlandims]

Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).

Assassinos da lua das flores

Killers of the Flower Moon

Martin Scorsese | EUA | 2023, 206’, DCP (Apple +)

Pré-estreia do mais novo filme de Martin Scorsese. Na década de 1920, membros da tribo nativa americana Osage são assassinados em Osage County, Oklahoma, depois que petróleo é encontrado em suas terras. O FBI decide investigar.

O longa se inspira em fatos reais transpostos para um best-seller de não ficção pelo jornalista americano David Grann (Killers of the Flower Moon: The Osage Murders and the Birth of the FBI, 2017). Em tratamentos iniciais, o roteiro focava na atuação do FBI, até que o diretor optou por centrar a história no romance entre uma mulher do povo Osage, Mollie Kyle, interpretada por Lily Gladstone, e Ernest Burkhart, um homem branco interpretado por Leonardo DiCaprio.

“Leo DiCaprio olhou para mim e disse: ‘Onde está o coração neste filme?’”, conta Scorsese em entrevista ao portal Deadline. “Isso foi quando

Eric Roth e eu estávamos escrevendo o roteiro do ponto de vista da chegada do FBI e da revelação de tudo. Veja, no momento em que o FBI chega e você vê um personagem que seria interpretado por Robert De Niro, Bill Hale, você sabe que ele é um cara mau. Não há mistério algum. Então, o que é isso? Uma história policial? Que importa! Temos séries assim fantásticas na televisão.”

“O material de pesquisa menos disponível para nós era sobre a figura de Ernest. Há muita coisa escrita sobre Bill Hale, Mollie e muitos outros. Eric e eu gostamos muito de trabalhar na primeira versão; ela tinha todos os elementos do gênero western com os quais cresci, e fiquei muito tentado a fazer dessa forma. Mas eu disse: ‘A única pessoa que tem coração, além de Mollie Burkhart, é seu marido Ernest, porque eles estão apaixonados'."

“Fomos para Oklahoma, para o assentamento Gray Horse, os Osage nos ofereceram um grande jantar, e as pessoas se pronunciaram. Uma mulher se ergueu e disse: ‘Sabe, eles se amavam, Ernest e Mollie. Não se esqueçam disso. Eles se amavam.' Eu pensei: ‘Uau! Essa é a história. Como ele pode ter feito o que fez?’.”

[Íntegra da entrevista com Scorsese, em inglês: bit.ly/luadasfloresims]

A sessão é gratuita e sujeita à lotação da sala. Distribuição de senhas uma hora antes do evento, com limite de uma senha por pessoa.

12
Pré-estreia

Sessão Cinética

Arquivos, vídeos e feminismos: o acervo do Centro Audiovisual Simone de Beauvoir

Impulsionados pela emergência de equipamentos portáteis para captação de som e imagens no final da década de 1960, coletivos feministas franceses adotaram a produção de filmes e materiais audiovisuais como ferramenta de mobilização, difusão e aprofundamento de pautas. Fundado em 1982 pelas cineastas e militantes Delphine Seyrig, Carole Roussopoulos e Ioana Wieder, o Centro Audiovisual Simone de Beauvoir (CaSdB) é um arquivo audiovisual que reúne e preserva parte expressiva da produção realizada nesse contexto de ebulição social.

Oponentes invisíveis

Unsichtbare Gegner

Valie Export | Áustria | 1977, 110’, DCP (Sixpackfilm)

Em seu primeiro longa-metragem, a multiartista austríaca VALIE EXPORT apresenta Anna, uma artista e fotógrafa que está convencida de que alienígenas estão invadindo corpos humanos e causando violência e destruição na Terra. Entre as assombrosas manchetes dos jornais, ela frequenta terapia, discute intensamente com o namorado e registra a realidade com sua câmera aonde quer que vá, até cair em um estado de delírio.

Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).

Nessa, que é a maior retrospectiva desse acervo já realizada no Brasil, são apresentadas, mês a mês, obras que buscaram registrar e intervir na realidade não apenas da França, mas de outros países, com uma seleção de filmes históricos e contemporâneos preservados no Centro. São imagens que apresentam conferências feministas, manifestos, greves e movimentos de trabalhadoras, reivindicações por diversidade sexual, retratos de personalidades, como Simone de Beauvoir, Angela Davis e Flo Kennedy, além de abordar temas densos e ainda urgentes, como guerra, democracia, estereótipos televisivos, aborto, abuso, prostituição.

Com curadoria de Barbara Alves Rangel, ex-programadora do Cinema do IMS e atual diretora-geral do Centro, a mostra teve início em julho e segue até janeiro de 2024, exibindo programas mensais. Em texto publicado no blog do Cinema do IMS, a curadora faz um panorama inicial da trajetória do Centro e de suas fundadoras: [bit.ly/br-casdb].

Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).

Jeanne Dielman

Jeanne Dielman, 23, Quai du Commerce, 1080 Bruxelles

Chantal Akerman | Bélgica | 1975, 200’, restauração 2K, DCP (Fondation Chantal Akerman)

Um nome e um endereço compõem o título original: Jeanne Dielman, 23, quai du Commerce, 1080 Bruxelles. Em suas quase três horas e meia de duração, o filme de Chantal encena meticulosamente três dias na rotina de uma dona de casa de meia-idade, viúva, que mora com o filho e se sustenta pela prostituição. Dielman arruma as camas, prepara o jantar para o filho, descasca batatas.

O filme de Chantal Akerman retornou à pauta da cinefilia após ser apontado como melhor filme de todos os tempos na mais recente das pesquisas que a revista Sight and Sound, do BFI, realiza a cada dez anos com críticos de cinema de diferentes origens. “Compreendi a importância do filme muitos meses depois de terminá-lo” – comenta a diretora em depoimento fornecido pela Chantal Akerman

13

Foundation. “No início, pensei que estava apenas contando três dias na vida de uma mulher, depois percebi que era um filme sobre a ocupação do tempo, sobre a angústia: fazer coisas para não pensar no problema fundamental, o de ser.”

Em uma extensa matéria publicada no New York Times em 31 de julho de 2016, Delphine Seyrig, que interpreta a protagonista de Jeanne Dielman, comenta seu entusiasmo com o projeto: “O filme olha para a mulher de uma forma amorosa e generosa enquanto ela faz as coisas que tem de fazer todos os dias – a maneira como ela cozinha, a maneira como fica de pé diante da pia. Acabou sendo bastante insuportável de assistir. Ninguém nunca teve que assistir a três horas e meia de uma dona de casa antes. É um filme muito importante.”

Quando a matéria do Times, assinada por Judith Weinraub, foi publicada, Seyrig, Roussopoulos e Wieder já trabalhavam juntas na produção de obras em vídeo, mas ainda não haviam criado o Centro Audiovisual Simone de Beauvoir. O texto apresenta uma Seyrig em franca reavaliação feminista de sua atuação no audiovisual. Ao mesmo tempo que realiza seus próprios projetos em vídeo, a que a atriz define como “minha independência dos homens”, assume um esforço em trabalhar com realizadoras: “Em um ano fiz três filmes com mulheres. De alguma forma devemos sentir uma à outra.”

Jeanne Dielman será exibido em DCP, na versão restaurada pela Cinemateca Real da Bélgica a partir dos negativos originais do filme.

[Íntegra da reportagem do New York Times, em inglês: bit.ly/jeannedielmanims.

Mais informações sobre a pesquisa da revista Sight and Sound, também em inglês: bit.ly/bfi-ims]

Em 1984, Eduardo Coutinho marcou a história do cinema de não ficção com o lançamento de Cabra marcado para morrer. Por onde passou, tensionou os limites da representação e do assim chamado “documentário”: dirigindo episódios históricos do Globo Repórter, na produção em vídeo junto ao CECIP e na formulação de um “cinema do encontro” bastante único a partir de Santo forte. Em 11 de maio deste ano, Coutinho completaria 90 anos. Como homenagem, o Cinema do IMS exibirá uma seleção de obras do cineasta ao longo do ano.

Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).

As canções

Eduardo Coutinho | Brasil | 2011, 90’, cópia digital (VideoFilmes)

Homens e mulheres cantam e falam sobre as músicas que marcaram suas vidas.

Em entrevista a André Bernardo, em dezembro de 2011, Coutinho relata: “A princípio, a ideia era fazer um filme só sobre músicas do Roberto Carlos. Mas, aí, já viu, né? Ia dar um trabalho danado negociar os direitos das músicas. Daí, resolvi fazer um filme sobre anônimos cantando músicas que marcaram suas vidas. Foi o filme mais rápido e barato que já fiz. Só para você ter uma ideia, gravei 42 depoimentos em seis dias. A câmera não tem zoom. A luz é sempre a mesma. O cenário é um só o filme inteiro. Levei só dois meses para selecionar os participantes. A história do Brasil que me interessa é essa. É a história da canção brasileira. Não estou falando de Pixinguinha ou de Hermeto Pascoal. Estou falando de canção. A canção é o maior patrimônio brasileiro. No filme, apareceu gente cantando tudo que

14
Coutinho 90

é tipo de música: de Noel Rosa a Jorge Benjor, de Silvinho a Roberto Carlos, de Orlando Silva a Nelson Gonçalves. Curiosamente, não tivemos uma música estrangeira sequer. Isso me intrigou bastante.”

“Olha, para ser honesto, a única fraude que eu cometi no filme foi incluir a música da Wanderléa, ‘Ternura’. Em 1999, conheci uma das personagens do filme. Na ocasião, Fátima [personagem de Babilônia 2000] era hippie. Hoje, virou evangélica. Só que a música da vida dela era um hino religioso. Nada contra. Mas não combinava com a história dela. Foi quando pedi que cantasse ‘Ternura’, da Wanderléa.”

47ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

Entre 19 de outubro e 1 de novembro, o IMS Paulista recebe uma seleção de filmes da 47a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo –um apanhado do que o cinema contemporâneo mundial tem produzido, apresentando tendências temáticas, narrativas e estéticas, além de retrospectivas e homenagens.

Ingressos, horários e mais informações estarão disponíveis em: mostra.org.

15
[Íntegra da entrevista em: bit.ly/cançõesims]

Instituto Moreira Salles

Cinema

Curador

Kleber Mendonça Filho

Programadora

Marcia Vaz

Programador adjunto

Thiago Gallego

Produtora de programação

Quesia do Carmo

Assistente de programação

Lucas Gonçalves de Souza

Projeção

Ana Clara da Costa e Adriano Brito

Revista de Cinema IMS

Produção de textos e edição

Thiago Gallego e Marcia Vaz

Diagramação

Marcela Souza e Taiane Brito

Revisão

Flávio Cintra do Amaral

Os filmes de outubro

O programa do mês tem o apoio da 47ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, do Centro Audiovisual Simone de Beauvoir, da Fondation Chantal Akerman, da revista Cinética, da Apple TV+, das distribuidoras Filmicca, Gullane, O2 Play, Papo Amarelo, Paramount Pictures, Sixpackfilms e VideoFilmes.

Agradecemos a Barbara Rangel, Daniel Queiroz, GG Albuquerque, Hermano Callou, Juliano Gomes, Nicole Fernández Ferrer, Pollyana Quintella e Anna Luiza Müller.

Agradecemos ainda a Marcela Antunes e Taiane Brito pela arte de cartaz e divulgação da mostra Arquivos, vídeos e feminismos: o acervo do Centro Audiovisual Simone de Beauvoir.

Venda de ingressos

Ingressos à venda pelo site ingresso.com e na bilheteria do centro cultural, a partir das 12h, para sessões do mesmo dia. No ingresso.com, a venda é mensal, e os ingressos são liberados no primeiro dia do mês. Ingressos e senhas sujeitos à lotação da sala.

Capacidade da sala: 145 lugares.

Meia-entrada

Arquivos, vídeos e feminismos: o acervo do Centro Audiovisual Simone de Beauvoir

Com apresentação de documentos comprobatórios para professores da rede pública, estudantes, crianças de 3 a 12 anos, pessoas com deficiência, portadores de Identidade Jovem, maiores de 60 anos e titulares do cartão Itaú (crédito ou débito).

Devolução de ingressos

Em casos de cancelamento de sessões por problemas técnicos e por falta de energia elétrica, os ingressos serão devolvidos. A devolução de entradas adquiridas pelo ingresso.com será feita pelo site. Programa sujeito a alterações. Eventuais mudanças serão informadas no site ims.com.br e no Instagram @imoreirasalles. Não é permitido o acesso com mochilas ou bolsas grandes, guarda-chuvas, bebidas ou alimentos. Use nosso guarda-volumes gratuito.

Confira as classificações indicativas no site do IMS.

16
apoio

Terra de Deus (Vanskabte Land/Volaða Land), de Hlynur Pálmason (Dinamarca, Islândia, França e Suécia | 2022, 143’, DCP)

Terça a quinta, domingos e feriados sessões de cinema até as 20h; sextas e sábados, até as 22h.

Visitação, Biblioteca, Balaio IMS Café e Livraria da Travessa Terça a domingo, inclusive feriados das 10h às 20h.

Fechado às segundas.

Última admissão: 30 minutos antes do encerramento.

Entrada gratuita.

Avenida Paulista 2424 CEP 01310-300

Bela Vista – São Paulo tel: (11) 2842-9120

imspaulista@ims.com.br

ims.com.br

/institutomoreirasalles

@imoreirasalles @imoreirasalles

/imoreirasalles

/institutomoreirasalles

Adeus, Capitão, de Vincent Carelli e Tita (Brasil | 2022, 178’, DCP)

Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.