cinema out.2024
Corisco e Dadá, de Rosemberg Cariry
(Brasil | 1996, 112’, DCP, cópia restaurada em 4K)
cinema out.2024
Corisco e Dadá, de Rosemberg Cariry
(Brasil | 1996, 112’, DCP, cópia restaurada em 4K)
Em uma crônica muito particular da Zona Sul carioca, o cinemanovista David Neves apresenta o encontro e confronto cotidiano entre três jovens arquitetos e três meninos que trabalham como vendedores ambulantes. Na Sessão Cinética, o longa Muito prazer será exibido em cópia restaurada em 4K.
As lutas de resistência das comunidades afro-caribenhas contra a violência jurídica e policial na Inglaterra no início dos anos 1970 são o foco de Mangrove, primeiro filme da série Small Axe, de Steve McQueen, exibida em cinema pela primeira vez no Brasil no IMS. McQueen filma a história real dos Mangrove Nine, grupo de ativistas negros injustamente presos em um processo que mobilizou os noticiários britânicos.
“Os evaporados”. Assim são conhecidas milhares de pessoas no Japão que, seja por dívidas, problemas com a máfia ou relacionamentos conturbados desaparecem sem deixar rastros. Em parceria com a Fundação Japão, os cineastas Arata Mori e Andreas Hartmann debatem seu documentário em torno desse fenômeno.
Em um longo plano-sequência filmado há 50 anos, Jorge Bodanzky e Orlando Senna registravam em cinema uma vasta extensão da floresta amazônica em chamas. Censurado pelo governo militar, Iracema, uma transa amazônica mostrou para o Brasil e para o mundo a tragédia anunciada por certa visão de progresso. Na mostra As câmeras de Bodanzky, o longa é revisto em inédita restauração 4K junto a um média e um curta-metragem em que Bodanzky retorna a temas, personagens e paisagens do filme.
[imagem da capa]
Small Axe: Mangrove, de Steve McQueen (Reino Unido, EUA | 2020, 127’, DCP)
Antonio Candido, anotações finais
Eduardo Escorel | DCP
Assexybilidade
Daniel Gonçalves | DCP
Corisco e Dadá
Rosemberg Cariry | DCP, cópia restaurada em 4K
Motel Destino
Karim Aïnouz | DCP
Missão Perséfone
Karim Aïnouz | DCP
O dia que te conheci
André Novais Oliveira | DCP
Saudade fez morada aqui dentro
Haroldo Borges | DCP
Stop Making Sense
Jonathan Demme | DCP, cópia restaurada em 4K
Histórias ocupadas:
Steve McQueen
Small Axe: Mangrove
Steve McQueen | DCP
Muito prazer
David Neves | DCP, cópia restaurada em 4K
A partir de agora, é possível assistir a alguns dos filmes em cartaz no Cinema do IMS com recursos de acessibilidade em Libras, legendas descritivas e audiodescrição. Para retirar o equipamento com recursos, consulte a bilheteria do IMS Paulista. Em caso de dúvidas, entrar em contato pelo telefone (11) 2842-9120 ou pelo e-mail imspaulista@ims.com.br
Johatsu – Os evaporados
(Johatsu – Into Thin Air)
Arata Mori e Andreas Hartmann | DCP
Iracema, uma transa amazônica
Jorge Bodanzky e Orlando Senna | DCP, cópia restaurada em 4K
Era uma vez Iracema
Jorge Bodanzky | Arquivo digital
Ainda uma vez Iracema
Jorge Bodanzky | Arquivo digital
48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo programação disponível em: cinema.ims.com.br e 48.mostra.org
16:00 O dia que te conheci (71')
17:30 Antonio Candido, anotações finais (87')
19:30 Saudade fez morada aqui dentro (110'), sessão apresentada por Haroldo Borges, Paula Gomes, Ernesto Molinero e Marcos Bautista
15:30 O dia que te conheci (71')
17:00 Assexybilidade (86')
18:45 Antonio Candido, anotações finais (87')
20:30 O dia que te conheci (71')
15:15 Assexybilidade (86')
17:00 O dia que te conheci (71')
19:00 Sessão Cinética: Muito prazer (94'), sessão seguida de debate com Andrea Ormond, Júlia Noá e Juliano Gomes
16:30 Antonio Candido, anotações finais (87')
18:50 Stop Making Sense (88')
20:40 O dia que te conheci (71')
15:00 O dia que te conheci (71')
16:40 Antonio Candido, anotações finais (87')
18:30 O dia que te conheci (71')
20:00 Corisco e Dadá (112')
48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
16:30 Saudade fez morada aqui dentro (110')
18:50 Stop Making Sense (88')
20:40 O dia que te conheci (71')
15:00 O dia que te conheci (71')
16:30 Assexybilidade (86')
18:20 O dia que te conheci (71')
19:50 Corisco e Dadá (112')
48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
16:00 Motel Destino + Missão Perséfone (125')
18:30 O dia que te conheci (71')
20:00 Corisco e Dadá (112')
48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
16:30 Stop Making Sense (88')
18:30 O dia que te conheci (71')
20:00 Corisco e Dadá (112')
15:20 O dia que te conheci (71')
16:50 Assexybilidade (86')
18:40 Antonio Candido, anotações finais (87')
20:30 O dia que te conheci (71')
22:00 Stop Making Sense (88') 11
14:00 O dia que te conheci (71')
15:30 Motel Destino + Missão Perséfone (125')
18:00 Antonio Candido, anotações finais (87')
19:50 Corisco e Dadá (112')
22:00 O dia que te conheci (71')
15:00 Antonio Candido, anotações finais (87')
17:00 O dia que te conheci (71')
18:30 Iracema, uma transa amazônica (90')
20:30 Era uma vez Iracema + Ainda uma vez Iracema (56')
22:00 Stop Making Sense (88') 12
15:00 Johatsu – Os evaporados (86'), sessão seguida de debate com Arata Mori, Andreas Hartmann e Flavia Guerra; mediação de Ana Paula Sousa
18:20 Small Axe: Mangrove (127')
20:45 O dia que te conheci (71')
Neste dia o IMS Paulista estará fechado
14:30 O dia que te conheci (71')
16:00 Sessão Cinética: Muito prazer (94')
17:50 Corisco e Dadá (112')
20:00 Antonio Candido, anotações finais (87')
48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
dia o IMS Paulista estará fechado
Steve McQueen
Steve McQueen
Mariana Queen Nwabasili
“If you are the big tree/ We are the small axe/ Sharpened to cut you down/ Ready to cut you down” [Se vocês são a grande árvore/ Nós somos o pequeno machado/ Afiado para cortá-la/ Preparado para cortá-la]. O refrão de “Small Axe”, música de 1970 inspirada em um provérbio africano, e reconhecida por sua gravação no álbum Burnin’ (1973), do grupo jamaicano Bob Marley and The Wailers, é exemplar do cunho anticolonialista de diferentes letras eternizadas na voz do vocalista ícone do reggae, e pode ser interpretado como um incentivo à resiliência estratégica, afiada e literalmente violenta –fala-se em machado, em corte – por parte dos povos colonizados para derrubar seus opressores construídos como superiores.
Ao escolher a canção e seu originário provérbio para coroar nominalmente a série Small Axe, exibida em novembro de 2020 na rede pública de televisão britânica BBC One e na Amazon Prime para espectadores dos Estados Unidos, o diretor Steve McQueen vincula a cena reggae, diegeticamente mobilizada em diferentes episódios e em boa parte da trilha sonora, à força e à importância cultural e discursiva que esse gênero musical nascido na Jamaica teve na realidade histórica afrodiaspórica.
A série tece um panorama sobre a vida de imigrantes negros caribenhos moradores
de Londres entre o final dos anos 1960 e o início da década de 1980, destacando suas estratégias individuais e coletivas, culturais e estritamente políticas, em prol de uma existência de fato livre numa cidade então regida pela violência policial de cunho racista. “A razão pela qual queria que passasse na TV era para que minha mãe pudesse assistir”, disse, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o diretor britânico, que é filho de imigrantes caribenhos – sua mãe nasceu em Trinidad e Tobago; seu pai, em Granada.
Cenas de violência policial contra imigrantes se repetem no primeiro dos cinco episódios da produção (Mangrove; Lovers Rock ; Red, White & Blue ; Alex Wheatle e Education). Em Mangrove, acompanhamos a resistência de Frank Crichlow (Shaun Parkes), comerciante oriundo de Trinidad e Tobago que lutou para manter aberto seu restaurante, The Mangrove Nine (como ficou conhecido após resistências e prisões históricas), apesar das incessantes batidas policiais que o estabelecimento, localizado no bairro londrino de Notting Hill, recebia na década de 1970. A ofensiva racista levou proprietário, trabalhadores e frequentadores, também imigrantes, a realizarem protestos que culminaram na prisão de nove manifestantes e em um memorável julgamento.
No referido episódio, em contraste com as imagens de violência explícita contra o dono e os clientes do Mangrove, estão cenas em que a direção de arte valoriza não só a beleza física das personagens negras como também, sobretudo, a beleza de suas relações culturais, manifestadas no acento linguístico, quase criolizando o inglês britânico, na culinária, nas brincadeiras afetuosas em meio ao trabalho e nos momentos coletivos de canto e dança.
A proeminência da fisicalidade das personagens na tela tem qualidade alternada: os mesmos corpos que dançam em grupo, dentro do Mangrove ou na rua, com destacado vazio de outras corporeidades –uma possível evidenciação do contraste com uma cultura cotidiana mais contida dos londrinos brancos –, são corpos que resistem efusivamente à violência policial. A alternância da qualidade gestual das personagens negras nas distintas situações remete ao paradoxo que constitui as manifestações culturais afrodiaspóricas nas Américas: o fato de suas potentes criações terem se dado a partir de encontros de matrizes culturais resultantes também de movimentações/diásporas forçadas – tráfico negreiro, fugas –, como parte do colonialismo do século XVI. Um histórico que possibilita a existência de manifestações culturais
singulares e afirmativas de vivências negras heterogêneas e específicas, inclusive em contextos de imigração, e, simultaneamente, a criminalização dessas práticas.
Afinal, como escreve Stuart Hall – ele mesmo um imigrante jamaicano radicado na Inglaterra e fundador dos chamados
Estudos Culturais britânicos – no artigo “Da diáspora, ou a lógica da tradução cultural” (2016): “O hibridismo ou a transculturação das margens sempre tiveram e continuam tendo lugar e continuam a ser delimitados por relações de poder radicalmente assimétricas. A transculturação e a criolização não são uma ‘dádiva’ vazia da periferia para o centro. São produto da lógica disjuntiva que a colonização, a escravidão e a modernidade introduziram no mundo. Essas coisas permanecem, até mesmo no mundo pós-colonial. [...] A lógica da différance, da tradução cultural, tem que ser lida sempre no contexto da colonização, da escravidão e da racialização.”
A criminalização do Mangrove e das pessoas a ele vinculadas é tamanha que, a certa altura, o episódio compra para si a necessidade de dar amplo espaço ao julgamento do caso, introduzindo-nos a um verdadeiro, e menos dinâmico, “filme de tribunal”. O diferencial propositalmente destacado na retratação do evento histórico é que parte dos criminalizados decide
se valer de um dispositivo que possibilita que eles representem a si mesmos juridicamente durante o julgamento, ou seja, prescindem da mediação de defensores brancos frente ao juiz e ao júri. Qualquer semelhança com os debates e as tendências cinematográficas que compõem o panorama ao qual associamos as realizações de McQueen sobre histórias e vivências negras não parece ser mera coincidência.
Autorrepresentação, um percurso
Quando, em 2014, 12 anos de escravidão se tornou o primeiro longa-metragem dirigido por um afrodescendente a receber o Oscar de Melhor Filme em quase 90 anos de existência da premiação, um momento de recrudescimento de grandes produções realizadas por cineastas negros oriundos do norte global, e aparentemente sedentos por contar de maneira grandiloquente a história passada, presente e futura de seu povo, parecia se dar em Hollywood e, consequentemente, em boa parte do ocidente.
A concessão do principal prêmio do Oscar ao terceiro longa-metragem do diretor e artista visual britânico Steve McQueen ocorreu no mesmo ano em que Selma: uma luta pela igualdade fez Ava DuVernay ser a primeira cineasta mulher negra a ter uma obra também indicada à categoria de Melhor
Filme na premiação da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Nos anos seguintes, após o surgimento da campanha Oscars So White [Oscar muito branco], em 2015, vimos serem indicadas à premiação – e por vezes vencedoras em diferentes categorias – e/ou chegarem a muitas
salas de cinemas ao redor do mundo grandes produções dirigidas por pessoas negras britânicas ou estadunidenses. Dentre essas obras, destacaram-se, no arco de uma década, para citar algumas: Moonlight: sob a luz do luar (Barry Jenkins, 2016); O nascimento de uma nação (Nate Parker, 2016); Se a rua Beale
falasse (Barry Jenkins, 2016); Infiltrado na Klan (Spike Lee, 2018); Queen & Slim – Os perseguidos (Melina Matsoukas, 2019); Pantera Negra (Ryan Coogler, 2018); Judas e o Messias Negro (Shaka King, 2021); Pantera Negra: Wakanda para sempre (Ryan Coogler, 2022); e A mulher rei (Gina Prince-Bythewood, 2022).
No âmbito dos streamings , surgiram, desde a mesma época do lançamento e premiação de 12 anos de escravidão, séries icônicas voltadas de forma evidente à abordagem do racismo e das estratégias para combatê-lo ou driblá-lo em meio a experiências de vida de pessoas negras. Por vezes focando em especificidades das vivências de mulheres negras, séries como Atlanta (2016); Insecure (2016); Cara gente branca (2017); Olhos que condenam (2019) e I May Destroy You (2020) arrebataram espectadores ao redor do mundo e tiveram grande repercussão midiática.
O breve panorama torna mais mensurável a percepção do referido recrudescimento de filmes e demais produções audiovisuais do norte global dirigidos por realizadores negros e voltadas a grandes circuitos exibidores na última década.
Nos Estados Unidos, o fenômeno pode ser lido como parte de um arco histórico mais amplo, que, junto às específicas composição racial da população e dinâmica de lutas e afirmações negras no território via nacionalismo cultural e reivindicação de igualdade de direitos civis na década de 1960, engloba uma certa tradição de séries cômicas de TV sobre famílias afro-americanas e, no cinema de baixo e médio orçamento, as contrastantes – entre si e com
relação ao que hoje é produzido por negros no território – experiências cinematográficas do Blaxploitation e da L. A. Rebellion, entre as décadas de 1960 e 1970.
Já no Reino Unido, mais precisamente na Inglaterra – ou mesmo, de forma mais ampliada, na Europa –, lugar de origem de Steve McQueen, a evidenciação histórica das afirmações negras por meio do cinema e demais formas de produção audiovisuais parecem ter ocorrido de maneira mais pontual e ainda mais contemporânea.
Nesse sentido, é importante considerar especificidades do contexto de produção de cineastas negros na Europa, como a incontornável origem colonial das relações e segregações raciais no continente, há décadas influenciadas pela dinâmica de imigrações de latino-americanos e africanos para os países que foram metrópoles e acumularam riquezas e políticas de bem-estar social sob essa condição.
Um cenário que culmina em crises migratórias flagrantes da chamada colonialidade, ou seja, de um contemporâneo padrão de poder entre nações, culturas e raças (no sentido sociológico do termo) que transcende o período de dominação colonial histórica, mas que se dá a partir dele.
Não à toa a atenção e a preocupação com esse histórico foram centrais para as
abordagens temáticas e estéticas de dois importantes coletivos negros de cinema no Reino Unido inspirados pelos estudos pós-coloniais e por teóricos sintomaticamente migrantes, como o indiano Homi Bhabha e o já mencionado Stuart Hall. São eles: o Black Audio Film Collective, operante entre 1982 e 1998, e criado por um grupo composto por cineastas afrodescendentes, como John Akomfrah; e o Sankofa Film and Video Collective, criado em 1983 por um grupo que tinha entre seus nomes fundadores o do cineasta e professor universitário de artes Isaac Julien.
Atenção às violências históricas
Nascido em 1969 na mesma Londres em que surgiram e atuaram tais coletivos, Steve McQueen estudou cinema, por um curto período, na New York University e artes visuais no Chelsea College of Art and Design e na atual University of London. Como artista visual, já teve fotografias e vídeos expostos em locais como Biennale de Veneza; Tate Modern Museum; MoMA (Museum of Modern Art); e Whitney Museum of American Art.
Tendo se tornado ainda mais reconhecido como cineasta após a direção do premiado 12 anos de escravidão, McQueen iniciou a carreira no cinema com o curta-metragem
Bear (1993), no qual dois homens negros nus se enfrentam. Sua produção é composta por videoartes, videoclipes, episódios de séries, longas-metragens e diversos curtas-metragens, sendo sua filmografia marcada por um interesse nas relações e nos dramas humanos mediados por opressões, violências e eventos históricos transformadores radicais do cotidiano.
Seu primeiro longa-metragem, Fome ( Hunger , 2008), foi eleito como o melhor filme da mostra Caméra d’Or, no Festival de Cannes de 2008. Protagonizado pelo ator branco Michael Fassbender, nascido na Alemanha e criado na Irlanda, parceiro do diretor em diferentes produções, o filme reconstitui o episódio real da greve de fome promovida por um membro do IRA (Exército Republicano Irlandês, de resistência aos britânicos) em uma prisão da Irlanda do Norte no ano de 1981. Já o ousado Shame (2011), também protagonizado por Fassbender, mostra o cotidiano de um jovem publicitário viciado em sexo.
12 anos de escravidão conta a história real de Solomon Northup, homem negro livre e pai de família que, em 1841, foi vendido como escravo. E em As viúvas ( Widows , 2018), estrelado por Viola Davis, acompanhamos a jornada de uma professora que, após a morte do marido ladrão, reúne-se a
outras viúvas de criminosos para executar um roubo que os falecidos deveriam ter feito.
O último filme lançado por McQueen é seu único documentário. Baseado no livro
Atlas van een bezette stad: Amsterdam 1940-1945) [Atlas de uma cidade ocupada: Amsterdã 1940-1945], de autoria de sua companheira de vida, a jornalista holandesa Bianca Stigter, Occupied City (2023) se debruça sobre espaços da contemporânea Amsterdã que guardam memórias das violências nazistas cometidas durante a Segunda Guerra Mundial. “Não é algo que é uma espécie de conto de fadas, aconteceu no passado. Isso poderia acontecer novamente com bastante facilidade. Os paralelos estão aí para todo mundo ver”, disse McQueen em entrevistas, evidenciando seu interesse como cineasta pelas consequências do passado histórico nas relações sociais do presente.
Em 2024, o diretor estreia em festivais seu novo longa-metragem de ficção, Blitz, mais um drama de reconstituição histórica, dessa vez sobre personagens que sofrem perdas pessoais no contexto londrino, também durante a Segunda Guerra Mundial.
Em diferentes desses filmes, McQueen não se furta em expor cenas de agressões e violências explícitas contra grupos minorizados social e politicamente na História,
como os imigrantes negros caribenhos dos episódios de Small Axe.
Em contraste com tendências de imagens positivadas dos cinemas negros brasileiros contemporâneos, remetendo ao afropessimismo de acadêmicas negras estadunidenses, como Saidiya Hartman e Tina Campt, e no bojo do que investigou o médico e teórico martinicano Frantz Fanon a respeito da violência como estratégia anticolonialista, as cenas de violência contra personagens negros que são assumidas pela direção no citado primeiro episódio da série, e também em filmes como 12 anos de escravidão e As viúvas, parecem ser feitas para não nos deixar esquecer do peso das violências históricas e atuais contra afrodescendentes.
Tudo isso dentro de registros realistas de um cinema mais comercial, explorando conscientemente imagens agressivas e de agressão que têm cirúrgicas lapidação estética e dilatação temporal. São cenas que parecem querer inflar, tanto nas personagens quanto no público que as acompanha, uma indignação que alimenta formas de enfrentamentos, resistências e a inventividade (artística e cultural, inclusive) para sustentá-las – estamos falando de machadadas sorrateiras “ Sharpened to cut you down/ Ready to cut you down”.
Ashley Clark
tradução: Heitor Augusto
1. Nota dos editores: Texto originalmente publicado no livreto que acompanha o blu-ray de Small Axe, um lançamento The Criterion Collection. Mais informações sobre o blu-ray podem ser encontradas em: criterion.com/boxsets/6517-small-axe. O texto original está disponível em: bit.ly/smallaxe-ac.
Formado por um conjunto de cinco filmes conectados por tema e estética, Small Axe [Machadinha] constrói um retrato nuançado e revelador de uma comunidade que não tem recebido o merecido apreço e atenção. Trata-se da população londrina originária das ilhas caribenhas, retratada no período entre o final dos anos 1960 e o início da década de 1980. A série de filmes é inaugurada por Mangrove [Mangue], filme marcado pela riqueza de detalhes e por uma atmosfera emocionante. A obra dramatiza um capítulo crucial da história do Reino Unido: o período de preparação, bem como os desdobramentos, de um sensacional julgamento realizado em 1971, no qual um grupo de nove ativistas negros de origem caribenha defendeu-se da acusação de incitação a levantes durante um protesto em denúncia aos abusos policiais racistas. Tal comportamento da força de segurança tinha como alvo os frequentadores do The Mangrove, restaurante caribenho que se tornou um local de encontros para intelectuais e artistas em Notting Hill, um distrito de West London, àquele momento um significativo foco da cultura negra no Reino Unido.
A suíte fílmica de Steve McQueen retrata o período dos 55 dias de julgamento na Old Bailey – forma pela qual a Corte Criminal Central de Londres é popularmente conhecida.
Os Nove de Mangrove foram absolvidos, decisão que resultou, pela primeira vez na história, no reconhecimento jurídico da “evidência de ódio racial” dentro da Polícia Metropolitana de Londres. Na sequência climática de Mangrove, o militante Darcus Howe –cuja cadência ritmada e imperiosa é encantadoramente reproduzida pelo magnético Malachi Kirby – declara, com fervor, a um arrebatado tribunal: o caso “está cravado na consciência da comunidade negra de tal maneira que a história do Reino Unido não poderá ser escrita sem ele”. Todavia, a despeito da força explosiva das palavras de Darcus, proferidas num discurso eletrizante adaptado por McQueen e pelo corroteirista Alastair Siddons a partir das transcrições do julgamento, a realidade nas décadas seguintes não confirmou as expectativas das palavras do militante. Tal como muitos dos atores e da equipe técnica de Small Axe , eu também cresci como um herdeiro da história contada por Mangrove. Meus avós se mudaram da Jamaica para Londres na década de 1950, como parte da geração Windrush, que herdou esse nome do navio que aportou na cidade britânica de Tilbury em 1948. A bordo estavam tripulantes vindos de Jamaica, Trinidad e Tobago e outras ilhas pertencentes à Comunidade de Nações, cuja migração foi incentivada para preencher
postos de trabalho frente à falta de mão de obra no pós-Segunda Guerra Mundial. Meu pai nasceu em Londres e exerceu seu ofício de músico de reggae em lugares como o Mau Mau Bar, na Portobello Road, localizado a três minutos a pé da antiga sede do Mangrove, fechada em 1992 após anos de gentrificação e constante abuso policial. A despeito do trabalho feito por artistas, pesquisadores, escritores e militantes britânicos negros para manter viva a memória de resistência, a história dos Nove de Mangrove manteve-se inexistente nos livros didáticos a mim destinados na escola. Representações das resistências organizadas pelas comunidades negras britânicas estiveram ausentes dos jornais de circulação nacional, da televisão e das telas de cinema. Filmes que desnudaram a brutalidade policial e o racismo institucional antinegro – tais como The Mangrove Nine [Os nove de Mangrove, 1973] e Babylon [Babilônia, 1980], ambos de Franco Rosso; Pressure [Pressão, 1976], de Horace Ové; Blacks Britannica [A Britânica dos pretos, 1978], de David Koff; e The People’s Account [Os relatos do povo, 1985], produzida pelo Ceddo Film and Video Workshop – foram banidos, reprimidos ou desidratados por uma pálida distribuição.
Após anos de pesquisa e desenvolvimento a partir do comissionamento feito pela BBC,
Small Axe chegou ao público em 2020, tornando-se a mais visibilizada empreitada para levar essa história às telas. Além de Mangrove, a antologia de filmes inclui Lovers Rock [No embalo do amor], um retrato impressionista de uma festa de blues realizada em West London por volta de 1980; Red, White and Blue [Vermelho, branco e azul] e Alex Wheatle, ambos um estudo de personagem de jovens negros britânicos e suas diferentes experiências com a lei; e Education [Educação], uma mirada cortante à luta de uma comunidade contra a estigmatização de crianças negras pelo sistema nacional de educação.
A história investigada por McQueen ganhou ainda mais visibilidade em decorrência do alvoroço ao redor da série de filmes. Small Axe marcou o retorno triunfal à pátria-mãe de um diretor britânico que conquistou Hollywood – em 2013, com o filme 12 anos de escravidão, ele se tornou a primeira pessoa negra a dirigir um filme agraciado com o Oscar de Melhor Filme. McQueen também teria se tornado o primeiro diretor na história do Festival de Cannes com dois filmes competindo pela Palma de Ouro – Mangrove e Lovers Rock – se a edição de 2020 do evento não tivesse sido cancelada pela pandemia da covid-19. A despeito do cancelamento, a escala magnânima da circulação internacional de Small Axe – com estreias na televisão em
horário nobre, exibições de gala nas noites de abertura dos festivais BFI London e New York Film Festival, e um acordo de distribuição em território norte-americano com a Amazon Prime – trouxe a sensação de abalo sísmico. Tal cenário representaria, finalmente, a inscrição na história da qual Darcus, o personagem militante de Mangrove, falava.
O título Small Axe deriva de um provérbio africano popularizado na Jamaica pela canção homônima, interpretada por Bob Marley & The Wailers. A letra sinaliza a dinâmica de Davi e Golias entre uma comunidade marginalizada e um país estruturado para hostilizá-la: “If you are the big tree/ We are the small axe”, ou “Se você é uma árvore gigante/ Nós somos a machadinha”. Ao longo da antologia fílmica de McQueen, testemunhamos aspectos de “árvore gigante” da sociedade britânica: policiais violentamente racistas, agentes brutos trabalhando na corte e professores paternalistas. As formas que McQueen utiliza para retratar o impacto da “machadinha” são ainda mais fascinantes. Afinal, ela não é um instrumento sem corte, mas sim uma arma complexa, forjada em sacrifícios dos indivíduos, relacionamentos que se desgastam, abordagens divergentes, quebra-cabeças filosóficos, coragem e na ansiedade implicada à postura de resistência contra um sistema opressor.
Em Mangrove , o protagonista é Frank Crichlow, o dono do restaurante, interpretado por Shaun Parkes, experiente ator de televisão e teatro. Frank é o esteio da comunidade, contudo sua personalidade contrasta com os militantes Darcus e Altheia Jones (Letitia Wright), ambos agitadores natos. A sua jornada rumo à ação direta é paulatina. Após assistir à derrocada de seu antigo comércio
– o El Rio Café, para o qual um adjetivo como “salubre” não se aplica –, Frank está determinado a respeitar a lei. No início, mostra-se relutante a permitir que Altheia organize reuniões dos Panteras Negras no restaurante Mangrove. Frank apenas aquiesce quando, numa cena sutilmente cômica, Altheia se compromete a tocar o tambor de aço1 na próxima festa de rua. Está nítido o porquê de Frank ser cioso de seu restaurante. Em um dos diálogos mais emocionantes de Mangrove , Tetley (Doreen Ingleton), uma senhora jamaicana, faz uma visita após uma voraz batida policial. Ela insiste em doar a Frank suas economias, que vinha juntando
para voltar para o Caribe um dia. “O Mangrove é parte da história da gente, deixa eu falar, pô”, exclama Tetley. “Foi ele que me fez entender que aqui é meu lugar agora.”
apenas depois de se aborrecer. No momento em que ele dá esse primeiro passo, inicia-se a marcha que parte do Mangrove e, então, a chama da história é acesa.
1. Nota da tradução: no original, “steel pan”. Trata-se de um instrumento de percussão particularmente comum em Trinidad e Tobago, originalmente produzido a partir de restos de peças metálicas, incluindo partes de carros.
No final do primeiro ato de Mangrove, um exasperado Darcus confronta Frank, conclamando-o a assumir o status tanto do restaurante como dele próprio como caldeirões da transformação. “O que vejo na minha frente é um homem, correto? Um homem possuidor de grande paciência e humildade que, sem perceber, tornou-se um líder de seu povo”, diz Darcus, pouco antes de invocar os ensinamentos de C.L.R. James, teórico marxista nascido em Trinidad e Tobago – James, frequentador do Mangrove na vida real, foi interpretado por Derek Griffiths, um patrimônio dos programas televisivos infantis. A composição da cena – intensa e crua, filmada num plano fixo médio, com os dois atores ocupando lados opostos da imagem – me faz lembrar do plano-sequência de 17 minutos em Fome (2008), longa de estreia de McQueen. Nele, o padre Dominic Moran (Liam Cunningham) tenta dissuadir Bobby Sands (Michael Fassbender), membro do Exército Republicano Irlandês que utiliza a greve de fome como tática, de iniciar seu doloroso protesto. Contudo, diferentemente de Bobby, que o fervor militante havia levado a um ponto do qual não poderia e nem iria retroceder, Frank parte para a ação
No universo de Small Axe, Frank Crichlow tem como análogo Agnes Smith (Sharlene Whyte), personagem de Education. Agnes é mãe de Kingsley (Kenyah Sandy), um garoto de 12 anos que sonha em se tornar astronauta. Tachado por seus professores como um aluno tapado e problemático, o garoto é despachado, sem cerimônia alguma, para um instituto reservado aos “educacionalmente inferiores” – uma jaula disfuncional disfarçada de escola e administrada por pseudoprofessores incorrigivelmente desinteressados. Ainda que os personagens de Education sejam ficcionais, nos anos 1970, período que coincide com o intervalo retratado no filme, a London Councils2 transferiu uma quantidade desproporcional de crianças negras do sistema tradicional de educação para 2. NT: A London Councils é uma entidade administrativa que engloba as 33 subdivisões administrativas que formam o que chamamos de Londres – a City of London Corporation, que administra parte da região central da cidade, e os 32 boroughs, semelhantes às subprefeituras, mas com certa autonomia administrativa.
o diretor paternalista da escola de Kingsley. Esse evento – uma criança exposta ao perigo por uma imigrante caribenha mais velha que age movida pela implícita confiança na autoridade de uma suposta pátria-mãe – me traz a memória de uma anedota da juventude de meu pai. Ao voltar da casa de um amigo em South London, um policial o deteve numa estação de metrô sob a acusação de furto. Meu pai identificou no local uma senhora caribenha, e seus olhos se encontraram –ele deu a entender que precisava de ajuda.
A mulher olhou para o policial, depois para o meu pai, então novamente para o policial, e disse: “Prende ele!”. Numa irônica reviravolta, meu pai foi liberado após apresentar um panfleto das Testemunhas de Jeová, o qual lhe havia sido entregue à força pelo amigo de sua irmã. Um sorriso mordaz faz morada no rosto de meu pai toda vez que conta essa história – e eu sempre me perguntei como ele absorveu a dor de uma traição como aquela.
escolas como essas. Education é o mais autobiográfico filme da antologia. O próprio diretor – nativo de West London, mas filho de pais que migraram de Granada e Trinidad e Tobago – teve experiências parecidas com as de Kingsley, já que foi desmerecido pelo sistema de ensino – a única diferença é que,
ao contrário da ficção, McQueen se imaginava no mundo da arte.
A reação inicial de Agnes – mãe devota e trabalhadora, forçada a acumular dois empregos para conseguir pagar as contas –é direcionar sua raiva ao filho, falhando, assim, em questionar, de maneira satisfatória,
Agnes recebe a vista de Lydia (Josette Simon), uma ativista pela educação que a encoraja a se unir ao grupo comunitário, entregando-lhe um panfleto e também uma cópia de How the West Indian Child Is Made
Educationally Sub-Normal in the British School System [Como crianças de origem caribenha se tornam educacionalmente subnormais no
sistema educacional britânico], obra pioneira do granadino Bernard Coard lançada em 1971. Uma porção significativa da tensão dramática em Education reside na decisão de Agnes em devolver ou ler esses materiais, superar a vergonha introjetada em seu âmago e se envolver nas reuniões do grupo. Felizmente, tal como Frank Crichlow, a mãe de Kingsley encontra as forças para participar.
A decisão tomada por Agnes leva a uma sequência de cenas que está entre as mais terrivelmente dolorosas já dirigidas por McQueen. São elas: o retrato de uma reunião comunitária na qual um mais velho (Trevor Laird) parece se abjugar de um peso carregado ao longo de toda uma vida ao revelar que é analfabeto, mas está presente no encontro para apoiar a nova geração; um momento catártico quando, em lágrimas, Agnes finalmente confronta a realidade de que seu filho não sabe ler; e uma sequência silenciosa e devastadora, na qual Stephanie (Tamara Lawrance), a irmã mais velha de Kingsley, lê, em voz alta, trechos do livro de Bernard Coard para seu pai, Esmond (Daniel Francis), um trabalhador braçal analfabeto. À medida que Stephanie dá voz às impiedosas avaliações do autor acerca dos efeitos de uma educação insuficiente, a sensação é de que ela está descrevendo para o próprio pai – e na sua cara – os desafios enfrentados em sua vida.
McQueen elegeu Education como filme de encerramento da antologia Small Axe por acreditar se tratar do mais esperançoso da série – no final de Education, Kingsley está feliz e prospera ao lado de seus colegas de classe nerds e negros, todos engajados numa aula organizada na casa de uma professora voluntária do bairro. Na melodia que é Education, as notas de adorno não aparecem de mão beijada. O filme se encerra com uma representação visual do espaço, como um duplo da cabeça de Kingsley à medida que submerge na cultura africana. Contudo, minutos antes do encerramento, McQueen e Alastair Siddons – corroteirista também de Mangrove e Alex Wheatle – inseriram uma sombria piada cósmica. Em uma das reuniões, a ativista Lydia menciona que a recém-indicada secretária de Estado para a Educação, uma tal de Margaret Thatcher, poderia potencialmente ser simpatizante à causa.
O espectro de Thatcher e sua draconiana e conservadora administração, iniciada em 1979, assombra o período coberto por Red, White and Blue e Alex Wheatle. Terceiro e quarto filmes, respectivamente, da antologia Small Axe, ambos formam um fascinante díptico que investiga as histórias de dois homens negros cujas vidas fora da ficção, apesar de díspares, compartilham o
impacto irreparável de interações negativas com a polícia. No início, Alex Wheatle (Sheyi Cole) admira a polícia, mas o personagem termina por sentir na pele o ódio branco inflamado que estampa a cara do abusador. Na vida real, Alex cresceu órfão e, por meio das amizades e da música do bairro de Brixton, em South London, encontrou a felicidade. Em abril de 1981, foi preso após os Levantes de Brixton, uma explosão de descontentamento da população com o policiamento racista. Os conflitos aconteceram na esteira de um incidente traumático na mesma região, no início daquele ano: o incêndio de New Cross, em 18 de janeiro, uma conflagração ainda inexplicada ocorrida numa festa caseira que levou 13 pessoas negras à morte. Em Alex Wheatle, o protagonista e amigos discutem o incêndio e as vítimas, numa sequência que culmina com a imagem de Alex solitário, sentado na cama, na iminência de cair aos prantos. O peso avassalador da tragédia torna-se um catalisador para o seu despertar político. Num corte, o diretor introduz uma fotomontagem em preto e branco, com imagens capturadas após o incêndio, que resultou no Dia de Ação das Pessoas Negras, protesto organizado pelo Comitê de Ação do Massacre de New Cross, grupo que incluía Darcus Howe. As imagens são acompanhadas da leitura do poema “New
Axe: Alex Wheatle, de Steve McQueen
Crass Massahkah”,3 do jamaicano Linton Kwesi Johnson. Tanto Linton quanto Alex são
3. NT: Uma forma estilizada de grafar “New Cross Massacre”, ou Massacre de New Cross, que prioriza a representação da fonética jamaicana.
entrevistados em Uprising [Levante], sensível documentário em três partes que aborda com detalhes o incêndio de New Cross e os Levantes de Brixton – a direção é de McQueen e James Rogan. O documentário foi exibido na BBC em 2021 e funciona como um complemento essencial para Small Axe.
Em Red, White and Blue, o protagonista é Leroy Logan, um pesquisador em ciências que migra para a polícia – John Boyega entrega uma performance carismática e determinada. Leroy verdadeiramente acredita ser possível transformar o sistema desde dentro, e tal perspectiva leva a uma incompreensão furiosa de seu pai, Kenneth (Steve Toussaint) – seu espancamento pela polícia, impiedosamente registrado cenas antes, transforma-se no principal motivo para que Leroy mude de carreira. Leroy –que na vida real permaneceu como policial por 30 anos – atuou como consultor em Red, White and Blue. McQueen o filma com nítida empatia. Todavia, o restante da antologia, bem como Uprising, constrói uma argumentação convincente contra a intragável e racista força policial britânica, e tal gesto acresce à dolorosa solidão do gesto quixotesco de Leroy.
Lovers Rock distancia-se do conjunto da antologia, pois sua narrativa não foca explicitamente um personagem ou um grupo em conflito com um sistema hostil. Ainda assim, o retrato de uma festa de blues enquanto alimento espiritual para uma geração de jovens britânicos descendentes de pais caribenhos não deixa de ser político. A festa representou um refúgio às carrancas dos brancos racistas,
ocasionalmente presentes nas bordas dos planos filmados fora de espaços domésticos. Se, vista em diálogo com a história do Mangrove, seus tons políticos ficam à tona, na medida em que uma simples aglomeração celebratória de pessoas negras representava uma provocação aos olhos da polícia. Lovers Rock é um filme estranho e cativante, pouco ortodoxo em sua estrutura, uma obra única tanto nos anais do cinema britânico quanto na filmografia de McQueen. Um jogo entre se dilatar e se retrair, com momentos de ação registrados em detalhes – close-ups de mãos no preparo da comida e na construção dos sound systems que tocam reggae – e nesgas de diálogos entre jovens – que potencialmente se amarão –, para pontuar longas sequências de música e dança.
Mas a festa não é uma utopia. Alguns dos eventos que ocorrem durante a noite refletem a propensão dos filmes de McQueen para o engajamento com o lado obscuro e compulsivo da natureza humana. Há a presença de um predador sexual –Bammy (Daniel Francis-Swaby) –, que tenta estuprar Cynthia (Ellis George), para quem a festa é a ocasião para celebrar seu aniversário de 17 anos. Há também um personagem – Clifton (Kedar Williams-Stirling) –que, na parte final do filme, chega contrariado à festa, esbravejando contra um desentendimento familiar. Ambos terminam entregues – quiçá purificados – pela dança sob o som de “Kunta Kinta”, um dub monstruoso, suingado e vibrante da banda regueira jamaicana The Revolutionaries. A mise en scène de McQueen traz à cena tintas análogas
a um batismo suburbano ensopado –pés marcando a batida no chão, cabeças erguidas em êxtase, jovens sussurrando, corpos que pulam compulsivamente sobre o carpete. Ao fim dessa longa noite, Martha (Amarah-Jae St. Aubyn), uma aparente protagonista, que, no início do filme, se esgueirou
pela janela de seu quarto, como num conto de fadas, volta sorrateiramente para casa. Tão logo se aconchega debaixo do edredom e cerra os olhos, a jovem escuta uma voz no extracampo gritar: “Hora da igreja! Hora da igreja!” Martha sorri, pois acabou de voltar de um lugar que, para sua geração, representa um verdadeiro templo – um lugar secreto e sagrado para arrebatamento sônico, paixão e dor, desilusão e romance.
Tal como os temas presentes nos filmes da antologia Small Axe , as abordagens estéticas, a despeito da diversidade, trazem coesão. Com direção de fotografia do jovem antiguano Shabier Kirchner, a antologia tem um estilo visual respeitável e deliberadamente utilitário, priorizando legibilidade do conteúdo, do espaço e da ação – adornos ficam em segundo plano. McQueen, todavia, adota diferentes bitolas e formatos de filme. Para Mangrove , cuja fotografia é rica e arrebatadora, foi utilizado um filme em 35 mm de duas perfurações –também conhecido como Techniscope –que, durante o processamento, foi super-revelado ou sub-revelado com o intuito de criar uma imagem mais calorosa e artesanal que o digital. Para Red, White and Blue , Shabier e McQueen optaram pelo filme de três perfurações, dadas suas características de um granulado menos
carregado – o resultado foi uma imagem mais limpa e direta. Diferentemente do cenário vibrante e nitidamente reconhecível de Brixton em Alex Wheatle (filmado com a Sony VENICE, câmera digital de grande formato), a Londres de Red, White and Blue é fria, uma personagem lavada –uma escolha adequada para um filme de tensão nauseante, no qual os planos continuamente isolam o personagem, mergulhado em conflito. Já para Lovers Rock , Shabier e McQueen escolheram o formato digital – a câmera ARRI ALEXA –, de forma a realizar takes longos e fluidos – fotografia e direção também iluminaram o cenário a partir de cima, permitindo aos atores o movimento livre e autêntico pelo espaço.
Mais impactante da antologia, Education foi filmado em Super 16 mm, num estilo íntimo, levemente em movimento, similar a Play for Today , os dramas televisivos da BBC dos anos 1970, que incluem aqueles dirigidos por Alan Clarke, o herói de McQueen no cinema. A opção por esse regime visual para contar a história de uma resistência negra britânica na BBC em 2020 representa uma das estratégias sutis e elaboradas para garantir a inscrição da obra na história. A aparência e sensação imagética trazida pelo filme é instantaneamente reconhecida por toda uma geração de britânicos
negros que nunca pôde se ver representada naquele formato fílmico-televisivo, nem em histórias filmadas veementemente centradas em suas vidas e experiências. Ao longo da antologia, McQueen oferece uma imaginação formal que reflete seu dinamismo e versatilidade como realizador – antes de dirigir Fome , ele havia estabelecido uma carreira como artista visual, chegando a ganhar o Turner Prize. Numa sequência primorosa e efervescente de Mangrove, Frank Crichlow tenta acalmar Rhodan Gordon (Nathaniel Martello-White), furioso pela má qualidade do advogado de defesa no julgamento em que ambos são réus. A tela abruptamente fica preta, e então escutamos os vocais introdutórios –num timbre ríspido e em alto volume – da canção “Skinhead Moonstomp”, da banda de ska Symarip. Assim que o bongo anfetamínico preenche a banda sonora, há um corte para um plano zenital de uma mesa na corte, sobre a qual se desenrola, ao som agitado da percussão, uma colagem em stop-motion de documentos, evidências jurídicas e pôsteres. A canção continua – o baixo em looping se apresenta –, e vemos um plano geral do tribunal à medida que McQueen posiciona imagem em cima de imagem, som em cima do som. As chaves do estenógrafo se tornam
mesclar naturalmente o pessoal, o político e o psíquico-geográfico.
parcerias do fragmento rítmico da banda Symarip, enquanto McQueen transiciona para uma montagem fotográfica que documenta a construção da rodovia Westway, projeto que alterou a cara da comunidade de West London, na qual McQueen cresceu, retirando a moradia e a qualidade
de vida da população local. As fotografias ganham cores, conotando a passagem do tempo. À medida que a canção se distancia, McQueen nos leva novamente ao tribunal. Extraordinária, essa sequência funciona como uma válvula de pressão narrativa e demonstra a habilidade do diretor em
Small Axe carrega múltiplas instâncias de uma das assinaturas de McQueen: a duração desconfortável dos planos. Esse método de confronto tem a habilidade de conduzir os espectadores a um transe, pois os força a mirar. O exemplo mais perturbador de tal estratégia na obra de McQueen é uma cena em 12 anos de escravidão na qual a câmera sustenta, por um período que parece uma eternidade, a mirada para o corpo espancado de Solomon Northup (Chiwetel Ejiofor), que tenta desesperadamente fazer contato com o chão usando os dedões dos pés. Small Axe não tem algo tão cru como essa cena. Contudo, há um plano assombrador nos primeiros minutos de Alex Wheatle . Após uma briga com um colega de classe racista, Alex é imobilizado por dois trabalhadores da escola – ambos preconceituosos –, enfiado numa camisa de força e arremessado ao chão do ginásio da escola, caindo de cara na superfície encerada. O eixo de luz desloca-se da esquerda para a parte central e inferior do plano, como se sua alma estivesse deixando seu corpo. A câmera se movimenta até chegar próximo a seu rosto – os olhos de Alex estão arregalados, mas sem vida – e,
então, estaciona. Após 18 segundos sem movimento algum, algo estranho acontece: a câmera inicia um movimento vagaroso de recuo, como que representando uma pessoa que deseja ajudar, mas não sabe como, e consegue apenas se distanciar, silenciosamente derrotada.
McQueen não utiliza a duração apenas para transmitir sofrimento. Em Lovers Rock, ele acessa uma dimensão de transcendência numa cena extensa, na qual os frequentadores da festa cantam ao som de “Silly Games”, de Janet Kay, um hit do reggae romântico. Entre as pessoas na pista de dança, está o compositor da música, Dennis Bovell, uma lenda britânica do reggae, cujo baixo profundo atravessa o som da multidão.
Quando o DJ interrompe a música, o público continua cantando, e cantando, e cantando.
Nasce um hino à capela – lá fora, a hostilidade do mundo parece distante. Nesse momento, bem como no restante de Small Axe, o virtuosismo técnico de McQueen dá as mãos à sensibilidade frente à comunidade que está retratando.
A estreia de Small Axe na TV aconteceu em meados de novembro de 2020, e os cinco filmes da antologia foram exibidos em cinco noites de domingo seguidas no canal BBC One. Esse veículo de prestígio da emissora nacional britânica foi
crucial para McQueen, pois permitiu que a maior quantidade possível de pessoas no Reino Unido pudesse assistir a seu trabalho. Na manhã seguinte à exibição de cada filme, eu entrava no Facebook para ler, com satisfação, o feed do meu pai e de seus amigos. As pessoas postavam suas próprias resenhas, se engajavam em debates acalorados sobre detalhes minuciosos, relembravam devaneios musicais do passado e compartilhavam fotos de trajes retrô envergados por pessoas nas salas de suas casas, emulando a pista de dança, que se assemelhavam aos meticulosamente e poeticamente recriados para Lovers Rock pela diretora de arte Helen Scotta. A despeito de seu valor educativo e de entretenimento, Small Axe quebrou o cadeado do baú da memória coletiva, abriu a torneira e despertou a chama.
A antologia emergiu num momento também em que a Grã-Bretanha – ou ao menos uma porção da sociedade britânica com consciência moral – foi profundamente abalada pelo escândalo Windrush, durante o qual se revelou que centenas de cidadãos oriundos da Comunidade de Nações tinham sido presos, sem acesso aos direitos garantidos por lei e, em muitos casos, deportados. Esse contexto é resultado de uma política de 2012, estabelecida pelo governo
dos Conservadores, que sistematicamente criou e reforçou um “ambiente hostil” para imigrantes. Trata-se de um período tórrido e perturbador, situado após o primeiro lockdown da pandemia do covid-19, durante o qual jovens negros de Londres – que representam mais de um quarto de toda a população negra da cidade na faixa de 15 a 24 anos – foram parados e abordados pela polícia mais de 20 mil vezes. Mais de 80% das abordagens aconteceram entre março e maio de 2020, mas não levaram a nenhuma investigação. Esse também foi o período de reverberação da estúpida mortalidade policial que vitima pessoas negras nos Estados Unidos – incluindo Breonna Taylor, em Louisville, e George Floyd, em Minneapolis –, bem como os subsequentes levantes antirracistas ao redor do mundo.
Um uivo de legitimação à resistência comunitária e um vívido indiciamento da apatia institucional, Small Axe tanto esteve à altura do momento como também foi o próprio momento. Na sua estridência ofegante, apaixonada e comprometida com o reparo dos fatos, a antologia transformou-se num trabalho memorável e numa erupção de criatividade de um dos mais importantes artistas britânicos do cinema. A história agora não poderá ser escrita sem esses filmes.
Júlia Noá
O sol está batendo forte, e o Rio está quentíssimo. Homens e mulheres desfilam desnudos no passeio, conversam sobre si e sobre os outros, trabalham um pouco e bebem um bocado. Não são férias, mas poderiam ser. Os dias derretem às sombras dos problemas conjugais na Zona Sul carioca, e é entre o bar, o escritório, a praia e a casa que Muito prazer (1980) acontece.
Com a câmera quase sempre um pouco abaixo da linha dos olhos, o longa-metragem passeia por entre os corpos bronzeados, trajados de linho cru ou seda, cujas vidas ordinárias compõem um mosaico da vida carioca. Parte de uma Trilogia Carioca – junto aos subsequentes Fulaninha (1986) e Jardim de Alah (1988), Muito prazer tem como objeto de interesse um grupo de amigos que vivem, trabalham e se divertem por ali, ao mesmo tempo que também observa um grupo de três adolescentes quase crianças que vendem amendoim no semáforo. De fronteiras estreitas, a cartografia de Muito prazer inscreve poucas ruas como parte de seu território, e a maneira como o espaço cenográfico é enquadrado nos relembra, o tempo todo, a que microcosmo esses personagens pertencem, a Zeitgeist da Lagoa no início dos anos 1980.
Nádia (Ítala Nandi) é casada com Ivan (Otávio Augusto), e eles enfrentam um período de estiagem sexual devido à bebedeira do marido, e Nádia sente que sua vontade já é maior que seu medo. Ivan é sócio de um escritório de arquitetura junto a Aquino (Cecil Thiré), com quem sua esposa começa a ter um caso, e a Chico (Antônio Pedro), um solteirão afiado nas impressões e bastante reservado com sua vida pessoal. Aquino, por sua vez, é casado com Ângela (Betty Van Wien), uma cocotinha muito bem-vestida com quem não divide muitos interesses e por quem está paulatinamente se desapaixonando.
Dado o enredo central, o filme se desenrola por entre as conversas desse grupo de amigos em festas, no trabalho e nos bares da Lagoa. Sem artifícios expositivos, o filme confia nos diálogos, que cena a cena nos informam dos dramas do grupo. Sempre requisitando uns aos outros para uma “conversinha”, a troca entre duas ou mais pessoas é o espaço de apreensão do contexto, que também nos revela, por consequência, uma disputa de interesses com a qual o espectador é convidado a se relacionar intimamente. Parte das mesas de conversa, da partilha e da parceria, o cinema de David Neves fugiu das teses
e assentou-se em um retratismo menos alegórico e mais tangível, que nos convida ao escrutínio das relações através das cenas cuja partilha emerge do diálogo.
David Neves, um diretor de cinema autointitulado carioca-diamantinense, compôs o grupo cinemanovista e produziu cerca de 30 filmes, entre longas e curtas. Formado em direito pela PUC-Rio, pouco exerceu a carreira e logo se embrenhou nas mais diversas atividades cinematográficas, tendo participado já das primeiras produções do Cinema Novo no começo dos anos 1960. Foi crítico de cinema e também participou na escrita de diversos roteiros de seus pares ao longo da carreira, tendo sido um personagem importantíssimo na formação da classe naquele período.
Para além de cineasta e cinéfilo, a pertença de David Neves ao espaço que ele registra é manifesta. A naturalidade de seus personagens, tão integrados ao espaço que os acolhe e tão cheio de traços que denunciam seu exato local social, evapora as estranhezas comuns que rondam a relação entre o Eu e o Outro. David Neves filma aquilo que conhece, e é reconhecido de volta pelos seus objetos. A mise-en-scène orgânica é o resultado de um compadrio entre quem filma e o que é filmado.
O gesto é simples, e é primorosa a maneira com que David Neves equilibra o plano semântico com o plano formal. Tratando de temas da ordem do repreensível à la Nelson Rodrigues, como alcoolismo, sexo, traição e ladroagem, Muito prazer não julga seus objetos. Pelo contrário, parece estabelecer com seus personagens um pacto afetivo que os compreende, acima de tudo. A câmera é cortês com os personagens e investiga seus desejos sem jamais reprimi-los, ostentando a afabilidade que se estende a todos os retratados.
Sem narrador definitivo, o filme opta por nos informar desse universo por meio das impressões dos adolescentes que trabalham na rua por ali. Observadores da vizinhança, os meninos são comentaristas argutos sobre os acontecimentos que os rodeiam. A mediação estabelecida pelos três meninos, que comentam suas impressões sobre os causos daquele núcleo de amigos, não é senão uma proposta formal: a câmera baixa ocupa o lugar do que seriam os olhos dos pivetes e sugere ao espectador um ponto de vista narrativo, ainda que pouco delineado. Mesmo quando os meninos não estão em cena, essa opção de filmagem permanece ao longo do filme, como que assegurando a perspectiva amoral e curiosa que só uma criança quase adolescente pode
ter. Ao nos colocar como espectadores da vida desse grupo, tal qual os meninos também o são, David Neves sublima a arrogância do julgamento adulto em prol de uma bisbilhotice naïve levemente maliciosa, e seu filme se encerra justamente quando a inocência dá lugar ao ardiloso.
Em uma descendente, Muito prazer faz o retrato de uma boêmia em decadência. Ainda na festa, desavisados que aquele mundo está prestes a ruir, o retrato preciso daquele momento é evanescente, e o marcador disso é o rompimento da relação simpática e debochada entre os pivetes e o grupo de adultos, quando eles resolvem assaltar Nádia. Das brincadeiras jocosas e sacanagens risíveis, sobra o assombro causado pelo assalto. A magia daquele espaço que a todos perdoa e todos compreende dissipa e dá lugar ao mais sério dos desconsolos: o do entendimento. Sentados na calçada em frente ao escritório dos três sócios, Ivan, Chico, Aquino e Nádia encaram o acontecimento e, na mesma medida, encaram a si mesmos em suas respectivas situações, suas mazelas e desencantos, e se despedem do filme curvando-se a nós, de pé, em um rompimento diegético, mas absoluto. A encenação se encerra porque a ilusão se encerra e a vida frugal é vítima da vulgaridade do real.
Alice de Andrade
É difícil explicar a felicidade que é restaurar um filme que, desde que viu a luz, 50 anos atrás, marcou milhares de pessoas. Trazê-lo de volta aos cinemas em outro tempo, com uma riqueza de detalhes inédita, para então redescobri-lo, é um privilégio sem tamanho. Devo isto a Orlando Senna, codiretor de Iracema, meu mestre, amigo e parceiro da vida inteira.
Confesso que não compartilhava da unanimidade em torno do filme. O vi na Escola de Cinema de Cuba (EICTV) – que Orlando ajudou a fundar e dirigiu por muitos anos –, como quem lê um romance obrigatório. Até pouco tempo, nunca tinha embarcado pra valer no filme.
Mas os caminhos da preservação audiovisual são meio mágicos e povoados por anjos. Um dia, Jorge Bodanzky me telefonou por engano, achando que falava com sua filha, e eu, que acabava de saber de um edital internacional de preservação, fiquei sabendo que os negativos originais do filme estavam na ZDF, televisão alemã, caminho das pedras que eu já tinha percorrido no resgate de Cinema Novo, curta-metragem de meu pai. Não fomos contemplados no edital, mas recebi um convite para fazer a cobertura audiovisual do projeto Bodanzky,
50 anos de Amazônia, que pretende levar seus filmes por rio e por terra aos lugares onde foram produzidos. Assim, passei a ter uma convivência quase diária com Bodanzky. Hoje em dia, o cineasta registra tudo com celular. Segundo ele, isso cria uma relação de igual para igual com quem é filmado, em que “ninguém se sente explorado, porque é uma tecnologia que todos têm”. Seus ensinamentos sobre como trabalhar com leveza e liberdade, dessacralizando nosso ofício e sua própria figura de criador, acabaram fazendo com que eu me rendesse a seu projeto de cinema.
A princípio, pensei que este seria só mais um trabalho, nesta área de que gosto muito e em que me especializei. Até que entendi que não estava mais medindo esforços para recuperar esses filmes, da mesma forma que, 20 anos antes, Maria e Antônio, meus irmãos, e eu restauramos as obras completas de nosso pai, Joaquim Pedro de Andrade, reunindo materiais dispersos no mundo inteiro. Porque sem bons materiais, não há boas restaurações. Para que Iracema estivesse linda a tempo dos festejos do 50º aniversário de sua criação, a digitalização e o restauro do filme teriam que ser feitos na Alemanha.
Eu conhecia bem Martin Köerber, restaurador da obra de Fritz Lang, e pedi que fosse o supervisor do restauro junto à ZDF, que não permite que seus materiais saiam da Europa. Por outra feliz coincidência, na mostra de aniversário do programa Das kleine das Fernsehspiel, da ZDF, que produziu quatro dos filmes de Bodanzky, Iracema foi eleito o melhor filme dos anos 1970, e o cineasta foi convidado para apresentá-lo em Berlim. Lá, Martin Köerber e Bodanzky ficaram impressionados com a qualidade do som projetado. Devemos a Merle Kröger, curadora da mostra, a descoberta, nos arquivos da ZDF, dos magnéticos de som de Iracema, bem como dos outros três filmes. Matrizes analógicas, praticamente intocadas, capazes de reproduzir uma infinidade de detalhes da trilha sonora, antes inaudíveis devido às limitações técnicas da época.
Admiradores entusiastas da obra de Bodanzky doaram os recursos que garantiram esta restauração, que não alcançaria tanta excelência sem a parceria e o empenho de nossa equipe. Em especial de Débora Butruce, preservadora audiovisual da Mnemosine; José Luiz Sasso, da JLS; Denise Miller, da Link Digital; e Aarão Marins, da Mapa Filmes. O Departamento de Artes e Design
da PUC-Rio nos facilitou o download de uma enorme quantidade de arquivos, e contamos, é claro, com o apoio essencial da Cinemateca Brasileira. Agradeço muito pela ajuda de seus trabalhadores. A atuação da equipe do Cinema do IMS em todo este processo tem sido da maior importância. Toda nossa gratidão a Marcia Vaz e Kleber Mendonça Filho.
Recuperar as cores dos filmes ao lado de Bodanzky, ouvir as histórias das filmagens, entender seu método para atiçar o real com a ficção, tem sido um privilégio. Foi emocionante ver surgirem na procissão do Círio de Nazaré aquelas centenas de rostos, cada um com sua verdade, em meio a uma alucinante profusão e variedade de ex-votos. Perceber as sutilezas da interpretação de Iracema, pela então adolescente Edna de Cássia. Constatar o gênio de Conceição Senna, não só na atuação como na escolha dos microvestidinhos que Iracema nunca repete e ninguém jamais saberá como couberam em sua singela malinha.
Além de Iracema, uma transa amazônica, o projeto vai restaurar Terceiro milênio, obra-prima do cinema direto, que acompanha o visionário senador Evandro Carreira em sua campanha eleitoral pelo Solimões abaixo, em meio à exuberância dos rios e da floresta
nos anos 1980. “A Amazônia é água em absurdo!”, proclama, em meio a uma torrente de superlativos. “Ou tu me decifras, homem do terceiro milênio, ou te devorarei com a devastação que será a futura Amazônia!” Bodanzky realizou 16 filmes na região num arco de 50 anos. O mais recente, Amazônia, a nova Minamata?, diversas vezes premiado, trata da contaminação por mercúrio causada pelo garimpo. Aos 81 anos, Jorge Bodanzky continua a usar seu cinema para a conscientização das aldeias indígenas, quilombos e comunidades ribeirinhas, bem como dos políticos e da sociedade civil organizada.
Sua obra, vista em conjunto, revela a complexidade e a riqueza da Amazônia, que poucos chegam a conhecer e que ninguém entende inteiramente. Como não podemos restaurar a floresta em 16K, colher frutos de árvores 3D e fazer um back-up do bioma numa gigantesca nuvem (que não desabe em chuvada), é preciso que essa visão vasta, profunda e sensível da Amazônia possa chegar a muitos olhos, mundo e tempo afora. Felizmente, a imagem de Evandro Carreira de sunga, discursando entre as vitórias-régias, persiste em minhas retinas, acima das imagens da paisagem desolada que é o leito seco do rio Solimões de agora.
Antonio Candido, anotações finais
Eduardo Escorel | Brasil | 2024, 87’, DCP (Bretz Filmes)
“Na madrugada de 12 de maio, oito meses antes dessa tarde de chuva em São Paulo, eu morri”, diz calmamente nos primeiros minutos de filme a voz do ator Matheus Nachtergaele, que faz a interpretação dos textos de Antonio Candido, morto em 2017, aos 98 anos. “Ao morrer, deixei meus cadernos de anotações no armário do corredor interno do apartamento onde morava há 21 anos. Comecei o primeiro caderno aos 15 anos, quando cursava o quarto ano ginasial, seguindo a recomendação de minha
mãe, Clarice, uma mulher luminosa e grande leitora. Foi ela quem me aconselhou a registrar minhas impressões de leitura quando viu que eu estava resumindo, por escrito, um texto de divulgação sobre filósofos gregos. Nas décadas seguintes, destruí muitos desses cadernos em rompantes negativistas.”
Antonio Candido deixou 74 cadernos inéditos. Baseado nos dois últimos, o filme se debruça sobre textos escritos entre 2015 e 2017. Os sinais de fragilidade física, notícias de jornal, a derrubada de Dilma Roussef da presidência da República, preferências literárias, musicais e cinematográficas, evocações dos antepassados, menções à infância no sudoeste de Minas e lembranças de Gilda de Mello e Souza são temas recorrentes.
Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
Daniel Gonçalves | Brasil | 2023, 86’, DCP (Olhar Filmes)
Histórias sobre a sexualidade de pessoas com deficiência. Um filme que fala sobre flerte, beijo na boca, namoro, masturbação, capacitismo e –óbvio – sexo. O diretor Daniel Gonçalves ouve das pessoas com deficiência aquilo que socialmente não é esperado que elas digam e façam, rompendo com o estereótipo de que seriam seres assexuados, angelicais, especiais ou, mesmo, desprovidos de desejos. “Nós fodemos e fodemos bem”, dizem por aí.
“O que é essa coisa do ser normal? É uma construção sociocultural”, diz o diretor Daniel Gonçalves em entrevista ao programa Conversa com Bial. “Na época das cavernas, as pessoas com deficiência eram mortas. O tempo passou, e passamos a ser vistos como demônios. Na época da Reforma Protestante, o Lutero dizia que pessoas que hoje seriam consideradas
autistas, ele dizia, essas pessoas não tinham alma. Passou mais um tempo fomos alçados à categoria de anjos. Acho que muito em função de um ideal cristão mesmo. Um anjinho que eu posso ajudar. Uma coisa de caridade. ‘Ai, eu dou alguma coisa pra ele, mas desde que ele fique naquele lugar. Ele não precisa vir pra junto de mim.’ Aí, mais recentemente, eu diria que de 20, 10 anos pra cá, pessoas como eu, que têm algum tipo de voz, de ímpeto, começamos a falar pra poder tentar mudar isso. E essa história do anjinho, isso até o Dudé, que é um dos personagens do filme, fala na entrevista: se você tem um filho com deficiência e você acha que ele é um anjinho, esse filho uma hora vai começar a ter desejo como toda pessoa –tenha ela uma deficiência ou não. E aí como você vai lidar quando aquele seu anjinho de candura começar a ter desejo? Ou o caminho inverso, como alguém pode ter algum desejo sexual em relação ao meu anjinho. Então o Assexybilidade vem muito pra dar uma escancarada nisso. Dizer que não é anjo coisa nenhuma, é pessoa.”
[Depoimento extraído de: bit.ly/assexybilidadedg]
Ingressos:
terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
Rosemberg Cariry | Brasil | 1996, 112’, DCP, cópia restaurada em 4K (Sereia Filmes)
O capitão Corisco é um condenado de Deus, cuja missão é lavar com sangue os pecados do mundo. Um dia, ele rapta Dadá, e a vida dos dois muda completamente. Diante da morte de um filho, tomado de fúria, Corisco rompe com Deus, e Dadá tenta salvá-lo do abismo do ódio, mas o terrível destino não tarda a chegar.
“Quando nós falamos de Corisco e Dadá, nós falamos de um filme, é claro. Mas falamos também de uma geração e de um momento, quando o Nordeste começa, através dos seus jovens realizadores, a marcar politicamente territórios e também esteticamente a afirmar uma forma de narrar suas visões de mundo, suas histórias e afirmar suas estéticas”, declarou o diretor
Rosemberg Cariry em uma conversa online realizada pelo Cine Jardim em homenagem aos 25 anos de lançamento do filme.
“É um desafio muito grande representar um personagem histórico da dimensão de Corisco”, diz Cariry. “Era realmente uma figura muito perversa, com narrativa de atrocidades que é difícil até de escutar. Algumas delas narradas pela própria Dadá quando eu fiz uma entrevista com ela, junto com o cineasta baiano Zé Humberto. Então, eu pensei numa estrutura de tragédia, como uma tragédia grega. Pensei inicialmente Corisco como um semideus, ou seja, um homem que tinha um pacto com Deus e estava ali para cumprir uma missão, que era lavar os pecados do mundo com sangue. Tem até um momento que ele se cansa disso, e a Dadá diz assim: ‘Deixa disso tudo’, e ele diz: ‘Eu preciso!’. Mas chega num momento, que é na morte do terceiro filho – simbolicamente também muito importante ser o terceiro, por conta da trindade –, que ele rompe com Deus. É quando ele quebra o patuá de proteção e reza o pai-nosso ao contrário. Ora, essa oração do pai-nosso ao contrário é uma oração rezada pelos mestres juremeiros de Catimbó, do Nordeste brasileiro, de tal força e de tal intensidade que diz o Câmara Cascudo que só é possível rezar essa oração ao contrário uma vez na vida, porque exaure todas as suas forças. E esse é um momento de grande intensidade do filme [...]. É como se fosse um batismo terrível e macabro, mas esse ritual de
alguma forma marca o processo de ruptura de Corisco com esse pacto com Deus. Ele deixa de ser um instrumento cego na mão de Deus. E passa à sua condição de homem, já bastante transformado pela presença da Dadá, que vai de alguma forma encontrando brechas de humanidades nesse homem. Talvez daí também as brechas para os pequenos afetos que ela cria.”
A restauração de Corisco e Dadá foi realizada com o apoio da Cinemateca do MAM-RJ, do Arquivo Nacional, da Link Digital, da Iluminura Filmes, da Sereia Filmes e da Mapa Filmes, a partir de negativos de imagem e som originais, com produção executiva de Bárbara Cariry.
[A íntegra da conversa está disponível em: bit.ly/coriscoedadarc]
Ingressos:
terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
Karim Aïnouz | Brasil, França, Alemanha | 2024, 115, DCP (Pandora Filmes)
O Motel Destino, um motel de beira de estrada que fervilha sob o céu azul escaldante da costa nordeste do Brasil, é administrado por Elias, um homem de cabeça quente, e sua inquieta esposa Dayana. A chegada inesperada de Heraldo, um jovem em fuga, perturba a ordem estabelecida. O mais recente filme de Karim Aïnouz, diretor de Madame Satã (2002), O céu de Suely (2006) e A vida invisível (2019), estreou este ano na mostra competitiva do Festival de Cannes. Em entrevista ao portal DW, por ocasião da estreia, o diretor comentou: “Eu acho que sexo e comédia têm a ver com a vida. Não são questões morais, são sinais de vida. Depois desses quatro anos de tanto terror e energia de morte, cheguei no set querendo mostrar cor e vida. É um filme em que explode cor, explode tesão, explode humor. É um filme
muito inspirado em pornochanchadas e naqueles programas policiais que passam na TV tipo ao meio-dia. É um policial erótico.”
“O motel é um lugar onde tudo é permitido. É uma arena dramatúrgica muito brasileira. Sim, é algo que só tem no Brasil. Acho que só tem uns na Colômbia, em Tóquio. Mas o motel como instituição, com essa arquitetura toda especial, isso é uma coisa nossa. Uma verdadeira invenção brasileira. E que me permitiu usar muita fantasia neste filme.”
[Íntegra da entrevista: bit.ly/moteldestinoka]
Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
Karim Aïnouz | Brasil, Alemanha | 2020, 10’, DCP (Acervo IMS)
No ano de 3020, a Humanidade completa 1000 anos em um corpo celeste localizado na constelação austral da Baleia, conhecido como Superterra por seus habitantes…
Missão Perséfone será exibido junto ao longa-metragem Motel Destino. O filme fez parte do IMS Convida, programa de incentivo à criação artística concebido para vigorar durante o período de quarentena devido à pandemia do coronavírus. Lançado pelo Instituto Moreira Salles em abril de 2020, o programa se estendeu até outubro do mesmo ano e convidou 171 artistas e coletivos de diferentes origens e frentes de atuação.
André Novais Oliveira | Brasil | 2023, 71’, DCP (Malute Filmes)
Zeca todo dia tenta levantar cedinho para pegar o ônibus e chegar, uma hora e meia depois, na escola da cidade vizinha, onde trabalha como bibliotecário. Acordar cedo anda cada vez mais difícil, há algo que o impede de manter esse cotidiano. Um dia, Zeca conhece Luisa.
O dia que te conheci é o terceiro longa de André Novais Oliveira, diretor de Temporada (2018), Ela volta na quinta (2014) e uma série de curtas-metragens que circularam o mundo, como Fantasmas (2010) e Quintal (2015). “Desde Fantasmas, meu primeiro curta, de 2010, tento fazer os diálogos naturalistas e fazer com que as atuações soem o mais legítimas possível”, comenta em depoimento disponibilizado no material de imprensa do filme. “Esse foi um trabalho muito prazeroso e divertido, e aberto a improvisos. Em cada longa, trago uma nova dosagem de abertura ao inesperado.”
“Sempre tive muita vontade de tentar o humor nos filmes, e tanto a Grace [Passô] quanto o Renato [Novaes] são bons de comédia também. Eles têm um timing de humor, e equilibrar com o drama foi intuitivo. É muito gostoso ver piadas, ou coisas que nem eram para serem engraçadas, mas acabam com o público. Fico muito feliz.”
Filmado ao longo de dez dias entre o primeiro e o segundo turno das eleições de 2022, o filme de Oliveira dialoga com referências que vão desde os cineastas Abbas Kiarostami e Apichatpong Weerasethakul, o compositor norte-americano William Grant Still e a cena do rap contemporâneo brasileiro: “O rap é muito importante no filme. Eu queria muito evidenciar que o Zeca gosta de rap, e mostrar isso nos mínimos detalhes, como na direção de arte. Tem tudo a ver com a cena do rap em BH, que tem crescido bastante. Não à toa, Djonga, Matéria Prima e o Fabrício FBC estão na trilha, além do FBC fazer uma participação como ator, que me deixou muito feliz.”
Ingressos:
terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
Haroldo Borges | Brasil | 2022, 110’, DCP (Cajuína Audiovisual)
Numa pequena cidade do sertão baiano, Bruno é um menino de 15 anos que está perdendo a visão de forma irreversível. Ao mesmo tempo que lida com as primeiras questões da adolescência, o menino e seu entorno têm de aprender a lidar com a nova condição.
Dirigido por Haroldo Borges, do coletivo baiano Plano 3 Filmes, em sua carreira por festivais, Saudade fez morada aqui dentro foi vencedor do prêmio de Melhor Longa-Metragem no Festival de Mar del Plata, em 2022. Em 2023, foi eleito Melhor Filme na mostra Novos Rumos do Festival do Rio; recebeu o Troféu da Crítica, na categoria longa-
-metragem da Mostra de Cinema de Gostoso; e cinco troféus no Festival Aruanda, incluindo Melhor Longa pelos júris oficial e da crítica, Melhor Roteiro e Melhor Ator, para Bruno Borges, parte de um elenco de atores não profissionais recrutados em pesquisas em escolas públicas de Salvador, na Bahia.
“Nós vimos 1300 crianças até chegarmos ao Bruno e, a partir do que eles faziam, da química que havia entre eles, descobrimos os personagens; todos têm o mesmo nome da vida real. Bruno se destacou desde o início. E desde o começo ele era um menino muito corajoso, estava sempre disposto a correr riscos, a fazer exercícios, era impressionante”, declarou Borges em entrevista ao portal argentino Filo News. “Tínhamos uma equipe pequena. Filmamos de forma bem discreta no vilarejo, onde as próprias pessoas não sabiam que estávamos filmando. Mais tarde, muitas delas fizeram parte da equipe, e parecia que estávamos fazendo tudo juntos, não havia aquela coisa tão presente de hierarquia e ordem no cinema.”
[Depoimentos extraídos de: bit.ly/saudadefezmoradahb]
Ingressos:
terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
Jonathan Demme | EUA | 1984, 88’, DCP (O2 Play), cópia restaurada em 4K
A banda Talking Heads apresenta suas músicas mais memoráveis em uma apresentação ao vivo filmada ao longo de três noites no Pantages Theater de Hollywood, em dezembro de 1983. Dirigido por Jonathan Demme (que faria mais tarde O silêncio dos inocentes e Filadélfia) a convite de David Byrne, o filme é um marco na história dos filmes de concerto musical e retorna ao cinema em nova restauração em 4K em comemoração de seu aniversário de 40 anos de lançamento. Stop Making Sense é estrelado pelos principais membros da banda, David Byrne, Tina Weymouth, Chris Frantz e Jerry Harrison, além de Bernie Worrell, Alex Weir, Steve Scales, Lynn Mabry e Edna Holt.
“No início de 1983, Gary Goetzman e eu fomos ver minha banda favorita, os Talking Heads, no Hollywood Bowl, em Los Angeles. O show foi como ver um filme que estava esperando para ser filmado. Procuramos David Byrne e lhe apresentamos a ideia de nos unirmos para fazer o filme”, comentou Demme em entrevista junto a David Byrne para a Time Magazine, por ocasião dos 30 anos da obra. “David realmente viu esse filme em sua própria cabeça muito antes de nós chegarmos e convencê-lo.”
Sobre o trabalho de Demme, Byrne comenta que o cineasta “viu coisas no show que eu não sabia que existiam ou que não sabia o quanto eram importantes. [...] Ele observou a interação das pessoas no palco, que funcionava como se todos tivessem a mesma importância em cena, se víssemos como um roteiro de cinema. Ele também percebeu que, para trazer o espectador para essa percepção, o filme não teria entrevistas ou imagens do público até quase o final.”
[Íntegra da entrevista, em inglês: bit.ly/stopims]
Ingressos:
terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
O Cinema do IMS apresenta a programação
Histórias ocupadas: Steve McQueen, com foco na obra recente do diretor britânico. A programação inclui a estreia brasileira de Occupied City (2023), novo trabalho de McQueen, que investiga as reminiscências da ocupação nazista na cidade de Amsterdã.
A mostra inclui também os cinco filmes da antológica série Small Axe, exibidos entre outubro e dezembro no IMS Paulista e IMS Poços, em sessões únicas. Eleita em 2020 como a melhor produção do ano pela Associação de Críticos de Cinema de Los Angeles, Small Axe reúne cinco histórias distintas inspiradas em personagens da comunidade afro-caribenha em Londres, entre 1960 e 1980. Os filmes abordam as tensões raciais presentes na cidade e as lutas por direitos em diferentes esferas, dos tribunais às pistas de dança. Após estrear no Festival de Cannes em 2020, Small Axe foi lançado pela Amazon e, no Brasil, ficou disponível apenas em serviços de streaming. Essa é a primeira vez que a antologia é exibida em uma sala de cinema nacional.
Para acompanhar a exibição dos filmes, o Cinema do IMS publicará uma série de textos com contribuições de Ashley Clark, diretor curatorial da The Criterion Collection, da pesquisadora Mariana Queen Nwabasili, de Steve McQueen e do sociólogo Paul Gilroy, que atuou como consultor na realização de Small Axe.
A programação tem apoio de The Criterion Collection.
Steve McQueen | Reino Unido, EUA | 2020, 127’, DCP (Turbine Studios)
Mangrove conta a história verídica de Frank Crichlow, cujo restaurante Mangrove, de origem indiana ocidental, um animado centro comunitário em Notting Hill, Londres, atraía moradores, ativistas, intelectuais e artistas. Em uma época de flagrante discriminação racial, Crichlow se vê, assim como seu negócio, alvo de incansáveis batidas policiais. Em uma tentativa de acabar com a discriminação e a ruína de sua base comunitária, Frank e seus amigos saem às ruas em um protesto pacífico em 1970, mas são recebidos com agressão policial.
Como resultado, nove homens e mulheres, incluindo Frank, a líder do movimento Pantera Negra britânico Altheia Jones-LeCointe e o ativista Darcus Howe, são presos injustamente e acusados de incitar tumultos e agressões. Segue-se, então, um julgamento altamente noticiado à época.
“Para mim, esses filmes deveriam ter sido feitos há 35 anos, 25 anos, mas não foram, e acho que, na minha cabeça louca, eu queria fazer o máximo de filmes que pudesse para corrigir isso”, conta McQueen a David Olusoga para a Sight and Sound. “Naquela época, ninguém daria dinheiro a mim –ou a qualquer outra pessoa – para fazer um filme sobre os Mangrove Nine. Você não era bem-vindo. Cinquenta anos depois, todos estão celebrando essas pessoas em particular.”
“Quero dizer, eu não sabia sobre o Mangrove Nine até talvez dez anos atrás. Um dos melhores amigos do meu pai era Rhodan Gordon [um dos Mangrove Nine]. Rhodan costumava ir à nossa casa o tempo todo, e meu pai costumava ir ao Mangrove. Mas acho que o que aconteceu foi muito TEPT [transtorno de estresse pós-traumático] após o julgamento. Rhodan Gordon, no dia seguinte ao julgamento, teve a perna e o braço quebrados e foi preso por posse de arma perigosa e agressão. Ele pegou 36 meses de prisão. Essas pessoas foram perseguidas pela polícia. E seus filhos tiveram que lidar com isso, e ainda estão lidando com isso.”
“Portanto, o fato de eu não ter ideia de quem era essa pessoa, até recentemente, não é uma surpresa real, porque era um drama. Agora podemos celebrá-los, pois nenhum dos homens do Mangrove Nine está vivo.”
[Íntegra da entrevista, em inglês: bit.ly/ mangrovesm]
Entrada gratuita. Distribuição de senhas 60 minutos antes da exibição. Limite de uma senha por pessoa. Sujeito à lotação da sala.
David Neves | Brasil | 1979, 94’, DCP, cópia restaurada em 4K (Cinemateca do MAM)
Três jovens arquitetos e três meninos trabalham frente a frente num cruzamento de tráfego da Zona Sul do Rio de Janeiro. Do seu ponto privilegiado, os arquitetos observam a atividade diária dos pequenos vendedores ambulantes, e estes, ao mesmo tempo, são observadores dos arquitetos, num processo de mútuo voyeurismo. Curtindo a vida à sua maneira, Leléu, Pacheco, e Manteiga enveredam eles também pela vida dos arquitetos.
Em entrevista a Maria do Rosário Caetano para o portal Revista de Cinema, o produtor do filme Carlos Moletta, conta sobre o início do trabalho com David Neves e as origens de Muito prazer: “Pois é, eu era engenheiro eletricista. Minha ligação com a arte se dava pela música, pois eu tocava violão e compunha. Era amigo de Joaquim [Vaz de Carvalho], que estudara direito, na PUC-Rio, com David Neves. Isso, no final dos anos 1960. David não quis nada com a advocacia. Passou a dedicar-
-se, muito cedo, ao trabalho no cinema, em curtas de seus colegas do Cinema Novo, e à divulgação dos filmes brasileiros no exterior. Joaquim dedicou-se a múltiplas atividades, incluindo a publicidade. Em 1976, ele escreveu um argumento com David Neves, que estava louco para voltar ao longa-metragem, pois os dois primeiros [Memória de Helena e Lucia McCartney] haviam sido feitos seis ou sete anos antes. [...] O roteiro, que Joaquim escreveu, se chamava inicialmente Sinal fechado. O embaixador Celso Amorim e seu braço direito, Samuel Pinheiro Guimarães, haviam assumido a Embrafilme. Nós montamos, Joaquim e eu, a produtora Morena Produções Artísticas, e nos dedicamos à volta de David ao longa-metragem. Como o “Sinal fechado”, do Paulinho da Viola, era um sucesso retumbante, achamos melhor mudar o título. O filme foi rebatizado de Muito prazer. Joaquim, além do roteiro do filme, ajudou na escolha do elenco. E eu, no meio do processo, assumi as canções. Uma delas, “Coração pivete”, compus em Paquetá. A palavra ‘pivete’ era ainda uma novidade. O Beto Quartin, que morreu cedo, cuidou dos arranjos.”
Em 1979, no Festival de Brasília, Muito prazer recebeu os prêmios de Melhor Filme, Melhor Ator, para Otávio Augusto, e Melhor Fotografia, para Jom Tob Azulay.
[Depoimento extraído de: bit.ly/muitoprazerdn]
Dia 3 de outubro – exibição seguida de debate: Entrada gratuita. Distribuição de senhas 60 minutos antes da exibição. Limite de uma senha por pessoa. Sujeito à lotação da sala.
Dia 13 de outubro - R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).
Johatsu – Os evaporados
Johatsu – Into Thin Air Arata Mori e Andreas Hartmann | Alemanha, Japão | 2024, 86’, DCP (Fundação Japão)
Todos os anos, milhares de pessoas desaparecem sem deixar rastros no Japão. Conhecidas como Johatsu, ou “os evaporados”, elas abandonam suas vidas por vários motivos, como um relacionamento problemático, dívidas crescentes ou ameaças da máfia. Alguns recebem apoio das chamadas empresas de “mudança noturna”, que ajudam as pessoas a desaparecer e começar uma nova vida em outro lugar. Analisando intimamente o fenômeno das “pessoas que evaporam”, Johatsu – Into Thin Air retrata os conflitos internos e as tentativas de reconciliação daqueles que desapareceram e daqueles que foram deixados para trás.
“Em 2014, eu estava morando no Japão como artista em residência”, conta Andreas Hartmann a Teresa Vena para o portal Cineuropa. “Durante esse período, eu estava trabalhando no meu documentário anterior, A Free Man, sobre um jovem
japonês que decidiu viver como sem-teto por opção. Ele fugiu de sua família e optou por escapar da pressão de uma sociedade orientada para a realização. Durante esse projeto, conheci o bairro de Nishinari, em Osaka, onde as pessoas podem viver anonimamente. Quando fiquei sabendo da existência de empresas de ‘mudança noturna’, que ajudam as pessoas a desaparecer, decidi fazer um novo filme sobre isso e me juntei ao meu parceiro de direção Arata Mori.”
Os diretores contam também que seus personagens aceitaram participar do filme porque nenhum dos cineastas vive no Japão, e sob a condição de que o filme não seja exibido no país – seja em cinema, TV ou streaming. Mori conta que uma das principais fontes para chegarem a seus personagens “foi a empresa de transporte noturno Sra. Saita, uma de nossas principais protagonistas. Perguntamos a ela se poderia nos apresentar a alguns de seus clientes. Essas pessoas colaboraram conosco apenas porque confiavam na sra. Saita. Portanto, sem ela, teria sido impossível encontrá-las. Por outro lado, encontramos protagonistas no distrito de Nishinari, em Osaka. É uma área de favela, onde as pessoas podem dormir em um hotel extremamente acessível e trabalhar sem ter de mostrar qualquer identificação. Você pode viver lá de forma totalmente anônima – é o melhor lugar para se esconder”.
[Íntegra da entrevista, em inglês: bit.ly/johatsuaham]
Entrada gratuita. Distribuição de senhas 60 minutos antes da exibição. Limite de uma senha por pessoa. Sujeito à lotação da sala.
Aos 81 anos, cerca de 60 deles dedicados ao cinema, Jorge Bodanzky ocupa um lugar importante na produção de imagens do e sobre o Brasil. Em 2024, o IMS Paulista dedica especial atenção à obra de Bodanzky como cineasta, fotógrafo e repórter na mostra de filmes As câmeras de Bodanzky, em cartaz no Cinema do IMS, iniciada em abril e com programas mensais ao longo do ano, e na exposição, já encerrada, Que país é este? A câmera de Jorge Bodanzky durante a ditadura brasileira, 1964-1985
Ao longo desse período, Bodanzky assinou a fotografia de trabalhos de importantes diretores, produziu uma série de imagens sobre a Amazônia e a América Latina, diversas delas em parceria com a televisão alemã, além de filmes paradigmáticos no cinema brasileiro, como Iracema, uma transa amazônica (1974) e Terceiro milênio (1980). Trabalhou nos mais diversos formatos, dos analógicos 8 mm, 16 mm e 35 mm aos digitais, em câmera profissional e celular, e segue legando trabalhos, como o recente longa-metragem Amazônia, a nova Minamata? (2022).
O Cinema do IMS exibe uma seleção dessa obra junto a curtas-metragens comissionados especialmente para esta ocasião, realizados a partir do arquivo de filmes super-8 de Bodanzky. Os filmes serão exibidos em cópias analógicas e digitais, em materiais de acervo e novas cópias digitais. A mostra conta ainda com a estreia das restaurações inéditas de Iracema e Terceiro milênio, realizadas a partir de um projeto coordenado por Alice de Andrade.
Jorge Bodanzky e Orlando Senna | Brasil, França, Alemanha | 1975, 90’, DCP, cópia restaurada em 4K (Jorge Bodanzky e Alice de Andrade)
A mostra As câmeras de Bodanzky realiza desde setembro o lançamento mundial da nova restauração em 4K de Iracema, uma transa amazônica, dirigido por Jorge Bodanzky e Orlando Senna.
Em Iracema, em contraste com a propaganda oficial da ditadura militar, que alardeava um país em expansão com a construção da rodovia Transamazônica, a câmera de Bodanzky aponta para os problemas que a estrada traria para a região: desmatamento, queimadas, trabalho escravizado, prostituição infantil. Em uma obra que mistura documentário e ficção, uma pequena
equipe de cinema vai à Amazônia rodar um filme com imensa liberdade formal. Um fio de enredo: um caminhoneiro, Tião Brasil Grande, interpretado por Paulo Cesar Pereio, encontra Iracema, e juntos percorrem parte da região amazônica, então zona de segurança nacional, sob rígido controle militar, contracenando com moradores e interagindo com outros intérpretes.
“A primeira semente de Iracema germinou num posto de gasolina à margem da rodovia Belém-Brasília, em 1968”, relembra Bodanzky na biografia Jorge Bodanzky – O homem com a câmera, escrita por Carlos Alberto Mattos. “Enquanto esperava que o repórter da revista Realidade apurasse alguma coisa, fiquei dois dias observando a movimentação de caminhoneiros e prostitutas em torno do posto. A estrada ainda era de terra, e as ‘Iracemas’ e ‘Tiões’ estavam todos ali.”
“Tínhamos um roteiro-guia, que não era mostrado aos atores. Explicávamos a situação, dizíamos o que não poderia deixar de ser falado, e os deixávamos à vontade diante da câmera. Edna, por exemplo, tinha uma ideia básica da situação de Iracema na cena, mas não sabia exatamente o que Pereio ia dizer ou perguntar. Tinha que reagir à sua maneira. E ela, muito brincalhona e irônica, geralmente se saía bem das provocações. O momento em que Pereio a expulsa do caminhão é exemplar dessas virtudes da improvisação. [...] Ao lidar com não atores, é complicado cortar para fazer contracampos, closes etc., pois isso retira toda a naturalidade. Faço, então, com que a câmera costure a ação, de certa forma me antecedendo à montagem. O hábito fez dessa a minha maneira de dirigir. Eu quero contar a história
com a câmera, vou empurrando minhas personagens com a minha câmera. É como se estivesse roteirizando, decupando, filmando e montando ao mesmo tempo.”
Realizado em 1974 para a ZDF, emissora de TV alemã, Iracema, uma transa amazônica retrata uma viagem da inocência à desintegração, da comunidade indígena mais isolada à periferia das grandes cidades. O filme, que ficou proibido pela censura no Brasil durante seis anos, teve uma boa repercussão de público e crítica internacionalmente desde sua estreia, em fevereiro de 1975, na ZDF. Foi premiado em festivais estrangeiros e convidado para a Semana da Crítica, do Festival de Cannes em 2016. Quando liberado no país, em 1980, foi premiado nas categorias Melhor Filme, Montagem, Atriz e Atriz Coadjuvante no Festival de Brasília.
Esta restauração partiu do negativo original de imagem da versão alemã e do magnético de som 16 mm depositados nos arquivos da ZDF. A restauração de imagem foi feita em 4k no Laboratório Cinegrell, em Berlim, entre junho e julho de 2024. As matrizes digitais foram produzidas na Cinemateca Brasileira e lá depositadas. O projeto de restauro tem direção artística de Jorge Bodanzky, produção e coordenação técnica de Alice de Andrade e contou com as supervisões de Martin Köerber, na Alemanha, e Débora Butruce, no Brasil.
Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).
48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
Jorge Bodanzky | Brasil | 2005, 45’, Arquivo digital (Jorge Bodanzky)
Um making-of dirigido pelo próprio Bodanzky, o documentário discute a linguagem do filme Iracema, uma transa amazônica 30 anos depois de sua realização, reunindo entrevistas com os autores, atores, críticos e com os próprios cineastas.
Era uma vez Iracema será exibido junto ao curta-metragem Ainda uma vez Iracema, de Jorge Bodanzky.
Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).
Jorge Bodanzky | Brasil | 2014, 11’, Arquivo digital (Jorge Bodanzky)
Jorge Bodanzky volta a Belém para apurar o estado da prostituição nos locais onde Iracema foi rodado. O filme reúne depoimentos de trabalhadoras do GEMPAC (Grupo de Mulheres Prostitutas do Estado do Pará): Lourdes Barreto, Eunice Conceição, Leila Barreto e Fátima.
Ainda uma vez Iracema foi filmado em 2014 com o apoio do Instituto Moreira Sales para integrar o DVD comemorativo de 40 anos de Iracema, uma transa amazônica, lançado pela Coleção DVD | IMS.
Ainda uma vez Iracema será exibido junto ao média-metragem Era uma vez Iracema, de Jorge Bodanzky.
Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).
Desde 1977, a Mostra é realizada de forma ininterrupta, tendo conquistado o respeito do universo audiovisual no mundo todo. Está consolidada como um dos maiores e mais importantes eventos culturais do Brasil, um dos mais destacados festivais de cinema da América Latina, faz parte do calendário cultural do estado e da cidade de São Paulo e atrai um público cinéfilo de 150 mil pessoas.
Em 2024, a Mostra voltará às salas da capital paulista, e sua 48ª edição acontecerá de forma presencial, também mantendo a programação online, além de sessões em centros culturais e ao ar livre. Durante duas semanas, entre 17 de outubro e 30 de outubro, o festival trará um apanhado do que o cinema contemporâneo brasileiro e mundial tem produzido, novas tendências e temáticas, além de apresentar cineastas homenageados e clássicos restaurados para valorizar a história do cinema.
A programação da Mostra no Cinema do IMS estará disponível em cinema.ims.com.br e em 48.mostra.org.
Instituto Moreira Salles
Cinema
Curador
Kleber Mendonça Filho
Programadora
Marcia Vaz
Programador adjunto
Thiago Gallego
Produtora de programação
Quesia do Carmo
Assistente de programação
Lucas Gonçalves de Souza
Projeção
Ana Clara da Costa e Adriano Brito
Serviço de legendagem
eletrônica
Pilha Tradução
Revista de Cinema IMS
Produção de textos e edição
Thiago Gallego e Marcia Vaz
Diagramação
Marcela Souza e Taiane Brito
Revisão
Flávio Cintra do Amaral
Os filmes de outubro O programa do mês tem o apoio da Cinemateca do MAM, da Fundação Japão, da 48ª Mostra Internacional de São Paulo, da revista Cinética, da Turbine Studios, das distribuidoras Bretz Filmes, Cajuína Audiovisual, Malute Filmes, O2 Play, Olhar Filmes, Pandora Filmes e Sereia Filmes.
Agradecemos a Abbey Lustgarte, Ana Paula Sousa, Andrea Ormond, Andreas Hartmann, Arata Mori, Ashley Clark, Bárbara Cariry, Beatriz
Sayuri Zukeran, Carlos Moletta, Cecília Suzuki, Charlotte Andrews, Chloe
Huybens, Daigo Tamura, Elizabeth Pauker, Ernesto Molinero, Haroldo Borges, Heitor Augusto, Hermano Callou, José Quental, Júlia Noá, Juliano Gomes, Koji Ogami, Liz Helfgot, Marcos Bautista, Mariana Queen
Nwabasili, Michael Gibbons, Paula Gomes, Ximena Amescua Cuenca.
As câmeras de Bodanzky
Curadoria, realização e produção: Cinema do IMS
Apoio: Arquivo Nacional, Cinemateca Brasileira, Cinemateca do MAM, CTAv, Zweites
Deutsches Fernsehen (ZDF)
Pesquisa: Ângelo Manjabosco, Mariana Baumgaertner, Júnia Matsuura
Coordenação de digitalização: Débora Butruce
Digitalização e tratamento de imagem e som: Link Digital e Mapa Filmes
Agradecimentos: Jorge Bodanzky, Adriana Veríssimo, Alice de Andrade, Ana Beatriz
Vasconcellos, Barbara Alves Rangel, Bruna Callegari, Denise Miller, Edna de Cássia, Elisa Ximenes, Ewerton Belico, Guilherme Albani, Hernani Heffner, Joana Nogueira Lima, José Quental, Link Digital, Luiz Pretti, Meike Schlarb, Museu da Imagem e do Som (MIS-SP), Nuno
Godolphim, Patrícia Lira, Rafael Medeiros, Ricardo Pretti.
Agradecimentos Equipe IMS: Bianca Mandarino, Cauê Guimarães, Horrana de Kássia
Santoz, Joana Reiss, Maria Clara Villas, Marina Marchesan, Nadja Santos, Thyago Nogueira.
Venda de ingressos
Ingressos à venda pelo site ingresso.com e na bilheteria do centro cultural, a partir das 12h, para sessões do mesmo dia. No ingresso.com, a venda é mensal, e os ingressos são liberados no primeiro dia do mês. Ingressos e senhas sujeitos à lotação da sala. Capacidade da sala: 145 lugares.
Com apresentação de documentos comprobatórios para professores da rede pública, estudantes, crianças de 3 a 12 anos, pessoas com deficiência, portadores de Identidade Jovem, maiores de 60 anos e titulares do cartão Itaú (crédito ou débito).
Sessão Cinética
apoio
Johatsu – Os evaporados
correalização
Histórias ocupadas: Steve McQueen
apoio
48ª Mostra Internacional de São Paulo
Em casos de cancelamento de sessões por problemas técnicos e por falta de energia elétrica, os ingressos serão devolvidos. A devolução de entradas adquiridas pelo ingresso.com será feita pelo site Programa sujeito a alterações. Eventuais mudanças serão informadas no site ims.com.br e no Instagram @imoreirasalles. Não é permitido o acesso com mochilas ou bolsas grandes, guarda-chuvas, bebidas ou alimentos. Use nosso guarda-volumes gratuito. Confira as classificações indicativas no site do IMS.
Johatsu – Os evaporados
(Johatsu – Into Thin Air), de Arata Mori e Andreas Hartmann (Alemanha, Japão | 2024, 86’, DCP)
Terça a quinta, domingos e feriados sessões de cinema até as 20h; sextas e sábados, até as 22h.
Visitação, Biblioteca, Balaio IMS Café e Livraria da Travessa
Terça a domingo, inclusive feriados das 10h às 20h. Fechado às segundas. Última admissão: 30 minutos antes do encerramento.
A entrada no IMS Paulista é gratuita.
Avenida Paulista 2424
CEP 01310-300
Bela Vista – São Paulo tel: (11) 2842-9120
imspaulista@ims.com.br
ims.com.br
/institutomoreirasalles
@imoreirasalles
@imoreirasalles
/imoreirasalles
/institutomoreirasalles