Cinema do IMS Paulista, junho de 2024

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cinema
jun.2024
Fantasmas, de André Novais Oliveira (Brasil | 2010, 11’, Arquivo digital)

destaques de junho de 2024

Presas da noite: as que saem do escritório e não conseguem voltar pra casa, as que ficam presas na festinha madrugada adentro, as que fogem do perigo e as que esperam por um fantasma. Por ocasião do relançamento de Depois de horas, de Martin Scorsese, em uma restauração 4K, o Cinema do IMS reúne algumas aventuras notívagas de cinema que poderão ser vistas nas noites de sexta e sábado ao longo do mês de junho.

Renato é um humorista que interpreta a personagem Silvanelly nos bares e casas de show de Fortaleza e precisa se reaproximar da filha. Helena Ignez interpreta uma sexóloga dedicada a empoderar mulheres a partir do orgasmo. Passado e presente se embaralham na vida de funcionários do aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. Um grupo de amigues se reúne para a despedida de Aisha. Um romance de Virginia Woolf é relido numa perspectiva transmasculina. No mês do orgulho LGBTQIAPN+, um conjunto de filmes em que comparece a diversidade sexual e de gênero. Cada qual a seu modo, disputam um imaginário ainda muito sedimentado por estereótipos e violência.

Na retrospectiva de Jorge Bodanzky, Amazônia, a nova Minamata? denuncia a contaminação de mercúrio em curso provocada pelo garimpo, que ameaça a saúde e o território do povo Munduruku. O filme será discutido pelo cacique Jairo Saw Muduruku e convidados. Ainda na mostra, um musical conta a viagem do pequeno Igor pelo continente gelado da Antártica; uma digitalização inédita de Os Mucker revisita a comunidade religiosa alemã que foi alvo de um sangrento ataque militar; e José Mojica, o Zé do Caixão, interpreta um faquir circense em O profeta da fome, de Maurice Capovilla, em cópia 35 mm.

[imagem da capa]

Depois de horas (After Hours), de Martin Scorsese (EUA | 1985, 97’, DCP 4K, cópia restaurada)

(Brasil | 1970, 93’, cópia 35

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O profeta da fome, de Maurice Capovilla mm) Amazônia, a nova Minamata?, de Jorge Bodanzky (Brasil | 2022, 76’, DCP) Tudo o que você podia ser, de Ricardo Alves Jr. (Brasil | 2023, 83’, DCP)

filmes em exibição

Filmes em cartaz

As câmeras de Bodanzky

A alegria é a prova dos nove

Helena Ignez | DCP

A filha do palhaço

Pedro Diógenes | DCP

A hora da estrela

Suzana Amaral | DCP 4k, cópia restaurada

O estranho

Flora Dias e Juruna Mallon | DCP

Clandestina felicidade

Beto Normal e Marcelo Gomes | Arquivo digital

Diálogos com Ruth de Souza

Juliana Vicente | DCP

Orlando, minha biografia política

(Orlando, ma biographie politique)

Paul B. Preciado | DCP

Tudo o que você podia ser

Ricardo Alves Jr. | DCP

Amazônia, a nova Minamata?

Jorge Bodanzky | DCP

As cores e amores de Lore

Jorge Bodanzky | DCP

As aventuras de Igor na Antártica

Jorge Bodanzky | Arquivo digital

O profeta da fome

Maurice Capovilla | 35 mm

Os Mucker

Jorge Bodanzky e Wolf Gauer | DCP

Ruivaldo, o homem que salvou o mundo

Jorge Bodanzky e João Farkas | Arquivo digital

A partir de agora, é possível assistir a alguns dos filmes em cartaz no Cinema do IMS com recursos de acessibilidade em Libras, legendas descritivas e audiodescrição. Para retirar o equipamento com recursos, consulte a bilheteria do IMS Paulista. Em caso de dúvidas, entrar em contato pelo telefone (11) 2842-9120 ou pelo e-mail imspaulista@ims.com.br.

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Transanarquia

Jorge Bodanzky | Arquivo digital

Meu barco é veleiro

Ewerton Belico & Irmãos Pretti | DCP

O Muiraquitã

Ewerton Belico & Irmãos Pretti | DCP

Tenta louvar o mundo mutilado

Ewerton Belico & Irmãos Pretti | DCP

Limites do diáfano

Ewerton Belico & Irmãos Pretti | DCP

Noite

adentro

Amigos de risco

Daniel Bandeira | DCP

Bad Galeto – No limite da morte

Amanda Seraphico, Lorran Dias e Bruma

Machado | Arquivo digital

Depois de horas (After Hours)

Martin Scorsese | DCP 4k, cópia

restaurada

Fantasmas

André Novais de Oliveira | Arquivo digital

The Warriors – Os selvagens da noite

(The Warriors)

Walter Hill | DCP

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15:45 A hora da estrela + Clandestina felicidade (110')

18:00 A alegria é a prova dos nove (100')

20:00 A filha do palhaço (104') 11

16:00 A alegria é a prova dos nove (100')

18:00 A filha do palhaço (104')

20:00 Os Mucker (105')

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16:00 Diálogos com Ruth de Souza (99')

18:00 A filha do palhaço (104')

20:00 As aventuras de Igor na Antártica (45') 25

15:00 Diálogos com Ruth de Souza (99')

17:00 Tudo o que você podia ser (84')

19:00 Amazônia, a nova Minamata? (76'), seguida de debate com Jorge Bodanzky, Jairo Saw Munduruku e Larissa Rodrigues 5

15:45 A hora da estrela + Clandestina felicidade (110')

18:00 A alegria é a prova dos nove (100')

20:00 A filha do palhaço (104')

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16:00 A alegria é a prova dos nove (100')

18:00 A filha do palhaço (104')

20:00 O profeta da fome (93')

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16:00 Diálogos com Ruth de Souza (99')

18:00 A filha do palhaço (104')

20:00 Transanarquia (59')

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16:00 Tudo o que você podia ser (84')

17:50 O estranho (108')

20:00 Ruivaldo, o homem que salvou o mundo (45') 6

15:45 A hora da estrela + Clandestina felicidade (110')

18:00 A alegria é a prova dos nove (100')

20:00 A filha do palhaço (104')

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15:45 Diálogos com Ruth de Souza (99')

17:45 A hora da estrela + Clandestina felicidade (110')

20:00 A filha do palhaço (104')

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16:00 O estranho (108')

18:15 Tudo o que você podia ser (84')

20:00 O estranho (108')

Programa sujeito a alterações. Eventuais mudanças serão informadas em ims.com.br.

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16:00 O estranho (108')

18:15 Tudo o que você podia ser (84')

20:00 [Pré-estreia] Orlando, minha biografia política (98')

4 quarta quinta terça 4

14:30 A alegria é a prova dos nove (100')

16:45 A hora da estrela + Clandestina felicidade (110')

19:00 A filha do palhaço (104')

21:00 Depois de horas (97')

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14:00 A filha do palhaço (104')

16:00 A hora da estrela + Clandestina felicidade (110')

18:05 A alegria é a prova dos nove (100')

20:00 A filha do palhaço (104')

22:00 Diálogos com Ruth de Souza (99')

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14:00 A alegria é a prova dos nove (100')

16:00 A filha do palhaço (104')

18:00 O profeta da fome (93')

20:00 The Warriors – Os selvagens da noite + Bad Galeto – No limite da morte (106')

22:00 Diálogos com Ruth de Souza (99')

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14:30 A filha do palhaço (104')

16:45 A hora da estrela + Clandestina felicidade (110')

19:00 A filha do palhaço (104')

21:00 The Warriors – Os selvagens da noite + Bad Galeto – No limite da morte (106')

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15:00 A filha do palhaço (104')

17:00 O estranho (108')

19:15 Tudo o que você podia ser (84')

21:00 Amigos de risco + Fantasmas (99')

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14:00 A alegria é a prova dos nove (100')

16:00 A filha do palhaço (104')

18:00 O estranho (108')

20:10 Tudo o que você podia ser (84')

22:00 Diálogos com Ruth de Souza (99')

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14:00 Diálogos com Ruth de Souza (99')

16:00 A filha do palhaço (104')

18:00 Os Mucker (105')

20:00 Amigos de risco + Fantasmas (99')

22:00 A filha do palhaço (104')

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14:00 Tudo o que você podia ser (84')

15:40 O estranho (108')

18:00 Ruivaldo, o homem que salvou o mundo (45')

19:30 Depois de horas (97')

22:00 A filha do palhaço (104')

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14:00 O estranho (108')

16:15 Tudo o que você podia ser (84')

18:00 As cores e amores de Lore (80')

19:50 O estranho (108')

22:00 A alegria é a prova dos nove (100')

Neste dia não haverá sessões de cinema 9

14:00 A alegria é a prova dos nove (100')

16:00 A hora da estrela + Clandestina felicidade (110')

18:15 Meu barco é veleiro + O Muiraquitã + Tenta louvar o mundo mutilado + Limtes do diáfano (61')

20:00 A filha do palhaço (104')

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14:00 A hora da estrela + Clandestina felicidade (110')

16:15 Diálogos com Ruth de Souza (99')

18:15 As aventuras de Igor na Antártica (45')

20:00 A filha do palhaço (104')

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14:00 A filha do palhaço (104')

16:00 Tudo o que você podia ser (84')

18:00 Transanarquia (59')

20:00 O estranho (108')

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14:00 Tudo o que você podia ser (84')

15:45 O estranho (108')

18:00 Meu barco é veleiro + O Muiraquitã + Tenta louvar o mundo mutilado + Limtes do diáfano (61')

19:30 [Pré-estreia] Orlando, minha biografia política (98')

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Home-office

“A vida não me assusta”, ensina Maya Angelou em seu clássico livro infantil ilustrado por Jean-Michel Basquiat. Mensagem necessária. Planeta Terra, 500 milhões de anos atrás: nossos oceanos turvos eram jovens, clarões de relâmpagos golpeavam sua superfície, o sol, um borrão de luz em um céu enevoado, e eventualmente bolas flamejantes cortavam o céu, caindo no mar e traçando longos rastros de fogo, causando impactos que geravam tsunâmis que lançavam ondas gigantescas contra os continentes, tomados por rios de lava, produzindo nuvens de vapor que escureceram o sol. Em contraste com esse panorama infernal, mas magnífico, a água engendrava uma história microscópica. Ali, moléculas orgânicas nasciam em meio aos relâmpagos e a raios cósmicos, e ali colidiam e se fundiam por milhões de anos até que, por fim, uma trêmula sequência de moléculas orgânicas deu início a uma história extraordinária de entendimento de que o esplendor da vida está no fato dela ser fundamentalmente caótica. Seguiram-se o proterozoico, o paleozoico, o cambriano, ordoviciano, siluriano, devoniano, carbonífero, permiano, mesozoico, triássico, jurássico, cretáceo, cenozoico, terciário e quaternário. Então surgiu a humanidade. O primeiro animal, por medo e arrogância, que se atreveu a tentar domar o caos.

A história da humanidade é a história de nossas invenções. Nossas invenções dizem o que a humanidade é. Para tentarmos domar o caos, inventamos a agricultura, encerramos hábitos nômades, inventamos de nos juntarmos em grandes cidades, descobrimos que, para controlar uma quantidade grande de seres humanos aglutinados, precisávamos criar sistemas de governo imperiais, uma ordem cambial, uma classificação moral e cívica, regras sociais e, por fim, religiões, pecado, fé e culpa. Nada disso deu certo. Inventamos, então, o escritório.

No escritório, das 9 às 18h, engravatados, com uma rotina específica de tarefas para cada dia, metas a serem reconhecidas por uma corporação, finalmente encontramos o templo mais eficiente para nosso espírito, que no fundo teme a vida. Um lugar que nos proporciona, sem percebermos, um conforto, longe dos perigos da floresta caótica primordial de onde viemos milhões de anos atrás. Onde podemos viver de modo seguro e organizado.

Mas também inventamos o cinema.

Em 1984, Martin Scorsese, cineasta de formação cristã e tendência para o pecado, estava sofrendo uma crise de fé e de culpa. Sua fé no cinema estava praticamente esgotada por conta dos percalços e, por fim, do cancelamento de seu projeto A última

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tentação de Cristo, que viria realizar anos depois. O livro, e o filme, mais amoroso com a ideia de um Cristo humano, sofrera severo boicote justamente da Igreja Católica, que se organizou para enviar cartas com ameaças nada cristãs, 500 por dia, para o estúdio Paramount. Já sua crise de culpa era algo crônico, efeito colateral de quem segue qualquer uma das religiões abraâmicas

(judaísmo, cristianismo e islamismo, que têm em comum forte antipatia por subjetividades). Scorsese sentia culpa porque, na verdade, é devoto, e ao mesmo tempo sacerdote, de uma religião nada abraâmica. O cinema. O tipo de cinema que faz uma chave jogada de uma janela assustar por conta da subjetividade do personagem que vai pegá-la. O tipo de cinema idólatra

de uma Nova Iorque caótica, cocainômana, infernal e boêmia.

Na impossibilidade de fazer seu filme sobre Cristo, e frustrado com o sistema de grandes estúdios engravatados ao qual parecia não se adaptar (até então suas obras-primas haviam sido Taxi Driver e Touro indomável, feitos com equipes mínimas), o mundo sorriu para Scorsese quando um novato Tim Burton

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Depois de horas (After Hours), de Martin Scorsese

liberou para ele um roteiro sobre um engravatado que se dá muito mal ao arriscar dispor seu corpo e, principalmente, seu desejo fora de um escritório, e dentro de um bairro caótico, cocainômano, infernal e boêmio de sua Nova Iorque. O roteiro de Depois de horas (After Hours, 1985), escrito por Joseph Minion, um jovem de 26 anos, como conclusão do curso de cinema, é uma história sobre culpa divina e involução humana. Conta uma noite na vida de Paul Hackett, um sujeito superficial em seu tédio no escritório e em seu apartamento. A vida controlada e uma bela mulher que parece dar em cima dele em um café após o expediente não lhe assustam. A vida caótica, uma corrida de táxi pela noite da cidade, sim. E isso é fundamental para entendermos a grande influência e o grande homenageado neste projeto, outro pensador da evolução humana: Alfred Hitchcock. A definição do mestre inglês a respeito do que caracteriza suspense é: quando a audiência sabe que há uma bomba debaixo da mesa pronta para explodir, mas o personagem fazendo sua refeição, não. Em Depois de horas, Scorsese faz o que Hitchcock fez em toda sua carreira: colocar em estado de suspense o público médio, superficial, os que têm preconceito com o tipo de ser humano que não se assusta com a vida. Os que não têm vertigo (“vertigem”, Um corpo que cai).

Os que não têm medo de altura e saboreiam Hitchcock de outra forma percebem, em Depois de horas, que há algo especial para acontecer desde o momento em que o fotógrafo alemão Michael Ballhaus apresenta a personagem de Rosanna Arquette, o coelho que nos levará ao País das Maravilhas, com um sinal vermelho piscando sobre sua face. Depois de horas é, em muitos aspectos, a história do casamento de Scorsese com Ballhaus, que foi fotógrafo de outro alemão que não tinha medo de nada, e era apaixonado pelo caos, pela cocaína, pela boemia e por sua cidade infernal: Rainer Werner Fassbinder e sua Berlim. No célebre traveling 360 graus que Ballhaus criou para Martha (1974), de Fassbinder, está tudo o que ele faria para Scorsese em Os bons companheiros, e quando os dois conseguiram finalmente fazer A última tentação de Cristo. Em certo momento, Paul corre pelas ruas após uma série de episódios especiais, que o espectador assustado percebe como estranhos, e pergunta a Deus o que ele fez para merecer tantos infortúnios.

O silêncio vem da observação do ridículo de nos acharmos o centro de uma narrativa divina. Vê como infortúnios tudo o que acontece na vida de Paul quem não percebeu o óbvio: os verdadeiros infortúnios acontecem com os personagens tridimensionais

que gravitam em torno de Paul. Hitchcock, Fassbinder e Scorsese, os habitantes do SoHo nova-iorquino e as pessoas tridimensionais que existem no mundo possuem um olhar crítico a respeito das superfícies, do conforto e da organização.

Scorsese repete, no início e na conclusão do filme, uma releitura analítica da cena de um dos filmes da primeira sessão do cinematógrafo: A saída da fábrica Lumiére em Lyon. De 1895, o curta mostra a saída dos operários, o fim do expediente, todos se encaminhando para os seus after hours . Imagem ícone da modernidade, que nos ensinou que a industrialização capitalista operou uma série de modificações na vida dos indivíduos, construindo, também, o seu próprio tempo de existir. Mas há o tempo do desejo. E se em Depois de horas vemos que o desejo perdeu a guerra, porque há, nos sublimes créditos finais, uma distópica, irônica e selvagem dança da câmera no escritório, ainda mais cacotópica é nossa época, em que o escritório está em nosso bolso, dentro de um celular, em que nos assusta perdê-lo mais que a vida, cujas telas estão a cada dia sendo mais usadas para ver filmes de Scorsese, e que, querendo estar protegidos do universo, elegemos um lugar onde não há after hours e o expediente é infinito. O home-office.

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A alegria é a prova dos nove

Helena Ignez | Brasil | 2023, 100’, DCP (Mercúrio Produções)

Uma narrativa memorial e de amor sobre a viagem realizada ao Marrocos nos anos 1970 por Jarda Ícone, artista, sexóloga e roqueira octogenária – como ela mesma se define –, e Lírio Terron, ativista pelos direitos humanos. Na verdade, uma viagem que, para eles, não acabou. Jarda dá aulas sobre como as mulheres podem obter o próprio orgasmo. Com seu grupo de discípulas e amigas Ana Brasil, Sheyla Fernanda, Caroline Sylvie e Lakshmi, ela desenvolve projetos feministas e artísticos autossustentáveis.

A personagem de Jarda é interpretada pela própria Helena Ignez e também por sua filha, Djin Sganzerla. Lírio é interpretado por Ney Matogrosso, que já havia trabalhado com a diretora. Ignez conta que uma das inspirações para o filme foi o trabalho da sexóloga americana Betty Dodson, que morreu aos 91 anos, em

2020. A diretora explica que durante o isolamento pôde mergulhar na obra da intelectual, que é nominalmente citada no longa. Já o título é uma citação de Oswald de Andrade: “É um filme antropofágico. Assim como Rogério [Sganzerla], acredito que só a antropofagia nos une. Vivi 35 anos com ele, e dividi essa admiração profunda por Oswald de Andrade. Ambos tinham o mesmo senso de humor, irreverência e profundidade. E, com a celebração dos 100 anos do modernismo, achei que tinha tudo a ver. Oswald é uma luz para mim. O filme está baseado no terceiro momento feminista, que é sobre o prazer da mulher. O orgasmo como autoconhecimento. A mulher lutando pelo direito de ter seu próprio orgasmo”, declarou a diretora em entrevista à Harper’s Bazaar.

“As mulheres entenderam sua possibilidade de ter um orgasmo, que na verdade é algo simples, não é nada tão confuso. Mas elas precisam se libertar das suas ilusões, como se casar com uma pessoa para ter satisfação sexual, a gente sabe que não é assim. Quando contei a ideia para a minha neta, ela me disse uma coisa incrível: ‘masturbação é saúde, não é sexo’. Quer dizer: as cabeças da nova geração já estão vindo diferentes.”

[Íntegra da entrevista: bit.ly/provadosnoveims]

Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).

A filha do palhaço

Pedro Diógenes | Brasil | 2022, 104’, DCP (Embaúba Filmes)

Joana, uma adolescente de 14 anos, aparece para passar uma semana com o pai, Renato, um humorista que apresenta seus shows em churrascarias, bares e casas noturnas de Fortaleza, interpretando a personagem Silvanelly. Depois de anos de uma relação de ausência paterna, Joana e Renato terão que conviver e se conhecer um pouco mais.

A filha do palhaço recebeu o prêmio de Melhor Longa-Metragem pelo júri popular na 26a Mostra de Cinema de Tiradentes (2023) e de Melhor Filme pelo júri popular e pelo júri da crítica na Mostra de Gostoso (2022).

O longa de Pedro Diógenes é livremente inspirado na obra de seu primo, o humorista Paulo Diógenes. Falecido em fevereiro deste ano, Paulo interpretava a personagem Raimundinha, figura célebre do humor cearense. “Na vontade de

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Em cartaz

fazer o filme, tinha a vontade de trazer esses dois personagens: o humorista que em cima do palco é muito engraçado, o centro das atenções, mas que atrás, sem a maquiagem e a fantasia, é uma pessoa com problemas, questões, dramas. Esse outro lado do humor, fora do palco, conheci muito por causa do Paulo.”

Em entrevista ao portal Meio Amargo, o cineasta comenta ainda suas relações de aproximação e afastamento com o tipo de humor retratado: “Como eu venho de lá, tenho uma relação complexa com esse humor. Não é algo que eu apenas venero, ou vejo apenas qualidades. Também enxergo muitos defeitos, até pela maneira como as pessoas enxergam o cearense, pensando que todos precisam ser bem-humorados, contando piadas, e que o Ceará é a terra do humor. Isso tem uma carga não apenas positiva, porque limita a visão que as pessoas têm sobre a gente. Esse próprio humor foi ficando ultrapassado com o tempo. Ele era muito focado em piadas machistas, muitas vezes desrespeitosas com o público. Se alguém olhar a Silvanelly e não a considerar muito engraçada, não verei isso como defeito. Esse humor tem um lugar complexo. Fora os shows da Silvanelly, o filme é muito mais focado no cotidiano, na relação com a filha. Não dá para chamar de um filme de comédia.”

[Depoimentos do cineasta extraídos de: bit.ly/ filhadopalhaçoims e bit.ly/filhadopalhaçoims2]

Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).

A hora da estrela Suzana Amaral | Brasil | 1985, 96’, DCP (Vitrine Filmes)

“A representatividade de A hora da estrela está diretamente ligada à sua materialidade. Tudo começa pela escolha da obra. Na NYU (New York University), tive um professor de roteiro que nos orientava dizendo que, para adaptar, nunca procure um livro grande, mas um livro fininho, para fazer uma recriação da obra, que é mais do que resumir a narrativa. Procure um livro cujo espírito pode ser analisado por você.”

“Desde adolescente gostava de Clarice Lispector. Seus livros eram misteriosos, eu me identificava com eles. Fui na biblioteca da NYU, que tem uma bela coleção de literatura brasileira, e, com o dedo, achei o mais fininho. A hora da estrela foi um filme que saltou da prateleira para minhas mãos. Ao ler, saquei que Macabéa é a metáfora do Brasil, pois, fora do Brasil, você descobre o Brasil.”

A hora da estrela, icônica obra de Suzana Amaral inspirada no clássico de Clarice Lispector, retorna aos cinemas, numa versão digitalizada em 4K. O longa rendeu a Marcélia Cartaxo o Urso de Prata de Melhor Atriz, no Festival de Berlim em 1986, e uma série de prêmios no Festival de Brasília, em 1985: Melhor Filme, Direção, Roteiro, Fotografia, Montagem, Cenografia, Trilha Sonora, Atriz, Ator (José Dumont), além dos prêmios de Melhor Filme do júri popular e da crítica.

O filme conta a história de Macabéa, migrante nordestina que, após a morte da tia, se muda para o Rio de Janeiro. Lá, emprega-se como datilógrafa e se apaixona por Olímpio de Jesus – que a trai com sua colega de trabalho.

Em entrevista à Revista do NESEF, da Universidade Federal do Paraná, publicada em 2018, Suzana Amaral comenta:

“Eu não adapto obras literárias, eu as transmuto. Eu transformo o livro depois de uma análise profunda, quando vou ao cerne do livro, ao coração do livro, no subtexto. Eu entro no espírito do livro e de seus fatos mais importantes. Eu faço uma recriação. Não tenho respeito nem escrúpulo algum. Sempre deu certo, em todos os meus filmes. Clarice dizia: ‘O que importa não são as palavras, é o que está atrás das palavras’. Junto com meu extrato íntimo, faço uma simbiose entre mim e o autor. Assim nasce a transmutação, ou seja, meu filme.”

O filme de Suzana Amaral será exibido junto ao curta-metragem Clandestina felicidade, de Beto Normal e Marcelo Gomes.

[A íntegra da entrevista está disponível em: bit.ly/ horadaestrelaims]

Ingressos: R$ 15 (inteira) e R$ 7,50 (meia).

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Clandestina felicidade

Beto Normal e Marcelo Gomes | Brasil | 1998, 14’, Arquivo digital (Carnaval Filmes)

Fragmentos da infância da escritora Clarice Lispector, no Recife, 1929. Sua paixão pela leitura, seu olhar curioso e perplexo, a descoberta do mundo.

Clandestina felicidade será exibido junto à versão restaurada de A hora da estrela, de Suzana Amaral.

Ingressos: R$ 15 (inteira) e R$ 7,50 (meia).

Diálogos com Ruth de Souza

Juliana Vicente | Brasil | 2022, 99’, DCP (Preta Portê Filmes)

Ruth de Souza inaugura a existência de atrizes negras em palcos, televisão e cinema no Brasil. Carrega em si a gênese de parte importante das conquistas para as mulheres negras ao longo de quase um século de vida. A partir de conversas com Juliana Vicente, também uma mulher negra, materiais de arquivos da vida de Ruth em um cruzamento com o universo mitológico, em uma interpretação ficcional e transcendental de sua vida, temos um longa protagonizado por Ruth de Souza.

“Acredito que uma das coisas mais importantes que temos que reconstruir no Brasil é a nossa história, porque construída obviamente ela já foi, mas também apagada”, comenta Juliana Vicente, que também é diretora do documentário Racionais: das ruas de São Paulo pro mundo, em entrevista ao Correio Braziliense. “E sabemos da importância no desenvolvimento de um país onde todos conheçam a própria história, a história de uma perspectiva mais honesta. A Ruth sabia da importância do registro, ela se registrou por 98 anos. Temos imagens da Ruth criança, adolescente, nos primeiros passos no Teatro Experimental do Negro, em Nova York, recebendo prêmios, atuando em projetos na Globo, em festas exclusivas etc. E praticamente todas as imagens vieram do acervo pessoal da Ruth. Eram dezenas de pastas.”

Em 2022, Diálogos com Ruth de Souza recebeu o prêmio de Melhor Direção em Documentário no Festival do Rio e foi exibido como filme de encerramento no Festival de Brasília.

[Depoimento da diretora extraído de: bit.ly/ ruthdesouzaims]

Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).

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O estranho

Flora Dias e Juruna Mallon | Brasil, França | 2023, 108’, DCP (Embaúba Filmes)

por encontros através dos tempos. As memórias e o futuro dela e de seus companheiros estão permeados por uma questão comum: rastros de um passado em um território em constante transformação.

O estranho, segundo projeto conjunto de Flora Dias e Juruna Mallon, teve sua estreia mundial no 73º Festival de Berlim, na Mostra Fórum, dedicada a filmes de caráter radical ou experimental. Dedicado a pensar a intrincada história social, política e natural da região onde está o aeroporto de Guarulhos, o filme reúne em seu elenco atores de repertório com pessoas que de fato trabalham no aeroporto.

“O mesmo vale para as minas”, complementa Juruna Mallon. “Esse foi o primeiro lugar onde se explorou ouro no Brasil. Não havia minério em abundância, mas foi anterior a Minas Gerais. O Geoparque mapeia esses sítios. É incrível descobrir que Guarulhos tinha grutas, e outras composições rochosas.”

Em 2023, entre outras premiações, O estranho foi eleito Melhor Filme no 27º Queer Lisboa, em Portugal, e também Melhor Som e Fotografia no 12º Olhar de Cinema, em Curitiba.

[Íntegra da entrevista em: bit.ly/oestranhoims]

Em um território indígena, funciona o Aeroporto Internacional de Guarulhos. Centenas de milhares de passageiros o atravessam diariamente, e 35.000 trabalhadores apoiam sua operação. O estranho retém seu olhar não sobre aqueles que passam, mas sobre o que ali permanece. São personagens cujas vidas se cruzam no dia a dia do trabalho nesse chão. Alê, uma funcionária de pista cuja história familiar foi sobreposta pela construção do aeroporto, conduz o espectador

“Há dez anos, uma extensa e profunda pesquisa sobre a história de Guarulhos resultou num projeto de criação de um parque, o Geoparque Guarulhos. Isso nunca saiu do papel, infelizmente”, conta Flora Dias em entrevista a Bruno Carmelo para o portal Meio Amargo. “O grupo de pesquisadores era composto por arqueólogos, geólogos, historiadores, pessoas da sociedade guarulhense. O Pai Vadinho, babalorixá que está presente no filme, fazia parte desse grupo. Por conta desse projeto, muita coisa sobre Guarulhos foi escrita. Uma arqueóloga foi uma grande fonte para a gente, a Cláudia Regina Plens, que tem muitos artigos sobre a história de Guarulhos. Através de um artigo dela, muito tempo atrás, eu descobri que Guarulhos era a cidade do estado de São Paulo com o maior número de terreiros de umbanda e candomblé. Essa foi uma surpresa para a gente, e acabou se tornando uma questão para o filme.”

Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).

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Orlando, minha biografia política

Orlando, ma biographie politique

Paul B. Preciado | França | 2023, 98’, DCP (Filmes do Estação)

Em 1928, Virginia Woolf escreveu Orlando, o primeiro romance em que o personagem principal muda de sexo no meio da história. Um século depois, o escritor, filósofo e ativista trans Paul B. Preciado decide enviar uma carta cinematográfica à autora: seu Orlando saiu da ficção e vive como ela jamais poderia ter imaginado. Preciado organiza um teste de elenco e reúne 26 pessoas trans e não binárias, de 8 a 70 anos de idade, que encarnam o protagonista.

Em entrevista ao portal ArtReview, Paul Preciado conta como foi convidado pelo canal de televisão Arte a produzir um documentário para uma iniciativa dedicada a aproximar o público de filmes queer. A ideia original era de que fosse um documentário bastante tradicional em torno do filósofo, o que o aterrorizou um pouco: “Em um determinado momento, eu estava desesperado. Eles realmente queriam fazer esse filme, e eu

tinha a impressão de que eles o fariam, com ou sem mim. E, na verdade, a ideia de Orlando surgiu como uma piada. Eu disse a eles: ‘Não permitirei que façam isso, a menos que seja uma adaptação de Orlando, de Virginia Woolf’. Para mim, era uma forma de dizer: ‘Fim de papo’. Nunca pensei que eles gostariam da ideia.”

“Mas tive um colapso quase epistêmico em que pensei: ‘Como vou fazer isso?’. Comecei a pensar na minha aversão a tantos filmes. A maneira como critico a ideia de representação, o fato de algo ser imediatamente capturado pela câmera. Pensei: “Como vou fazer isso sem dar imediatamente uma imagem fixa de quem é Orlando, como criar uma imagem do que é ser trans? Então, comecei a pesquisar autores de que gosto que fizeram ou deixaram de fazer adaptações. [...] Cheguei à conclusão de que eu tinha dois panteões de filmes. De um lado, filmes queer, em sua maioria underground e provenientes da arte. Um desses filmes é Dandy Dust, de Hans Scheirl. [...] E, por outro lado, eu me vi obsessivamente revendo documentários ensaísticos. Como os de Jean-Luc Godard, é claro. Todas as perguntas que eu me fazia – ’Como representar sem reduzir ou transformar a imagem em uma identidade’, perguntas sobre biografia ou a relação entre ficção e realidade – eram perguntas que ele se fazia.”

“De certa forma, a política de criação de imagens está muito presente em meu trabalho. É quase como uma ontologia negativa, uma imagem que nunca está presente. A força ou o poder da imagem é justamente ser apagada, porque é exatamente daí que viemos historicamente, certo? De atos de apagamento, atos de inscrição violenta em uma imagem que não

nos representa. Talvez seja por isso que demorei um pouco para decidir o que fazer com esse filme.”

“[...] Então, voltei ao livro e me perguntei: ‘Qual é a forma desse livro?’. Orlando é provavelmente o livro menos experimental de Woolf – talvez por isso tenha sido um dos mais populares durante sua vida – e segue a estrutura de um romance comum, certo? Mesmo que, é claro, haja muitas transgressões. Ainda assim, alguém pode lê-lo e dizer: ‘Esta é a história de um homem nobre e suas aventuras’. Então, pensei que algo semelhante teria de acontecer no filme: a estrutura seguiria as aventuras de Orlando. Eu sabia que o filme não teria uma forma completamente experimental.”

“Na verdade, Woolf tem um ensaio incrível intitulado 'The Cinema', que ela escreveu na mesma época que Orlando, quando o cinema estava se tornando popular. Woolf foi assistir a um filme sobre o mar, em preto e branco. É claro que ela é obcecada pelo mar e pela água. Ela fica maravilhada com a sensação de estar completamente imersa na água sem estar molhada. Portanto, acho que [em Orlando] ela está praticando esse tipo de técnica de salto, essa escrita subjetiva que nunca é fixa, mas que se move de sujeito para sujeito e de objeto para objeto. E acho que ela percebe que o cinema pode fazer isso de uma maneira interessante.”

O Orlando de Preciado foi vencedor do Teddy Award e do Prêmio Especial do Júri da mostra Encounters no Festival de Berlim 2023.

[Íntegra da entrevista, em inglês: bit.ly/orlandoims]

Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).

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Noite adentro

Tudo o que você podia ser Ricardo Alves Jr. | Brasil | 2023, 83’, DCP (Vitrine Filmes)

pensamentos de artistas incríveis que elas são num filme”, conta Ricardo Alves Jr., que, junto ao seu elenco e equipe, trabalhou em um retrato muito particular de um grupo de pessoas LGBTQIAPN+ que faz questão de transcender a narrativa única da violência LGBTfóbica para alcançar a imagem de pessoas que desejam, se divertem e partilham a vida.

É o último dia de Aisha em Belo Horizonte. Acompanhamos a despedida na companhia de suas melhores amigas: Bramma, Igui e Will. Por meio do cotidiano e dos encontros entre as personagens, o filme tece um retrato afetuoso sobre a família que se escolhe constituir através do valor da amizade.

Em 2023, Tudo o que você podia ser recebeu os prêmios de Melhor Direção e Prêmio Especial do Júri, no Festival do Rio, e o prêmio de Melhor Longa Nacional do Júri Popular do Festival Mix Brasil. Em 2024, por ocasião da Mostra de Cinema de Tiradentes, diretor e elenco foram entrevistades pelo perfil Cine Ninja no Instagram:

“Eu acho que o teatro é um lugar que conecta a gente, mas, além do teatro, era um desejo mesmo de passar um tempo juntas, pensando esse filme. Colocar essas vidas maravilhosas, esses

“Pra mim, tudo o que tá acontecendo desde quando a gente começou a se encontrar pra fazer o filme é histórico”, conta a atriz Aisha Brunno. “É como se a gente tivesse criando uma obra que, a partir dela, algum tipo de reparação histórica também fosse feito ou tivesse que ser refletido a partir daí. E aí me dá um orgulho danado poder, com meu corpo, com a inteligência que a gente também pôde colocar no processo – porque Ricardo e Germano [Melo, roteirista] trocaram muito com a gente nesse lugar. Do tipo: ‘O que aí dentro a mente de vocês também tá pensando, dizendo, querendo fazer?’. Então, ter a nossa intelectualidade valorizada e posta à prova e a gente poder mostrar também a nossa humanidade, mais do que simplesmente corpos estereotipados, isso pra mim é grandioso. Espero que a gente possa fazer mais vezes, que possa ser natural que as obras tenham as nossas vidas dentro delas, porque a gente faz parte da vida, como todas as pessoas.”

[Íntegra da entrevista em: bit.ly/ tudooquepodiaserims]

Ingressos: R$ 15 (inteira) e R$ 7,50 (meia).

Após sua estreia mundial na Berlinale este mês, em fevereiro, a nova restauração em 4K de Depois de horas (After Hours), o clássico de Martin Scorsese, chega ao Cinema do IMS. Juntam-se a ele outras aventuras que varam a noite de volta pra casa. Uma arriscada volta para casa em The Warriors – Os selvagens da noite. Um súbito e perigoso mal-estar atravessa as histórias de Joca, que acaba de voltar ao Recife e reencontrar a galera, em Amigos de risco, e também de Galeto, preso pra sempre na mesma festinha em Bad Galeto – No limite da morte. Já em Fantasmas, uma ex-namorada nem volta pra casa nem sai da memória.

Todos esses títulos poderão ser vistos nas noites de sexta e sábado, no IMS Paulista, entre os dias 7 e 22 de junho.

Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).

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Depois de horas

After Hours

Martin Scorsese | EUA | 1985, 97’, DCP 4K, cópia restaurada (Park Circus)

E se aquele encontro que você achava que nunca terminaria realmente não terminasse? Depois de horas, de Martin Scorsese, retorna aos cinemas em uma versão restaurada em 4K. No filme, quando um nova-iorquino da parte alta da cidade conhece inocentemente uma moça da parte baixa, ele é arrastado para um vórtice de aventuras vorazes, perversas e paranoicas noite adentro.

A noite de Paul Hackett acontece na área do SoHo, no centro de Manhattan, quando ele vai ter um encontro com Marcy. Nada em sua vida monótona de escritório o preparou para esse momento. Agora, Paul deseja apenas retornar para a segurança de seu apartamento no Upper East Side... Mas será que ele consegue?

O projeto de Depois de horas chega a um Scorsese em crise, cujo projeto de filmar a paixão de Cristo, já em fase de pré-produção e com altos valores investidos, havia sido cancelado pelo estúdio. “Comecei a ler roteiros. Um após o outro. Na maioria dos casos, eu não conseguia entender por que eles haviam sido enviados para mim”, comenta o diretor. “Além disso, eu ainda estava me recuperando da loucura pela qual havia passado alguns anos antes. Literalmente, quase morri [em 1978, de hemorragia interna causada por abuso de drogas e uso indevido de medicamentos]. Portanto, se eu fosse acordar de madrugada todos os dias, fazer filmagens noturnas e entrar em conflito com os chefes de estúdio e executivos, precisaria ser algo em que eu acreditasse, algo que eu pudesse fazer por mim mesmo.”

“[Jay Julien, advogado] Me entregou um roteiro, chamado A Night in SoHo. Na verdade, parecia mais um romance do que um roteiro. Foi escrito por um jovem – roteirista de primeira viagem, eu acho. Mas foi isso que fez dele tão fresco. Tinha muito coração ali. Fiquei imediatamente impressionado com o diálogo, que era bastante estranho. E, em cada cena, eu ficava surpreso. Nunca se podia prever o que aconteceria em seguida.”

“Eu me identifiquei com o personagem principal, Paul Hackett, que de repente percebe que desceu ao submundo e está perdido lá. Senti empatia por ele, porque suas experiências eram como os sonhos de ansiedade que a maioria de nós tem. Na época, eu estava tendo vários deles. [...] Também adorei a forma como ele vara a noite e finalmente chega do outro lado. É como uma noite sem dormir, ou uma noite de sonhos horríveis, ou o tipo de situação em que eu me encontrava na época: eu me sentia como se estivesse flutuando nesse mundo inferior, sem ter ideia de quando ou como isso se resolveria.”

O filme foi um sucesso de público à época de seu lançamento e rendeu a Scorsese o prêmio de Melhor Direção no Festival de Cannes de 1986.

[Íntegra da entrevista com Scorsese e outros integrantes do projeto, em inglês: bit.ly/ afterhoursims]

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The Warriors –

Os selvagens da noite

The Warriors

Walter Hill | EUA | 1979, 93’, DCP (Park Circus)

As ruas de Nova York estão completamente dominadas por gangues e policiais. Cyrus, líder da maior gangue da cidade, convoca uma reunião entre todos os grupos e propõe uma trégua, para que deixem de lutar entre si e tomem o controle da cidade. Mas, quando Cyrus é subitamente assassinado, os Warriors, de Coney Island, são injustamente acusados pelo crime, e toda a cidade se volta contra eles. Agora, precisarão atravessar a noite de Nova York e voltar para sua própria área em segurança.

Em entrevista recente à Brooklyn Magazine, o diretor Walter Hill afirma que este foi “um dos primeiros filmes de gangues que aceitou a instituição das gangues não como uma força hostil e antissocial, mas basicamente como uma medida de defesa de território por pessoas que tinham muito pouco na vida”.

The Warriors é inspirado no livro homônimo do romancista Sol Yurick, que tem uma abordagem das gangues muito mais racializada – no livro, a gangue título, por exemplo, é composta por pessoas negras e hispânicas. Hill, que diz ter se inspirado mais na obra clássica de Xenofontes do que no trabalho de Yurick, afirma que seu filme se distancia dessa abordagem em parte por uma resistência do estúdio, que desde o início não aceitou ter um elenco composto majoritariamente por pessoas racializadas, em parte porque queria fazer um discurso sobre “classe”: “Eu não queria fazer algo sobre raça – eu queria fazer sobre classe. O grande discurso de Cyrus é sobre os despossuídos que estavam enfrentando a desigualdade de renda, que também é um grande problema atualmente. Essa é a teoria subjacente de quem eram esses garotos, e o filme aceitou seus valores.”

[Íntegra da entrevista, em inglês: bit.ly/warriorsims]

Bad Galeto – No limite da morte

Amanda Seraphico, Lorran Dias e Bruma Machado | Brasil | 2017, 13’, Arquivo digital (Anarca Filmes)

Perdido na night, morto de desgosto, Galeto é atormentado pela Noia e encorajado a seguir o caminho do mal.

Fundada em 2014, a Anarca Filmes reúne artistas e pensadoras LGBTQI+ em uma perspectiva de experimentação, engajamento, criatividade e combatividade coletiva. Com uma obra vasta e profunda identidade própria, seus trabalhos em cinema e vídeo já circularam por festivais de cinema da Alemanha, Brasil, Holanda, México e Portugal.

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Amigos de risco

Daniel Bandeira | Brasil | 2007, 88’, DCP (Inquieta)

Início dos anos 2000, após um tempo distante do Recife, Joca (Irandhir Santos) está de volta. O reencontro com os amigos (Rodrigo Rizla e Paulo Dias) numa noite de comemoração vira um pesadelo quando Joca subitamente passa mal. Sem dinheiro, transporte ou comunicação, seus amigos o carregam pela cidade deserta. O filme de Daniel Bandeira mantém laços evidentes com narrativas da noite, como Warriors – Os selvagens da noite (The Warriors, 1979), de Walter Hill, ou Depois de horas (After Hours, 1986), de Martin Scorsese, atendo-se à filmagem em locações reais expressivas, personagens bem delineados e um sentido de ação e montagem afiados.

Amigos de risco foi uma escola de cinema (com orçamento muito baixo) para nomes que construíram carreira mais tarde, como Pedro Sotero (fotógrafo de Um lugar ao sol, O som ao redor, Casa grande), Juliano Dornelles (corroteirista e diretor de Bacurau), Irandhir Santos (ator de Baixio das bestas, Aquarius e Tropa de elite 2). O filme, que estreou no Festival de Brasília em 2008, foi perdido a caminho da segunda exibição pública, na Mostra de São Paulo, pouco antes de entrar em salas comerciais. Amigos de risco foi rodado em mini-DV numa câmera Panasonic HVX-100, tecnologia da década de 2000 que permitiu que realizadores e realizadoras experimentassem fora de padrões técnicos estabelecidos e longe de regiões que concentravam equipamentos de cinema e laboratórios de finalização.

Transferido para 35 mm, a única cópia-zero finalizada em película 35 mm de Amigos de risco permaneceu extraviada, e Bandeira, sem recursos para refazer a finalização. Quinze anos depois de seu sumiço, o filme entrou em cartaz nos cinemas, tanto como um filme que deve ser descoberto quanto um retrato já diferente de um Brasil urbano alterado pelo tempo e pela tecnologia.

Fantasmas

André Novais Oliveira | Brasil | 2010, 11’, Arquivo digital (Filmes de Plástico)

O fantasma da ex.

Um dos primeiros filmes da produtora Filmes de Plástico, Fantasmas, é uma história da noite que em pouco tempo já se tornou clássica na cinematografia brasileira. Em uma entrevista ao crítico e pesquisador Fábio Andrade, André Novais conta um pouco das origens de som e imagem do seu filme em plano único: “Eu imaginei o plano e já sabia exatamente onde colocar a câmera. E, na verdade, eu pensei naquele quadro principalmente por conta da luz do posto.”

“No Fantamas (2010), de início me veio um pensamento a respeito do som ligado ao extracampo, de como trabalhar algo que poderia contribuir para um desenho das coisas que não apareciam. E eu lembro muito de algumas coisas que iam surgindo na hora da filmagem, e que nem sempre estavam no roteiro, mas que traziam algo de visual. Tem uma hora no filme em que um vizinho passa cantando, e aí os personagens

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comentam isso – foi algo que aconteceu acidentalmente e que depois a gente poderia tirar, pensando que não deu certo. Mas eu percebi que era legal pra situar o filme naquela vizinhança onde a gente estava.”

“E algumas coisas foram pensadas anteriormente. Quando eu fui escolher uma cadeira pro Maurilio sentar [Maurilio Martins, ator do filme, e parceiro de Novais na produtora Filmes de Plástico], eu sabia que tinha que ser uma cadeira muito barulhenta, pra gente entender que ele está saindo de um lugar e indo pra outro. Aí eu fui num bar e peguei emprestado uma cadeira de metal, dessas da Brahma, por conta do som. Acho que são exemplos de uma forma de pensar o som com poucos recursos.”

[Íntegra da entrevista em: bit.ly/fantasmasims]

As câmeras de Bodanzky

Aos 81 anos, cerca de 60 deles dedicados ao cinema, Jorge Bodanzky ocupa um lugar importante na produção de imagens do e sobre o Brasil. Em 2024, o IMS Paulista dedica especial atenção à obra de Bodanzky como cineasta, fotógrafo e repórter na mostra de filmes As câmeras de Bodanzky, em cartaz no Cinema do IMS, com programas mensais ao longo do ano, e a exposição Que país é este?

A câmera de Jorge Bodanzky durante a ditadura brasileira, 1964-1985, em cartaz até 28 de julho.

Ao longo desse período, Bodanzky assinou a fotografia de trabalhos de importantes diretores, produziu uma série de imagens sobre a Amazônia e a América Latina, diversas delas em parceria com a televisão alemã, além de filmes paradigmáticos no cinema brasileiro, como Iracema: uma transa amazônica (1974) e Terceiro milênio (1980). Trabalhou nos mais diversos formatos, dos analógicos 8 mm, 16 mm e 35 mm aos digitais, em câmera profissional e celular, e segue legando trabalhos, como o recente longa-metragem Amazônia, a nova Minamata? (2022).

Ao longo dos próximos meses, o Cinema do IMS exibe uma seleção dessa obra junto a curtas-metragens comissionados especialmente para esta ocasião. São filmes inéditos realizados a partir do arquivo de filmes super-8 de Bodanzky, um precioso material que perpassa temas como a política, o meio ambiente e a vida doméstica. Parte da Coleção Jorge Bodanzky, preservada pelo IMS, esse material chega às telas em curtas-metragens elaborados pelos cineastas Ewerton Belico, Luiz Pretti e Ricardo Pretti. Os filmes serão exibidos em cópias analógicas e digitais, em materiais de acervo e digitalizações inéditas, coordenadas por Debora Butruce.

Amazônia, a nova Minamata?

Jorge Bodanzky | Brasil | 2022, 76’, DCP (O2 Play)

O documentário acompanha a saga do povo Munduruku para conter o impacto destrutivo do garimpo do ouro em seu território ancestral, enquanto revela como a doença de Minamata, decorrente da contaminação por mercúrio, ameaça os habitantes de toda a Amazônia hoje.

Em entrevista ao crítico João Paulo Barreto, Jorge Bodanzky conta: “Esse novo filme, Amazônia: a nova Minamata?, é uma consequência da série Transamazônica – Uma estrada para o passado [codirigida com Fabiano Maciel para a HBO]. Foi enquanto estava filmando essa série que encontrei o dr. Erik Jennings, que é o médico que me contou essa história. Foi em um evento que aconteceu lá na área Munduruku. Havia uma reunião de caciques que aparece no filme, e eles estavam discutindo uma questão de uma hidrelétrica cuja obra

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conseguiram barrar naquele momento. O dr. Erik estava lá, e eu lhe perguntei: ‘O que faz um médico aqui?’. Achei estranho. Começamos a conversar, e ele me disse que já havia um tempo que os médicos estavam desconfiados e examinando a questão do mercúrio no cabelo dos indígenas. Ele disse que, para a surpresa deles, era coisa mais grave do que eles haviam imaginado. Ele fez a comparação com Minamata e me chamou a atenção para isso. E eu achei o assunto tão importante, tão relevante. Isso já tem uns quatro anos. Não se falava tanto nesse tema. Hoje em dia, todo mundo está falando sobre a questão do garimpo. Essa comparação com o que aconteceu em Minamata, eu acho muito importante, porque a gente pode prever o futuro. Quer dizer, não adianta querer negar. Está aí o que acontece com o mercúrio.”

A doença de Minamata foi identificada na cidade de mesmo nome, no Japão, em que cerca de 5.000 pessoas foram contaminadas pelo alimento pescado na baía de Minamata, onde uma fábrica de produção de PVC descartava resíduos contaminados com mercúrio. Esse episódio ficou conhecido como um dos maiores desastres ambientais do planeta.

[Íntegra da entrevista em: bit.ly/minamataims]

Entrada gratuita. Distribuição de senhas 60 minutos antes da sessão.

Limite de uma senha por pessoa. Sujeito à lotação da sala.

O profeta da fome

Maurice Capovilla | Brasil | 1970, 93’, cópia 35 mm (Cinemateca Brasileira)

A história da aventura do faquir Alikan, interpretado por José Mojica Marins, o Zé do Caixão, que trabalha em um circo decadente e realiza estranhas performances para atrair o público. Em seu número “Os manjares do demônio”, o faquir come giletes, pregos, cacos de vidro e parafusos. Entre absurdos e realidades, Alikan vive grandes obstáculos que o levam ao título de Campeão da Fome.

“À sua maneira, esse filme do Capovilla também teve uma imagem cuidadosamente planejada”, comenta Bodanzky em sua biografia. “Buscávamos uma fotografia de alto contraste e estranhamento, uma coisa mais fantasiosa, distante do realismo das imagens do Glauber. O filme é dividido em dez ‘quadros’, e cada um tem estilo próprio de luz e trabalho de câmera.”

“Capô queria dar noção de tempo e distância entre os ‘quadros’, numa história que se passava também no Nordeste, mas foi filmada inteiramente em São Paulo. Assim, o episódio do faquir crucificado e da matança do boi tinha um aspecto fortemente documental, captado durante a Festa do Divino na cidadezinha de São Luís do Paraitinga. Já a peregrinação dos personagens recebia um tratamento mais expressionista, com imagens distorcidas e locações enevoadas. As cenas da prisão eram o momento do tripé. O resto era câmera na mão.”

“Apesar do verdadeiro portfólio de opções técnicas e de certo esteticismo, percebo claramente que nesse filme comecei a formar minha personalidade como fotógrafo de cinema. Lá estão os planos-sequência em que os deslocamentos da câmera já antecipam uma ideia de montagem; lá está o minimalismo no uso da luz, assim como a busca de expressividade nos recursos naturais. Lembro que em filmagens noturnas usei luz baixa e ‘puxei’ bastante o filme para reforçar o claro-escuro.”

“[...] O profeta da fome foi um filme rodado em total intimidade com a ECA-USP, onde lecionávamos Capovilla, Bernardet (que faz uma ponta), Paulo Emilio, Roberto Santos e eu. A própria câmera, top de linha da Arriflex, era uma aquisição recente da escola e vinha dotada de lente grande-angular, que usamos à vontade. Da equipe participaram vários alunos da primeira turma da ECA, entre eles Aloysio Raulino. Os futuros fotógrafos Antonio Meliande e Cláudio Portioli também estavam no time, onde conviviam em perfeita harmonia as turmas da Boca do Lixo e

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da USP. Trabalhei em diálogo permanente com o cenógrafo Flávio Império, que vinha do Teatro de Arena e do Oficina. E José Mojica Marins, no papel do faquir Ali Khan, era um caso à parte. Uma das maiores preocupações da equipe era não quebrar as unhas enormes do Zé do Caixão.”

“O assistente de direção era Hermano Penna, com quem eu teria uma parceria estimulante que culminou com a concepção de Iracema. Na época, o Hermano estava coletando materiais para um documentário sobre o mito do Divino, que mais tarde renderia um Globo Repórter.”

“[...] Alguns momentos da filmagem de O profeta da fome foram registrados por Carlos Reichenbach e estão no prólogo do filme Audácia!, que ele considera ‘um dos primeiros making-of do cinema brasileiro'.”

“Por esse trabalho, eu receberia o prêmio

Coruja de Ouro do Instituto Nacional de Cinema e um prêmio em Edimburgo, além do diploma de Ulm. Melhor que tudo isso, ganhei autoconfiança e visibilidade. A partir dali, eu estava, digamos, no mercado.”

[Trecho inicial adaptado do site do Cinusp. Depoimento de Bodanzky extraído da biografia Jorge Bodanzky: o homem com a câmera, escrita por Carlos Alberto Mattos para a Coleção Aplauso.]

Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).

Os Mucker

Jorge Bodanzky e Wolf Gauer | Brasil, Alemanha | 1978, 105’, DCP (Arquivo inédito produzido no laboratório Link Digital a partir de materiais depositados na Cinemateca Brasileira, com coordenação de Debora Butruce)

No final do século 19, no interior do Rio Grande do Sul, uma família de imigrantes alemães liderada por Jacobina resolve formar uma comunidade inspirada nas escrituras bíblicas, isolada das demais e autossuficiente. Logo a comunidade dos Muckers começa a incomodar os católicos e protestantes da região, que os acusam de vários crimes, até que são massacrados por forças do governo.

Em sua biografia, Bodanzky narra em detalhes desde a origem de seu terceiro longa-metragem, produzido pela rede de TV alemã ZDF, até sua circulação: “Lena nos trouxe uma série de reportagens assinadas por Sérgio Coelho em O Estado de S. Paulo, em 1973, que despertou meu interesse para a história dos Mucker. Os colonos de origem alemã, descendentes dos fiéis da seita fundada pela mística Jacobina Mentz Maurer, na região de Sapiranga (RS), ainda dissimulavam suas raízes por causa de um estigma poderoso. A expressão ‘mucker’ (santarrões, fanáticos) equivalia a um xingamento. Muitos não viviam mais na relativa miséria dos seus ascendentes, acuados e massacrados pela polícia em agosto de 1874, após uma guerra fratricida com outros colonos. Ao contrário, enriqueceram e tratavam o episódio como algo que desabonava sua imagem.”

“[...] Já em 1977, em companhia de Wolf e Otto Engel, visitei Novo Hamburgo, Sapiranga e Campo Bom, onde viviam os descendentes dos Mucker. Fizemos uma convocação ostensiva através de rádios e jornais. A princípio, eles se negavam a revolver essa parte do passado, que se assemelhava mais ao episódio de Canudos que às boas tradições de cepa germânica. Os avós do Wolf são da região original dos antecedentes dos Mucker (Nordpfalz e Hunsrück), na região do Mainz. Ele falava o dialeto hunsrück, então quase desaparecido na própria Alemanha. Essa identificação ajudou a quebrar as resistências iniciais.”

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“[...] Aos poucos, fomos localizando os descendentes diretos pelos sobrenomes e obtendo sua adesão à nossa proposta. Desde cedo abandonamos a hipótese de uma reconstituição convencional com atores conhecidos. Queríamos que os próprios camponeses fizessem os papéis de seus antepassados, sem alterar o seu estilo de vida rural, ainda muito semelhante ao do século 19. E, naturalmente, que se expressassem no dialeto deles. [...] Todo o roteiro foi discutido e afinado com pessoas do lugar. Jacobina era uma lenda muito viva na memória delas, assim como a perseguição sofrida por sua filha e por todos os que tinham Mucker na família. O papel de Jacobina era um dos poucos a requerer uma atriz profissional. Mas tinha que ser alguém ligado à região e que pudesse falar o dialeto. Por sorte, vimos Marlise Saueressig numa peça do Teatro de Arena de Porto Alegre. Gostamos de sua atuação e do seu porte físico. Para nossa surpresa, ela também era uma descendente de Mucker e nos ajudou muito na concepção do filme, na adequação das falas, no contato com os camponeses etc.”

“[...] Filmamos em diversas casas da época de Jacobina. A cidade inteira participou da produção, cedendo roupas, móveis, utensílios e carroças para a cenografia, afinando as falas e detalhes das cenas. Os camponeses escolhidos para o elenco estavam representando a si mesmos ou algo muito próximo do que eram. Eles é que davam as palavras finais aos seus diálogos. Em grande parte, escolheram os próprios papéis. [...] Não havia exatamente uma preparação de atores. Deliberadamente, preferíamos que os colonos não ‘atuassem’. Wolf, encarregado dessa parte da direção, passava-lhes as orientações básicas sobre espaço e relação com a câmera [...]. Àquela altura, uma curiosa inversão já ocorrera: em lugar de resistirem à ideia do filme, como no início, eram eles que nos procuravam, orgulhosos de serem Mucker.”

“[...] Paulo César Pereio e José Lewgoy representavam a oficialidade brasileira no episódio. Ao papel do cafajeste Capitão Dantas, Pereio aportava sua proverbial ironia e ajudava a distanciar um pouco as coisas do século 19 e evocar fatos que se repetem no Brasil constantemente. [...] Nossa proposta nada tinha a ver com os épicos históricos então em voga no cinema brasileiro. Era uma produção simples, filmada em 16 mm com o mesmo equipamento que tínhamos usado nos dois longas anteriores. A história de Jacobina continuava muito imprecisa, e nós não pretendíamos esclarecê-la de vez. Queríamos ser imparciais sem nos omitir. Mais que um relato fiel dos acontecimentos, estávamos interessados na interpretação deles.”

“A simplicidade estendia-se à banda sonora, formada unicamente de ruídos do ambiente e sons da floresta, captados em som direto por Ismael Cordeiro, sem trilha musical. Som direto de época é sempre um grande desafio técnico. [...] Acho que fiz ali um dos meus melhores trabalhos de iluminação, justamente porque trabalhei com muitas cenas noturnas e pouquíssima luz, procurando ser fiel às condições em que eles viviam no século 19.”

“Ao contrário de Iracema e Gitirana, Os Mucker foi revelado, montado, finalizado e teve seu negativo ampliado para 35 mm no Brasil. Para mim, a normalidade era uma bela novidade. Iracema e Gitirana permaneciam no limbo dos cineclubes, enquanto Os Mucker chegava ao seu destino sem percalços. O filme estreou no Festival de Gramado, em janeiro de 1979, com muitos 'Muckers' envaidecidos na plateia e os prêmios de Melhor Direção, Melhor Atriz e Melhor Cenografia. Passou em mostras internacionais de cinema no Rio e em São Paulo antes de ser lançado nos cinemas, a partir de abril de 1979. As críticas foram excelentes e, com apenas quatro ou cinco cópias, apesar da distribuição precária da Embrafilme, fizemos cerca de 140 mil espectadores.”

[Depoimento de Bodanzky extraído da biografia Jorge Bodanzky: o homem com a câmera, escrita por Carlos Alberto Mattos para a Coleção Aplauso.]

Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).

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As aventuras de Igor na Antártica

Jorge Bodanzky | Brasil | 1987, 45’, Arquivo digital (Acervo do Bodanzky)

As aventuras de um menino de três anos que viaja de veleiro até a Antártica em companhia dos pais. Lá ele faz amizade com focas e pinguins. Segundo Bodanzky, em depoimentos para a biografia Jorge Bodanzky: o homem com a câmera, escrita por Carlos Alberto Mattos, o projeto deste musical infantil surgiu da aproximação com a família Belli, velejadores que o cineasta conheceu durante a gravação de um episódio do Globo Repórter. Os Belli viajavam para a Antártica todos os anos. Interessado em se juntar a eles, Bodanzky elaborou este projeto em coprodução com a TV Manchete: “Antes da viagem principal, passei uma semana me familiarizando com os Belli e seu barco, ancorado na baía de Valdez [...]. Desde o começo, sabia que não faria exatamente um documentário, mas um filme de viagem centrado no garoto Igor, filho do casal, então com três anos, duas viagens à Antártica e uma precoce intimidade com focas, pinguins e o cenário de gelo.”

“Nosso roteiro era guiado pelas visitas a bases dos diversos países, algumas parcialmente abandonadas. Oleg conhecia muito bem a regra segundo a qual, na Antártica, o que está abandonado é de todo mundo. Então nos abastecíamos de óleo diesel e víveres nas despensas dessas bases. Encontramos macarrão e chá deixados havia mais de 50 anos, mas ainda perfeitamente conservados devido à temperatura inferior a zero grau.”

“Outra semelhança da Antártica com o paraíso é que os bichos estão lá e não têm medo dos homens. Ora apareciam baleias, ora elefantes-marinhos. Igor brincava com os pinguins e os cormorões. E vinham as focas, os golfinhos. A ação era intensa e, na maioria das vezes, imprevista. Por vezes, escalei o mastro do barco para filmar baleias com minha V-8. A liberdade do vídeo nos possibilitou coletar um grande material da fauna antártica, que depois vendemos para diversas televisões. Aprendi inúmeros macetes para filmar animais. As focas, por exemplo, ficam nervosas se as abordamos interpondo-nos entre elas e o mar. Devemos nos abaixar o máximo possível para que elas não se sintam ameaçadas por nossa altura.”

“Filmávamos tudo o que acontecia, às vezes no estilo de observação, às vezes dirigindo o Igor em algumas ações. Dirigindo, até certo ponto.

O que contava era a espontaneidade do menino, sua total falta de inibição diante da câmera. Filmei-o tomando um guaraná Antarctica, na vã esperança de fechar uma negociação de merchandising. [...] Em matéria de merchandising, éramos realmente muito amadores.”

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“Lidar com a baixa temperatura exigia muita paciência. Os contatos do equipamento oxidavam-se com facilidade. A câmera tinha que ser mantida dentro do barco para evitar o congelamento da graxa e a danificação das fitas. Quando a retirávamos para uma situação inesperada, tínhamos que esperar as lentes se desembaçarem. Em compensação, a luz da Antártica é lindíssima. Para onde quer que se aponte a câmera, a imagem é maravilhosa. Existe lá um vale tão bonito que foi apelidado de ‘Kodak Valley’.”

“O material gravado na Antártica precisava agora de um tratamento que o tornasse interessante para o público infantil. Pedi a Sylvia Orthof que o assistisse e criasse uma história. Adotamos, então, um processo pouco usual: o texto foi criado a partir das imagens, e a montagem foi feita em conformidade com o texto. Assim eu avançava na proposta de fantasiar a realidade, em vez de meramente documentá-la ou explicá-la didaticamente. Sylvia aproveitou todas as sugestões do material bruto.”

“De posse do texto em versos, convidamos o músico Aécio Flávio para transformar alguns trechos em canções. As filhas dele fizeram os vocais e as vozes dos bichos. O ator Othon Bastos gravou a narração. Todo o trabalho de montagem foi feito na TV Manchete por Ronaldo Ferreira,

um dos editores da série Armação ilimitada, com produção de Cláudio Pereira, da Intervídeo.”

“As aventuras de Igor na Antártica foi ao ar pela primeira vez em julho de 1987. Bem pode ter sido o primeiro musical infantil feito em vídeo no Brasil. E certamente foi o primeiro tratamento ficcional da Antártica para crianças. Eu tinha em casa a espectadora ideal, minha filha Alice, então com quatro anos.”

“Se a Intervídeo e nossos parceiros franceses tivessem continuado no barco, teríamos feito uma série de aventuras de Igor, em cenários como a Amazônia, o Pantanal e as Malvinas. Só não levaríamos o garoto para a cidade. Em terra firme sua desenvoltura e perícia eram nulas. Num shopping center, por exemplo, Igor com frequência perdia o equilíbrio e se esborrachava no chão. Morria de inveja da Alice, que vivia num prédio com elevador.”

[Citação extraída da biografia Jorge Bodanzky: o homem com a câmera, escrita por Carlos Alberto Mattos para a Coleção Aplauso.]

Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).

Transanarquia

Jorge Bodanzky | Brasil | 2011, 59’, Arquivo digital (Heco Produções)

“Criar meu web site, fazer minha homepage. Com quantos gigabytes se faz uma jangada e um barco que veleje?”

Um documentário em formato de show/debate, que toma como fio condutor a canção “Pela internet”, de Gilberto Gil, e convida uma série de pensadores e especialistas em comunicação a debater o nascimento da cibercultura. Entre os convidados, estão o próprio Gil e o filósofo e sociólogo Pierre Levy.

Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).

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Ruivaldo, o homem que salvou a terra

Jorge Bodanzky e João Farkas | Brasil | 2019, 45’, Arquivo digital (Mog Produtora)

No Brasil, no estado de Mato Grosso do Sul, na região do rio Taquari, o crescente e contínuo assoreamento dos rios levou ao transbordamento de águas e inundações de terras ao longo dos anos, causando mudanças significativas na vida de seus habitantes. Isso tornou impossível cultivar o solo e criar gado, um meio de subsistência para as famílias locais. Um membro dessas famílias, Ruivaldo Nery Andrade, luta para salvar sua fazenda, construindo um sistema de diques manual para conter e alterar o curso das águas invasoras e, assim, retomar suas atividades e garantir a sobrevivência da terra. Com entrevistas locais e conduzido pelo fotógrafo João Farkas, que fotografa o Pantanal há seis anos, o filme mostra a riqueza da região e também como a trajetória de vida de Ruivaldo e de outros foi afetada pela tragédia ambiental e a luta para reverter essa situação.

Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).

As cores e amores de Lore Jorge Bodanzky | Brasil | 2024, 80’, DCP (Embaúba Filmes e Espaço Líquido)

Um dos mais recentes filmes de Jorge Bodanzky, As cores e amores de Lore narra a vida da pintora alemã Eleonore Koch, única discípula de Volpi, que, radicada no Brasil desde a Segunda Guerra, viveu livre e intensamente, sempre dedicada à sua arte. Feito a partir de uma série de encontros que o diretor manteve com a pintora, o filme retrata os seus últimos anos de vida. Conversas e registros cotidianos em torno do armário de tintas, na companhia de suas telas, pincéis, livros, fotos e da correspondência que trocou com uma série de personalidades importantes da cultura brasileira: Jorge Amado, Paulo Emilio Salles Gomes, Theon Spanudis, Mario Schenberg, entre outros.

”Lore é uma personagem fascinante. Ela teve uma vida intensa, marcada por muita liberdade, como poucas mulheres de sua geração.

A intenção do filme não é construir um apanhado biográfico ou histórico da artista, mas compor um retrato sensível e contemporâneo de seus pensamentos ao final da vida”, relata Bodanzky. “Lore se dividiu entre as pinturas e os amores. Nunca se casou e não teve filhos, tendo escolhido a independência para se dedicar inteiramente ao trabalho. Acredito que o mundo tenha mudado um pouco nesse aspecto para as mulheres de hoje, mas para ela foi uma escolha de vida. Daí o título do filme As cores e amores de Lore.”

[Depoimento de Bodanzky extraído do material de imprensa do filme.]

Entrada gratuita. Distribuição de senhas 60 minutos antes da sessão.

Limite de uma senha por pessoa. Sujeito à lotação da sala.

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Acervo Jorge Bodanzky

Em uma iniciativa do Cinema do IMS, o acervo de Jorge Bodanzky depositado no IMS, sobretudo seus filmes super-8 feitos em contextos diversos (ambiente doméstico, viagens a trabalho, estudo para filmes) foi transformado em um conjunto de curtas-metragens inéditos roteirizados por Ewerton Belico e editado por Luiz e Ricardo Pretti. Ao longo da mostra, esses filmes serão apresentados junto aos demais trabalhos dirigidos e fotografados por Bodanzky.

Uma iniciativa do Instituto Moreira Salles com produção de Vasto Mundo & Errante.

Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).

Meu barco é veleiro

Ewerton Belico & Irmãos Pretti – a partir do acervo de Jorge Bodanzky | Brasil | 2024, 14’, DCP (Acervo IMS)

Jorge Bodanzky é, em grande medida, um realizador viajante. O movimento constante é um traço de seu processo criativo, que incide por registros tanto pessoais quanto de projetos diversos que constituem a base para Meu barco é veleiro. Observações e experiências por continentes diversos, em uma espécie de romance de formação improvisado, no qual as paisagens humanas revelam a constituição de um olhar.

O Muiraquitã

Ewerton Belico & Irmãos Pretti – a partir do acervo de Jorge Bodanzky | Brasil | 2024, 20’, DCP (Acervo IMS)

Os percursos de um cineasta-viajante por paisagens sociais e culturais brasileiras atravessadas pelo furacão da modernização autoritária que a ditadura militar impôs: povos indígenas, cavalhadas, migrantes. Através da câmera-olho de Jorge Bodanzky, vemos as múltiplas faces da borrasca que atinge os modos de vida das populações tradicionais e suas práticas vistas.

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Tenta louvar o mundo mutilado

Ewerton Belico & Irmãos Pretti – a partir do acervo de Jorge Bodanzky | Brasil | 2024, 18’, DCP (Acervo IMS)

A trajetória cinematográfica de Jorge Bodanzky é profundamente marcada pelo seu convívio com o jornalismo e a reportagem documental. Tenta louvar o mundo mutilado reconstitui alguns dos seus mais importantes trabalhos nessa seara, com registros que vão desde as ditaduras latino-americanas às expressões religiosas de matriz africana no Brasil.

Limites

do diáfano

Ewerton Belico & Irmãos Pretti – a partir do acervo de Jorge Bodanzky | Brasil | 2024, 9’, DCP (Acervo IMS)

Como ver livremente diante da opressão generalizada? Limites do diáfano compila alguns dos materiais em super-8 realizados por Jorge Bodanzky durante a ditadura militar, articulando materiais domésticos, experimentos com o suporte cinematográfico e os vestígios, em suporte amador, de algumas de suas obsessões temáticas e estilísticas. Limites do diáfano coleta alguns fragmentos que insinuam um possível perfil dos modos de ver que Jorge Bodanzky constituiu ao longo das últimas décadas.

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Criada em 2012 pelo então coordenador de cinema José Carlos Avellar (1936-2016), a coleção DVD | IMS já lançou diversos filmes, entre produções brasileiras e estrangeiras.

Cabra marcado para morrer

Eduardo Coutinho | Brasil | 1962-1984 | 119min

Em matéria de 1985 para o Jornal do Brasil,

Roberto Mello escreveu: “As filmagens começaram em fevereiro de 1964. Coutinho pretendia contar a história de João Pedro Teixeira, líder da liga camponesa de Sapé, na Paraíba, assassinado em 1962. Não queria atores profissionais: que os personagens fossem interpretados pelos próprios camponeses. Dezessete anos depois, Coutinho volta à região, consegue encontrar

Elizabeth e, através do filho mais velho, Abraão, investiga o destino dos outros dez filhos e de todos os envolvidos no projeto. Ele exibe os originais filmados há tanto tempo, os camponeses se alegram com seus rostos, mais jovens, vivem a emoção do reconhecimento e o jogo de identificações. Vinte anos depois, Coutinho conclui seu filme, um épico contado com clareza, paciência e perseverança, por alguém que confia no trabalho e nos dias. Uma experiência original na cinematografia brasileira.”

Extras:

- A família de Elizabeth Teixeira [65 min. aprox.] e Sobreviventes de Galileia [27 min. aprox.], de Eduardo Coutinho

- Faixa comentada com Carlos Alberto Mattos, Eduardo Escorel e Eduardo Coutinho

- Livreto com textos de Walter Lima Jr., Eduardo Coutinho, Sylvie Pierre, José Carlos Avellar e outros.

O futebol, de Sergio Oksman

O botão de pérola e Nostalgia da luz, de Patricio Guzmán

Photo: Os grandes movimentos fotográficos

Homem comum, de Carlos Nader

Vinicius de Moraes, um rapaz de família, de Susana Moraes

Últimas conversas e Cabra marcado para morrer, de Eduardo Coutinho

A viagem dos comediantes, de Theo Angelopoulos

Imagens do inconsciente e São Bernardo, de Leon Hirszman

Os dias com ele, de Maria Clara Escobar

A tristeza e a piedade, de Marcel Ophüls

Os três volumes da série

Contatos: A grande tradição do fotojornalismo; A renovação da fotografia contemporânea; A fotografia conceitual

La Luna, de Bernardo Bertolucci

Cerimônia de casamento, de Robert Altman

Conterrâneos velhos de guerra, de Vladimir Carvalho

Vidas secas e Memórias do cárcere, de Nelson Pereira dos Santos

O emprego, de Ermanno Olmi

Iracema, de Jorge Bodanzky e Orlando Senna

Cerimônia secreta, de Joseph Losey

As praias de Agnès, de Agnès Varda

A pirâmide humana e Cocorico! Mr. Poulet, de Jean Rouch

Diário 1973-1983 e Diário revisitado 1990-1999, de David Perlov

Elena, de Petra Costa

A batalha de Argel, de Gillo Pontecorvo

Libertários, de Lauro Escorel, e Chapeleiros, de Adrian Cooper

Seis lições de desenho com William Kentridge

Sudoeste, de Eduardo Nunes

Shoah, de Claude Lanzmann

Memórias do subdesenvolvimento, de Tomás Gutiérrez Alea

E três edições voltadas à poesia: Poema sujo, dedicado a Ferreira Gullar; Vida e verso e Consideração do poema, dedicados a Carlos Drummond de Andrade

Os DVDs podem ser adquiridos nas livrarias especializadas, nas lojas dos nossos centros culturais e na loja online do IMS: bit.ly/imsdvd.

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coleção DVD | IMS

Instituto Moreira Salles

Cinema

Curador

Kleber Mendonça Filho

Programadora

Marcia Vaz

Programador adjunto

Thiago Gallego

Produtora de programação

Quesia do Carmo

Assistente de programação

Lucas Gonçalves de Souza

Projeção

Ana Clara da Costa e Adriano Brito

Serviço de legendagem

eletrônica

Pilha Tradução

Revista de Cinema IMS

Produção de textos e edição

Thiago Gallego e Marcia Vaz

Diagramação

Marcela Souza e Taiane Brito

Revisão

Flávio Cintra do Amaral

Os filmes de junho

O programa do mês tem o apoio das produtoras Anarca Filmes, Carnaval Filmes, Casa de Cinema de Porto Alegre, Filmes de Plástico, das distribuidoras Embaúba Filmes, Filmes do Estação, Inquieta, Mercúrio

Produções, Park Circus, Preta Portê Filmes, Vitrine Filmes e do projeto

Sessão Vitrine Petrobras.

Agradecemos a Amanda Seraphico de Moraes, Clara da Matta, Clari

Ribeiro, Ernesto Soto, Jack Bell, João Damasceno, Laura Pimentel, Lorran Dias, Magela Cavalleri, Marcelo Gomes, Matt Smith, Max Eluard, Sandra Escribano Orpez.

As câmeras de Bodanzky

Curadoria, realização e produção: Cinema do IMS

Apoio: Arquivo Nacional, Cinemateca Brasileira, Cinemateca do MAM, CTAv, Zweites

Deutsches Fernsehen (ZDF)

Coordenação de digitalização: Débora Butruce

Digitalização e tratamento de imagem e som: Link Digital e Mapa Filmes

Pesquisa: Ângelo Manjabosco, Mariana Baumgaertner, Júnia Matsuura

Agradecimentos: Jorge Bodanzky, Adriana Veríssimo, Alice de Andrade, Ana Beatriz Vasconcellos, Barbara Alves Rangel, Bruna Callegari, Cavi Borges, Daniel Queiroz, Denise Miller, Elisa Ximenes, Eugenio Puppo, Ewerton Belico, Guilherme Albani, Heco Produções, Hernani Heffner, Jairo Saw Munduruku, Joana Nogueira Lima, José Quental, Júlia Sousa, Link Digital, Luiz Pretti, Marília de Rezende Alvim, Meike Schlarb, Mônica Guimarães, Museu da Imagem e do Som (MIS-SP), Nuno Godolphim, Patrícia Lira, Rafael Medeiros, Ricardo Pretti.

Agradecimentos Equipe IMS: Bianca Mandarino, Cauê Guimarães, Horrana de Kássia Santoz, Joana Reiss, Maria Clara Villas, Marina Marchesan, Nadja Santos, Thyago Nogueira. A exibição de O profeta da fome e Os Mucker tem o apoio da Cinemateca Brasileira

Venda de ingressos

Ingressos à venda pelo site ingresso.com e na bilheteria do centro cultural, a partir das 12h, para sessões do mesmo dia. No ingresso.com, a venda é mensal, e os ingressos são liberados no primeiro dia do mês. Ingressos e senhas sujeitos à lotação da sala. Capacidade da sala: 145 lugares.

Meia-entrada

Com apresentação de documentos comprobatórios para professores da rede pública, estudantes, crianças de 3 a 12 anos, pessoas com deficiência, portadores de Identidade Jovem, maiores de 60 anos e titulares do cartão Itaú (crédito ou débito).

Devolução de ingressos

Em casos de cancelamento de sessões por problemas técnicos e por falta de energia elétrica, os ingressos serão devolvidos. A devolução de entradas adquiridas pelo ingresso.com será feita pelo site Programa sujeito a alterações. Eventuais mudanças serão informadas no site ims.com.br e no Instagram @imoreirasalles. Não é permitido o acesso com mochilas ou bolsas grandes, guarda-chuvas, bebidas ou alimentos. Use nosso guarda-volumes gratuito. Confira as classificações indicativas no site do IMS.

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A filha do palhaço, de Pedro Diógenes (Brasil | 2022, 104’, DCP)

Orlando, minha biografia política

(Orlando, ma biographie politique), de Paul B. Preciado

(França | 2023, 98’, DCP)

Terça a quinta, domingos e feriados sessões de cinema até as 20h; sextas e sábados, até as 22h.

Visitação, Biblioteca, Balaio IMS Café e Livraria da Travessa

Terça a domingo, inclusive feriados das 10h às 20h. Fechado às segundas. Última admissão: 30 minutos antes do encerramento.

A entrada no IMS Paulista é gratuita.

Avenida Paulista 2424

CEP 01310-300

Bela Vista – São Paulo tel: (11) 2842-9120

imspaulista@ims.com.br

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