destaques setembro de 2024
Disruptivo em sua encenação e na mescla de práticas documentais e ficcionais, Iracema, uma transa amazônica expunha um país que o regime militar pretendia manter escondido. O filme de Jorge Bodanzky e Orlando Senna terá, no IMS Paulista, a estreia mundial de sua restauração digital em 4K na mostra As câmeras de Bodanzky, seguida por uma conversa entre Bodanzky e a atriz Edna de Cássia, que interpreta Iracema. Duas miradas para os impactos nefastos do regime nazista: em sua estreia brasileira, Occupied City, de Steve McQueen, realiza uma escavação de porta em porta dos vestígios da ocupação nazista em Amsterdã. Exibido em paralelo à exposição do fotógrafo Josef Koudelka, Ser cigano, de Peter Nestler, parte do holocausto dos povos ciganos para abordar a perseguição que sofreram ao longo dos tempos.
A Sessão Mutual Films põe em diálogo obras do pioneiro cineasta palestino Michel Khleifi e do cineasta israelense Avi Mograbi. Os filmes abordam a vida das mulheres palestinas, as brutais incursões militares do exército israelense e o sonho de um futuro de soberania e retorno do povo palestino às terras ocupadas. As exibições contarão com a presença do professor Richard Peña, da Universidade Columbia, e da poeta israelense Tal Nitzán.
Ainda este mês, uma cinebiografia de Grande Othelo; a origem do movimento Black Rio nos bailes de soul music do Rio de Janeiro; um manifesto em prol dos desejos e da sexualidade de pessoas com deficiência; anotações dos últimos cadernos de Antonio Candido; um épico show dos Talking Heads; um adolescente que precisa lidar com uma nova condição de saúde no sertão baiano; e uma bela história de amor, demissão e remédios psiquiátricos em Minas Gerais.
Iracema, uma transa amazônica, de Jorge Bodanzky e Orlando Senna (Brasil, França, Alemanha | 1975, 90’, DCP)
[imagem da capa]
Iracema, uma transa amazônica, de Jorge Bodanzky e Orlando Senna (Brasil, França, Alemanha | 1975, 90’, DCP)
o grande, de Lucas H. Rossi dos Santos (Brasil | 2023, 83’, DCP)
filmes em exibição
Em cartaz
Antonio Candido, anotações finais
Eduardo Escorel | DCP
Assexybilidade
Daniel Gonçalves | DCP
Black Rio! Black Power!
Emílio Domingos | DCP
Cidade; campo
Juliana Rojas | DCP
Motel Destino
Karim Aïnouz | DCP
Missão Perséfone
Karim Aïnouz | DCP
O dia que te conheci
André Novais Oliveira | DCP
Othelo, o grande
Lucas H. Rossi dos Santos | DCP
Saudade fez morada aqui dentro
Haroldo Borges | DCP
Stop Making Sense (Stop Making Sense)
Jonathan Demme | DCP
restauração em 4K
As câmeras de Bodanzky
Iracema, uma transa amazônica
Jorge Bodanzky e Orlando Senna | DCP, restauração 4K, estreia mundial
A partir de agora, é possível assistir a alguns dos filmes em cartaz no Cinema do IMS com recursos de acessibilidade em Libras, legendas descritivas e audiodescrição. Para retirar o equipamento com recursos, consulte a bilheteria do IMS Paulista. Em caso de dúvidas, entrar em contato pelo telefone (11) 2842-9120 ou pelo e-mail imspaulista@ims.com.br.
Histórias ocupadas:
Steve McQueen
Occupied City
Steve McQueen | DCP
Sessão Mutual Films
Aguarde, os soldados chegaram, vou desligar agora
(Wait, It's the Soldiers, I'll Hang up Now)
Avi Mograbi | DCP
A memória fértil
Koudelka:
Ciganos, Praga 1968, Exílios
Ser cigano (Att vara zigenare)
Peter Nestler | Arquivo digital
(Al Dhakira al Kasba/La Mémoire fertile)
Michel Khleifi | DCP
Ma'loul celebra sua destruição
(Ma'loul tahtafilu bi damarifa)
Michel Khleifi | DCP
Uma vez entrei num jardim
(Nichnasti pa'am lagan)
Avi Mograbi | DCP
15:30 Cidade; campo (119')
18:00 Motel Destino + Missão Perséfone (125')
20:30 Stop Making Sense (88')
10
14:30 Cidade; campo (119')
17:00 Stop Making Sense (88')
18:45 Black Rio! Black Power! (75')
20:15 Othelo, o grande (83')
17
16:00 Cidade; campo (119')
18:20 Black Rio! Black Power! (75')
19:50 Saudade fez morada aqui dentro (110')
4
14:30 Cidade; campo (119')
16:50 Stop Making Sense (88')
18:40 Ser cigano (47')
19:50 Motel Destino + Missão Perséfone (125')
11
15:00 Othelo, o grande (83')
16:45 Black Rio! Black Power! (75')
19:00 Sessão Mutual Films
Aguarde, os soldados chegaram, vou desligar agora + A memória fértil (112') seguida de debate com Richard Peña, Aaron Cutler e Mariana Shellard
18
15:40 Cidade; campo (119')
18:00 Othelo, o grande (83')
19:50 Saudade fez morada aqui dentro (110')
5
14:30 Cidade; campo (119')
17:00 Stop Making Sense (88')
18:45 Black Rio! Black Power! (75')
20:15 Othelo, o grande (83')
12
15:45 Black Rio! Black Power! (75')
17:20 Othelo, o grande (83')
19:20 Sessão Mutual Films
Ma'loul celebra sua destruição + Uma vez entrei num jardim (132') sessão apresentada por Aaron Cutler e Mariana Shellard
19
14:40 Black Rio! Black Power! (75')
16:10 Saudade fez morada aqui dentro (110')
19:00 Iracema, uma transa amazônica (90')
seguido de debate com Jorge Bodanzky, Kleber Mendonça Filho e Edna de Cássia. Estreia mundial da cópia restaurada.
24
15:50 Cidade; campo (119')
18:10 Saudade fez morada aqui dentro (110')
20:15 Assexybilidade (86')
25
14:50 Saudade fez morada aqui dentro (110')
17:00 Assexybilidade (86')
19:00 Sessão Mutual Films
Ma'loul celebra sua destruição + Uma vez entrei num jardim (132') exibição de filmes + leitura de poemas por Tal Nitzán
26
15:00 Antonio Candido, anotações finais (87')
17:00 Occupied City (266') sessão com intervalo de 20 min
14:20 Cidade; campo (119')
16:50 Stop Making Sense (88')
18:40 Othelo, o grande (83')
20:20 Black Rio! Black Power! (75')
21:55 Motel Destino + Missão Perséfone (125')
13
14:00 Motel Destino (115')
16:10 Stop Making Sense (88')
18:00 Othelo, o grande (83')
19:50 Saudade fez morada aqui dentro (110')
22:00 Black Rio! Black Power! (75')
20
14:00 Cidade; campo (119')
16:20 Othelo, o grande (83')
18:10 Saudade fez morada aqui dentro (110')
20:15 Assexybilidade (86')
22:00 Stop Making Sense (88') 27
14:00 Assexybilidade (86')
16:00 O dia que te conheci (71')
7
14:20 Cidade; campo (119')
16:50 Stop Making Sense (88')
18:45 Black Rio! Black Power! (75')
20:15 Othelo, o grande (83')
14
15:20 Black Rio! Black Power! (75')
17:00 Occupied City (266') sessão com intervalo de 20 min
22:00 Stop Making Sense (88')
20:00 Cidade; campo (119')
20:00 O dia que te conheci (71') 6
18:30 Antonio Candido, anotações finais (87') seguida de debate com Eduardo Escorel e Lina Chamie. Mediação de Rachel Valença.
21:45 O dia que te conheci (71')
21
14:00 Black Rio! Black Power! (75')
15:30 Saudade fez morada aqui dentro (110')
17:45 Sessão Mutual Films
Aguarde, os soldados chegaram, vou desligar agora + A memória fértil (112')
20:15 Assexybilidade (86')
22:00 Stop Making Sense (88')
28
14:00 Saudade fez morada aqui dentro (110')
16:10 Assexybilidade (86')
18:00 Antonio Candido, anotações finais (87')
20:00 O dia que te conheci (71')
21:30 Stop Making Sense (88')
14:20 Cidade; campo (119')
16:50 Stop Making Sense (88')
18:40 Othelo, o grande (83')
20:20 Black Rio! Black Power! (75') 15
14:00 Stop Making Sense (88')
15:45 Black Rio! Black Power! (75')
17:15 Ser cigano (47')
18:25 Othelo, o grande (83')
20:10 Saudade fez morada aqui dentro (110') 22
18:00 Assexybilidade (86')
20:00 Saudade fez morada aqui dentro (110') 29
14:00 Saudade fez morada aqui dentro (110')
16:10 Assexybilidade (86')
18:00 Antonio Candido, anotações finais (87')
Programa sujeito a alterações. Eventuais mudanças serão informadas em ims.com.br.
Sessão Mutual Films
A ausência na presença:
Filmes de Michel Khleifi e Avi Mograbi
Os palestinos, embora sejam vítimas de opressão, também são culpados de oprimir os outros: a população rural, os trabalhadores e as mulheres. Tentei fazer um filme sobre opressão zero. Os judeus opressores, quem são eles? Eles próprios são vítimas de perseguição desumana. No entanto, eles ainda oprimem outro povo, os palestinos. E os palestinos são apenas vítimas ou também são vitimizadores? A resposta é que eles são ambos... As coisas devem ser levadas em todos os níveis, não há sentido em apenas discutir o mal que foi feito. Isso não determinará quem é a vítima e quem é o opressor. Devemos desvendar os sistemas e a lógica que nos tornam potenciais opressores e vítimas.
Michel Khleifi nasceu em 1950 em Nazaré, dois anos após a eclosão da Primeira Guerra Árabe-Israelense e a incorporação da cidade ao Estado de Israel. Sua família, instalada em Nazaré desde o século XVII, era palestina, cristã de descendência ortodoxa grega e da classe trabalhadora, com um patriarca comunista. O ano do seu nascimento coincidiu com a definição legal de “ausentes presentes” – pessoas que, por não estarem em casa quando a fundação do novo país foi declarada (inclusive por terem fugido da guerra), perderam o direito a suas terras e propriedades. A lei teve impacto sobre integrantes da própria família do cineasta, que ele retratou em seu primeiro filme décadas depois.
Michel Khleifi, sobre A memória fértil1
1. Citado em inglês em uma entrevista com Khleifi de 2003 no livro Palestinian Cinema: Landscape, Trauma and Memory, de Nurith Gertz e George Khleifi.
Avraham Mograbi nasceu em 1956 em Tel Aviv, a pouco mais de 100 quilômetros de Nazaré. De família judaica, sua mãe ainda jovem deixou a Alemanha em favor do então Mandato Britânico da Palestina na década de 1930, enquanto seu pai nasceu no Líbano, de pais sírios e descendência italiana. O ano de seu nascimento marcou a Segunda Guerra Árabe-Israelense, na qual Israel, Inglaterra e França tentaram tomar controle sobre o canal de Suez, no Egito. Assim como Michel Khleifi, o jovem “Avi” tornou-se ateu e pacifista. E, assim como seu compatriota palestino, o israelense se
empenhou em construir uma filmografia que retratou a história e vida de seu povo e sua cultura.
Khleifi cresceu no que ele chegou a chamar de “gueto nazareno”,2 proibido de sair de sua cidade sem a anuência de uma autoridade militar, cuja austeridade embruteceria após a Terceira Guerra Árabe-Israelense de 1967. Ele descobriu o cinema – e imagens do mundo afora – por meio de filmes populares que passavam na única sala em Nazaré e nas escolas fundadas por missionários cristãos. Encantou-se também com o teatro, que conheceu graças ao seu irmão mais velho George (um ator aspirante), e sempre carregava consigo um texto teatral no bolso. Ele saiu da escola aos 14 anos, em busca de trabalho, que conseguiu em uma oficina mecânica consertando carros, primeiro em Nazaré, depois na cidade israelense de Haifa. O sonho de trabalhar com a Volkswagen na Alemanha Ocidental levou-o a se estabelecer na Bélgica, para onde imigrou em 1970 2. Citado em inglês em uma entrevista de 2015 com Khleifi, realizada pela professora e pesquisadora Isis Nusair para o site Jadaliyya: www.jadaliyya.com/ Details/32148/Between-%60Reality%60-and-
Memory-An-Interview-with-Palestinian-FilmmakerMichel-Khleifi.
após visitar um primo que morava lá. Porém, acabou estudando rádio, teatro e televisão na Insas (Instituto Superior das Artes), em Bruxelas. Começou a se alistar nas equipes das obras realizadas pelos integrantes do curso de cinema e a trabalhar com produções televisivas belgas, algo que acabou levando-o de volta para a Palestina.
Na época em que Khleifi dirigia documentários sobre sua terra natal para a principal emissora de TV da Bélgica, o cânone do cinema palestino consistia em filmes propagandísticos comissionados pela militante OLP (Organização pela Libertação da Palestina), muitas vezes dirigidos por estrangeiros em países vizinhos, como Síria e Líbano. O cineasta se questionou sobre como contar a estória de um povo desprovido de memória pictórica e como representar a vida palestina de uma forma mais autêntica.
Começou a trabalhar em seu primeiro longa-metragem ao lado de um cinegrafista com uma linguagem convencional de televisão, que logo foi demitido do projeto, em prol de operadores que entenderam melhor a abordagem mais aberta e sensível que Khleifi buscava. As filmagens ocorreram no território israelense e na Cisjordânia, ocupada a partir de 1967, e se inspiraram nos próprios palestinos que ele admirava,
com um enfoque especial nas mulheres que ele acreditava que representavam a essência de sua cultura. “Para atingir as profundezas, era preciso adentrar o mundo interior das personagens e, para isso, desconsiderar as fronteiras entre o documentário e a ficção”, falou décadas depois.3
O momento em que Khleifi realizou A memória fértil (Al Dhakira al Khasba, 1981) coincidiu com a conclusão dos três anos de serviço militar que Mograbi cumpriu obrigatoriamente como cidadão israelense e o início de seus estudos universitários. Mograbi cresceu dentro do Cinema Mograbi, a primeira sala de cinema no Oriente Médio equipada para passar filmes sonoros, fundada por seu avô em 1930 logo após sua chegada em Tel Aviv de Damasco. O espaço, extraordinariamente popular, desenhado em estilo art déco, existiu até 1986, quando foi demolido após um incêndio. Foi um lugar de realização de enormes celebrações no final de 1947, após o voto das Nações Unidas a favor da partilha da Palestina em territórios judeus e árabes. E foi também onde Avi assistiu a milhares de filmes nacionais e estrangeiros, sonhando em se tornar um diretor de cinema.
3. A citação se encontra na entrevista com o cineasta no livro de Nurith Gertz e George Khleifi.
O jovem, porém, foi desencorajado a estudar cinema por seu pai, por ser uma carreira com poucas chances de retorno financeiro. Ele então estudou filosofia e artes plásticas entre 1979 e 1982, quando foi convocado pelas Forças de Defesa de Israel para servir na invasão do Líbano, lançada para expulsar a OLP e ocupar o sul do país. Mograbi considerava a guerra injusta e se recusou a participar, e, por isso, cumpriu uma sentença de prisão de 35 dias. A experiência fortaleceu suas crenças políticas esquerdistas, especialmente em relação à grande desigualdade social e legal que percebeu entre os habitantes do seu país. Tornou-se um crítico especialmente vocal da ocupação militar israelense de terras predominante árabes, tanto como ativista quanto como artista e cineasta. Por exemplo, seu documentário Vingue tudo, mas deixe um de meus olhos (Nekam achat mishtey eynay, 2005) critica o radicalismo da pedagogia israelense ao criar paralelos implícitos entre cenas de contação de histórias para crianças, adolescentes e turistas judeus sobre os violentos mitos judaicos de Sansão e Massada e momentos do comportamento desrespeitoso dos soldados que são alistados para manter a Ocupação. Vingue tudo culmina com Mograbi fora de campo aos
gritos, exigindo sem sucesso que os jovens soldados liberem a passagem de civis palestinos que são barrados ao ir para o trabalho ou voltar da escola, e com uma dedicatória aos jovens israelenses que se recusam a servir (entre eles, o filho do diretor). Em uma entrevista sobre o filme, Mograbi falou “Não basta os soldados serem legais e não quererem humilhá-lo. O fato deles estarem lá é um problema em si.”4
Não há personagens israelenses em A memória fértil, que abre com uma cronologia das mudanças de poder na região entre 1897 e 1967 e fecha com versos do poeta palestino Mahmoud Darwich que condenam a barbárie. O primeiro filme dirigido por um palestino na Palestina histórica mostra os efeitos da Ocupação pelas vidas diárias de duas mulheres e a força delas ao resistirem. A primeira, Roumia Farah Hatoum, é uma querida tia de Khleifi que reside em Nazaré. A senhora de aparência forte, sólida e quase mitológica trabalha incessantemente para manter sua casa, a qual, apesar de habitar, já não detém a posse, pois suas terras foram expropriadas com a
colonização sionista quando ela era jovem, com filhos pequenos e recém-enviuvada. Ela foi obrigada a sustentar os filhos sozinha, o que fez cozinhando para um mosteiro por 20 anos.
Ao longo do filme, a mulher mostra para seu sobrinho os rituais e deveres de sua vida cotidiana: costurando maiôs em uma fábrica israelense, cozinhando massa em casa, preparando lã, cantando músicas árabes tradicionais para seu neto recém-nascido e alimentando as galinhas ao seu redor.
Na visão de Farah, a terra é dela, apesar de tê-la perdido legalmente. Seus filhos tentam convencê-la a deixar a casa em troca de dinheiro oferecido pelo proprietário israelense para regularizar a situação da propriedade, mas ela se recusa a renunciar ao que define a sua identidade.
4. A fala de Mograbi vem de uma entrevista incluída no DVD de Vingue tudo, mas deixe um dos meus olhos lançado pela Second Run.
A memória fértil também retrata a luta diária da escritora mais jovem Sahar Khalifeh, que vive e trabalha em Ramalá, capital da Cisjordânia. Ao invés da abordagem mais observacional de Roumia Farah, as passagens com Sahar frequentemente tomam a forma de uma conversa. Vemos ela em casa com seus gatos e na rua, indo e voltando de seu trabalho como coordenadora cultural na Universidade de Birzeit, e ouvimos ela contar como se casou aos 18 anos na sua
cidade nativa de Nablus, sob forte pressão de sua família conservadora, e se divorciou aos 31 anos, após conseguir independência financeira para sustentar as duas filhas. Às vezes, Khleifi faz perguntas para ela por trás da câmera, como quando indaga: “Você se considera uma mulher palestina militante sob ocupação?”. Ao qual ela responde, calmamente: “Depende do que entende por militante. Eu não organizo manifestações, se é isso que quer dizer. Levo uma vida normal, longe da militância, ou do que considero ser a verdadeira militância.”
Khalifeh chegou a fundar um Centro de Assuntos Femininos em Nablus, em 1988, e a publicar um total de 11 romances, vários dos quais tratam da luta redobrada das mulheres no mundo árabe. Quando Khleifi a filmou, no início de 1980, ela já tinha publicado seu segundo e mais conhecido romance, Al-Subar (1976), que narra a história de dois palestinos: um militante que retorna a Nablus, em uma missão que visa a explodir um ônibus de palestinos que se deslocam para trabalhar em Israel; e seu primo, que deixou a fazenda da família para trabalhar em uma fábrica israelense. O desejo de retratar diferentes, e até contraditórios, pontos de vista de seu povo era também o que Khleifi almejava em seu cinema, mostrando que a resistência ia
muito além da luta armada. Pela conjunção das histórias de Roumia e Sahar, A memória fértil revela como o machismo prevalente na sociedade palestina faz com que a população se mantenha autossubjugada. O filme comunica que não há como ter uma sociedade livre sem acreditar na liberdade de todos.
Em A memória fértil e suas obras subsequentes, Khleifi transformou o desejo da autoafirmação palestina em um retrato conciso de um povo que retoma seu direito de existir. Seu segundo filme, o média-metragem Ma’loul celebra sua destruição (Ma’loul tahtafilu bi damariha, 1984), nasceu a partir de cenas descartadas do corte final de A memória fértil, que mostram a experiência da população de uma vila palestina que foi desapropriada em 1948. No dia da celebração da independência de Israel, quando é dado aos palestinos o direito de transitar livremente pelo país, eles retornam às ruínas do vilarejo Ma’loul para rememorar e contar aos mais jovens a história do seu local de origem. A revisitação é intercalada por cenas em uma sala de aula, em que um professor ensina em árabe a história da fundação do Estado de Israel, justapondo o ponto de vista de um sistema de educação imposto sobre um povo com as perspectivas daqueles que passaram pelos eventos narrados.
O imaginário de Khleifi frequentemente estrutura-se em um sistema dicotômico, no qual duas entidades em contradição (modernidade/tradição, homem/mulher, Israel/Palestina, civil/militar) se enfrentam e exprimem uma situação mais complexa do que sua própria oposição. Seu segundo longa-metragem, Casamento na Galileia (Urs al-jalil, 1987), evidencia isso ao utilizar uma narrativa ficcional em que o governador de uma vila palestina decide realizar uma grande e tradicional festa de casamento para seu filho, mesmo sob toque de recolher imposto pelos militares israelenses.
O governador então concorda em ter como convidado de honra a autoridade israelense local, o que enfurece a população da aldeia.
A longa celebração, que se encerraria apenas após a consumação do ato sexual entre os recém-casados, se estende até quando a presença dos indesejados convidados leva o noivo desmoralizado à impotência. Uma conciliação entre forças em oposição se torna necessária para garantir o futuro da comunidade.
Durante anos, Khleifi foi o único cineasta palestino a realizar filmes em sua terra natal e influenciou uma geração de diretores que surgiu a partir dos anos 1990. Em Cântico das pedras (Nashid el-Hajar, 1990), ele faz uma reflexão poética sobre as revoltas
populares contra os militares israelenses nos Territórios Ocupados durante os anos da Primeira Intifada (1986-1994), a partir de dois conjuntos de materiais intercalados: cenas documentais que evidenciam os danos físicos sofridos pela população local; e cenas ficcionais de um homem e uma mulher, amantes palestinos, que se reencontram após duas décadas de separação. O documentário Casamentos proibidos na terra sagrada (Forbidden Marriages in the Holy Land, 1994) registra conversas com os integrantes de diversos casais interreligiosos em Israel e nos Territórios Ocupados. Filmado com crianças da região, O conto das três joias (Hikayatul jawahiri thalath, 1995) –o primeiro longa-metragem realizado na Faixa de Gaza – se apresenta como uma fábula lírica, sobre um menino de 12 anos em busca dos tesouros que podem ganhar o coração de sua amada, na qual as fantasias de tempos antigos são tristemente rompidas pela realidade do presente.
Uma presença regular ao lado de Michel foi seu irmão George, que trabalhou como coordenador de produção na maioria dos seus filmes e eventualmente em diversos outros filmes feitos por cineastas palestinos. George Khleifi também atuou como uma ponte para pesquisadores e programadores
israelenses que queriam conhecer essas produções. Entre os interessados, estava Avi Mograbi, que frequentemente buscou a ajuda do seu amigo palestino ao longo dos seis anos em que programou (junto à produtora israelense Osnat Trabelsi) um cineclube mensal na Cinemateca de Tel Aviv chamado
O Clube da Ocupação.5
Mograbi voltou ao mundo do cinema na década de 1980, ao trabalhar como assistente de direção em produções locais. Se deu conta, a partir de uma história de jornal, de que o documentário era um campo rico para desenvolver seus interesses. O média-metragem documental A reconstrução ( Há-Shich’zoor , 1994) usa imagens de arquivo para relatar as circunstâncias que resultaram no aprisionamento de cinco jovens árabes de classe trabalhadora pelo assassinato de um adolescente israelense em Haifa. O filme detalha como as principais evidências contra os homens – suas próprias reconstruções do crime – foram claramente ditadas a eles pelos policiais, e conclui dizendo que, anos depois, eles
continuam esperando a análise jurídica de seu apelo.6
5. Mais informações sobre o cineclube, que funcionou entre 2001 e 2006, podem ser lidas em inglês no texto seguinte: variety.com/2006/film/news/ israelis-get-view-of-other-side-1200341742/.
Mograbi incumbiu-se de desmascarar a natureza grotesca dos discursos oficiais das autoridades de seu país. Em seu primeiro longa-metragem, Como aprendi a superar meu medo e amar Ariel Sharon (Eich hifsakti l’fahed v’lamadeti l’ehov et Ariel Sharon , 1997), ele narra como o processo de filmar o notório ex-general e político de direita durante a campanha eleitoral israelense de 1996 (na qual Benjamin Netanyahu conseguiu seu primeiro mandato como primeiro-ministro) resultou em um encantamento pela natureza paternal de sua figura gigantesca. É o primeiro de vários filmes em que o cineasta aparece em frente às câmeras como protagonista – dessa vez, com um perfil satírico que, apesar de seus melhores esforços, se torna cúmplice de seu governo. Em Feliz aniversário, sr. Mograbi ( Yum huledet same’ach mar Mograbi , 1999), o personagem de Mograbi ganha uma propriedade maior do que aquela que havia comprado. Enquanto delibera sobre o dever 6. Este filme, como a grande maioria dos filmes de Avi Mograbi, está disponível para ser assistido gratuitamente, com legendas em vários idiomas, no site do cineasta: www.avimograbi.org/.
de admitir o erro ao seu vizinho injustiçado, recebe duas propostas de trabalho: uma da televisão israelense, para filmar as celebrações do 50º aniversário do Estado de Israel; outra da televisão palestina, para auxiliar em um programa especial sobre o 50º aniversário da Nakba (“a catástrofe”, em árabe, que colocou mais de 700 mil palestinos na condição de refugiados). No processo, o artista e cidadão israelense é confrontado com sua própria realidade conflitante. O trabalho do “sr. Mograbi” no projeto palestino envolve filmar os locais das aldeias palestinas destruídas em 1948. Entre elas, a aldeia galileana Saffuriya, a seis quilômetros de Nazaré, cuja população de cinco mil habitantes foi evacuada para virar o povoado israelense de Tsippori, em 1949.
As pessoas que consequentemente se tornaram “ausentes presentes” incluíram Ali Al-Azhari, o professor de árabe de Mograbi e protagonista de um de seus filmes mais comoventes, Uma vez entrei num jardim (Nichnasti pa’am lagan, 2012). Ao narrar a história de Ali ao lado da história de sua própria família, Mograbi apresenta a força e a tragédia de uma pessoa que se tornou um refugiado em seu próprio país. A motivação para fazer Uma vez entrei num jardim inicialmente veio de uma parceria entre Mograbi e o cineasta e artista visual
libanês Akram Zaatari, que o convidou para colaborar em uma performance realizada em 2010 e chamada A Conversation with an Imagined Israeli Filmmaker Named Avi Mograbi . O evento, que aconteceu em um momento em que a lei libanesa proibia o contato entre cidadãos libaneses e israelenses devido à Guerra do Líbano de 2006, consistiu em uma troca de imagens e documentos de familiares por Skype entre os dois artistas. Uma figura que Mograbi pesquisou no processo foi Marcel Mograbi, primo do pai do cineasta, um judeu libanês que, no momento da separação e independência de Israel, permaneceu em Beirute, porém, como costumava fazer, continuava viajando da capital libanesa para Tel Aviv.
A proibição desse deslocamento, que entrou em vigor quando, na formação do Estado judeu, os dois países se tornaram inimigos, não era reconhecida ou aceita pelo parente de Avi.
A partir disso, Mograbi se interessou em retraçar a história da parte libanesa de sua família. Como vários de seus parentes falavam árabe, e não hebraico, Avi convidou Ali para ajudar na investigação e interpretação.
A primeira parte de Uma vez entrei num jardim apresenta conversas entre ele e seu ator principal a respeito de como devem prosseguir, o que inclui a decisão de atribuir
aos dois o controle sobre o corte final do filme. Ironicamente, eles descobrem que suas famílias têm algo a mais em comum, o direito de ir e vir coibido. Em uma cena na cozinha de Mograbi, Ali (que nasceu justamente em 1948) declara: “Pensava que só prendiam os judeus em guetos modernos. Então eu percebi: quem estava num gueto? Sou um refém no gueto deles.”
Apesar das frustrações e injustiças que Uma vez entrei num jardim expressa, o filme acaba sendo o mais otimista de Mograbi, ao vislumbrar uma possível convivência no meio da adversidade. Isso é dado não só pela dinâmica calorosa entre Ali e Avi, mas também pela inclusão da filha de Ali, Yasmin, uma garota de 10 anos que acompanha a equipe a partir da metade do filme. Ela conta sobre o racismo que enfrenta na escola em Tel Aviv por ser fruto de uma união interreligiosa, e, quando visita o lugar onde seu pai nasceu, reage contra a placa que proíbe a entrada de “estranhos” (leia-se, não judeus). Seu gesto de chutar terra ao redor da placa representa tanto um esforço de enterrar um passado quanto uma esperança para o futuro. Ali reflete, na saída do que uma vez foi Saffuriya, sobre a solução que ele mesmo encontrou ao problema de aprender quando criança que os judeus eram demônios: viver entre eles e ter uma filha com uma mulher judia.
Uma vez entrei num jardim não foi lançado comercialmente em Israel e teve pouca repercussão midiática no país – algo comum para os filmes de Mograbi, apesar de sua presença regular no circuito de festivais internacionais. Além de ser cineasta, Mograbi é um dos fundadores da Shovrim Shtika (conhecida internacionalmente como Breaking the Silence, [quebrando o silêncio, em tradução livre]), que, desde 2004, recolhe e divulga depoimentos de soldados e ex-soldados israelenses dissidentes, com a meta de pôr um fim à Ocupação.7 Em contraponto à limitada recepção local de suas obras autorais, Mograbi falou em diversas ocasiões que a ONG é a organização mais odiada de seu país.
O cineasta até usou depoimentos da Shovrim Shtika como material em alguns dos seus filmes, entre eles, Os primeiros 54 anos – Pequeno manual para ocupação militar (The First 54 Years – An Abbreviated Manual for Military Occupation, 2021). O longa-metragem mais recente de Mograbi mais uma vez justapõe realidades diversas por meio de registros documentais de ex-soldados que ficaram traumatizados por suas experiências 7. Mais informações sobre esta organização podem ser encontradas no site www.breakingthesilence. org.il/.
nos Territórios Ocupados, intercalados com cenas mais performáticas do diretor em sua sala de estar explicando o que “você” deve fazer para controlar uma população local e executar a sua ocupação da mais perfeita forma.
Os primeiros 54 anos foi criticado, entre outros motivos, por não incluir nenhuma voz palestina. Mas a presença palestina é forte no filme, de uma forma que Mograbi explicou alguns anos antes do lançamento da obra. A ocasião foi a edição de 2019 no festival de documentários e direitos humanos One World Romania, na qual ele e Michel Khleifi (cujo último filme, o autorretrato ficcional Zindeeq, foi lançado em 2009) receberam retrospectivas de suas obras.8 Mograbi disse em um debate:9
Eu acho que o que Israel mais deseja é que os palestinos permaneçam sem rosto, para que eles fiquem de certa forma escondidos e desumanizados. E, como consequência disso, não valeria a pena se preocupar com suas vidas. Mas, veja, estamos falando de um estado de guerra que existe há 70 anos. A Ocupação tem apenas 51 anos, mas Israel nasceu há 70 anos com uma expulsão horrível de muitos palestinos e a criação do problema dos refugiados palestinos. E, imagine só, Israel é um Estado que foi criado por refugiados e para refugiados, e de repente nós criamos refugiados. Você tem que encontrar uma maneira psicológica de viver com isso. E nós vivemos com isso – ou a maioria de nós vive com isso.
8. Ver oneworld.ro/en/festival/news/Avi-Mograbi-siMichel-Khleifi-la-One-World-Romania/106.
9. O debate inteiro, que foi realizado em inglês após a exibição do filme de Mograbi Z32 (2008), pode ser visto através do link www.youtube.com/ watch?v=qFsDHznOzm0.
A Sessão Mutual Films de setembro é dedicada às memorias do cineasta e escritor argentino Edgardo Cozarinsky (1939-2024), da crítica literária austro-americana Marjorie Perloff (1931-2024) e do empreiteiro imobiliário norte-americano Milton Cutler (1930-2024) – três judeus cujas famílias saíram da Europa em busca de uma vida melhor.
Antonio
Candido, anotações finais
Eduardo Escorel | Brasil | 2024, 87’, DCP (Bretz Filmes)
“Na madrugada de 12 de maio, oito meses antes dessa tarde de chuva em São Paulo, eu morri”, diz calmamente nos primeiros minutos de filme a voz do ator Matheus Nachtergaele, que faz a interpretação dos textos de Antonio Candido, morto em 2017, aos 98 anos. “Ao morrer, deixei meus cadernos de anotações no armário do corredor interno do apartamento onde morava há 21 anos. Comecei o primeiro caderno aos 15 anos, quando cursava o quarto ano ginasial, seguindo a recomendação de minha mãe, Clarice, uma mulher luminosa e grande leitora. Foi ela quem me aconselhou a registrar minhas impressões de leitura quando viu que
eu estava resumindo, por escrito, um texto de divulgação sobre filósofos gregos. Nas décadas seguintes, destruí muitos desses cadernos em rompantes negativistas.”
Antonio Candido deixou 74 cadernos inéditos. Baseado nos dois últimos, o filme se debruça sobre textos escritos entre 2015 e 2017. Os sinais de fragilidade física, notícias de jornal, a derrubada de Dilma Roussef da presidência da República, preferências literárias, musicais e cinematográficas, evocações dos antepassados, menções à infância no sudoeste de Minas e lembranças de Gilda de Mello e Souza são temas recorrentes.
[Foto de Ana Luisa Escorel, 1967]
Ingressos:
Dia 27 de setembro - exibição seguida de debate com Eduardo Escorel, Lina Chamie e mediação de Rachel Valença: Entrada gratuita. Distribuição de senhas 60 minutos antes da exibição. Limite de uma senha por pessoa. Sujeito à lotação da sala.
Demais dias - terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
Assexybilidade
Daniel Gonçalves | Brasil | 2023, 86’, DCP (Olhar Filmes)
Histórias sobre a sexualidade de pessoas com deficiência. Um filme que fala sobre flerte, beijo na boca, namoro, masturbação, capacitismo e –óbvio – sexo. O diretor Daniel Gonçalves ouve das pessoas com deficiência aquilo que socialmente não é esperado que elas digam e façam, rompendo com o estereótipo de que seriam seres assexuados, angelicais, especiais ou, mesmo, desprovidos de desejos. “Nós fodemos e fodemos bem”, dizem por aí.
“O que é essa coisa do ser normal? É uma construção sociocultural”, diz o diretor Daniel Gonçalves em entrevista ao programa Conversa com Bial. “Na época das cavernas, as pessoas
com deficiência eram mortas. O tempo passou, e passamos a ser vistos como demônios. Na época da Reforma Protestante, o Lutero dizia que pessoas que hoje seriam consideradas autistas não tinham alma. Passou mais um tempo fomos alçados à categoria de anjos. Acho que muito em função de um ideal cristão mesmo. Um anjinho que eu posso ajudar. Uma coisa de caridade. ‘Ai, eu dou alguma coisa pra ele, mas desde que ele fique naquele lugar. Ele não precisa vir pra junto de mim.’ Aí, mais recentemente, eu diria que de 20, 10 anos pra cá, pessoas como eu, que têm algum tipo de voz, de ímpeto, começamos a falar pra poder tentar mudar isso. E essa história do anjinho, isso até o Dudé, que é um dos personagens do filme, fala na entrevista: se você tem um filho com deficiência e você acha que ele é um anjinho, esse filho uma hora vai começar a ter desejo como toda pessoa – tenha ela uma deficiência ou não. E aí como você vai lidar quando aquele seu anjinho de candura começar a ter desejo?
Ou o caminho inverso, como alguém pode ter algum desejo sexual em relação ao meu anjinho. Então o Assexybilidade vem muito pra dar uma escancarada nisso. Dizer que não é anjo coisa nenhuma, é pessoa.”
[Depoimento extraído de: bit.ly/assexybilidadedg]
Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
Emílio Domingos | Brasil | 2023, 75’, DCP (Taturana Filmes)
Os bailes de soul music, que deram origem ao movimento Black Rio, eram espaços de afirmação e resistência política do jovem negro do Rio de Janeiro nos anos 1970. A partir das trajetórias de Dom Filó e da equipe de som Soul Grand Prix, o filme apresenta a importância da cena musical na luta por justiça racial durante a ditadura militar brasileira, sua influência no hip hop e no funk, e o impacto nas novas gerações do orgulho negro e da valorização estética difundidos há décadas.
“Meu filme retrata o Rio de Janeiro do subúrbio, da periferia negra que se organiza, que se mobiliza, que se reúne, que comemora a vida, que afirma a sua identidade e que, nos anos 1970, por meio desses bailes, conseguiu gerar
uma grande reflexão sobre a própria negritude”, declara Domingos em entrevista ao Correio da Manhã. “A Black Rio foi um movimento que unia quase um milhão de pessoas por mês, dançando. Lançaram vários discos que invadiram a indústria fonográfica. Começaram a ganhar uma força muito grande, a ponto de incomodar, serem boicotados e sofrerem um grande apagamento.”
Resultado de uma pesquisa extensa, realizada ao longo de mais de 10 anos, Black Rio! Black Power! faz parte de uma cinematografia dedicada a explorar diferentes movimentos e tecnologias da juventude negra e periférica, como A batalha do passinho (2012), Deixa na régua (2015) e Favela é moda (2019), todos dirigidos por Emílio Domingos.
“A Black Rio influenciou tudo que veio depois, em relação à negritude, à própria conscientização do povo negro, e acho que o movimento está muito vivo hoje em dia. [...] A Black Rio está presente nos bailes funk no sentido da tecnologia da festa. Eles criaram essa tecnologia do baile que a gente tem hoje. Em termos ideológicos, acho que no hip hop e no rap brasileiro, a afirmação do negro, numa politização importante, deve muito à Black Rio. Os bailes não eram só diversão. É isso que o filme tenta mostrar.”
[Depoimentos extraídos de: bit.ly/blackrioed]
Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
Cidade; campo
Juliana Rojas | Brasil, Alemanha, França | 2024, 119’, DCP (Vitrine Filmes)
Duas histórias de migração.
Após o rompimento de uma barragem inundar sua terra natal, a trabalhadora rural Joana se muda para São Paulo para encontrar sua irmã Tânia, que mora com o neto Jaime. Joana terá que lutar por melhores condições de vida na “cidade do trabalho”.
Flávia se muda com sua companheira, Mara, para a fazenda que herdou do pai recém-falecido. O casal em busca de uma nova vida tem um choque de realidade ao enfrentar o cotidiano rural, e a natureza vai obrigá-las a confrontar antigas lembranças e fantasmas.
“A motivação original pro filme veio de uma vontade de falar sobre esses deslocamentos. Sobre o local de origem e a adaptação em um local que seja diferente. E da diferença de vivência entre cidade e campo, que são espaços com uma
identidade diferente, um tempo diferente, uma relação com a natureza que é diferente”, comenta Rojas em entrevista à RFI Brasil. “Eu sempre pensei em construir um filme com duas histórias que não se conectassem, que fossem personagens distintos em lugares distintos, mas que eu pudesse mostrar as duas perspectivas: de quem sai do campo pra cidade e de quem vai da cidade pro campo. Sempre pensando em o campo estar no final como se fosse um regresso à nossa origem, à nossa ancestralidade.”
Protagonizado por Fernanda Vianna, Mirella Façanha e Bruna Linzmeyer, Cidade; campo teve sua estreia mundial na seção Encounters do Festival de Berlim deste ano, onde foi premiado com Melhor Direção.
[Íntegra da entrevista em: bit.ly/cidadecampojr]
Ingressos: R$ 15 (inteira) e R$ 7,50 (meia).
Motel Destino
Karim Aïnouz | Brasil, França, Alemanha | 2024, 115, DCP (Pandora Filmes)
O Motel Destino, um motel de beira de estrada que fervilha sob o céu azul escaldante da costa nordeste do Brasil, é administrado por Elias, um homem de cabeça quente, e sua inquieta esposa Dayana. A chegada inesperada de Heraldo, um jovem em fuga, perturba a ordem estabelecida. O mais recente filme de Karim Aïnouz, diretor de Madame Satã (2002), O céu de Suely (2006) e A vida invisível (2019), estreou este ano na mostra competitiva do Festival de Cannes. Em entrevista ao portal DW, por ocasião da estreia, o diretor
comentou: “Eu acho que sexo e comédia têm a ver com a vida. Não são questões morais, são sinais de vida. Depois desses quatro anos de tanto terror e energia de morte, cheguei no set querendo mostrar cor e vida. É um filme em que explode cor, explode tesão, explode humor. É um filme muito inspirado em pornochanchadas e naqueles programas policiais que passam na TV tipo ao meio-dia. É um policial erótico.”
“O motel é um lugar onde tudo é permitido. É uma arena dramatúrgica muito brasileira. Sim, é algo que só tem no Brasil. Acho que só tem uns na Colômbia, em Tóquio. Mas o motel como instituição, com essa arquitetura toda especial, isso é uma coisa nossa. Uma verdadeira invenção brasileira. E que me permitiu usar muita fantasia neste filme.”
[Íntegra da entrevista: bit.ly/moteldestinoka]
Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
Missão Perséfone
Karim Aïnouz | Brasil, Alemanha | 2020, 10’, DCP (Acervo IMS)
No ano de 3020, a Humanidade completa 1000 anos em um corpo celeste localizado na constelação austral da Baleia, conhecido como Superterra por seus habitantes…
Missão Perséfone será exibido junto ao longa-metragem Motel Destino. O filme fez parte do IMS Convida, programa de incentivo à criação artística concebido para vigorar durante o período de quarentena devido à pandemia do coronavírus. Lançado pelo Instituto Moreira Salles em abril de 2020, o programa se estendeu até outubro do mesmo ano e convidou 171 artistas e coletivos de diferentes origens e frentes de atuação.
O dia que te conheci
André Novais Oliveira | Brasil | 2023, 71’, DCP (Malute Filmes)
Zeca todo dia tenta levantar cedinho para pegar o ônibus e chegar, uma hora e meia depois, na escola da cidade vizinha, onde trabalha como bibliotecário. Acordar cedo anda cada vez mais difícil, há algo que o impede de manter esse cotidiano. Um dia, Zeca conhece Luisa. O dia que te conheci é o terceiro longa de André Novais Oliveira, diretor de Temporada (2018), Ela volta na quinta (2014) e uma série de curtas-metragens que circularam o mundo, como Fantasmas (2010) e Quintal (2015). “Desde Fantasmas, meu primeiro curta, de 2010, tento fazer os diálogos naturalistas e fazer com que as atuações soem o mais legítimas possível”, comenta em depoimento disponibilizado no material de imprensa do filme. “Esse foi um trabalho muito prazeroso e divertido, e aberto a improvisos. Em cada longa, trago uma nova dosagem de abertura ao inesperado.”
“Sempre tive muita vontade de tentar o humor nos filmes, e tanto a Grace [Passô] quanto o Renato [Novaes] são bons de comédia também. Eles têm um timing de humor, e equilibrar com o drama foi intuitivo. É muito gostoso ver piadas, ou coisas que nem eram para serem engraçadas, mas acabam com o público. Fico muito feliz.”
Filmado ao longo de dez dias entre o primeiro e o segundo turno das eleições de 2022, o filme de Oliveira dialoga com referências que vão desde os cineastas Abbas Kiarostami e Apichatpong Weerasethakul, o compositor norte-americano
William Grant Still e a cena do rap contemporâneo brasileiro: “O rap é muito importante no filme. Eu queria muito evidenciar que o Zeca gosta de rap, e mostrar isso nos mínimos detalhes, como na direção de arte. Tem tudo a ver com a cena do rap em BH, que tem crescido bastante. Não à toa, Djonga, Matéria Prima e o Fabrício FBC estão na trilha, além do FBC fazer uma participação como ator, que me deixou muito feliz.”
Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
Othelo, o grande
Lucas H. Rossi dos Santos | Brasil | 2023, 83’, DCP (Livres Filmes)
Grande Othelo foi um dos mais brilhantes atores brasileiros do século XX. Negro, órfão e neto de escravizados, ele desafiou o racismo estrutural ao eternizar seus personagens no cinema e na TV, abrindo caminhos para as futuras gerações de artistas negros. O filme oferece uma visão íntima e pessoal do homem que se tornou um ícone, deixando um legado inestimável na cultura brasileira.
Com uma profunda habilidade criativa e de encenação, Othelo trabalhou com cineastas como Orson Welles, Joaquim Pedro de Andrade, Werner Herzog, Julio Bressane, José Carlos Burle e Nelson Pereira dos Santos. Além de construir uma narração em primeira pessoa, a partir de depoimentos de ator, o filme conta com participação especial da atriz Zezé Motta e traz imagens raras de arquivo, feitas em pesquisas na Cinemateca Brasileira.
“Fazer um filme sobre Grande Othelo é, para mim, um movimento ancestral, visto que todos nós, negros que trabalhamos com arte no Brasil, seguimos seus rastros ao longo de nossos caminhos. Porém, seu nome anda esquecido no século XXI e completamente desconhecido para as novas gerações”, declara o diretor Lucas H. Rossi dos Santos. “Ele foi um dos maiores artistas do Brasil e o primeiro ator negro conhecido nacional e internacionalmente. Sua carreira acompanhou o desenvolvimento cultural do país, participando de todos os grandes momentos: desde os cassinos, passando pelo cinema – das chanchadas ao Cinema Novo –, e pegando todo o sucesso da televisão. A linguagem do filme tem como foco a abordagem do sujeito Sebastião por ele mesmo, em primeira pessoa. Negro, ator, umbandista, pai de cinco filhos e um homem cheio de feridas expostas ao lutar contra o racismo em uma vida marcada por tragédias, desde a infância até a sua morte. [...] E, mais do que uma grande e necessária homenagem, este documentário é também uma releitura política sobre Othelo e um resgate histórico da memória deste ícone da cultura brasileira que, como sempre, proporcionou ao público negro brasileiro excelentes oportunidades para se reconhecer nas telas.”
Othelo, o grande foi vencedor do prêmio de Melhor Documentário no Festival do Rio, em 2023 e teve pré-estreia no 13º BlackStar Film Festival, em agosto deste ano, nos EUA.
Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
Saudade fez morada aqui dentro
Haroldo Borges | Brasil | 2022, 110’, DCP (Cajuína Audiovisual)
Numa pequena cidade do sertão baiano, Bruno é um menino de 15 anos que está perdendo a visão de forma irreversível. Ao mesmo tempo que lida com as primeiras questões da adolescência, o menino e seu entorno têm de aprender a lidar com a nova condição.
Dirigido por Haroldo Borges, do coletivo baiano Plano 3 Filmes, em sua carreira por festivais, Saudade fez morada aqui dentro foi vencedor do prêmio de Melhor Longa-Metragem no Festival de Mar del Plata, em 2022. Em 2023, foi eleito Melhor Filme na mostra Novos Rumos do Festival do Rio; recebeu o troféu da Crítica, na categoria longa-metragem da Mostra de Cinema de Gostoso; e cinco troféus no Festival Aruanda, incluindo
Melhor Longa pelos júris oficial e da crítica, Melhor Roteiro e Melhor Ator, para Bruno Borges, parte de um elenco de atores não profissionais recrutados em pesquisas em escolas públicas de Salvador, na Bahia.
“Nós vimos 1300 crianças até chegarmos ao Bruno e, a partir do que eles faziam, da química que havia entre eles, descobrimos os personagens; todos têm o mesmo nome da vida real. Bruno se destacou desde o início. E desde o começo ele era um menino muito corajoso, estava sempre disposto a correr riscos, a fazer exercícios, era impressionante”, declarou Borges em entrevista ao portal argentino Filo News. “Tínhamos uma equipe pequena. Filmamos de forma bem discreta no vilarejo, onde as próprias pessoas não sabiam que estávamos filmando. Mais tarde, muitas delas fizeram parte da equipe, e parecia que estávamos fazendo tudo juntos, não havia aquela coisa tão presente de hierarquia e ordem no cinema.”
[Depoimentos extraídos de: bit.ly/ saudadefezmoradahb]
Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
Stop Making Sense
Stop Making Sense
Jonathan Demme | EUA | 1984, 88’, DCP (O2 Play), cópia restaurada em 4K
A banda Talking Heads apresenta suas músicas mais memoráveis em uma apresentação ao vivo filmada ao longo de três noites no Pantages Theater de Hollywood, em dezembro de 1983. Dirigido por Jonathan Demme (que faria mais tarde O silêncio dos inocentes e Filadélfia) a convite de David Byrne, o filme é um marco na história dos filmes de concerto musical e retorna ao cinema em nova restauração em 4K em comemoração de seu aniversário de 40 anos de lançamento. Stop Making Sense é estrelado pelos principais membros da banda, David Byrne, Tina Weymouth, Chris Frantz e Jerry Harrison, além de Bernie Worrell, Alex Weir, Steve Scales, Lynn Mabry e Edna Holt.
“No início de 1983, Gary Goetzman e eu fomos ver minha banda favorita, os Talking Heads, no Hollywood Bowl, em Los Angeles. O show foi como ver um filme que estava esperando para ser filmado. Procuramos David Byrne e lhe apresentamos a ideia de nos unirmos para fazer o filme”, comentou Demme em entrevista junto a David Byrne para a Time Magazine, por ocasião dos 30 anos da obra. “David realmente viu esse filme em sua própria cabeça muito antes de nós chegarmos e convencê-lo.”
Sobre o trabalho de Demme, Byrne comenta que o cineasta “viu coisas no show que eu não sabia que existiam ou que não sabia o quanto eram importantes. [...] Ele observou a interação das pessoas no palco, que funcionava como se todos tivessem a mesma importância em cena, se víssemos como um roteiro de cinema. Ele também percebeu que, para trazer o espectador para essa percepção, o filme não teria entrevistas ou imagens do público até quase o final.”
[Íntegra da entrevista, em inglês: bit.ly/stopims]
Ingressos:terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
As câmeras de Bodanzky
Aos 81 anos, cerca de 60 deles dedicados ao cinema, Jorge Bodanzky ocupa um lugar importante na produção de imagens do e sobre o Brasil. Em 2024, o IMS Paulista dedica especial atenção à obra de Bodanzky como cineasta, fotógrafo e repórter na mostra de filmes As câmeras de Bodanzky, em cartaz no Cinema do IMS, iniciada em abril e com programas mensais ao longo do ano, e na exposição, já encerrada, Que país é este? A câmera de Jorge Bodanzky durante a ditadura brasileira, 1964-1985.
Ao longo desse período, Bodanzky assinou a fotografia de trabalhos de importantes diretores, produziu uma série de imagens sobre a Amazônia e a América Latina, diversas delas em parceria com a televisão alemã, além de filmes paradigmáticos no cinema brasileiro, como Iracema, uma transa amazônica (1974) e Terceiro milênio (1980). Trabalhou nos mais diversos formatos, dos analógicos 8 mm, 16 mm e 35 mm aos digitais, em câmera profissional e celular, e segue legando trabalhos, como o recente longa-metragem Amazônia, a nova Minamata? (2022).
O Cinema do IMS exibe uma seleção dessa obra junto a curtas-metragens comissionados especialmente para esta ocasião, realizados a partir do arquivo de filmes super-8 de Bodanzky. Os filmes serão exibidos em cópias analógicas e digitais, em materiais de acervo e novas cópias digitais. A mostra conta ainda com a estreia das restaurações inéditas de Iracema e Terceiro milênio, realizadas a partir de um projeto de Alice de Andrade.
Iracema, uma transa amazônica
Jorge Bodanzky e Orlando Senna | Brasil, França, Alemanha | 1975, 90’, DCP, restauração 4K, estreia mundial
Estreia mundial da nova restauração em 4K de Iracema, uma transa amazônica, dirigido por Jorge Bodanzky e Orlando Senna. O projeto de restauro foi capitaneado por Alice de Andrade e a exibição contará com uma conversa entre Bodanzky, Edna de Cássia, que interpreta a protagonista e personagem-título, e Kleber Mendonça Filho, curador do Cinema do IMS.
Em Iracema, em contraste com a propaganda oficial da ditadura militar, que alardeava um país em expansão com a construção da rodovia Transamazônica, a câmera de Bodanzky aponta para os problemas que a estrada traria para a região: desmatamento, queimadas, trabalho escravizado, prostituição infantil. Em uma obra que mistura documentário e ficção, uma pequena
equipe de cinema vai à Amazônia rodar um filme com imensa liberdade formal. Um fio de enredo: um caminhoneiro, Tião Brasil Grande, interpretado por Paulo Cesar Pereio, encontra Iracema, e juntos percorrem parte da região amazônica, então zona de segurança nacional sob rígido controle militar, contracenando com moradores e interagindo com outros intérpretes.
“A primeira semente de Iracema germinou num posto de gasolina à margem da rodovia Belém-Brasília, em 1968”, relembra Bodanzky na biografia Jorge Bodanzky – O homem com a câmera, escrita por Carlos Alberto Mattos. “Enquanto esperava que o repórter da revista Realidade apurasse alguma coisa, fiquei dois dias observando a movimentação de caminhoneiros e prostitutas em torno do posto. A estrada ainda era de terra e as ‘Iracemas’ e ‘Tiões’ estavam todos ali.”
“Tínhamos um roteiro-guia, que não era mostrado aos atores. Explicávamos a situação, dizíamos o que não poderia deixar de ser falado, e os deixávamos à vontade diante da câmera. Edna, por exemplo, tinha uma ideia básica da situação de Iracema na cena, mas não sabia exatamente o que Pereio ia dizer ou perguntar. Tinha que reagir à sua maneira. E ela, muito brincalhona e irônica, geralmente se saía bem das provocações.
O momento em que Pereio a expulsa do caminhão é exemplar dessas virtudes da improvisação. [...]
Ao lidar com não atores, é complicado cortar para fazer contracampos, closes etc., pois isso retira toda a naturalidade. Faço, então, com que
a câmera costure a ação, de certa forma me antecedendo à montagem. O hábito fez dessa a minha maneira de dirigir. Eu quero contar a história com a câmera, vou empurrando minhas personagens com a minha câmera. É como se estivesse roteirizando, decupando, filmando e montando ao mesmo tempo.”
Realizado em 1974 para a ZDF, emissora de TV alemã, Iracema, uma transa amazônica retrata uma viagem da inocência à desintegração, da comunidade indígena mais isolada à periferia das grandes cidades. O filme, que ficou proibido pela censura no Brasil durante seis anos, teve uma boa repercussão de público e crítica internacionalmente desde sua estreia, em fevereiro de 1975, na ZDF. Foi premiado em festivais estrangeiros e convidado para a Semana da Crítica, do Festival de Cannes em 2016. Quando liberado no país, em 1980, foi premiado nas categorias Melhor Filme, Montagem, Atriz e Atriz Coadjuvante no Festival de Brasília.
Entrada gratuita. Distribuição de senhas 60 minutos antes da exibição. Limite de uma senha por pessoa. Sujeito à lotação da sala.
Histórias ocupadas: Steve McQueen
O Cinema do IMS realiza a estreia brasileira do monumental Occupied City, de Steve McQueen, exibido em 2023, no Festival de Cannes, e se debruça sobre a obra do cineasta de setembro a dezembro. Além do longa, será exibida nesses meses a série antológica de cinco filmes
Small Axe.
Occupied City
Steve McQueen | Holanda, Reino Unido | 2023, 266’, DCP (mk2 Films)
O passado devastador colide com o precário tempo presente no documentário de Steve McQueen, Occupied City [Cidade ocupada, em tradução livre], baseado no livro Atlas van een bezette stad: Amsterdam 1940-1945) [Atlas de uma cidade ocupada: Amsterdã 1940-1945], escrito por Bianca Stigter. McQueen cria dois retratos interligados: uma escavação de porta em porta da ocupação nazista que ainda assombra a cidade em que vive e uma jornada vívida pelos últimos anos de pandemia e protestos. Sem entrevistas ou exposição de material de arquivo, o filme percorre cerca de 130 endereços de Amsterdã para descobrir o que ocorreu por trás de cada janela naqueles anos calamitosos. Nas palavras de McQueen, o filme é “uma progressão de uma conversa que está em andamento. E a conversa é diferente agora, porque há essas questões de apagamento –e não apagamento. Em Amsterdã, temos uma
cidade onde muitos dos edifícios usados nos anos 1940 ainda estão aqui, ainda na mesma escala. Eles estão sendo usados de maneiras diferentes das dos anos 1940, mas não houve muita mudança visível. De certa forma, é quase como Pompeia. O passado está bem ali, fisicamente, em nosso presente. Bianca e eu conversamos sobre o filme como sendo quase uma escavação, trazendo o passado para a cidade atual e reforçando o passado dessa forma. O filme coloca o espectador na posição incomum de ter de negociar dois elementos diferentes: o que você está vendo e as informações que está ouvindo, ambos muito estranhos. Dessa negociação, acho que surge uma terceira coisa, e não sei o que é exatamente, ou como descrevê-la, mas é o que eu estava procurando.”
“São todos os tipos de passados e presentes que se unem. E também se trata de aprender com o passado. Foi muito inquietante fazer um filme sobre a ocupação e todo o negacionismo que ocorreu, ao mesmo tempo que se via o ressurgimento do fascismo, do racismo e do antissemitismo. É um lembrete de como as coisas podem se desenvolver.”
[Depoimento extraído do material de imprensa do filme]
Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).
Koudelka
Ciganos, Praga 1968, Exílios
Em paralelo à exposição em cartaz no IMS Paulista até o dia 15 deste mês, o Cinema do IMS exibe um filme de Peter Nestler, um dos mais relevantes cineastas do pós-guerra alemão, que aborda o genocídio e perseguição sofridos pelos povos ciganos durante e para além do regime nazista. Com curadoria do próprio Josef Koudelka, a exposição apresenta três dos mais icônicos trabalhos do fotógrafo tcheco. A série Ciganos reúne fotografias feitas entre 1962 e 1970 em inúmeros acampamentos romani no leste da Eslováquia, na Boêmia, na Morávia e na Romênia.
Ser cigano
Att vara zigenare
Peter Nestler | Suécia | 1970, 47’, DCP (The Deutsche Kinemathek)
Todas as tentativas foram feitas para destruir qualquer documentação ou evidência de genocídio nos campos de extermínio nazistas. Em Ser cigano (conhecido também pelo título em inglês Being Gypsy), Peter Nestler mostra os restos queimados, enterrados e despedaçados das evidências, juntamente com as pinturas do alemão Otto Pankok, os relatos dos sobreviventes e as imagens dos quartéis. No entanto, o filme vai além do Holocausto dos ciganos e destaca a perseguição e o isolamento social desse povo ao longo dos séculos. Nestler refuta o clichê dominante na época de que “isso nunca mais acontecerá”, e insiste que “isso acontece todos os dias”.
“Nos anos 1960, tomei conhecimento dessa injustiça constante, especialmente pelas obras do pintor Otto Pankok, pelo trabalho de cunho social de Birgitta Wolf e pelos escritos de Hermann Langbein, que foi uma das principais testemunhas no julgamento de Auschwitz”, declara o cineasta. “Aprendi sobre a discriminação ininterrupta contra a minoria na Alemanha e na Áustria, onde tudo girava em torno da reconstrução, do avanço econômico. Os crimes de guerra foram dados como encerrados, e os muitos perpetradores, ex-membros da SS e policiais criminosos, bem como os ‘pesquisadores do higienismo racial’, voltaram a seus cargos e posições e continuaram a discriminar e excluir os sinti e os roma por décadas.”
[Depoimento e sinopse extraídos de: bit.ly/ serciganopn]
Entrada gratuita. Distribuição de senhas 60 minutos antes da exibição. Limite de uma senha por pessoa. Sujeito à lotação da sala.
Sessão Mutual Films
A
ausência na presença: filmes de Michel Khleifi e Avi Mograbi
Sahar Khalifeh, uma jovem escritora e professora divorciada que vive e trabalha em Ramalá, e Roumia Farah Hatoum, uma viúva mais velha que se recusa a deixar o que restou de suas terras, são duas mulheres palestinas que, por diferentes razões, vivem uma situação de inércia, em consequência de uma sociedade árabe patriarcal e opressiva e uma ocupação israelense que as colocou na condição de estrangeiras em sua terra natal. O filme recém-restaurado A memória fértil (1981), do pioneiro cineasta palestino Michel Khleifi (nascido em 1950), acompanha as vidas diárias dessas mulheres de gerações distintas de forma delicada e poética, mostrando a resiliência e força de uma classe duplamente oprimida. Já o cineasta israelense contemporâneo Avi Mograbi (nascido em 1956), em seu documentário lúdico Uma vez entrei num jardim (2012), propõe a seu amigo e professor de árabe palestino Ali Al-Azhari reencenar a migração dos antepassados do diretor, do Líbano para Israel. O mergulho resultante nas histórias familiares dos dois homens expõe a dramática existência de uma população cujos indivíduos foram destituídos de sua condição de cidadãos e transformados em “ausentes presentes”. A Sessão Mutual Films de setembro de 2024 apresenta um diálogo entre os cinemas de artistas pacíficos, que também inclui dois curtas-metragens: Ma’loul celebra sua destruição (1984), de Khleifi, é um registro do retorno anual de ex-residentes às ruínas de
sua aldeia palestina que foi eliminada em 1948; Aguarde, os soldados chegaram, vou desligar agora (2002), de Mograbi, apresenta uma conversa telefônica entre o cineasta e seu amigo palestino George Khleifi (irmão de Michel e coordenador de produção de seus filmes) durante uma incursão militar israelense. A exibição do dia 11 será seguida por uma conversa com o professor e curador norte-americano de cinema Richard Peña, e, a do dia 25, por uma leitura pela poeta israelense Tal Nitzán.
A curadoria e a produção da Sessão Mutual Films são de Aaron Cutler e Mariana Shellard. Ingressos:
Dia 11 de setembro - exibição seguida de debate com Richard Peña, Aaron Cutler e Mariana Shellard: Entrada gratuita. Distribuição de senhas 60 minutos antes da exibição. Limite de uma senha por pessoa. Sujeito à lotação da sala.
Dias 12, 21 e 25 de setembro: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).
Em A memória fértil, o cineasta palestino Michel Khleifi acompanha o dia a dia de duas mulheres de gerações e ambições diferentes, mas que compartilham um desejo em comum de autoafirmação em uma sociedade duplamente opressiva. Viúva há décadas, a camponesa palestina Roumia Farah Hatoum (tia do cineasta) trabalha incessantemente para manter suas terras em Nazaré, que foram usurpadas após a criação do Estado de Israel em 1948. Ela costura maiôs em uma fábrica israelense de tecidos, faz massas, prepara lã e cuida de sua casa, onde também vivem seu neto, cunhada e filho. Este último tenta convencê-la a transferir a posse da casa para o novo proprietário em troca de dinheiro. “Eu quero cultivá-la, viver nela, dormir nela, e não podemos nos beneficiar dela!”, diz a velha sobre suas terras perdidas.
A escritora e professora marxista-feminista mais jovem Sahar Khalifeh vive na cidade de Ramalá, para onde se mudou após terminar seu casamento de 13 anos. Sahar lutou pela guarda de suas duas filhas e as sustenta trabalhando como diretora de atividades culturais na Universidade de Birzeit, a única faculdade palestina. Ela leva uma vida solitária, pois sua condição de divorciada dificulta a possibilidade de um novo relacionamento, e vive plenamente consciente de ter recomeçado do zero. Além das reflexões e de trechos de seus romances que ela compartilha com Khleifi, também são ouvidas as letras das músicas que compôs para seus alunos em uma
tentativa de comentar as realidades políticas do velho e novo mundo. Em uma cena, Sahar lê uma das letras: “A galinha diz: ‘Pobre de mim! Me venderam ao matadouro e me degolaram sem me abençoar.’”
A linguagem do filme de estreia de Khleifi parte do cinema direto para desenvolver uma narrativa poética e repleta de metáforas sobre um povo que perdeu o direito à existência enquanto nação, mas que mantém sua força enquanto indivíduos. O cineasta rejeitou uma estratégia de miseen-scène, a favor do que ele chamou de “mise-en-situation”, na qual as escolhas principais foram guiadas pela maneira em que as protagonistas queriam mostrar o seu ambiente.
O primeiro longa-metragem filmado dentro do território ocupado da Cisjordânia lançou não apenas a filmografia de Michel Khleifi, mas também iniciou a carreira cinematográfica de seu irmão mais velho George Khleifi, que trabalhou como coordenador de produção nas obras de Michel e em outros filmes feitos no território palestino. É a voz de George que ouvimos conversando com o cineasta israelense Avi Mograbi no curta-metragem Aguarde, os soldados chegaram, vou desligar agora, que nasceu durante uma incursão em 2002 pelas Forças de Defesa de Israel em Ramalá e em outras cidades palestinas. Durante esse período, Mograbi tornou um hábito ligar e pedir notícias de amigos que moravam nos Territórios Ocupados, e às vezes gravava as conversas com a permissão dos participantes.
Aguarde, os soldados chegaram, vou desligar agora estreou no festival FIDMarseille em 2002 e terá sua estreia brasileira no IMS. A memória fértil foi exibido no Festival de Cannes em 1981 e, nos anos seguintes, foi reconhecido como uma obra fundamental do cinema árabe moderno. Ele foi restaurado digitalmente em 2017 pela Cinemateca Real de Bélgica, a partir de seus negativos originais em 16 mm e sob a supervisão de Michel Khleifi. A exibição dos dois filmes no IMS Paulista no dia 11 será seguida por um debate com Richard Peña, organizador de vários cursos e mostras do cinema feito no Oriente Médio.
Aguarde, os soldados chegaram, vou desligar agora
Wait, It’s the Soldiers, I’ll Hang up Now Avi Mograbi | Israel | 2002, 13’, DV para DCP (acervo do artista)
A memória fértil
Al Dhakira al-Khasba
Michel Khleifi | Bélgica, Holanda, Palestina | 1981, 100’, 16 mm para DCP (Sindibad Films Ltd.)
Programa 2
Uma vez entrei num jardim começa com uma discussão em uma cozinha em Tel Aviv em torno do convite feito pelo cineasta israelense Avi Mograbi ao seu amigo de longa data, o professor palestino de árabe Ali Al-Azhari, para participar do seu próximo filme. O documentarista inventivo e o ator aspirante chegam ao acordo de que nada entrará no corte final sem o consentimento dos dois. O que se segue é uma troca de fotos e documentos na busca das histórias de família dos dois homens, ao longo de uma conversa realizada tanto no hebraico perfeito de Ali – que vive em Israel desde a destruição de sua aldeia nativa de Saffuriya, em 1948 – quanto no árabe hesitante e quebrado de Avi, que o palestino trabalha pacientemente para corrigir.
A família de Mograbi, originária da Itália, morava por gerações na Síria antes da formação do Estado de Israel. Eles se deslocavam livremente entre Beirute e Tel Aviv, em uma época em que era possível consultar quase todos os endereços do Oriente Médio em uma única lista de classificados trilíngue (árabe, francês e inglês). Avi conta um sonho no qual ele se encontra com seu avô Ibrahim, em Damasco, sem saber em qual língua eles falam, e pede para Ali interpretar o patriarca. Em outro momento, referindo-se a uma foto do bisavô de Mograbi, Ali diz: “Ele era um árabe no seu modo de vestir, nos seus gostos, nos seus anseios, na sua música e nos seus sonhos. Mas a sua religião era o judaísmo.”
Despertado por imagens da Revolução Egípcia de 2011, Ali traz seu próprio sonho: o do direito de retorno dos palestinos a suas terras expropriadas. Ele e Avi são acompanhados pelo cinegrafista francês Philippe Bellaïche e, em certo momento,
pela filha de dez anos de Ali, Yasmin, uma menina curiosa de descendência mista, fruto do casamento de seu pai com uma mulher israelense. As cenas da trupe se intercalam com imagens em super-8 do Líbano atual, ao som da leitura de cartas de uma mulher sem nome em Beirute (interpretada pela voz de Aysha Taybe) a seu amante em Israel. O filme termina em um passeio no local de nascimento de Ali, onde atualmente, uma terra ocupada, os portões se fecham para “estranhos”.
O título do sexto longa-metragem de Mograbi se inspira na música preferida dos amantes (interpretada pela cantora egípcia Asmahan), que expressa saudades por um tempo mais afetuoso. O diretor se referiu a Uma vez entrei num jardim como seu filme mais radical, por representar “a primeira vez que eu comecei um projeto não porque eu estivesse frustrado ou com raiva de algo ou de alguém, mas de um outro ponto de vista”.* Diferentemente de seus filmes anteriores, nos quais Mograbi se dedicou a denunciar os abusos dos governos israelenses contra a população palestina, dessa vez ele busca comunhão com seus personagens.
Ma’loul celebra sua destruição, o curta-metragem do palestino Michel Khleifi que precederá Uma vez entrei num jardim, retrata os ex-moradores do vilarejo do título, que foi destruído durante a Primeira Guerra Árabe-Israelense, assim como outras mais de 250 aldeias palestinas. O filme inicia com os expropriados celebrando a história de sua aldeia entre as ruínas do local, para onde são autorizados a retornar uma vez ao ano (14 de maio, o dia de comemoração da independência do Estado do Israel). A lembrança
de Ma’loul permanece na mente dos mais velhos, que passam sua história para os jovens durante a celebração, e em uma pintura do vilarejo. “Nós, que nascemos aqui, nunca vamos esquecer”, diz um dos ex-moradores da aldeia. Em contraponto, em uma sala de aula, um professor e nativo de Ma’loul ensina seus alunos a história oficial da fundação de Israel.
Ma’loul celebra sua destruição foi restaurado em 2K em 2018 sob a supervisão de Michel Khleifi, dentro de um projeto de restauração dos filmes do cineasta pela Cinemateca Real da Bélgica. Uma vez entrei num jardim estreou no Festival de Cinema de Roma em 2012 e circulou em muitos festivais subsequentes, inclusive dentro de em uma retrospectiva dos filmes de Mograbi no forumdoc.bh em 2014. Segundo o cineasta, Ali e sua família estão bem.
A exibição dos filmes no dia 25 será acompanhada por uma leitura pela poeta israelense Tal Nitzán, que estará no Brasil como convidada do Festival Artes Vertentes.
[*Citado em uma entrevista com o diretor realizado pela equipe do festival forumdoc.bh em 2014: bit. ly/umavezentreinojardimam]
Ma’loul celebra sua destruição
Ma’loul tahtafilu bi damariha
Michel Khleifi | Bélgica, Palestina | 1984, 33’, 16 mm para DCP (Sindibad Films Ltd.)
Uma vez entrei num jardim
Nichnasti pa’am lagan
Avi Mograbi | Israel, França, Suíça | 2012, 99’, HD para DCP (The Party Film Sales)
Instituto Moreira Salles
Cinema
Curador
Kleber Mendonça Filho
Programadora
Marcia Vaz
Programador adjunto
Thiago Gallego
Produtora de programação
Quesia do Carmo
Assistente de programação
Lucas Gonçalves de Souza
Projeção
Ana Clara da Costa e Adriano Brito
Serviço de legendagem
eletrônica
Pilha Tradução
Revista de Cinema IMS
Produção de textos e edição
Thiago Gallego e Marcia Vaz
Diagramação
Marcela Souza e Taiane Brito
Revisão
Flávio Cintra do Amaral
Os filmes de setembro
O programa do mês tem o apoio da Cinemateca Alemã, das distribuidoras Bretz Filmes, Cajuína Audiovisual, Livres Filmes, Malute Filmes, O2 Play, Olhar Filmes, Pandora Filmes, Taturana Filmes, Vitrine Filmes e do projeto Sessão Vitrine Petrobras.
Agradecemos a Aaron Cutler, Ana Siqueira, André Novais Oliveira, Avi Mograbi, Carla Italiano + Cláudia Mesquita + Júnia Torres/Associação Filmes de Quintal, Carmen Galera, Eduardo Escorel, Élida Silpe, Emílio
Domingos, George Khleifi, Jacques Jagou, João Luiz Vieira, Karim
Aïnouz, Lina Chamie, Luciana Corrêa de Araújo, Luiz Bretz, Luiz Gustavo
Carvalho + Maria Vragova/Festival Artes Vertentes, Maria Chiaretti, Mariana Shellard, Martine Bouw + Regina De Martelaere/Cinémathèque
Royale de Belgique, Omar Al-Qattan + Nathalie Meagan/Sindibad Films
Ltd., Richard Peña, Sophie Cabanis, Tal Nitzán, Thiago Macêdo Correia e à pequena Ava.
Sessão Mutual Films
Realização: Cinema do IMS
Curadoria e produção: Aaron Cutler e Mariana Shellard
Apoio:
As câmeras de Bodanzky
Curadoria, realização e produção: Cinema do IMS
Apoio: Arquivo Nacional, Cinemateca Brasileira, Cinemateca do MAM, CTAv, Zweites
Deutsches Fernsehen (ZDF)
Pesquisa: Ângelo Manjabosco, Mariana Baumgaertner, Júnia Matsuura
Coordenação de digitalização: Débora Butruce
Digitalização e tratamento de imagem e som: Link Digital e Mapa Filmes
Agradecimentos: Jorge Bodanzky, Adriana Veríssimo, Alice de Andrade, Ana Beatriz Vasconcellos, Barbara Alves Rangel, Bruna Callegari, Denise Miller, Edna de Cássia, Elisa Ximenes, Ewerton Belico, Guilherme Albani, Hernani Heffner, Joana Nogueira Lima, José Quental, Link Digital, Luiz Pretti, Meike Schlarb, Museu da Imagem e do Som (MIS-SP), Nuno
Godolphim, Patrícia Lira, Rafael Medeiros, Ricardo Pretti.
Agradecimentos Equipe IMS: Bianca Mandarino, Cauê Guimarães, Horrana de Kássia
Santoz, Joana Reiss, Maria Clara Villas, Marina Marchesan, Nadja Santos, Thyago Nogueira.
Venda de ingressos
Ingressos à venda pelo site ingresso.com e na bilheteria do centro cultural, a partir das 12h, para sessões do mesmo dia. No ingresso.com, a venda é mensal, e os ingressos são liberados no primeiro dia do mês. Ingressos e senhas sujeitos à lotação da sala. Capacidade da sala: 145 lugares.
Meia-entrada
Com apresentação de documentos comprobatórios para professores da rede pública, estudantes, crianças de 3 a 12 anos, pessoas com deficiência, portadores de Identidade Jovem, maiores de 60 anos e titulares do cartão Itaú (crédito ou débito).
Devolução de ingressos
Em casos de cancelamento de sessões por problemas técnicos e por falta de energia elétrica, os ingressos serão devolvidos. A devolução de entradas adquiridas pelo ingresso.com será feita pelo site Programa sujeito a alterações. Eventuais mudanças serão informadas no site ims.com.br e no Instagram @imoreirasalles. Não é permitido o acesso com mochilas ou bolsas grandes, guarda-chuvas, bebidas ou alimentos. Use nosso guarda-volumes gratuito. Confira as classificações indicativas no site do IMS.
Terça a quinta, domingos e feriados sessões de cinema até as 20h; sextas e sábados, até as 22h.
Visitação, Biblioteca, Balaio IMS Café e Livraria da Travessa
Terça a domingo, inclusive feriados das 10h às 20h. Fechado às segundas. Última admissão: 30 minutos antes do encerramento.
A entrada no IMS Paulista é gratuita.
Avenida Paulista 2424
CEP 01310-300
Bela Vista – São Paulo tel: (11) 2842-9120
imspaulista@ims.com.br
ims.com.br
/institutomoreirasalles
@imoreirasalles
@imoreirasalles
/imoreirasalles
/institutomoreirasalles