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INSTITUTO MOREIRA SALLES
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MAIO 2017
q u e t e r á a co n t e c i d o
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CINEMA
B aby J ane ?
C I N E M A , A S P I R I N A S E U R U B U S / J OAQ U I M - M A R C E LO G O M E S T H E B E AT L E S: E I G H T DAYS A W E E K - R O N H O WA R D C R Ô N I C A DA D E M O L I Ç ÃO - E D UA R D O A D E S A M U L H E R Q U E S E F O I - L AV D I A Z
BABY JANE Em maio, o IMS realiza três exibições especiais de What ever happened to Baby Jane?, em DCP. No dia 6 de maio, o filme de Robert Aldrich será exibido junto a Grey Gardens, documentário em torno da relação de Edith Bouvier Beale e sua filha Edie, dirigido por David Maysles, Albert Maysles, Ellen Hovde e Muffie Meyer. No dia 20, Baby Jane passa em conjunto com os dois primeiros episódios de Feud, a série que retrata a disputa de bastidores entre Joan Crawford e Bette Davis durante as filmagens.
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Eu vi essa cópia nova de O que terá acontecido a Baby Jane? (What Ever Happened to Baby Jane?, 1962), de Robert Aldrich, no Festival de Londres, em 2012, e me chamou a atenção a reação da plateia. Não sei se eu havia construído a minha própria relação com o filme em casa, mas eu me lembrava de um verdadeiro horror movie. Naquela sala de cinema, muita gente parecia rir, e logo descobri que eu também ria, um tipo tenso de riso pós-moderno, uma liberação coletiva de energia humana. Nessas mais de duas horas de demência, loucura e um high-camp inegável ao ver duas estrelas – Bette Davis e Joan Crawford – se batendo no muque e no baixo astral, um devaneio de tortura amarga com maquiagem teatral, há tanta coisa assustadora e outras engraçadas que fica a certeza da força de um filme moderno que já conta 55 anos. E tudo começa num enervante programa de auditório em 1917. Re(ver) o clássico de Aldrich hoje sugere acessar essa nossa percepção de um mundo atual fascinado pela ideia de "celebridade" versus "ostracismo", aqui amplificada pela certeza da decadência, das mágoas trazidas pela fama, pelo tempo e pelo dinheiro, pela competição entre duas irmãs a partir da imagem sinistra de uma velha boneca de olhinhos mortos. Não é difícil entender o desejo de adaptar a peleja entre Davis e Crawford na série recente Feud (canal FX), de Ryan Murphy, em que as faíscas entre essas duas mulheres de Hollywood viram combustível de trama, de treta, o drama de duas divas (Susan Sarandon interpreta Davis, Jessica Lange, Crawford) causando tensão uma na outra, suas maldades e inseguranças transformadas em barraco-Hollywood de bastidores, uma espécie de glamour do lixo humano. Tudo muito divertido, claro, mas, para nós aqui no IMS, uma boa desculpa para projetar essa restauração do filme de Aldrich, quem sabe sob uma nova luz. Hoje, claro, sabemos que há um lote de filmes sobre os cacos de quem foi e viveu sob Hollywood, e o filme de Aldrich nos lembra claramente o Crepúsculo dos deuses (1950), de Billy Wilder, indo até o S.O.B. (1981), de Blake Edwards, que aliás, começa na praia. Curioso também como O que terá acontecido a Baby Jane? integra um lote de filmes realizados em Hollywood num momento em que se promovia uma mudança de tom, com a chegada dos anos 1960, que seria concluída no final daquela década, com a representação do sexo e da violência no cinema. Uma aspereza maior, algo mais perturbador, e o preto e branco, para talvez abstrair o teor mais forte do que os estúdios haviam produzido nos anos 1950 do pós-guerra. No lote de Baby Jane, é possível elencar A marca da maldade (Touch of Evil, 1958), de Welles, Psicose (Psycho, 1960), de Hitchcock, e, no mesmo ano do filme de Aldrich,
Lolita (1962), de Kubrick. Filmes adultos, peças importantes, todos subindo o tom, cientes dos códigos de conduta do mercado ao representar comportamentos humanos, mas já contrabandeando uma franqueza nova, ousadias temáticas e de imagem. Para um público moderno, bombardeado por TV, internet e até cinema, a vida de Blanche (Crawford) e Jane (Davis) naquela casa de Los Angeles pode parecer comum, trivial. Não é difícil imaginar que Sunset Boulevard esteja longe dali. O jogo doentio vai crescendo, pequenas armadilhas, idas ao sótão, longas sombras sugestivas, Davis maltrapilha, vestida de boneca (Norma Koch ganhou o Oscar de figurino pelo trabalho neste filme), a dose fabular aumenta a cada cena, Crawford cadeirante talvez não tão longe também da sra. Bates, antes do veneno. E tudo acaba na praia, sob o sol da Califórnia, o fim de uma era encontrando-se com a era dos surf movies. Não é tão engraçado assim, mas poderoso sempre. Kleber Mendonça Filho
As atrizes Bette Davis e Joan Crawford
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PALÁCIO MONROE: CRÔNICA DA DEMOLIÇÃO DEPOIMENTO DE EDUARDO ADES
A partir do dia 11 de maio, estreia no IMS, Crônica da demolição, um filme de Eduardo Ades sobre a história do Palácio Monroe, antiga sede do Senado Federal. Após a sessão de estreia (dia 11, às 19h30), haverá um debate com o diretor e a equipe do filme (a montadora Eva Randolph e o fotógrafo José Eduardo Limongi) mediado por Hernani Heffner.
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A história do Palácio Monroe é relativamente conhecida por todos que se interessam pela história do Rio de Janeiro ou por arquitetura. Eu me lembro de, criança, minha mãe me apontar a praça vazia e contar que ali existia um palácio. Acontece que, tanto para mim, como para a maioria das pessoas que conhece o caso, o Palácio Monroe faz parte das mitologias da cidade. A gente sabe que existiu esse prédio e que nenhuma explicação satisfatória foi dada para a sua demolição – e seguimos assim. De tempos em tempos, isso enseja uma matéria no jornal, repetindo os velhos boatos como as possíveis causas para a destruição, mas lidamos com isso nessa chave mítica. Mexe com as nossas emoções – alguns ficam indignados, outros saudosistas –, e permanece envolta em mistério. Quem teve a ideia de fazer um filme sobre esse assunto foi meu amigo José Eduardo Limongi. Ele é paulista e mora no Rio desde que veio cursar cinema na UFF – foi quando nos conhecemos. Ele acabou conhecendo a história tardiamente, como adulto, e com esse olhar “estrangeiro”. Então ele não lidou com o caso nessa chave mítica. Para José Eduardo, logo ficou claro que era algo para ser discutido mais seriamente. Ele acabou me sugerindo a ideia porque a gente compartilha esse interesse pela arquitetura – e pela forma de fotografar arquitetura em cinema, algo sobre que a gente sempre conversou, e foi muito importante no momento da filmagem. Numa etapa mais avançada do desenvolvimento, tendo já conseguido descartar a boataria, e com a pesquisa nos indicando hipóteses bastante sólidas para a demolição, é que percebemos que a história era outra. Era uma história de violência – sobre o aspecto absolutamente autoritário de nossa sociedade, em especial nos âmbitos político e econômico. É curioso, mas foi só aí é que percebemos de fato qual o diálogo do filme com o tempo presente – em específico as transformações no Rio para a Copa e as Olimpíadas. Claro que a gente já devia ter uma intuição, mas nesse momento ficou bastante nítido. A gente saía nas ruas para filmar e encontrava milhares de tapumes, a cidade toda revirada. Era um cenário muito parecido com o que a gente via das fotos dos anos 1970, com a construção do metrô e a verticalização do centro. Ou com o período da construção do Monroe, da Avenida Central. No fim das contas, esses três momentos retratados no filme, as décadas de 1900, 1970 e 2010, são marcados por transformações muito radicais na cidade – e feitas de uma forma muito violenta e, em linhas gerais, com as mesmas motivações. Mas a gente poderia incluir mais períodos – por exemplo, os anos 1920, com o brutal desmanche do morro do Castelo, a pretexto de sediar uma feira internacional. Só não estava no nosso escopo narrativo.
Foi com base nessa noção da violência, ou ainda do “crime contra o patrimônio”, como alguns se referem ao caso do Monroe, que acabamos chegando à conclusão de que este seria um filme policial. Escolhemos entrevistados com base no seu grau de relação direta com a história. Assim, eles desempenhariam papéis, como os de “testemunhas oculares”, “suspeitos”, “advogados de defesa”, “promotores”. Quase todos são diretamente vinculados à história, embora em alguns casos isso não esteja explícito no filme. Muito poucos são, digamos, os “especialistas”, que nos ajudam a fechar a narrativa. Nas filmagens, a gente também ficou muito atento a esse olhar policial. O que, igualmente, não foi difícil. A gente começou a filmar duas semanas antes do início da Copa e continuou durante mais duas semanas depois. Então havia toda aquela tensão no Centro – policiais por todos os lados, guarda montada, viaturas. Houve até um momento em que filmávamos com uma teleobjetiva da cobertura de um edifício na Cinelândia, e um helicóptero ficou nos rondando por uns dez minutos, até, eu suponho, eles entenderem que era uma câmera – esse plano acabou caindo na montagem. Além disso, há esses tantos espaços vazios ou inóspitos – praças, estacionamentos –, filmados em plano fixo como prova judicial, ou em steady cam suave com o suspense de cena do crime.
Foto: Adelino Portino/Arquivo Riotrilhos
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Quando cheguei para montar o filme com a Eva Randolph, tinha uma noção bastante boa do que eu buscava, mas não havia um roteiro propriamente. A rigor, o que nos orientou foi uma linha do tempo do Palácio Monroe, com essa ideia de que a história seria contada cronologicamente – como, de fato, acabou ficando. E eu tinha já essas músicas do Philip Glass escolhidas para a trilha, o que foi importante para construir o ritmo visual e a atmosfera do filme. Eu fiz junto com a Eva o visionamento e a seleção do material filmado. É uma etapa bastante cansativa, porque você tem que rever tudo o que você filmou, e dura algumas semanas. Mas não me imagino dirigir um documentário sem participar dessa etapa. Ou mesmo uma ficção. Mas num documentário me parece ainda mais crucial. Porque mesmo que você tenha um roteiro bastante fechado, o documentário é sempre mais aberto. Então esse é o momento em que você vê e discute o que você mesmo fez com alguém que não participou daquele processo todo – e é essa pessoa que dará a forma final para sua história. Terminada essa etapa, a Eva sugeriu – e eu concordei – fazer o primeiro corte sem a minha participação, porque assim ela poderia se defrontar sozinha com o material, sem o meu olhar. E dar o seu entendimento daquela história, a partir do que o próprio material e as nossas conversas lhe suscitavam. A rigor, a estrutura geral do filme foi essa que ela construiu no primeiro corte – inclusive o início e o fim e algumas das soluções mais ousadas de montagem, como a sequência dos estacionamentos com a enumeração de prédios demolidos nos anos 1960-1970. Foi um processo bem longo de montagem, quase um ano (com diversas pausas, claro), porque havia muitas tramas paralelas e o enorme desafio de concatená-las. Além das questões propriamente formais. A gente trabalhou com três tipos de material: fotos e filmes de arquivo, imagens atuais (da cidade ou de elementos do Palácio) e entrevistas. As entrevistas são o que guia o filme, narrativamente, mas é um material um tanto quanto redundante – imagem e som dizem praticamente a mesma coisa num filme como este. Então a gente optou por manter a maior parte das entrevistas em off, de modo a expandir a percepção e os significados, lançando mão de outras imagens. Mas sem ignorar esse potencial reiterativo de ter as entrevistas em on, para sublinhar determinados trechos dos depoimentos e também reforçar as personalidades dos personagens.
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Quanto ao uso dessas outras imagens, aí residiu outro dos grandes desafios da montagem. Por um lado, como filme policial, a gente teria que apresentar as evidências citadas. Por outro, essa abordagem ilustrativa sempre nos pareceu empobrecedora. A gente acabou trabalhando, então, nesse limite. Há sequências, como a inicial, em
que a imagem não guarda relação direta com o que está sendo dito. Há outras, como a dos “pontos de venda”, em que há apenas alguns planos em sincronismo direto com a fala. E há também aquelas como a já mencionada sequência dos estacionamentos, em que a ligação é meramente conceitual – mas as pessoas começam achando que são imagens ilustrativas, para depois perceberem que são coisas distintas. O que nos pareceu mais importante foi sempre instigar o olhar. Se adotássemos um padrão, seja ele sempre ilustrativo ou sempre dissonante, o filme acabaria enfadonho. O que estimula a nossa atenção é eventualmente perceber um plano que é claramente ilustrativo (fala-se “Theatro Municipal”, mostra-se o mesmo) e, no plano seguinte, já não é ilustrativo, e mesmo assim a gente formula uma relação com o que está sendo dito. E instigar esse olhar não só com relação ao filme – mas com relação à cidade mesmo. Ao longo do filme, a gente retorna a ver a praça Mahatma Gandhi vazia, por diversas vezes. E a cada vez nosso olhar se depura, percebemos diferentemente esse mesmo espaço. É a mesma praça ao longo de toda a duração. E, a rigor, filmada de formas não tão diferentes assim. O que muda não é essa imagem ou o espaço, é a relação que estabelecemos com essa imagem e com esse espaço, pela sobreposição de significados. É como diz o Italo Campofiorito no filme: “A cidade é como a cultura, de natureza cumulativa”. A gente não pode lançar para a cidade um olhar ingênuo: esse bairro, essa rua, essa praça, são assim porque são assim. Cada espaço é resultado de um processo histórico. E quando a gente lança o olhar para, digamos, no caso de Crônica da demolição, uma praça onde antes havia um palácio, a gente acaba revelando um aspecto muito importante de nossa sociedade, que é a violência motivada pela cobiça.
Praça Mahatma Ghandi, Rio de Janeiro: Crônica da demolição, de Eduardo Ades
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SESSÃO CINÉTICA: ALOYSIO RAULINO
FORMAS DA DERIVA Victor Guimarães
Rever Aloysio Raulino hoje é descobrir um continente inexplorado. Sua obra como diretor é, ao mesmo tempo, um inventário de figuras singulares do povo, esse emblema tão duradouro na história do cinema, e um manancial exuberante de pensamento cinematográfico. Entre os habitantes desse continente (que tantas vezes teve um epíteto: São Paulo), destaquemos três: Deutrudes Carlos da Rocha, baiano, lavador de carros na periferia; Arnulfo Silva, o Fenômeno, escravizado quando criança, hoje “físico orientador da paz de espírito universal”; Rosendo, jovem trabalhador paraguaio, que vem tentar a vida na grande metrópole ao lado de outros (i)migrantes. É em torno deles que se constroem os curtas Jardim Nova Bahia (1971) e Teremos infância (1974) e o longa Noites paraguayas (1982). Em torno: Deutrudes conta a história de um amor malogrado, enquanto Raulino filma os rostos de outras moças no forró; Arnulfo disserta com seu léxico particular, enquanto a câmera descortina a multidão nas ruas da cidade; Rosendo emigra, e o filme faz chegar até ele, em associações livres, a saga de outros irmãos de sina – os conterrâneos paraguaios, o garçom nordestino, o pedreiro negro. Embora se concentre frequentemente num protagonista, a dramaturgia em Raulino é descentrada por uma energia coral. O um é povoado por muitos. O singular é sempre plural. Não estamos longe da alegoria moderna: Deutrudes e Arnulfo são também o Brasil, e Rosendo é também Latinoamérica, mas o impulso alegórico em Raulino é sempre fragmentário, inacabado, perturbado por uma dialética sem síntese. 8
O que vibra nesse cinema é o embate incessante entre duas paixões simultâneas. De um lado, a necessidade da revelação de um país submerso: “Recentemente foi aberta uma avenida em São Paulo. Ela nos obriga a ver a cidade por dentro”, dizem as cartelas iniciais de Lacrimosa, de 1970. De outro, o mergulho visceral nas vicissitudes do encontro, que desestabiliza os olhares e faz estremecer a forma, até que ela se dobre sobre si mesma: a errância desencontrada com as crianças de Teremos infância, a aventura experimental de Jardim Nova Bahia, o antinaturalismo de Noites paraguayas. Em Raulino, a reflexividade não é um fim, mas uma das forças de uma deriva poética que consiste em se lançar ao mundo para retornar ao cinema. Ou vice-versa. Deriva que acontece no espaço (da periferia paulistana ao centro de Assunção, da estação do Brás à aldeia Guarani), no manejo da câmera (é Raulino quem a leva nos ombros em todos os filmes, em coreografias surpreendentes), no laboratório (as fascinantes variações fotográficas só são conseguidas porque o cineasta se lança às desventuras da revelação) e também na moviola: a montagem vertical se faz errante, desvia o sentido das imagens, conjuga encontros musicais improváveis – Luiz Gonzaga e os Beatles (Jardim Nova Bahia), Brahms e o cancioneiro religioso popular (Teremos infância), Moraes Moreira e Odair José (Noites paraguayas) –, até o ápice, a cena de Noites... na qual um pedreiro “executa” o estudo Revolucionário, de Chopin, transformando em piano uma tábua de construção. Não é à toa que os dois filmes explicitamente citados em Noites... sejam Vidas secas (Nelson Pereira dos Santos, 1963) e O Bandido da Luz Vermelha (Rogério Sganzerla, 1968). Raulino começa a filmar em 1969, quando – segundo a historiografia corrente, embora contestada – as esperanças do Cinema Novo já foram atropeladas pela História, dando lugar ao desencanto dos primeiros filmes do Cinema Marginal. Mas seu cinema será sempre o palco de uma batalha campal irresolvida entre a utopia e o desespero. Raulino filma como quem carrega tardiamente as aspirações dos anos 1960 na América Latina – a descoberta das nações usurpadas, a intervenção na realidade –, mas com uma consciência tão aguda das contradições de seu meio, que não pode se lançar ao encontro sem se dedicar, no mesmo gesto, a interrogar o cinema. Filma com “uma câmera numa mão e uma pedra na outra”, como diziam Solanas e Getino, mas com a certeza de que o primeiro alvo da pedra deve ser a própria câmera.
Na quinta-feira, dia 18, às 19h, o cinema do IMS-RJ exibe três filmes de Aloysio Raulino: os curtas Jardim Nova Bahia e Teremos infância e o longa Noites paraguayas. Após a sessão, haverá um debate com os críticos da revista Cinética, disponível em: revistacinetica.com.br
É assim que Teremos infância e Jardim Nova Bahia são filmes partidos ao meio. No primeiro, o que marca a interrupção é o abrupto chicote da câmera, que, de súbito, abandona o protagonista e passa a acompanhar as crianças que observam a cena, para 9
recomeçar outro filme – igualmente inacabado – com elas. No segundo, são as fotos still de Luna Alkalay e a posterior irrupção das imagens feitas por Deutrudes, que instauram um regime visual outro – as panorâmicas, a precisão do enquadramento, o balé elegante da câmera de Raulino são perfurados por uma visualidade igualmente derivante, mas errática, hesitante. E, no entanto, quando a câmera de Deutrudes se encontra na rua com uma mulher negra que segura uma criança e pede dinheiro, não estamos longe dos transeuntes do seu O tigre e a gazela (1974). A famosa passagem da câmera para o sujeito filmado em Jardim Nova Bahia tem efeito duplo: documentar a imaginação dos pobres (a realidade é opressora demais para nos contentarmos com ela, eis a lição das colagens de Santiago Álvarez) e corroer a carne do cinema. Algo semelhante ocorre em Noites paraguayas: os sonhos, tanto dão vazão a impulsos poéticos dissonantes em relação ao realismo fundador da trajetória dos personagens quanto são a ocasião de pequenos ensaios oníricos, que escapam à ficção principal e se movem entre o teatro do absurdo e Brecht, entre a cena picaresca à Boca do Lixo e o found footage. Em Teremos infância, a tentativa de documentar o sonho (“Falar o quê?”, pergunta o menino; “Inventa uma história!”, exorta a voz do cineasta) é assombrada pelo fracasso do desencontro. Resta o olhar desconcertante, a expressão incômoda, o sorriso entredentes. Nenhuma demagogia disfarçada de altruísmo, nenhum populismo travestido em má etnografia. “Strawberry Fields Forever” interrompe o ruído da câmera de Deutrudes e soa alto na voz de Richie Havens, enquanto o mito do “dar voz ao outro” se encerra antes de poder começar. O cinema de Raulino é a cena dissensual de um atrito entre subjetividades – quem olha, quem filma, quem vê – que nunca se encerram nos confins da identidade. E, se o olhar frontal para a câmera é o leitmotiv de sua filmografia inteira, é porque essa insurreição formal marca, ao mesmo tempo, o desejo de interrogação do outro, a ruptura da transparência cinematográfica, a colocação em relevo do conflito entre quem filma e quem é filmado e o engajamento inevitável do espectador, que não pode mais contemplar imune, não pode mais desviar o olhar.
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OS FILMES DE MAIO
The Beatles: Eight Days a Week, de Ron Howard (2016)
A partir de maio, a Sala José Carlos Avellar ganha um novo horário nos fins de semana às 11h30. Serão exibidos o documentário de Ron Howard em torno dos Beatles e Hiroshima meu amor, primeiro longa-metragem de Alain Resnais, com roteiro de Marguerite Duras. Ao longo do mês, Cinema, aspirinas e urubus, de Marcelo Gomes, será exibido em cópia 35 mm por ocasião da estreia de Joaquim, mais novo longa do diretor.
Cinema, aspirinas e urubus, de Marcelo Gomes (2005)
Junto a Elon não acredita na morte, será exibido, em 35 mm o curtametragem Tremor, ambos de Ricardo Alves Jr. Dentre as estreias do mês, estão ainda Volta à Terra, de João Pedro Plácido e A mulher que se foi, filme de Lav Diaz, que recebeu o Leão de Ouro na Mostra de Cinema de Veneza, em 2016.
Volta à Terra, de João Pedro Plácido (2014)
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TERÇA 2
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14h00 Joaquim
16h00 Tremor Elon não acredita na morte
16h00 Tremor Elon não acredita na morte
18h00 Volta à Terra
18h00 Volta à Terra
20h00 Tremor Elon não acredita na morte
Ópera na Tela 19h30 Sansão e Dalila
14h00 Joaquim
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14h00 Joaquim
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14h00 Joaquim 16h00 Tremor Elon não acredita na morte 18h00 Volta à Terra 19h30 Cinema, aspirinas e urubus
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14h00 Hiroshima meu amor
16h00 Tremor Elon não acredita na morte
16h00 Tremor Elon não acredita na morte
16h00 Joaquim
18h00 Volta à Terra
18h00 Volta à Terra
19h30 Crônica da demolição
20h00 Tremor Elon não acredita na morte
20h00 Tremor Elon não acredita na morte
14h00 Hiroshima meu amor
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14h00 Hiroshima meu amor
16h00 Joaquim
16h00 Joaquim
18h00 Crônica da demolição
18h00 Crônica da demolição
20h00 Paterson
20h00 Paterson
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sessão seguida de debate com diretor e equipe do filme mediado por Hernani Heffner
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14h00 Crônica da demolição 15h40 Taego Ãwa 17h00 Joaquim 19h00 Sessão Cinética Jardim Nova Bahia Teremos infância Noites paraguayas
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14h00 Crônica da demolição
14h00 Crônica da demolição
14h00 Crônica da demolição
15h40 Taego Ãwa
15h40 Taego Ãwa
16h00 A mulher que se foi
17h00 Paterson
17h00 Paterson
20h00 Muito romântico
19h10 Martírio
19h30 Joaquim
30
31 14h00 Muito romântico
14h Crônica da demolição
15h30 A mulher que se foi
16h A mulher que se foi 20h Muito romântico
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QUINTA
sessão seguida de debate com os críticos da revista Cinética
MAIO
2017
16
14h00 Joaquim
QUARTA
SEXTA 5
14h00 Joaquim
SÁBADO 6
19
11h30 The Beatles: 8 Days a Week
15h00 Tremor Elon não acredita na morte
14h20 Tremor Elon não acredita na morte
18h00 Volta à Terra
17h00 O que terá acontecido a Baby Jane?
16h00 Volta à Terra
14h00 Hiroshima meu amor
13
11h30 The Beatles: 8 Days a Week
16h00 Joaquim
14h20 Crônica da demolição
18h00 Crônica da demolição
16h00 Terra deu, terra come
20h00 Paterson
19h00 O que terá acontecido a Baby Jane?
14h00 Crônica da demolição
20
20h00 Taego Ãwa
16h00 A mulher que se foi 20h00 Muito romântico
20h00 Joaquim
14
11h30 The Beatles: 8 Days a Week 15h00 Paterson 17h20 Joaquim 19h30 Cinema, aspirinas e urubus
17h00 Paterson
14h00 Crônica da demolição
17h30 Cinema, aspirinas e urubus
20h00 Grey Gardens
15h40 Taego Ãwa
26
7
16h00 Tremor Elon não acredita na morte
20h00 Tremor Elon não acredita na morte
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11h30 The Beatles: 8 Days a Week
DOMINGO
27
11h30 Hiroshima meu amor
21
11h30 Hiroshima meu amor
14h00 Crônica da demolição
14h00 Crônica da demolição
15h40 Taego Ãwa
15h40 Taego Ãwa
17h00 FEUD - Episódios 1 e 2
17h00 Paterson
19h10 O que terá acontecido a Baby Jane?
19h10 Martírio
NO SÁBADO, DIA 27 DE MAIO, NÃO HAVERÁ SESSÕES DE CINEMA
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11h30 Hiroshima meu amor 14h00 Crônica da demolição 16h00 A mulher que se foi 20h00 Muito romântico
Programa sujeito a alterações. Confira a programação completa do Instituto Moreira Salles em www.ims.com.br, em nossas redes sociais ou pelo telefone 3284-7400
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OS FILMES DE MAIO
SESSÃO VITRINE PETROBRAS
ELON NÃO ACREDITA NA MORTE de Ricardo Alves Jr. (Brasil, 2016. 75’. Exibição em DCP)
ATÉ 10 DE MAIO EXIBIDO EM CONJUNTO COM O CURTA TREMOR, DE RICARDO ALVES JR. Roteiro: Ricardo Alves Jr., Germano Melo, João Salaviza, Diego Hoefel. Fotografia: Matheus Rocha. Montagem: Frederico Benevides & Michael Wahrmann. Som: Pablo Lamar. Trilha Sonora: Daniel Saavedra. Com Rômulo Braga, Clara Choveaux, Lourenço Mutarelli, Grace Passô, Germano Melo.
Após o desaparecimento de sua esposa Madalena, Elon imerge em uma jornada insone pelos cantos mais sombrios da cidade, buscando entender o que pode ter acontecido com ela, e tenta não perder a sanidade pelo caminho. Nas palavras do diretor, de alguma maneira Elon não acredita na morte “vem sendo gestado desde o meu primeiro curta, Material bruto [2006], um documentário performático feito com a Juliana Barreto, de um grupo teatral de Belo Horizonte, o Sapos e Afogados. A Juliana trabalha com pessoas com sofrimento mental – psicóticos ou esquizofrênicos – que estão em reabilitação social. O curta acompanha quatro personagens, e o Elon é um deles. Seis anos depois, fiz outro curta, Tremor, só com o Elon. O filme é uma descida ao inferno: nele, o acompanhamos no reconhecimento do corpo da esposa. Numa conversa, durante as filmagens, o Elon me disse que não acreditava na morte. Foi aí que falei: ‘Vou desenvolver uma ficção’.”
TREMOR
de Ricardo Alves Jr. (Brasil, 2013. 14’. Exibição em 35 mm ) ATÉ 10 DE MAIO
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Roteiro: Diego Hoefel, Ricardo Alves Jr. Fotografia: Matheus Rocha. Som: Pablo Lamar.
Um dia na vida de Elon Rabin. Ele procura por sua mulher, ele busca respostas, ele busca por vida. Tremor fez parte da seleção oficial do Festival de Locarno, em 2013, e recebeu, entre outros, os prêmios de direção, fotografia e montagem de curta-metragem no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, e Melhor Filme no Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte em 2013.
JOAQUIM
de Marcelo Gomes (Brasil, Portugal, Espanha, 2017. 102'. Exibição em DCP) ATÉ 24 DE MAIO
Roteiro: Marcelo Gomes. Fotografia: Pierre de Kerchove. Som direto: Pedrinho Moreira, Moabe Filho. Trilha sonora: O Grivo. Desenho de som: Elsa Ferreira. Montagem: Eduardo Chatagnier. Com Julio Machado, Isabél Zuaa, Nuno Lopes, Rômulo Braga, Welket Bungué, Karai Rya Pua.
Século XVIII. A colônia dos Brasis, parte do Império Português, enfrenta um declínio na produção de ouro. Uma minoria portuguesa governa de forma autoritária e corrupta uma sociedade composta, em sua maioria, por africanos escravizados, indígenas e mestiços. Joaquim é um militar de destaque na captura de contrabandistas de ouro. Ele espera que sua dedicação seja recompensada com uma patente de tenente, para que possa comprar a liberdade de Preta, por quem é apaixonado. A promoção nunca chega, e Joaquim é designado para encontrar novas minas de ouro no temido Sertão Proibido. Ao abordar a vida de Tiradentes, o diretor Marcelo Gomes mescla situações fictícias com relatos históricos para retratar um homem comum, em seus defeitos, suas contradições, seus medos e suas ambiguidades. "A coisa que não compreendo é: como esse cara, que vivia no Brasil colonial, cruel, terrível, desumano, que matava os índios, que escravizava os africanos, como ele, que trabalhava para a coroa portuguesa como um soldado, decidiu mudar seu paradigma e se tornar um revolucionário", explicou o cineasta à Agência EFE.
CINEMA, ASPIRINAS E URUBUS de Marcelo Gomes (Brasil, 2005. 139’. Exibição em 35 mm ) 4, 7 E 13 DE MAIO Roteiro: Marcelo Gomes, Paulo Caldas, Karim Aïnouz. Fotografia: Mauro Pinheiro Jr.. Som direto: Márcio Câmara. Montagem: Karen Harley. Com João Miguel, Peter Ketnath, Hermila Guedes.
Em 1942, no sertão do Brasil, dois homens muito diferentes se encontram: o alemão Johann, que fugiu da guerra, aceitando um emprego para vender uma nova droga miraculosa, a Aspirina; e o sertanejo Ranulfo, um dos muitos agricultores expulsos de suas terras pela implacável seca nordestina. Johann precisa de um ajudante e contrata Ranulfo. Num caminhão, os dois percorrem as estradas do interior do Brasil e mostram aos moradores das pequenas vilas um filme sobre o novo remédio. Essa é, para a maioria deles, a primeira experiência com o cinema.
ÓPERA NA TELA
SANSÃO E DALILA
ópera em três atos de Camille Saint-Saëns Direção: Damiano Michieletto. Maestro: Philippe Jordan. (França, 2016. 120’. Exibição em DCP) 3 DE MAIO, ÀS19h30
Orquestra e coro da Ópera de Paris.
Oprimidos pelos filisteus, os hebreus têm em Sansão um líder. Para descobrir a origem de sua força sobrenatural, Dagom resolve usar Dalila como espiã.
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VOLTA À TERRA de João Pedro Plácido (Portugal, 2014. 78’. Exibição em DCP) DE 2 A 10 DE MAIO Fotografia: João Pedro Plácido. Roteiro: Laurence Ferreira Barbosa, João Pedro Plácido. Montagem: Pedro Marques. Consultor de som Vasco Pimentel.
Volta à Terra conta a história de uma comunidade em extinção: camponeses que praticam agricultura de subsistência da aldeia de Uz, nas montanhas no norte de Portugal, esvaziada pela imigração. Entre a evocação do passado e um futuro incerto, o filme segue os 49 habitantes de Uz pelas quatro estações do ano. Entre os habitantes, está António, antigo emigrante que conseguiu regressar ao país e prepara a festa da aldeia para o verão, e Daniel, jovem pastor que sonha com o amor ao anoitecer. “Uz é a aldeia dos meus avós, e eu sempre quis fazer um filme que relatasse essa vida, longe de tudo, e prestasse homenagem a esses camponeses”, comenta o diretor. “Fazer um filme de cinema, digo. Não um mero registro da realidade, de forma a deixar um rasto desse mundo condenado a desaparecer, mas enquadrar o quotidiano dessas gentes, revelando a sua poesia a par da sua brutalidade.” “Dentre as pessoas que filmei, algumas viriam a tornar-se personagens de uma riqueza surpreendente, oferecendo a esta crônica uma substância romanesca. Este filme é também uma (a minha) homenagem à simbiose do Homem com a Natureza, bem como a defesa de uma forma de ecologia.”
THE BEATLES: EIGHT DAYS A WEEK (The Beatles - Eight Days a Week: The Touring Years) de Ron Howard (EUA, 2016. 137’. Exibição em DCP) FINS DE SEMANA 6 E 7, 13 E 14 DE MAIO, ÀS 11h30
Dirigido por Ron Howard, vencedor do Oscar de Melhor direção pelo filme Uma mente brilhante, o documentário é um relato profundo da carreira da banda durante os anos de 1962 a 1966, desde suas apresentações no Cavern Club, em Liverpool, ao que seria seu último show. Eleito o melhor documentário musical pelo Critics’ Choice Awards e vencedor do Grammy de melhor filme musical em 2017, o filme traz imagens recém-descobertas, remasterizadas e restauradas, da apresentação icônica do último grande show da banda em 1966, no Candlestick Park, em São Francisco. Além de entrevistar Paul McCartney e Ringo Starr, Ron Howard resgata imagens de arquivo com John Lennon e George Harrison e depoimentos de fãs ilustres, como Whoopi Goldberg e Elvis Costello. A narrativa perpassa momentos históricos, como o primeiro registro dos quatro membros juntos (Liverpool’s Cavern Club, 1962), a primeira vez que os Beatles foram ouvidos em uma rádio americana (1963) e a decisão da banda de não se apresentar em um show em que havia segregação racial (Estados Unidos, 1964).
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O QUE TERÁ ACONTECIDO A BABY JANE? (What Ever Happened to Baby Jane?) de Robert Aldrich (EUA, 1962. 134’. Exibição em DCP ) 6, 13, 20 DE MAIO Roteiro: Lukas Heller, a partir do romance de Henry Farrell. Fotografia: Ernest Haller. Som: Jack Solomon. Montagem: Michael Luciano.
Bette Davis é Jane Hudson, uma artista que alcançou a fama quando menina e ficou conhecida como "Baby Jane". Agora envelhecida e distante do público há muitos anos, vive encerrada em uma mansão com sua irmã, Blanche Hudson (interpretada por Joan Crawford) desde que um acidente selou a sorte de ambas. Disposta a brilhar nos palcos novamente, Jane atenta voltar a ser Baby Jane.
FEUD - episódios 1 e 2
uma série criada por Ryan Murphy, Jaffe Cohen e Michael Zam episódios dirigidos por Ryan Murphy (EUA, 2017. 57’, 52'. Exibição em cópia digital) 20 DE MAIO, ÀS 17h
Com Jessica Lange, Susan Sarandon, Judy Davis.
A primeira temporada da série FEUD (em português: rixa, hostilidade), centra-se na batalha de bastidores entre as atrizes Bette Davis (interpretada por Susan Sarandon) e Joan Crawford (Jessica Lange) durante a produção do filme O que terá acontecido a Baby Jane?, de Robert Aldrich.
GREY GARDENS
(Grey Gardens) de Albert Maysles, David Maysles, Ellen Hovde e Muffie Meyer (EUA, 1975. 74’. Exibição em DCP ) 6 DE MAIO, ÀS 20h
Filmado por Albert Maysles e David Maysles. Montagem: Ellen Hovde, Muffie Meyer, Susan Froemke. Produtora associada: Susan Froemke. Grey Gardens é um dos próximos títulos da coleção DVD | IMS, e inclui faixa comentada por Albert Maysles, Ellen Hovde, Muffie Meyer e Susan Froemke e o filme As Beales de Grey Gardens, realizado em 2006 pelos irmãos Maysles.
Em 1973, um escândalo tomou as manchetes dos jornais americanos. Alegando falta de condições sanitárias, as autoridades de East Hampton, um balneário de luxo a 160 quilômetros de Nova York, tentaram expulsar as duas moradoras de uma mansão à beira-mar. Elas viviam isoladas ali, em Grey Gardens, há mais de 20 anos, entre guaxinins, sujeira e mato. Notícia banal, não fossem elas Edith Bouvier Beale e sua filha de 56 anos, Edie, respectivamente, tia e prima de Jacqueline Kennedy Onassis. Dois anos depois, Big Edie e Little Edie abrirão as portas de Grey Gardens a Albert Maysles e David Maysles. Eles registrarão a personalidade e os conflitos de mãe e filha, mulheres inteligentes e excêntricas. “Elas passavam seus dias não a perseguir o sucesso ou o reconhecimento social, mas, sim, cultivando as próprias relações amorosas conflituosas, entretendo uma à outra (e a nós) com tiradas espirituosas, trocadilhos, canções, poesia, dança e a recitação de memórias de seu passado. Elas encontram beleza até no inevitável envelhecimento da carne, que a maioria de nós tem pavor de enfrentar” – comenta Albert Maysles. “Nós nos identificamos com elas na projeção”, acrescenta Ellen Hovde. “Os relacionamentos íntimos são muito complicados nesse sentido, são relações de poder. As pessoas dependem umas das outras, tentam manipular umas às outras, amam-se mutuamente, odeiam-se mutuamente. Todas essas coisas estão acontecendo em sobreposição.”
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HIROSHIMA MEU AMOR (Hiroshima mon amour) de Alain Resnais (França, Japão, 1959. 92’. Exibição em DCP) DE 11 A 21 DE MAIO Roteiro: Marguerite Duras. Fotografia: Michio Takahashi, Sacha Vierny. Montagem: Jasmine Chasney, Henri Colpi, Anne Sarraute. Música: Georges Delerue, Giovanni Fusco. Com Emmanuelle Riva, Eiji Okada.
Um encontro ocasional em Hiroshima faz surgir um romance entre um arquiteto japonês e uma atriz francesa, que está na cidade participando de um filme sobre a paz. A relação amorosa constitui a base para Resnais explorar a natureza da memória, da experiência e da representação. Além de amantes, eles também se tornam confidentes, o que traz a memória de uma história, nunca contada antes, do primeiro amor dela. Durante a Segunda Guerra Mundial, em Nevers, ela se apaixonou por um soldado alemão. No dia em que a cidade foi libertada, ele foi baleado e morto, e ela, submetida à humilhação e à desonra pública.
PATERSON
(Paterson) de Jim Jarmusch (EUA, 2016. 115’. Exibição em DCP) DE 12 A 24 DE MAIO
Roteiro: Jim Jarmusch. Fotografia: Frederick Elmes. Montagem: Affonso Gonçalves. Desenho de som: Robert Hein. Poemas: Ron Padgett. Com Adam Driver e Goldshifteh Farahani.
Paterson é motorista de ônibus na cidade de Paterson, Nova Jersey. Diariamente, o homem repete uma rotina simples: dirige sua rota observando a cidade pela janela e ouvindo fragmentos das conversas que o rodeiam; escreve poemas em um caderno; passeia com o cachorro; para em um bar, bebe uma cerveja e, depois, volta para casa, onde encontra a esposa, Laura. Ao contrário do marido, o mundo de Laura está sempre mudando. Ela tem novos sonhos todos os dias. Em entrevista à revista Time, Jim Jarmusch fala sobre como teve a ideia de escrever o filme: “Eu estive por um dia em Paterson há uns 20, 25 anos. Fui atraído para lá por William Carlos Williams, um médico e poeta cujo trabalho eu admirava. Estive nas cachoeiras e, dando uma volta pela cidade, conheci suas áreas industriais. É um lugar fascinante: era como a visão de Alexander Hamilton de uma nova cidade industrial, erguida em torno do poder da cachoeira, como uma cidade planejada utópica. É também incrivelmente variada em termos demográficos, da variedade de pessoas ali.” “Paterson [o poema de William Carlos Williams], aliás, não é um dos meus poemas favoritos – na verdade, passa batido por mim, eu não entendo boa parte dele. Mas, logo no começo, um homem é representado como uma metáfora para a cidade de Paterson e vice-versa. E eu achei que essa era mesmo uma ideia bonita. Achei que gostaria de escrever um pequeno tratamento de roteiro sobre um poeta, um homem da classe trabalhadora de Paterson que é muito bom poeta, mas que não é conhecido. Então eu tinha esse tratamento de uma página na gaveta por anos. Segui me lembrando disso, mas nunca tinha realmente chegado a ele até agora.” [Entrevista completa em inglês em: https://goo.gl/TC3KeF ]
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CRÔNICA DA DEMOLIÇÃO de Eduardo Ades (Brasil, 2015. 90’. Exibição em DCP) DE 11 A 31 DE MAIO Argumento: Eduardo Ades e José Eduardo Limongi. Fotografia: José Eduardo Limongi. Som direto: Antonio Carlos Liliu, Rodrigo Maia. Montagem: Eva Randolph, Eduardo Ades. Pesquisa iconográfica: Remier Lion
A sessão de 11 de maio, às 19h, será seguida por um debate com Hernani Heffner, conservador-chefe e curador adjunto da Cinemateca do MAM, e a equipe do filme: Eduardo Ades, diretor; José Eduardo Limongi, diretor de fotografia; e Eva Randolph, montadora.
No centro do Rio de Janeiro, uma praça vazia com um chafariz seco e um estacionamento subterrâneo. Há 40 anos, ali ficava o Palácio Monroe, antiga sede do Senado Federal. Com uma centena de fotos antigas, 26 filmes de arquivo – incluindo um raro registro a cores da demolição do palácio – e de entrevistas com pessoas envolvidas no caso, o filme discute o processo histórico que culminou na demolição do Palácio Monroe e as dúvidas que ainda persistem sobre o assunto. Uma história de sabres e leões, militares e arquitetos, passado e futuro. ABERTURA DA EXPOSIÇÃO CHICHICO ALKIMIM, FOTÓGRAFO
TERRA DEU, TERRA COME de Rodrigo Siqueira (Brasil, 2010. 88’. Exibição em cópia digital - blu-ray) 13 DE MAIO, ÀS 16h. ENTRADA GRATUITA. Fotografia: Pierre de Kerchove. Som: Célio Dutra. Edição: Rodrigo Siqueira.
O Instituto Moreira Salles inaugura, no dia 13 de maio, a exposição Chichico Alkmim, fotógrafo. Com curadoria de Eucanaã Ferraz, poeta e consultor de literatura do IMS, a mostra apresenta mais de 200 imagens produzidas pelo fotógrafo mineiro na primeira metade do século xx. A abertura da exposição também marca os 129 anos da assinatura da Lei Áurea. Para homenagear a data, o cinema do ims fará uma exibição especial de Terra deu, terra come (Brasil, 2010. 88’), de Rodrigo Siqueira, que se passa no quilombo Quartel do Indaiá, em Diamantina, na região onde Chichico Alkmim passou sua infância e juventude. No filme, Pedro de Almeida, garimpeiro de 81 anos de idade, comanda como mestre de cerimônicas o velório, o cortejo fúnebre e o enterro de João Batista, morto aos 120 anos, num ritual em que vêm à tona as raízes africanas de Minas Gerais.
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SESSÃO CINÉTICA
3 FILMES DE ALOYSIO RAULINO 18 DE MAIO, 19h Sessão seguida de debate com os críticos da revista Cinética
JARDIM NOVA BAHIA
de Aloysio Raulino (Brasil, 1971. 15’. Exibição em cópia digital.) Câmera: Aloysio Raulino, Deutrudes Carlos da Rocha. Som direto: Paulo Valadares. Montagem: Roman Stulbach.
Deutrudes Carlos da Rocha, baiano de 24 anos, negro, analfabeto, é lavador de automóveis e vive em São Paulo. Na primeira parte do filme, o depoimento de Deutrudes é alternado com aspectos de outros baianos em condições semelhantes. Na segunda parte, o próprio Deutrudes empunha a câmera, sem interferência do diretor.
TEREMOS INFÂNCIA
de Aloysio Raulino (Brasil, 1974. 12’. Exibição em cópia digital.) Roteiro e fotografia: Aloysio Raulino. Som direto: Mario Masetti. Montagem: Roman Stulbach.
Arnulfo Silva, ex-menor abandonado de São Paulo, relata as mazelas de sua infância, período em que foi vítima de todo tipo de sofrimento e humilhação, e clama por maior atenção às crianças de rua. O filme recebeu o Grande Prêmio no Festival de Oberhausen, na Alemanha, o Prêmio Especial no Festival de Bilbao, na Espanha, e o Prêmio Governador do Estado de São Paulo de Melhor Curtametragem.
NOITES PARAGUAYAS
de Aloysio Raulino (Brasil, 1982. 93’. Exibição em cópia digital.) Roteiro e fotografia: Aloysio Raulino, Hermano Penna. Diretor de som: Walter Rogério. Montagem: José Motta.
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A trajetória de imigrantes paraguaios que, vindos do interior do país, se dirigem a Assunção, e de lá chegam a São Paulo; são trabalhadores rurais, músicos, vendedores e subempregados. A sorte que os acolhe em São Paulo é variada; alguns permanecem no Brasil, mas a figura central, Rosendo, um trabalhador rural, retorna ao Paraguai e reencontra o país modificado. Dois mundos paralelos: o da cultura guarani e o da aventura brasileira são justapostos por músicas paraguaias e o idioma guarani, falado pelos protagonistas.
SESSÃO VITRINE PETROBRAS
TAEGO ÃWA
de Henrique Borela e Marcela Borela (Brasil, 2016. 75’. Exibição em DCP) DE 18 A 24 DE MAIO
Roteiro: Henrique Borela e Marcela Borela. Fotografia: Vinícius Berger. Som: Lourival Belém de Oliveira Neto. Montagem Guile Martins.
“Cinco fitas VHS encontradas no armário de uma faculdade disparam o desejo desse filme”, contam os diretores Henrique e Marcela Borela. “Anos depois, munidos de mais registros, vamos ao encontro dos Ãwa na ilha do Bananal. Levamos conosco a memória do desterro ao qual foi exposto o povo Tupi que mais resistiu à colonização no Brasil Central. As imagens foram vistas, sentidas, e mais imagens surgiram desse encontro em meio à luta por Taego Ãwa.” Por meio da interpretação mítica dos próprios Ãwa sobre sua história, coloca-se em cheque as imagens de aculturação e extinção produzidas sobre eles ao longo de quatro décadas.
SESSÃO VITRINE PETROBRAS
MARTÍRIO
de Vincent Carelli, Ernesto de Carvalho e Tita (Brasil, 2016. 162’. Exibição em DCP) 21 E 23 DE MAIO, ÀS 19h10
A grande marcha de retomada dos territórios sagrados Guarani Kaiowá pelas filmagens de Vincent Carelli, que registrou o nascedouro do movimento na década de 1980. Vinte anos mais tarde, tomado pelos relatos de sucessivos massacres, Carelli busca as origens desse genocídio, um conflito de forças desproporcionais: a insurgência pacífica e obstinada dos Guarani Kaiowá frente ao poderoso aparato do agronegócio. "Todo dia, bate à porta das nossas consciências, através das redes sociais, a notícia de um assassinato brutal, de um violento despejo", declara Vincent Carelli. "Do outro lado, na grande imprensa, nas sentenças judiciais, nos discursos dos lobistas do agronegócio, vemos a ignorância ou a omissão total da história, a inversão cínica de papéis se apropriando da palavra 'resistência', frente ao suposto 'terrorismo' dos índios. Fazer Martírio se tornou uma compulsão necessária para mim, que tenho a vida atada à deles, para Ernesto e Tita, que me acompanharam nessa jornada. Um compromisso moral, ético, político e, sobretudo, afetivo, com os povos Guarani Kaiowá."
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A MULHER QUE SE FOI (Ang babaeng humayo | The Woman Who Left) de Lav Diaz (Filipinas, 2016. 228’. Exibição em DCP) DE 25 A 31 DE MAIO Roteiro, fotografia, montagem: Lav Diaz.
Horacia passou os últimos 30 anos numa penitenciária feminina. Ex-professora de escola primária, ela leva uma vida tranquila ajudando suas companheiras a praticar a leitura e a escrita. Quando outra detenta confessa ter cometido o crime original, Horacia é libertada e parte em busca de sua família, então distante. Enquanto procura pelo filho desaparecido, Horacia descobre novamente sua terra natal – as Filipinas do final dos anos 1990 –, apenas para concluir que seus habitantes vivem aterrorizados pela corrupção e pelos sequestros desenfreados. A mulher que se foi recebeu o Leão de Ouro no Festival de Veneza, em 2016.
SESSÃO VITRINE PETROBRAS
MUITO ROMÂNTICO de Melissa Dullius e Gustavo Jahn (Alemanha, Brasil, 2016. 72’. Exibição em DCP) DE 25 A 31 DE MAIO Roteiro e montagem: Melissa Dullius e Gustavo Jahn. Fotografia: Ville Piippo. Desenho de som e mixagem: Jochen Jezussek.
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Melissa e Gustavo atravessam o oceano Atlântico em busca de uma vida nova em Berlim. Enquanto o tempo passa e as estações do ano se sucedem, vida e cinema tornam-se uma mesma coisa: o quarto do casal vira um palco onde amigos são convidados a interpretar seus próprios papéis. Até que um dia, um portal para o cosmos aparece em sua casa, abrindo conexões entre o passado, o futuro e o presente. “Das primeiras filmagens a bordo de um navio cargueiro, até o fim da montagem, demoramos nove anos – quase um quarto das nossas vidas – para terminar Muito romântico”, declaram Melissa Dullius e Gustavo Jahn. “Uma jornada do Brasil à Alemanha que nunca vai ter fim e que continua a afetar nossa vida e nosso trabalho.” “Enfim, encontramos uma resposta para esta pergunta repetida incessantemente: ‘Por que vocês vieram para Berlim?’ Para fazer um filme.”
DVD | IMS ÚLTIMO LANÇAMENTO
Instituto Moreira Salles Rua Marquês de São Vicente, 476. Gávea. Telefone: (21) 3284-7400 WWW.IMS.COM.BR
PHOTO Os grandes movimentos fotográficos Os pioneiros A fotografia surrealista A nova objetividade alemã
(Foto: Cindy Sherman)
Ingressos A sessão de Terra deu, terra come tem entrada franca.
Superintendente Executivo: Flávio Pinheiro Coordenação do ims-rj : Elizabeth Pessoa Curadoria de cinema: Kleber Mendonça Filho Produção de cinema e DVD: Barbara Alves Rangel Assistência de produção: Thiago Gallego
para Grey Gardens, O que terá acontecido a Baby Jane?, Cinema, aspirinas e urubus e a Sessão Cinética: R$ 8,00 (inteira) e R$ 4,00 (meia)
Aberto ao público de terça a domingo, das 11h00 às 20h00.
para as demais sessões: terça, quarta e quinta: R$ 22,00 (inteira) e R$ 11,00 (meia) sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26,00 (inteira) e R$ 13,00 (meia).
A fotografia encenada Primeiro volume da série de documentários proposta por Luciano Rigolini, com concepção de Stan Neumann e consultoria de Quentin Bajac.
Sala José Carlos Avellar
Guarda-volumes aberto até 20h00. Acesso a portadores de necessidades especiais. Estacionamento gratuito no local. Café wifi As seguintes linhas de ônibus passam em frente ao IMS-RJ: Troncal 5 - Alto Gávea - Central (via Praia de Botafogo ) 112 - Alto Gávea - Rodoviária (via Túnel Rebouças) 538 – Rocinha - Botafogo 539 – Rocinha - Leme Ônibus executivo Praça Mauá - Gávea
para Elon não acredita na morte, Martírio, Taego Ãwa e Muito romântico: R$ 12,00 (inteira) e R$ 6,00 (meia) para a sessão de Ópera na Tela: R$ 22,00 (inteira) e R$ 11,00 (meia)
Meia entrada com apresentação de documentos comprobatórios para professores da rede pública municipal, estudantes, menores de 21 anos, maiores de 60 anos, portadores de HIV e aposentados por invalidez. Cliente Itaú: desconto para o titular ao comprar o ingresso com o cartão Itaú (crédito ou débito). Passaporte no valor de R$ 40,00 com validade para 10 sessões das mostras organizadas pelo IMS. Ingressos e senhas sujeitos à lotação da sala. Capacidade da sala: 113 lugares. Ingressos disponíveis também em www.ingresso.com
O programa de maio tem o apoio da Sessão Vitrine Petrobras, da Cinemateca do MAM do Rio de Janeiro, da Universal Music, do festival Ópera na Tela, da revista Cinética, das distribuidoras Vitrine Filmes, Imovision, Fênix Filmes, Zeta Filmes, Bonfilm e do Espaço Itaú de Cinema. Agradecimentos: Rodrigo Siqueira, Moema Muller, CTAv, Otávio Savietto, Gustavo Raulino, Ricardo Alves Jr., Renata Lima, Felipe Almeida e Cristiano Lima.
Devolução de ingressos: em casos de cancelamento de sessões por problemas técnicos ou por falta de energia elétrica, os ingressos serão devolvidos. A devolução de entradas adquiridas pelo ingresso.com será feita pelo site. Sessões para escolas e agendamento de cabines pelo telefone (21) 3284 7400 ou pelo e-mail imsrj@ims.com.br
A exibição dos episódios da série Feud tem o apoio do canal Fox Premium:
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INSTITUTO MOREIRA SALLES
CINEMA
MAIO 2017
MUITO ROMÂNTICO | TAEGO ÃWA TERRA DEU, TERRA COME | JOAQUIM 24