IMS Rio: os filmes de julho/2017

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INSTITUTO MOREIRA SALLES

CINEMA

JULHO 2017

LYNCH - GRIMONPREZ - CORRA! - ADIVINHE QUEM VEM PARA JANTAR - O FUTURO PERFEITO


OS FILMES DE JULHO

A ideia de trazer o que o cinema tem oferecido atualmente para a programação da nossa sala encontra dois registros especiais neste mês de julho, que extrapolam os lançamentos normais do circuito. O filme de 18 horas que é Twin Peaks (2017), realizado por um David Lynch afiado e provocador, está em lançamento em todo o mundo via TVs pagas e streaming e nos inspira a programar dois filmes do autor: Eraserhead (1977), seu primeiro longa, que acaba de ser disponibilizado para distribuição após restauro em 4K, e Twin Peaks: Os últimos dias de Laura Palmer (Fire Walk with Me, 1992). Estamos trazendo as cópias da França para sessões especiais na sala José Carlos Avellar. Se Eraserhead é o art-film horror show por excelência, feito, ao que parece, a partir de detritos industriais impressionistas e com imagens indeléveis de cinema, o longa-metragem de Twin Peaks, bancado por dinheiro francês após Lynch ter ganho a sua Palma de Ouro por Coração selvagem (Wild at Heart, 1990) e ter estourado na TV com Twin Peaks, é tido como algo misterioso na filmografia de Lynch. Não foi muito bem recebido na época, inclusive foi vaiado em Cannes (nem sempre um mau sinal na história nervosa de reações no grande festival). E que excelente oportunidade para (re)ver o filme em meio à recepção positiva ao novo Twin Peaks (ovacionado há dois meses em Cannes, que exibiu seus dois primeiros capítulos). Também abrimos espaço para um filme que consideramos formidável, lançado pela Universal nos multiplex em maio último, e com uma reação de murmúrios incomuns no circuito brasileiro: Corra! (Get Out), de Jordan Peele, um filme de gênero em que Hitchcock e Polanski andam juntos para que Peele reprocesse as regras de mercado na representação de raça num filme comercial americano. Estamos em 2017, e um filme como Corra! ainda se revela uma raridade, um verdadeiro original. Não apenas o herói é negro (Daniel Kaluuya), mas também o ponto de vista do filme, do roteiro e da direção. O resultado é tenso em níveis que extrapolam a narrativa em si, uma vez que questões raciais são exploradas frontalmente na chave do cinema de horror e da fantasia, com antagonistas do herói brancos, e uma provocação sutil que, talvez, termine sendo dirigida à plateia. Num circuito comercial como o brasileiro (e ocidental), em que personagens negros raramente são vistos como verdadeiros protagonistas, a inversão poderosa desse thriller deve ser destacada e discutida.

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O plot de Corra! nos apresenta uma situação conhecida: o casal de namorados é composto por rapaz negro e garota branca, que irá apresentá-lo aos pais, brancos progressistas ("Eu votei em Obama duas vezes e votaria uma terceira!", exclama o pai). Esse plot parece revisitar Adivinhe quem vem para jantar (Guess Who’s Coming


to Dinner, 1967), de Stanley Kramer, filme que, aliás, está fazendo 50 anos em 2017. Trouxemos cópia DCP do filme de Kramer da Inglaterra para tentar entender, numa sessão dupla com Corra!, o que separa os dois filmes nessas cinco décadas de representação. Ganhador de dois Oscar, um para a interpretação de Katharine Hepburn e outro para o roteiro original de William Rose, Adivinhe quem vem para jantar tem sido elogiado desde sua estreia por abordar a tensão real nos costumes sociais (a luta pelos direitos civis é claramente um impulso para o filme). Mas a produção também foi criticada por trazer o ponto de vista branco para a questão racial, críticas que viram na presença e na leitura de Sidney Poitier uma pasteurização Hollywoodiana do homem negro. Um debate com Juliano Gomes, da revista Cinética, que escreveu texto de excelência sobre Corra!, mediará a projeção dessa sessão dupla. Kleber Mendonça Filho

Sidney Poitier e Spencer Tracy: Adivinhe quem vem para jantar (Guess Who's Coming to Dinner, 1967), de Stanley Kramer

No dia 6 de julho, o cinema do IMS Rio exibe, às 17h, Corra!, de Jordan Peele, e, às 19h, Adivinhe quem vem para jantar, de Stanley Kramer. Após a sessão do filme de Kramer, haverá um debate com o crítico Juliano Gomes, da revista Cinética. Os filmes de David Lynch serão exibidos nos dias 15, 22 e 23 de julho.

Daniel Kaluuya e Allison Williams: Corra! (Guet Out, 2017), de Jordan Peele

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SESSÃO CINÉTICA: TOCAIA NO ASFALTO

DISSIDÊNCIAS DO PODER Fabian Cantieri

No Brasil as coisas mudam, mudam, até que... continuam no lugar. Parece que descobrimos isso ontem, enquanto repensávamos nosso ódio exclusivo à classe política com aquela pequena câmera amadora, num plongée com ponto de fuga “errado”, a filmar Marcelo Odebrecht em mais uma delação premiada – raiva canalizada que estremeceu em definitivo com o grande golpe do áudio de Joesley Batista “para cima do Brasil”. Mas, em 1962, Tocaia no asfalto já demonstrava que “a chaga da corrupção” não passa de um pacto e, como todo “grande acordão”, para ser estabelecido, é preciso haver múltiplos lados contribuintes. O coronelismo fantasmático do país, filmado em plena frontalidade por Roberto Pires e (re)corporificado hoje em frenesi pelas investigações da operação Lava Jato, nunca foi apenas mais um termo para apontar a fraude eleitoral, mas um brasileirismo que indica as assombradas engrenagens do funcionamento político do país. Tudo já está lá no filme de Pires: os símbolos mudam de roupagem – sai coronel, entra a figura do empresário –, mas em essência o movimento do poder é o mesmo. Pires não é nenhum visionário, mas um grande encenador e inventor. Inventou o cinema baiano, como dizia Glauber, com Redenção (1958), primeiro longametragem do estado; inventou uma lente anamórfica, o Igluscope, para poder filmar como os americanos em Cinemascope; e reinventava o tempo todo novas soluções de decupagem, com um domínio rítmico impressionante. Basta a primeira cena de Tocaia no asfalto para enxergar seu talento para narrar. Dos faróis que cortam o

Na quinta-feira, dia 20, às 19h30, o cinema do IMS Rio exibe Tocaia no asfalto, de Roberto Pires, em cópia 35 mm restaurada. Após a sessão, haverá um debate com os críticos da revista Cinética, disponível em: revistacinetica.com.br

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breu torrencial, um close de uma boca empunhando um cigarro displicentemente à la Jean-Paul Belmondo. O zoom out revela um homem com um chapéu de gângster no banco do carona, e o plano seguinte – sua feição frontal pelo lado de fora do carro encoberto pela caudalosa chuva – desenha uma atmosfera noir. Saindo do caminhão, conhecemos o boteco por um over the shoulder de nosso protagonista, que já entra acendendo o cigarro do algoz de seu irmão. O breve diálogo de Rufino (Agildo Ribeiro) com seu antagonista, o teste da arma que o cabra diz querer comprar, com direito a uma gag de um figurante pedindo para Rufino “não errar a mira”, instauram não só a expectativa de uma morte anunciada, mas um clima arrebatador, que nos remete às aberturas cheias de energia dos thrillers de Samuel Fuller. Esta é, talvez, uma das mais notáveis aberturas do cinema brasileiro, comparável à emblemática sequência inicial de O beijo amargo, que entraria em cartaz dois anos depois. Tocaia no asfalto é um filme de vingança, que aparentemente acaba na primeira cena, mas, no caso, o prato que se come requentado nunca deixou de ter um tempero picante. Depois dos créditos, seguimos Rufino, que, “sem saber fazer outra coisa da vida”, vira pistoleiro de aluguel. A ele, é encomendada a morte do coronel Pinto Borges, candidato a governador da Bahia, a mando do coronel Domingos, que quer se vingar da morte de Sebastião, adversário político de Borges, que também morre por retaliação. Se num filme como Abril despedaçado (2001), de Walter Salles, o ciclo de vendeta se mostra como uma rixa familiar enraizada no despropósito (porque tudo acaba se tornando pequeno frente à morte), em Tocaia, a vingança é apenas uma banal prodigalidade política. Ao fim, o assassinato nem era mais necessário, pois, na esfera pública, o adversário de hoje é o comparsa de amanhã, mas Rufino trata de consumá-lo mesmo assim, porque já tinha rezado por sua morte (o sebastianismo do personagem, aliás, é marcante também quando reluta em cumprir seu trabalho ao descobrir que uma igreja fica 100 anos fechada em caso de morte dentro dela). Consegue realizar a promessa, mas, claro, ela tem volta, e ele não completa a viagem no trem de fuga do inferno. Enquanto no coronelismo de O som ao redor (2012), de Kleber Mendonça Filho, a trama se desfaz na sede de vingança saciada, mas permanece na violência “fora de quadro” daquela classe média que “bombardeia” o bairro, em Tocaia no asfalto, a mensagem é mais direta: pobre não tem happy end. Já estava condenado a ter que matar para sobreviver, e da sobrevivência acabaria por morrer. Essa é sua cruz. Se, dentro dessa grande montagem paralela sobre a luta de classes, de um lado temos um marginalizado proletário assassino, do outro lado, da alta casta da sociedade, há um contraponto: o careta e idealista deputado Ciro (Geraldo del Rey). No enterro do coronel Pinto Borges, sua filha Lucy (Angela Bonatti) pede para Ciro,

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seu namorado e inimigo declarado de Borges, abandonar a política. O deputado então responde: “O que estou fazendo não é meu, faz parte de um movimento de consciência que sacode a nação. Mesmo que eu morra, a ideia continua. Acabar com a chaga da corrupção política.” Esse “movimento de consciência que sacode a nação” hoje, como em um velho novo ciclo a reboque de Sergio Moro, já era criticado por Glauber nos anos 1960: reduzir o problema político à corrupção é não enxergar o verdadeiro problema de classes contra classes. Glauber problematiza o filme por conta deste ser o único “personagem consciente” do enredo, mas, se atentarmos para as palavras finais de Antonio Luiz Sampaio (Antonio Pitanga), fica claro o ceticismo quanto à real possibilidade da existência de uma figura salvadora. Atualmente o que não faltam são salvadores da pátria. A revisão de Tocaia no asfalto em 2017 nos dá um curto-circuito: tudo hoje é tão inesperadamente avassalador quanto previsivelmente enraizado nas mesmas barbas de nossa autarquia oligárquica. A descrença de Roberto Pires parece menos um pueril niilismo do que um prognóstico de antemão: nosso problema político é estrutural, e não somente personalístico. Para além de um de nossos maiores filmes policiais e um marco predecessor do Cinema Novo, ainda temos que arcar com este eco aflitivo: a entrada de um ficha limpa na esfera pública é praticamente uma troca de seis por meia dúzia, pois, no fundo, ele nada, nada e morre na praia. Existe um lodo mais profundo que o pântano de sujeira e este precisa ser fervorosamente escavado.

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DUPLO BOWIE Este mês, a Sala José Carlos Avellar apresenta dois filmes estrelados pelo ator, cantor e compositor David Bowie.

O alienígena Thomas Jerome Newton em O homem que caiu na Terra

Em O homem que caiu na Terra (The Man Who Fell to Earth, 1976), ficção científica do diretor Nicolas Roeg, Bowie estreia como ator de longa-metragem como o alienígena humanoide Thomas Jerome Newton, que chega à Terra com a missão de levar água ao seu distante planeta natal, que vive uma seca catastrófica. Em Twin Peaks: Os últimos dias de Laura Palmer (Twin Peaks: Fire Walk with Me, 1992), de David Lynch, Bowie é o agente do FBI desaparecido Phillip Jeffries.

Phillip Jeffries, agente do FBI em Twin Peaks: Os últimos dias de Laura Palmer

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Shadow World (2016), de Johan Grimonprez

RETROSPECTIVA

JOHAN GRIMONPREZ

8 E 9 DE JULHO

A certa altura de dial H-I-S-T-O-R-Y, Leila Khaled, militante da Frente Popular pela Libertação da Palestina e responsável por sequestros de aviões em 1969 e em 1970, nos é apresentada ao som disco de Chaka Khan. "I'm every woman, it's all in me / Anything you want done, baby, I'll do it naturally" [em tradução livre: Sou toda mulher, está tudo em mim / qualquer coisa que você quiser, eu farei naturalmente]. A sobreposição de significados é uma característica marcante da obra do artista visual e realizador belga Johan Grimonprez (1962). Seus filmes trabalham com imagens de arquivo dos mais variados tipos: comerciais, cinejornais soviéticos, filmes caseiros, debates entre Richard Nixon e Nikita Kruschev, apresentações de Alfred Hitchcock na televisão. Se em uma primeira instância seriam incongruentes, a colisão dessas imagens tal como propõe Grimonprez sublinha a ironia sem esvaziar a dimensão política do material de arquivo e dos períodos históricos abordados, que vão desde a Guerra Fria até os dias atuais. O cinema do IMS Rio apresenta, nos dias 8 e 9 de julho, quatro filmes de Grimonprez: dial H-I-S-T-O-R-Y, Double Take, Shadow World e Blue Orchids. Em uma feliz coincidência, este programa é apresentado no mesmo mês que o festival Doku.Arts - que há alguns anos exibiu, nesta mesma sala, Double Take. 8

Esta pequena retrospectiva dos filmes de Johan Grimonprez é realizada com o apoio cultural do Consulado Geral da Bélgica no Rio de Janeiro.


dial H-I-S-T-O-R-Y [disque H-I-S-T-Ó-R-I-A] de Johan Grimonprez (Bélgica, França, 1997. 68'. Exibição em cópia digital)

Em dial H-I-S-T-O-R-Y, Johan Grimonprez discorre sobre uma série de sequestros de avião a partir da década de 1960 até meados dos anos 1990. Sem banalizar a dimensão política desses eventos, Grimonprez mescla de maneira cáustica imagens dos sequestros com outras imagens de arquivo, muitas delas banais, incluindo lojas de fast food, discotecas e filmes caseiros. A trilha sonora elaborada por David Shea conduz esta "montanha-russa através da história", melhor descrita nas palavras de um executivo da Pepsi sequestrado como: "Percorrer uma gama de várias emoções: de surpresa a choque, medo, alegria, risos e, mais uma vez, medo".

DOUBLE TAKE [OLHE NOVAMENTE] de Johan Grimonprez (Alemanha, Bélgica, EUA, Holanda, 2009. 80’. Exibição em cópia digital)

Em meio a discussões entre Richard Nixon e Nikita Kruschev, propagandas de café instantâneo e cinejornais dos empreendimentos soviéticos no espaço na década de 1950, Alfred Hitchcock se torna uma espécie de professor de história paranoico, envolvido em uma intriga imaginária com seu doppelganger durante o período da Guerra Fria. Neste filme-ensaio, Grimonprez trabalha novamente com materiais de arquivo, em uma complexa mistura de imagens documentais e ficcionais, uma espécie de crônica da transformação do medo em commodity.

SHADOW WORLD [MUNDO DAS SOMBRAS] de Johan Grimonprez (Bélgica, Dinamarca, EUA, 2016. 94’. Exibição em DCP)

Shadow World analisa a influência do comércio de armas sobre a política econômica de alguns dos maiores países do mundo, em uma estrutura que envolve os governos, institutos de pesquisa e serviços de inteligência. Livremente baseado no livro de Andrew Feinstein The Shadow World: Inside the Global Arms Trade [O mundo das sombras, por dentro do tráfico internacional de armas, em tradução livre], o filme reúne − como de hábito na obra de Grimonprez − imagens de arquivo, que em conjunto com depoimento de especialistas (jornalistas, ativistas e políticos proeminentes, entre outros), identificam suborno e corrupção como fatores determinantes para a manutenção de um estado de guerra permanente em diversos países.

BLUE ORCHIDS [ORQUÍDEAS AZUIS] de Johan Grimonprez (Bélgica, 2017. 50’. Exibição em cópia digital)

As histórias de Chris Hedges, ex-correspondente de guerra do New York Times, e Riccardo Privitera, exnegociante de armas e equipamentos da Talisman Europe Ltd. (empresa atualmente liquidada), fornecem um contexto incomum e perturbador para revelações acerca da indústria da guerra. Ao entrevistar Privitera e Hedges para Shadow World, ficou claro para Grimonprez que os dois homens estavam descrevendo a mesma angústia a partir de perspectivas paradoxais. Fazendo uso de suas histórias pessoais e políticas, o filme retrata o comércio de armas como um sintoma de uma doença profunda: a ganância.

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ESTREIA EXCLUSIVA

GRITOS E SUSSURROS

(Viskningar och rop) de Ingmar Bergman (Suécia, 1972. 91’. Exibição em DCP, cópia restaurada em 2k) A PARTIR DE 13 DE JULHO

Roteiro: Ingmar Bergman. Fotografia: Sven Nykvist. Com Harriet Andersson, Ingrid Thulin, Liv Ullmann, Kari Sylwan e Erland Josephson

Numa casa de campo, Agnes recebe, à beira da morte, os cuidados de suas duas irmãs e de uma dedicada empregada da família. Neste ambiente claustrofóbico, o filme acompanha as imaginações, lembranças e frustrações dessas quatro mulheres. Por ocasião dos 99 anos do nascimento do cineasta e dramaturgo Ingmar Bergman, completados em 14 de julho, o cinema do IMS Rio exibe uma cópia restaurada em DCP de Gritos e sussurros. Além de ter recebido o Oscar de Melhor Fotografia, em 1973, o filme foi indicado nas categorias melhor Filme, Direção, Roteiro Original e Figurino. Em texto publicado originalmente no Jornal do Brasil, em 2 de novembro de 1974, e posteriormente republicado em seu blog, escreverCinema, o crítico José Carlos Avellar escreveu: “Na família que sofre em Gritos e sussurros, o que a gente vê não é bem uma família, mas uma representação, alegórica, fantástica, como aquela de O sétimo selo, onde o cavaleiro Antonius Block joga xadrez com a morte. E uma das ideias de base do filme de agora parece exatamente vir, em particular, de um diálogo entre o cavaleiro e a morte, daquele realizado 15 anos antes: 'A vida – diz Antonius Block – é só horror e humilhação. Ninguém pode viver em face da morte sabendo que tudo é sem sentido.' 'A maior parte das pessoas – responde a morte – jamais pensa a respeito da morte ou da futilidade da vida.' 'Mas um dia – continua o cavaleiro –, quando nos encontramos diante do último momento da vida, temos de ficar de pé e olhar para esta escuridão.' A história de Gritos e sussurros tem exatamente esta intenção: confrontar as pessoas com 'o horror e a humilhação da vida' – coisa tão sem sentido quanto um jogo de xadrez com a morte, tão sem sentido quanto um jogo em que não podemos nada além de adiar a derrota. A história de Gritos e sussurros pretende realizar um confronto semelhante àquele proposto pelo pintor de O sétimo selo: 'Por que pintar coisas aparentemente sem sentido? Serve para ajudar as pessoas a pensar que irão morrer. Não é de todo má ideia assustar alguém de quando em quando. Assustadas as pessoas pensam. E quando pensam ficam um pouco mais assustadas.'

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Para compreender melhor o que Bergman vem procurando dizer em seus filmes, a cena da oração do padre em Gritos e sussurros é um bom começo. Pelo significado dos gestos filmados, pelo significado da maneira de filmar. Se o espectador se concentra no que os personagens fazem dentro do cenário, recebe apenas a impressão de que o narrador fala de sua desesperança absoluta, de um beco sem saída. Se o espectador percebe também a imagem que torna visível a ação dos personagens, percebe um outro sentimento que vai além do sofrimento de Agnes, de Karin, de Maria, de Ana e do padre. Percebe o narrador por trás da situação narrada, percebe que ele, como o pintor de O sétimo selo, procura assustar as pessoas para que elas pensem – como Agnes anota em seu diário – que viver vale a pena mesmo que se consiga viver de verdade pouco mais que um instante num jardim, num balanço, numa tarde de sol.” [Texto na íntegra em: https://goo.gl/YCHXtf ]


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TERÇA

QUARTA

QUINTA 6 15h00 Na vertical 17h00 Corra! 19h00 Adivinhe quem vem para jantar seguido de debate com Juliano Gomes (Cinética)

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14h00 Na vertical

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14h00 Na vertical

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14h30 Gritos e sussurros

16h00 Na vertical

16h00 Na vertical

16h30 O futuro perfeito

18h00 Na vertical

18h00 Na vertical

18h00 Gritos e sussurros

20h00 Corra!

20h00 Corra!

20h00 Gritos e sussurros

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14h30 Gritos e sussurros

14h30 Gritos e sussurros

16h30 O futuro perfeito

16h30 O futuro perfeito

18h00 Gritos e sussurros

18h00 Gritos e sussurros

20h00 Gritos e sussurros

20h00 Gritos e sussurros

14h00 Gritos e sussurros 16h00 Fala comigo

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JULHO

2017

18h00 O futuro perfeito

14h00 Gritos e sussurros

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14h00 Gritos e sussurros

16h00 O futuro perfeito

16h00 O futuro perfeito

18h00 Fala comigo

18h00 Fala comigo

20h00 Gritos e sussurros

20h00 Gritos e sussurros

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agosto 14h00 Gritos e sussurros

2

agosto

14h00 Gritos e sussurros

16h00 Fala comigo

16h00 O futuro perfeito

18h00 O futuro perfeito

18h00 Fala comigo 20h00 Gritos e sussurros

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Sessão Cinética 19h30 Tocaia no asfalto seguido de debate com os críticos da revista Cinética

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14h00 Gritos e sussurros Doku.Arts 16h00 Notas sobre a cegueira 18h00 Inocência das memórias 20h00 Paul Sharits


SEXTA

SÁBADO 8

7 14h00 Na vertical

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11h30 O homem que caiu na Terra

14h00 Na vertical

14h00 Na vertical

16h00 Na vertical

Johan Grimonprez 16h00 Double Take

Johan Grimonprez 16h00 dial H-I-S-T-O-R-Y

18h00 Na vertical

17h30 Blue Orchids

17h15 Shadow World

20h00 Corra!

18h30 dial H-I-S-T-O-R-Y

19h00 Blue Orchids

20h00 Shadow World

20h00 Double Take

14h30 Gritos e sussurros

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16h30 O futuro perfeito

11h30 O homem que caiu na Terra

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11h30 O homem que caiu na Terra

14h00 O futuro perfeito

14h30 Gritos e sussurros

15h30 Gritos e sussurros

16h30 O futuro perfeito

18h00 Gritos e sussurros

17h30 Eraserhead

18h00 Gritos e sussurros

20h00 Gritos e sussurros

19h30 Twin Peaks: Os últimos dias de Laura Palmer

20h00 Gritos e sussurros

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22 14h00 Gritos e sussurros 16h00 O futuro perfeito 18h00 Fala comigo 20h00 Gritos e sussurros

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11h30 O homem que caiu na Terra

DOMINGO

14h00 Gritos e sussurros Doku.Arts 16h00 A toca do lobo 19h00 Ella Maillart − Dupla jornada 20h00 Deus ausente

23 11h30 Corra!

11h30 Corra!

14h00 Gritos e sussurros

14h00 O futuro perfeito

16h00 Corra!

15h30 Fala comigo

18h00 Adivinhe quem vem para jantar

17h30 Gritos e sussurros 19h30 Twin Peaks: Os últimos dias de Laura Palmer

20h00 Eraserhead

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11h30 Corra!

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11h30 Corra!

Doku.Arts 14h30 A Grande Muralha

Doku.Arts 14h30 Deus ausente

16h00 Paul Sharits

16h00 A Grande Muralha

18h00 Notas sobre a cegueira

18h00 A toca do lobo

20h00 Inocência das memórias

20h00 Ella Maillart − Dupla jornada

Programa sujeito a alterações. Confira a programação completa do Instituto Moreira Salles em cinema.ims.com.br, em nossas redes sociais ou pelo telefone 3284-7400

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ADIVINHE QUEM VEM PARA JANTAR (Guess Who’s Coming to Dinner) de Stanley Kramer (EUA, 1967. 108’. Exibição em DCP)

6 E 22 DE JULHO No dia 6, a sessão das 19h30 será seguida de debate com o crítico Juliano Gomes Roteiro: William Rose. Fotografia: Sam Leavitt. Som: Charles J. Rice, Robert Martin. Montagem: Robert C. Jones. Música: De Vol.

Nos anos 1960, em uma família norte-americana branca de classe média alta, a notícia de que a filha se casará com um renomado médico negro se torna um motivo de perturbação. O noivo, dr. John Prentice, afirma que só se casará se obtiver o total consentimento dos pais da menina. O filme de Stanley Kramer foi vencedor do Oscar, em 1968, nas categorias Melhor Atriz (Katharine Hepburn) e Melhor Roteiro Original.

CORRA!

(Get Out) de Jordan Peele (EUA, 2017. 104’. Exibição em DCP) DE 6 A 30 DE JULHO

Roteiro: Jordan Peele. Fotografia: Toby Oliver ACS. Montagem: Gregory Plotkin. Com Daniel Kaluuya, Allison Williams, Catherine Keener, Bradley Whitford, Marcus Henderson, Betty Gabriel.

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Chris, um jovem fotógrafo afro-americano, visita a propriedade da família de sua namorada. A princípio, Chris vê o comportamento exageradamente hospitaleiro da família, branca e rica, como uma tentativa desajeitada de lidar com o relacionamento da filha. Mas, no decorrer do fim de semana, ele será confrontado por uma série de descobertas perturbadoras. Escreve Juliano Gomes no texto "Vaga carne, ou, a paz veste branco", publicado na revista Cinética: “O que faz dele um marco na história do cinema americano, e também um paradigma sobre a experiência negra nos países colonizados, é sua incomum habilidade de organizar o passado, uma porção determinada de já conhecido, e produzir daí algo talvez sem paralelos. Mais do que trabalhar o já visto, o mérito do longa de estreia de Jordan Peele é melhor descrito pela perspectiva singular que consegue, com muita eficiência, aliar presente e passado. Get Out – no original – vai além da tarefa alegórica e de fato narra duas histórias ao mesmo tempo, para revelá-las uma só: na medida em que seu filme é um estudo sobre a sobrevivência da escravidão na América neoliberal pós-2008, ele estabelece com a premissa da estrutura dramática do sobrevivente um insuspeito paralelo entre moldura do drama e processo histórico subjetivo.” [Texto na íntegra em: https://goo.gl/rRhB2s]


NA VERTICAL

(Rester vertical) de Alain Guiraudie (França, 2016. 100’. Exibição em DCP) ATÉ 12 DE JULHO

Roteiro: Alain Guiraudie. Fotografia: Claire Mathon. Montagem: JeanChristophe Hym. Música: Thibault Deboaisne. Com Damien Bonnard, India Hair, Christian Bouillette.

"A revisão de Hitchcock de Um estranho no lago, com um erotismo ainda incomum hoje na tela entre predador e presas, nos leva ao filme seguinte de Alain Guiraudie, Na vertical, no qual um impasse tenso entre predadores e presas sugere ilustração rica de um mundo encurralado, onde equilibramos dignidade, cidadania e senso de sobrevivência, tentando não dar um pio sequer", comenta Kleber Mendonça Filho. "Bem menos organizado do que seu thriller anterior, esse novo filme de Guiraudie lembra uma tela que vai sendo preenchida sob o capricho instintivo do realizador. Ele conta a historia de Leo (Damien Bonnard), um cineasta que isola-se no interior da França para escrever um roteiro novo. Ele envolve-se com uma fazendeira, Marie (India Hair), que divide a fazenda com os filhos e seu pai. O tempo é comprimido por Guiraudie, homens passam pela vida de Leo, as cobranças da vida prática entram em descompasso com a experiência natural de estar distante. Imagens de sexualidade oferecem marcação forte de realidade, as imagens têm força. Há animais em cena e um desfecho simbólico de efeito prolongado." Na vertical fez parte da seleção oficial do Festival de Cannes, em 2016.

O HOMEM QUE CAIU NA TERRA (The Man Who Fell to Earth) de Nicolas Roeg (Reino Unido, 1976. 139’. Exibição em DCP) 8, 9, 15 E 16 DE JULHO, ÀS 11h30 Roteiro: Paul Mayersberg. Fotografia: Anthony Richmond. Montagem: Graeme Clifford. Música: John Phillips. Com David Bowie, Rip Torn, Candy Clark, Buck Henry, Bernie Casey, Jackson D. Kane, Rick Riccardo, Tony Mascia.

Na ficção científica do diretor Nicolas Roeg, David Bowie é o alienígena humanoide Thomas Jerome Newton, em sua estreia como ator em longa-metragem. Newton chega à Terra com a missão de levar água ao seu distante planeta natal, que vive uma seca catastrófica. Usando a tecnologia avançada de seu planeta para patentear muitas invenções na Terra, e auxiliado pelo advogado Oliver Farnsworth (Buck Henry), Newton fica milionário como o líder de um conglomerado tecnológico. Sobre o trabalho com David Bowie, conta o diretor Nicolas Roeg em entrevista a David Fear: “Durante as primeiras semanas de filmagem, tinham algumas pessoas do estúdio à espreita – mais para conhecer David Bowie do que por qualquer outra razão, eu imaginei –, e eles expressaram algumas reservas. ‘Ele parece um pouco... estranho, você não acha?’ E eu respondia: ‘O personagem é um alienígena, como ele deveria atuar? Como se fosse Gary Cooper?’. Não é que David não fosse amigável – nós jantamos juntos várias vezes, e ele guardava uma biblioteca no seu trailer, que estava cheia de livros sobre todos os assuntos imagináveis – mas ele se mantinha reservado até o ponto em que as pessoas começavam a pensar nele como um ‘outro’ misterioso, entende? Boa parte dessa performance é apenas Bowie sendo ele mesmo – e é isso que é tão brilhante.” [Texto na íntegra (em inglês) em: https://goo.gl/QTW295 ]

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ERASERHEAD

de David Lynch (EUA, 1977. 89’. Exibição em DCP, cópia restaurada em 4k ) 15 E 22 DE JULHO

Roteiro: David Lynch. Fotografia e iluminação: Frederick Elmes, Herbert Cardwell. Som: Alan R. Splet.

Henry Spencer vive em uma desesperadora paisagem industrial. Quando sua namorada, Mary, conta que está grávida, ele é obrigado a jantar com sua estranha família. Ao nascer, no entanto, o bebê não se parece em nada com um ser humano, mas com uma criatura deformada que lembra um lagarto. Eraserhead é o primeiro longa-metragem de David Lynch.

TWIN PEAKS: OS ÚLTIMOS DIAS DE LAURA PALMER (Twin Peaks: Fire Walk with Me) de David Lynch (EUA, 1992. 135’. Exibição em DCP, cópia restaurada em 4k ) 15 E 23 DE JULHO Roteiro: David Lynch, Robert Engels. Fotografia: Ron Garcia. Montagem: Mary Sweeney. Com Sheryl Lee, Ray Wise, David Bowie, Moira Kelly, Chris Isaak, Harry Dean Stanton.

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Uma cidadezinha escondida em um vale. População: 51.201 pessoas. Uma morte misteriosa e um inquérito farsesco. Um diário mantido em segredo, um pacto, um duplo malévolo e um anel. Sonhos, alucinações, presságios. Histórias de amor interrompidas, uma cantora que destila lembranças de um tempo passado. Uma sala vermelha, linhas brancas e uma adolescente que abre mão da própria vida. Esse é o mundo de Twin Peaks: Os últimos dias de Laura Palmer. O filme de David Lynch teve sua estreia no Festival de Cannes, em 1992, e se detém no que teria acontecido imediatamente antes dos eventos narrados em Twin Peaks (1990), série também dirigida por Lynch. Interrompida em 1991, a série ganhou este ano uma nova temporada.


O FUTURO PERFEITO (El futuro perfecto) de Nele Wohlatz (Argentina, 2016. 65’. Exibição em DCP) A PARTIR DE 13 DE JULHO Fotografia: Roman Kasseroller, Agustina San Martín. Som: Nahuel Palenque. Montagem: Ana Godoy. Com Xiaobin Zhang.

Xiaobin tem 17 anos e não fala sequer uma palavra de espanhol quando chega à Argentina para encontrar sua família, que cuida de uma lavanderia e vive completamente isolada dos argentinos e da vida local. Alguns dias depois, ela ganha o nome de Beatriz, um trabalho em um supermercado chinês e consegue guardar dinheiro para estudar castelhano. Nas ruas, ela testa o novo idioma e conhece o indiano Vijay.

FALA COMIGO de Felipe Sholl (Brasil, 2016. 92’. Exibição em DCP) A PARTIR DE 20 DE JULHO Roteiro: Felipe Sholl. Fotografia: Leo Bittencourt. Montagem: Luisa Marques.

Diogo tem 17 anos e gosta de ligar para as pacientes de sua mãe psicanalista. Assim conhece Ângela, uma mulher de 43 anos que acabou de ser abandonada pelo marido. Os dois se apaixonam e precisarão encontrar uma maneira de permanecer juntos.

SESSÃO CINÉTICA

TOCAIA NO ASFALTO

de Roberto Pires (Brasil, 1962. 100’. Exibição de cópia 35 mm restaurada )

Roteiro e montagem: Roberto Pires. Fotografia: Hélio Silva. Produção executiva: Glauber Rocha. Assistência de direção: Orlando Senna. Som: Walter Webb.

20 DE JULHO, ÀS 19h30 Sessão seguida de debate com os críticos da revista Cinética

Rufino, um matador de aluguel, é mandado para a Bahia, onde deve assassinar o coronel Pinto Borges, a mando do coronel Domingos. Na Bahia, Borges dá uma festa para lançar sua candidatura ao governo do Estado. Mas, além de estar marcado para morrer, ele agora também está sendo investigado pelos crimes que cometeu.

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Ella Maillart - Dupla jornada (2015), de Mariann Lewinsky Sträuli e Antonio Bigini

DOKU.ARTS DE 27 A 30 DE JULHO

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Desde 2013, o cinema do IMS-RJ apresenta uma seleção de filmes em parceria com o festival alemão Doku.Arts (www.doku-arts.de), dirigido por Andreas Lewin. Nesta terceira edição, serão apresentados sete filmes selecionados por Lewin (alguns deles inéditos no país) que têm em comum um caráter ensaístico. No discurso de abertura do festival em 2016, Lewin explica: “Como vocês podem ver pelo programa, filmes ensaísticos podem ser bastante variados. No entanto, todos eles têm em comum uma certa insatisfação diante das imagens enquanto resposta ou pontos finais. Pelo contrário, as imagens são entendidas como gestos que apontam em direção a uma essência ao mesmo tempo em que divergem dela e, portanto, cada imagem termina com um ponto de interrogação. Mas insatisfação talvez não seja a palavra correta aqui − o ensaio, especialmente em sua forma cinematográfica, não tem nada de agonizante, nada de inibidor; pelo contrário, possui um caráter de busca, brincalhão, e talvez possua o desejo de um olhar particular: o olhar de alguém que busca por caminhos, por pistas.”


DOKU.ARTS

ELLA MAILLART - DUPLA JORNADA (Ella Maillart – Double Journey) de Mariann Lewinsky Sträuli e Antonio Bigini (Suiça, Itália, 2015. 40’. Exibição em DCP) Fotografia: Ella Maillart. Voz: Irène Jacob. Som: Diego Schiavo. Montagem: Antonio Bigini. Música: Rina Ketty.

Verão de 1939. A fotógrafa Ella Maillart e a escritora Annemarie Schwarzenbach deixam a Europa em direção à Ásia. Na descrição do crítico italiano Duccio Ricciardelli, o filme é “uma história de uma amizade especial, uma fuga da Europa, da Genebra de 1939, que já apresentavam os primeiros sinais do que se tornaria depois o pesadelo nazista. Essas duas mulheres intelectuais e rebeldes se atiram em uma aventura. Uma busca pelo exótico, pelo desconhecido, pelo distante. Tudo que pode distanciar o Oriente do Ocidente será difícil, tão forte é o espectro do Mal iminente. Para a diretora Mariann Lewinsky, a obra “tem sua origem em um projeto anterior, dedicado ao restauro do material em 16 mm filmado por Maillart. Como apresentar esse material problemático, praticamente sem edição, precioso, mas mudo? A riqueza desse material de arquivo inédito sugeria uma edição historicamente crítica, mas a beleza poderosa e expressiva dos textos e das imagens impôs um caminho distinto: um filme.” DOKU.ARTS

A GRANDE MURALHA (The Great Wall) de Tadhg O’Sullivan (Irlanda, 2015. 74’. Exibição em DCP.)

Fotografia: Feargal Ward. Produção, som e montagem: Tadhg O'Sullivan. Música: Akira Rabelais, Kreng, Philip Jeck.

"A Muralha da China foi terminada no seu trecho mais setentrional. A construção avançou do sudeste e do sudoeste e ali se uniu". Assim começa o conto “Durante a construção da Muralha da China”, de Franz Kafka. A Grande Muralha, de Tadhg O’Sullivan, começa nas militarizadas fronteiras do sudeste europeu. Tomando o texto de Kafka como narração, o filme viaja por 11 países para investigar as muitas muralhas que hoje determinam o cenário político da União Europeia. Desde as paredes literais – de concreto, arame farpado, com vigilância eletrônica – construídas para repelir migrantes e refugiados, às paredes simbólicas, representadas pelos enormes prédios de vidro de Londres e Bruxelas.

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DOKU.ARTS

PAUL SHARITS

de François Miron (Canadá, 2015. 85'. Exibição em DCP)

Fotografia, produção e montagem: François Miron. Pesquisa e coordenação de produção: Jean-François Martin. Música original e desenho de som: Félix-Antoine Morin. Pós-produção: MarieChristine Guité.

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Figura emblemática do cinema de avant-garde dos anos 1960-1970, Paul Sharits foi um pioneiro do cinema estrutural, movimento cinematográfico que explorou as dimensões formais e as propriedades físicas do filme em película. Sharits incansavelmente persistiu na busca pela desconstrução completa dos parâmetros técnicos habituais da filmagem e da projeção em película 16 mm, através da criação de instalações visuais com múltiplas projeções, fotogramas congelados capturados a partir de superfícies de acrílico e partituras coloridas a tinta para filmes abstratos. Realizado por François Miron, este primeiro longa-metragem sobre Sharits é, por vezes, uma exploração sensível de sua obra e também o relato de uma vida conturbada, contada por cineastas, pesquisadores e membros de sua família.


DOKU.ARTS

A TOCA DO LOBO de Catarina Mourão (Portugal, 2015. 102’. Exibição em DCP)

Fotografia: João Ribeiro, Catarina Mourão. Som: Armanda Carvalho. Montagem: Pedro Duarte, Catarina Mourão. Música: Bruno Pernadas Com Catarina Mourão, Maria Rosa Figueiredo.

O filme aborda a história familiar da diretora Catarina Mourão, que se interliga à história de Portugal e da ditadura salazarista, em um ensaio em que ela redescobre a vida de seu avô, o escritor português Tomaz de Azevedo. Nas palavras da diretora: “Todas as famílias guardam segredos. A minha não é exceção. Primeiro descubro um velho filme de 9,5 mm, depois redescubro os velhos álbuns de infância da minha mãe, onde as fotografias me parecem todas ilusões ópticas. Mais tarde, o meu avô, que nunca conheci, revela-se e fala comigo num estranho programa de televisão. Entre passado e presente, tento dar um sentido àquilo que vou descobrindo e aos silêncios e portas fechados que continuo a defrontar.” DOKU.ARTS

DEUS AUSENTE

(Absent God) de Yoram Ron (Israel, França, Bélgica, 2014. 68’. Exibição em DCP)

Fotografia: Yannig Willmann. Montagem: Nadav Harel. Desenho de som: Rotem Dror. Música original: Didi Erez.

Em sua obra, o filósofo Emmanuel Levinas uniu a experiência do Holocausto, a sabedoria do Talmude e a filosofia ocidental contemporânea. O filme apresenta a noção desenvolvida por Levinas de “ética enquanto óptica”, que estabelece uma ligação entre a proibição bíblica às imagens, uma análise acerca do rosto humano e as representações visuais modernas de moralidade. Em seu primeiro documentário, Yoram Ron inclui entrevistas com Levinas, material de arquivo desde o início do século XX até os dias atuais e entrevistas com filósofos e artistas proeminentes, como JeanLuc Marion, Luc Dardenne, Catherine Chalier, Daniel Epstein, Youssef Seddik e Hagi Kenaan.

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DOKU.ARTS

INOCÊNCIA DAS MEMÓRIAS (Innocence of Memories) de Grant Gee (Reino Unido, Irlanda, Itália, 2015. 95'. Exibição em DCP)

Fotografia: Grant Gee. Narração original escrita e falada por: Orhan Pamuk. Montagem e desenho de som: Jerry Chater. Música: Leyland Kirby. Com Pandora Colin, Mehmet Ergen, Ara Güler, Süleyman Fidaye, Dursun Saka, Türkan Şoray, Alparslan Bulut.

“Eu sabia que Orhan Pamuk tinha imaginado um lugar chamado ‘Museu da Inocência’ e publicado em 2008 um grande romance de mesmo nome”, conta o diretor Grant Gee. “O que eu não sabia era que, dois meses depois da minha primeira visita a Istambul, em 2012, Orhan inauguraria o verdadeiro ‘Museu da Inocência’, que imediatamente se consagrou como parte do itinerário cultural da cidade.” No livro de Pamuk, vencedor do Nobel de Literatura em 2006, que também se passa em Istambul, um homem organiza um museu como lembrança de um caso de amor vivido 30 anos antes. No museu de Pamuk, são reunidos itens que os personagens do romance vestiam, viam, ouviam, imaginavam, colecionavam. Nas palavras de Grant Gee, trata-se de “um museu real que é uma ficção”. “Em Inocência das memórias” – completa o diretor –, “o trabalho foi elaborar uma forma que oscilasse entre o documentário e a ficção, um filme B noir e um melodrama de derrarmar lágrimas, uma sinfonia da cidade e um retrato do artista. Tudo isso no curso de uma noite fictícia em Istambul." DOKU.ARTS

NOTAS SOBRE A CEGUEIRA (Notes on Blindness) de Peter Middleton e James Spinney (Reino Unido, França, 2016. 87’. Exibição em DCP)

Roteiro: Peter Middleton, James Spinney. Fotografia: Gerry Floyd. Montagem: Julian Quantrill.

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Na adolescência, o teólogo John Hull (1935) apresenta os primeiros sinais de catarata. Para ele, a experiência de se tornar cego significa uma gradual redução de imaginação visual e memória, até a perda total da visão em 1983. “Cegueira profunda” é o nome que ele dá a esta condição, na qual a própria ideia de enxergar vai gradualmente se dissolvendo. É o consequente isolamento social que força Hull a se engajar na transformação dramática em que se encontra. Com um gravador, ele começa a fazer um diário falado que resulta na publicação de seu livro Touching the Rock: An Experience of Blindness [Tocando a pedra: uma experiência de cegueira, em tradução livre], publicado em 1990 e que foi descrito por Oliver Sacks como “uma obra-prima, o mais preciso, profundo e belo relato da cegueira que eu já li”.


DVD | IMS PRÓXIMO LANÇAMENTO

Instituto Moreira Salles Rua Marquês de São Vicente, 476. Gávea. Telefone: (21) 3284-7400 WWW.IMS.COM.BR

GREY GARDENS (EUA, 1975)

de Albert Maysles, David Maysles, Ellen Hovde e Muffie Meyer

Aberto ao público de terça a domingo, das 11h00 às 20h00. Guarda-volumes aberto até 20h00. Acesso a portadores de necessidades especiais. Estacionamento gratuito no local.

Com os extras: Faixa comentada por Albert Maysles, Ellen Hovde, Muffie Meyer e Susan Froemke; Entrevista de Albert Maysles a João Moreira Salles; As beales de Grey Gardens (2006), filme de Albert e David Maysles

O programa de julho tem o apoio da Cinemateca do MAM do Rio de Janeiro, do festival Doku.Arts, da Casa de Cinema de Porto Alegre, da revista Cinética, das distribuidoras Vitrine Filmes, Zeta Filmes, FJ Cines, Universal Pictures e do Espaço Itaú de Cinema. A Retrospectiva Johan Grimonprez é realizada com o apoio cultural do Consulado Geral da Bélgica no Rio de Janeiro:

Café, wifi Fundado em 1992, o IMS é uma entidade civil sem fins lucrativos que tem por finalidade exclusiva a promoção e o desenvolvimento de programas culturais. A sede do Rio de Janeiro abriga espaços expositivos, sala de cinema, sala de aula, biblioteca, cafeteria, loja de arte e ateliê infantil. O ims possui também um centro cultural em Poços de Caldas e, a partir do segundo semestre de 2017, contará com uma nova sede em São Paulo. O IMS conta com um acervo de fotografia (mais de 2 milhões de imagens), de música (cerca de 28 mil gravações), de literatura e de artes plásticas, instalados em reservas técnicas para conservação e restauração. Entre as coleções, fotografias de Marc Ferrez, Marcel Gautherot, Augusto Malta, José Medeiros, Thomaz Farkas, David Zingg, Haruo Ohara, Jorge Bodanzky, Maureen Bisilliat e Mário Cravo Neto, desenhos de J. Carlos, Millôr Fernandes e Glauber Rocha, as discotecas de Humberto Franceschi e José Ramos Tinhorão, os arquivos pessoais de Pixinguinha, Ernesto Nazareth, Chiquinha Gonzaga, Elizeth Cardoso, Baden Powell, Hekel Tavares e Mário Reis, e originais dos escritores Ana Cristina Cesar, Rachel de Queiroz, Otto Lara Resende, Clarice Lispector, Paulo Mendes Campos e Carlos Drummond de Andrade. No site do IMS está hospedada a Rádio Batuta, ponto de seleção, entretenimento e análise da música popular brasileira. O ims edita uma revista quadrimestral de ensaios, serrote, uma revista semestral de fotografia, Zum, e uma coleção de DVDs. Superintendente Executivo: Flávio Pinheiro Coordenação do ims-rj : Elizabeth Pessoa Curadoria de cinema: Kleber Mendonça Filho Produção de cinema e DVD: Barbara Alves Rangel Assistência de produção: Thiago Gallego

Sala José Carlos Avellar Ingressos para Na vertical, Corra!, O homem que caiu na Terra, Gritos e sussurros, O futuro perfeito e Fala comigo: terça, quarta e quinta: R$ 22,00 (inteira) e R$ 11,00 (meia) sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 26,00 (inteira) e R$ 13,00 (meia). para as demais sessões: R$ 8,00 (inteira) e R$ 4,00 (meia) Meia-entrada com apresentação de documentos comprobatórios para professores da rede pública municipal, estudantes, menores de 21 anos, maiores de 60 anos, portadores de HIV e aposentados por invalidez. Cliente Itaú: desconto para o titular ao comprar o ingresso com o cartão Itaú (crédito ou débito). Passaporte no valor de R$ 40,00 com validade para 10 sessões das mostras organizadas pelo IMS. Ingressos e senhas sujeitos à lotação da sala. Capacidade da sala: 113 lugares. Ingressos disponíveis também em www.ingresso.com Devolução de ingressos: em casos de cancelamento de sessões por problemas técnicos ou por falta de energia elétrica, os ingressos serão devolvidos. A devolução de entradas adquiridas pelo ingresso.com será feita pelo site. Sessões para escolas e agendamento de cabines pelo telefone (21) 3284 7400 ou pelo e-mail imsrj@ims.com.br As seguintes linhas de ônibus passam em frente ao IMS-RJ: Troncal 5 - Alto Gávea - Central (via Praia de Botafogo ) 112 - Alto Gávea - Rodoviária (via Túnel Rebouças) 537 – Rocinha - Gávea 538 – Rocinha - Botafogo 539 – Rocinha - Leme Ônibus executivo Praça Mauá - Gávea

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INSTITUTO MOREIRA SALLES

CINEMA

JULHO 2017

GRITOS E SUSSURROS 24

INGMAR BERGMAN


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