AGNÈS VARDA : AS PRAIAS DE AGNÈS
FLÁVIA CASTRO : DIÁRIO DE UMA BUSCA
O DOCUMENTÁRIO NA PRIMEIRA PESSOA INSTITUTO MOREIRA SALLES
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CINEMA
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JULHO DE 2011
RETRATOS DE FAMÍLIA
Violência e paixão: na imagem de um velho professor sozinho num grande apartamento com sua coleção de retratos de família, as Conversation Pieces, de pintores ingleses, Luchino Visconti viu a a oportunidade de representar um momento e um grupo da sociedade italiana. Ao lado, trechos de depoimentos do diretor sobre seu cinema, em geral e sobre Gruppo di famiglia in un interno em particular, filme que ele definia como “retrato de um intelectual de minha geração”.
| A FAMÍLIA ITALIANA de LUCHINO Visconti “Quando falo de cinema prefiro limitar-me a considerações de caráter geral, mesmo quando se trata de meu próprio trabalho. É um modo de demonstrar respeito pelo público, que, ao contrário do que muitos imaginam, não vai ao cinema somente para acompanhar uma história e ver como ela termina. Na verdade o espectador de hoje compra uma entrada de cinema para saber o que o autor quer dizer, e sobretudo para saber o que o autor quer dizer diretamente, lá, na tela do cinema, e não por meio de uma declaração de princípios. Creio firmemente que o melhor é ser lacônico, mesmo quando é preciso respeitar as regras do jogo, que solicitam do diretor de cinema uma explicação sobre o que é o filme que ele fez e porque fez esse filme. Que pode dizer um diretor sobre o filme que acabou de fazer? Que dizer para não parecer presunçoso? Quando um filme fica pronto, o diretor é quem mais tem perguntas a fazer sobre ele. Perguntas, dúvidas, nenhuma resposta. Jean Renoir, que quando jovem foi um entusiasmado ceramista, costumava dizer que a cerâmica e o cinema têm um ponto comum: o autor sabe o que quer fazer, sempre. Mas uma vez que leva a obra ao forno já não sabe se o que vai sair dali é o que ele queria fazer. Em alguns de meus filmes temos mortes e possíveis responsáveis por tais mortes, mas não se diz quem são os verdadeiros culpados e as verdadeiras vítimas. Em resumo, são filmes claros no início e obscuros no final. Percorrem um caminho semelhante ao de um indivíduo que se dedique à difícil tarefa de debruçar-se sobre si mesmo. Estou convencido de que debruçar-se sobre as pessoas é um dos meios – e não o menos importante – disponíveis para observarmos a sociedade contemporânea e os seus problemas. Devemos concentrar-nos na busca de soluções não convencionais nem estagnadas para estudar o comportamento de seus personagens mais representativos. Gostaria de retomar um argumento do começo de minha carreira: diria que continuo mais que nunca interessado em um cinema antropomórfico. Num pequeno texto de 1943 – Cinema antropomórfico –, disse que não foi uma ‘vocação artística’ que me conduziu ao cinema, mas uma vontade de criar assim como todo trabalhador cria em seu dia a dia. Queria trabalhar não apenas no domínio do artista. A experiência do cinema ensina que as pessoas é que verdadeiramente preenchem o fotograma de um filme. O gesto humano, o mais simples, o menos importante, é que cobre de poesia as coisas em volta. Por isso anotei: ‘poderia fazer um filme sobre uma parede se pudesse
Luchino Visconti
encontrar os dados da verdadeira humanidade dos homens levados até esse elemento cenográfico nu – encontrá-los e contá-los’ . Essa ideia está presente em todos os meus filmes, que aparecem melhor quando vistos como uma continuação dos precedentes, como o prosseguimento de um discurso iniciado na década de 1940. Os mesmos fios movem personagens como Ntoni (de La terra trema, 1948), Livia (de Senso, 1954), Rocco (de Rocco e i suoi fratelli, 1960), Sandra (de Vaghe stelle dell’Orsa..., 1965), ou o príncipe Salina (de Il Gattopardo, 1963). Algumas vezes me servi de um baile, outras de uma batalha, do fenômeno da migração interna e da luta pelo pão cotidiano – são elementos históricos, cenários essenciais, limites em que se movem os personagens de meus filmes, cenários tão importantes quanto o ambiente de drama familiar comum aos personagens dos filmes que acabo de lembrar. Em Gruppo di famiglia en un interno, meu velho professor coleciona retratos de família, as Convesation pieces pintadas pelos ingleses. Ele se protege de uma vida que não oferece mais qualquer ilusão. Os velhos procuram se refugiar em suas recordações, numa bagagem de conhecimentos que não cresce mais. Vi nesse personagem a oportunidade de representar um momento e uma classe. Eu vivi esse momento. Eu pertenço a essa classe. Somos velhos, eu e o professor, mas a identificação entre nós termina aqui. O professor não gosta dos homens. Detesta o barulho dos outros. Vive num silêncio total. Eu não sou egoísta assim. Adoro estar cercado de gente, estou sempre em companhia de amigos. O que eu pretendi no personagem interpretado por Burt Lancaster foi contar a história de um intelectual de minha geração. Examinar a posição, as responsabilidades, os sucessos e os fracassos dos intelectuais de minha geração, fazer a parábola de uma cultura”.
RETRATOS DE FAMÍLIA
Família Braz - dois tempos : “Foi muito rico voltar à família Braz. Mudou tudo nesses dez anos entre o primeiro e o segundo filme”. O filme de Dorrit Harazim e Arthur Fontes, mostra o que mudou numa família da Brasilândia, em São Paulo, entre 2000, época do primeiro filme, e agora. Ao lado, trechos da conversa dos diretores com o público da pré-estreia realizada em abril último no Instituto Moreira Salles.
| A FAMÍLIA BRASILEIRA de DORRIT E ARTHUR Arthur Fontes: A escolha da família foi uma longa investigação. A Dorrit fez a escolha baseada em dados estatísticos. Queríamos mostrar o que seria o brasileiro médio. E também, ao invés de ser a avenida Paulista olhando para a periferia, a gente quería ir lá e perguntar o que eles achavam da avenida Paulista. Dona Maria, ao dizer que tinha medo de São Paulo – “eu morro de medo de São Paulo!” –, nos surpreendeu. Deveria ser o contrário, a avenida Paulista é que devia ter medo da Brasilândia, sempre mostrada como lugar estranho, esquisito. Dorrit Harazim: Era o segundo distrito em índice de violência da cidade… Arthur Fontes: Na verdade, por medo de ir a São Paulo, ela quase não saía de Brasilândia, então tentamos mostrar a visão da periferia, a periferia olhando para São Paulo. Foi uma pesquisa demorada para encontrar uma família normal, no melhor dos sentidos – que não tivesse nenhum caso de criminalidade dominante, ou problema extremo de saúde, algo que chamasse demais a atenção. Procuramos entre essa maior minoria de 1999. Ela usaria tantas pastas de dentes por ano, teria tantos filhos, moraria em tais bairros. Baseado nesses dados, a Dorrit fez uma pré-seleção com a ajuda também de… Dorrit Harazim: … Líderes de comunidades, igrejas e entidades de bairro... O seade, instituto de levantamento de dados de São Paulo, nos indicou as áreas de São Paulo com famílias que se enquadrassem no perfil que procurávamos. A partir daí, foi pegar o carro e ir batendo em portas. Algumas se abriam e você tentava explicar o projeto, outras não. Sempre ficou claro que você nãomorava ali. Mas, como jornalista você sabe como chegar. Muitas famílias se enquadravam no que procurávamos… Uma me impressionou muito. Se encaixava até melhor no perfil, mas tinha um desvio tão óbvio que ia interferir na história que queríamos contar: um dos filhos não tinha o céu da boca. Aquela criança iria tomar conta do filme e esconderia o resto. Outra família maravilhosa, perfeita para o que queríamos, tinha um caso de agorafobia agudo – a dona da casa sofria de pânico de sair do quarto e da casa. Desistimos, pois seria outro documentário, um documentário sobre fobias. Não sei quantas famílias visitei. Quando percebemos que mudamos a busca para um bairro chamado Brasilândia – já é simpático, Brasilândia, não é? Para quem quer fazer um filme sobre família brasileira, fica bom. E foi na Brasilândia que ouvi falar de uma família Braz.
Arthur Fontes e Dorrit Harazim
Arthur Fontes: Moravam no alto do morro, vista belíssima… Dorrit Harazim: Chegamos no local e lembro que seu Toninho estava na laje. Chamo-o da rua, tento explicar, “é uma equipe do Rio que gostaria de vir fazer uma filmagem sobre a família”... Conversa de maluco. Mas seu Toninho imediatamente: “Espetacular! Bom demais!” Ele disse: “Olha, só preciso perguntar pra dona Maria”. A consulta levou muito tempo. Cada membro da família, inclusive os quatro filhos, que na época eram muito jovens, foram se consultando mutuamente. Arthur Fontes: O primeiro filme foi rodado em película, o de agora em câmera digital de alta definição,em hd, o que, claro, facilitou bastante as coisas, sobretudo na hora das entrevistar. Fazer entrevistas com negativo é caríssimo. Adicione-se o custo da revelação, da telecinagem. Por isso, dez anos atrás, evitávamos fazer entrevistas longas. Dessa vez, tentamos aprofundar um pouco mais as entrevistas. Em 2000 tivemos que conquistar a confiança deles, ficamos mais tempo com eles, quase um mês. Nessa nossa volta, ficamos com eles duas semanas, interrompemos as filmagens, assistimos a tudo o que fora feito até então. Tínhamos planejado fazer isso, porque, quando você está filmando, absorve muita informação, e chega uma hora em que você se pergunta: “Será que conseguimos tudo?”. Paramos durante o final do ano para examinar o material captado. Quando retomamos, em janeiro, já sabíamos o que estava faltando… Voltamos com uma nova pauta e com a intenção de aprofundar mesmo a conversa – coisa que talvez se consiga num terceiro filme... Dorrit Harazim: Uma das características interessantes do resultado desse documentário: decidimos não trazer à tona temas que não brotavam naturalmente dos personagens, para a pauta não ser nossa e sim da família Braz.
o DOCUMENTÁRIO NA PRIMEIRA PESSOA
“O documentário conjugado na primeira pessoa, não leva a uma restrição do ponto de vista, mas aguça o olhar”. A observação é de Paulo Antônio Paranaguá em texto publicado em Le Monde sobre Diário de uma busca. de Flávia Castro. Ao lado, como numa primeira página de um diário, a diretora apresenta seu filme.
| O DIÁRIO DE FLÁVIA CASTRO
“Meu pai morreu em Porto Alegre, no dia 4 de Outubro de 1984, em circunstâncias misteriosas. Ele tinha 41 anos. Não sei se a palavra mistério é a mais apropriada. Vou começar de novo: Meu pai era jornalista. Morreu no apartamento de um cidadão alemão, ex-cônsul do Paraguai, no qual entrou sem ser convidado. Segundo os vizinhos, meu pai gritava: ‘Os documentos! Onde estão os documentos?’ Durante uma semana, todos os dias, nas primeiras páginas do jornal, meu pai. Celso Afonso Gay de Castro e seu amigo, Nestor Herédia, o ‘Gonga’, usavam uniformes da companhia telefônica local. Armados, entraram no apartamento de Rudolf Goldbeck. Segundo a polícia, Celso e Gonga teriam cometido suicídio ao se verem encurralados pela policia. Parece sinopse de um filme policial de quinta categoria, absolutamente inverossímil... Durante muito tempo, pensar no meu pai, significava pensar em sua morte. Como se pelo seu enigma e pela sua violência, ela tivesse apagado sua história. E a apagado junto, parte da minha vida. O ponto de partida do filme foi a trágica morte do meu pai. Tentar entender, tentar descobrir. Passei três semanas em Porto Alegre, entrevistando jornalistas, policiais, peritos, médicos legistas... Mas isso se tornou a parte menos importante do filme. Foi uma forma de ir de encontro à vida. A vida do meu pai, a nossa, minha e do meu irmão Joca, que vivemos no exílio, junto com nossos pais. Às vezes clandestinos, crescendo entre ações armadas e reuniões intermináveis...O filme se estrutura num vai e vem entre minha infância e as cartas do meu pai do mesmo período. Os personagens Celso Afonso Gay de Castro. A figura do meu pai surge através das suas cartas e dos depoimentos de amigos e familiares. O humor, o jeito de ser e o movimento de sua vida – do início da militância, com o sonho de revolução até sua morte – vão se delineando através das cartas que Celso mandava para seus pais, para as mulheres e filhos. Meu irmão, Joca, João Paulo M. Castro. Ele tem um lugar muito particular no filme: Além de ler as cartas do pai, ele está presente nas filmagens em Porto Alegre, onde tivemos algumas conversas. Seu olhar sobre a morte do nosso pai e sobre o filme que estou tentando fazer, com suas críticas, se tornaram fundamentais na construção do mesmo. Desde o início eu queria incluir essas
Flávia Castro
conversas no filme, mas foi na última etapa da montagem que consegui encontrar o jeito. Joca coloca questões importantes, que nem sempre encontram respostas, mas que precisavam estar presentes no filme... Minha mãe, Sandra Macedo. Convidei minha mãe para voltar comigo aos lugares onde moramos em Santiago, até o Golpe do Chile. Foi emocionante ouvi-la contar – na esquina da casa onde morávamos – como os militares chilenos invadiram nossa casa e prenderam o Nelson Kohl, militante que morava conosco. Tudo em um longo plano seqüência, difícil de cortar. No inicio, não imaginei que o espaço da minha mãe no filme se tornaria tão grande, afinal era um filme sobre meu pai, e eles se separaram quando eu tinha sete anos de idade. Mas na montagem, sua presença foi se tornando essencial. Minha irmã, Maria Cavalli Castro. Maria é minha meia-irmã por parte de pai, mas era muito pequena quando ele morreu. Ela aparece pouco no filme, mas está presente em uma das seqüências mais emocionantes. Amigos militantes do meu pai. As conversas com militantes e amigos do meu pai foram muito importantes para o filme. Mesmo que pouco presentes na versão final da montagem. São participações em que falam do cotidiano, nada de bláblá político. Assim temos, por exemplo, Marco Aurélio contando uma anedota absurdamente engraçada ocorrida na Embaixada do Panamá em Santiago. Entre os amigos e ex-militantes do Partido Operário Comunista (poc): Flavio Koutzii, Marco Aurélio Garcia, Maria Regina Pilla (Neneca), Pilla Vares, Cristina Oliveira, Paulo Brasil e também : Daniel Bensaïd (filósofo francês e dirigente da lcr), Jean-Marc Von der Weid (Presidente da une em 1968) e Daniel Aarão Reis (mr-8)”.
o DOCUMENTÁRIO NA PRIMEIRA PESSOA
“Os documentários de Agnès Varda são ensaios de uma catadora de imagens. São poemas de fragmentos coletados aqui e ali e selecionados por uma nuvem temática. Desta vez, numa espécie de filme-testamento, o objeto é sua própria história, seus entes queridos, seus filmes”. A observação é de Carlos Alberto de Mattos em seu blog ...Rastros de carmattos. Ao lado, trechos de depoimentos de Varda sobre As praias de Agnès, que estreia no cinema do Instituto Moreira Salles na sexta-feira 29 de julho.
| As PRAIAs DE AGNÈS VARDA
“Com 78 anos, quase chegando aos 80, eu via os números 8 e 0 que avançavam em minha direção como uma zoom ou como um trem e comecei a me dizer: ai, meu Deus, tenho que fazer qualquer coisa para os meus 80 anos. Lembrei que Montaigne, no fim de sua vida, escreveu: ‘creio que meus próximos, que vão me perder, gostariam de saber um pouco mais do que eu conheci’. Pensei mais ou menos isso com relação a meus filhos e netos. Não temos o hábito de perguntar tais coisas aos nossos parentes. Decidi então contar para eles como tudo começou, o que tinha na cabeça quando comecei a fazer filmes, falar dos amigos, das pessoas que encontrei, falar das coisas que fiz e falar também das pessoas que me fizeram. Só podemos falar do que vivemos, do que existe bem perto de nós. E eu tive muitas vidas. Fui fotógrafa. Fui cineasta. E depois, uma jovem artista contemporânea aos 72 anos. Gosto muito dessa terceira parte de minha vida, que me permitiu tentar outros encontros, noutros lugares, criar outras relações com os espectadores. O melhor de tudo é poder experimentar diferentes formas de criação. Mas, então: eu me aproximava dos 80 anos. Achei que deveria fazer algo. Nos lembramos sempre de passar por algum zero, mas quando era jovem jamais imaginei passar pelos 80. Oito e zero. Quando jovem eu achava que pessoas com 40 anos já eram velhas e os que tinham 50 então... Lembro que não me interessava por pessoas com mais de 50 anos e imaginava: acho que vou viver até os 45. Achava poético morrer jovem. Jacques Demy tinha uma forte ligação com sua infância, eu não. Ele me contou sua infância, as memórias de sua infância, até a decisão de entrar para uma escola de cinema, e eu transformei as memórias dele em filme: Jacquot de Nantes (1991) e L’ Univers de Jacques Demy (1995). Já Les Plages d’Agnès é um espécie de passeio em torno da ideia de fazer um autorretrato aos 80 anos – com algum humor e com um certo distanciamento: aqui e ali eu faço uma palhaçada. Há uma cena divertida no filme, aquela em que reunimos os troféus de Jacques e os meus, a Palma de Ouro de Cannes (por Os guarda chuvas do amor / Les Parapluies de Cherbourg , 1964), o Leão de Ouro de Veneza (por Sem teto nem lei / Sans toit ni loi, 1985). Eles são colocados sobre a areia, vem uma tempestade e eles desaparecem... Existe uma espécie de vazio na ideia de vitórias, recompensas, prêmios. Ao contrário, existe um valor na escolha de viver uma vida de artista, de resistir firme numa vida de artista. Jamais baixar a cabeça e cruzar
Agnès Varda
os braços. Meu trabalho consiste em buscar formas cinematográficas, procurar criar todo o tempo um cinema que tenha uma escrita própria, um pouquinho diferente, um pouquinho nova. Filmei em digital. Poderia ter usado 35mm, mas queria fazer uma série de pequenos truques na imagem e se tivesse filmado com película de 35mm teria sido mais complicado. Com o digital, quando sentia falta de algo, ía com minha câmera até o jardim, até a entrada de minha casa. Filmava e cinco minutos mais tarde a imagem estava no filme. Minha ficção se alimenta do documentário. Trabalho como uma jornalista antes de começar um filme de ficção. E, ao contrário, como uma ficcionista quando vou fazer um documentário. Em Les Glaneurs et la glaneuse (2000), filmei pessoas tão extraordinárias que parecem personagens de ficção. Existe uma dimensão ficcional no que consegui arrancar deles, no que eles queriam contar para mim. Les plages d’ Agnès é um documentário, mas os depoimentos foram escritos previamente. Muita coisa foi planejada como numa ficção. Escrevi a narração antes de começar a filmar, mas na filmagem muitas vezes surgia uma ideia nova e eu dizia um novo texto para a câmera. Como mudei muito do que estava planejado, a montagem foi um processo longo – nove meses. Queria usar uma técnica de colagem, como a da pintura – como, por exemplo, a de Rauschenberg: uma colagem que não se limita a cortar em pedaços a imagem de uma pessoa de verdade, ou de uma paisagem de verdade, para depois recompor a figura. A colagem pensada não como um quebra-cabeças. Colagem só como uma colagem. Não quero definir meu Les plages d’Agnès como uma colagem. Acho que ele está mais perto de um disco voador, um objeto não identificado, porque pertence, e ao mesmo tempo não pertence, ao cinema documentário. Porque tem coisas encenadas, mas não pertence à ficção, pois, afinal, fala de gente de verdade: é a minha vida. São meus 80 anos”.
SESSÃo dupla
Um filme de Abbas Kiarostami, O vento nos levará, e um de Manoel de Oliveira, Viagem ao princípio do mundo, compõem a Sessão Dupla, na quinta-feira 14, organizada em parceria com a www.revistacinetica.com e seguida de debate após a projeção.
| o vento nos levarÁ / Para onde? |
Fábio Andrade
Visto hoje, mais de dez anos depois de seu lançamento, é bastante surpreendente a maneira como O vento nos levará, (Bad ma ra khahad bor, 1999) à época um filme bastante típico e quase esperado de Abbas Kiarostami, se revela um testemunho de crise. Afinal, é o último dos filmes mais puramente narrativos de Kiarostami (embora a pureza – dado etnocêntrico que tantas vezes acentuou as leituras estrangeiras do cinema iraniano – seja uma ambição que parece cada vez mais distante dos horizontes do diretor). A partir de seu longa de ficção seguinte, Dez (Ten, 2002), ele se dedicaria a uma irmandade entre estrutura, dramaturgia e conceito que tornaria seus filmes – de Dez a Cópia fiel (Copie conforme, 2010) a aparente comédia romântica à qual Abbas Kiarostami muito acertadamente se refere como um filme experimental – organismos cada vez mais avessos a categorizações e análises que se apeguem às partes para ignorar o todo. O vento nos levará é não só o filme que leva ao paroxismo (da perfeição) o trabalho que o diretor fazia até então, mas também aquele que funciona como uma auto-crítica de seus limites, sem com isso desdenhar suas conquistas. Temos uma equipe de filmagem em uma cidade no interior do Irã, interessada em filmar os rituais locais de velório. Para isso, é preciso esperar, torcer até, para que uma velha anciã morra o quanto antes, minimizando a espera. Pois espera é tudo que, de fato, teremos. Acompanhamos o dia a dia da equipe junto às pessoas da cidade, em relações decididamente orquestradas pela passagem do tempo. Até mesmo nosso conhecimento das personagens – suas demonstrações de doçura e de arrogância; a franqueza de seus interesses; suas relações com a geografia da cidade – depende da passagem do tempo, antecipando em alguns anos o minimalismo narrativo que o diretor levaria às últimas consequências no primoroso Five dedicated to Ozu (2003). Mas, para além da superfície nada rasa de sua exímia construção, há algo de profundamente metalinguístico em jogo em O vento nos levará. Pois, como a equipe, somos também colocados nessa lógica da espera pelo fim – da cena ou da vida – imbricados como cúmplices de uma atitude da qual somos levados a desconfiar moralmente pelo próprio filme. É como se o filme provocasse suas próprias crises, e ao mesmo tempo nos chamasse atenção para o fato de que elas são provocadas por ele: não são homens; são personagens. É por isso que O vento nos levará se torna de fato um filme de autocrítica, à medida em que adota o mesmo receituário que coloca em crise, e nos chama atenção para o voluntarismo dessa adoção.
Não há distância possível entre o exotismo dos rituais fúnebres interditos e as gloriosas estradas precárias de Kiarostami – não à toa, em Dez o diretor abandona de todo os caminhos e passa a se concentrar em quem está dentro dos carros, na matéria humana que é sempre capaz de se reconfigurar e escapar das reduções narrativas. Pois, no fundo, O vento nos levará é um filme que coloca em crise não só o cinema de Kiarostami até ali (o que é Gosto de cereja / Ta’am e guilass, 1997) senão a espera por uma morte?), mas toda uma forma de narrar. Há uma famosa citação de Julius Epstein, roteirista de filmes como Casablanca (Casablanca, de Michael Curtiz, 1942) que evidencia a estrutura clássica das narrativas cinematográficas: “Act 1: Get your guy up a tree; Act 2: Throw rocks at him; Act 3: Get your guy outta the tree”. Não é exatamente isso que está representado no já antológico plano da tartaruga em O vento nos levará, em que uma trajetória livre e desinteressada do animal é interrompida sem qualquer explicação por um pé onisciente? Não é esta a estrutura narrativa que o filme critica e adota, ao mesmo tempo (o celular que não funciona; a mulher que não morre; as ruas labirínticas percorridas por uma vasilha de leite; etc)? O vento nos levará aponta as limitações deste modelo, mas afirmando que ele deixa brechas suficientes – como a pequena nesga de luz que corta o breu onde vive a vaca, no filme, ou os raios que partem a escuridão em ABC África, (ABC Africa, 2001) seu filme seguinte – para criar encantamento, em um trabalho que repensa e revitaliza as características mais básicas do cinema: a relação de claro e escuro no plano já citado; o fora de quadro com o personagem do coveiro; uma indiferença material entre a vida e a morte expressa soberbamente nas pedras do cemitério; o trabalho expressivo das proporções, jogando o homem contra uma natureza monumental e soberana. O vento nos levará é um filme atordoado e alimentado pelo questionamento dos limites do próprio cinema, de um diretor que se coloca voluntariamente em um beco sem saída, talvez para tentar apreender a beleza deste mesmo beco.
Abbas Kiarostami
SESSÃo dupla
| Viagem ao princíPIo do fim |
“ A História é a paixão dos filhos que tentam compreender os pais”. Pier Paolo Pasolini
“Diz a eles – a teus amigos e conhecidos – que se não voltares será porque o teu sangue se congelou e paralisou ao contemplar estas horríveis cenas bárbaras (...). Diz-lhes que se teu coração se torna de pedra, teu cérebro um frio mecanismo de pensar e teu olho simples aparelho fotográfico, é porque não terás voltado para eles (...). Segura com força a minha mão, não tremas: pois deverás contemplar coisa ainda pior por vir.” Z. Gradowski, Pergaminhos de Auschwitz
Luiz Soares Júnior
“Estes anos estão mortos. Sim. Um tempo que separa nosso tempo e que com o tempo se torna agora.” Esta sentença é o leitmotif de Viagem ao princípio do mundo, e provavelmente do cinema de Manoel de Oliveira, um cinema que se debruça sobre a tarefa de tornar presente. Tarefa árdua, infinita, cochicha-nos Sartre em Tempos modernos, sobretudo em tempos do capitalismo de mercado, cuja demoníaca ambição é a de encobrir os nossos mortos sob a memorabilia do arquivo e do museu. O passado como souvenir, eis a divisa desta nova barbárie. Mas tornar presente, arte na qual este arqueólogo do espírito vem se esmerando nos últimos anos, segue o caminho contrário ao do inventário. A experiência vai se fazendo à medida em que vamos sendo abalroados – acossados, estudados, transfigurados – pelo teatro das matérias do mundo, que nos convida a um duelo. Não à toa, muitos dos personagens de Oliveira são viajantes, puras superfícies imantadas pelo impacto radiográfico que outras superfícies – paisagens ou monumentos, companheiros de viagem e de massacre, comensais ou amantes – exercem sobre eles. Não há flashbacks em seu cinema materialista; não há captura (rapto?) do passado numa reconstituição narrativa ou dramática, porque o passado a rigor só existe como vestígio no presente, traço que fere a matéria presente e frontal. Tornar presente, presentificar, consiste em deter-se, atentamente, sobre o espaço-tempo de cada coisa, até que estas acabem por destilar os eventos a que assistiram. “Dotar as coisas e os seres do poder de voltar os olhos para nós”. No caso de Oliveira – que não acredita mais, como entomologista civilizado que é, em noções como percepção natural, natureza humana, evolução, etc –, sobretudo as coisas. O conceito (vidência?) benjaminiano de aura nos ajuda a explorar esse defrontar-se com a subjetividade e os objetos no mundo. Estátuas e monumentos (aqui, o colégio onde Manoel estudara, a estátua de Pedro Macau, uma raposa num quadrinho, o balcão onde outrora um menino ardia de tifo) são o alvo de uma insistente interrogação da câmera; parecem animar-se sob o influxo do tempo que lhes é dedicado, adquirir o status de uma vida consciente (para si), e não meramente presente (a consciência que nos falta, na hora grave?). Oliveira encarrega os objetos de prestar testemunho sobre o que foi: marcos de presença. Diante da evanescência das aventuras humanas, resta ao inanimado o poder da evocação: em seu cinema, somos nós a inútil paisagem.
Com exceção do hierático Pedro Macau, em Viagem ao princípio do mundo tudo naufraga. Em contraposição a esta derrocada, as panorâmicas sobre a pradaria parecem uma bênção; mas talvez correspondam ao ponto de vista de um personagem, olhar desolado sobre o que restou. No horizonte (passado e presente) do filme e da história, a guerra: a Segunda Guerra, no relato do ator (Afonso) que acompanha Manoel em busca das origens lusitanas do pai; e a guerra da Bósnia, ainda candente à época em que o filme foi realizado, 1997. Impossível dissociar a experiência de seus personagens de um percurso pedagógico: qual os valores em jogo na mise-en-scène de nossa civilização? Portugal, Europa, Mundo: o contato com a realidade é impensável sem a mediação desta tríade histórica e filológica. Manoel e sua trupe partem em busca de um passado(s) – o passado de Manoel, o passado do pai de Afonso; numa época de guerra, em que a experiência sofre um déficit considerável – exílio, desagregação familiar, perda de referências históricas e geográficas –, eles partem no rastro de uma experiência. Mas há um uso distinto para este passado, esta nova vida possível para a qual buscam um refúgio na rememoração; Manoel quer gerar um filme, talvez o último. Erigir outro marco de presença, à semelhança das estátuas e dos ritos encontrados pelo caminho; presença que resiste ao transitivo esquivar-se de tudo e de todos, à barbárie da história, ao mal. E Afonso gerir o passado obscuro, reatar o romance das origens do pai, reencontrar os queridos que deixara para sempre, na aurora do franquismo. Ambas são aventuras de desterritorialização, de salvação por intercessão da alteridade: num filme porvir – este outro feito escritura –, o decrépito Manoel resgata a infância; acabado o percurso da reconciliação (fim e princípio, vida e obra, viagem ao princípio do fim), podemos enfim morrer em paz. E Afonso enterra finalmente o pai, depois de terminar por ele a história inacabada no rincão materno. Filme testamento, com laivos de ironia (“mas ele não fala português!”; a mascarada do final, com Afonso “encarnando” o pai ao espelho), Viagem ao princípio do mundo retoma para a palavra saudade um significado suplementar: não apenas um debruçar-se e um enlutar-se sobre o que nos falta (carência, negativo), mas a plenitude elegíaca que um dia inspirou o verso dos poetas e profetas da aurora da civilização.
Manoel de Oliveira
PROGRAMA ABRACI : NORMA BENGELL
Os quatro filmes do programa Abraci, realizado em parceria com a Associação Brasileira de Cineastas, são dedicados a Norma Bengell. Na quinta-feira 7 serão exibidos: Mar de rosas de Ana Carolina Teixeira Soares, Noite vazia, de Walter Hugo Khouri, A casa assassinada de Paulo César Saraceni e Eternamente Pagu de Norma Bengell. Ao lado, duas críticas publicadas em 1988, no lançamento de Eternamente Pagu : uma de P. F. Gastal, outra de Ely Azeredo.
| ETERNAMENTE PAGU
1. P. F. Gastal : uma imagem plena de veracidade Já conhecíamos Norma Bengell como realizadora do curta-metragem de 1978, Maria Gladys, uma atriz brasileira, sobre a referida atriz do teatro e cinema, que, por falta de apoio artístico, deixou o país, continuando lá fora sem reconhecimento, até que interrompeu sua carreira. Embora deixe muito a desejar em sua finalidade, o curta sobre a referida atriz já revela, por momentos, a inquietação de Norma Bengell quando atrás da câmera, sendo natural, pois, a expectativa que se criou em torno do seu primeiro longa, Eternamente Pagu, no qual ela faz uma abordagem da figura de Patricia Rhedler Galvão. Nascida a 11 de junho de 1910, em São João da Boa Vista, interior de São Paulo, nos anos de vinte e trinta tornou-se conhecida como ativista política, cujas ideias avançadas a tornaram combativa feminista e a levaram a conviver com os integrantes do movimento modernista de 1922, especialmente Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral, e a ingressar no Partido Comunista do Brasil, do qual se afastou em decorrência de certo desencantamento, para se aproximar de grupos trotskistas, dos quais, também, logo se separou. Em 1934 fez uma viagem à China, onde assistiu à coroação de Pu Yi, retratado por Bernardo Bertolucci em O último imperador, seguindo depois para a União Soviética e para a França. Em Paris, é presa por ser comunista estrangeira, sendo libertada – segundo referência do filme de Norma Bengell – por interferência da cantora lírica norte-americana Elsie Houston, retornando ao Brasil para se tornar prisioneira e vítima de sevícias nas prisões do Estado Novo. Durante seus contatos com o grupo modernista em São Paulo, casa-se, em 1930, com o escritor Oswald de Andrade, a quem foi apresentada por Waldemar Belisário. Depois de suas viagens internacionais, e inclusive do contato com Pu Yi, e quando teve o seu desencanto com a burocracia do comunismo na própria matriz soviética, Patrícia Galvão – que é mãe, do casamento com Oswald de Andrade, do advogado e estudioso de cinema, Rudá de Andrade – sente-se, afinal, livre das perseguições políticas e começa a viver com o escritor Geraldo Galvão Ferraz, quando passa a desenvolver atividades no teatro e na literatura, época – 1945 – em que publica, num único volume, com Doramundo, de Geraldo Ferraz, o seu romance A famosa revista, em edição da José Olympio Editora. Ao mesmo tempo publica, em vários jamais, sobretudo em Tribuna
de Santos, poemas, traduções e artigos. Em 1949, tenta o suicídio, com um tiro na cabeça. Vítima de câncer no pulmão, sofre em 1962 uma operação, cujo fracasso a leva a nova tentativa de suicídio, mas, na verdade, morreria pouco tempo depois, no mês de setembro, na cidade de Santos. Eternamente Pagu, o filme de Norma Bengell, não se apresenta como a biografia dessa fascinante figura. E isso a própria diretora faz questão de afirmar, quando, ao se defender das críticas que lhe fez Sidéria Galvão, a irmã de Pagu, afirmou clara e taxativamente: “O filme não é biográfico. É uma adaptação livre, muito autoral. Tirando a Pat, todos os personagens são secundários”. Importa, pois, é saber como Norma Bengell resolveu o problema de sua visão cinematográfica da vida e dos problemas criados, e resolvidos ou não, por Pagu em sua vida. Temos para nós que seu filme é de exemplar unidade como retrato dramático de uma mulher sofrida e desafiadora, para o que contou, de maneira decisiva, com extraordinária performance de Carla Camurati no respectivo papel. Carla Camurati, por sinal, reafirma seu talento inegável, ao se integrar de modo decisivo na personagem que interpreta, e que, sem desmerecimento de seus desempenhos anteriores, sempre marcantes, a faz uma atriz admirável. Amir Labaki, crítico de cinema da Folha de São Paulo, afirma que “o longa de estreia de Norma Bengell não consegue superar, como introdução cinematográfica, a trajetória dessa militante do ideal que foi Patricia Galvão”, escrevendo que o roteiro derruba o esforço de produção de Pagu. O que nos parece uma visão pessimista totalmente errada, posto que, a nosso ver, em verdade o filme de Norma Bengell apresenta uma imagem plena de veracidade de uma mulher apaixonante – embora sem preocupação biográfica – que emerge de suas imagens com profundo calor humano. Por outro lado, Eternamente Pagu conta com eficientíssima direção de arte, com inteligente e sensível fotografia de Antônio Luís Mendes, responsável pelo belo talento cromático do filme, belíssima trilha musical por conta de Turíbio Santos e Roberto Gnatalli e ótimos intérpretes, sobretudo, além de Carla Camurati (Pagu), Nina de Pádua (Sidéria Galvão), Esther Góes (Tarsila do Amaral), Norma Bengell (na luminosa presença, apenas uma ponta, como Elsie Houston), Octavio Augusto (Geraldo Galvão Ferraz) e Antônio Fagun-
Norma Bengell
PROGRAMA ABRACI : NORMA BENGELL | ETERNAMENTE PAGU
des (Oswald de Andrade), principalmente. Referindo-se a seu filme, no mencionado texto de defesa das criticas que lhe foram feitas por Sidéria Galvão, Norma Bengell declara peremptoriamente: “Eu sei que o filme vai provocar polêmica”. E já tem provocado, como vale de exemplo a apreciação crítica de Amir Labaki, que contrasta textualmente com a de Ely Azeredo, de O Globo, que escreve a certa altura: “Se Bengell jamais escrever sua biografia, se outros a esquecerem, restarão os fotogramas desse filme, de recôndita pureza, exigente amor, desafiadora visão da vida afetiva e social, para testemunhar sobre a mulher e artista”. [P. F. Gastal, texto originalmente publicado em 1988 no lançamento do filme em Porto Alegre e incluído na coletânea Cadernos de cinema de P. F. Gastal (1922-1996) , organização de Tuio Becker, edição da Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura de Porto Alegre 1996.]
2. Ely Azeredo : a liberdade é o tema profundo À saída da exibição de Eternamente Pagu emergem quatro impressões especialmente fortes. Uma é a sensibilidade sofrida e desafiadora de Patrícia Galvão, a Pagu – muito mais do que poderia sugerir o rótulo de musa do Modernismo. Outra, a confirmação de Antônio Luís Mendes como artista, sob o título de diretor de fotografia, destacando-se entre os responsáveis pela expressividade cromática do filme. Outra, a performance de Carla Camurati, quase irreconhecível de um filme para o outro, metamorfoseando-se ao mergulhar em cada personagem. E, acima de tudo, o novo “escândalo” artístico de Norma Bengell: surpreendendo como produtora, diretora e co-autora do roteiro; e, como atriz, limitando-se ao pequenino papel da cantora lírica Elsie Houston. Bengell desautoriza todas as previsões sobre sua estreia como realizadora em longa-metragem, deixando para trás seu lado explosivo e criando um filme de exemplar unidade – sobretudo interior. Dribla as certezas das mensagens esperadas de uma biografia de Pagu (o filme é mais do que isso) e alcança resultado bem diferente das revoluções e dos padrões espetaculares que viveu em sua admirável carreira de intérprete. Se a abertura lembra arroubos alegóricos do Cinema Novo (certamente em homenagem a Glauber Rocha), tudo o que vem depois foge de influências (notáveis) desse movimento. Como a liberdade – mais do que Patrícia Galvão – é
Carla Camurati: Eternamente Pagu
o tema profundo, seria fatal à plenitude da obra não cortar amarras com plataformas políticas e estéticas. Esse corte acompanha os desencantos de Pagu, em um processo incomum (jamais narcisista) de identificação da cineasta com sua heroína. Se Bengell jamais escrever sua biografia, se for esquecida, restarão os fotogramas desse filme, de recôndita pureza, exigente amor, desafiadora visão da vida afetiva e social, para testemunhar sobre a mulher e a artista. O roteiro de Márcia de Almeida, Geraldo Carneiro e Norma Bengell permite um caminhar livre, às vezes acima dos dados biográficos. Como acompanhar todas as viagens físicas e espirituais de Pagu? Além de suas andanças pelo romance, pela poesia, pelo jornalismo alternativo e pelo teatro, suas inquietudes também a levaram à militância no Partido Comunista, a revoluções de costumes e manifestações de rua (de São Paulo a Paris) e ao bizarro destino globe-trotter que lhe proporcionou (além de contatos com Pu Yi, o último imperador da China) o desencanto com a burocracia do comunismo na própria matriz soviética. Vôo livre, sem hermetismos, a narrativa se apoia fortemente na produção visual e comportamental do elenco (no qual Antônio Fagundes banaliza Oswald de Andrade) e em uma continuidade poética que permite elipses de episódios e saltos cronológicos. [Ely Azeredo, texto originalmente publicado em 1988 no lançamento do filme no Rio de Janeiro e incluído na coletânea Olhar crítico, 50 anos de cinema brasileiro, organização do autor, edição do Instituto Moreira Salles, 2010.]
OS FILMES DE JULHO SEXTA 1
SÁBADO 2
13h45 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’) No andar de cima, os jovens, a marquesa Bianca Brumonti, mulher de um industrial de extrema-direita, e Konrad, seu amante; Lietta, filha de Bianca, e o namorado, Stefano. No andar de baixo, um homem velho, o professor mais afeito aos livros, aos quadros, à música, que ao contato direto com as pessoas. Para o diretor, o filme narra um confronto entre “um velho professor e a vitalidade dos jovens, o lado irracional dos jovens, a vontade de não acreditar no que existiu antes deles, de recusar tudo o que existiu antes deles”.
13h45 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’)
16h00 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’) 18h15 : Família Braz - dois tempos, de Dorrit Harazim e Arthur Fontes (Brasil, 2011. 82’) Seis personagens de uma família brasileira da Brasilândia, periferia de São Paulo. “Foi muito rico voltar à família Braz. Mudou tudo nesses dez anos entre o primeiro e o segundo filme”, observa Arthur. “Eles deram um salto grande”, acrescenta Dorrit, “mas é prudente ter em mente que se você filma qualquer família com quatro adolescentes, ou recém-saídos da adolescência, e volta dez anos depois, irá encontrar um quadro muito diferente – qualquer um nessa faixa de idade muda muito”. 20h00 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’)
Família Braz - dois tempos de Arthur Fontes e Dorrit Harazim
16h00 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’) 18h15 : Família Braz - dois tempos, de Dorrit Harazim e Arthur Fontes (Brasil, 2011. 82’) 20h00 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’)
DOMINGO 3 13h45 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’) 16h00 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’) 18h15 : Família Braz - dois tempos, de Dorrit Harazim e Arthur Fontes (Brasil, 2011. 82’) 20h00 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’)
QUINTA 7 14h00 : Mar de rosas de Ana Carolina Teixeira Soares (Brasil, 1980. 99’) Para a diretora, “poderia ser a história de qualquer um, porque a repressão, o poder, a fuga – elementos onde o mar de rosas repousa – são paralelos dentro dos quais minha geração se acotovela mesmo no seu dia a dia mais primário”. No elenco, Norma Bengell, Octavio Augusto, Cristina Pereira, Miriam Muniz e Ary Fontoura Mar de rosas, de Ana Carolina Teixeira Soares
TERÇA 5 13h45 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’) 16h00 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’) 18h15 : Família Braz - dois tempos de Dorrit Harazim e Arthur Fontes (Brasil, 2011. 82’) 20h00 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’)
QUARTA 6 13h45 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’) 16h00 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’) 18h15 : Família Braz - dois tempos de Dorrit Harazim e Arthur Fontes (Brasil, 2011. 82’) 20h00 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’)
16h00 : Eternamente Pagu de Norma Bengell (Brasil, 1987. 100’) “Descobri Pagu quando voltei do exílio, em 1975. Li a respeito dela num jornal e me apaixonei de imediato. Comecei a ler tudo sobre a Pagu. A sedução veio pelo lado feminino, frágil, poético” e pelo elogio da aventura. “Por que vocês não lêem Tarzan? Pelo menos saberiam que existe uma coisa chamada aventura, descoberta, audácia”. É uma frase linda dela, que uso para encerrar o filme, para ninguém sair triste do cinema”. Primeiro longa-metragem da realizadora, com Carla Camurati, Antônio Fagundes, Nina de Pádua e Esther Goes. 18h00 : A casa assassinada de Paulo César Saraceni (Brasil, 1974. 103’). Sexto longa-metragem de Paulo César Saraceni e o segundo dos três títulos do realizador inspirados em Lúcio Cardoso. (Os outros dois são: Porto das caixas, 1962, e O viajante 1999). A casa assassinada tem à frente do elenco Norma Bengell, Rubens Araújo, Nelson Dantas e Carlos Kroeber. 20h00 : Eternamente Pagu de Norma Bengell (Brasil, 1987. 100’) “Descobri Pagu quando voltei do exílio, em 1975. Li a respeito dela num jornal e me apaixonei de imediato. Comecei a ler tudo sobre a Pagu. A sedução veio pelo lado feminino, frágil, poético” e pelo elogio da aventura. “Por que vocês não lêem Tarzan? Pelo menos saberiam que existe uma coisa chamada aventura, descoberta, audácia”. É uma frase linda dela, que uso para encerrar o filme, para ninguém sair triste do cinema”. Programas dedicados a Norma Bengell e organizados em parceria com a Abraci – Associação Brasileira de Cineastas.
OS FILMES DE JULHO SEXTA 8 13h45 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’) No andar de cima, os jovens, a marquesa Bianca Brumonti, mulher de um industrial de extrema-direita, e Konrad, seu amante; Lietta, filha de Bianca, e o namorado, Stefano. No andar de baixo, um homem velho, o professor mais afeito aos livros, aos quadros, à música, que ao contato direto com as pessoas. Para o diretor, o filme narra um confronto entre “um velho professor e a vitalidade dos jovens, o lado irracional dos jovens, a vontade de não acreditar no que existiu antes deles, de recusar tudo o que existiu antes deles. Meu velho professor coleciona retratos de família, as Convesation pieces pintadas pelos ingleses e se protege de uma vida que não oferece mais qualquer ilusão. Os velhos procuram se refugiar em suas recordações, numa bagagem de conhecimentos que não cresce mais. Vi nesse personagem a oportunidade de representar um momento e uma classe. Eu vivi esse momento. Eu pertenço a essa classe. Somos velhos, eu e o professor, mas a identificação entre nós termina aqui.” 16h00 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’) 18h15 : Família Braz - dois tempos, de Dorrit Harazim e Arthur Fontes (Brasil, 2011. 82’) Seis personagens de uma família brasileira da Brasilândia, periferia de São Paulo. “Foi muito rico voltar à família Braz. Mudou tudo nesses dez anos entre o primeiro e o segundo filme”, observa Arthur. “Eles deram um salto grande”, acrescenta Dorrit, “mas é prudente ter em mente que se você filma qualquer família com quatro adolescentes, ou recém-saídos da adolescência, e volta dez anos depois, irá encontrar um quadro muito diferente – qualquer um nessa faixa de idade muda muito”. 20h00 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’)
Manoel de Oliveira
SÁBADO 9 13h45 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’) 16h00 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’) 18h15 : Família Braz - dois tempos, de Dorrit Harazim e Arthur Fontes (Brasil, 2011. 82’) 20h00 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’)
de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’) DOMINGO 10 13h45 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’) 16h00 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’) 18h15 : Família Braz - dois tempos, de Dorrit Harazim e Arthur Fontes (Brasil, 2011. 82’) 20h00 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’)
TERÇA 12
QUARTA 13
13h45 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’) No andar de cima, os jovens, a marquesa Bianca Brumonti, mulher de um industrial de extrema-direita, e Konrad, seu amante; Lietta, filha de Bianca, e o namorado, Stefano. No andar de baixo, um homem velho, o professor mais afeito aos livros, aos quadros, à música, que ao contato direto com as pessoas. Para o diretor, o filme narra um confronto entre “um velho professor e a vitalidade dos jovens, o lado irracional dos jovens, a vontade de não acreditar no que existiu antes deles, de recusar tudo o que existiu antes deles”.
13h45 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’)
16h00 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’) 18h15 : Família Braz - dois tempos, de Dorrit Harazim e Arthur Fontes (Brasil, 2011. 82’) Retorno a seis personagens de uma família brasileira da Brasilândia, periferia de São Paulo, filmados pela primeira vez há dez anos.“Nunca, nem no primeiro nem no segundo filme, repetimos perguntas”, sublinha Dorrit Harazim. “Ou seja: a nossa surpresa com a narrativa da família é a mesma do espectador. Se na hora da filmagem percebêssemos que algo deu errado (o som não saiu claro, a imagem ficou sem foco), não repetíamos a pergunta. Não voltávamos ao assunto. Mesmo quando o tema era espetacular. Não repetíamos porque na segunda vez não se consegue uma resposta tão espontânea como na primeira. É inviável. Não dá certo. Dito isso, o que aconteceu? Uma das características interessantes do resultado desse documentário: decidimos não trazer à tona temas que não brotavam naturalmente dos personagens, para a pauta não ser nossa e sim da família Braz”. “Foi muito rico voltar à família Braz. Mudou tudo nesses dez anos entre o primeiro e o segundo filme”, acrescenta Arthur. “Eles deram um salto grande”, prossegue Dorrit, “mas é prudente ter em mente que se você filma qualquer família com quatro adolescentes, ou recém-saídos da adolescência, e volta dez anos depois, irá encontrar um quadro muito diferente – qualquer um nessa faixa de idade muda muito”. 20h00 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’)
16h00 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’) 18h15 : Família Braz - dois tempos, de Dorrit Harazim e Arthur Fontes (Brasil, 2011. 82’) 20h00 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’)
QUINTA 14 13h45 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’) 17h00 : O vento nos levará (Bad ma ra khahad bord) de Abbas Kiarostami (Irã, 1999. 118’) 19h00 : Viagem ao princípio do mundo de Manoel de Oliveira (Portugal, França, 1997. 95’) Sessão dupla realizada em parceria com a www.revistacinetica.com e seguida de debate com os críticos da revista
Abbas Kiarostami
OS FILMES DE JULHO SEXTA 15 13h45 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’) No andar de cima, os jovens, a marquesa Bianca Brumonti, mulher de um industrial de extrema-direita, e Konrad, seu amante; Lietta, filha de Bianca, e o namorado, Stefano. No andar de baixo, um homem velho, o professor mais afeito aos livros, aos quadros, à música, que ao contato direto com as pessoas. Para o diretor, o filme narra um confronto entre “um velho professor e a vitalidade dos jovens, o lado irracional dos jovens, a vontade de não acreditar no que existiu antes deles, de recusar tudo o que existiu antes deles. Meu velho professor coleciona retratos de família e se protege de uma vida que não oferece mais qualquer ilusão. Os velhos procuram se refugiar em suas recordações, numa bagagem de conhecimentos que não cresce mais. Vi nesse personagem a oportunidade de representar um momento e uma classe”. 16h00 : Diário de uma busca de Flavia Castro (Brasil, 2010. 104’) “O filme começa com a morte de meu pai”, diz a diretora. “É uma tentativa de descobrir o que aconteceu, como ele morreu depois do exílio, em 1984. A busca é quase uma história policial. Mas ao longo do filme ela se torna uma busca da vida também. As viagens que faço ao longo da busca são para contar do meu ponto de vista, e com as cartas de meu pai, o que eu e meu irmão vivemos quando crianças. Durante muito tempo, pensar no meu pai, significava pensar em sua morte. Como se pelo seu enigma, e pela sua violência, ela tivesse apagado sua história. E apagado junto, parte da minha vida”. Pimeiro longa-metragem da diretora, Prêmio de Melhor Documentário no Festival de Biarritz, França, setembro de 2010, e no Festival de Punta del Este, Uruguai, março de 2011. Prêmio de crítica no Festival de Gramado, agosto de 2010. Prêmio Fipresci, da crítica internacional, no Festival do Rio, outubro de 2010. 18h00 : Diário de uma busca de Flavia Castro (Brasil, 2010. 104’) 20h00 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’)
Diário de uma busca, de Flávia Castro
SÁBADO 16 13h45 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’) 16h00 : Diário de uma busca de Flavia Castro (Brasil, 2010. 104’) 20h00 : Diário de uma busca de Flavia Castro (Brasil, 2010. 104’)
DOMINGO 17 13h45 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’) 16h00 : Diário de uma busca de Flavia Castro (Brasil, 2010. 104’) 18h00 : Diário de uma busca de Flavia Castro (Brasil, 2010. 104’) 20h00 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’)
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13h45 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’) No andar de cima, os jovens, a marquesa Bianca Brumonti, mulher de um industrial de extrema-direita, e Konrad, seu amante; Lietta, filha de Bianca, e o namorado, Stefano. No andar de baixo, um homem velho, o professor mais afeito aos livros, aos quadros, à música, que ao contato direto com as pessoas. Para o diretor, o filme narra um confronto entre “um velho professor e a vitalidade dos jovens, o lado irracional dos jovens, a vontade de não acreditar no que existiu antes deles, de recusar tudo o que existiu antes deles”.
13h45 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’)
16h00 : Diário de uma busca de Flavia Castro (Brasil, 2010. 104’) “O filme começa com a morte de meu pai”, diz a diretora. “É uma tentativa de descobrir o que aconteceu, como ele morreu depois do exílio, em 1984. É quase uma história policial. Mas ao longo do filme isso se torna a busca da vida também. Durante muito tempo, pensar no meu pai, significava pensar em sua morte. As viagens que faço ao longo da busca são para contar do meu ponto de vista, e com as cartas de meu pai, o que eu e meu irmão vivemos quando crianças”. 18h00 : Diário de uma busca de Flavia Castro (Brasil, 2010. 104’)
16h00 : Diário de uma busca de Flavia Castro (Brasil, 2010. 104’) 18h00 : Diário de uma busca de Flavia Castro (Brasil, 2010. 104’) 20h00 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’)
QUINTA 20 13h45 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’) 16h00 : Diário de uma busca de Flavia Castro (Brasil, 2010. 104’) 18h00 : Diário de uma busca de Flavia Castro (Brasil, 2010. 104’) 20h00 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’)
20h00 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’)
Burt Lancaster : Violência e paixão | Gruppo di famiglia in un interno, de Luchino Visconti
OS FILMES DE JULHO SEXTA 22 13h45 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’) No andar de cima, os jovens, a marquesa Bianca Brumonti, mulher de um industrial de extrema-direita, e Konrad, seu amante; Lietta, filha de Bianca, e o namorado, Stefano. No andar de baixo, um homem velho, o professor mais afeito aos livros, aos quadros, à música, que ao contato direto com as pessoas. Para o diretor, o filme narra um confronto entre “um velho professor e a vitalidade dos jovens, o lado irracional dos jovens, a vontade de não acreditar no que existiu antes deles, de recusar tudo o que existiu antes deles”. 16h00 : Diário de uma busca de Flávia Castro (Brasil, 2010. 104’) “O filme começa com a morte de meu pai”, diz a diretora. “É uma tentativa de descobrir o que aconteceu, como ele morreu depois do exílio, em 1984. É quase uma história policial. Mas ao longo do filme isso se torna a busca da vida também. Durante muito tempo, pensar no meu pai, significava pensar em sua morte. As viagens que faço ao longo da busca são para contar do meu ponto de vista, e com as cartas de meu pai, o que eu e meu irmão vivemos quando crianças”. 18h00 : Diário de uma busca de Flávia Castro (Brasil, 2010. 104’) 20h00 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’) “Meu velho professor coleciona retratos de família, as Convesation pieces pintadas pelos ingleses”, disse o diretor na estreia do filme. “Os velhos se protegem de uma vida que não oferece mais qualquer ilusão. Os velhos procuram se refugiar em suas recordações, numa bagagem de conhecimentos que não cresce mais. Vi nesse personagem a oportunidade de representar um momento e uma classe. Eu vivi esse momento. Eu pertenço a essa classe. Somos velhos, eu e o professor, mas a identificação entre nós termina aqui.”
Silvana Mangano: Violência e paixão de Luchino Visconti
SÁBADO 23 13h45 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’) 16h00 : Diário de uma busca de Flávia Castro (Brasil, 2010. 104’) 18h00 : Diário de uma busca de Flávia Castro (Brasil, 2010. 104’) 20h00 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’)
DOMINGO 24 13h45 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’) 16h00 : Diário de uma busca de Flávia Castro (Brasil, 2010. 104’) 18h00 : Diário de uma busca de Flávia Castro (Brasil, 2010. 104’) 20h00 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’)
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QUARTA 27
13h45 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’) No andar de cima, os jovens, a marquesa Bianca Brumonti, mulher de um industrial de extrema-direita, e Konrad, seu amante; Lietta, filha de Bianca, e o namorado, Stefano. No andar de baixo, um homem velho, o professor mais afeito aos livros, aos quadros, à música, que ao contato direto com as pessoas. Para o diretor, o filme narra um confronto entre “um velho professor e a vitalidade dos jovens, o lado irracional dos jovens, a vontade de não acreditar no que existiu antes deles, de recusar tudo o que existiu antes deles”.
13h45 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’)
16h00 : Diário de uma busca de Flávia Castro (Brasil, 2010. 104’) “O filme começa com a morte de meu pai”, diz a diretora. “É uma tentativa de descobrir o que aconteceu, como ele morreu depois do exílio, em 1984. É quase uma história policial. Mas ao longo do filme isso se torna a busca da vida também. Durante muito tempo, pensar no meu pai, significava pensar em sua morte. As viagens que faço ao longo da busca são para contar do meu ponto de vista, e com as cartas de meu pai, o que eu e meu irmão vivemos quando crianças”.
16h00 : Diário de uma busca de Flávia Castro (Brasil, 2010. 104’) 18h00 : Diário de uma busca de Flávia Castro (Brasil, 2010. 104’) 20h00 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’)
QUINTA 28 13h45 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’) 16h00 : Diário de uma busca de Flávia Castro (Brasil, 2010. 104’)
18h00 : Diário de uma busca de Flávia Castro (Brasil, 2010. 104’)
18h00 : Diário de uma busca de Flávia Castro (Brasil, 2010. 104’)
20h00 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’)
20h00 : Violência e paixão (Gruppo di famiglia in un interno) de Luchino Visconti (Itália, 1974. 121’)
Diário de uma busca, de Flávia Castro
OS FILMES DE JULHO sexta 29
SÁBADO 30
14h00 : As praias de Agnès (Les plages d’ Agnès) de Agnès Varda (França, 2008. 110’) Com fotografias, fragmentos de filmes, entrevistas, e pequenas encenações, Varda compõe uma autobiografia, num passeio do tempo de criança na Bélgica até Paris, da descoberta do cinema até a participação na Nouvelle Vague, do casamento e dos filhos até a vida depois da morte de Jacques Demy.
14h00 : As praias de Agnès (Les plages d’ Agnès) de Agnès Varda (França, 2008. 110’) Com fotografias, fragmentos de filmes, entrevistas, e pequenas encenações, Varda compõe uma autobiografia, num passeio do tempo de criança na Bélgica até Paris, da descoberta do cinema até a participação na Nouvelle Vague, do casamento e dos filhos até a vida depois da morte de Jacques Demy.
16h00 : Diário de uma busca de Flávia Castro (Brasil, 2010. 104’)
16h00 : Diário de uma busca de Flávia Castro (Brasil, 2010. 104’)
18h00 : As praias de Agnès (Les plages d’ Agnès) de Agnès Varda (França, 2008. 110’)
18h00 : As praias de Agnès (Les plages d’ Agnès) de Agnès Varda (França, 2008. 110’)
20h00 : As praias de Agnès (Les plages d’ Agnès) de Agnès Varda (França, 2008. 110’)
20h00 : As praias de Agnès (Les plages d’ Agnès) de Agnès Varda (França, 2008. 110’)
DOMINGO 31 14h00 : As praias de Agnès (Les plages d’ Agnès) de Agnès Varda (França, 2008. 110’) Com fotografias, fragmentos de filmes, entrevistas, e pequenas encenações, Varda compõe uma autobiografia, num passeio do tempo de criança na Bélgica até Paris, da descoberta do cinema até a participação na Nouvelle Vague, do casamento e dos filhos até a vida depois da morte de Jacques Demy. 16h00 : Diário de uma busca de Flávia Castro (Brasil, 2010. 104’) 18h00 : As praias de Agnès (Les plages d’ Agnès) de Agnès Varda (França, 2008. 110’) 20h00 : As praias de Agnès (Les plages d’ Agnès) de Agnès Varda (França, 2008. 110’)
Instituto Moreira Salles Rua Marquês de São Vicente, 476. Gávea. Telefone: (21) 3284-7400 www.ims.com.br De terça a sexta, das 13h às 20h. Sábados, domingos e feriados das 11h às 20h Acesso a portadores de necessidades especiais. Estacionamento gratuito no local. Café WiFi. Como chegar: as seguintes linhas de ônibus passam em frente ao IMS: 158 – Central-Gávea (via praça Tiradentes, Flamengo, São Clemente) Agnès Varda: As praias de Agnès
170 – Rodoviária-Gávea (via Rio Branco, largo do Machado, São Clemente) 592 – Leme-São Conrado (via Rio Sul, São Clemente)
Ingressos avulsos Os ingressos para os programas em parceria com a Abraci e para Sessão dupla, em parceria com a Revista Cinética, custam R$ 10,00 (inteira) e R$ 5,00 (meia). Capacidade da sala: 113 lugares. Ingressos e senhas sujeitos à lotação da sala. Os ingressos das sessões de filmes do circuito comercial, feitas em parceria com o Unibanco Arteplex, custam de terça a quinta-feira: R$ 15,00 (inteira) e R$ 7,50 (meia); de sexta a domingo e nos feriados: R$ 17,00 (inteira) e R$ 8,50 (meia) Ingressos disponíveis também em www.ingresso.com
593 – Leme-Gávea (via Prudente de Morais, Bartolomeu Mitre) Ônibus executivo Praça Mauá - Gávea O programa de cinema do Instituto Moreira Salles tem o apoio da Cinemateca do MAM do Rio de Janeiro, da Cinemateca da Embaixada da França. E conta ainda com a parceria do Unibanco Arteplex, da Videofilmes, da Revista Cinética e da Associação Brasileira de Cineastas. Curadoria: José Carlos Avellar. Coordenação do IMS - RJ: Elizabeth Pessoa. Assessoria de coordenação: Bárbara Alves Rangel. Capa : As praias de Agnès de Agnès Varda, e Diário de uma busca de Flávia Castro Quarta capa: Violência e paixão, de Luchino Visconti e Família Braz - dois tempos, de Arthur Fontes e Dorrit Harazim
GRUPPO DI FAMIGLIA IN UN INTERNO | VIOLÊNCIA E PAIXÃO | DE LUCHINO VISCONTI
FAMÍLIA BRAZ - DOIS TEMPOS | DE ARTHUR FONTES E DORRIT HARAZIM
RETRATOS DE FAMÍLIA TAMBÉM NO PROGRAMA DE JULHO : DIÁRIO DE UMA BUSCA, AS PRAIAS DE AGNÈS, O VENTO NOS LEVARÁ, A CASA ASSASSINADA, ETERNAMENTE PAGU, MAR DE ROSAS E VIAGEM AO PRINCÍPIO DO MUNDO.