O natal da fia e do ladinho Era quarta-feria e chovia muito Afonso Pimenta compartilha suas memórias afetivas Essa foto foi numa comemoração de fim de ano, um dia chuvoso. Esse é o Ladinho e a Fia que são irmãos. A outra eu não sei, mas acho que é prima deles e o menino eu não sei falar ao certo se ele é filho da Fia ou do Ladinho, mas eu tô achando que é o filho da Fia, sobrinho do Ladinho. Eu não sei precisar a época que fiz essa foto, é mais ou menos para o lado de 83/84, por aí. Eu tô mais certo dessa data porque eu estava trabalhando ainda na lojazinha lá na rua Bandoneon, no Aglomerado da Serra, em BH. Foi um Natal na casa da Fia, na Vila Fátima, ou então na casa da Dona Efigênia, a mãe dos dois, que fica ali no Largo do Carrão, e hoje é o Largo do Canário, na praça do Cardoso. A Fia ainda mora lá, no Beco José Perpétuo, acima da Rádio Favela e o Ladinho - como a casa dele saiu - eles foram para um lugar distante. De vez em quando a gente se via lá no ponto. Agora, se essa moça na foto é parente deles eu não sei. Eu só vi ela nesse dia. Mas são pessoas amigas, pessoas conhecidas que eu tive o privilégio de entrar na casa deles, na época de comemoração, fazer o meu serviço e as emprestar também meu atendimento pela amizade que a gente sentia. A recordação que tenho dessa foto é da passagem do tempo. Hoje eu tô assim: envelhecido. Ladinho também tá envelhecido, a Fia também. A mulher envelhece menos que o homem, ela se cuida mais do que o homem. De vez em quando eu vejo ela lá e converso com ela. A Fia teve três filhos, se casou com Afrânio. Teve três filhos e todos três meninos. O Ladinho teve meninos e meninas, só que ele mudou de lá da Serra e na vez que eu vi ele a gente tinha tanta ênfase para conversar sobre tantas coisas do passado que a gente nem fala: “Onde é que tá morando, me dá o seu endereço, me dá seu número”. Muitas vezes eu que dou o cartão para eles... Mas depois, nem semrpe conseguimos nos falar.
Eu acredito que era na noite de Natal, me parece ser exatamente numa quarta-feira que deu essa comemoração. Aqui tá o Ladinho fazendo menção de dançar com a menina que eu acho que é prima deles. Já o menino me parece que é o primeiro filho da Fia, o Jefferson, que ficou muito grande pelo tamanho dos pais, quase chega a 2 metros de altura! Essa foto me traz simplicidade. Eles dançando ali, o menininho com a mão na boca assustado com a foto. Às vezes alguém pode ter falado: “Dá licença daí, tá tirando a foto” e talvez ele sem perceber ficou ali e apareceu. Tempos atrás, já se falava: “Vai ter comemoração lá em casa, vai lá tirar umas fotos”. E algumas vezes tinha foto para tirar numas cinco casas, por exemplo. Eu ia numa casa tirava alí e já ia para outra. Já teve noite de fotografar 4 aniversários de 15 anos, mas como era muito simples, não tinha aquela elevação toda: eu saía de uma festa e ia para outra. Essa semana mesmo eu conversei um menino que é filho de uma moça que eu fotografei os 15 anos dela, num dia desses que teve três aniversários pra fazer. Eu conheci os pais dela lá no Morro do Papagaio. Um dia ela ficou sabendo que tinha um emprego lá na Rua Guaxupé e que ela podia se candidatar. Se candidatou, foi aprovada e veio trabalhar na casa de família. Naquele tempo, as pessoas iam trabalhar e dormiam no trabalho, porque o acesso ao transporte era mais difícil. E lá conheceu o Nelson, e começou a namorar. O pai dela trabalhou junto comigo na prefeitura, varrendo rua. A gente trabalhava no Cruzeiro, Anchieta, Sion*. Ele morava no Papagaio e eu morava na Serra. E aí se casaram e tiveram o tal menino com quem eu tava conersando sem saber de quem era filho. Aí foi quando ele falou que era neto do Nelson e então contei a história de como eu conheci o pai dele, trabalhei com seu bisavô e que jogamos no mesmo time lá na Serra. A primeira vez que eu conheci o bisavô dele foi quando ele chamou os colegas de trabalho para ajudar a bater uma laje lá no Morro do Papagaio e a gente conversou bastante.
* Bairros de Belo Horizonte.
Nessa foto da sequência já aparece o Afrânio, marido de Fia. Isso aí era zoação pura, sempre quando o cara ia tirar foto já ficava assim. O Afrânio toda vida foi meio avacalhado mesmo, né! Ele não ligava para nada, mas foi tudo na brincadeira. Isso representa alegria de quando, naquela época, as pessoas se reuniam para fazer uma confraternização na noite de Natal e no Ano Novo, ficavam batendo papo... Agora é dificilmente a gente vê isso. O Afrânio e Fia tiveram três filhos. Um deles morreu, digo, morreu de morte matada, não sei se é algum dos meninos na foto. Hoje o Afrânio mora em Venda Nova e o Ladinho acho que está pros lado do Barreiro. A Fia continua na Serra. Outro dia visitei a mãe deles, Dona Efigênia, que mora lá perto da Caixa d’água. Tá bem velhinha, mas assim lúcida, tudo certinho. A família vai se parcelando né?! Cada um está num bairro diferente. Mas é bom ver todo mundo na alegria e ter a satisfação das boas amizades...
Fotografias I Afonso Pimenta Coordenação / Idelização I Guilherme Cunha Produção I Projeto Retratistas do Morro Restauração digital de Imagem I Guilherme Cunha Entrevista I Carina Santos Transcrição I Clarissa Duarte Digitalização I André Oliveira / Douglas Mendonça