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MAR | ABR 2015
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Ficha Técnica Direção: INDIEROR Redação: Diogo Martins Martins, Marta da Costa, Rúben Sevivas, Tiago Ribeiro Colaboradores (Residentes): Manuela Raínho, Ernesto Areias, Paulo Coimbra, Tânia Santos, Wilson Pinto Colaboradores (Convidados): Mariana Pinto Design: INDIEROR Grafismo: Tiago Ribeiro, Diogo Martins Martins Revisão: Marta da Costa Fotografia: Marta da Costa, Tiago Ribeiro Impressão: Gráfica Sinal Rua Doutor António de Carvalho e Sousa 5400-570 Chaves Tiragem: ---2º Edição | 2015
A Ror de Coisas é propriedade da INDIEROR. Todos os artigos originais são propriedade da mesma. É proibida a reprodução total ou parcial de textos, fotografias ou ilustrações da revista Ror de Coisas para quaisquer fins, incluindo comerciais, sem autorização expressa da Direção.
Índice
Globalização Limitada
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Transmontanos pelo mundo
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Um Espétaculo que estreou a 35 Anos
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Entrevista a José Leon Machado
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Uma Viagem Contemporânea Pela Arquitectura Flaviense
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O Misticismo de uma Terra Prometida
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Miasmas
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Eratóstenes, de Cirene
39
Entre Aspas
41
No Dia em que a Cultura Morrer
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Correntes de Escritas
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Coordenadas
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Juntouros Passados
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Agenda Cultural
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mata-bicho | s.m. substantivo masculino [Informal] Pequeno-almoรงo. [Informal] Gole de aguardente em jejum.
Globalização
Limitada
“A união do rebanho obriga o leão a deitar-se com fome” é o provérbio africado que se pode ler nos cadernos escolares que, com a sua compra, têm o objetivo de ajudar a preservação do Parque Nacional da Gorongosa. A globalização é uma vantagem e o acesso fácil à informação e conhecimento são uma mais-valia destes nossos tempos. Ninguém se atreve a pôr em causa esta afirmação, nem tampouco evocar saudosismos hipócritas. Todavia, é necessário, ou melhor, urgente; é urgente a desmistificação do processo global da partilha de informação e conhecimento como prática de inovação e evolução.
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Hoje, a construção de um sujeito, da sua identidade, pode fazer-se exclusivamente com recurso a um computador e acesso à internet. Contudo, sacrificam-se, deste modo, as comunidades que se fragmentam
e desmantelam em prol de uma utopia de inovação e evolução global. Ilusão tal que desertifica o mundo físico menos favorecido e fortalece uma realidade abstrata que se tem por garantida - comunidades virtuais e imateriais; um matrix distópico que espera o regresso do messias. Perde-se o rebanho, ganha força o leão! Perde-se a comunidade, ganha força o poder e interesse individual! Com o berro de uma ovelha se pode iniciar uma rebelião, mas cabe ao rebanho finalizar a revolta!
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Transmontanos pelo Mundo
Mariana Pinto 22 anos São Tomé e Princípe Fotografia | Mariana Pinto
Passei o mês de Janeiro num projeto de Voluntariado em São Tomé e Príncipe Projeto Querer e Fazer (PQ&F) -, composto por estudantes dos cursos de Medicina, Ciências Farmacêuticas, Optometria e Ciências da Visão e Ciências Biomédicas da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior (FCS-UBI).
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Este projeto pretende desenvolver e executar ações de apoio na área da saúde e educação nos Países em Vias de Desenvolvimento (PVD), com especial incidência nos Países de Língua Oficial Portuguesa (PALOP). Pretende ainda
favorecer o estreitar de relações de cooperação entre Portugal e estes países. Deste modo, os estudantes da área de saúde integrados no projeto tiveram a oportunidade de entrar em contacto com outras realidades socioculturais e higieno-sanitárias, contribuindo assim para uma melhor humanização e uma melhoria na qualidade de vida das comunidades em questão. Esta oportunidade pretendia ainda tornar estes futuros profissionais de saúde mais capacitados para o exercício das suas funções. Neste contexto, o PQ&F, em parceria com os Ministérios da Saúde e da Educação de São Tomé e Príncipe e com a
UNICEF, idealizou este protocolo que iniciou este ano. A aventura em São Tomé começou da melhor maneira, com um ótimo clima desde o momento de saída do avião. Logo no aeroporto apercebi-me da grandes diferença de realidades entre São Tomé e Portugal, nomeadamente na simplicidade de recursos, no acolhimento e na humildade das pessoas. Com o início das atividades e o decorrer do tempo previ uma experiência de vida única: guardo na memória o mar de crianças à espera das respetivas consultas;
importância que os familiares mais próximos lhes dão, a pobreza social e, mais do que isso, a pobreza de espírito dos mesmos.
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nunca tinha visto tantos miúdos juntos, o que me relembrou o quão envelhecida se encontra a população de Portugal. Os elementos da equipa do hospital (médicos, enfermeiros, técnicos de farmácia, técnicos de análises, e outros funcionários) surpreenderam-me com o excelente acolhimento, a enorme vontade de nos transmitir os seus conhecimentos e o interesse em aprender connosco. Acompanhámos também algumas missões portuguesas (de cardiologia e de cirurgia pediátrica) que aceitam prestar voluntariamente os seus serviços e que, durante os 15 dias que permanecem no país, se entregam totalmente a estas
pessoas tão necessitadas. Houve também alguns momentos negativos, sobretudo quando me deparei com a falta de cuidado que as mães têm com os seus filhos e com elas próprias, com a falta de conhecimentos sobre as doenças mais prevalentes neste país, com a idade precoce com que têm o primeiro filho e com a falta de recursos do centro. Participei também num projeto de apoio a deficientes físicos (Movimento Busca Bida). Fiquei extremamente indignada com as condições em que muitos vivem, o frágil estado de saúde, a falta de
A parte mais chocante para mim foi a secção de queimados. Devido à falta de recursos hospitalares, tanto a nível de medicamentos, como a nível de materiais, estas crianças passam por momentos de enorme sofrimento. Uma situação alarmante, uma vez que o número de queimados tem aumentado drasticamente, razão pela qual a equipa está interessada em fazer uma investigação para averiguar e combater esta situação. Em grupo fiz uma inspeção a um barco petrolífero que tinha chegado nesse dia a São Tomé. Vivemos uma verdadeira aventura! Deslocámo-nos numa canoa um pouco deteriorada e acedemos ao barco a partir de umas escadas de madeira e corda.
Verificámos se havia algum tripulante doente e quais as condições de armazenamento dos medicamentos, bem como os respectivos prazos de validade. Além disso, realizámos outras tarefas como analisar os boletins de vacinas de todos os tripulantes, aferir o acondicionamento dos alimentos e as condições gerais de segurança, higiene e temperatura do barco. No meio de tudo isto tive ainda tempo para conhecer e aproveitar o lindíssimo país que é São Tomé e Príncipe: um clima excelente (tinha um problema: mosquitos!), praias paradisíacas,
paisagens maravilhosas e pessoas marcantes que nunca mais esquecerei. Este mês passou a voar, com muita pena minha, pois a minha vontade era de continuar aqui por mais algum tempo. Foi uma experiência bastante enriquecedora, tanto a nível profissional, como a nível pessoal. A melhor lição desta aventura: mesmo com pouco se pode fazer muito, basta querer. Regressei a Portugal com vontade de voltar. _
Um Espetรกculo que Estreou Por Marta da Costa
hรก 35 Anos
O Teatro Experimental Flaviense (TEF) celebra 35 anos. “O sonho comanda a vida” e, neste caso, o sonho dá alento à cooperativa que continua a exercer a sua força no panorama cultural da cidade de Chaves.
Um sonho com 35 anos Cerca de 20 fundadores são responsáveis pela criação da cooperativa cultural – Teatro Experimental Flaviense (TEF). O sonho nasce a 20 de Janeiro de 1980, num tempo bastante diferente daquele que vivemos hoje. Rufino Martins, atual diretor do TEF, conta que “as pessoas eram generosas e tentavam dedicar-se à cultura e contribuir quer seja através da criação de associações, quer seja mesmo no dia-a-dia”. O Teatro Experimental Flaviense não foge à regra e encontra no teatro d’Os Canários a sua inspiração. Este grupo, que se dedicava ao teatro, funcionava também como referência para a comunidade flaviense apreciadora das
artes cénicas. Tal como o grupo Os Canários, também outras pessoas se dedicavam ao teatro e procuravam passar essa paixão a outros flavienses. Rufino Martins recorda o conhecido professor José Henriques, que dava algumas noções de teatro num salão da Rua Direita, em Chaves, salientando que “isso tudo deu origem a que muitas pessoas ficassem ainda mais permeáveis ao teatro e tentassem construir grupos”. Com o cessar de atividades do grupo Os Canários, a população flaviense amante de teatro une-se ao TEF, o que deu mais
ânimo aos fundadores para a oficialização do grupo enquanto cooperativa. Rufino Martins não assumiu o papel de Diretor logo desde o início, mas, graças aos seus conhecimentos de constituição de associações, deu o seu contributo para a criação da cooperativa. Em 1980 dá-se a formação oficial, passando o TEF a trabalhar de forma mais organizada e séria. Tornou-se Centro de Cultura e Desporto (CCD) da Fundação INATEL, o que permitia ao TEF percorrer os restantes centros do distrito de Vila Real. _
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A riqueza dos melhores mestres Os 35 anos vividos pelo TEF foram preenchidos não só por altos e baixos. Ainda assim, estes anos de vida foram preenchidos por muita aprendizagem, que permitiu ao TEF manter-se em atividade até aos dias de hoje. O balanço que Rufino Martins faz deste período é positivo, pois “se continuávamos o grupo de amigos que gostava de teatro e fazíamos as coisas por nós próprios, não sei se o TEF já existiria”.
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A riqueza dos ensinamentos proveio logo do primeiro mestre que, simpatizando com o grupo de fundadores, aceitou colaborar com o TEF e transmitir ensinamentos teóricos e práticos. O mestre em questão é
Bento Martins, do qual Rufino Martins recorda com carinho um episódio em que apresentaram uma peça à noite, sendo que no início da tarde tinham saído para se divertirem: “Eu lembro-me de que uma vez fomos fazer um espetáculo, em que no final ele nos chamou e disse: «Este espetáculo correu muito mal». Fizemos o espetáculo à noite, muitos não deram o melhor e ele no fim foi muito severo: «O teatro é uma coisa séria, há que ter cuidado e planear as saídas e cumprir da melhor forma com o dever que possuímos». Esta foi uma aprendizagem que de facto foi muito importante para nós.”
Bento Martins marcou de tal modo o Teatro Experimental Flaviense, que, em sua homenagem e por decisão unânime da direção, foi dado o seu nome à atual sede do TEF – Cine-Teatro Bento Martins. Recentemente o grupo foi a Carnide, de onde Bento Martins pertencia, apresentar o último espetáculo encenado pelo mestre. Rufino Martins realça o facto de que “as palmas foram elucidativas da qualidade do espetáculo, da amizade que as pessoas de lá têm por nós e nós por elas, e do recordar dos bons momentos que tivemos com o Bento”. Ao longo destes 35 anos, outros mestres
passaram também pelo TEF, tal como Geovanno, um mestre belga que trouxe uma nova perspetiva à visão ainda hermética que os atores tinham em relação ao teatro. Lançou o desafio e o TEF apresentou, com a sua ajuda, um espetáculo montado a partir de artigos de jornal.
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O último grande mestre que pisou o palco do Teatro Experimental Flaviense foi Ruy de Matos, que veio do Teatro Nacional D. Maria. O atual diretor do TEF realça os seus vastos conhecimentos teóricos e práticos e a dedicação que depositava em cada espetáculo: “quando chegava a Chaves, nos primeiros dias, o trabalho dele era correr todas as lojas para saber os tecidos que havia lá e o que se podia fazer com eles. Depois corria as lojas para adereços para ver o que era possível usarmos nas peças. Ele era incansável”. Rufino Martins admite que Ruy de Matos
trouxe um outro tipo de ensinamentos, voltados sobretudo para a área da produção, na altura mais apropriada. Ainda assim, confessa que em alguns momentos a aprendizagem foi para ambas as partes: “ele (Ruy de Matos) quando montou a primeira peça, foi uma peça monstra: os cenários eram monstros; e, como somos um grupo que usa a itinerância e sai de vez me quando com os espetáculos, o que aconteceu é que os cenários não cabiam na carrinha. Então tivemos de estar até às tantas da madrugada a corta-los ao meio, a encaixa-los uns nos outros, para a primeira saída com esse espetáculo”. Esta aprendizagem adquirida foi também complementada com formações dadas por algumas figuras de renome nacional, que a equipa do Teatro Experimental Flaviense obteve e que procura transmitir agora para as novas gerações que querem
experimentar o universo do teatro. O trabalho do TEF reflete-se na forma como a população de Chaves encara os espetáculos a que assiste. Como afirma Rufino Martins, “já há muitas pessoas na cidade de Chaves que sabem ver teatro com olhos de ver e não ver por ver. E acho que aí é bom sinal para nós, para a cidade e para a região”.
Quando a ficção se confunde com a realidade Escolher uma única peça que marque o percurso destes 35 anos de vida do Teatro Experimental Flaviense não é tarefa fácil. No entanto, Rufino Martins destaca um projeto que afetivamente se revelou muito marcante – Terra Firme, de Miguel Torga – porque transmitia a mensagem de que as gerações passam, mas a terra permanece. Era uma realidade muito presente na altura e, tal como ressalta Rufino Martins, é algo que atualmente também vemos através do abandono das aldeias e da emigração dos jovens. Rufino conta um episódio em que “um senhor pediu para ir no final ao palco com o ator que fazia o tal Pai que andava desgostoso, abraçou-se a
ele, e não conseguiu dizer uma palavra, tal era a emoção. Aquilo tocou-nos e marcou-nos um bocado”. Para além de Terra Firme, outras peças ficaram na memória do TEF, mas Rufino Martins salienta o facto de já terem no repertório peças no mesmo patamar de qualidade que aquelas encenadas por Bento Martins ou Ruy de Matos. O diretor destaca o recente projeto Teatro Às Três Pancadas, uma obra de António Torrado, “que é um trabalho que está com imaginação, que consegue transmitir o que o António Torrado queria, e que tem sido bastante apreciado”.
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O futuro
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As atividades do Teatro Experimental Flaviense vão muito além do teatro. No leque de ofertas encontram-se outras atividades que surgiram com o intuito de colmatar as carências culturais da região. A oferta cinematográfica é uma delas e é com orgulho que Rufino Martins chama a atenção para o facto de “a melhor máquina de cinema, de 35 mm, instalada na cidade de Chaves foi a nossa, que agora é a máquina que está desatualizada e que necessita de ser substituída pelo digital”. Mas o acompanhar da tecnologia implica gastos e investimentos, o que exige uma enorme maleabilidade nas contas do TEF. Rufino ainda sonha com uma máquina de
cinema digital capaz de satisfazer a população flaviense. Apresentou uma candidatura ao programa de apoios da Gulbenkian, mas tal foi recusado pelo facto de o TEF ser uma cooperativa. “A gente não se poupa a esforços!”, afirma convictamente Rufino Martins, que conta ainda a forma como conseguem fazer investimentos e obter algum lucro das suas atividades: “diversificamos as atividades: fazemos espetáculos de teatro, projetamos cinema, alugamos guarda-roupa, alugamos o espaço,... Por outro lado fazemos também contratos para realização de atividades para entidades. E é aí que de facto a gente consegue manter-se”. Os aparentes pequenos passos que o Teatro Experimental Flaviense dá não significam que não dispõem de equipamento de qualidade. “Todos os grupos que vêm aí, amadores e profissionais”, conta Rufino Martins,
“dizem que o sonho deles era ter um espaço como o que nós temos, adaptado e preparado como temos, com a acústica que tem, e as condições técnicas que tem. Isso enche-nos de orgulho e nós sabemos que de facto, no país, há alguns espaços muito bons mas são fundamentalmente em zonas de grandes cidades”. No que toca aos próximos 35 anos, a vontade do Teatro Experimental Flaviense é só uma: “atrair mais pessoas para o teatro”. A adesão da população aos espetáculos é a principal forma de sobrevivência desta casa que há 35 anos tem tido um papel ativo no panorama cultural da cidade de Chaves, uma casa que soube adaptar-se aos tempos e que tem contrariado a infeliz realidade das regiões do interior norte de Portugal. Os sonhos continuam. Parabéns ao Teatro Experimental Flaviense!
Entrevista a Por Manuela Rainho
José Leon Machado
Sexta-feira, fim de tarde. Encontro marcado num café bem conhecido. Pontual, o escritor chega. O pessoal da fotografia também. Movimento intenso no café. Optámos pela Biblioteca Municipal. Começa a conversa com José Leon Machado. Homem do norte, simpático, acessível, senhor de um entusiasmo contagiante. Deixa-se fotografar, enquanto me preparo para a amena conversa que temos. Momento de conversa informal que antecede a entrevista, falámos na crónica que escrevi para a revista e por essa via chegámos a um conhecimento agradável.
Dessa conversa destaco a autodefinição que reputo pertinente: «Mais do que romancista, sou poeta, embora não escreva muita poesia.» Manuela Rainho: Para si, o que representa escrever? José Leon Machado: Escrever é difícil. Já uma vez tinha dito isso ao Semanário Transmontano. Passo semanas, meses sem escrever. Não é uma necessidade como muitos têm. Escrevo quando me apetece, quando gosto, quando quero dizer alguma coisa de novo; não escrevo por necessidade. Acho mais divertido fazer
outras coisas: ler é muito mais divertido do que escrever. Quando preciso de escrever, é no sentido de dar a conhecer alguma coisa. Daí a escrita ser importante do ponto de vista da comunicação com o outro. Vejo a escrita não como um intimismo, uma necessidade de eu me espairecer no papel, como alguns escritores, mas antes como uma forma de comunicar algo para alguém ler. Não estou a pensar em determinado perfil de leitor específico. Mas escrever pressupõe comunicar com alguém. M.R.: Considera-se um ser criativo? Como se processa esse processo criativo?
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J.L.M.: Tenho outro irmão e sempre fomos muito criativos os dois, desde miúdos. Como partilhávamos o quarto, entretínhamo-nos a inventar histórias. O curioso é que neste momento ambos escrevemos. Ele já tem quatro ou cinco livros publicados, é um indivíduo muito imaginativo. Embora não me considere tão imaginativo como ele, de certa forma também sou bastante criativo. A criatividade tem a ver não só com questões genéticas, mas com o ambiente familiar em que crescemos. A minha mãe, por exemplo, sempre nos contou histórias, bem como a minha avó materna. Portanto vivi a infância rodeado de histórias e livros.
A criatividade tem de se cultivar; por isso a educação e a envolvência ajudaram muito na minha criatividade. M.R.: Existe uma crise de identidade cultural transmontana? De que forma ela se manifesta na sua obra? J.L.M.: Conheci Trás-os-Montes há vinte e tal anos e só posso falar do que vi a partir daí. Em relação aos últimos anos, têm-se notado muitas mudanças e nem sempre para melhor. Quando vim para cá, creio que as pessoas eram mais simpáticas, mais acolhedoras. Ao longo do tempo verifiquei que se perderam alguns valores que seriam
próprios da sociedade transmontana. Nesse aspecto, talvez a identidade transmontana esteja a diluir-se com o envelhecimento da população, com a saída dos jovens que não regressam. Não tenho uma visão muito concreta dessa identidade, mas se há uma crise de identidade nacional, a transmontana é um reflexo da outra. No Brasil, por exemplo, a crise económica é combatida com a união das pessoas e a entreajuda. Aqui acontece o contrário: as pessoas tornaram-se mais egoístas. Provavelmente essa crise de identidade cultural pode ser uma consequência daquilo por que estamos a passar. M.R.: Enquanto pessoa de cultura que vive na era da globalização, de que forma ser do Norte/Transmontano o condiciona e/ou integra? J.L.M.: Eu viajei muito, graças ao facto de
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ser professor universitário, por causa dos congressos; quanto mais viajo, mais gosto da minha terra. A minha terra é o Norte, digamos assim, do Douro para cima. E quanto mais viajo por outros países, mais gosto do Norte. Identifico-me com a paisagem e não tanto com a forma de ser das pessoas, pois até certo ponto sou um estrangeirado, porque não tive uma educação convencional como a maioria dos da minha idade. Com 21 anos, por exemplo, fui à França, convivi com os franceses. Isso foi uma forma de libertar os fantasmas, as obsessões. Era jovem e fez-me muito bem. Sou um estrangeirado que gosta do local onde nasceu: o Norte,
Minho e Trás-os-Montes. Dou-me cada vez melhor nesta região portuguesa e não me identifico com as restantes regiões do país. Os meus romances, a maior parte deles, têm personagens minhotas e transmontanas. M.R.: Como definiria José Leon Machado enquanto pessoa de cultura e de escrita? J.L.M.: Mais do que ser escritor, devemos ser leitores. O leitor é uma pessoa de cultura. Para se ser uma pessoa culta é necessário ser bom leitor. Consequentemente, para se ser bom escritor deve-se ser bom leitor. Talvez seja
por isso que gosto mais de ler do que qualquer outra atividade intelectual. É sobretudo lendo que nos cultivamos. Claro que viajar, ver arte também é importante. Uma pessoa de cultura é alguém que está atenta àquilo que a rodeia e não adormece com o canto da cigarra: a propaganda política e a manipulação pela publicidade. Quem tem cultura dificilmente se deixa manipular.
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Uma Viagem Contemporânea Pela Arquitectura Flaviense A contemplação mental da Arquitectura: Igreja da Sagrada Família Por Tânia Santos
A Igreja da Sagrada Família é a obra arquitectónica contemporânea, situada na nossa região, escolhida para ser apresentada nesta edição. A igreja localiza-se na freguesia de Santa Cruz, em Chaves, num terreno com uma forte pendente. O conjunto edificado é composto pela igreja, um museu de arte sacra, uma sala polivalente, oito salas de catequese e duas capelas mortuárias. O projecto, iniciado em 1995 e concluído em 2009, é da autoria do influente arquitecto português Agostinho Ricca.
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O edifício não foi propriamente bem recebido pelo público. A relação que o
observador estabelece com determinada obra baseia-se, geralmente, numa “primeira impressão” que o aspecto exterior lhe suscita. Por isso, penso que, ao projectar o edifício, o arquitecto estava já consciente do impacto controverso que este iria causar. Sobretudo, quando opta pelos tons de cinza escuro do betão aparente, que contrastam com o branco e as cores vivas que revestem os edifícios de habitação adjacentes. A exploração do contraste material é uma paradigma que se coloca na arquitectura contemporânea. Neste caso, mais do que qualificar a ligação da obra com a envolvente, julgo que a escolha material enriquece o sentido
escultórico do objecto. Por outro lado, o lugar de implantação da igreja, posicionado numa área fundamentalmente residencial, sempre me pareceu questionável. Prevalece a sensação que a obra se esconde entre os edifícios de habitação que a envolvem. Neste caso particular, não é a dimensão do volume da igreja que incomoda, mas antes a proporção espacial que conforma toda a área envolvente. O terreno destinado ao projecto, na verdade, englobava parte da área, entretanto ocupada pelas habitações da Urbanização Varandas do Tâmega. Efectivamente, sente-se que o
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Apesar das perturbações do lugar de implantação, o arquitecto aproveita as interessantes perspectivas visuais que o terreno estabelece com a paisagem. Se observarmos o edifício a partir da varanda exterior, que se configura na cota superior do terreno, é possível espreitar as aldeias acidentadas que conformam a região. Um autêntico quadro pintado pelo próprio arquitecto, com o objecto em primeiro plano e a paisagem a cobrir o plano de fundo.
através da entrada de luz por um grande janelão, orientado a noroeste. Finalmente, ao entrar, esta luz é reflectida pela parede lateral superior para o piso inferior, onde se situa o presbitério. Por sua vez, o espaço litúrgico recebe uma iluminação directa, mais difusa, que provém das aberturas laterais. Esses vitrais, desenhados pelo artista plástico Francisco Laranjo, recriam um jogo de composições geométricas. Apesar da sua linguagem contemporânea, os envidraçados conservam a qualidade de reforçar a atmosfera de recolhimento do espaço, ou seja, são aplicados com a mesma função que desempenham nas igrejas tradicionais.
Convido então o observador a entrar na igreja. Saliento o cuidadoso tratamento de luz que o espaço recebe. Na escuridão do interior, distingue-se a luminosidade do espaço do presbitério, que enfatiza o seu aspecto simbólico. Este efeito é conseguido
Por fim, uma nota para o emprego dos materiais. O betão aparente das paredes, que expressa toda a “verdade estrutural” do edifício, é combinado com a madeira empregue na cobertura, no pavimento e nalgumas carpintarias, como bancos e
equipamento público necessitaria desse espaço (vazio) para respirar e assim se integrar naquela urbanização.
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portas. Excepcionalmente, para novamente ressaltar a importância do presbitério, o cenário é materializado em mármore. Quando contemplei pela primeira vez o espaço interior desta igreja, senti-me imediatamente envolvida pela arquitectura. Despontaram-me à cabeça conceitos como meditação, reflexão, silêncio ou refúgio, próprios da essência do espaço religioso. Provavelmente, é esta simbólica “primeira impressão” que fomenta o meu encanto pela obra. _
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O Misticismo de uma Terra Prometida
Por Rúben Sevivas
Aquando do fecho da edição ainda não era conhecida a morte do cineasta Manoel de Oliveira
Acto da Primavera (1963) Manoel de Oliveira 94min Realização, Produção, Fotografia, Montagem e Som – Manoel Oliveira Argumento – segundo o Auto de Paixão de Francisco Vaz de Guimarães Intérpretes – Nicolau Nunes da Silva (Cristo), Ermelinda Pires (Nossa Senhora), Maria Madalena (Madalena), Amélia Chaves (Verónica), Luís de Sousa (Acusador), Francisco Luís (Pilatos), Renato Palhares (Caifás), Germano Carneiro (Judas), José Fonseca (Espião), Justiniano Alves (Herodes), João Miranda (S. Pedro), João Luís (S. João), Manuel Criado (Diabo), Manoel Oliveira (Narrador) e o povo de Curalha-Chaves. Local – Curalha - Chaves
Falar do Acto da Primavera e, principalmente, de Manoel de Oliveira é uma tarefa muito ingrata em tão poucas palavras. Tendo em conta, também, que se trata de um dos meus filmes favoritos e um dos realizadores que mais prezo. Acto da Primavera é um dos filmes mais importantes, dos mais estudados da filmografia nacional e, juntamente com Os Verdes Anos de Paulo Rocha, marca a viragem para uma nova forma de se fazer e pensar cinema em Portugal. Manoel de Oliveira, com 106 anos de vida e 84 de carreira como cineasta, é o realizador mais velho do mundo ainda em atividade. Contudo, não é aí que reside a sua importância, nem a sua genialidade. O seu trabalho, a sua persistência, a sua jovialidade e o seu dinamismo refletem-se nas suas obras constantemente originais e desafiantes.
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Todos os anos, pela altura das celebrações Cristãs da Quaresma e da Páscoa, os habitantes da aldeia de Curalha, a poucos quilómetros da cidade de Chaves, levam a cena o Auto da Paixão de Cristo.
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Foi esta prática popular que chamou à atenção de Manoel de Oliveira e o inspirou a fazer um filme. Ora, é exatamente neste momento que preciso de distanciar o Auto, encenado pelo povo, da representação do mesmo feita por Oliveira. O filme não é uma reprodução da encenação popular do Auto da Paixão, nem se limita a ser o registo da sua feitura. O Acto da Primavera é a transfiguração desse Auto a objeto
cinematográfico. E mais. Muito mais! Nos primeiros 10 minutos de filme, saltamos por diversas imagens e contextos: desde a aldeia com os lavradores, enquanto se ouvem, em voz off, passagens bíblicas; desde a leitura da notícia de uma viagem à Lua até à preparação do Auto; passando ainda pela chegada de gente claramente urbana que repara na encenação, até à própria equipa de filmagens e ao início do Auto em si. Deste modo, principalmente com a exposição do material, processo e equipa de filmagem, Oliveira desmente a
encenação do Auto. O que o espectador vê é a “cinematografização” do Auto, ou seja, o espectador já sabe que foi o povo de Curalha a fazer o Auto; já sabe que são gentes da terra e não atores profissionais; já sabe que existem espectadores e sabe, também, que o espetáculo vai começar e vai ser filmado. Contudo, a partir daqui, o Auto pertence ao realizador que, dispondo dos artifícios e especificidades do cinema, abandona a procura pelo tradicional, decompondo e desmonumentalizando a representação do Auto como encenação teatral e prática cultural e popular. Oliveira transforma e eleva o Auto a obra exclusivamente cinematográfica.
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Acto da Primavera é um filme que não grita, mas sussurra. Devo lembrar que foi filmado entre 1961 (inicio da guerra colonial) e 1962; estreando em 1963. A ditadura que se fazia sentir em Portugal controlava a produção cinematográfica e até produzia e incentivava a prática do cinema, contudo, sob o cunho pesado da censura.
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Como Alves Costa disse: “Oliveira [com o Acto da Primavera] ousava dizer, por subtis linhas travessas, o que ninguém, entre nós, ousara dizer por linhas tortas ou direitas...”. Isto é, Oliveira estreia subtilmente um filme sobre religião e sobre “uma comunidade que, para além das fainas e dos ritmos quotidianos, se transfigura em seus rituais ingénuos mas sinceros”, contudo, aproveita toda a mensagem do Auto da Paixão para fazer o espectador pensar nas suas ações e no que é e tem sido a humanidade.
Jesus morreu pelos pecados do homem. Mas terá sido essa morte em vão? Continuaremos, como humanos, a pensar na morte de alguns como consequência por um bem maior? Será o mundo, hoje, um lugar efetivamente melhor? Tudo isto, e mais, nos passa pela cabeça aquando do visionamento do final do Acto da Primavera. Uma das melhores metáforas e, permitam-me a expressão, bofetadas cinematográficas da historia do cinema. É impossível ficar indiferente a tal visionamento. Não quero desvendar o segredo do filme; não me vou alongar sobre a montagem que encerra o filme e transparece a intenção do realizador de fazer o espectador questionar-se sobre o poder e a desigualdade, por exemplo. Gostaria de pedir, contudo, que vissem o Acto da Primavera. Podem passar partes do Auto à
frente. Eu não me incomodo! – afinal quase todos conhecemos a estória da Paixão de Cristo – ou seja, veem mais ou menos 10 minutos de filme, o que quiserem do Auto e o final. Manoel de Oliveira consegue, com o Acto da Primavera, passar de um contexto exclusiva e tipicamente português, para uma questão de dimensão global: a Humanidade e/ou desumanidade (se é que o termo existe separadamente do primeiro). Na Primavera estamos sempre à espera de novos despertares, neste acto não é diferente!
“condeno aquilo que simula a própria realidade e que induz o espectador a assistir a um espetáculo que o envolve como se fosse a própria realidade, quando não é! Filmar é constituir uma realidade cinematográfica que por sua vez representa uma outra realidade [...]; o que aconteceu é aquilo que lembramos e que cada um de nós viu de pontos de vista diferentes.” 5 Manoel de Oliveira
Miasmas Por Wilson Pinto
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Eratóstenes Por Paulo Coimbra
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de Cirene
Eratóstenes (276?-194? AC) é uma daquelas pessoas cuja mente brilhante muito admiro.
sem qualquer sombra das suas paredes. Ora, nesse mesmo dia em Alexandria, onde ele residia, isso não acontecia!
Grego de nascimento (nasceu em Cirene, atualmente território Líbio), foi convidado por Ptolomeu III, no ano de 246 AC, para ser o tutor do seu filho e também, mais tarde, bibliotecário em Alexandria.
O que para qualquer outra pessoa seria um facto banal sem dar azo a qualquer reflexão, foi para Eratóstenes motivo suficiente para o levar a pensar! Porque é que assim era? De imediato concluiu: - Para as sombras serem diferentes, a Terra teria que ser redonda, nunca poderia ser plana!
Certa altura, lendo um papiro, teve conhecimento que na cidade de Siena (agora Assuão), mais a sul, as colunas não produziam qualquer sombra ao meio-dia do dia 21 de Junho. A própria luz do Sol era totalmente refletida no fundo de um poço,
Para medir a distância entre Siena e Alexandria socorreu-se da ajuda do rei, que disponibilizou os bematistas –
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Alexandria
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agrimensores treinados para caminhar com passos sempre do mesmo tamanho, tendo obtido um valor (em unidades atuais) de cerca de 800 km. Mediu também o ângulo que a sombra de uma vara fazia com a vertical, em Alexandria, ao meio-dia do dia 21 de Junho, tendo obtido o valor de 7º 12’. Com estes dados chegou a outra conclusão: - Se a 7º 12’ (um quinquagésimo de 360º) correspondiam 800 km, a circunferência da Terra (360º) mediria cerca de 40 000 km (50 x 800)!
exatamente de 40 075 km (se equatorial) e de 40 008 km (se meridional). Com varas, passos, medidor de ângulos e …, uma mente brilhante, tiram-se estas conclusões.
Sabemos
Fantástico!
agora
que
esse
valor
é
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Entre Aspas “
Por Manuela Rainho
Embora ainda não tenha lido toda a obra do autor sobre quem vou falar, penso que o que li é suficientemente elucidativo para poder emitir um parecer sobre o escritor José Leon Machado. Ainda que não seja filho da terra, foi aqui em Chaves que se radicou e é aqui que vive. Que aspectos e vertentes do escritor me pareceram mais estimulantes e desafiantes?
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Antes de mais a forma como selecciona os títulos dos romances ou colectâneas de contos. Penso que o título de um livro reveste uma importância inegável pois é a partir do mesmo e da ilustração da capa que somos cativados. Se entre o título
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apresentado e o conteúdo do romance existe ou não alguma identificação só o ficamos a saber depois de ler, todavia somos cativados por esse mesmo título. As obras lidas foram: A Vendedora de Cupidos, O Guerreiro Decapitado, Memórias das Estrelas sem Brilho, Braços Quebrados, Os Incompatíveis e Jardim sem Muro. Como se pode constatar títulos diversificados, cativantes e desafiadores. Como forma de exemplificar o estranhamento sentido ao constatar que nem sempre o título reportava ao conteúdo da narrativa, posso confidenciar-lhes que A Vendedora de Cupidos é o título de uma
pintura que pertence à protagonista do romance. Já relativamente à colectânea Os Incompatíveis há um nexo causal entre o título e a temática que é abordado em cada um dos contos apresentados. Outro aspecto que reputo pertinente relativamente ao que conheço da obra do autor é a forma desassombrada como, pontualmente, se imiscui e intervém na narrativa.
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“Seria mesmo o dia 22?, pergunto-me agora. Poderia perfeitamente ser o dia 21 ou 23. (…) Estratégias narrativas de verosimilhança, diria um estudioso. Mas eu não estou a escrever um romance. Não sou escritor nem tenho pretensões a sê-lo. Nem sequer simpatizo com os escritores, esses vaidosões inúteis que pensam que são melhores do que os outros, quando afinal são uns pobres diabos à procura da fama e do reconhecimento que sempre tardam.” A Vendedora de Cupidos
A Porca
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“Os escritores são amorais. Não têm opinião sobre os próprios actos e muito menos sobre os dos outros. Apenas descrevemos, contamos como s coisas são, não procurando fazer juízos de valor. E se o fazemos é por ironia, para dar colorido ao texto.”
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No Dia em que a
Por Diogo Martins Martins
Esta é para os que ficaram. Para os que foram cobardes ao não ir, mas valentes ao não partir. É para os que enchem casas. Para os que as enchem de todas as maneiras. Os teimosos, os atadinhos. Os que já não são como antigamente, porque antigamente é que era bom. Os que nos tapam a boca para não falar, mas nos empurram os braços para punhos erguer. Esta vai para os doutores. Para os engenheiros. Para os arquitetos e para os diretores. E que a entreguem aos filhos, aqueles que estudaram para o ser, mas não são.
Cultura Morrer
Esta é nossa. Que pagamos as contas dos pais e dos avós mesmo vivendo às suas custas. É para a geração rasca. A que não serve nem para trabalhar, mas todos querem a trabalhar de graça. Para os que fazem e acontecem. Para os preguiçosos. Para os que passam o dia em casa sem fazer nada. Esta é para os que querem mas não conseguem, porque alguém já quis em demasia. Esta é mesmo nossa. Dos que cá estamos. Os futuros pais aos quarenta. Que vemos os outros partir para serem tudo o que queremos. Os que se tornam no que não queriam.
Esta é para os que não vergam. Esta é só para os que a merecem. Esta é para os que estão aqui. Porque no dia em que a cultura morrer, só morre para os que cá estão.
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Correntes de
Por Ernesto Salgado Areias
Escritas
Entre os dias 25 e 28 de fevereiro, teve lugar na cidade da Póvoa de Varzim a XVI edição das Correntes de Escritas que, desde 1999, têm vindo a contar com a presença de um número considerável de escritores provenientes de todos os países da lusofonia, de Espanha, Cuba e de outros países da América latina. Este evento, dos mais significativos do género que se realizam na Europa, contou este ano com a presença de sessenta escritores e outros intelectuais que intervieram nas várias mesas de trabalho sem contar com muitos que também ali estiveram presentes. Durante o encontro
foram vendidas centenas de livros e apresentados mais de uma dezena nos intervalos das sessões de trabalho que se sucediam. Cerca de trinta instituições patrocinaram o evento destacando-se o alto patrocínio da Câmara Municipal que através de uma comissão de trabalho é o motor do evento que é já uma marca na cultura portuguesa. Numa altura em que a cultura e as letras parece valerem tão pouco para os nossos dirigentes valha-nos ao menos o trabalho de uma cidade de média dimensão que anualmente realiza um encontro de grande
envergadura em beneficio da escrita e divulgação dos autores e suas obras. Lamentavelmente, não temos um ministério da Cultura, entregue agora a uma miseranda secretaria de Estado com parco orçamento. Como é verdade também que deixámos de ter ministério da Ciência pois que o esforço dos portugueses escravizados por um número inenarrável de impostos é canalizado em grande medida para os bancos alemães porque se mostra indispensável aparecer na fotografia junto dos bens comportados. Abandonar a cultura significa vilipendiar a
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identidade e a história; pôr de lado o investimento na ciência significa hipotecar o futuro. É exatamente o que vem acontecendo. O entusiasmo do ambiente, o alto nível das intervenções e tudo quanto se fez nessa semana em que foi levado a bom termo trabalho de partilha com as Escolas, não mereceu mais do que um simples flash da RTP2 porque, tanto quanto sei, nenhum outro canal compareceu.
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A nossa língua, tesouro construído ao longo de séculos foi ali tratada com a honra e os merecimentos que todos devemos reconhecer-lhe.
Talvez que na próxima reforma do ensino a primeira preocupação seja ensinar a ler e a escrever e a segunda evitar que se aprenda a interpretar. A cultura e a ciência nunca foram apanágio dos tiranos e dos ignorantes.
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Coordenadas | Sabores na Loja 41.740768 -7.472282
Por Tiago Ribeiro
A cidade de Chaves já despertou do Inverno rigoroso. Em terras flavienses, a temperatura relembra-nos que estamos na Primavera. Se existe um produto que é à prova de estações, terá de ser o pastel de Chaves. Depois de uma caminhada pela cidade, a fome apertou e viemos ter ao espaço Sabores na Loja.
a quantidade de produtos de qualidade que nos rodeia.
O pastel de Chaves daqui é único, motivo que conduziu à sua certificação. No entanto, nem só de pastel vive este espaço. A loja não é muito grande, o que lhe confere uma sensação acolhedora. Assim que entramos, os desejos aumentam, tal é
Uma das marcas que mais salta à vista no meio dos diversos produtores expostos é a D’Chaves, uma marca com cunho flaviense, responsável pela produção e representação de distintos produtos transmontanos.
É impossível sair daqui de mãos a abanar! Desde produtos tipicamente flavienses, como é o caso das alheiras, do folar ou do pastel; passando até aos produtos nacionais gourmet - este espaço é uma perdição!
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Percorremos todas as prateleiras com o olhar. Ainda indecisos, aproximamo-nos do balcão. Se nas prateleiras os produtos são apetecíveis, os doces que estão no balcão deixam-nos a salivar e com vontade de os comprar todos. Entrar neste espaço é como fazer um roteiro gastronómico pela região transmontana, guiado pela enorme simpatia de quem nos atende. Não podíamos ter escolhido melhor guia turístico para esta viagem! Sabores na Loja é um bom exemplo de como um pequeno espaço numa cidade
transmonanta, pode ser capaz de oferecer produtos de qualidade, servidos com perfeição e que fazem jus à qualidade gastronómica da região.
Sabores na Loja Largo do Anjo nº 14 5400-018 Chaves Tlf. 276 098 095
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Juntouros Passados
Fotografia | Câmara Municipal de Montalegre Evento | Sexta 13 - Montalegre (Fevereiro e Março, 2015 ) 52
Fotografia | Jorge Almeida Evento | Aquae Vitae - Chaves Romana Sรกbado 14 (Marรงo, 2015 ) 53
Agenda Cultural
TEF Expõe
Borboleta de Abryl
1 a 30 de Abril
1 de Abril
Exposição de Manuela Pimentel, com temas variados que recaem sobretudo na natureza, no ambiente rural e na abstração de quem vê para além do óbvio.
Apresentação do livro Borboleta de Abryl de Henriqueta Fernandes. Apresentação a cargo do Dr. António Roque, Dr. Reis Morais e Eng. Jorge Medeiros
9h – 18h30 Cine-Teatro Bento Martins Chaves
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18h30 Biblioteca Municipal Chaves
Concerto: Paixão de Cristo 1 de Abril 21h30 Igreja Matriz Chaves
A Banda Musical de Loivos reedita pelo 3º ano o Concerto da Paixão, onde se conta a história mais importante do Cristianismo através da música. Por meio da música cofrade e da Semana Santa, será representada a Via Sacra. A Banda convida todos a juntarem-se a esta celebração, cheia de misticismo, reflexão e oração... através da música. Obras de Victor Ferrer, Oscar Navarro, Abel Moreno e outros. Maestro: Luciano Pereira
Sabores de Chaves Feira do Folar 2015
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Concerto:
Pé Na Terra
3 e 4 de Abril 10h – 23h59 Pavilhão Expoflávia Chaves
3 de Abril 22h30 Pavilhão Expoflávia Chaves
Feira gastronómica onde o folar encabeça as celebrações. A animação está garantida com muita música, dança e boa comida.
Com mais de 160 concertos realizados na Europa e em África, 2 álbuns editados e o 1º prémio no Eurofolk’08, esta banda nascida no Porto em 2005, tem vindo a solidificar a sua carreira no circuito da world music. Concerto incluído no programa da feira Sabores de Chaves.
Concerto:
Negrilho –
12 de Abril 16h30 Auditório do Centro Cultural Chaves
16 de Abril 18h30 Biblioteca Municipal Chaves
16 de Abril 21h30 Cine-Teatro Bento Martins Chaves
Concerto de encerramento do I Estágio de Música da Associação Banda Musical de Vila Verde da Raia. O Maestro convidado é Arnaldo Costa.
Apresentação do livro Negrilho – Homenagem a Miguel Torga, organizado por Maria da Assunção Anes Morais. Apresentação a cargo da Drª Isabel Viçoso.
A Revolução Portuguesa vista através dos mais importantes fotógrafos e cineastas internacionais que testemunham o evento. Quais eram os seus sonhos e expetativas? O que ficou do sonho da revolução? Um Outro País, um documentário de Sérgio Tréfaut.
Ass. Banda Musical de Vila Verde da Raia
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Homenagem Miguel Torga
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Cinema:
Um Outro País
7º.Aniversário Academia de Artes
Campeonato Mundial de RallyCross
Concerto:
22 a 25 de Abril 10h – 21h30 Academia de Artes de Chaves Chaves
24 a 26 de Abril 9h Pista Auto. Montalegre Montalegre
25 de Abril 21h30 Cine-Teatro Bento Martins Chaves
A Academia de Artes de Chaves comemora sete anos de existência. O programa celebrativo inclui workshops, masterclasses, concertos e teatro. Mais informações: www.facebook.com/pages/Academia-deArtes-de-Chaves
O município de Montalegre apadrinha o Campeonato do Mundo de Rallycross, formato que combina corridas em circuito e rallies. O circuito internacional barrosão recebe a primeira prova da segunda temporada World RX, que este ano apresenta 13 lugares de competição. Bilhetes já à venda. Mais informações: www.facebook.com/MontalegreRX
Espetáculo de comemoração do dia 25 de Abril com o Fadista Filipe Luz. Fica a promessa de muito fado e música tradicional portuguesa
Filipe Luz
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Dia Mundial da Dança 29 de Abril 21h30 Cine-Teatro Bento Martins Chaves Espetáculo de Comemoração do Dia Mundial da Dança, com muita música, diversão e dança.
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Semana Académica 29 de Abril a 3 de Maio 23h Pavilhão Expoflávia Chaves O cartaz da Semana Académica de Chaves conta com nomes como Dadduh King, Manuel João Vieira (Ena Pá 2000), Dillaz e Ninja Kore. Mais informações em www.facebook.com/semana.academica.ch aves
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