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Paraíba
Sábado, 07 de dezembro de 2013
OPINIÃO Propriedade da Empresa Jornal Correio da Paraíba Ltda. Av. Dom Pedro II, 623 – CEP 58013-420 - João Pessoa – Paraíba Fundado em 1953 * Filiado à ANJ e ao IVC
Carlos Aranha caranha@terra.com.br
José Fernandes Diretor Geral
Amo as pessoas, sim Quando a rebeldia vira lixo, seu exportador não poderá bater na porta de um simbólico Céu. E quantas vezes o lixo vindo de rebeldias juninas de 2013 foi despejado nos compartimentos a isso destinados, por influência da Rede Globo e afins? Em “Pais e filhos”, belíssima música da fase áurea do Legião Urbana, Renato Russo lançou a frase que de tão necessária ficou simples e fez milhares de jovens ficarem melhores e reprojetarem íntimos caminhos: “É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”. Aqui estou, com a mente sadia e o corpo semidiagnosticado. “Semi” porque me falta fazer, quarta-feira próxima, uma total ultrassonografia do abdômen - (re)descobrindo que devo escrever como se não houvesse amanhã, como os ontens tivessem sido uma sucessão de longas horas em que dormir era estar desperto com artérias e veias abertas para o “bem” e o “mal” da humanidade onde estou como uma das milhões de antenas “parabolicamarás”. Como se o hoje quando escrevo fosse eterno e não permitisse a entrada de um sábado a mais neste ano de 52 sábados. Impossível fugir à dura realidade do
Beatriz Ribeiro Diretora Executiva
Alexandre Jubert Superintendente
poema “O dia da criação”, de Vinícius de Moraes, quando verifica que “neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios”. Gostaria que não houvesse a necessidade do “como se” para que eterno fosse o hoje. Mas, escritor aqui, salto de Renato Russo e Vinícius de Moraes para Caetano Veloso em “Cajuína”: “Existirmos: a que será que se destina?”. A inquieta sofisticação poética de Caetano (“e éramos olharmo-nos intacta retina”) paralela-se à necessidade “simples” de Renato: “É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”. Fazer, usar e traduzir a utopia é também um restante de nós, escritores, poetas, estudantes, médicos, humanistas. Todos, enfim, vivenciando permutados e permutantes “insights” fluindo pelo inconsciente coletivo. Na mesma canção, o compositor/ vocalista do Legião Urbana lembrava que “se você parar pra pensar na verdade não há” (o amanhã). Sim, força para hoje, sempre. Não sei do amanhã. Amo as pessoas, sim. Carlos Aranha é jornalista e escritor
Walter Galvão Editor Geral
Glícia Rangel Colares Diretora Comercial
CONSELHO EDITORIAL: Walter Galvão, Gilberto Lopes, José Carlos dos Anjos, Carlos Aranha, Luiz Carlos Souza, Jãmarrí Nogueira, Sony Lacerda, Adelson Barbosa dos Santos, Ana Felippe, Fábio Cardoso, Renato Félix, Lílian Moraes, Sebastian Fernandes, Andréa Batista, Horácio Roque, Pessoa Junior
Informe Arquimedes de Castro
informe@arquimedesdecastro.com.br
Mudanças na PMCG
Chuvas de março Teremos um inverno com muitas chuvas no semiárido nordestino. A previsão foi feita pelo meteorologista Manoel Gomes Filho, em entrevista ao Balanço Geral. O especialista é professor da Universidade Federal de Campina Grande. Ele tem mestrado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e doutorado pela UFPB, em Recursos Naturais. Segundo Gomes Filho, as variáveis meteorológicas observáveis no momento, indicam que teremos chuvas intensas durante o inverno em todo o semiárido. “Não é possível ainda afirmar se essas chuvas serão suficientes para reabastecer os reservatórios que estão secando, ou se serão benéficas para a agricultura. Esses detalhes só vão ser conhecidos quando for emitido o primeiro boletim meteorológico oficial, na segunda quinzena deste mês”, disse. Compondo a comissão organizadora do I Workshop Internacional sobre o semiárido brasileiro, o meteorologista está preocupado com a gestão das águas na nossa região. Segundo ele, a Paraíba falha na distribuição e armazenamento das águas.
Ponto
Contraponto
Para saber mais e se inscrever no workshop promovido pela Universidade Federal de Campina Grande, basta acessar o site do evento na Internet, no endereço eletrônico http:// www.aguanosemiarido.com. br/.
Segundo o Centro de Previsão do Tempo do INPE, a previsão climática por consenso para o Semiárido para o trimestre de novembro e dezembro de 2013 e janeiro de 2014 sinaliza a persistência da situação de estiagem durante este período.
Perspectivas para 2014
Oswaldo Jurema ogpj@hotmail.com
O Papai Noel da cidade Ao viajar à Europa, ou mesmo pelo solo pátrio, São Paulo e Rio, no caso, e se deparar com centenas de pessoas concentradas em praças e largos assistindo embevecidas a uma encenação erudita, o nordestino se deslumbra: “Magnífico! Que orquestra sinfônica fantástica! Infelizmente lá na terrinha não temos a cultura de valorizar a música clássica, restrita a esporádicas apresentações entre cortinas”. Quando ainda nos primeiros meses de gestão, o prefeito Luciano Cartaxo, sem desprezar os problemas estruturais da cidade, preocupou-se, também, com os festejos populares, logo suas primeiras realizações foram subestimadas, sendo inclusive cognominado de ‘festeiro’. Ora, a cultura de massa deve estar nas ruas, e cabe ao poder público oferecer todo apoio logístico, inclusive recorrendo à iniciativa privada. No afã de manter o dinâmico ritmo de trabalho, voltou sua visão a mais um feito que enobrece nossa província e valoriza nosso povo, enriquece nossos valores e estimula nossa cultura, ao viabilizar a presença dos maiores instrumentistas do mundo no espaço sagrado do adro das igrejas, palco de todas as camadas sociais.
E esses renomados musicistas unem-se a ilustres colegas brasileiros para brindar a Capital paraibana com o privilégio de se deleitar aos acordes de vinte e dois consertos ao nível dos megaeventos mundiais. As mais belas músicas clássicas que o tempo imortalizou. Sem custo para o povo; um presente da prefeitura e de seus parceiros. Uma iniciativa digna de louvor unânime, cujo espetáculo já nasceu sob o batismo da perenidade: “I Festival Internacional de Música Clássica de João Pessoa”. A virtuose pianista ucraniana, Anna Fedorova, detentora de vários prêmios internacionais, é apenas uma das estrelas nessa constelação de gênios. Suprema dádiva! Com igual flama, vivas à recém-criada Orquestra Sinfônica de João Pessoa, que fez seu conserto oficial de estréia no átrio da Igreja de São Francisco, quando sinos se calaram e suspiros se ouviram diante de notável exibição. E, agora, se anunciam medidas que visam à revitalização do Centro Histórico. Sem dúvida, neste mês de Natal, o prefeito é o Papai Noel da cidade.
O prefeito Romero Rodrigues disse que não pretende fazer qualquer reforma no seu secretariado este ano. “Estou preocupado em honrar meus compromissos com os servidores públicos, que estão recebendo seus salários em dia”.
Codecom O prefeito campinense considerou como especulação a anunciada saída do advogado José Araújo da coordenadoria de Comunicação. “Quando for fazer reforma, não haverá aviso prévio”, sentenciou Romero.
Podcast Já está no ar na internet o Podcast do Balanço Geral, da Rádio Correio 98,1 FM de Campina Grande. O projeto é de Ítalo Wallemberg. Para ouvir o programa basta acessar a fanpage www.facebook. com/balancogeralcg.
Folclore do Cariri
O economista Ricardo Amorim prevê que “em 2014 a economia brasileira deverá manter o comportamento observado este ano. Os setores de agronegócio e comércio no varejo vão se manter em crescimento. O consumo permanecerá em alta e as pressões inflacionárias serão maiores. Vamos atrair turistas com a Copa, mas menos do que se imaginava”, revelou.
Boa Vista, na região metropolitana de Campina, sediará pela segunda vez o Festival Internacional de Folclore do Cariri, reunindo grupos artísticos de sete países. O evento acontecerá na próxima terça-feira, dia 11.
Corrupção
Geração Y
Perigos do smartphone
O Centro de Ação Cultural realizará em Campina Grande, na próxima segunda-feira, as comemorações do Dia Internacional Contra a Corrupção. O Ato acontece no auditório da Secretaria Municipal de Cultura.
Segundo dados do “IDC Brasil”, no 3º trimestre de 2013, foram vendidos 18 milhões de aparelhos celulares no País. Desse total, 10 milhões foram smartphones. Um crescimento de 147%.
Como alertou Fabiano Gomes no Correio Debate, os smartphones trazem facilidades, mas também perigos para adolescentes que expõem sua privacidade e também acessam todo tipo de conteúdo impróprio.
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CLIMA NATALINO
IMPROBIDADE
A inauguração da decoração de Natal da STTP será hoje, a partir das 18h. O projeto elaborado para este ano será complementado pela alta tecnologia de bonecos que representam o clima natalino. O projeto decorativo será diferenciado dos anos anteriores.
O presidente da PBPREV, Hélio Carneiro Fernandes, está descumprindo ordem judicial do Tribunal de Justiça e poderá pagar multa diária de R$ 1 mil, a incidir sobre o seu patrimônio pessoal, informa o desembargador José Ricardo Porto.
Oswaldo Jurema é advogado
Leo Barbosa
Onaldo Queiroga
escritorleobarbosa@hotmail.com
onaldoqueiroga@oi.com.br
O velho relógio Céu azul, o Sol com sua luz entregava-me o seu calor. Lá de fora, o canto dos pássaros anunciava o florescer de mais um dia no Sertão. No quarto, deitado numa rede, eu ouvia as badaladas de um relógio. Sons que vinham da sala de jantar e anunciavam sete horas da manhã. Era hora de me levantar e, da sala de estar, via meu avô, Antonio Hortêncio Rocha, dando corda no relógio que ficava na parede defronte à mesa de jantar. De cor escura, com seus belos vitrais, ali eu ficava a observar o pêndulo orquestrando o compasso do tempo. Tempo de infância, de amizades descompromissadas, de banhos de rio, de colecionar álbuns de figurinhas, de sair pelas ruas e calçadas pedalando instantes de felicidade. Era Pombal, casa 123, Rua João Pessoa. Ali, as badaladas do relógio, ouvidas a cada quinze minutos, faziam com que um tempo inocente corresse no girar de uma bola de futebol que, no quintal da casa do meu avô, contagiava a molecada. Eram elas, as badaladas, que marcavam a hora do almoço, da chegada do patriarca à mesa para a ceia. Badaladas que, às 13 h, indicavam que o silêncio pedia licença para o cochilo diário do vô Hortêncio. Também às 13h30m, pontualmente anunciavam que era hora de ele ir para seu expediente da tarde, na velha torrefação do “Café Dácio”. O relógio também anunciava, às 15 h, que avó Raimunda já havia colocado na mesa o café da tarde. Servia bolo, bolachas e um pão assado com manteiga
Eribaldo Couto Diretor Administrativo
No auge da queda
da terra. A meninada comia numa algazarra festiva e logo retornava feliz ao quintal, pronta para mais uma partida de futebol. O velho relógio comandava o meu tempo, pois às 18 horas indicava o jantar, ao tempo em que me advertia e lembrava que a sessão do Cine Lux começaria às 19 horas. Quando voltava, no final da noite, o relógio já soava 22 horas, anunciando o momento de receber a bênção dos avós e me recolher para dormir. Deitado, rezava um Pai Nosso, uma Ave-Maria e um Santo Anjo. Aguardando o sono chegar, eu ficava a ouvir o som das badaladas do companheiro relógio que, a cada 15 minutos, quebrava o silêncio da noite, marcando o andar do tempo. Tempo que hoje levou meus avós, mas não silenciou o velho relógio que, da sala da minha casa, permite que eu olhe por seus vitrais o pêndulo balançar, como empurrando a vida para o amanhã. Eu e o relógio, olhando um para o outro, testemunhamos o caminhar da vida — de um tempo que, como diz Cazuza, não pára. Relógio, símbolo da correção de Antônio Hortêncio que, no ontem, com cordas precisas, fazia-o marcar exemplos de honestidade, de fé e paz. Hoje, de mãos dadas com o relógio, escrevo um tempo veloz e feliz, pois a esperança de um mundo mais solidário ainda se faz presente nos instantes marcados pelo compasso do mesmo relógio. Onaldo Queiroga é juiz de Direito
Conflitos familiares. Silêncios. Inconformidade com o ser e o estar. Inquietação. Deslocamento. Desassossego e a certeza de que todos nós estamos suscetíveis à queda e que toda ela pode ser fatal. Em “Queda da própria altura” (Confraria do vento, 2012), de Sérgio Tavares, segundo livro da carreira do escritor, conferimos isso. Em oito narrativas eivadas de poesia, um rigoroso trabalho com a linguagem, utilizando recursos tais como a analogia, metáfora e comparações, Tavares prolonga o mistério que envolve o cotidiano. Personagens solitários retornam ao passado sem se desligarem do presente. Em “Evolam-se os barcos” a introspecção do narrador é reforçada pela ausência de diálogos, ou melhor, da marcação que formalmente se dá através dos sinais de pontuação; travessão e doispontos, como se nem consigo fosse possível conversar. Tavares tem domínio da forma e, por isso, bem sabe subvertê-la, a exemplo do que já fizeram José Saramago, Hilda Hilst, Valter Hugo Mae e José Luís Peixoto. Além disso, o uso do fluxo de consciência, intensifica as reflexões do narrador-personagem, que aparenta estar desesperançoso, porém ainda guarda um fio de esperança no seu mundo interior marcado por uma claustrofobia que é fruto de sua própria natureza. Sérgio Tavares revela-se um autor maduro e ousado porque não teme experimentar a linguagem que se realiza sem truncamentos e hermetismo. É elabora-
da, mas sem malabarismo, risco iminente até para os escritores veteranos. O livro é dividido em três partes: “Impulso”, “Voo”, “Queda”. Nota-se a iminência de um “pouso”, pois é o que se espera de uma ave. É o que sugere a semântica da palavra voo, que nos remete a essa espécie animal. Entretanto, não estamos falando de aves, mas de protagonistas humanos atormentados por seus dramas e limitações. No conto “Sono”, há uma atmosfera onírica que espelha as reflexões de um homem que acorda para os conflitos que assolam seu casamento. Um transitar poético sobre o tempo revestido de romantismo sem cair na pieguice. A história é reatada, de forma breve, em “Sono (post scriptum)” como se fosse uma recaída, mas, na verdade, seus sentimentos chegaram ao termo. Em “Cerimônia”, uma mãe rememora sua vida ao lado de filho – um tocante relato aos moldes de Chico Buarque para quem, na voz de uma mulher, “a saudade é o revés de um parto. A saudade é arrumar o quarto. Do filho que já morreu.” “Queda da própria altura” nos convida para um salto. Descristaliza nossos sentimentos. É um mergulho em nossas mazelas. Nos (des)conserta com seus questionamentos. É denso, intimista e preciso. Qualidades essas que só podem ser dignas de um escritor de alto porte literário. Leo Barbosa é professor e poeta