O DIÁRIO DO NORTE DO PARANÁ
CULTURA
Terça-feira, 27 de maio de 2014
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De Passagem O grito
A Sérgio Tavares
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Para mim é puro desgosto. Coisa de gente com imagens ruins na cabeça, tipo esse quadro. Penso que pode acontecer com qualquer um. Você, por exemplo, já pensou em suicídio, Marilene?
PINTURA Edvard pensou, por um instante, que era o fim do mundo e se sentiu pleno. Afinal seria uma morte sumária e coletiva, ao contrário do longo fim elaborado em demência, que sempre previu. Loucura, isso Edvard temia. Com a morte, tinha uma relação ordinária, conhecia-a desde muito cedo. Quando tinha apenas cinco anos, perdeu a mãe. A irmã mais velha morreu aos 15 anos. Outra, a do meio, foi enterrada meses após se casar. Era habitual ele próprio estar severamente doente. Contudo, o caso que mais lhe afligia era o da irmã mais nova, a preferida Laura, internada num manicômio por conta dos surtos de esquizofrenia. Portanto, quando caminhava pela doca de Oslofjord e o céu de repente se abriu em línguas de fogo, tingindo de nuances cítricas a baía serena, debruçou-se sobre a mureta e cerrou lentamente os olhos, resignado com a partida. Não era o fim do mundo, todavia. E Edvard transformou a fervura de sentimentos pesados e agudos em inspiração, compondo uma série de quatro pinturas que se tornaria um marco na história da arte.
Um século e meio depois, uma dessas pinturas confirmou-se a obra de arte mais cara do mundo, arrematada num leilão por 119,9 milhões de dólares. Outra está na Galeria Nacional de Oslo, e dois exemplares seguem expostos num museu em Tøyengata, visitado por milhões de pessoas há 50 anos. Homens e mulheres de todos os tipos. OS VISITANTES Isso é horrível! O quê? Esse quad... Essa coisa absurda. Essa coisa é considerada um ícone cultural, a mais importante obra do expressionismo. Nisso eu concordo. É tão expressiva que causa asco. Olha esses olhos esbugalhados, credo, parece um fantasma! Chama-se O Grito e foi pintada em 1893, durante o movimento expressionista. Aliás, se há algo de absurdo é dar esse nome a uma pintura, algo incapaz de produzir som. Porque é a gente quem grita, não vê? De nervoso. Pelo visto, você não gostou mesmo? Não. Eu gosto de quadros com paisagens, frutas, flores... Tipo aquele dos girassóis. Esse foi pintado por Van Gogh. Você sabia que ele
cortou a própria orelha? Pois se ele arrancou uma orelha e pinta girassóis, imagina o que esse aí não fez. Ele ficou bem, apesar de tudo. Morreu aos 80 anos. Sua família, por outro lado, não foi um modelo de saúde. Todos morreram muito cedo, alguns vitimados por doenças mentais. Dá para entender, está no quadro. Motivo é que não faltava. Sabe, tem uma versão da história que diz que, na verdade, a figura não está gritando, mas tapando os ouvidos contra os gritos que vêm do manicômio na outra margem da baía, onde a irmã do pintor estava internada. A baía também era conhecida por ser um local preferido dos suicidas. Agora gosto menos ainda desse quadro. Vamos embora, Paulo Sérgio! Não sei como esse homem não tentou se matar, em vez de pintar quadros. Suicídio, geralmente, é um ato inconciliável. Para mim é puro desgosto. Coisa de gente com imagens ruins na cabeça, tipo esse quadro. Penso que pode acontecer com qualquer um. Você, por exemplo, já pensou em suicídio, Marilene? Eu, suicídio? Cruz credo! Pois é... Cruz credo.
LIVRO/MÚSICA
Os craques da música O Zuza Homem de Mello lança “Música com Z” obra que traz entrevistas com bambas da MPB e do jazz O Seleção do pesquisador vai de Alberta Hunter, Chico Buarque e Charles Mingus, entre outros grandes
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Julio Maria Agência Estado
As visões que os médicos não explicam começam assim que a ponta da agulha encosta delicadamente o sulco do vinil e a voz de Alberta Hunter toma a casa inteira. Ela vem elegante em seus 88 anos, caminhando para um canto do palco escuro, ao lado do piano, sem que ninguém a perceba. Quando os músicos estão prontos, o foco de luz a coloca em cena e sua imagem estremece a plateia do Bar 150, do Hotel Maksoud Plaza, em São Paulo. Miss Hunter é daquelas mulheres que fazem sua plateia rir e chorar com a mesma abnegação. Ela vai morrer no ano seguinte, em 17/10/1984, mas, naquela noite, se tornará eterna e assídua frequentadora das memórias de
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LEIA, OUÇA
“Música com Z” Autor: Zuza Homem de Mello Editora: 34 (R$ 69)
NOTÍCIAS BREVES PERSONALIDADE
Artista de rua é eleito na internet O artista de rua britânico Banksy foi eleito a personalidade do ano na internet durante a edição 2014 dos Webby Awards, que premiam todos os anos pioneiros da rede. O artista, que nunca foi formalmente identificado e vive recluso, foi recompensado por uma exposição organizada em outubro sobre as ruas de Nova York.
Zuza Homem de Mello. Charles Mingus chega na calada da noite. Seria apenas o contrabaixista gigante do jazz a pensar seu instrumento com a liberdade de um trompetista se não saísse do toca-discos de Zuza também de outras formas. Já havia sido uma surpresa que ele, o impetuoso Mingus, aceitasse conversar com um jornalista jovem e branco, a combinação perfeita para fazêlo trancar a alma. Mas Mingus está ali, em uma tarde de maio de 1958, diante dos olhos incrédulos de um garoto de 25 anos. Eles vão falar de Duke Ellington, Art Blakey, Chico Buarque, Hamilton de Hollanda, e Charlie Parker como se tivessem a mesma estatura. “O que acha do desenvolvimento do contrabaixo no jazz?”, pergunta o jovem Zuza. “Os músicos de instrumentos de sopro, ou seja, os que são considerados genericamente solistas, acham que o contrabaixo deve ser apenas um suporte rítmico para os solistas... O público deseja ouvir o contrabaixo apenas como um instrumento sem um conceito de criação.” Vinte e um anos depois da conversa, Mingus seria abatido por um tipo raro de esclerose, perderia o movimento das pernas e morreria em janeiro de 1979, não sem antes se tornar outro personagem das visões de Zuza. José Eduardo Homem de Mello ouve música com os olhos, sente notas com o paladar. Quando esteve diante de Alberta Hunter, em 1983, já tinha pelo menos 50 anos de canções soando em sua cabeça. Hoje, aos
DREAM TEAM. O jornalista Zuza Homem de Mello; nas fotos menores, Milton, Chico, Joe Pass e Alberta Hunter. 81, resolve generosamente compartilhar a história que testemunhou, organizando-a em um livro. Música com Z abrange a produção do jornalista, pesquisador, técnico de som, produtor, crítico, ex-contrabaixista e apresentador de rádio em 140 textos. São reportagens, artigos, entrevistas e até textos feitos sob encomendas de gravadoras para releases de artistas que lançavam discos. Às 19h30 desta segundafeira, 26, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, Zuza bate
um papo com o jornalista Alexandre Machado para marcar o lançamento. As senhas começam a ser distribuídas uma hora antes. A lista de entrevistados, por si, justificaria a obra. Jorge Veiga e Moreira da Silva; Itamar Assumpção; Milton Nascimento; Chico Buarque; Moacir Santos; Morris Albert; Toots Thielemans; Joe Pass; Dizzy Gillespie; Maria Bethânia; Sonny Rollins. Música brasileira e jazz no mesmo volume. Num de seus
—FOTO: DIVULGAÇÂO
textos, publicado pela Revista da Folha em 16/11/2003, Zuza se permite migrar para a ficção, por mais real que possa soar, e escreve sobre uma ligação telefônica fictícia de Elis Regina para o violonista Guinga. “Depois de amanhã vou fazer um concerto do cacete no Lincoln Center com a Banda Mantiqueira, do Proveta e aquelas feras de São Paulo. Vamos quebrar tudo, deixar esses gringos falando sozinhos, quero só ver a cara do (Wynton) Marsalis. Pa-
rece que ele quer me convidar para cantar com a banda. E eu vou? Bicho, os caras aqui estão doidos, não tem mais cantora neste país, precisamos exportar as nossa. Vou te pedir mais um favor, me arranja uma música que eu quero mandar para a Maria Rita. O repertório dela tá mais para Grêmio que para Santos. Ainda vou fazer um dueto com ela. Já imaginou mãe e filha cantando? As duas? Vou entortar ela também, não tem conversa, sou a maior.”
DANÇA/ERRATA
BELEZA
CINEMA
Maringaenses se preparam para festival
Rainha do Carneiro no Buraco, na 5ª
Fábio Porchat apresenta novo projeto
Por falha da edição, a matéria publicada no último domingo, 25, na página d4 deste caderno de Cultura do Diário, sobre o grupo maringaense Companhia de Street Dance Tatiana Souza, foi creditada erroneamente à Agência Estado. A matéria foi redigida pela repórter Luiza Recco. A companhia, criada e dirigido pela bailarina Tatiana Souza, foi selecionada para participar do Festival de Dança de Joinville (SC), considerado o maior do mundo. O evento será realizado entre os dias 23 de julho e 2 de agosto. ///Luiza Recco.
O Município de Campo Mourão, por meio da Fundação Cultural (Fundacam) e Secretaria de Desenvolvimento Econômico, realiza no próximo dia 29, às 19h30, no Teatro Municipal de Campo Mourão, o concurso para a escolha da Rainha da 24º Festa Nacional do Carneiro no Buraco, que será realizada entre os dias 1 e 6 de julho. O objetivo do concurso é destacar a simpatia e beleza feminina da cidade. Ao todo, neste ano, serão 11 candidatas entre 16 e 22 anos. A atual rainha, que entrega a faixa este ano, é Rebeca Ferreira.
O humor escrachado de Fábio Porchat está com os dias contados. Pelo menos essa é a promessa do ator em seu quinto longa-metragem, “Entre Abelhas”, que está sendo rodado no Rio de Janeiro e tem estreia programada para o fim do ano.Na história, Porchat é Bruno, que, recém-separado da mulher, Regina (Giovanna Lancellotti), volta a morar com a mãe (Irene Ravache). Em crise, conta com a ajuda do melhor amigo (Marcos Veras). Bruno tropeça no ar, esbarra no que não vê e percebe que as pessoas ao seu redor estão desaparecendo.
RAP
Eminem é eleito o artista preferido pelo Spotify O rapper norte-americano Eminem é o artista mais ouvido pelos usuários do maior serviço de música digital, o Spotify, segundo a empresa sueca, que comemorou seus dez milhões de assinantes pagantes.O Spotify, criado em 2008 e hoje presente em 56 países, afirma ter 40 milhões de usuários ativos. Desse total, três quartos optam pelo serviço gratuito, que inclui publicidade.Os dados publicados anteriormente datam de abril de 2013 e apontavam 24 milhões de usuários ativos pagantes.