O DIÁRIO DO NORTE DO PARANÁ
CULTURA
Domingo, 30 de novembro de 2014
TAVARES
Sérgio Tavares
y redacao@odiario.com
Listas são polêmicas; sempre foram, sempre serão. Faz parte da sua natureza ambivalente gerar contragostos e assovios. Ao verificar o convite, eu vaticinei que seria alvo de protestos, a tal zona divergente. Apesar disso disse sim e, desbragadamente, coloquei meus glúteos na janela. E olha que meus glúteos não são de se jogar fora
D3
O filho de Guilherme Tell
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á cerca de um mês, recebi um convite da Revista Bula para listar os 10 melhores livros da literatura contemporânea brasileira. Acalentei a ideia por um tempo, porém ao me recordar da piada do Steven Wright em que um fotógrafo enlouquece tentando fazer um close da linha do horizonte, providenciei uma contraproposta rápida, abraçada, para meu alívio, com entusiasmo pelo editor. Uma relação com 15 livros dos últimos 15 anos, cujas leituras seriam imprescindíveis. O resultado foi publicado faz duas semanas, no fim da noite. De manhã, eu me tornava uma questão. Bem verdade é que a questão já existia antes de mim e eu, de certo modo, a incorporei. Listas são polêmicas; sempre foram, sempre serão. Faz parte da sua natureza ambivalente gerar contragostos e assovios. Ao verificar o convite, eu vaticinei que seria alvo de protestos, a tal zona divergente. Apesar disso disse sim e, desbragadamente, coloquei meus glúteos na janela. E olha que meus glúteos não são de se jogar fora. Passadas duas semanas, a relação soma mais de 130 mil visualizações, 14 mil curtidas e tantos compartilhamentos nas redes sociais. Obviamente que há recepções oportunas, em especial aquelas que percebem os livros sele-
cionados como dicas de leitura. Listas, sejam do que for, são sugestões. Uma maneira prática de chamar a atenção para algo. Listas não resumem, ampliam. Ou será que alguém acredita que, em uma década e meia de literatura brasileira, eu enxergue relevância em apenas 15 títulos? Bem... mais do que eu poderia supor. Um pelotão entrincheirado no insidioso campo dos comentários. Fui chamado de machista, poeta de quinta categoria (o que tem um pouco, muito de verdade), alienado, além de ser perseguido por fãs do Daniel Galera, todos com os olhos ensopados de sangue. De fato, colocaram-me na posição do filho do Guilherme Tell, o menino que sustenta uma maçã no topo da cabeça a ser atravessada por uma flecha arremessada pelo pai, a fim de os livrarem da condenação fatal. Porém, ao invés de maçã, equilibro a maior melancia do reinado e estou postado a um metro dos atiradores. O que não os livra de acertar todas as flechas no meu corpo. Intimamente cogitei decifrar as razões da miopia, mas qualquer esforço nesse sentido só faria de mim um São Sebastião sem a providência do milagre. Não há como solicitar o crayom vermelho, se a pessoa for daltônica; não há como solicitar a caixa inteira, se a pessoa for daltônica e míope. Confesso, no
entanto, que me espanta as críticas que vêm acompanhadas de declarações de desconhecimento dos livros listados. Parece um bando de Silvios Santos que não viu o filme mas gostou, só que ao contrário. É tudo mesmo ao contrário nas redes sociais. Inteligência, por exemplo, parece fácil demais. Lembro-me da primeira vez que me senti inteligente de fato. Foi numa aula de literatura. O professor tinha passado a leitura de “Incidente em Antares”, de Érico Veríssimo. Uma semana depois, ele perguntou quem tinha lido e fui o único a erguer o braço. Não confessei, porém, que o que me atraiu foi o fato de, na trama, os mortos retornarem à vida, pois estava numa fase em que o terror definia meus interesses literários. O professor me elogiou, repreendeu o restante da turma e ainda me deu a maçã comprada por um puxa-saco, que comi sozinho no recreio. A melancia sigo amparando sobre a cabeça, na esperança de que alguém a acerte. A oportunidade pode estar no futuro, já que fui convidado a montar uma nova lista, desta vez com autores hispano-americanos. É claro que isso também atrairá mais arqueiros míopes, mais flechas para o corpo. A vantagem é que terei chance de ser criticado em outro idioma. ¡Ay, caramba!
PASSARELA
Londrinense vence o Paraná Criando Moda
O Em desfile na noite de quinta-feira, no Parque do Japão, 12 estudantes disputaram concurso de moda O Criações da estudante Nayara Souza Costa, do curso de Moda da UEL, foram as preferidas do júri
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Wilame Prado wilame@odiario.com
Foram revelados na noite de quinta-feira, em desfile no Parque do Japão, os vencedores do 14º Concurso Paraná Criando Moda, realizado pelo Sindicato da Indústria do Vestuário de Maringá (Sindvest) e Prefeitura de Maringá. E o que mais agradou ao júri durante o desfile foram as criações da estudante Nayara Souza Costa, da Universidade Estadual de Londrina (UEL), que atendeu com brilhantismo a proposta desta edição, que era criar coleções utilizando o fio da seda – matéria-prima abundante nesta região. Com a conquista, Nayara leva um prêmio de R$7 mil, uma visita à Werner Tecidos e um manequim de modelagem da Expor Manequins. Em segundo lugar ficou a estudante Alberani da Conceição, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Campus Apucarana, que leva um prêmio de R$ 5 mil. Leila
Maria Fernandes Foggiato, da Faculdade Tecnológica Senai de Curitiba, ficou em terceiro lugar e recebe R$ 3 mil de premiação. O júri, composto por Enéas Neto, Heloisa Omini, Roberto Couto, Giulia Tesoriere, Valeska Fonseca Nakad e Wilsa Figueiredo, analisou os trabalhos de doze estudantes paranaenses, levando em conta critérios como qualidade da apresentação das peças, criatividade e adequação ao tema. Sob o tema “Ceda à Seda”, cada participante apresentou dois looks sobre diferentes propostas – uma conceitual, outra comercial. Para o desenvolvimento de suas criações,contaram com até 10 metros de seda. Patrocínios O concurso conta o patrocínio da CNI e Senai, e com o apoio da Fiep, APL CianorteMaringá, do Maringá e Região Convention & Visitors Bureau, Instituto Vale da Seda, Werner Tecidos, Expor Mannequins Experts, Sebrae e Grupo O Diário. O Sindvest criou, em 2001, o
Concurso Paraná Criando Moda – Talentos da Moda Paranaense, destinado aos estudantes de moda, design e confecção de todo o Estado. Desde 2001 o concurso teve 863 projetos inscritos, 140 estudantes selecionados e, até agora, 42 profissionais foram premiados. A primeira edição do concurso teve o objetivo de divulgar o trabalho dos estilistas do Paraná. Com o passar dos anos, o evento foi se aperfeiçoando, de modo que, a cada edição, o formato foi se moldando de acordo com as novas necessidades do mercado confeccionista paranaense. A partir da 4ª edição do concurso, o Paraná Criando Moda passou a focar os estudantes e recém-formados, com o objetivo de valorizar a formação acadêmica, incentivar os novos talentos e mostrar aos empresários do setor a importância de ter profissionais habilitados em suas empresas. Deste então, o evento é destinado, exclusivamente, a estudantes de moda, confecção e design.
CRIATIVA. Na passarela, a estudante da UEL Nayara Souza Costa ao lado das modelos que desfilaram com figurinos desenvolvidos por ela —FOTO: FERNANDO TANAKA