Volume VI
“A gente é criada para ser assim, mas temos que mudar. Precisamos ser criadas para a liberdade. O mundo é grande demais para não sermos quem a gente é.” Elza Soares
EDITORIAL Sempre fui “aquela das lutas”. Recordo-me de ser ainda uma criança a tentar entender o mundo, e questionar porque é que diziam que eu era “um cidadão”. Se eu era uma menina, deveria ser “uma cidadã”. Espanto foi o meu quando o meu pai não soube justificar para além de dizer “porque é assim que se diz”. Também questionei o meu pai o porquê de dizerem na escola que “o Homem descobriu o fogo”. Como é que sabem que foi um homem e não uma mulher? E porque é que utilizamos homem com H grande para nos referir à humanidade? Porque é que mesmo estando numa sala com muitas meninas e apenas um menino, usam o plural no masculino para se referir a nós? Hoje percebo que a luta pela igualdade sempre me pertenceu. Esta ânsia de potenciar a mudança e acreditar que vou fazer parte dela nunca me abandonou. Fui e continuo a ser “aquela das lutas”, ocasionalmente acompanhada por olhares de desdém, murmúrios e uns quantos
sermões. Afinal, porque é que eu, uma mulher, vejo e denuncio estas micro desigualdades culturalmente aceites que silenciam a mulher na sociedade? Devia era estar calada e consentir. Acabou por ser um percurso um pouco solitário, ser “aquela das lutas” mesmo quando as pessoas que me rodeavam viam isso como algo negativo. Porém, em 2017, quando entrei em criminologia no ISMAI, o meu percurso cruzou-se com o da Sofia Neves que veio a ser verdadeiramente e derradeiramente “aquela das lutas”. Fiquei deslumbrada ao encontrar uma mulher a falar de forma tão poderosa sobre as desigualdades presentes na nossa sociedade sem nunca pedir desculpa pelo incómodo ou remeter-se ao silêncio. Assim que descobri a Plano i, comecei a idealizar um dia poder fazer parte desta associação. E assim foi. Três anos depois, criaram o Grupo de Jovens Promotor da Igualdade e da Saúde, do qual sou represent-
ante. Foi uma sensação incrível perceber que existem mais pessoas das lutas. Pessoas com a mesma determinação e vontades que eu, e que não pedem desculpa por serem das lutas. Afinal não é algo mau. Recentemente fui convidada para fazer parte da direção da Plano i, juntamente com a Sofia Neves, a Paula Allen e a Mafalda Ferreira. Outras mulheres que também são das lutas. É um orgulho enorme pertencer a esta associação, estar junto destas pessoas que fazem o impossível todos os dias. Pessoas que lutam para ajudar quem mais precisa. O ano de 2021 foi, definitivamente, repleto de começos marcantes. Começos com pessoas idênticas a mim, com a mesma perseverança, com os mesmos valores e com as mesmas ambições. Pessoas das lutas. E é isto que importa. Encontrarmos o sítio onde pertencemos, com as pessoas que constantemente nos motivam a ir mais longe. Telma Portela
ÍNDICE
10 Organograma Plano i 14 Os rostos por detrás da Plano i -Apresentação de Telma Portela
18 Projetos Plano i
-Apresentação do projeto No Label -Apresentação da linha SOS Suicídio: Serviço de Prevenção do Suícidio -Bairros Sem Bullying
26 Entidade Parceira
-Apresentação do projeto Boomerang
30 Lugar de Fala
-Carta anónima de uma ex-vítima de Violência Doméstica -Novos começos -Ver para além do olhar
44 ABC da Igualdade -Fetichização
48 Sabias que...?
-A ONU anunciou a criação de Índice da Juventude na Política
52 Espaço Cultural
-Apresentação do Projeto Kriarte -Sugestão Cultural: MAID
60 Exposição Fotográfica -CLARA (artista e obra)
66 Bibliografia e Ficha Técnica
ORGANOGRAMA PLANO I
Sofia Neves
Paula Allen
Mafalda Ferreira 10
Dora Pinto
Telma Portela 11
OS ROSTOS POR DETRÁS DA PLANO I Apresentação de Telma Portela
Telma Portela Telma Portela é licenciada em Criminologia pela Universidade da Maia (ISMAI) e mestranda em Criminologia na Faculdade de Direito da Universidade do Porto (FDUP). A sua principal área de interesse está relacionada com as causas LGBTI+, estando a desenvolver a sua tese nesse sentido. Iniciou o seu percurso na Associação Plano i fazendo parte do Grupo de Jovens Promotores da Igualdade e da Saúde do qual é representante. Para além desse papel, auxilia também na gestão das redes sociais da Associação.
PROJETOS PLANO I Apresentação do projeto No Label Apresentação da linha SOS Suicídio: Serviço de Prevenção do Suícidio Bairros Sem Bullying
No Label No passado 10 de dezembro de 2021 nasceu de um sonho o mais recente projeto do Grupo de Jovens da Associação Plano i. Sem rótulos, sustentável, igual e livre são palavras que o definem, e não é por acaso. Apresentamos a No Label. De nome e princípio, a No Label nasceu de uma vontade invicta de alcançar uma verdadeira mudança social e lutar ferozmente pela implementação plena dos Direitos Humanos. Para tal, a No Label formou um compromisso claro de acolher e dar visibilidade aos rostos, identidades e vozes esquecidas pela sociedade. Aliando a esta parceria o amor pela arte, e pela expressão de sentimentos e vivências da for-
ma mais pura e variada. O objetivo é materializar as experiências, retirando um rendimento das mesmas, e tornando as pessoas em verdadeiras galerias vivas na luta pelos Direitos Humanos. A No Label une por isso a arte e a sociedade, a cultura e o amor, a construção e a desconstrução. Não é uma empresa, mas uma forma criativa, consciente e impactante de angariar fundos para as causas abraçadas pela Associação Plano i (como o Centro Gis, Casa Arco-Íris e Plano 3C) e retirar um rendimento para as pessoas artistas que embarcarem connosco nesta viagem. Assim é a No Label. Conhece mais através do instagram @nolabel.planoi
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SOS Suicídio
A Plano i, estando consciente da existência de outros recursos e entidades, e não se estando a substituir aos mesmos, considerou prioritário criar um serviço destinado a combater e prevenir o suicídio nas crianças e jovens. Trata-se de um serviço de apoio e encaminhamento efetuado por profissionais especializados/as e com cédula profissional. Não criámos este serviço com nenhum apoio ou financiamento, nem é isso que procuramos, criámos para podermos ser mais um recurso para crianças e jovens que sentem que estão sozinhas/as. Não estão sozinhas/os. Estamos aqui!
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Dia Escolar da Não Violência e da Paz “Em comemoração do Dia Escolar da Não Violência e da Paz, o projeto Bairros SEM Bullying gostaria de deixar uma mensagem para ti, que vês o bullying a acontecer ao teu lado, que observas aquela colega a ser gozada pelo corte de cabelo que usa ou a ser insultada por usar uma saia curta. Esta mensagem é para ti, que vês o teu colega a ser insultado nas redes sociais por gostar de maquilhagem e não de desporto. Sabias que podes contribuir para acabar com este ciclo de violência? Denuncia, fala com o pessoal docente da tua escola, com a tua família, com alguém em quem confies. Não compactues com situações de bullying. Compactua com o seu término.”
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ENTIDADE PARCEIRA Apresentação do projeto Boomerang
Boomerang O projeto Boomerang Estudo sobre as perceções do impacto económico da partilha desigual do trabalho não pago nas vidas de mulheres e homens imigrantes em Portugal, coordenado pela Prof. Doutora Estefânia Silva, é um projeto que se enquadra no Programa Conciliação e Igualdade de Género, financiado pelo Mecanismo Financeiro do Espaço Económico EuropeuEEA Grants, sendo a Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género a entidade operadora e o Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa (ISCSP-ULisboa) a entidade promotora. Considerando a expressividade e a complexidade dos fluxos migratórios dos últimos anos, o Boomerang tem como objetivo principal caracterizar as perceções de mulheres e homens imigrantes em Portugal sobre o impacto económico da partilha 26
desigual do trabalho não pago e do divórcio com o intuito de analisar os seus efeitos do ponto de vista da conciliação pessoal, familiar e profissional. O projeto terá a duração de 18 meses e conta com a parceria das seguintes organizações não governamentais e universidades: Associação Plano i, SOS Racismo, Cruz Vermelha Portuguesa – Delegação de Braga, Universidade da Maia, Universidade Aberta e Odalnaeringshage. Está, atualmente, em fase de acolhimento de novas parcerias com associações de imigrantes. A sua implementação será feita em grupo, num formato de entrevista, e individualmente a partir do preenchimento de um inquérito. Para participar no Boomerang é necessário ser técnico/a que trabalha diretamente com população imigrante, ser imigrante em Portugal, ter nacionalidade brasileira,
cabo-verdiana ou ucraniana, ter 18 anos ou mais, estar a residir no país há pelo menos 1 ano e ter, ou ter tido no passado, uma relação de intimidade. Todos os quesitos éticos, nomeadamente os que dizem respeito à confidencialidade e ao anonimato, estão garantidos pela equipa de investigação. Pretende-se que os resultados do projeto aumentem o conhecimento acerca da situação das mulheres e homens imigrantes em Portugal, contribuam para uma melhoria das suas condições de vida e promovam a igualdade de género entre os tempos afetos ao trabalho pago e não pago. Assim, se tiver interesse em participar neste projeto, poderá contactar-nos através do email boomerang@iscsp.ulisboa.pt ou das nossas redes sociais. Muito agradecemos a vossa participação, divulgação e Entidades parceiras:
Promotores:
partilha junto de outros/as potenciais interessados/as. Venha fazer parte do conhecimento e da mudança!
Operador do programa:
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Financiado por:
LUGAR DE FALA Carta anónima de uma ex-vítima de violência doméstica Novos Começos Ver para além do olhar
Carta anónima de uma ex-vítima de Violência Doméstica Bem, após a milésima tentativa de escrita, parece que chegou o momento… Devo dizer que, quando me candidatei para escrever esta carta, não pensei que seria tão difícil. É toda uma mistura de emoções e falta de palavras adequadas para me exprimir. Está há demasiado tempo enterrado dentro de mim. Já repararam que o ser humano tem uma mania muito engraçada de oprimir os sentimentos menos bons? Mas bem, hoje é o dia em que me levanto para gritar por todas as vítimas de Violência Doméstica, desde as que já não estão cá, às que precisam de uma força para se levantarem também e, por isso, escrevo esta carta, a minha carta de esperança para vocês. No final de 2015 estava a começar uma relação que se veio a revelar um ciclo que parecia não ter fim. Em 2018 estava a denunciá-lo por agressão física e
psicológica. Segundo o relatório, eu estava numa relação de risco elevado. Porém, devo admitir que me sentia culpada por estar a fazer a denúncia. É como uma lavagem ao cérebro onde tudo o que vemos é aquela pessoa, se vai gostar do que fizemos, se vai ficar zangado/a, se vai ter um ataque de raiva. É ter cuidado no mais mínimo pormenor porque se não estiver da forma como ele/a quer, nós vamos sofrer as consequências. É desculpar tudo porque “a culpa foi nossa” e porque não temos mais ninguém. A violência afeta tanto, que, por vezes, parece mais fácil mantermo-nos num relacionamento em que não estamos felizes, eu sei…, mas devo dizer, como pessoa que sobreviveu, que há todo um mundo enorme e belo à vossa espera. Inicialmente, achei que não ia aguentar, não tinha amigos, tive que começar tudo do zero, mas a sensação de liberdade era tão
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grande que me fez querer continuar. Com o tempo, conheci pessoas novas e fiz amizades para a vida, acabei a licenciatura, comecei a trabalhar e até entrei num relacionamento no qual sou bastante feliz. Não vou mentir, foi uma grande batalha e bastantes noites de choro, nem tudo são rosas, mas tudo ameniza com o tempo, especialmente a dor. Hoje em dia, quando olho para trás, apesar de ainda haver um pouco daquela menina pequena e insegura em mim, devo dizer que estou muito orgulhosa da pessoa na qual me tornei. Para ti, para mim e para todas as outras pessoas, há esperança.
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Novos começos Uma expressão vacante sempre esteve presente na minha cara, era algo comum quando era mais nova, onde as pessoas olhavam para mim e diziam que eu não era normal porque não sorria e que era meia “abichanada” ou quando outras diziam era obvio que não tinha muito amor na minha vida e que tinha de ultrapassar o trauma e etc., mas que a única coisa que faziam era desaparecer depois de me usar e/ ou obter o que queriam de mim e acrescentar mais bagagem para cima, bagagem esta que sempre tive comigo cada vez que tinha que recomeçar de novo. Nasci no Porto em 86, e vivi aqui até quase os nove anos, nesses nove anos a minha realidade era uma realidade de pobreza, de miséria, de droga, de abuso de todo o tipo, os meus pais não eram boas pessoas, eram tudo de errado que pode acontecer com um ser humano e sabendo o que sei agora sobre tudo o que aconteceu posso dizer que foi um milagre ter sobrevivido ás coisas que aconteceram nesse período
da minha vida. Ironicamente uma das pessoas que acabei por apresentar queixa de violência doméstica foi a pessoa que me removeu desse ambiente, a minha avó, ela era muito católica, muito da velha guarda, muito conservadora e era de ignorar o problema de modo a conservar as aparências, mas mesmo assim ela viu o desastre de vida que a minha mãe era responsável e decidiu tirar-me de lá e levar-me para casa dela em Oliveira de Azeméis. De certa forma foi o meu primeiro recomeço, era algo novo, mas num sítio onde ainda se vivia no passado e com o passar do tempo, dos anos, eu via cada vez mais o quanto aquela gente vivia no passado, o pessoal mais idoso estava sempre a dizer quando era o tempo do Salazar havia respeito e não havia paneleiros e cenas e etc., e também que deviam ser todos espancados quem não acreditava em deus para meter medo, de modo a parar com toda a pouca vergonha da vida moderna porque
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antigamente é que era bom e não havia nada destas modernices….e cenas. Posso dizer tendo vivido lá desde os 9 anos até aos 28 que tudo isso era treta, eu testemunhei a pior merda corrupta que alguém pode testemunhar, desde corrupção, consumo de drogas, abuso de todos os tipos especialmente por parte de quem tinha poder lá ou seja, a ordem natural das coisas, a verdadeira ordem das coisas, como era desde o tempo do Salazar, como eram e sempre foram, e provavelmente sempre seriam, mas com uma capa de conservadorismo religioso e tradições bonitas, tradições que quebraram a mim e a todas as pessoas que foram mastigadas por esses sistemas de poder. Todos e todas engolidas pela máquina e processadas para ser um produto bonito e tradicional o que era mau para mim porque sempre fui um produto com defeito para aquela gente toda. Eu costumava olhar para o céu e imaginar como a minha vida seria se pudesse simplesmente sair, algo que naquela altura era aparentemente im-
possível, mas que ironicamente começou a manifestar-se após ter começado uma transição enquanto ainda residia naquela cidade em segredo, uma transição que era o resultado de algo que tive de esconder a vida toda, que se eu não tivesse começado naquela altura eu muito provavelmente teria acabado com tudo…ou seja eu já não tinha nada a perder e iria recomeçar de novo após sem pensar duas vezes e sem planear nada de todo. Ironicamente eu e a minha avó fomos expulsas pelo senhorio da casa nessa altura e tínhamos que ir para outro sitio, e acabámos por ir para São João da Madeira a 10km de distância, ou seja mais um começo, estive lá durante quase quatro anos onde levei com tudo o que uma pessoa trans poderia levar durante a sua transição mas notei que havia cada vez mais pessoas a tratarme bem devido ao fato de eu ter uma aparência passável, mas que cuja intenção desta gente era obvia, o que me fez sentir na pele ainda mais a discriminação sexista e classista que a 33
sociedade portuguesa tem em relação aos papeis dos homens e das mulheres na sociedade, onde um homem de baixa casta social tem que se desenrascar e nem merece empatia ou ajuda dos outros porque tem que ser homem e cenas, onde um homem com maior afluência social tem que ter a aparência e comportamento normativo e ser homem com h grande e ser um “doutor” ou “engenheiro”, onde uma mulher de baixa casta é usada ao longo da sua vida e tem que se calar pois senão é uma meretriz sem vergonha e sem decência alguma porque mulher boa para aquela gente leva e cala-se, e onde uma mulher de classe social mais elevada tem que ser a menina perfeita e virginal para um dia ser bem sucedida e ter a família perfeita com o homem perfeito ao seu lado…e tudo pelo meio é esquecido e deitado fora pois não tem uso neste sistema rígido e binário e mais uma vez tipicamente português. Mas eu aguentei porque tinha que aguentar, não possuía alternativa, mas os abusos e ameaças de violência
estavam mais uma vez cada vez mais presentes, não havia um único dia que não ouvisse um paneleiro isto, um paneleiro aquilo, ser dito na minha direção pá esquerda e pá direita, e a minha saúde estava cada vez mais a deteriorar como resultado disso. Tive de pedir ajuda para sair de lá, e ainda bem que fiz isto porque senão eu posso garantir com 100% de certeza que se tivesse ficado lá eu já estaria morta hoje. Eu já era utente do Centro Gis há um tempo e já há um ano antes de ter pedido ajuda me diziam que eu era vítima e que tinha o direito de pedir ajuda e etc.., mas como podem já ter uma noção, eu não queria desistir e queria ver se conseguia resolver as coisas por mim, mas falhei…e mais um pouco de tempo e isso me teria custado a vida…por isso tive de engolir o sapo, deitar o orgulho de lado e pedir ajuda, e ajuda recebi. Dois meses depois de ter pedido ajuda, fui para a casa arco iris, mas nesses dois meses antes de ir, eu me despedi do meu emprego em São João da Madeira e pus a 34
coisas em dia para que ninguém suspeitasse de nada nem soubessem para onde iria de modo a assegurar a minha proteção e um novo começo. Mas como sempre algo de estupido acontece, o mundo estava a perder a estribeiras devido ao covid-19 e mudei de vida em plena pandemia sem saber mais uma vez o que esperar ou o que me iria sair na rifa. Muitas pessoas passam pela casa arco iris e por outras estruturas de apoio, mas uma constante é que quase todas as pessoas que entram nestas estruturas raramente estão bem e não são muito funcionais devido ao abuso, mas mesmo assim era melhor do que estar no outro sítio e a primeira noite que estive lá na casa arco iris, foi a primeira noite em anos que consegui dormir sem interrupções e sem gritaria…foi diferente. O tempo na casa não foi fácil porque devido ao covid as coisas ficaram paradas e ninguém sabia o que iria acontecer, mas tratavam-me como uma pessoa e não como um produto defeituoso, o que mais uma vez, era diferente do
que tinha vivido. Eventualmente saí e fui para a 3C e mais uma vez havia confinamentos, mas para mim não interessava pois pela primeira vez em anos voltei a estudar, nesse tempo que estive na 3C tirei um curso técnico de nível 5 online de modo a ter mais hipóteses de me puder desenrascar no mercado de trabalho e ser mais empregável porque aprendi que se uma pessoa não se mexe é deixada para trás uma vez que a vida não para. E mais uma vez as coisas mudaram, agora finalmente após anos de abuso constante, passar pelas estruturas e acabar um curso, mais todas as dificuldades à mistura, tenho casa própria onde tudo que está dentro desta foi adquirido com o meu dinheiro produto do meu esforço, escolha e trabalho constante. Um novo começo, onde ninguém me controla ou me diz o que fazer, ou se sou isto ou aquilo, finalmente estou bem, finalmente estou livre para viver a minha vida. Tive muita sorte, mesmo muita, porque as coisas nunca foram boas para pessoas como
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eu e apesar do constante abuso consegui sempre adaptar-me e sobreviver as circunstâncias do que a vida despejava em mim. Mas sobrevivi e fiz algo disso, mas tenho consciência e exemplos que isso nem sempre é assim, já perdemos demasiadas pessoas na nossa comunidade, pessoas que nunca tiveram o luxo de um novo começo e nesse aspeto tive mesmo muita sorte porque tive vários começos, várias vidas e finalmente posso ser eu própria graças a isso. Mas é lixado quando temos um sistema que diz á maior parte das vitimas de violência domestica que o caso foi arquivado por falta de provas, um sistema que parece que está mais preocupado com o bem estar e a liberdade dos agressores do que a nossa, um sistema que não preocupa com pessoas que nunca tiveram uma hipótese e que foram quebradas de vez e onde muitas destas se transformaram em agressores devido ao abuso, onde foram quebradas de vez pela sociedade, e que nunca tiveram direito a um recomeço. É quase um motivo de vergonha
que o estado delega a nossa proteção a associações, mas ao menos é algo, e é um algo que devemos proteger e ajudar o máximo possível para que mais pessoas como eu possam ter um novo começo, mesmo que seja difícil. Há razões por que muitas pessoas na nossa comunidade cometem suicídio ou que aparentam ser um estereotipo ambulante mas a principal razão para isso, na minha opinião, é que não possuem recursos para recomeçar ou ter uma vida digna e devemos ajudar o máximo possível para que este paradigma mude, mas também deve ser dito que tudo começa e acaba com o individuo e para alguém mudar tem que decidir isso, tal como eu e muitas pessoas que passaram pelas estruturas de apoio fizeram, quem quer um novo começo não deve ter medo da mudança mas sim abraçá-la e aceitá-la porque a alternativa é vastamente pior. Tudo na vida muda, a vida é impermanente, tudo se transforma em algo, até nós e quem consegue sobreviver o tempo suficiente consegue ver coisas boas
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a acontecer, mas nem sempre muda para melhor e o que quero dizer com isto é que a vida vai mudar com ou sem nós, agora se queremos um novo começo, um começo bom, então devemos decidir mudar as coisas na direção que queremos e lutar, e se tivermos que pedir ajuda que seja, se tivermos que mudar algo em nós então que seja, na vida nem sempre temos escolha mas quando temos devemos sempre tomar uma decisão e agir. Voltei para o Porto e a minha expressão já não é tão vacante na minha cara como era e agora finalmente consigo viver, ser livre, só tive que decidir e viver isso ao longo do caminho. Eris Teixeira Carvalho
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Ver para além do olhar O meu nome é Paula Ferreira, sou mediadora municipal e intercultural que exerci durante 3 anos a função de técnica psicossocial num “Centro Detenção para Imigrantes Irregulares” toda a gente me perguntava mas o que é isso? Isso existe? Nunca ouvi falar…! Foi desconcertante pensar que trabalhamos numa espécie de ilha deserta sem ninguém saber onde fica, uma espécie de curiosidade e desdém como se trabalhássemos em algo que ninguém sabe ao certo se existe de facto. Mas é perfeitamente normal este tipo de reação, eu própria nunca soube que algo semelhante existia até começar a trabalhar para o JRS Portugal – Serviço Jesuíta aos Refugiados, criado em 1980 pelo padre jesuíta Pedro Arrupe (http://www. jrsportugal.pt). A nossa missão é infelizmente intemporal: Acompanhar, Servir e Defender os direitos dos refugiados, migrantes e deslocados à força do seu país, da sua pátria. Acompanhava diariamente pes-
soas que são detidas, privadas da sua liberdade pelo tempo máximo de 60 dias, pelo facto de não terem os documentos necessários para entrar em Portugal, são detidos mediante uma ordem judicial e entregues ao SEF – Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, autoridade responsável pelo controle das fronteiras. Trabalhei com pessoas de todos os continentes, de diferentes etnias, crenças religiosas, culturais, linguísticas etc. No início fiquei estonteada com tanta diversidade e como conseguiria chegar até a estas pessoas tão diferentes umas das outras, tão assustadas e com tantas perguntas sem respostas à vista. Mas surpreendentemente me vi rodeada de pessoas muito generosas e com tanta necessidade de se expressar e dizer ao Mundo que apenas querem uma vida melhor, uma escola para os filhos, um médico quando estão doentes e uma cama onde possam dormir todas as noites – “ai uma cama só minha..!” Como tomamos como certo estes priv38
ilégios que são tão banais para nós, mas tão distantes para tantas pessoas que não têm nada a que chamar de seu, nem casa, nem família nem pátria, nem pai, nem mãe. Falar sobre a resiliência e a resistência quando trabalhamos com pessoas que os acontecimentos que vivenciaram ao longo da vida são quase impossíveis de medir ou qualificar é quase tão natural como falar em respirar. Se a resiliência tivesse outro nome ela seria a história de muitos destes migrantes, que perderam quase tudo aquilo que para nós seria impossível de suportar do ponto de vista emocional, as suas vidas estão rodeadas de perdas irreparáveis de sofrimentos sem sentido, muito além da maior parte dos filmes de terror que já assistimos na televisão. Mas por algum mecanismo que não consigo definir, há pessoas que vão para além das capacidades normais dos seres humanos, a capacidade de acreditar em algo, a vontade, a raiva, a luta, a coragem de não ser mais
um a passar só por passar, muitos me dizem: - Eu estou vivo por milagre, já escapei à morte mais vezes do que me lembro e isso tem que querer dizer algo, senti todas as dores: as perdas, o luto, o fracasso, cheguei até aqui por algum motivo. Como conseguimos superar tanto sofrimento? Porque alguns conseguem e outros não? Não sou de forma alguma uma especialista em saúde mental, nem em comportamento humano, apenas alguém que pretende dar algum conforto emocional e material enquanto as pessoas estão detidas no Centro de Detenção. Aquilo que sinto é que aqueles que sobrevivem não são aqueles que aparentam ser mais fortes, mais robustos. Os que sobrevivem são aqueles que não se deixaram embrutecer que ainda acalentam algum sonho bem escondido, que se deixam encantar com pequenos nadas, aqueles que ainda conseguem rir e fazer rir os outros. Tenho uma enorme admiração por estas pessoas, elas ensinam-me todos os dias o sentido da gratidão e da humildade perante aquilo
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que humanamente julgamos não conseguir suportar. A falta de interesse pelo mundo e pelos outros é o que nos pode acontecer de pior, e para mim aqueles que ainda olham para os que estão ao seu lado, conseguem sentir compaixão e amizade apesar de todas as tormentas que passaram, esses sim, são os mais fortes, os resistentes, os que acreditam até ao fim. Se me perguntarem qual o ingrediente que faz a diferença? Penso que nunca saberei responder, existem tantas teorias, tantos estudos, mas nunca conseguiremos saber ao certo o que nos protege de enlouquecer ou de resistir no meio do sofrimento, da escuridão e da incerteza absoluta se vamos viver ou morrer. Tanta haveria a fazer para que as pessoas possam aprender com as experiências dos outros, em alargar o horizonte para além do que nos é familiar e educar desde muito cedo para os afectos e não apenas para a competição. Um exemplo muito claro é o quadro de mérito para os mais inteligentes, todas as escolas se
orgulham e fazem uma grande festa de entrega dos diplomas para aqueles mais capazes, com melhores notas nas pautas. Eu gostava tanto que também houvesse quadros de mérito nas escolas para os mais solidários, para os que ajudam os colegas quando têm mais dificuldades, para os que desde cedo fazem voluntariado e ajudam o Mundo a ser um lugar melhor. Para mim a educação começa aqui, em entender que para além da inteligência é importante cuidar das emoções, da empatia, da aceitação da diferença e em aprender que não vivemos sozinhos, os outros caminham connosco…que o importante é que ninguém solte a mão de ninguém! Paula Ferreira – Técnica Social JRS Portugal - Serviço Jesuíta aos Refugiados
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ABC DA IGUALDADE
Fetichização
Fetichização A fetichização tem vindo a ser definida como o ato de transformar um indivíduo num objeto de desejo sexual, tendo por base um aspeto da sua identidade, removendo a sua humanidade da equação. Esta objetificação pode afetar as diferentes minorias sociais, sendo que as dimensões da identidade que são objetificadas variam. Quando a dimensão se prende com o corpo, a objetificação tende a ser conceituada como sexualização. Para as pessoas racializadas e indígenas, em particular, este fenómeno não é recente. De um ponto de vista superficial, a fetichização pode aparecer como forma de lisonjeio, no entanto, estas “preferências” revelam-se danosas e reforçadoras de estereótipos raciais, com origem no racismo. Em certos grupos sociais, a fetichização racial tem sido usada para justificar a violência nas suas variadas formas. Durante a colonização e escravidão transatlântica, o corpo feminino racializado foi erotizado pelos/ as colonizadores/as Europeus até à desumanização da pessoa.
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Este posicionamento, de visualizar o corpo negro como um objeto sexual, facilitou a escravidão forçada e o abuso perpretado contra as pessoas racializadas. A hipersexualização dos corpos negros mantém-se até aos dias de hoje, especialmente visível no posicionamento social face às meninas racializadas, cujos corpos começam a ser sexualizados muito mais cedo do que o dos seus pares. O mesmo se pode observar na frequência com que, no sistema judicial dos Estados Unidos da América, o/a menor racializado/a é julgado/a como adulto/a, em comparação com o/a menor caucasiano/a de classe média/ alta. O corpo “negro” é hipersexualizado e socialmente visto como “maduro”, comparativamente ao corpo “branco”. A fetichização racial acontece mesmo entre os membros das comunidades racializadas, sobretudo na materialização da glorificacão do corpo claro
(colorismo), cujas caraterísticas se aproximam das características corporais Eurocêntricas, desde a cor dos olhos, até à textura do cabelo.Mas a fetichização não se prende com as características étnicas. A fetichização dos corpos trans e não-binários tem vindo a ser discutida e explorada, não só dentro da Queer Theory, como a nível académico. A forma mais gritante que toma, é na criação e consumo da chamada pornografia trans, frequentemente desenhada e criada para o consumo de homens cis e hétero. No caso da sexualização do corpo trans, em especial da mulher trans, a objetificação soma-se ao medo associado à vulnerabilidade da mulher trans, e o resultado é a opressão. A sexualização distingue-se da atração sexual no sentido em que o objetivo da primeira é o estabelecimento de uma relação de poder que subjuga a pessoa trans, ao poder do normativo cisgénero. 45
SABIAS QUE...? ONU anunciou a criação de Índice da Juventude na Política
ONU anunciou a criação de Índice da Juventude na Política Segundo a ONU News, o objetivo será verificar se os países estão a criar espaços para a juventude no setor político. O Secretário-Geral, António Guterres, pretende que exista um espaço garantido para os e as jovens na discussão nas várias frentes de atuação. A nível mundial, os e as jovens estão e continuarão a ser os e as mais afetadas/os pelas crises atuais, pelo que a sua presença na linha da frente das soluções é essencial. Segundo António Guterres, a pandemia de Covid-19, a mudança climática, a divisão digital, os conflitos, a discriminação e a queda da confiança, carecem das vozes jovens, que se devem erguer nas ruas e online, defendendo, não só a justiça climática, como a igualdade de género e a justiça racial e socioeconómica. Nos últimos tempos, a juventude mundial tem vindo a exigir a sua inclusão na política, ao que
o Secretário-Geral respondeu positivamente com a criação do Índice da Juventude na Política. Nas palavras de António Guterres, as pessoas jovens mostram-se “agentes poderosos para a mudança”. Neste sentido, foram produzidos dois documentos que serão implementados: um guia para os Estados-membros operacionalizarem a Agenda de Juventude, Paz e Segurança, e uma estratégia de cinco anos sobre Processos de Paz Inclusivos à Juventude.
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ESPAÇO CULTURAL Sugestão Cultural: MAID Apresentação do Projeto Kriarte
MAID Quantas pessoas não se reconhecerão naquilo que são os seus armários? Hoje o armário poderá ser de outra textura e até ser de outro tamanho, mas será sempre o mesmo onde nos escondemos pela primeira vez. Maid fala-nos de violência, fala-nos da brutalidade, da vida crua, da ansiedade, do medo, da imprevisibilidade, mesmo quando esta se mostre previsível. Numa série acerca de Violência Doméstica a possibilidade de falhar e ser-se negligente é enorme, por isso Maid surpreende tanto pela positiva. Um enredo reflexivo, elaborado, que fugiu às facilidades e, quanto possível, aos clichês. Maid faznos respirar o peso do ar gélido insalubre que nos envenena as entranhas, e sentir a leveza das respirações fundas nos intervalos das permanências do medo.
A série comprova o que tantas pessoas precisam de ver para que se desconstruam os seus estereótipos e preconceitos: o sistema e a sociedade a falhar em complô, expondo a revitimização constante da vítima, e o ciclo da violência a movimento. Maid torna-se crucial em vários pontos de relevância acerca da Violência Doméstica, o primeiro será a invisibilidade da violência psicológica. Na série é retratada a brutalidade, a dimensão da violência dos abusos emocionais, e a forma profunda como impactam e condicionam a vida das vítimas ao medo, à ansiedade, à dissociação identitária e a traumas permanentes. Na série, a violência financeira aparece como cúmplice da violência psicológica que determina a vítima enquanto refém na sua própria casa. É importante
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referir que a violência financeira ocorre em muitos contornos distintos, e que também pessoas com elevados rendimentos são vítimas de violência financeira. O segundo ponto que torna a série crucial é a forma como a narrativa retrata o ciclo da violência. Quando somos apresentados/as ao ciclo da violência desta forma, a todos os seus estágios, desde o primeiro momento, da primeira violência ao desânimo aprendido, entre idas e regressos, quando somos introduzidos/as às histórias para além da súmula dos factos, acredito que todos os preconceitos são desmantelados, porque torna também para o/a espectador/a perceptível o porquê das vítimas regressarem ou permanecerem em relações de violência. Maid acaba, também, por confirmar os perigos de padronizar, padronizar a violência, a vítima e a pessoa agressora. A padronização invisibiliza e invalida outras realidades, impedindo muitas vezes a pessoa de se reconhecer no papel de vítima, não reconhecendo ou conferindo validade
à violência, neste caso, vivida na sua relação. Quando a vítima não se reconhece nesse papel, existem muitas mais restrições a um pedido de ajuda. Vale a pena explicar que a Violência Doméstica é, infelizmente, um fenómeno transversal e com uma enorme amplitude de especificidades. Para entendermos isso é necessário ir além do paradigma heterocisnormativos, e etnocêntrico em que muitas vezes vivemos. A VD pode constituir-se enquanto fenómeno de vitimações interseccionais, como no caso de vítimas LGBTI+, imigrantes, vítimas percepcionadas como minorias étnico-culturais, vitimas racializadas. Não existem, também, padrões fixos ou rigorosos quanto aos rendimentos, “classe social” ou educação, e é importante que tenhamos isso inscrito enquanto cidadãs e cidadãos, pois faz parte da nossa responsabilidade estarmos atentas/os, uma vez que a Violência Doméstica constituiu um crime público. Maid coloca-nos ainda a perspetiva das crianças enquanto víti53
mas das relações de violência, sendo desta forma também elas vítimas de Violência Doméstica. É importante salientar que a VD não é um fenómeno exclusivo de relações de intimidade, grande parte das vítimas de VD LGBTI+, por exemplo, são vítimas de violência pela própria família. Desta forma, Maid, abre-nos o experto, desmantela o nosso paradigma e deixa-nos visionar um outro, onde somos engolidas/os pelas falhas do sistema e da sociedade, que não floreia ilusões, mas que nos faz sentir que há esperança, que as leis e as estruturas estão a mudar. Que não se duvide que as estruturas são hoje mais capazes, e que estamos a percorrer um caminho para que os novos começos tenham uma rede de suporte de confiança, que trabalha para que as soluções não se assemelham, como é descrito na série, a “unicórnios” entre as burocracias. Existem hoje várias associações e organizações a que podemos recorrer, a Plano i é um exemplo de uma associação que abriu o experto, e que está atenta a
todas as necessidades e especificidades, que nos prova todos os dias que ninguém ficará esquecido/a nos seus armários. Maid é sobretudo uma história real, de uma sobrevivente, de uma força invicta de superação. Uma realidade que desmantela os facilitismos, mas que perpetua a esperança. Saibam que é sempre tempo de recomeçar, que nunca é tarde, e que nunca se desista. Kintsugi, para mim é uma metáfora valiosa para a vida. Kintsugi é uma arte japonesa que repara peças com ouro, e que me recorda que não importa quantos danos a vida nos tenha provocado, podemos sempre repara-los, não os ignorando, mas fazendo deles a arte da nossa resistência.
Minissérie: Maid Ano: 2021 Episódios: 10 | 50 minutos Criadora: Molly Smith Metzler Plataforma: Netflix
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KRIARTE O KRIARTE é um projeto que se foca na educação musical e de expressão dramática das faixas etárias mais jovens. Que começou a ser desenvolvido em Dezembro do ano passado e vai ser posto em prática agora nos meses de Maio, Junho e Julho na ilha de Santo Antão, Cabo Verde. O nome é uma miscelânea de conceitos que fizeram sentido para nós, são eles kriolo, criança, arte, criar de criação artística e criar de educar. Começámos como voluntárias na associação Sementera Kriativ em parceria com a Para Onde? num projeto que se focava também na educação e desenvolvimento por via artística e cultural, só que em vários setores populacionais. Durante esta temporada que passámos em Cabo Verde conseguimos conhecer a comunidade, a sua magia e as suas imensas virtudes, mas também fomos confrontadas com alguns problemas
que nos deram vontade de agir. Sendo um deles a falta de educação artística no programa de ensino, um tema que nos é muito próximo pois ambas temos formação e uma ligação enorme com as áreas da música e do teatro e sabemos bem a falta que elas fazem no desenvolvimento, principalmente durante a infância e a adolescência. Os benefícios do contacto com as artes são imensos e insubstituíveis em qualquer idade. E durante a fase mais precoce da vida ainda mais, pois trabalham todo o tipo de competências, cognitivas, afetivas, sociais e motoras, a capacidade de foco e atenção, de raciocínio lógico e abstrato, a canalização de emoções pela expressão, entre tantas outras competências. Em suma, torna-nos pessoas mais capazes e mais empáticas. Em concreto, o projeto consiste em tentar levar ao máximo número de crianças possível
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uma aula de introdução a estas duas artes, só por si um fim mas também um processo para captar a sua curiosidade para as atividades que vamos desenvolver com as escolas em regime extra-curricular e para o nosso campo de férias artístico de verão que terá como objetivo a criação de um teatro musical. De momento, estamos em preparação e planeamento, a começar a publicitação nas redes sociais, no instagram e facebook com o @ kriarte.cv. Para nos contactar, pode ser por qualquer
uma destas vias ou pelo nosso email: kriarte.sintonton@gmail. com. Brevemente vamos publicar mais informações sobre o projeto e sobre como ajudar. Por fim, gostávamos de agradecer à Revista Insubmissa pelo interesse neste projeto que é tão importante para nós e pela ajuda tão essencial na sua divulgação. O trabalho que fazem é admirável! Muito obrigada a todos! As fundadoras, Inês Costa e Joana Marques
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EXPOSIÇÃO FOTOGRÁFICA CLARA (artista e obra)
CLARA
Clara. Se a Clara tivesse que se descrever diria que é “só uma pessoa”, e isso tem a sua beleza. A Clara é uma pessoa, mas é uma pessoa com todo o valor que isso de ser gente tem. Já muitas foram as vezes que lhe disse que tudo o que toca transforma-se em arte, desde o seu primeiro quadro em que parecia pintar desde sempre, às peças que cria não sei bem como nem bem com o quê, mas que acabam por se tornar em bonitas obras. A Clara não tem uma definição, ou uma descrição, porque abandonou o que precisa de encaixe. Clara. A Clara é muitas coisas, a Clara tem muitas formas e, acima de tudo a Clara é muitas artes. E que bom é ser-se muito, que bom é ser-se arte. @quelara__
BIBLIOGRAFIA FICHA TÉCNICA
Bibliografia Anzani A, Lindley L, Tognasso G, Galupo MP, Prunas A. “Being Talked to Like I Was a Sex Toy, Like Being Transgender Was Simply for the Enjoyment of Someone Else”: Fetishization and Sexualization of Transgender and Nonbinary Individuals. Arch Sex Behav. 2021 Apr;50(3):897-911. doi: 10.1007/s10508-021-01935-8. Epub 2021 Mar 24. PMID: 33763803; PMCID: PMC8035091. Asare, J. G. (2021, December 10). What Is Fetishization And How Does It Contribute To Racism? Forbes. Retrieved January 26, 2022, from https://www.forbes.com/sites/janicegassam/2021/02/07/what-is-fetishization-and-how-does-it-contribute-to-racism/?sh=1a99fa256e39
Ficha Técnica Equipa insubmissa: Ana Sofia Figueiredo Mariana Reis Mel Tavares Almeida Sheila Góis Habib Teresa Ramos de Sá Tex Silva Paulo Lopes Vânia Alves Revisão de conteúdos: Paula Allen Design: Clara Santos Créditos: Angela Roma Elina Araja Anna Shvets Cottonbro Dids Wendy Wei Clara Santos
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OA
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“As mulheres não se apoiam. Falta mulher na política. Eu tenho tanta vontade de vê-las de mãos dadas, se ajudando. E minha luta, além de ser pelos negros e pelas mulheres, sempre foi pelos gays. Alguns tratam os homossexuais como se não fossem um pedaço de nós. Eu sou todos eles.”
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“Eu sou só um ser humano, de carne e osso sofridos. Não me sinto a mulher mais poderosa do mundo. Sinto que sou, talvez, a que pisa mais forte no chão – isso, sim. Pra ter certeza de que estou viva!”
“Precisamos ter consciência de que muitas mulheres morreram para que pudéssemos ficar vivas, termos liberdade de escolher e fazer o que quisermos.”
“Meu choro não é nada além de carnaval É lágrima de samba na ponta dos pés”
“Não tenho medo da morte porque acho que não vou morrer. Vou virar purpurina.” Esta edição é em memória de Elza Soares 1930-2022