Revista insubmissa - Volume IV - Direitos Humanos

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VOL. 4 | SETEMBRO, 2021

insubmissa Em Destaque Catarina Oliveira

ABC da Igualdade Declaração Universal dos Direitos Humanos

Sabia que...

Foi aprovado o Primeiro Plano Nacional de Combate ao Racismo e à Discriminação 2021-2025 ‒ Portugal Contra o Racismo

Espaço Cultural Malala Yousafzai

Lugar de fala A tomada do Afeganistão pelos Talibã: uma crise humanitária para a qual nos devemos preparar Alterações Climáticas e Justiça Social A reabilitação e reinserção social na perspetiva específica das mulheres após cumprimento de pena


RADA AKBAR

SE HÁ ALGO QUE PODEMOS APRENDER COM A HISTÓRIA DO FLAGELO DAS MULHERES AFEGÃS E DA REGIÃO, É QUE NEM OS REGIMES MAIS OPRESSORES FORAM CAPAZES DE ENVENENAR AS SEMENTES DA REVOLUÇÃO E

DA

LIBERDADE

QUE

CRESCEM

NOS

NOSSOS

CORAÇÕES.

NÃO VOLTAREMOS ATRÁS.

NÃO NOS IREMOS SUBMETER ÀS BARREIRAS QUE CRIAM PARA NÓS.

NÃO FICAREMOS EM SILÊNCIO.


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EDITORIAL POR DORA PINTO

Em 1789 foi proclamada em França “La

rua, ou que seja forçada a casar, ou que

Déclaration des Droits de l'Homme et du

crianças sejam privadas de irem à escola.

Citoyen”, que consagrou os direitos como

Passaram-se quase 230 anos desde a

sendo universais. Em plena revolução

“primeira” declaração e 80 desde a sua

francesa

culminar

uniformização. No entanto, mulheres e

e

meninas continuam a lutar por uma

intenso

(1789–1799), de

Olympe

agitação

de

nascença

e

era

num

política

Gouges

(cujo

Marie

Gouze),

social,

nome

de

participação/presença social e política

feminista,

ativa.

Desde

o

Golpe

de

Estado

no

ativista e revolucionária, publica – em 1791 –

Afeganistão a 15 de Agosto de 2021, várias

“La Déclaration des droits de la femme et

mulheres foram forçadas a abandonar os

de la Cityoenne”, uma contra proposta à

seus postos de trabalho e várias meninas a

declaração de 1789, que exigia a presença

abdicarem do acesso à educação, numa

das mulheres na esfera política e social. Foi

violenta

uma das primeiras mulheres a lutar pelos

(novamente!)

para

direitos da mulheres, sendo condenada à

doméstica.

Não

morte em 1793 pela defesa dos seus ideais.

companheiras do outro lado do oceano

Depois

da

foram para a rua lutar. Foram 50 a

Direitos

manifestarem-se em Herat, mas somos

de

Declaração Humanos

uma

uniformização

Universal de

1941

dos (que

incluiu

tentativa

de a

as

esfera

empurrar privada

conformadas,

e as

a

milhares pelo mundo fora a gritar ao lado

participação de vários países), diversas

delas, ainda que algumas apenas o possam

ações foram feitas para que os direitos

fazer virtualmente.

fossem respeitados. Aliás, no que toca aos

Em

direitos da mulheres, em algumas partes

existem mulheres que lutam para dar voz

do planeta, consegue ver-se esse avanço.

a quem não a tem. No Afeganistão,

No entanto, vários princípios escritos num

Pashtana Dorani, ativista, líder tribal e

papel não foram nem são suficientes para

diretora

impedir que alguém seja preso pela sua

comprometida em ajudar o seu povo a ter

orientação sexual, ou que seja violada na

acesso à educação. A ativista afegã disse

3

cada

revolução

da

ONG

política

LEARN

e

social

continua


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(CONTINUAÇÃO)

recentemente numa entrevista “We will raise an army, just like the Taliban did – except that mine will be of educated, determined Afghan women.” Os direitos humanos são universais, não devem, por isso, escolher religião, etnia, sexo, género, nacionalidade, orientação sexual ou zona geográfica. O local onde nasço, ou se nasço homem ou mulher, não deve limitar – ou até eliminar – os meus direitos. Enquanto não tivermos uma visão PLANETA e uma visão PESSOA os Direitos

Humanos

não

serão

verdadeiramente UNIVERSAIS... Até lá vamos lutando por todas as pessoas que veem os seus direitos serem retirados, esmagados, destruídos. Como faremos para as mulheres e meninas do Afeganistão, a quem estão a tirar um dos direitos mais fundamentais que existe: o da liberdade! Dora Pinto

Fund for LEARN at https://gofund.me/cd6add4b

4


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ÍND ICE

Organograma Plano i

6

Os rostos por detrás da Plano i - Apresentação de Membro da Direção

7

Projetos Plano i

8

Oferta Formativa Plano i

16

Apresentação de Entidades Parceiras - MatosinhosHabit

17

Lugar de Fala: A tomada do Afeganistão pelos Talibã: uma crise humanitária para a

26

qual nos devemos preparar A reabilitação e reinserção social na perspetiva específica das mulheres

32

após cumprimento de pena Alterações Climáticas e Justiça Social

36

Em Destaque: Catarina Oliveira

38

ABC da Igualdade: Declaração Universal dos Direitos Humanos

42

Sabia que...? Foi aprovado o primeiro Plano Nacional de Combate ao Racismo

44

e à Discriminação 2021-2025 ‒ Portugal Contra o Racismo Espaço Cultural

46

Exposição Fotográfica

52

Referências Bibliográficas

56


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ORGANOGRAMA DA PLANO i DIREÇÃO

ANA SOFIA NEVES

PAULA ALLEN

DORA PINTO

ARIANA CORREIA

ANA TELES 6


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OS ROSTOS POR DETRÁS DA PLANO i APRESENTAÇÃO DE MEMBRO DA DIREÇÃO género e da violência entre pares, sendo que dinamizou várias sessões, em escolas, entre 2014 e 2015. Trabalhou num centro de apoio a vítimas de violência doméstica, principalmente mulheres e crianças (2015). Em 2016 colaborou com uma Comissão de Proteção de Crianças e Jovens onde geria, essencialmente, processos por exposição à violência

doméstica

e/ou

envolvendo

adolescentes em situações de violência no namoro. Em 2018 obteve a certificação de Técnica de Apoio à Vítima. Faz parte dos órgãos sociais da Associação Plano i desde a sua formação em 2015 e atualmente é membro da Direção. É feminista e ativista. Interessa-se por temas ligados à injustiça social, das

Justiça (2012) pelo Instituto Universitário da profissional

Iniciou

trabalhando

a

sua em

mulheres,

LGBTI.

Dora Pinto é mestre em Psicologia da (ISMAI).

de

género,

feminismo(s), violência de género, direitos

DORA PINTO

Maia

(des)igualdade

prática projetos

ligados à promoção da igualdade de género e à prevenção da violência de

7

discriminação

e

causas


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PROJETOS PLANO i FIQUE A PAR DO QUE FOI E VAI SER FEITO ESPAÇO LARA – RESPOSTA DE APOIO PSICOLÓGICO A CRIANÇAS E JOVENS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA envolvam crianças e jovens, reforçando a capacitação dos e das técnicas para uma atuação

empírica

e

cientificamente

validada, e promovendo um ambiente de partilha e reflexão que contribua para a estabilidade pessoal e profissional. Esse trabalho

será

também

alargado

às

entidades que, não sendo da RNAVVD, trabalham com estas Crianças e Jovens, A

Associação

Plano

i

informa

que

como sendo as Comissões de Proteção de

a

candidatura que foi por nós apresentada

Crianças

para a constituição do Espaço Lara –

Estruturas

Resposta de Apoio Psicológico a Crianças e

Tribunais, Órgãos de Polícia Criminal, entre

Jovens Vítimas de Violência Doméstica foi

outros.

aprovada.

Este projeto é co-Financiado pelo Fundo

O Espaço Lara pretende garantir o apoio

Social

psicológico

da

Programa Operacional Inclusão Social e

intervenção psicoterapêutica individual e

Emprego, Tipologia de Operações 3.17 -

em grupo. Este espaço privilegiará o apoio

Instrumentos específicos de proteção das

às Crianças e Jovens Vítimas de Violência

vítimas

Doméstica

agressores na violência doméstica.

especializado,

das

cidades

através

do

Porto,

e

Jovens

de

Saúde

Europeu,

e

de

(CPCJs), e

de

Escolas, Educação,

concretamente

acompanhamento

pelo

de

Matosinhos, Vila Nova de Gaia, Maia e

No próximo dia 4 de outubro abriremos

Gondomar.

as

formalmente o Espaço no Porto, na sede da

equipas das estruturas da Rede Nacional de

Plano i, na Rua de Baixo, 6, 4050-086 Porto,

Apoio a Vítimas de Violência Doméstica

contando abrir, assim que possível, o outro

(RNAVVD) na gestão dos casos que

espaço previsto em Matosinhos.

Procurar-se-á

coadjuvar

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(CONTINUAÇÃO) Estando cientes da responsabilidade que temos em mãos, reforçamos a honra de contar com nobres e importantes parcerias para a concretização de um projeto que é pioneiro no país e que vai fazer a diferença na vida de tantas crianças e jovens.

Coordenação científica e direção técnica Sofia Neves e Paula Allen

espaco_lara@associacaoplanoi.org 968 612 615

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PROJETOS PLANO i FIQUE A PAR DO QUE FOI E VAI SER FEITO TIKTALKS onde se abordam tópicos como o impacto da pandemia na saúde mental, o estigma sobre a doença mental, a ansiedade, a depressão, o burnout, os comportamentos de risco, a violência no namoro, o auto cuidado e o género.

O projeto TikTalks – Promoção da Saúde

Assim, convidamos-vos a ouvir e partilhar

Mental no Ensino Superior, é um projeto

este que é o nosso mais recente fruto.

financiado pela Direção-Geral da Saúde e promovido pela Associação Plano i, que tem como objetivo promover a saúde mental dos/as estudantes do Ensino Superior, desenvolvendo para o efeito atividades com enfoque na promoção da literacia para a saúde

mental

dos/as

estudantes

https://open.spotify.com/show/4P5DI7 pBVIcIdubIB1ZXTv? si=8iEK_jVuRhG3B7a0NFx5Xg&dl_bran ch=1

universitários/as, sobretudo workshops e webinars,

considerando

sobretudo

as

especificidades do contexto pandémico em

www.youtube.com/channel/UCY1repyopr9_Jf9Pd59GjQ

que nos encontramos. Neste sentido foi ainda criado um serviço de consulta de

tiktalks@associacaoplanoi.org

psicologia, online e gratuito, tendo sido realizadas mais de 500 consultas desde

@tiktalks.ensinosuperior/

janeiro, com uma procura que ultrapassou largamente a expectativa.

/tiktalks.ensinosuperior

Por forma a promover a literacia para a saúde mental, foi criado o podcast TikTalks

www.associacaoplanoi.org/tiktalks/

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PROJETOS PLANO i FIQUE A PAR DO QUE FOI E VAI SER FEITO PROGRAMA DE PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA NO NAMORO (PPVN) constrangimentos pandemia

provocados

COVID-19,

o

pela

Programa

foi

adaptado para a modalidade online, dando origem a uma abordagem mais sustentável. Assim, foi criada uma plataforma Moodle onde foram depositados todos os materiais O Programa de Prevenção da Violência no

que permitem às pessoas docentes da

Namoro foi um projeto promovido pela

disciplina de Educação para a Cidadania

Câmara

aplicar o programa de forma autónoma.

Municipal

de

Matosinhos

e

executado pela Associação Plano i no

Ao longo de toda a execução física, o PPVN

contexto do Projeto “Abordagens Integradas

abrangeu mais de 2500 pessoas alunas,

para a Inclusão Ativa Matosinhos”, ao abrigo

tendo também capacitado docentes

do financiamento Norte 2020.

assistentes operacionais sobre as temáticas

Com início em 2019 e término em 2021, o

relacionadas com a violência no namoro.

Programa de Prevenção da Violência no

Durante

Namoro

os

apresentação pública dos resultados da

Direitos Humanos, prevenir a Violência no

execução física do projeto através das redes

Namoro e promover a

sociais da Câmara Municipal de Matosinhos

procurou

dar

a

conhecer

Igualdade de

o

mês

de

julho,

decorreu

e

a

Género.

(Facebook),

A primeira fase do projeto, entre fevereiro de

Matosinhos (Facebook e Instagram), da Casa

2019 e março de 2020, foi implementada

da Juventude de Santa Cruz do Bispo

em formato presencial nas escolas do

(Facebook), da Casa da Juventude de S.

Concelho de Matosinhos, tendo abrangido

Mamede Infesta (Facebook) e da Associação

turmas dos 7º e 8º anos do ensino regular e

Plano i (Instagram da Associação Plano i, do

do 10º ano do ensino profissional.

Grupo de Jovens Plano i e do Programa Uni+

No início do ano de 2021, como resposta aos

3.0).

11

da

Casa

da

Juventude

de


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(CONTINUAÇÃO)

ppvnmatosinhos@associacaoplanoi.org

www.associacaoplanoi.org/programade-prevencao-da-violencia-nonamoro-ppvn/

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PROJETOS PLANO i FIQUE A PAR DO QUE FOI E VAI SER FEITO PROGRAMA DE PREVENÇÃO ENSINO SUPERIOR

DA

VIOLÊNCIA

NO

NAMORO

NO

Vítimas de Violência Doméstica; produz e divulga conteúdos e materiais sobre a temática da violência do namoro e questões relacionadas; realiza

investigação

produzindo

anualmente

científica, o

Estudo

Nacional da Violência no Namoro; monitoriza, mapeia e divulga dados Com o objetivo de prevenir a violência no

nacionais sobre violência no namoro em

âmbito das relações juvenis, o programa

Portugal

UNi+ procura favorecer a criação de uma

Violência no Namoro.

através

do

Observatório

da

cultura institucional de tolerância zero à

Se és estudante universitário/a e ainda não

violência na intimidade no ensino superior.

respondeste ao nosso estudo, podes fazê-lo

De forma a cumprir os objetivos a que se

aqui. O teu contributo é fundamental para

propõe:

conhecermos melhor este fenómeno.

investe na formação e sensibilização de

Se foste vítima, és vítima ou testemunhaste

estudantes

algum ato de violência no namoro podes

do

ensino

superior,

profissionais e públicos estratégicos nas

denunciar aqui.

temáticas

da

violência

informal,

igualdade

de

género

no e

namoro,

linguagem

não

Esta sendo

é

uma

denúncia

comunicada

às

autoridades, mas permite-nos conhecer a

inclusiva;

extensão da violência no namoro, adaptar e

realiza atendimento, acompanhamento

melhorar a nossa intervenção.

e apoio especializado a vítimas de

Todos os anos a equipa do UNi+ produz um

violência

kit para os/as estudantes com o intuito de

no

namoro,

enquanto

estrutura da Rede Nacional de Apoio a

prevenir, combater e informar sobre a

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(CONTINUAÇÃO) violência no namoro. O kit deste ano já está

Se te identificas como mulher, se te revês no

disponível e podes consultá-lo aqui: Kit UNi+

princípio da igualdade de género, se queres exercer a tua cidadania de forma plena e/ou

Neste início de ano, a equipa do UNi+

queres pensar e refletir em conjunto com

também decidiu reformular o seu site, que

outras pessoas sobre o teu lugar no mundo,

podes consultar aqui: (programaunimais.pt).

inscreve-te aqui: Grupos de promoção da

Uma das grandes novidades é que agora

consciência feminista.

podes agendar a tua consulta através do site (Consulta Psicológica Individual | Programa UniMais). O programa UNi+ presta apoio informativo, psicológico, social e jurídico, de forma gratuita, confidencial, presencial ou à distância a vítimas de violência no namoro. Se tens dúvidas sobre a tua relação ou sobre o que é a violência no namoro não hesites em contactar-nos. Este mês iniciamos os grupos de promoção da consciência feminista. A consciência feminista é o processo através do qual as pessoas

se

apropriam

e

unimais.wixsite.com/unimais programa

adquirem

competências que lhes permitem analisar, unimais@associacaoplanoi.org

refletir e posicionar-se sobre a opressão. Nestes

grupos

experiências

de

poderás

discutir

as

opressão

baseadas

no

@programaunimais

género, analisar, refletir e posicionar-te sobre outros eixos de vulnerabilidade como a

/unimaisprograma

orientação sexual e a pertença étnica, entre outros. /associaçãoplanoi

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OUTROS PROJETOS A ACOMPANHAR BELONGING TO NATURE: THE HEART OF WELLBEING

O projeto internacional Belonging to Nature:

nos próximos meses. A Associação Plano i foi

the Heart of Wellbeing, financiado pelo

representada

programa Erasmus + / Juventude em Ação e

coordenadora deste projeto, Ana Forte.

coordenado

pela

associação

islandesa

Unglingasmiðjurnar Stígur og Tröð teve início no dia 31 de maio, integrando como entidades parceiras a Associação Plano i, Plan be Plan It Be It (Chipre), Ambitia Institute

(Eslovénia),

Associacio

Juvenil

Pirineus Creatius (Espanha) e LABO vzw (Bélgica). Este projeto tem como principal objetivo a capacitação de trabalhadores/as de juventude no domínio da promoção do bem-estar juvenil através do contacto com a Natureza. O mesmo terá a duração de 20 meses. No passado mês de agosto, para além das reuniões nacionais das equipas, decorreu também, entre os dias 31 de agosto e 3 de setembro, a reunião transnacional dos/as coordenadores/as na Islândia, onde foi discutido o enquadramento conceptual e teórico do trabalho que se irá desenvolver

15

nesta

organização

pela


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OFERTA FORMATIVA PLANO i FIQUE A PAR DE TODAS AS AÇÕES DE FORMAÇÃO QUE SERÃO DESENVOLVIDAS PELA ASSOCIAÇÃO PLANO i

Os/as formandos/as têm direito a: Frequência gratuita; Certificado emitido pela plataforma SIGO; Atribuição de subsídio de alimentação. Caso pretenda efetuar a sua inscrição, consulte o site da Associação Plano i, nomeadamente o separador das formações.

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APRESENTAÇÃO DE ENTIDADES PARCEIRAS MATOSINHOSHABIT, MAIS DO QUE UMA EMPRESA DE GESTÃO DOS CONJUNTOS HABITACIONAIS para todos os matosinhenses, apostando numa visão onde se insere a execução de Programas

Habitacionais,

o

apoio

à

construção, a construção e aquisição de habitações

de

custos

controlados,

a

Criada em outubro de 1998 com o intuito de

celebração de acordos entre entidades

dar resposta aos mais diversos problemas

parceiras, a gestão integral do parque

sócio habitacionais existentes no concelho

habitacional

de

estrutura

Matosinhos,

Empresa

a

MatosinhosHabit

Municipal

de

Habitação

– de

e

a

promoção

organizativa

de

uma

multidisciplinar,

flexível e competente.

Matosinhos, EM alicerça a sua ação no

Desde o início do atual mandato (2017-2021),

fundamental direito à habitação, onde se

a administração da MatosinhosHabit teve

enquadra a reabilitação urbana.

como um dos seus principais focos abrir as

Atualmente,

a

MatosinhosHabit

é

portas

à

comunidade,

implementando

reconhecida pelo seu trabalho comunitário,

diversas

que

desenvolvendo, ao mesmo tempo, trabalho

ultrapassa

municipal.

a

gestão

Tem

responsabilidade

ainda

do

edificado sob

projetos

sua

iniciativas

comunitário

de

parceiros,

em nos

de

cariz

conjunto quais

se

solidário

com

vários

incluem

a

desenvolvimento e integração social e de

Associação Plano i.

melhoria contínua da qualidade de vida da

A MatosinhosHabit viu o seu trabalho,

população.

enquanto promotor de boas práticas, quer

Assente

nos

valores

da

transparência,

ao nível da gestão do edificado, quer em

proximidade e rigor na gestão, tem como

termos

principal missão assegurar habitação digna

colaborativo em prol da comunidade local,

17

da

promoção

do

trabalho


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(CONTINUAÇÃO) reconhecido internacionalmente, através da

comunitárias no âmbito do “trabalho em

integração na Housing Europe – Federação

rede”, como aliás vem sendo prática comum

Europeia de Habitação Pública, Cooperativa

no concelho, encaminhando-se assim para a

e Social.

resolução das necessidades identificadas

Assim, e ao longo de 4 anos, destacam-se

localmente e para o desenvolvimento de

alguns desses projetos, nomeadamente:

um

trabalho

de

proximidade

com

a

comunidade. A Associação Plano i aceitou o Programa nacional Bairros Saudáveis –

desafio

e

desenvolveu

um

Projeto promovido pela Associação Plano i:

denominado “Bairros Sem Bullying” em que

“Bairros sem Bullying”

procura

promover

projeto contextos

desenvolvimentais seguros e de saúde mental, prevenindo o bullying e a violência interpessoal,

através

de

uma

ação

integrada da população local. Segundo o Plano de Desenvolvimento Social (2016),

os

escolhidos

conjuntos

habitacionais

apresentam

fragilidades,

designadamente

o

insucesso

e

o

absentismo escolar, os comportamentos de risco, o isolamento social, os défices de competências e os estilos parentais, e um Criado em 2020, o “Bairros Saudáveis” é um

elevado número de processos na CPCJ

programa

(Comissão

público,

de

natureza

Nacional

de

Promoção

dos

participativa, concebido no sentido de

Direitos e Proteção das Crianças e Jovens).

melhorar as condições de saúde, bem estar

Através da intervenção, da disponibilização

e

de

qualidade

de

vida

em

territórios

materiais

psicopedagógicos

e

da

vulneráveis. Neste sentido, e desde cedo, a

implementação de ações de sensibilização e

MatosinhosHabit, considerou este programa

de formação, pretende-se combater as

como uma oportunidade para estimular a

vulnerabilidades, dotando a comunidade

dinamização de vários projetos e ações

de estratégias que façam face a este

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(CONTINUAÇÃO) fenómeno. No ano transacto, a Associação

de diminutas habilitações escolares e

Plano i foi financiada pela DGS (Direção-

profissionais, em condição de abandono

Geral da Saúde) para desenvolver um

escolar e em risco de exclusão social.

projeto de prevenção do bullying, sendo também

a

entidade

promotora

do

“Casa com Cor” em Matosinhos

Observatório Nacional do Bullying, que conta com 393 denúncias. MatosinhosHabit promoveu sessões antibullying No

seguimento

intervenção

da

de

adoção

de

proximidade

uma

junto

da

comunidade local, decorrida em julho do corrente

ano,

a

MatosinhosHabit,

parceria

com

a

Associação

promoveu

um

ciclo

Plano

Em setembro de 2020, Matosinhos cedeu

a

um espaço de autonomização de vítimas

comunidade LGBTI. Destinada a um grupo

de violência doméstica LGBTI. O projeto-

de jovens estudantes, a iniciativa teve como

piloto “Plano 3C – Casa Com Cor” da

principal

Associação

e

sessões

i, de

sensibilização

de

em

prevenção

objetivo

sobre

alertar

para

este

Plano

i,

implementado

em

acolhimento

das

fenómeno crescente assim como para o

Matosinhos,

impacto

da

vítimas num apartamento de transição, por

população juvenil. Esta ação envolveu um

um período máximo de 12 meses, e onde

grupo com idades compreendidas entre os

todos/as os/as utentes terão acesso a

16 e os 21 anos, que frequentam a Escola de

cuidados

Segunda

jurídico e apoio na procura ativa de

uma

que

pode

Oportunidade

instituição

promover

exercer

a

oportunidade,

que

de

tem

educação

junto

Matosinhos, como

de

desenvolvendo

meta

de

o

saúde,

formação,

apoio

emprego e habitação.

segunda o

prevê

No âmbito desta ação, a MatosinhosHabit

seu

cedeu um apartamento T3, localizado num

trabalho com jovens vulneráveis,

dos seus conjuntos habitacionais, à

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(CONTINUAÇÃO) Associação Plano i para a concretização

Desde a sua abertura, e até à data de hoje,

deste projeto.

este espaço já acolheu 147 pessoas. Esta resposta integrada garante a satisfação das

“Casa Arco-Íris” em Matosinhos

necessidades

básicas,

a

proteção

e

segurança no sentido da minimização do risco e da vulnerabilidade social, o apoio psicológico,

social

reconstrução

de

um

e

jurídico, projeto

e

de

a

vida

autónomo e independente. Banco de Bens

No ano 2018, foi inaugurado em Matosinhos a Casa Arco-Íris, um espaço de acolhimento de emergência para pessoas LGBTI vítimas de

violência

doméstica.

Situada

em

instalações cedidas pela MatosinhosHabit, a

O Banco de Bens é um projeto de apoio

Casa Arco-Íris tem capacidade para acolher

social

simultaneamente

pessoas,

proporcionar uma melhor qualidade de

acompanhadas ou não de filhos menores

vida aos munícipes, ao mesmo tempo que

ou maiores dependentes, em virtude de

promove o trabalho em rede, estimula a

questões de segurança e/ou de iminente

economia

risco de revitimização.

solidariedade. Através desta iniciativa é

sete

20

criado

com

circular

o

e

objetivo

fomenta

de

a


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VOL. 4 | SETEMBRO, 2021

(CONTINUAÇÃO) possível

disponibilizar

às

famílias

e

vida

a

equipamentos

elétricos

e

instituições mais vulneráveis do concelho

eletrónicos, promovendo a recuperação dos

equipamentos novos ou reutilizáveis que

mesmos e incentivando a sua reciclagem.

sejam

e/ou

Neste âmbito, foi também implementado

particulares. O Banco de Bens acolhe bens

no concelho um espaço de formação e

novos

capacitação que promove a retoma de

doados ou

por

empresas

passíveis

de

reutilização,

designadamente mobiliário, utilidades para

vários

a

potencial

casa

e

equipamentos

utensílios elétricos

eletrodomésticos,

de e

pequenos

cozinha, eletrónicos,

equipamentos para

serem

que

tenham

recuperados.

O

principal objetivo é dar-lhes uma segunda

aparelhos,

vida

dado

que

descartados

ajudas técnicas (camas articuladas, cadeiras

anomalia.

de

Em relação aos diversos apoios existentes

cadeiras

sanitárias,

bengalas,

andarilhos, tripés, entre outras).

detetada

são

brinquedos e artigos de puericultura e rodas,

após

habitualmente

alguma

para a área de habitação, a MatosinhosHabit dispõe de várias iniciativas:

CREW

Centros

de

Recuperação

de

Resíduos de Equipamentos Elétricos e

Pedido de Habitação

Eletrónicos

O programa de realojamento em Habitação Social engloba os apoios prestados à população mais vulnerável no acesso à residência. Esses apoios englobam rendas de valores reduzidos em habitações do Parque Habitacional da MatosinhosHabit. O objetivo é proporcionar aos municípios com carências habitacionais ou problemas sociais

uma

melhor

integração

na

Criado em parceria com a LIPOR, o CREW –

sociedade.

Centros de Recuperação de Resíduos de

Mais informação e candidaturas online:

Equipamentos Elétricos e Eletrónicos é um

www.matosinhoshabit.pt/habitacao/progra

projeto que visa proporcionar uma nova

mas/habitacao-social/

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VOL. 4 | SETEMBRO, 2021

(CONTINUAÇÃO) Programa

Municipal

de

Apoio

ao

famílias. O objetivo do município é dar

Arrendamento Desde

2009,

Municipal

de

resposta às necessidades habitacionais das a

missão

Apoio

ao

do

Programa

famílias cujo nível de rendimento não lhes

Arrendamento

permite

aceder,

no

mercado

de

(PMAA) centra-se em apoiar indivíduos que

arrendamento privado, a uma habitação

revelem dificuldade no pagamento dos

adequada às suas necessidades. O MCA

seus arrendamentos privados, potenciando

constitui-se como um dos eixos de acesso à

assim

habitação

a

reorganização

e

capacitação

com

renda

acessível,

socioeconómicas da família no seu dia a

mobilizando propriedade não municipal em

dia.

regime de contrato de arrendamento e de

Inicialmente

provisório,

hoje,

o

programa não tem limite temporal para os

subarrendamento.

apoios que disponibiliza uma vez que

Mais informação:

oferece

www.matosinhoshabit.pt/habitacao/progra

múltiplas

liberdade

de

nomeadamente

vantagens escolha

quando

como do

a

fogo,

comparado

mas/matosinhos-casa-acessivel/

a

outras soluções. Os seus planos de apoio

Programa: 1.º Direito

compreendem três tipos de escalões, num

Trata-se

mínimo de €75 e um máximo de €125 por

direcionado para quem pretende dotar as

mês.

suas habitações de melhores condições de

Mais informação e candidaturas online:

habitabilidade,

www.matosinhoshabit.pt/habitacao/progra

famílias que vivam em habitações em mau

mas/programa-municipal-de-apoio-ao-

estado de conservação e cujas dificuldades,

arrendamento/

económicas e financeiras, não permitam

de

um

programa

de

nomeadamente

apoio

para

realizar obras de beneficiação ou aceder a Matosinhos: Casa Acessível

uma residência alternativa. Para acesso ao

O Matosinhos: Casa Acessível (MCA) é um

“1º Direito” e respetivos apoios, terão de ser

programa habitacional municipal que visa

verificados os rendimentos, bem como

promover

analisada

uma

oferta

alargada

de

a

situação

habitação para arrendamento a preços

habitação de residência.

compatíveis com os rendimentos das

Mais informação:

22

familiar

e

atual


Revista insubmissa

VOL. 4 | SETEMBRO, 2021

(CONTINUAÇÃO) www.matosinhoshabit.pt/habitacao/progra

Nesse sentido, a autarquia de Matosinhos

mas/1-o-direito/

aprovou

a

criação

de

4

Áreas

de

Reabilitação Urbana (ARU) no concelho: Reabilitação Urbana

ARU de Matosinhos, ARU de Leça da

A Reabilitação Urbana tem vindo a ser, de

Palmeira, ARU de Matosinhos Sul e ARU de

algum tempo a esta parte, um desígnio do

São Mamede de Infesta, estando, até final de

município de Matosinhos, no sentido da

2021, a preparar a criação de novas ARU nas

requalificação do edificado e do espaço

antigas dez freguesias matosinhenses.

público, da modernização da cidade e, em sentido

mais

amplo,

da

sua

Mais informação:

sustentabilidade.

www.matosinhoshabit.pt/habitacao/progra mas/reabilitac%cc%a7a%cc%83o-urbana/

Igualmente, continua a ser valorizada a nível local como motor da economia, com forte

Apoio socioeconómico – IPSUM HOME

potencial de inclusão social e participação

A parceria estabelecida com a associação

cívica,

da

IPSUM HOME tem como principal objetivo

qualidade de vida da população residente e

disponibilizar apoio aos munícipes que se

atuando como fator de forte atratividade.

encontrem em situação de endividamento

promovendo

a

melhoria

23


Revista insubmissa

VOL. 4 | SETEMBRO, 2021

(CONTINUAÇÃO) e vulnerabilidade financeira. Este serviço,

informação sobre o procedimento a adotar

disponível

e

para interpelar o senhorio a executar obras

pequenas empresas, inclui diagnóstico da

no local. Este gabinete de informação

situação, elaboração de uma proposta de

jurídica recebeu também solicitações por

reajustamento financeiro, assim como a

parte de senhorios, que recorreram a este

sua execução e acompanhamento. Ainda

atendimento à procura de informação sobre

neste

a

para

agregados

âmbito,

familiares

são

igualmente

atualização

dos

arrendamento

da rede social de Matosinhos e outras

Regulamento do Arrendamento Urbano.

instituições parceiras, com o intuito de

Mais informação ou agendamento para

sensibilizar

atendimento através do número 229 399

comunidade

para

a

importância de hábitos de poupança e Mais informação ou agendamento para atendimento através do número 229 399 990 ou geral@matosinhoshabit.pt Informação Jurídica – Lei do Arrendamento Urbano A maior parte dos pedidos de informação jurídica são motivados pela cessão de contratos, situação em que o senhorio notifica o arrendatário da intenção de não renovar o contrato de arrendamento, e a de

informação

sobre

a

Lei

do

Arrendamento Urbano, levam os munícipes a procurar este tipo de apoio. Entre as solicitações a este gabinete destacam-se ainda

os

munícipes

relacionados

com

a

com

problemas

salubridade

do

990 ou geral@matosinhoshabit.pt

consumo consciente.

falta

abrigo

de

desenvolvidas ações de formação, através

a

ao

contratos

das

habitações arrendadas, pedindo

24

Novo


VOL. 4 | SETEMBRO, 2021

LUGAR DE FALA

Revista insubmissa


Revista insubmissa

VOL. 4 | SETEMBRO, 2021

LUGAR DE FALA TEXTO DE OPINIÃO DE TEX SILVA & SHEILA GÓIS HABIB A TOMADA DO AFEGANISTÃO PELOS TALIBÃ: UMA CRISE HUMANITÁRIA PARA A QUAL NOS DEVEMOS PREPARAR Em agosto, as forças Talibãs tomaram

originadores das milícias rebeldes anti-

controlo de todo o território Afegão. A

comunistas (o grupo que, décadas mais

tomada tornou-se oficial com a entrada na

tarde, se viria a tornar nos Talibã e dar

capital, Cabul, apenas dez dias após a

origem a uma Guerra Civil nos anos 90 por

retirada

norte-

discordância de opiniões), depois como

americanas. O caos e a violência que

invasores, sob o pretexto da segurança

rapidamente se instalaram impediram, à

nacional no período pós-11 de setembro, e

grande escala, a evacuação de Afegãos e

finalmente

Afegãs considerados/as em risco e, em

defensiva contra os Talibã, esta última

algumas províncias, oficiais e membros das

tratando-se de uma posição vista por

forças de segurança foram executados/as,

muitas pessoas como sendo de interesse

com as casas de oficiais aposentados/as,

geopolítico e económico.

jornalistas, ativistas e resistentes a serem

Mas não é na história do Afeganistão que

invadidas. Não tardou até que o mundo se

este texto se foca. É, sim, na violação dos

visse de olhos postos nesta nação, outrora

Direitos Humanos e na crise humanitária

livre e sob a alçada de um Governo liberal,

que está para vir, à escala da crise que

socialista e democrático.

recentemente assolou a Síria e tornou 7

A história do Afeganistão e das pessoas que

milhões

o consideram a sua pátria e casa é

refugiados, não incluindo outros 7 milhões

complexa e bastante conturbada, com o

que, permanecendo no território Sírio, se

crescimento de organizações terroristas

encontram, até hoje, desalojados/as.

no seu seio, que há muito tempo ameaçam

A última vez que os Talibã tiveram o

a vida Afegã, e com o envolvimento dos

controlo do Afeganistão, as normas e

Estados

imposições

das

tropas

Unidos

da

militares

América

(EUA),

primeiramente como financiadores e

como

de

“protetores”

pessoas

e

frente

refugiadas

e

implementadas,

particularmente sobre mulheres, crianças e

26


Revista insubmissa

VOL. 4 | SETEMBRO, 2021

(CONTINUAÇÃO) minorias sexuais, passaram por restrições

Simultaneamente, basta olharmos ao que

no acesso à educação (no caso das

sucedeu no Paquistão assim que os Talibã

meninas e mulheres, uma banição total),

tomaram

reintrodução

punitivas

(recomenda-se a leitura do Espaço Cultural

(incluindo o apedrejamento de mulheres

da presente edição, que este mês nos fala

promíscuas e/ou adúlteras, amputações de

sobre Malala Yousafzai, ativista pelo direito

todos os tipos e tortura), escravidão sexual

à educação de mulheres e crianças e

de crianças, casamentos forçados de

sobrevivente de um atentado à vida pelas

meninas desde os 10 e 11 anos de idade, o

forças Talibã que ocupavam o seu país e

uso forçado da burca (burqa) e/ou nicab

rejeitavam os seus esforços de obter acesso

(niqāb) (que, sendo usados de livre vontade

à educação) para termos uma breve ideia

e por escolha da mulher, devem ser vistos

daquilo que aguarda as minorias Afegãs

como

nos próximos meses, senão mesmo anos,

vestes

de

práticas

religiosas,

atribuídas

à

controle

não

haja

ação

dessa

por

região

modéstia e à importância desta no Islão, e

caso

parte

da

não como objetos de opressão), restrições

Organização das Nações Unidas (ONU) e

à liberdade de expressão (especialmente

da Organização do Tratado do Atlântico

das mulheres), restrições no acesso à

Norte (NATO).

informação (em particular das mulheres), e

Nos últimos anos, Portugal acolheu 2 807

restrições à liberdade de movimentos

cidadãos/ãs estrangeiros/as ao abrigo de

(mais uma vez, com o alvo sendo as

programas internacionais de acolhimento e

mulheres e crianças), entre outros atos

é, atualmente, o sexto Estado-Membro da

lesivos dos Direitos Humanos.

UE que recebeu mais pessoas refugiadas no contexto do Programa de Recolocação aprovado por Bruxelas. Dito isto, espera-se, certamente, que outras tantas provenientes do

Afeganistão

possam

e

venham

efetivamente a receber o mesmo tipo de tratamento. Temos a capacidade e a responsabilidade moral,

como

Estado

de

Direito

Democrático e Estado Membro das Nações

Foto: Pixabay/David Mark

27


Revista insubmissa

VOL. 4 | SETEMBRO, 2021

(CONTINUAÇÃO) Unidas,

de

resgatar

peso humano das hostilidades e o seu

milhares de indivíduos em risco, pondo em

especial impacto na vida das mulheres e

prática e honrando a nossa Constituição e

crianças, que representam 80% dos/as

os

afegãos/ãs forçados a abandonar as suas

demais

ajudar,

acolher

decretos

e

e

diplomas

que

abrangem Portugal e dizem respeito ao

habitações.

Direito

A ofensiva Talibã já levou a confrontos em,

de

humanos

Asilo. ilegais

Não é

crucial

seres a

essencialmente, todas as províncias do

sociedade portuguesa veja as pessoas

Afeganistão e é a opinião da ONU que os

asiladas e refugiadas como seres humanos

países vizinhos deverão manter as suas

dignos

fronteiras

de

e

existem

proteção,

que

segurança

e

abertas.

António

liberdade, com o direito a procurar refúgio

Secretário-Geral

de um Estado que ameaça, não só esses

antigo

mesmos direitos, como também a sua vida

revelou-se preocupado com o possível

e integridade física.

colapso total dos serviços básicos no país.

À data da redação, alguns dos alertas

A ONU estima que cerca de 18 milhões de

noticiados

pertinentes

afegãos/ãs venham a precisar de ajuda

considerar, neste momento, que é tão

humanitária e, para o Secretário-Geral, a

crítico à nossa humanidade e moralidade.

possível perda de acesso a bens e serviços

A 30 de agosto, o Alto Comissário das

pode ser sinal de uma crise humanitária

Nações Unidas para Refugiados (ACNUR)

iminente.

afirmou que, finda a retirada de pessoas em

O Fundo das Nações Unidas para a Infância

Cabul, uma crise humanitária ainda maior

(UNICEF) tem vindo a verbalizar as suas

estará

preocupações com a falta de segurança

mostram-se

apenas

a

começar.

Parte

da

das

Nações

Guterres,

Primeiro-Ministro

de

Portugal,

relativamente

mediática se virar para outras ocorrências,

humanitária, em especial no que diz

a situação no Afeganistão irá agravar-se e

respeito

milhões de pessoas continuarão a carecer

mulheres destacadas na região. Já no que

de proteção internacional, que poderá ser

diz respeito ao acesso à educação das

insuficiente, ou mesmo nunca chegar. A

mulheres e meninas, a UNICEF crê que só

porta-voz da Agência da ONU para os

será possível conhecer a situação quando o

refugiados, Shabia Mantoo, relembrou o

novo ano escolar iniciar no Afeganistão.

28

entrega

e

preocupação é que, assim que a atenção

às

à

Unidas

voluntárias

e

de

ajuda

funcionárias


Revista insubmissa

VOL. 4 | SETEMBRO, 2021

(CONTINUAÇÃO) Ainda dentro da temática dos Direitos da

É importante lembrar que o inimigo não é

Mulher,

as

o Islão, mas sim o extremismo e a

apelam

a

várias que

comissões

ONU as

distorção propositada da palavra de Allah

promessas feitas de proteger meninas e

para instaurar o medo e exercer o controle

mulheres e que devem ser tomadas as

sobre as minorias. A instrumentalização

medidas necessárias para garantir esta

da religião como arma é uma técnica tão

proteção,

dignidade,

antiga quanto a própria humanidade, mas

integridade física e vida. No período entre

não representa todos/as aqueles/as que

1996 e 2001, quando os Talibã detinham o

praticam a sua fé de forma pacífica, pura e

poder sobre a região, foram várias as

privada.

restrições de direitos e os relatos de

Não podemos ser um país de ativismo de

ataques

sofá,

os

a

sejam

da

seus

honradas

direitos,

mulheres

e

meninas,

nos

cuja

ajuda

humanitária

se

setores da educação, trabalho e ativismo.

circunscreve aos comentários e "likes"

É necessário preparar, não só a sociedade

online, e aos discursos sofridos que não

portuguesa, como também o mundo, para

passam de autoflagelação. Podemos, sim e

o flagelo humanitário que se aproxima. A

ao invés, promover a aceitação de pessoas

xenofobia

em

com estatuto de refugiadas ou de asilo, e

Portugal, de forma direta ou indireta,

deixar bem claro, junto dos nossos e das

obscena ou oculta. Ao seu lado, o racismo

nossas representantes parlamentares, que

e a islamofobia são pretexto político

Portugal

populista, que de um lado para o outro

precisar.

está,

infelizmente,

viva

é

abrigo

para

quem

anda, instaurando o medo e a intolerância, dando asas à violência e à discriminação. Perante as vidas Afegãs em risco, o preconceito não poderá ser barreira a Portugal prestar auxílio, que lhe cabe como país dito livre. Educar a nossa sociedade quanto ao Direito de Asilo é essencial, para que o discurso de ódio que tão frequentemente o acompanha não se faça ouvir.

Foto: Pixabay/Kurious

29

assim


Revista insubmissa

VOL. 4 | SETEMBRO, 2021

(CONTINUAÇÃO) Em conversa com Sheila Góis Habib, Mestre

Para

em

Direito

deverá esforçar-se para dialogar com as

Internacional e co-criadora da Revista

forças Talibãs, de forma a discutir um

insubmissa, ela teve o seguinte a dizer

acordo de paz com as mesmas, processo

sobre o que é imperativo neste momento:

esse que terá de obrigatoriamente ter uma

"Sumarizar a minha opinião sobre o que

representação eficaz de defensores e

está a acontecer no Afeganistão é longe de

defensoras

fácil. Décadas de guerra e conflito afetaram

especialmente mulheres. Esta participação

severamente

deve incluir garantias de segurança e

Direitos

Humanos

a

paz,

com

a

liberdade,

os

isto,

a

de

direitos e a saúde mental e física da

representação

população afegã. O que é preciso então?

opiniões.

Paz.

Paz

e

respeito

pelos

Direitos

Começando

forma

digna,

arranjar

por

segura

e

internacional

Direitos

efetiva

e

Humanos,

equitativa

de

As mulheres e raparigas afegãs são as

Humanos de todas as pessoas afegãs.

Como?

comunidade

mais afetadas nesta crise humanitária uma

humana

pelo que as mesmas não poderão continuar

de

a

ser

excluídas

da

vida

política

e

evacuar todas as pessoas que desejem

económica do Afeganistão. Não incluir as

deixar o Afeganistão, incluindo não só

mulheres afegãs significará um processo

mulheres e crianças, mas também homens,

de paz fracassado. O processo de paz no

ativistas,

dos

Afeganistão deverá ser inclusivo e significar

Direitos Humanos, pessoas com diversidade

não só paz, mas estabilidade, segurança,

funcional, jornalistas, etc. Neste âmbito, os

justiça e um governo responsável e

Estados-Membros

inclusivo

defensores

e

da

defensoras

ONU

deverão

que

respeite

os

Direitos

acolher e assegurar o Direito de Asilo de

Humanos. É dever da ONU garantir isto.

todos e todas.

Adicionalmente,

De seguida, toda e qualquer violência

internacional deverá também pressionar e

deverá ser cessada, sendo implementado

esforçar-se

para

respeitem

os

um

cessar-fogo

humanitário

e

criadas

a que

comunidade as

Direitos

forças

Talibãs

Humanos,

em

medidas alternativas de segurança e de

particular os direitos das mulheres, e todas

transição para uma paz sustentável,

as convenções internacionais criadas até à

através de abordagens não violentas.

data. O Conselho de Segurança da ONU

30


Revista insubmissa

VOL. 4 | SETEMBRO, 2021

(CONTINUAÇÃO) deverá

não

condenar

todas

as

violações dos Direitos Humanos por parte das forças Talibãs, mas também

criar um mecanismo de supervisão para monitorizar o respeito pelas convenções supra

mencionadas,

em

particular

os

direitos das mulheres (provisão essa que

deverá ser incluída no acordo de paz). Por último, é imperativo providenciar ajuda humanitária às pessoas afegãs, não

só as que conseguiram ou pretendem evacuar,

mas

também

para

as

que

permanecem no território Afegão. Estas pessoas precisam não só de comida, mas também de acesso a necessidades básicas (desde habitação a produtos menstruais e de higiene). A ONU foi criada com o propósito de garantir a paz e a segurança no mundo

pós Segunda Guerra Mundial. O tempo para agir é agora, e enquanto a ONU não agir e parar a impunidade que os crimes das forças Talibã têm tido até à data, a ONU

será também responsável. É essencial que os direitos conquistados nos últimos anos não tenham sido em vão."

31


Revista insubmissa

VOL. 4 | SETEMBRO, 2021

LUGAR DE FALA TEXTO DE OPINIÃO DE MARIANA REIS & SOFIA FIGUEIREDO A REABILITAÇÃO E REINSERÇÃO SOCIAL NA PERSPETIVA ESPECÍFICA DAS MULHERES APÓS CUMPRIMENTO DE PENA A nossa compreensão em relação à vida e

de punir, esta conceção não se estendeu às

necessidades das mulheres tem evoluído

mulheres, que eram vistas como incapazes

nos últimos anos, especialmente devido ao

de se reabilitarem. Assim, o seu processo

trabalho realizado por muitas destas e

de reabilitação, começado ainda dentro da

através

instituição prisional, acabava por contribuir

dos

movimentos

sociais

de

reivindicação dos seus direitos.

para o risco de reincidência e ignorava

Historicamente, toda a investigação na área

aspetos importantes na inserção destas,

criminal tem sido realizada sobre o ponto

como o apoio no cuidar dos/as filhos/as e o

de vista dos homens, focada em crimes

desenvolvimento

perpetrados

vocacionais.

por

estes

e,

competências

consequentemente, o trabalho disponível

Existem

em relação à reabilitação e reinserção tem

compreender,

tido, também, o seu foco nas necessidades

tratamento dado às mulheres pelo sistema

dos homens e, embora se afirme que as

criminal. O quadro teórico feminista radical

intervenções

numa

permite entender as injustiças por que

perspetiva para todos/as (genderless), a

passaram, e ainda passam, as mulheres

verdade é que isto significa que o foco é

ofensoras sobre o poder do sistema judicial.

nas necessidades dos homens.

Este quadro teórico aborda a opressão

Até 1873, ano em que abriu a primeira

feminina

instituição penal exclusiva a mulheres, o

sociedade

tratamento das mulheres a cumprir pena

sociedade

refletia o comportamento da sociedade

centrada neste, com o objetivo último de

perante todo o género feminino. Mais

opressão das mulheres. Já a Teoria do

tarde, quando surgiu o conceito de prisão

Conflito baseia-se na ideia de que existe

como tendo a função de reabilitar, ao invés

um grupo social (e.g., homens brancos de

são

desenhadas

32

várias

de teorias

que

ajudam

historicamente,

como

tendo

patriarcal, dominada

raízes ou

pelo

seja,

a o

numa uma

homem

e


Revista insubmissa

VOL. 4 | SETEMBRO, 2021

(CONTINUAÇÃO) classe social média/alta) que têm na sua

constantemente

posse o dinheiro e poder de decisão que

considerada nos estudos criminológicos e,

lhes permite ter autoridade e controlo

consequentemente, existem falhas em

sobre o grupo impotente (e.g., mulheres,

compreender que alguns fatores de risco,

minorias e classes sociais baixas). Assim, de

nomeadamente experiências familiares e

forma a combater as injustiças que sofrem

escolares negativas, estão intimamente

as mulheres ofensoras, seria necessário

ligados a especificidades de género. As

combater todo o sistema que se encontra

mulheres reportam níveis mais extremos

na base destas desigualdades.

de

Desta forma, estas diferentes variáveis

significativamente a sua entrada na vida

contribuíram

criminal, e isto tem que ser tido em conta.

para

o

insucesso

da

ignorada

vitimização,

diferencia

Assim,

interferirem no processo e, por outro lado,

investigações

ao se focarem no papel tradicional da

experiências dos homens conduz a falhas

mulher, ignorando a realidade das suas

na

vidas, o seu historial socioeconómico e as

reabilitativas e de reinserção social junto

comunidades às quais regressam. Foi em

das mulheres.

que

programas

Pollock-Bryne específicos

para

tendência

que

pouco

reabilitação das mulheres, por um lado, ao

1990

a

o

e

para

centrar

exclusivamente

adequação

das

as nas

intervenções

desenhou mulheres

Fatores

que

contribuem

para

a

ainda na prisão, com o objetivo de as

criminalidade nas mulheres

munir de competências vocacionais e

A entrada das mulheres na vida criminal,

alargando,

opções

em comparação com a dos homens, difere

profissionais disponíveis, o que contribuiu

em grande medida, sendo que estas

para a promoção dos seus interesses e,

reportam

consequentemente, possibilitou o acesso a

vitimização, ou seja, elas próprias já

profissões

que

sofreram diversos crimes, nomeadamente

proporcionaram melhores oportunidades

abusos físicos e/ou sexuais durante a

para estas no período pós cumprimento

infância,

de pena.

violência familiar. Além disso, as mulheres

Concluindo, o sexo é uma variável

mostram mais comportamentos de fuga

assim,

mais

o

leque

de

lucrativas

33

níveis

mais

violações,

e/ou

extremos

exposição

de

a


Revista insubmissa

VOL. 4 | SETEMBRO, 2021

(CONTINUAÇÃO) de

casa

e

de

alienação

escolar;

Fatores que contribuem para o sucesso da

instabilidade na saúde mental e abuso de

reabilitação e reinserção social

substâncias;

Quanto às variáveis que contribuem para o

envolvimento

desviantes;

e

pares as

sucesso, a Teoria do Vínculo Social diz-nos

seus/suas

que os vínculos informais que criamos

filhos/as. De facto, frequentemente, as

inibem o impulso de cometer crimes. Quer

mulheres acabam encarceradas devido a

isto dizer que, por um lado, o casamento

crimes

e/ou relações românticas podem reduzir

cuidadoras

são

com

principais

relacionados

habitualmente dos/as

com

o

uso

de

substâncias.

as ofensas ou, por outro lado, aumentar a criminalidade. Adicionalmente, o suporte

Fatores

que

constituem

barreiras

à

familiar mostra-se essencial à reabilitação

reabilitação e inserção social

e

O processo de reabilitação tem um papel

disponibilizar

fundamental no desfecho criminal de cada

emocional

indivíduo, ou seja, se voltam a reincidir ou

filhos/as que, por sua vez, constituem um

se são reabilitados/as. A probabilidade de

estímulo para a mudança. Assim, é habitual

reincidência é maior quando o indivíduo se

que,

depara com dificuldades no ajustamento à

necessitem de contar com o apoio das suas

recém-adquirida liberdade. Desta forma,

famílias (quando este existe), voltando a

mostra-se

as

viver com as mesmas durante este período.

variáveis que têm um papel importante no

Outra variável importante para o sucesso

sucesso e insucesso da reabilitação e

na reintegração social das mulheres após

reinserção social.

cumprimento de pena prende-se no acesso

Existem seis áreas principais que têm o

a serviços, como programas que ajudem a

potencial de formar barreiras no caminho

responder

das mulheres após cumprimento de pena:

libertação, nomeadamente programas que

condições pessoais; ambiente e redes

respondam

sociais;

específicas de género.

criminal;

importante

situação apoio

aconselhamento;

compreender

habitacional; na e

sistema

reabilitação

e

necessidades

e

reinserção, e

após

nomeadamente suporte

apoio

no

financeiro, cuidar

cumprimento

às

suas às

de

necessidades suas

ao

dos/as

pena,

pós-

necessidades

Gender-Specific Programs

condições de trabalho.

Estes são seis princípios necessários a ter

34


Revista insubmissa

VOL. 4 | SETEMBRO, 2021

(CONTINUAÇÃO) em conta aquando da realização de uma

permitam melhorar as suas condições

intervenção

socioeconómicas, isto porque, a maioria

focada

nas

necessidades

específicas das mulheres:

das mulheres encontra-se em situações

reconhecer que existem diferenças de

financeiras frágeis que se agravam com o

género, ou seja, embora exista a lei da

historial de abuso de substâncias e trauma;

paridade aplicada à justiça, que exige

designar um sistema comunitário de

tratamento igualitário para todos/as,

supervisão e serviços que promovam a

isto não quer dizer que o mesmo

reinserção e que as ajudem a lidar com

tratamento seja apropriado para ambos

e.g., o estigma associado à sua situação

os géneros;

pós cumprimento de pena e as apoie,

criar

ambientes

centrados

na

caso se aplique, na sua condição de

segurança, respeito e dignidade, isto porque

muitas

passaram

por

destas

mulheres

Temos que ter sempre em mente que

emocional, físico e sexual, sendo assim

existe, ou pode existir, na vida destas

necessário ter em conta estes padrões

mulheres, um padrão de vitimização que se

de abuso;

associa aos crimes cometidos por estas, e

programas positivas

políticas, que

com

de

abuso

desenvolver

situações

mães solteiras.

práticas

e

que cria um ciclo de criminalidade nas suas

relações

vidas. Este conhecimento tem que guiar

abordando

qualquer apoio que possa vir a ser dado

promovam outros/as,

temas como os desafios envolvidos na

para promover a sua reinserção social.

sua reinserção social, o impacto da violência interpessoal nas suas vidas e as razões que as leva(ra)m a cometer crimes; abordar três problemáticas críticas na vida destas mulheres – o abuso de substâncias, o trauma e a saúde mental – recorrendo à supervisão, de forma a promover a sua reinserção social;

Foto: Freepik/Suksao

disponibilizar oportunidades que lhes

35


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LUGAR DE FALA TEXTO DE OPINIÃO DE ANA SOFIA FIGUEIREDO ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS E JUSTIÇA SOCIAL "Desde secas e incêndios devastadores no oeste americano até ao crescimento das taxas de aumento do nível do mar e de furacões poderosos, as verdadeiras vítimas de um planeta em aquecimento não são apenas os ursos polares e os lençóis de gelo, mas também as pessoas. No entanto, os efeitos da mudança climática não são igualmente sentidos por todos. A cruel ironia das alterações climáticas é que, as pessoas que vivem em zonas ainda em desenvolvimento e, portanto, aquelas que têm mais dificuldades em adaptar-se, pagarão mais caro pelos 200 anos de industrialização e poluição do mundo desenvolvido. Esta é verdadeiramente uma questão de justiça climática.” (Ben&Jerry’s, 2020) Atualmente, climática quando

o

tem se

conceito

de

justiça

perceptíveis (e.g. influência nos sistemas de

uma

maior

relevância

saúde pública, complicações na produção

abordam

temas

como

de alimentos).

as

alterações climáticas, bem como, os seus

Por

impactos em diferentes regiões do globo.

climáticas colocam várias comunidades

Mas o que significa a expressão “alterações

em situação de desvantagem, uma vez

climáticas”?

faz

que, não existe forma de chegarem aos

referência aos desvios estatísticos de uma

recursos que lhes são disponibilizados para

variante atmosférica (e.g. alterações da

se

temperatura, humidade, precipitação e/ou

impossível perceber o que é a (in)justiça

vento) por um longo período de tempo,

climática, assim como, pensar sobre os

podendo estes desvios ser de origem

variados problemas da adaptação, sem

natural ou devido a qualquer ação humana.

conseguirmos primeiro compreender o

Porém, apesar de, hoje em dia, algumas das

problema da desigualdade social.

consequências das alterações climáticas

As desigualdades sociais estão presentes

serem visíveis, existem outras menos

na sociedade de forma multifacetada,

Ora,

este

conceito

36

outras

palavras,

adaptarem.

Posto

as

alterações

isto,

torna-se


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(CONTINUAÇÃO) como por exemplo, nos diversos setores da

insegurança alimentar); 2) culturais (e.g.

sociedade como a educação, economia ou

perda do sentimento de pertença a um

saúde (e.g.

doenças

determinado local que ajusta a identidade

mentais e/ou aumento da mortalidade das

individual) e, por fim, 3) económicos,

populações, sobretudo em situações onde

principalmente os relacionados com as

existem ondas de calor ou períodos de seca

atividades económicas das populações (e.g.

extrema), podendo variar, e efetivamente

agricultura, perda de rendimentos).

traumas

físicos,

variam, de acordo com diferentes recursos e variáveis, como a riqueza/cultura, o

Por fim, é importante ressaltar que, após

rendimento, a educação e a idade.

uma análise detalhada sobre a interseção

Neste sentido, de acordo com pesquisas

das

feitas anteriormente, os indivíduos em

desigualdades

situação

conclusão

de

pobreza

estão

alterações de

climáticas sociais,

que,

uma

e

chega-se

as à

determinada

constantemente expostos e em interseção

catástrofe poderá afetar a mesma região e,

com as desigualdades estruturais que,

no entanto, produzir efeitos distintos entre

consequentemente, acabam por colocá-

os diferentes grupos populacionais que a

los mais suscetíveis às repercussões das

compõem.

alterações climáticas. Nestes casos, os grupos em que se deteta um maior risco são as populações indígenas, mulheres e/ou crianças, pois são os que mostram ter menos

recursos

financeiros

e,

consequentemente, são mais vulneráveis, sendo que, em muitos dos casos, acabaram por

ser

excluídos

do

progresso

socioeconómico. Segundo relatórios anteriores, é possível

Foto: Freepik/asier-relampagoestudio

identificar 3 tipos de impactos principais no que concerne às alterações climáticas: 1) sociais (e.g. destruição dos alojamentos,

37


VOL. 4 | SETEMBRO, 2021

EM DESTAQUE

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CATARINA OLIVEIRA A DESCONSTRUÇÃO DO CAPACITISMO

Catarina Oliveira tem 32 anos, natural do Porto e Licenciada em Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto. Tem experiência em diferentes áreas, desde a hotelaria, promoção de eventos e como Dj, fazendo parte de uma dupla, atividade que permanece ativa nos dias de hoje. É apaixonada pela comunicação e por isso criou uma página no instagram (@especierarasobrerodas) onde um dos seus principais objetivos é mudar mentalidades, quebrar preconceitos e tabus relacionados com as pessoas com deficiência. Atualmente é uma das embaixadoras da Associação Salvador, uma entidade que visa apoiar pessoas com deficiência motora. Trabalha também como palestrante em escolas, universidades e empresas com o objetivo de esclarecer mitos e expor problemas relacionados com a acessibilidade, a inclusão e a representatividade da pessoa com deficiência.

Quantos de vós já ouviram falar da palavra “Capacitismo”? Poucos, creio. Talvez se a escrever em inglês vos seja mais familiar: Ableism. Provavelmente continua a ser um termo desconhecido para muitos. Capacitismo é a palavra encontrada para definir toda e qualquer discriminação contra a pessoa com deficiência. Dito desta

forma

pode

parecer

algo

extremamente vago e difuso, mas é muito patente na nossa sociedade do presente, do passado e, espero eu, cada vez menos na do futuro. O Capacitismo encontra-se em todas as

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(CONTINUAÇÃO) camadas da nossa sociedade, de uma

infantil quando se dirigem a nós, acreditem

forma muito enraizada, profunda e difícil

ou

de desconstruir. Está nas barreiras físicas,

sexualidade,

atitudinais e de oportunidades que a

construção familiar são assuntos tabus

pessoa com deficiência encontra no seu

para a grande maioria da sociedade, como

dia-a-dia, constantemente.

se

Porque sou uma pessoa com deficiência

vivenciadas por nós.

motora, desloco-me em cadeira de rodas,

Raramente as pessoas que nos rodeiam,

falo-vos aqui das principais barreiras que

salvo algumas exceções, entendem que

enfrento, algumas transversais a todas as

nem sempre precisamos de ajuda, que

pessoas com deficiência, outras nem tanto.

“ajudar”

uma

Começando pelas barreiras físicas posso

quando

ela

referir alguns exemplos como a falta de

necessita, só reforça a sua invisibilidade e é

acessibilidade que

uma atitude capacitista.

é

muito

frequente

não).

Assuntos

estas

como

relações

áreas

não

pessoa diz

a

nossa

amorosas,

pudessem

com

ser

deficiência

claramente

que

não

encontrar diariamente. A falta de rampas

Também a integração no mercado de

de

trabalho

acesso,

de

pisos

confortáveis

e

é

hoje

em

dia

capacitista.

acessíveis a todos, de casas de banho

Infelizmente a pessoa com deficiência é, no

devidamente adaptadas, de elevadores,

dia de hoje, discriminada na integração no

entre muitas outras.

mercado

No entanto, para mim as barreiras mais

exclusivamente

incapacitantes não são aquelas que vemos,

deficiência,

mas

ignoradas as suas qualificações e o seu

sim

as

que

sentimos,

como

as

de

trabalho porque sendo

barreiras atitudinais. De facto, a forma

potencial,

como a sociedade perceciona a pessoa

necessidades específicas.

com

Por

deficiência

é

o

que

mais

nos

outro

única tem

muitas

uma

completamente

desconsiderando lado,

e

as

pessoas

suas com

invisibiliza e incapacita. Somos vistos

deficiência que conseguiram a integração

como incapazes, dependentes, um fardo.

no mercado de trabalho sofrem de um

É frequente que nos infantilizem, falem

efeito que designo de “sub-emprego” onde

connosco como se fossemos crianças e

se verifica que a exigência para com elas é

como se não tivéssemos voz e vontade

muitas vezes inferior, não porque estão a

própria (até o tom de voz muitas vezes é

considerar as suas capacidades, mas

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(CONTINUAÇÃO) porque são pessoas com deficiência de

Ajudando a pessoa com deficiência, ao seu

“quem se deve ter pena e mais paciência,

lado (não à frente, não atrás), a desconstruir

não se pode exigir tanto”.

as barreiras e o capacitismo.

Infelizmente, muitas outras barreiras e outros poderia

exemplos trazer

de

aqui.

capacitismo Mas

gostaria

vos

Não queremos aplausos, não queremos ser

de

inspiração por ultrapassar um degrau.

encerrar esta partilha com uma mensagem otimista e de confiança.

Queremos

que

te

juntes

a

nós,

na

destruição desta barreira e na construção Enquanto pessoa com deficiência desde há

de uma “rampa”.

5 anos e, portanto, tendo sido uma pessoa sem deficiência durante 27 anos da minha

Não queremos o “deixa que eu ajudo”,

vida, sinto na pele a forma contrastante

queremos

como a sociedade me vê. Mas não aceito

independência.

isso. E acredito que todos nós, com ou sem deficiência, temos a possibilidade de mudar essa visão. Somos, fomos ou seremos capacitistas. Todos. Porque crescemos e nos formamos numa sociedade que o é. Mas

podemos

desconstruir

o

nosso

capacitismo. Ouvindo as pessoas com deficiência. Proporcionando, nos nossos espaços, lugar para as pessoas com deficiência. Promovendo a sua representatividade.

41

acessibilidade,

equidade

e


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ABC DA IGUALDADE ABCDEFGHIJLMNOPQRSTUVXZ DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS A

Declaração

Universal

dos

Direitos

com dignidade.

Humanos foi criada em 1948 e proclamada pela Assembleia Geral da Organização das

Estes direitos são garantidos através de

Nações Unidas (ONU), após o final da

tratados e acordos entre diversos países,

Segunda Guerra Mundial. A sua criação

sendo que a ONU denuncia anualmente as

surgiu, assim, da vontade da Humanidade

violações cometidas contra os mesmos.

em

erros,

Assim, este é também considerado um

atrocidades e opressões que foram levadas

documento com um grande peso e valor

a cabo pelos Nazis. Esta foi a primeira vez

cívico.

que

não

repetir

uma

os

mesmos

organização

internacional

conseguiu aprovar um documento de valor

universal.

Portugal

aderiu

à

Declaração em 1955. Este documento contém 30 direitos que são todos, de igual forma, tidos como essenciais na sua existência. Qualquer pessoa

tem

o

direito

à

liberdade;

tratamentos humanos; tratamento igual perante a lei; e liberdade de pensamento e

Foto: Freepik/standret

de expressão. Estes, entre outros, são pessoas,

Sabemos, e hoje em dia esse pensamento

suas

está mais presente do que nunca, que os

caraterísticas individuais, têm que ter, não

direitos com que nascemos, ou que nos são

só porque é o seu direito, mas também

atribuídos,

porque apenas assim conseguirão viver

retirados. É dever de toda a gente garantir

direitos

que

todas

independentemente

as das

42

também

nos

podem

ser


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(CONTINUAÇÃO) estes direitos, protegendo-os e lutando por eles. A própria Declaração tem evoluído e tem-se adaptado aos tempos e mudanças sociais, originando novas legislações e Convenções Humanos,

Internacionais como

é

o

de

Direitos

exemplo

da

Convenção dos Direitos da Criança. A

luta

pelos

direitos

humanos

é

desafiadora, constante e absolutamente necessária. Porque a informação não ocupa espaço,

o

Observatório

dos

Direitos

Humanos compilou alguns links nacionais e

internacionais

interessantes

e

que

ajudam nesta luta.

Aconselhamos também a presença no evento VI Congresso Internacional de Direitos Humanos de Coimbra: Uma visão transdisciplinar a acontecer nos dias 12, 13 e 14 de outubro na Universidade de Coimbra. Este procura criar um “momento de

reflexão

diferentes

e e

de

debates

relevantes

acerca

de

problemáticas

sócio-jurídicas encontradas no âmbito dos Direitos Humanos”.

43


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SABIA QUE...? FOI APROVADO O PRIMEIRO PLANO NACIONAL DE COMBATE AO RACISMO E À DISCRIMINAÇÃO 2021-2025 ‒ PORTUGAL CONTRA O RACISMO No passado dia 15 de julho, e com a

agravou, não só a discriminação, como o

Resolução nº 101/2021, o Conselho de

incitamento ao ódio e à violência. É neste

Ministros

plano

sentido que surge o Plano Nacional de

que

Combate ao Racismo e à Discriminação

Portugal continua a ter problemas de

2021-2025 ‒ Portugal contra o racismo,

racismo e xenofobia que violam os direitos

manifestando-se contra a segregação e a

fundamentais

pela

marginalização de quaisquer pessoas.

que

Na

aprovou

supramencionado.

Constituição,

É

o seu

parecer

protegidos problemas

esses

sua

elaboração,

considerou-se

a

requerem maior e melhor conhecimento,

definição de racismo que consta do artigo

prevenção e combate. A luta contra a

1.º da Convenção Internacional Sobre a

desigualdade e o combate ao racismo

Eliminação

carecem da promoção da igualdade de

Discriminação

direitos, oportunidades e respeito pela

“qualquer distinção, exclusão, restrição ou

dignidade, e constituem um desafio que se

preferência

vincula às disposições legais, nacionais e

ascendência ou origem nacional ou étnica

internacionais,

que

Declaração

nomeadamente Universal

dos

a

Direitos

de

Todas Racial,

fundada

tenha

destruir

as

Formas

sendo na

de

racismo

raça,

como

objetivo

ou

ou

comprometer

cor, efeito o

Humanos, a Convenção Europeia dos

reconhecimento, o gozo ou o exercício, em

Direitos

condições

Humanos,

a

Convenção

de

igualdade,

dos

direitos

Internacional sobre a Eliminação de Todas

humanos e das liberdades fundamentais

as Formas de Discriminação Racial e, mais

nos domínios político, económico, social e

recentemente, o Plano de Ação da União

cultural ou em qualquer outro domínio da

Europeia contra o Racismo 2020-2025.

vida pública.”

A

pandemia

COVID-19

exacerbou

as

O Plano está organizado de acordo com

desigualdades estruturais e sistémicas e

quatro princípios transversais (nº 2):

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VOL. 4 | SETEMBRO, 2021

(CONTINUAÇÃO) a) desconstrução de estereótipos; b) coordenação, governança integrada e territorialização; c) intervenção integrada no combate às desigualdades; d) intersecionalidade. De

acordo

com

estes

princípios,

estipularam-se dez áreas de intervenção (nº 3):

Foto: Freepik/rawpixel.com

a) governação, informação e conhecimento para uma sociedade não discriminatória;

É importante mencionar que o Plano

b) educação e cultura;

ressalva que a sua implementação deverá

c) ensino superior;

incluir

d) trabalho e emprego;

nomeadamente no que diz respeito à

e) habitação;

desagregação

f) saúde e ação social;

indicadores de monitorização (nº 9).

uma

perspetiva por

sexo

de dos

género, respetivos

g) justiça, segurança e direitos; h) participação e representação;

Poderá consultar o Plano na íntegra em:

i) desporto;

https://dre.pt/application/conteudo/168475

j) meios de comunicação e o digital.

294

As áreas de intervenção incluem anexos específicos dos quais constam as medidas, atividades, indicadores, áreas governativas, entidades e metas a alcançar, pensadas tendo as dez áreas e os quatro princípios em mente, de forma a obter resultados efetivos e tornar Portugal uma sociedade melhor, mais justa e mais igualitária.

45


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ESPAÇO CULTURAL

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MALALA YOUSAFZAI: PENSAMENTOS À MÃO SOLTA ESCRITO POR VÂNIA ALVES numa daquelas palavras que repetimos muitas vezes à espera de percebermos quando perderá o seu sentido. Malala nunca perderá o seu significado, isso seria uma

violência

para

tudo

o

que

ela

representa, mas à minha volta, sendo o meu

mundo

irremediavelmente,

inevitavelmente também

ele,

e do

tamanho daquilo do que sou e sinto, e vejo, ficou esquecida! Ficou esquecida como ficou tudo aquilo que nos atravessa, que atravessa

a

superfície,

como

ficou

esquecida toda a profundidade poeirenta e a humanidade de gaveta onde metemos as tralhas que não sabemos como, ou onde arrumar, e guardamos ali, naquele sítio purgatório, junto àquilo que somos. Hoje, aqui, sentada no meu privilégio,

Ficou esquecida porque a vida corre, e nós

segura, dentro de mim, segura, à minha

cansadas e cansados, atrás dela, sem saber

volta, do tamanho do que vejo e sinto.

bem o que fazer com ela quando a

Afinal, isso de sermos do tamanho do que

apanharmos.

vemos já é velho. Deveria escrever acerca

nenhum que damos à vida que não a

da Malala e de como o seu nome deveria

nossa: “Quantas até chegar a minha vez?” E

estar escrito em toda a parte. Esse mesmo

respondemos baixinho que nunca chegará,

pensamento fez-me temer que o seu

calamos a profecia em nós, de mãos

nome, pudesse ele também, transformar-se

ensanguentadas, mal levadas pelo silêncio

47

Esquecida

nesse

valor


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(CONTINUAÇÃO) que somos. Esquecida porque os estímulos

escola, foi parado por terroristas, um deles

são mãos invisíveis mas pesadas, que nos

disparou 5 tiros na cabeça de Malala, tinha

afogam quem somos e deixam plasticina

ela 15 anos.

fácil de moldar pelos poderes anárquicos e

Como sabemos sobreviveu, vive exilada

pelos niilismos no seu lugar. Esquecida

com a família em Inglaterra, e poderia, de

porque o mundo é tanto e é tão pouco, e

forma

nós irredutíveis, mas tão pouco. Sempre

abandonado as suas causas devido aos

tão

segue,

vários traumas. Mas Malala é uma marcha

nós

que perdura. E mesmo assim, Malala

pouco.

embebidas

Nesta e

vida

que

embebidos

em

completamente

continua

o outro e a outra. Pelos outros e pelas

esquecida

outras.

outras.

arrumamos aquilo que não tem sítio ou

Esquecemos que é o olhar de quem nos vê

forma, coisas escondidas às quais damos

que nos faz.

pouca utilidade. E como podemos nós,

Malala quando nasceu não foi motivo para

que não temos qualquer impedimento

que parabenizassem o seu pai e a sua mãe,

que não nós próprias/os, assobiar para o

pois era uma menina, e ser menina é ser

lado que nos convém, no nosso encolher

pouco. A escola onde estudava foi obrigada

de ombros que diz “a vida é mesmo

a fechar, tal como todas as outras com o

assim”?

risco de ser dinamitada em caso de

podemos esquecer? Quando uma menina

desobediência. Aos 11 anos criou um blog

de 15 anos é atacada com 5 tiros, que vê a

onde defendia o direito das meninas a

vida findar-se, mas que a sua humanidade

frequentarem

é maior do que a sua própria vida? Somos

outros

a

e

escola.

nas

Com

12

anos

ser

essa

ter

próprias/os, esquecemos que vivemos com Nos

a

legítima,

naquela

Como

humanidade

gaveta

podemos

onde

calar?

Como

escondia o uniforme numa mochila para

sempre tão pouco!

poder

ou

Malala disse um dia que feminismo é uma

espancada pelo caminho. Em 2010, já era

palavra complicada, que se tornou uma

conhecida por defender, em entrevistas e

palavra

palestras,

desconforto, que incomoda. Feminismo,

estudar

o

sem

direito

ser

das

atacada

meninas

à

difícil.

Feminismo,

Feminismo,

causa

educação, passando a receber ameaças de

palavra

morte. Em 2012, o autocarro onde ia para a

ridícula. Pois é aqui que nos querem

48

proibida.

que

palavra


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(CONTINUAÇÃO) deixar,

no

ridículo

que

nos

tornam,

reduzidas ao desconforto, proibidas. É aqui que deixam a Malala de 15 anos. É aqui que deixam a Malala de hoje. É aqui que nos querem deixar a todas. Por isso, se a Malala de 15 anos não se rendeu, eu também não me calarei, de silêncios é feita a morte. Marchemos! O caminho? Malala sempre soube: A Educação! Só a Educação de forma livre nos pode fazer ver, não o mundo do tamanho do que vemos, mas o mundo do tamanho do que somos: imensos e imensas! E nunca esqueçamos que a força que trazemos é do tamanho da humanidade que carregamos! Que a humanidade se torne algo inevitável em nós.

49


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SUGESTÕES CULTURAIS Não se faz uma Revolução sem Educação,

elemento relevante de contra-poder. Se

e não se educa uma sociedade sem acesso

quiser saber mais, Fumaça é também um

democrático à cultura. Para que a luta

Órgão de Comunicação Social assente na

pelos Direitos Humanos seja significativa e

transparência e, no seu site fumaca.pt

palpável urge a necessidade das pessoas

podem encontrar toda a informação

conhecerem com uma outra profundidade

necessária, desde as notas biográficas da

o mundo que nos envolve neste abraço

equipa às folhas Excel do orçamento. No

veneno. Torna-se assim relevante conferir

site terá também acesso a newsletters,

neste

a

entrevistas, séries documentais em áudio

conteúdos concretos, mas a plataformas

e aos meios para ouvir o podcast como o

gratuitas, e de qualidade, para que todas

Spotify, Google Podcast ou até mesmo o

as

YouTube.

Volume

pessoas

cultivando-se.

IV

destaque,

possam Porque

não

informar-se, quem

cultiva

também semeia!

Sugestões a título de exemplo:

Fumaça: o microfone da desconstrução

Dinamam Tuxá Sobre a Resistência dos Povos Indígenas no Brasil

Órgão de Comunicação Social direcionado

Zélia Figueiredo Sobre Pessoas Trans

para

e Saúde Mental

o

jornalismo

de

investigação

independente em áudio (podcast), que se

Rafaela

caracteriza como sendo progressista e

Parentalidade na Prisão

dissidente. Progressista porque acredita no

Ori Givati Sobre o Papel do Exército

progresso social assente na universalidade procura as perspectivas ocultas, os temas esquecidos, as vozes abafadas. perspicaz

e

Sobre

Família

Israelita na Ocupação da Palestina.

dos Direitos Humanos, e dissidente porque

Provocador,

Granja

incomodativo,

Fumaça é um caso sério de jornalismo português, construindo-se enquanto

50

e


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(CONTINUAÇÃO) RTP Play: a pérola escondida do serviço público Da RTP Play não há muito a dizer, quase todas as pessoas conhecem e quase todas as pessoas se esquecem. A RTP Play é, sem dúvida, a melhor alternativa à Netflix e à HBO, gratuita, com conteúdos de grande relevância e de uma riqueza

infindável:

programas,

séries

arquivos, e

coleções,

documentários.

Sempre atualizada e com conteúdos novos. Sugestões a título de exemplo: Série Afeganistão - A Terra Ferida Programa #SÓQNÃO Minissérie Mulheres na Resistência Scroll

51


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VOL. 4 | SETEMBRO, 2021

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VOL. 4 | SETEMBRO, 2021

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Disponível

em

https://www.ua.pt/pt/noticias/0/17782 Valdivino, M., Rodrigues, F., & Coelho, P. (2021). Alterações climáticas e zoonoses: influência das alterações climáticas na propagação de doenças infeciosas. Higeia: Revista Científica da Escola Superior de Saúde Dr. Lopes Dias.

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VOL. 4 | SETEMBRO, 2021

Revista insubmissa

FICHA TÉCNICA REVISÃO DE CONTÉUDOS: PAULA ALLEN SOFIA NEVES

EDIÇÃO E REDAÇÃO: ANA SOFIA FIGUEIREDO MARIANA REIS SHEILA GÓIS HABIB TERESA RAMOS DE SÁ TEX SILVA VÂNIA ALVES

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