Revista insubmissa - Volume II - Liberdade

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VOL. 2 | MAIO, 2021

insubmissa

Lugar de fala Abril Vivo e Resistente 26 de abril, pela visibilidade lésbica A Islamofobia na Europa Discurso de ódio vs. Liberdade de Expressão Liberdade Individual vs. Saúde Pública: A discussão intensifica-se em tempos de pandemia Os crimes de Israel e a Luta da Palestina pela Liberdade

LIBER

Apresentação da Vice-Presidente

DA

DE

Os rostos por detrás da Plano i

ABC da Igualdade Bigamia

Sabia que...? A União Europeia foi considerada uma zona de liberdade LGBTI

Espaço Cultural


PAULA ALLEN É um enorme privilégio enquanto pessoa, profissional e acima de tudo enquanto mulher poder escrever este texto para a Revista insubmissa da nossa Plano i e do Grupo de Jovens que impulsionei e coordeno com tanto orgulho. Mas este orgulho não se esgota nestes tópicos, acrescenta-se infinitas vezes quando o texto que me é solicitado deve narrar sobre a Liberdade. A Liberdade é o tema fraturante das nossas vidas. O tema que não pode ser descurado e que nos permitirá, um dia, ter uma sociedade mais justa, inclusiva e não discriminatória. Todos os dias procuro educar quem comigo se cruza para os valores da liberdade, lembrando-os/as que sermos verdadeiramente livres é tão crucial quanto respirar. Todos/as podemos educar para a liberdade agindo como modelos e tendo em consideração que os nossos comportamentos e atitudes são um dos principais veículos de educação não formal das outras pessoas. Enquanto mãe, posso não conhecer todas as teorias nem dominar todas as estratégias, mas garantidamente posso e devo respeitar a diversidade do meu filho e da minha filha e posso ser um modelo social para ele e ela. Enquanto profissional, tenho uma obrigação ética e moral, de procurar formação especializada, que me permita promover a educação para os afetos e para o respeito e inclusão nas crianças e jovens que vou formando. Corria o ano de 2014 e o meu filho Francisco escreveu no prefácio do seu livro a seguinte frase: “Quero muito ser adulto, mas sonho poder continuar a pensar como a criança que hoje sou. Quero olhar para os/as outros/as e ver apenas meninos e meninas, homens e mulheres. Não me importa a cor, o cheiro, a raça, a etnia, a orientação sexual e todas as outras coisas que os/as adultos/as valorizam.” Com ele aprendi que também eu quero muito continuar a ver o mundo como uma criança e acima de tudo uma criança que foi educada em liberdade e igualdade.


PAULA ALLEN Liberdade de me vestir como quero, de me maquilhar ou não, de ter ou não ter filhos/as sem que isso me complete ou subtraia, de ter uma relação assumida com alguém, ou de não a ter, ou ter várias, acima de tudo a liberdade de ser eu própria e de poder mudar a minha forma de me ver e de me representar no mundo, podendo ser hoje de uma forma e amanhã de outra sem que isso seja visto como fruto da minha instabilidade e disfuncionalidade hormonal, por ter nascido e me auto identificar como mulher. A liberdade de me poder expressar frente a qualquer pessoa e em qualquer lugar sem estar a ser vista como irreverente, mal-educada ou pouco assertiva. A liberdade de escolher quando, como e com quem quero ter atividade sexual, sem que a avaliação da minha líbido sexual me coloque no lugar de uma mulher com menor ou maior valor para uma relação supostamente mais séria (seja lá o que isso possa significar). A liberdade de escolher ir a um concerto ao invés de ir a uma peça escolar de um/a filho/a, ou de ir jantar com o namorado ou amigos/as depois de uma semana intensa de trabalho, ao invés de escolher ficar em casa ou sair com os/as meus/minhas filhos/as, sem que isso seja considerado como comportamento de uma má mãe. A liberdade de ser eu própria lutando todos os dias contra todos os papéis que a sociedade adquiriu para mim como se eu tivesse assinado um contrato de promessa de bom comportamento. Desejo que o meu filho e a minha filha, as minhas afilhadas, os meus sobrinhos e sobrinhas, e os elementos do Grupo de Jovens da Plano i possam encontrar, todos os dias em si mesmos/as, o espaço de liberdade e espero que contem comigo nesta caminhada.


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ÍND ICE Organograma Plano i

5

Os rostos por detrás da Plano i - Apresentação da Vice-Presidente

6

Projetos Plano i

8

Oferta Formativa Plano i

25

Outros Projetos a Acompanhar

26

Apresentação dos subgrupos de trabalho do Grupo de Jovens

30

Contributos do Grupo de Jovens Promotor da Igualdade e da Saúde

34

Lugar de Fala:

38

Abril Vivo e Resistente

39

26 de abril, pela visibilidade lésbica

43

A Islamofobia na Europa

46

Discurso de ódio vs. Liberdade de Expressão

57

Liberdade Individual vs. Saúde Pública: A discussão intensifica-se em tempos de pandemia

59

Os crimes de Israel e a Luta da Palestina pela Liberdade

66

ABC da Igualdade: Bigamia

76

Sabia que...? A União Europeia foi considerada uma zona de liberdade LGBTI

79

Espaço Cultural

83

Exposição Fotográfica

102


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ORGANOGRAMA DA PLANO i DIREÇÃO

ANA SOFIA NEVES

PAULA ALLEN

DORA PINTO

ARIANA CORREIA

ANA TELES 5


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OS ROSTOS POR DETRÁS DA PLANO i APRESENTAÇÃO DA VICE-PRESIDENTE Paula Allen é Psicóloga, membro efetivo da Ordem

dos

Psicólogos

Portugueses,

especialista em Psicologia Clínica e da Saúde e Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações e tem especialidade avançada em Psicologia Comunitária e Sexologia. Trabalhou durante mais de uma década com população de etnia cigana e vítimas de Tráfico de Seres Humanos. É consultora em Igualdade de Género e formadora nesta área, desde 2000. É uma das fundadoras da Associação Plano i e atual

Vice-Presidente

da

Direção

da

mesma Associação. É Diretora Técnica do Centro Gis – Centro de Respostas às Populações LGBTI, da Casa Arco-Íris – Casa de

Acolhimento

pessoas

LGBTI

de

Emergência

Vítimas

de

para

Violência

Doméstica e do Plano 3C – Casa Com Cor – Apartamento pessoas

de

LGBTI

Doméstica.

É

Autonomização Vítimas

também

de

Violência

Presidente

Conselho Consultivo para as questões DOUTORA PAULA ALLEN

6

para do


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(CONTINUAÇÃO) LGBTI,

Co-coordenadora

científica

do

Observatório Nacional do Bullying e do Programa Uni+ – Programa de Prevenção e Combate da Violência no Namoro no Ensino

Universitário,

Coordenadora

científica do projeto #Black Lives Matter in Football Matosinhos, do projeto Tik Talks – Programa para a Promoção da Saúde Mental no Ensino Superior e Assistente de Coordenação científica do Projeto Íris – Trajetórias de Vida das Pessoas LGBTI Vítimas de Violência Doméstica. Faz parte da lista de especialistas reconhecidos/as pela CIG nas áreas de Igualdade entre mulheres e homens, Violência Contra as Mulheres e Violência Doméstica, Tráfico de Seres

Humanos

Identidade

e

e

Orientação

Expressão

de

Sexual,

Género

e

Características sexuais.

7


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PROJETOS PLANO i FIQUE A PAR DO QUE FOI E VAI SER FEITO CENTRO GIS Começa por ti! Traz o debate sobre os direitos

das

conversas

pessoas

com

as

LGBTI

pessoas

nas

amigas,

familiares, na escola ou até mesmo no teu

local

de

discriminação

trabalho! Às vezes a é

fruto

da

falta

de

informação. Se ouves ou vês alguma pessoa amiga a ter

um

comentário

ou

atitude

preconceituosa, não ignores, alerta-a e explica-lhe o porquê de aquilo estar Este mês, o Centro Gis partilha consigo

errado.

algumas dicas sobre como promover a

Não utilizes expressões baseadas em

igualdade e não discriminação das pessoas

estereótipos de género. Muitas vezes o

LGBTI. No dia 17 de Maio, celebrou-se o Dia

insulto às pessoas LGBTI encontra-se

Internacional contra a Homofobia, Bifobia e

revestido

Transfobia.

Lembra-te,

Esta

é

uma

data

que

pretende

em

forma

uma

de

brincadeira.

brincadeira

é

engraçada, quando todas as partes

consciencializar para a discriminação a que

envolvidas são respeitadas.

as pessoas LGBTI - lésbicas, gays, bissexuais,

Respeita o nome e o pronome pelo qual

trans e intersexo - são sujeitas todos os dias.

as pessoas te dizem que querem ser

Mas o combate à discriminação cabe a cada

tratadas.

um e a cada uma de nós, com o objetivo de

discriminação que acontece com as

tornarmos o mundo num lugar mais seguro

pessoas trans é a negação do uso do

e com mais respeito. E fazer a diferença é

nome

possível em pequenos gestos diários:

identificam.

8

e

Uma

pronome

das

com

formas

o

qual

de

se


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(CONTINUAÇÃO) Não assumas que todas as pessoas são

tendo sido realizados 18 atendimentos a

cisgénero ou heterossexuais. Se não

estas pessoas. Destas, 2 foram pela primeira

sabes, pergunta, ou então experimenta

vez atendidas pelo Centro Gis; 3 eram

utilizar linguagem inclusiva do ponto

menores e 8 tinham idades compreendidas

de vista do género e da orientação

entre os 18 e os 55 anos; e a maioria era de

sexual.

nacionalidade portuguesa.

Lembra-te: Os direitos das pessoas LGBTI

Podemos

também

são direitos humanos!

seguinte,

as

verificar,

diferentes

no

gráfico

tipologias

de

violência nesta população.

O nosso desafio é simples: Transforma Respeita Apoia Não discrimines Somos todos/as seres humanos. Por isso, partilha esta mensagem e dá voz à luta pela igualdade. A diversidade é bonita. Se precisares, ou conheceres alguém que precise de ajuda, contacta-nos. 640 pessoas já nos encontraram. Estamos aqui à tua

Para além de atendimentos presenciais, o

espera. Veja o vídeo no nosso canal de

Centro

Youtube.

atendimentos não presenciais, que, em

Desde 2017, o Centro Gis - Centro de

comparação, se apresentam claramente

Respostas às populações LGBTI, já atendeu

mais numerosos, com 27 pessoas atendidas

mais de 640 pessoas, oferecendo serviços

e 43 atendimentos. À semelhança da

especializados de atendimento em diversas

população anterior, a maioria das pessoas

valências.

são de nacionalidade portuguesa; 3 eram

Durante o mês de março, o Centro Gis, fez o

menores e a faixa etária das restantes

atendimento

pessoas não ultrapassa os 55 anos de idade.

presencial

de

11

pessoas

vítimas de violência doméstica e de género,

Gis

também

disponibiliza

Os gráficos abaixo permitem-nos ter uma

9


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(CONTINUAÇÃO) noção mais clara em relação a duas variáveis

Durante o mês de março, o Centro Gis deu

nas duas populações identificadas (pessoas

também 4 formações financiadas, sendo

atendidas

não

que duas destas foram ao Grupo de Jovens

presencialmente): a identidade de género e

da Plano i, tendo 47 pessoas assistido às

a valência de atendimento.

mesmas. O Grupo de Jovens continua a

presencialmente

e

receber formação todos os meses. Adicionalmente,

o

Centro

Gis

teve

a

oportunidade de formar 32 pessoas na Intervenção com Pessoas LGBTI e 22 pessoas nas Especificidades da Violência Doméstica em Pessoas LGB. Ao

longo

do

mês

houve

também

a

preocupação em participar, como entidade formadora, noutras ações de formação, Importa ainda destacar que, além dos

sendo que destacamos a palestra que foi

apoios prestados a pessoas vítimas, o Centro

dada a 146 pessoas acerca da temática

Gis

Violência Doméstica e de Género contra

atendeu

46

pessoas

caraterísticas

de

vida

vulneráveis,

correspondente

atendimentos,

através

LGBTI

com

Pessoas LGBTI.

particularmente da

a

68

plataforma

Skype.

gis@associacaoplanoi.org

@centro_gis

/CentroGis

/AssociaçãoPlanoi

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PROJETOS PLANO i TRAJETÓRIAS DE VIDA DE PESSOAS LGBTI VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA Administração Pública central (Saúde, Justiça,

Administração

interna,

Segurança Social e Educação); Sociedade

civil

(Organizações

Não

Governamentais de Direitos Humanos, coletivos e associações LGBTI); Prática privada (Consulta psicológica, consulta jurídica). A Associação Plano i, está a conduzir uma investigação, (2019-2022),

cofinanciada com

o

pelo

objetivo

POISE

geral

de

caraterizar as trajetórias de vida de pessoas lésbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo (LGBTI) vítimas de violência doméstica, com o intuito de descrever e compreender as especificidades dos seus percursos desenvolvimentais e de vitimação e os respetivos

impactos

a

nível

pessoal,

familiar e social, neste caso à luz das

Todos os quesitos éticos, nomeadamente os que dizem respeito à confidencialidade e ao anonimato, estão garantidos pela equipa de investigação. Muito agradecemos a vossa colaboração e a partilha

junto

de

outras/os

potenciais

participantes. A associação Plano i, solicita também a participação

no

estudo

divulgado

página seguinte.

perspetivas das pessoas que com elas intervêm. Assim, solicitamos o preenchimento de um inquérito a pessoas de todos os sexos que intervenham direta ou indiretamente com pessoas

LGBTI

vítimas

de

iris@associacaoplanoi.org

violência projeto-iris.wixsite.com/planoi

doméstica, num dos seguintes âmbitos:

11

na



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PROJETOS PLANO i TIKTALKS - PROMOÇÃO DA SAÚDE MENTAL NO ENSINO SUPERIOR

A breve trecho será criada uma app que permitirá difundir conteúdos de promoção da literacia para a saúde mental e que responda aos desafios desenvolvimentais em tempos de pandemia. A realidade pandémica veio acumular vulnerabilidades pré-existentes, pelo que o serviço de consulta psicológica do TikTalks apresenta-se como a matriz do projeto, com uma procura que excedeu o projetado, com 310 consultas realizadas, num total de 100 utentes abrangidos/as desde o mês de janeiro deste ano. Realizaram-se ainda 3 Focus

Group

junto

de

Associações

Académicas, por forma a auscultar as necessidades prementes do público-alvo, reconhecendo que a saúde mental, apesar de ser mencionada em conversas entre colegas, é um assunto para o qual a literacia

tiktalks@associacaoplanoi.org

no ensino superior ainda é baixa e está efetivamente patente a desvalorização da

@tiktalks.ensinosuperior/

mesma, principalmente em comparação com a saúde física. Foram ainda realizados 2 webinares e 2 workshops

dirigidos

/tiktalks.ensinosuperior

a

estudantes do Ensino Superior, todos com www.associacaoplanoi.org/tiktalks/

tónica na promoção da saúde mental, tendo alcançado cerca de 1400 pessoas.

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PROJETOS PLANO i BANDA DESENHADA - SUPER I'S e o respeito através da sua história. Super Jo, ilustrada por Larissa dos Anjos e escrita por Ana Reis, aborda o universo LGBTI e o bullying em idade escolar.

O projeto Super i’s já está no mundo virtual! Na nossa página do instagram partilhamos dados relevantes para a comunidade em geral e desvendamos, uma a uma, as nossas super-heroínas.

Sigam

a

página

para

acompanhar a nossa aventura no universo da banda desenhada inclusiva. Também podem

encontrar

os

nossos

lives

dinamizados por Cátia Seabra, pessoa voluntária do projeto, onde criamos um momento navegamos

de

partilha

pelo

de

processo

vivências de

e

Super Yasmin, ilustrada por Joana Molho e

escrita,

escrita com a colaboração de Bebiana

ilustração e inspiração de cada BD.

Brochado e Lisandro Castro, desvenda a

Todas as nossas heroínas apesar das suas

história de uma criança vinda da Síria para

características e estilos diferentes, têm em

Portugal

em comum o dom de despertar a empatia

refugiada. 14

com

o

estatuto

de

pessoa


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(CONTINUAÇÃO) Contou com a participação de Sandra Rodrigues,

Mariana

Falcão

e

Catarina

Neves. Super Sol, ilustrada por Afonso Aroso e escrita por Ana Reis com a colaboração de Sofia Neves, fala-nos de uma super-heroína com

diversidade

funcional

capaz

de

estimular a bondade das pessoas que a rodeiam.

Super Duda, ilustrada por Mariana Serra e escrita por Cátia Seabra, leva-nos numa viagem

pelos

sentimentos

e

sensações

físicas duma heroína com perturbação de ansiedade.

Super Maria, ilustrada por Mariana Mattos e escrita por Marisa Santos, personifica o super-poder da empatia. Quando bate com o seu sapatinho no chão, torna-nos capazes de reconhecer e validar as experiências das outras pessoas.

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(CONTINUAÇÃO) A história de Nyah destaca a importância da representatividade

na

luta

contra

o

racismo. Muito melhor do que ler sobre as nossas super-heroínas é ler as suas aventuras que estão disponíveis no site da Plano i. Sintam-se à vontade para divulgar as nossas histórias, para que cheguem ao maior número de crianças e jovens possível. Em conjunto, contribuiremos para um futuro mais justo e digno, onde todas as pessoas se sentem representadas. Super Nyah foi ilustrada por Larissa dos Anjos e escrita por Cátia Seabra em parceria com

Nuna,

Josimar

Pacheco-Cassamá,

Paulo Dias e Leandro Tavares.

@bd.super.is www.associacaoplanoi.org/publicacoes

16


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PROJETOS PLANO i 17 DE MAIO ‒ DIA INTERNACIONAL HOMOFOBIA, BIFOBIA E TRANSFOBIA

DE

LUTA

CONTRA

A

LGBTIQ+ marcaram o 17 de maio de forma simbólica, mas com um objetivo claro ‒ o de passar uma mensagem de visibilidade, inclusão e igualdade. Apesar das várias lutas e dos avanços legislativos, sociais e políticos, e apesar do apoio de várias entidades, os momentos cuja presença mais se faz notar, tendem a A 17 de maio de 1990, a Organização

ser os que o fazem pela negativa. Este ano, a

Mundial

a

Câmara Municipal de Lisboa, a Câmara

Classificação

Municipal de Matosinhos (na estrutura da

de

Saúde

Homossexualidade

da

excluiu

Estatística Internacional de Doenças e

sua

Problemas Relacionados com a Saúde. A

Municipal de Vila Nova de Gaia e a

partir daí, o dia 17 de maio passou a

Residência Oficial do Primeiro-Ministro de

simbolizar o Dia Internacional da Luta

Portugal

Contra a Homofobia (sendo, com o passar

abriram caminho, no último caso de forma

dos anos, adicionados os conceitos de

histórica, e posicionaram-se, efetivamente,

Bifobia, Transfobia e, por vezes, Interfobia).

contra

As pequenas vitórias da comunidade e das

discriminações enfrentadas pelas pessoas

pessoas LGBTIQ+ vêm a ser celebradas todos

LGBTIQ+, hasteando bem alto, a bandeira

os anos, neste dia que carrega consigo um

que

marco histórico na luta pela igualdade, e

AMPLOS-Porto,

2021 não seria diferente. Em Portugal, e um

Consultivo

pouco por toda a Europa, várias associações,

(CCLGBTI), criado pela Associação Plano i e

organizações

do qual faz parte, viu, tristemente, o seu

e

coletivos

pelos

Direitos

Humanos e em particular, pelos direitos

Casa

da

Juventude),

António

os

Costa,

vários

representa para

pessoas

membro as

Câmara

entre

ataques

as

a

do

outras,

sofridos

LGBTI.

e

A

Conselho

questões

LGBTI

pedido endereçado à Câmara Municipal do

17


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(CONTINUAÇÃO) Porto para hastear a bandeira LGBTI, ao lado

terminou foi isto que sentimos na Plano i, a

das outras Câmaras, negado. A justificação

felicidade de dever cumprido. Foi também

dada de não ser possível hastear bandeiras

com este objetivo que geramos este bem

“não protocolares”, não serviu, nem foi

comum,

recebida com credibilidade, uma vez que o

alimentamos todos os dias. O objetivo de

protocolo é geral a todas as instituições

dar voz e de lutar ao lado das pessoas que

governamentais.

são mais discriminadas – lutar sempre do

Ainda assim, e porque a Associação Plano i

lado certo – estar sempre do lado certo da

se presa pela insubmissão e pela luta

história. E mais uma vez estivemos do lado

incondicional, às 13h, juntou-se com outras

certo da história.

associações,

pessoas

Quando olhamos para o arco-íris vemos dois

especialistas do CCLGBTI, frente ao edifício

lados e ficamos à espera de encontrar dois

da Câmara Municipal do Porto, com uma

potes de ouro, um em cada um desses

bandeira

sua

lados, e ontem, enquanto representava a

presença e deixando claro que, a luta para

Plano i e o Conselho Consultivo para as

que o Porto seja uma cidade inclusiva e

Questões LGBTI sentia que, trabalhar nesta

multicolorida, vai continuar.

área e lutar esta luta, significa muitas vezes

A Drª Paula Allen, vice-presidente da

percorrer este arco-íris de uma ponta à

Associação

do

outra, vezes sem conta, na esperança de

ato

encontrar os potes de ouro e encontrá-los,

coletivos

arco-íris,

Plano

CCLGBTI,

esteve

simbólico,

com

e

marcando

i

e

Presidente

presente toda

a

a

neste

irreverência

e

que

é

a

Plano

i,

e

que

o

tantas e tantas vezes, vazios.

dedicação que já veste na pele, esta luta

São muitas as caminhadas e as marcas que

que lhe corre nas veias. Perguntamos-lhe o

espero

que significa para ela o 17 de maio e o que

lembrando-vos sempre a primeira frase

sentiu nos eventos que o marcaram este

deste texto: a felicidade do dever cumprido!

conseguir

explicar

de

seguida,

ano. O que se segue foi a sua resposta, um

Ouço frequentemente a velha frase

texto, como todos os outros que escreve,

“temos de marcar” e sinto que muitas

inspirador e impulsionador do seu ativismo,

vezes as pessoas querem estar, querem

ao qual deu o título de “A felicidade de

envolver-se, querem apoiar e querem

dever cumprido”: "Quando o dia 17 de maio

marcar presença, mas estão sem tempo.

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(CONTINUAÇÃO) Assim como há outras pessoas que,

peguei naquela bandeira uma única vez.

tendo algum tempo, não terão o tempo

Por vários motivos. E o principal foi porque

certo para dedicar a esta causa. Eis um

a AMPLOS foi a Associação que solicitou à

dos potes muitas vezes vazio.

Câmara Municipal do Porto que a mesma

Entendo que, para certas pessoas, a

fosse hasteada, logo deveria ser a AMPLOS

paixão pelo que é nosso nos envolva e

(que tanto gosto, cuido e respeito) a erguer

nos faça crer que o nosso é perfeito, mas

bem alto. Outro dos motivos foi porque vi

essa paixão não nos deveria conduzir ao

nos olhos de tantas pessoas que ali

vazio afetivo de ver o que é das outras

estavam, que conheço pessoalmente e que

pessoas como inferior, e frequentemente

são LGBTI a vontade de erguer bem alto

encontro isso nesta luta. Sinto que,

aquele mastro, e aquele palco era deles e

muitas pessoas têm uma lente que

delas, e eu era apenas a fotógrafa. Era

apenas lhes permite ver desta forma: só

aquela que iria encher os seus emails de

se a minha associação/grupo estiver

mimo quando lhes enviasse as fotografias.

incluída é que o produto é bom ou vale a

Não sou pessoa LGBTI mas tenho outro

pena e caso contrário não valorizarei,

orgulho, sou uma profissional que procuro

não

darei

força,

desvalorizar.

A

irei

mesmo

a excelência naquilo que faço e que me

pelos

Direitos

especializei

ou

luta

para

poder

trabalhar

da

Humanos é uma luta de todas as

melhor forma possível com as pessoas

pessoas, ou deveria ser, e temos de unir

LGBTI. Falo-vos do último pote vazio de

as nossas mãos, caso contrário de nada

alma – da alma daqueles e daquelas que

adiantará

ordem

consideram que não sendo eu LGBTI não

“ninguém larga a mão de ninguém”,

deva ter estado onde estive em todos os 17

quando muitas vezes nunca as deram

de maio. Mas a minha vida profissional não

pela primeira vez. Outro pote tantas

se faz de palcos com luzes e holofotes, faz-

vezes vazio. Nos tempos que vivemos,

se todos os dias, muitas vezes mais de 14

palavras

sororidade,

horas por dia “atrás de uma câmara," onde

feminismos, igualdades e tantas outras,

mais precisam que eu esteja. E aí, o meu

devem ser colocadas no pote das lutas!

pote de ouro está cheio e coberto de glitter!

Por último falo-vos de legitimidade. Não

A felicidade de dever cumprido!

gritar

como

palavras

união,

de

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(CONTINUAÇÃO) Por último, algumas palavras finais, as de

“Para mim o dia 17 de maio (o dia em que

agradecimento, vão para as Autarquias de

ser lésbica, gay ou bissexual (entre outras

Vila Nova de Gaia e de Matosinhos, que

possibilidades) deixou de ser considerado

estão do lado certo da história e que

doença) é um marco na história dos

hastearam a bandeira LGBTI; vão também

Direitos Humanos. Contudo, apesar de já se

para as pessoas que comigo lutam todos os

terem passado 31 anos e ainda existirem

dias na Plano i, Direção, colaboradores e

profissionais

colaboradoras e pessoas voluntárias; e por

reconversão, é sinal de que não podemos

fim vão para o Grupo de Jovens Promotor

deixar cair esta luta no esquecimento, nem

da Igualdade e da Saúde da Plano i, que nos

deixar de assinalar o dia, exigindo o

incentiva a sermos maiores e melhores.

respeito que todas as pessoas merecem.

As palavras de pesar vão para todas as

A recusa da Câmara Municipal do Porto em

críticas da montra de monstros que temos

assinalar o dia, mesmo que de forma

nas redes sociais e que, à luz de uma

simbólica, é

suposta e falsa liberdade de expressão,

negligente,

maltratam as pessoas LGBTI, e para os

estigmatizante de quem está à frente do

media, que mais uma vez, não estiveram na

poder político. Calar é compactuar com

cobertura dos eventos acima identificados

essa postura e isso não posso aceitar. Ir lá

e que poderiam ter feito a diferença

marcar a minha posição tem precisamente

mostrando que Portugal está mais seguro e

esse significado, por mais que queiram

inclusivo.”

calar a voz de quem defende os Direitos Humanos,

a

praticar

representativa

não

terapias

da

atitude

preconceituosa

e

irão

conseguir!

Na redação deste texto, a revista falou com a

sempre

Drª

presença e gritarmos mais alto.”

Ana

humanos,

Silva,

ativista

Mestre

Coordenadora

em

Técnica

pelos

direitos

Psicologia do

e

Projeto

Ampliando Famílias da responsabilidade da AMPLOS. A Drª Ana, tal como a Drª Paula, marcou presença na frente da Câmara Municipal do Porto e teve isto a dizer:

20

uma

de

maneira

de

Haverá

marcarmos


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OFERTA FORMATIVA PLANO i FIQUE A PAR DE TODAS AS AÇÕES DE FORMAÇÃO QUE SERÃO DESENVOLVIDAS PELA ASSOCIAÇÃO PLANO i

Nas formações financiadas, os/as formandos/as têm direito a subsídio de alimentação. Todos/as os/as formandos têm direito a certificado emitido pela plataforma SIGO. Caso pretenda efetuar a sua inscrição em qualquer uma das formações acima mencionadas, consulte o site da Associação Plano i, nomeadamente o separador das formações.

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OUTROS PROJETOS A ACOMPANHAR OBSERVATÓRIO NACIONAL CONHECER PARA AGIR

DA

VIOLÊNCIA

Por

forma

CONTRA

a

fenómenos,

conhecer

foi

criado

ATLETAS:

este em

e

outros

Portugal

o

Observatório Nacional da Violência contra Atletas (ObNVA). O Observatório Nacional da Violência contra Atletas - ObNVA, é uma plataforma de Nos últimos anos, têm sido várias as

recolha de dados de evidência sobre a

pessoas atletas, sobretudo mulheres, a vir a

prevalência de violência sobre atletas; um

público

depositário de denúncias informais que

denunciar

situações

de

discriminação e/ou de violência no âmbito

reencaminha

da sua prática desportiva.

competentes;

O documentário produzido em 2020 pela

facilitadora de apoios de vária índole para

Netflix, Athlete A, retrata os abusos sexuais

quem a ela recorre com esse pedido de

a que foram sujeitas, durante anos, as

ajuda.

atletas da seleção feminina de ginástica dos

Trata-se de uma iniciativa promovida pelo

Estados Unidos pelo médico Larry Nassar.

Instituto

Muito

Campeonato

colaboração com a Associação Plano i,

Europeu de Ginástica Artística, a decisão de

desenvolvida em parceria com o Instituto

Sarah Voss de usar um fato completo levou

Português do Desporto e Juventude, a Alta

a Federação do seu país a considerar que a

Autoridade para a Prevenção e o Combate à

atitude da atleta foi de contraposição à

Violência no Desporto, o Comité Olímpico

"sexualização da ginástica", numa altura

Português,

em que prevenir o abuso sexual parece ser

Portugueses

cada vez mais urgente.

Treinadores de Portugal.

recentemente,

no

26

para e

as

Autoridades

uma

ferramenta

Universitário

a

Ordem e

a

da

dos

Maia

em

Psicólogos

Confederação

de


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

(CONTINUAÇÃO) O ObNVA destina-se a pessoas atletas que

realidade que urge caracterizar, no sentido

são ou foram vítimas, testemunhas ou

de desenvolver políticas e medidas de

outras que têm ou tiveram conhecimento

prevenção e combate eficazes.

de uma situação de violência neste âmbito.

Os objetivos centrais do projeto são:

Em suma, o objetivo é melhorar o ambiente

1. Fazer o levantamento de situações de

no universo desportivo e da promoção e

violência

salvaguarda da saúde e bem estar dos/as

diretamente ou testemunhadas;

atletas.

contra

atletas

vividas

2. Caracterizar as situações de violência

Tendo sido lançado em setembro de 2020,

contra atletas, na ótica da compreensão

o ObNVA recebeu até abril de 2021 um total

das

de 13 denúncias informais, o que perfaz

consequências e implicações;

suas

tipologias,

dinâmicas,

uma média de 2 reportes por mês. Estando

3. Encaminhar as pessoas que o desejarem

empírica e cientificamente documentada a

para as autoridades competentes (e.g.,

resistência que existe por parte de pessoas

órgãos

atletas em revelar a violência sofrida no

atendimento e apoio a vítimas);

contexto da prática desportiva, estes dados são,

ainda

que

de

polícia,

serviços

de

4. Contribuir para o desenvolvimento de

aparentemente

estudos científicos

inexpressivos em termos numéricos, muito

apreço;

relevantes do ponto de vista do seu

5. Contribuir

para

a

no

domínio

otimização

em das

significado.

políticas e medidas de prevenção e

Cientes da escassez de estudos científicos,

combate à violência contra atletas.

nomeadamente

em

Portugal,

e

da

A colaboração de pessoas e entidades na

inexistência de mecanismos de denúncia

desocultação

que estejam facilmente ao alcance de

absolutamente imprescindível. Acabar com

todos/as

a cultura do silêncio é desafiar a cultura da

e

que

permitam

às

vítimas

reportar, anonimamente, as situações de

deste

problema

é

violação.

violência a que estão ou estiveram expostas no âmbito do treino e/ou na competição, o ObNVA

será

uma

ferramenta

Sofia Neves

de

mapeamento e de compreensão de uma

www.ismai.pt/pt/investigacao/obnva

27


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

OUTROS PROJETOS A ACOMPANHAR PROJETO SAFE(CI)TY sua perceção de insegurança experienciada nestes locais e, consequentemente, limitar e restringir a sua utilização dos mesmos. Assim, muitas sentem que dependem de uma

presença

masculina

para

estar

seguras, o que limita as suas oportunidades e perpetua o sistema patriarcal de domínio masculino. Contudo, há um conjunto de caraterísticas

que

podem

ser

implementadas ao nível do planeamento urbano e que têm a capacidade de alterar esta

sensação.

Entre

estes

estão

a

iluminação, abertura, visibilidade ou o A violência contra as mulheres é uma

número de pessoas num certo local.

violação dos Direitos Humanos e um dos

Foi neste seguimento que surgiu o projeto

principais

de

SAFE(CI)TY. Uma iniciativa resultante do

igualdade entre géneros, de modo que é

Programa de Mentoria da HeForShe Lisboa,

preciso arranjar respostas para eliminar este

em conjunto com a Doutora Ana Sofia

tipo de agressões, nomeadamente, as que

Antunes – investigadora perita na matéria

acontecem em espaços públicos. Para as

da violência de género e Presidente da

mulheres jovens e adultas, a vida urbana

Associação Plano i. Este pretende, não só

está dotada de situações de assédio sexual

sensibilizar

– diferentes, mas não exclusivas, aos crimes

fomentação de diálogo para esta temática

experienciados pelos homens (como os

mas também promover a sensação de

assaltos) – que contribuem para aumentar a,

segurança e confiança das mulheres em

obstáculos

à

obtenção

28

as

pessoas

através

da


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

(CONTINUAÇÃO) Portugal.

outras mulheres e de facto compreender a

Perante o desafio do Mentoring the Future,

verdadeira dimensão deste problema, que

sabia que tinha de desenvolver algo que,

é a violência de género, em Portugal.

para mim, fosse especialmente importante.

Tendo, acima de tudo, a consciência de que,

Desde a adolescência que não me sinto

ao tornar as cidades mais seguras para as

segura a andar sozinha na rua. Começou

mulheres, podemos aumentar também a

com uns piropos ou assobios – que, por si

sua

só, são demasiadas vezes normalizados

económicas, culturais e políticas.

participação

nas

como, simplesmente, fazendo parte da vida de uma mulher que caminha pela rua

Sofia Batista

sozinha (ou não) – e depois cada vez com mais situações, como olhares permanentes em transportes públicos, que se seguiam de homens a sair na mesma paragem que eu e de chamadas à minha mãe, na esperança de que este apoio à distância me conseguisse

fazer

chegar

a

casa

em

segurança. Com o tempo, fui falando com amigas e familiares e apercebendo-me de que estas situações eram muito mais recorrentes do que pensava e que – para minha surpresa – ninguém falava realmente nelas, a não ser que o tópico surgisse. Então, decidi que estava na hora de reivindicarmos o

nosso

espaço

(público),

enquanto

mulheres, e de abrirmos este diálogo, na esperança de que se conseguisse alterar alguma coisa. Desde o seu começo, em março, que tem sido uma experiência muito interessante poder partilhar episódios com

@safecity_project

29

esferas

sociais,


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

APRESENTAÇÃO DOS SUBGRUPOS DE TRABALHO DO GRUPO DE JOVENS GRUPO 1 - Bullying e Ciberbullying

género ainda há muito por alcançar. Em

No que diz respeito aos temas do Bullying e

pleno século XXI continuamos a assistir a

Cyberbullying, a Plano i, pretende, através

desigualdades salariais baseadas no sexo,

dos seus diferentes projetos e atividades,

quando se exerce a mesma função; apesar

sensibilizar, formar, educar e intervir, com

de as mulheres aparecerem como maioria

toda a comunidade educativa articulando

no ensino superior, esta não se estende aos

em todas as esferas sociais na qual a

cargos de topo e de liderança, uma vez que

criança e o/a jovem se inserem.

estes são, maioritariamente, ocupados por

Um dos nossos objetivos é contribuir para a

homens;

promoção de espaços educativos/escolares

acumular as funções laborais com as

respeitadores, inclusivos, diversos e plurais!

domésticas, levando a cabo duplas ou, até,

Consideramos fundamental que, os alunos

triplas jornadas de trabalho – como se

e as alunas, desenvolvam competências ao

verificou em tempos de teletrabalho, tendo

nível da diversidade social e da promoção

de cuidar dos/as filhos/as; entre outros

do respeito entre todas as pessoas, e

exemplos. Tudo isto demonstra que a

consideramos

igualdade

também

crucial

que

se

as

mulheres

ainda

está

continuam

longe

de

a

ser

promova a articulação entre o espaço

alcançada. Para além da igualdade, será

escolar e o espaço familiar.

importante, também, trabalhar no sentido da equidade dos géneros. A violência de

GRUPO 2 - Igualdade de Género, Violência

género é a violência direcionada a alguém

de Género e Violência Doméstica

por causa do seu género, sendo que afeta,

O Grupo 2 foca-se nas temáticas da

desproporcionalmente, as mulheres. Um

Igualdade de Género, Violência de Género e

exemplo de violência de género é a

Violência Doméstica. Apesar de já termos

violência doméstica. O Grupo 2, estando

feito,

inserido no Grupo de Jovens da Plano i,

enquanto

sociedade,

avanços

significativos no caminho da igualdade de

rege-se pelos valores da mesma e, com o

30


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

(CONTINUAÇÃO) o

seu

trabalho,

pretende

informar,

GRUPO 4 - Saúde sexual e reprodutiva,

sensibilizar e empoderar todas as pessoas –

Planeamento familiar e Direitos Sexuais

para que se sintam livres e para que todas

Segundo a Organização Mundial da Saúde

as decisões tomadas sejam fruto da sua

[OMS] (2015), a saúde sexual é amplamente

escolha – que se pretende informada;

compreendida à luz do bem-estar físico,

promover o reconhecimento das diferenças

emocional, mental e social relacionado à

entre

sexualidade. Os Direitos Sexuais devem ser

formas

de

comunicação

discriminatórias, neutras e sensíveis ao

respeitados,

ouvidos,

incentivados

e

género e romper com os estereótipos de

defendidos por toda a sociedade, pois são

género. Almejamos igualdade e equidade

estes direitos que defendem que toda e

de direitos e oportunidades mas, também,

qualquer pessoa possa viver a sua vida

de responsabilidades. Somos feministas.

sexual com prazer e livre de discriminação (IPFF, 2008). É fundamental que as pessoas

GRUPO

3

-

Orientação

Identidade/Expressão

de

sexual,

género

tenham controlo sobre a sua própria

e

fertilidade pelo acesso à contraceção e à

Características Sexuais à Nascença

interrupção

O grupo temático de orientação sexual,

aprendam e participem em campanhas de

identidade

sensibilização

e

características

expressão

de

género

e

sexuais

à

nascença,

voluntária sobre

da

gravidez,

as

doenças

sexualmente transmissíveis (DSTs), tenham

pretende sensibilizar para as questões

acesso

relacionadas com a população LGBTI+.

sexuais, sequelas da violência sexual ou

Através da inclusão e da diversidade, este

mutilação genital feminina, bem como lhes

dinâmico grupo defende o ser humano da

seja permitido um espaço livre para que,

maneira que ele se entende e é.

sem coerção, discriminação ou violência, se

Num mundo em que os desafios urgem

possa

com cada vez mais rapidez e fluência,

prazerosas e seguras (OMS, 2015).

importa impormo-nos contra a intolerância

Isto porque, e como referido anteriormente,

e firmarmos um espaço seguro para quem

a sexualidade contribui para o equilíbrio

está fora da norma. Todas as formas de ser

físico e psicológico de todos os indivíduos,

e amar são válidas e esse é o nosso

constituindo-se como parte integrante da

propósito e a nossa missão.

sua identidade ao longo da vida (IPFF,

31

a

informação

experienciar

sobre

disfunções

relações

sexuais


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VOL. 2 | MAIO, 2021

(CONTINUAÇÃO) 2008). Desta forma, o Grupo 4, da Saúde

Saúde

Sexual

passaram a estar na boca do mundo, talvez

e

Reprodutiva,

Planeamento

Mental

a

sua

como

pessoas de informação e quebrar tabus,

Enquanto

através da criação de um espaço seguro,

continuar a lutar e a informar para a

em que o conhecimento seja de fácil

importância

acesso, claro e abrangente, bem como

normalizar que está tudo certo quando

defender e promover a saúde sexual.

pedimos ajuda.

GRUPO 5 - Saúde Mental

GRUPO

O grupo 5 do Grupo de Jovens Promotor da

Ciganofobia

Igualdade e da Saúde é responsável pela

O nosso grupo pretende combater de

dinamização da área da Saúde Mental. O

forma

nosso

permanente,

é

informar,

antes

importância

Familiar e Direitos Sexuais, visa munir as

propósito

nunca

e

grupo,

6

de

-

tinha

a

nossa

combater

Racismo,

inconformada, tanto

acontecido. missão estigmas

Xenofobia

insubmissa no

é e

e

e

trabalho

consciencializar e desmistificar a saúde e a

desenvolvido na Associação Plano i como

doença mental.

na vida, o Racismo, a Xenofobia e a

Quando falamos da atualidade, surge na

Ciganofobia.

nossa mente a palavra COVID-19. Esta

porque foi-nos ensinado que não podemos

pandemia

panorama

ser duas coisas, e que a hipocrisia corrompe

nacional e internacional, e revelou uma

o mundo. Não podemos lutar invictamente,

perspetiva do quão difícil pode ser lidar

alertar, denunciar, esclarecer, informar, e

com diversas alterações e restrições nas

depois no nosso dia a dia, nas coisas

nossas vidas, particularmente a privação da

pequenas e corriqueiras, nas banalidades

nossa liberdade. A mudança, a incerteza e

sublinhadas, compactuar. Lutamos todos

nossa liberdade. A mudança, a incerteza e

os dias para contrariar todos os viés que a

o

nossa

medo

influenciou

trouxeram

o

insegurança

e

Principalmente

sociedade

na

racista,

vida,

xenófoba,

fragilizaram a saúde mental de muitas

ciganófoba,

pessoas.

desinformada, infelizmente nos incutiu.

Todos os dias surgiram e continuam a

Tornar

surgir notícias acerca da importância de

construirmo-nos melhor. Somos melhores

cuidar do nosso corpo e da nossa mente. A

quando vemos o melhor das outras pessoas

32

o

preconceituosa mundo

melhor,

é

e primeiro


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VOL. 2 | MAIO, 2021

(CONTINUAÇÃO) e o trabalhamos também. A luta é não

Referências bibliográficas

negligenciar

International

as

pessoas

que

pela

Planned

Parenthood

ignorância se deixam consumir. É não calar

Federation [IPPF]. (2008). Sexual Rights: An

de cansaço das coisas que a nós nos

IPPF

parecem óbvias. É não achar nunca já

https://www.ippf.org/resource/sexual-

sabermos tudo. É ouvir para compreender,

rights-ippf-declaration

Declaration.

não para responder. É todos os dias recomeçar, porque todos os dias o mundo nos lembra do quanto ainda há para fazer. É fazer mais, fazer de novo, fazer melhor. O nosso grupo trata de muitas questões e a mais importante é a humanidade.

@jovens.planoi

33


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VOL. 2 | MAIO, 2021

CONTRIBUTO DO GRUPO DE JOVENS NO DIA DO/A TRABALHADOR/A No dia 1 de maio assinalou-se o dia das

Certifique-se de que o local de

pessoas trabalhadoras. Como tal, o Grupo

trabalho é acessível - com

de Jovens da Associação Plano i sugere

07

algumas medidas por forma a tornar o contexto laboral mais inclusivo:

01

Uso

de

Peça, regularmente, feedback

linguagem

sobre

inclusiva/sensível ao género. Locais de trabalho com casas de

03

cada

09

sua

o

processo

de

para

incluir

de

vários

programas comunitários, feiras de empregos e consultorias de

Ter uma sala de oração no local

contratação,

de trabalho.

garantir um staff diversificado. apoio

à

saúde

Não

mental nos seguros de saúde de

de

promova

forma

estágios

a

não

remunerados - todos/as os/as

todos/as trabalhadores/as.

10

Horas extras deverão, sempre, ser

06

na

candidatos/as

possa trazer comida típica da sua

Disponibilizar

05

dos/as

organização - para que possa

contratação

trabalhador/a

região/ cultura.

04

experiência

trabalhadores/as

Facilite

Promova convívios empresariais quais

a

colmatar possíveis lacunas.

banho neutras em género.

nos

pessoas que usem cadeiras de rodas.

08 02

rampas ou elevadores - para

trabalhadores/as

ter

direito a remuneração - tendo

pagas ou acumuladas em banco

ou

de horas.

prévia.

34

devem

não

experiência

laboral


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VOL. 2 | MAIO, 2021

(CONTINUAÇÃO) Promova

11

uma

O dia 1 de maio marca a luta por uma

cultura

empresarial onde todas

sociedade mais justa! Apelamos para que

as

vozes são bem-vindas, ouvidas

o

Governo

português,

as

empresas

e respeitadas.

portuguesas e o mercado de trabalho internacional considerem a adoção destas medidas para que possamos todos e todas

Reconheça e celebre os dias

viver num mundo melhor - um mundo

que têm significado para os/as

regido pelos direitos humanos, que aceita

seus/suas trabalhadores/as, tais

12

a diferença e promove a inclusão.

como o Mês da História Negra em fevereiro, o Mês do Orgulho em junho, o Ramadão, entre outros. Sempre que houver eventos sociais da empresa, certifiquese que são incluídos alimentos

13

e bebidas que todos/as podem comer e beber (carne halal, comida vegetariana ou vegan, gluten and dairy-free).

Crie espaços seguros para as

14

mães que estão a amamentar os/as filhos/as.

Considere

15

ter

produtos

menstruais gratuitos nas casas de banho.

35


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VOL. 2 | MAIO, 2021

CONTRIBUTO DO GRUPO DE JOVENS NO DIA 17 DE MAIO O caminho que tem vindo a ser traçado

vindas nos nossos países. Esta é uma

pelas pessoas LGBTI e pessoas que lutam

posição necessária de ser tomada quando

pelos seus direitos já é longo e, por vezes,

constatamos que 2020 foi o segundo ano

vitorioso. Têm ocorrido muitas mudanças

consecutivo em que os países Europeus

legais e algumas sociais. A alteração

desceram a sua posição no Índice Arco-

histórica à norma para pessoas candidatas

Íris, ilustrador da situação legal e em

a dádiva de sangue, terminando com a

termos de políticas LGBTI, continuando a

discriminação

observar-se

existente

em

relação

à

um

direitos

recente destas mudanças em Portugal.

adquiridos.

Podemos assim afirmar que vivemos

Em Portugal, ainda lutamos contra as

numa sociedade livre de discriminação,

chamadas terapias de reorientação sexual,

em

pode

que vão contra o próprio conceito de

orgulhosamente mostrar-se como é, viver

terapia, que pressupõe o tratar e curar, e

a

não uma constante negação e ferir da

vida

cada

de

pessoa

acordo

com

a

sua

individualidade e especificidade? Não. Mas

pessoa,

já estivemos mais longe dessa realidade.

sofrimento.

O

recente

posicionamento

pensava

causando

apenas

estarem

profundo

o

A realidade vivida neste momento, nos

Parlamento Europeu tomou em relação às

Estados Unidos da América (EUA), também

atrocidades que as pessoas Polacas e

é dolorosa e um atentado aos Direitos

Húngaras

Humanos,

vivem,

foi

que

se

de

orientação sexual, é um exemplo claro e

que

que

desaparecimento

simbolicamente

com

múltiplos

Estados

a

importante (como afirmou a Eurodeputada

lutarem pela criação de leis que limitam o

Terry Reintke) pois passa a mensagem, a

acesso de crianças trans a desportos, e as

quem concorda e a quem despreza a

banem de cuidados de saúde necessários

decisão, que as pessoas LGBTI são bem-

ao seu bem-estar.

36


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

(CONTINUAÇÃO) Relembramos também que, este ano, dias antes desta tão marcada data, foram brutalmente assassinados três homens gay - Lindolfo Kosmaski, Normunds Kindzulis e Alireza Fazeli Monfared. Relembramos que, em pleno século XXI, as pessoas ainda são alvo de crimes de ódio que atentam à sua

vida,

apenas

por

existirem.

A

criminalização de relações entre pessoas do mesmo género ainda existe em 69 países, sendo que 6 países ainda utilizam a pena de morte. 42 países apresentam barreiras legais contra a liberdade sexual e de género. Então, por todos estes motivos, na luta constante pela liberdade, justiça, respeito, amor, ainda celebramos este dia. Todos os dias são de luta contra a LGBTIfobia. Contra a invisibilidade e isolamento das pessoas

LGBTI.

Não

podemos

negar

identidades e formas de ser quando estas pessoas existem e tudo o que pedem é a possibilidade de continuarem a existir livremente e em segurança. Veja o vídeo no nosso canal de Youtube.

/AssociaçãoPlanoi

37


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

LUGAR DE FALA

38


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VOL. 2 | MAIO, 2021

LUGAR DE FALA TEXTO DE OPINIÃO DE TEX SILVA ABRIL VIVO E RESISTENTE O povo português viveu décadas sob o

meia-noite, as ruas enchem de soldados,

efeito

que

tanques, jipes e camiões. Os edifícios de

as

poder político e policial ficam cercados,

anestésico

antecedeu

a

da

ditadura

Revolução,

até

que

injustiças sociais e o atraso económico e

sob

cultural que definiam a época culminaram

revolucionários.

naquilo que António Reis veio a chamar de

população é informada de que se trata de

“euforia revolucionária” (Almeida, 1996). A

uma ação do MFA, uma ação em busca da

25 de abril de 1974, Portugal iniciou o seu

liberdade para o País, para os seus

caminho rumo à liberdade e democracia,

cidadãos e cidadãs. Apesar dos vários

desejando alcançar os restantes países da

apelos para permanecerem em casa, as

Europa e recuperar as várias décadas de

pessoas começaram a sair às ruas. O

história às quais o regime o havia privado.

Movimento

Na noite de 24 para 25 de abril, os oficiais

receoso quanto a um possível contra-

das

que

ataque e, consequentemente, quanto ao

Forças

derrame de sangue (Santos, Cruzeiro &

Forças

compõem

Armadas o

e

Movimento

Armadas (MFA),

a

força

Soldados das por

trás

da

o

olhar

tranquilo

das

Através

Forças

dos da

resistentes rádio

Armadas

a

vê-se

Coimbra, 1997).

revolução, aguardam a senha que dará

Marcello Caetano, Presidente do Conselho

início aos primeiros atos e que marcará

de Ministros, é levado a procurar proteção

aquele que se viria a tornar no momento

no Quartel-General da Guarda Nacional

mais marcante e definitivo da história de

Republicana (GNR), no Largo do Carmo,

Portugal até aos dias de hoje. A senha seria

juntamente

transmitida

canção:

Governo, sendo o edifício cercado pelas

Grândola, Vila Morena (Santos, Cruzeiro &

tropas do MFA comandadas pelo Capitão

Coimbra, 1997).

José Salgueiro Maia, assim que tomam

Quando soa, passados vinte minutos da

conhecimento. Cidadãos e cidadãs que

por

rádio,

uma

39

com

outros

membros

do


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VOL. 2 | MAIO, 2021

(CONTINUAÇÃO) haviam saído às ruas reúnem-se no Largo

Marcello

do

de

comando das Forças Armadas ao General

&

António de Spínola. A multidão inicia as

Carmo

Marcello

esperando

Caetano

a

rendição

(Santos,

Cruzeiro

Caetano

aceita

entregar

o

Coimbra, 1997).

celebrações e ouvem-se os gritos eufóricos

O Quartel-General está cercado há duas

da liberdade (Santos, Cruzeiro & Coimbra,

horas quando a hora de almoço chega. A

1997).

população unida distribui sandes pelos

É apenas na manhã seguinte, dia 26, que a

soldados que ficam a marcar o seu posto.

Polícia Internacional e de Defesa do Estado

Salgueiro Maia exige a rendição dos

(PIDE) e os seus agentes se rendem e se

membros do Governo de Portugal, de

entregam.

megafone na mão e preocupado com o

transportados

perigo a que estão sujeitos os seus soldados

políticos que haviam feito frente ao regime

e todos os membros da multidão popular.

são libertados. Infelizmente, no rescaldo

Apesar

que

dos confrontos com a PIDE, quatro pessoas

regressem a casa, a população mantém-se

perdem a vida quando a polícia política

firme, de lágrimas nos olhos, esperançosa

dispara sobre um grupo de manifestantes

pela

reunido à porta do seu edifício na Capital

dos

seus

possibilidade

pedidos

do

fim

para

do

regime

À

medida para

que

Caxias,

estes os

são

presos

(Santos, Cruzeiro & Coimbra, 1997).

(Santos, Cruzeiro & Coimbra, 1997).

Eventualmente, torna-se óbvio que não

No dia 26, forma-se a Junta de Salvação

será possível evacuar o Largo ou o Quartel

Nacional e inicia-se a transição para um

sem recorrer à força. Aí são disparadas duas

Governo democrático e um Portugal livre.

rajadas de metralhadora na fachada do

Das primeiras medidas tomadas destacam-

Quartel de forma a forçar a mão aos

se a extinção da PIDE, o fim do sistema de

membros do Governo refugiados no seu

Censura que havia até então marcado o

interior. É aí que dois homens, Feytor Pinto,

dia-a-dia dos Portugueses e Portuguesas, e

ex-diretor dos Serviços de Informação e

a legalização dos sindicatos livres e dos

Nuno Távora, funcionário do Quartel-Geral,

partidos políticos. O programa trabalhava

se

em

voluntariam

para

entrar

e

iniciar

três

vertentes:

Democratizar,

negociações. Algum tempo depois, Feytor

Descolonizar, Desenvolver.

Pinto regressa com a informação de que

Só um ano depois, a 25 de abril de 1975,

40


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

(CONTINUAÇÃO) teriam lugar as primeiras eleições livres e

portuguesa. À que ficou conhecida como a

democráticas, com a vitória do Partido

última revolta de esquerda do século XX

Socialista (PS), na sequência das quais

seguiu-se

seria elaborada a nova Constituição de

significativa a nível da Europa, época que

Portugal, cuja formulação iria pender para

Boaventura de Sousa Santos viria a definir

o

uma

como “o movimento social mais amplo e

democracia parlamentar mais próxima do

profundo da história europeia”. O mesmo

que era observado nos países Ocidentais.

autor acrescentaria mais tarde que a

socialismo

A

Revolução

e

estabeleceria

circunscreveu aos limites nacionais tendo

que, apesar da revolta e do espírito

os

revolucionário

e

impacto

não

política

desmobilização que se seguiu mostrou

efeitos

Cravos

mobilização

se

seus

dos

uma

quebrado

fronteiras.

consequentes

descompressão

política

e

da

social,

a

sociedade portuguesa não havia mudado as suas crenças e a sua cultura política (Accornero, 2014). Quem viveu a história dificilmente a esquece. A Revolução dos Cravos continua até hoje a dividir a sociedade portuguesa (Soutelo & Loff, 2009). desde os dois Foto: Dominika Roseclay

extremos

do

espectro

político

até

às

pessoas que se dedicam ao seu estudo. À esquerda, existe o receio de que se tenha ao longo dos anos vindo a perder o espírito revolucionário; à direita, a lamentação pela perda dos costumes Salazaristas e ideias da época. Apesar

Tratou-se de uma revolta que conseguiu,

destas

diferenças

ideológicas,

reconhece-se de forma generalizada que o

em menos de 24 horas, abater um regime

25

ditatorial militar que havia, durante mais

de

abril

despoletou

grandes

desenvolvimentos sociais e políticos

de 40 anos, feito refém a população

41


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

(CONTINUAÇÃO) (Baklanoff, 1996) e que a ocorrência marcou

Referências bibliográficas

de

Accornero, G. (2014). O ‘25 de Abril’: uma

forma

significativa

a

história

de

Portugal e da Europa, sendo que os valores

revolução

nas

ciências

sociais.

Em

de abril vivem hoje na alma de muitos e

Transformações culturais no pós 25 de Abril

muitas, mesmo nas novas gerações (talvez

de 1974. Ler História, (67), 171-177.

especialmente nas novas gerações). Para

Almeida, J. F. (1996). Portugal, 20 anos de

quem a liberdade é um bem adquirido, um

democracia. Lisboa: Temas & Debates.

facto que devemos àqueles e àquelas que

Baklanoff, E. N. (1996). Breve experiência de

a 25 de abril de 1974 se mantiveram de pé

socialismo em Portugal: o sector das

firme nas ruas de Portugal, o espírito

empresas estatais. Análise Social, 31(138),

revolucionário resiste.

925-947. Santos, B. D. S., Cruzeiro, M. M. & Coimbra, M. N. (1997). O Pulsar da Revolução. Cronologia da Revolução de 25 de Abril (1973-1976). Centro de Documentação, 25. Soutelo, L. D. C., & Loff, M. (2009). A memória do 25 de Abril nos anos do cavaquismo:

o

desenvolvimento

do

revisionismo histórico através da imprensa (1985-1995).

42


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

LUGAR DE FALA TEXTO DE OPINIÃO DE MARIANA REIS 26 DE ABRIL, PELA VISIBILIDADE LÉSBICA

Abril é verdadeiramente um mês de

visíveis (Vicente, 2020).

liberdade. Inclusão. Luta. 25 de abril é uma

Então, o que é a visibilidade lésbica? Alexa

data a comemorar e lembrar, sempre e, em

Santos faz parte da direção do Clube Safo,

especial, enquanto ainda for necessário

a primeira e única associação portuguesa

relembrar que continuam em perigo os

que trabalha exclusivamente na defesa dos

direitos pelos quais tantas pessoas lutaram.

direitos

Há também outro dia de abril que grita

responde: é ter a possibilidade de poder

liberdade, pede por visibilidade, e esse é o

existir;

dia 26 de abril. Dia da visibilidade lésbica.

automaticamente

E, tal como o 25 de abril, é também um dia

uma pessoa heterossexual. A visibilidade

que

permite que as lésbicas existam.

precisa,

continuamente,

de

ser

de é

lésbicas andar

na

em

Portugal,

rua

e

não

percecionada

e ser

como

exaltado, celebrado.

Assim, e voltando àquela que é a minha

Durante a ditadura, a identidade lésbica

experiência, se não há visibilidade, não há

não

mais

representatividade. Há alguns anos, os

discutida. Apenas se falava acerca da

media contribuíam fortemente para a

homossexualidade, negativamente claro,

invisibilidade,

sendo que, mesmo após o 25 de abril, é

ouvimos lésbicas falar de uma vida sem

apenas em 1982 que a vemos a ser

modelo,

descriminalizada (Carreira, 2021). Também

identidade lésbica e, se não sabes que uma

sabemos que as mulheres tinham os seus

identidade existe, é difícil que te revejas

direitos

suprimidos

nela. São demasiados os casos de pessoas

embora, em pleno século XXI, ainda não

que nunca se questionaram pois pensavam

nos é possível dizer que as mulheres e,

que nada havia a questionar (Vicente, 2020,

especialmente, que as mulheres e pessoas

2021). Também acontece que, quando

lésbicas se sentem seguras, protegidas ou

existe, a representatividade lésbica é

era

reconhecida,

aprisionados

quanto

e

43

sendo

incapazes

que de

se

facilmente rever

na


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

(CONTINUAÇÃO) revestida

de

estereótipos.

A

arte

mostra apenas uma realidade: que ainda é

cinematográfica lésbica ainda é muito

preferível,

centrada nas dificuldades, adversidades e

diversidade não seja vista nem reconhecida

na profunda misoginia e lesbofobia sofrida,

(Vicente, 2021). É preferível que pessoas

e pouco no orgulho, felicidade e êxtase

como as lésbicas se escondam no quarto,

gerado pela vivência da nossa verdade, da

em segredo, ou que se misturem com o

nossa identidade.

resto da população. Abafar a identidade, o

A própria palavra - lésbica - teve que ser

orgulho, mais uma vez, voltar para dentro

apropriada pela comunidade de forma a

do armário. Mas não podemos pedir isso,

que se tornasse nossa, das lésbicas, porque

temos que falar sobre o assunto, sim. É

ainda é muito sentida como um insulto,

nosso direito e, acima de tudo, não

uma palavra feia e que dá medo, mesmo

podemos encaixar as pessoas todas na

às próprias. A realidade é que muitas se

mesma caixa.

sentem mais confortáveis a utilizar a

Por fim, é também importante falar do

palavra gay para se caraterizarem (Vicente,

gatekeeping que acontece dentro da

2020). Porém, é importante que exista este

própria comunidade, ou seja, quando as

apoderamento da palavra e da identidade,

pessoas lésbicas tentam excluir mulheres

que

trans

a

opressão

e

a

lesbofobia

e

por

muitas

pessoas

pessoas,

não-binárias

que

de

a

se

internalizada não sejam a base a partir da

apoderarem e utilizarem a identidade

qual criamos as nossas identidades.

lésbica, de se chamarem de lésbicas. É

A identidade lésbica é invisível no melhor

importante relembrar que ao fazer isto

dos dias e em vários países e o nosso não é

estamos

exceção. Podemos dizer que Portugal é um

discriminá-las e a causar sofrimento,

país que tem lutado pelos direitos das

privando-as de se identificarem com a sua

pessoas LGBTI+, pois legalmente vemos o

própria sexualidade. É preciso desconstruir

resultado

este tipo de agressão e pensar acerca das

destes

esforços,

porém,

a

as

pessoas,

identidade

a

socialmente ainda estamos muito aquém

origens

do que gostaríamos e do que é necessário

completamente associada à negação do

e justo. Toda a conversa ao redor da

binarismo e da repressão sexual (Michaeli,

afirmação “Portugal não é um país racista”

2019).

44

da

oprimir

lésbica,


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

(CONTINUAÇÃO) Voltamos assim à pergunta inicial: o que é

Referências bibliográficas

então a visibilidade lésbica? É existirmos.

Carreira, P. (2021). 25 de Abril, o ponto de

É simplesmente o direito a existir. Não

partida para o Orgulho LGBTI. [Entrada em

podemos negar uma identidade quando

website].

há pessoas que a representam, porque isso

https://esqrever.com/2021/04/25/25-de-

é negar a própria existência dessas pessoas.

abril-o-ponto-de-partida/

É sempre importante ter em mente tudo o

Michaeli, I. (2019). We were never gender

que foi alcançado com o 25 de abril, que

binary: It’s time to reclaim radical lesbian

foi muito, mas também lembrar da luta

feminism. [Entrada em website]. Retirado

que

de

continua

contentar.

e

não

um

nos

longo

deixarmos caminho

a

Retirado

de

https://www.opendemocracy.net/en/5050/

percorrer em direção à liberdade de todas

we-were-never-gender-binary-its-time-to-

as pessoas.

reclaim-radical-lesbian-feminism/ Vicente, A. (2020). 25 e 26 de abril sempre, pela liberdade e pela visibilidade. [Entrada em

website].

Retirado

de

https://esqrever.com/2020/04/25/25-e-26de-abril-sempre-pela-liberdade-e-pelavisibilidade/ Vicente, A. (2021). Não, não está tudo bem! [Entrada

em

website].

Retirado

de

https://esqrever.com/2021/04/26/nao-nao-

Foto: Rodnae Productions

esta-tudo-bem/

45


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VOL. 2 | MAIO, 2021

LUGAR DE FALA TEXTO DE OPINIÃO DE SHEILA GÓIS HABIB A ISLAMOFOBIA NA EUROPA A

Convenção

Europeia

dos

Direitos

são proibidas de o fazer? E porquê é que a

Humanos declara que “Qualquer pessoa

mesma proibição não é aplicada a freiras

tem direito à liberdade de pensamento, de

(religião Cristã), por exemplo?

consciência e de religião… assim como a liberdade de manifestar a sua religião ou a

Contextualização

sua crença, individual ou colectivamente,

Na Holanda é proibido usar a burca em

em público e em privado, por meio do

transportes públicos e edifícios públicos

culto,

como

do

ensino,

de

práticas

e

da

escolas,

hospitais

e

edifícios

celebração de ritos.” Nesse âmbito, é

governamentais (Gercama & Derks, 2020), e

possível assumir que isto garante a todas as

na Dinamarca é proibido tapar a cara

pessoas

usarem

exceto no inverno e/ou por motivos legais

roupas/vestimenta religiosa como cada

tais como o uso de capacete para quem

um/uma

ou

anda de mota (The Guardian, 2018). Em

conforme exigido pela sua religião. No

março do corrente ano, a Suíça votou

entanto, a realidade não poderia estar mais

favoravelmente na proibição do uso de

longe disto. Governos, escolas e locais de

coberturas faciais completas (Hijab, Burca e

trabalho têm proibido o uso do véu

Niqab) em locais públicos (Deutsche Welle,

islâmico, conhecido por Burca (Tribunal

2021).

Europeu dos Direitos Humanos, 2018).

Também em março, o Senado Francês

Mas será que isto faz sentido? O uso das

votou a favor da "proibição, no espaço

nossas roupas é agora um fundamento

público, de qualquer símbolo religioso, de

para a interferência dos governos? Não é a

forma conspícua, por menores, ou qualquer

roupa, religiosa ou não, uma decisão nossa?

roupa que simbolize uma inferiorização das

Porquê é que as mulheres muçulmanas

mulheres em relação aos homens" Lodi,

que usam voluntariamente o véu islâmico

2021). Mães de crianças que usam a Hijab

o

direito

considerar

de

apropriado

46


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

(CONTINUAÇÃO) estão também proibidas de acompanhálas em excursões escolares e os burquínis Priberam:

“Traje

de

banho

Foto: Rawdah Mohamed/Instagram

(dicionário

feminino, composto por calças, túnica com mangas compridas e proteção para o pescoço e cabeça, em tecido sintético elástico e leve, que cobre todo o corpo, deixando a descoberto apenas os pés, as mãos e a cara”) passarão também a ser proibidos em piscinas públicas (Lodi, 2021). Em maio, o Partido de Macron impediu também uma candidata muçulmana de concorrer a uma eleição local na França por

sentiriam se tivessem que remover a Burca,

Tal como muitas ativistas realçaram nas

as

redes sociais – enquanto a idade para

humilhante” pois a escolha para usar a

consentir para relações sexuais em França

Burca foi delas e querem ser elas a ter o

é 15 anos, para consentir para o uso do véu

poder de a retirar (Al Jazeera, 2021).

islâmico é 18 (Muhammad, 2021). A decisão

A ideia de muitas pessoas é que estas

do senado Francês deu luz a um protesto

mulheres são forçadas a usar a Burca pelos

online pelas mulheres muçulmanas que

seus maridos - e apesar de isto ser o caso

pedem um “pára” a estas medidas com

para algumas mulheres - a maioria escolhe

muitas a espalharem mensagens com o

usar a vestimenta e começam a usá-la

Foto: Rodnae Productions

usar a hijab (Público, 2021).

mesmas

alegaram

que

“seria

hashtag #HandsOffMyHijab (mãos fora do

antes de se casarem, geralmente durante a

meu hijab) (Público, 2021). O movimento

adolescência/puberdade (Gercama & Derks,

visa mostrar que forçar uma mulher ou

2020).

rapariga a usar o véu é errado, tal como

porque pretendem praticar a sua religião,

forçá-la a retirá-lo o deve ser - a escolha

cujo resultado é a discriminação - serem

tem que ser da mulher e da rapariga. Aliás,

vistas

quando mulheres e raparigas muçulmanas

simplesmente pela forma de vestir (Lodi,

foram questionadas sobre como se

2021). A situação complica-se quando a

47

Usam-na

ou

por

tratadas

escolha

como

própria,

“inimigas,”


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

(CONTINUAÇÃO) prática da sua religião faz delas alvos de

Uma proibição de coberturas faciais é um

violência, tendo sido reportados vários

ataque

incidentes desagradáveis e agressivos, tais

muçulmanas. Estas leis que os governos

como serem empurradas com o carrinho

europeus alegam que é para “proteger as

de compras no supermercado por pessoas

mulheres

desconhecidas (Gercama & Derks, 2020).

contrário – confinam-nas em casa, e

Há ainda muitas pessoas a favor destas

impedem o seu acesso a serviços públicos

proibições pois as “mulheres [muçulmanas]

(Deutsche Welle, 2018).

vivem

Infelizmente, o modus operandi de muitos

num

país

europeu,

logo

não

à

autonomia

das

muçulmanas”

o

efeito

partidos

véus é como tortura, pelo que os governos

disseminação

fazem muito bem em proibir o uso da

muçulmanas (Alouane, 2021). É a venda do

burca” (Gercama & Derks, 2020). Mas nisto

preconceito

que

tudo, não está a ser considerado o ponto

terroristas

pertencem

de vista destas mulheres, e o que elas

muçulmana, e que o uso da Burca é um

desejam fazer. Pior, estas leis estão a ser

ataque

decididas sem incluir nem ouvir estas

ameaça do terrorismo (Warner et al., 2020).

mulheres (Alouane, 2021).

Entendo que como eu muitas pessoas

Na França e na Suíça, estas medidas foram

temam as pessoas terroristas. Por um lado,

decididas durante a pandemia COVID-19, o

não queremos que o medo nos silencie

que não podia deixar de ser mais irónico - é

mas

obrigatório o uso de máscaras faciais, mas

impotentes. Mas deixar o medo dominar-

proibido o uso da Burca. Ao que parece, as

nos,

mulheres poderão ser multadas tanto por

preconceito

usar como por não usar coberturas faciais,

muçulmanos/as

dependendo de sua finalidade – sendo

indivíduos não é aceitável. E para que fique

aceitável cobrir o rosto para a saúde

bem claro – o terrorismo não tem religião.

pública,

O terrorismo é um produto de crenças

não

pela

religiosa

muçulmana (Warner et al., 2020).

à

do

tem

têm

precisam de se cobrir” ou porque "o uso de

mas

políticos

mulheres

medo todas

segurança

por incitar

outro o ou

das

a

na

pessoas

as

pessoas

à

religião

nacional

lado,

ódio,

consistido

e

uma

sentimo-nos hostilidade,

o

a

violência

contra

ou

quaisquer

outros

extremistas e violentas, fomentadas pelo ódio e xenofobia. As leis que proibem o uso

O efeito destas medidas

da Burca são o resultado da normalização

48


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

(CONTINUAÇÃO) sociopolítica do “discurso de ódio, do

“a liberdade de manifestar a sua religião ou

preconceito,

dos

convicções não pode ser objecto de outras

crimes de ódio anti-islâmicos/as - é a

restrições senão as que, previstas na lei,

transformação

constituírem disposições necessárias, numa

da

discriminação da

e

islamofobia

em

legislação” (Muhammad, 2021). É inevitável

sociedade

questionar o porque da ausência de leis

pública, à protecção da ordem, da saúde e

contra o discurso de ódio islamofóbico,

moral

dado o risco que isso representa para a

direitos e liberdades de outrem” (Lei no

segurança

65/78 de 13 de outubro da Assembleia da

e

existência

das

pessoas

democrática,

públicas,

ou

protecção

contra a população muçulmana Rohingya

pretendo destacar:

e muito provavelmente está a acontecer ou

No primeiro, conhecido como Leyla Sahin

falta pouco para acontecer outro contra

contra

os/as muçulmanos/as Uigures (Amnistia

medicina foi negada a entrada num

Internacional, 2021). É de lamentar a falta

exame na Universidade de Istambul por

de atenção pela mídia e a falta de ação da

usar o véu islâmico. Lamentavelmente, o

comunidade internacional perante estes

TEDH

acontecimentos. É urgente a comunidade

justificada pelos seguintes motivos: a) o

internacional implementar uma lei contra

compromisso

a islamofobia, tal como há leis contra a

secularismo e a igualdade de género, b) a

negação

proteção

Holocausto

e

contra

a

blasfémia.

decidiu

do

dois

uma

que da

casos

dos

República,

Turquia,

segurança

muçulmanas? Já ocorreu um genocídio

do

1978).

à

à

estudante

esta

medida

Turquia

princípio

da

com

que

de

era o

pluralidade

religiosa, c) a proteção dos direitos e liberdade de outrem e d) o objetivo

A contradição do Tribunal Europeu dos

proporcionado da manutenção da ordem

Direitos Humanos

pública.

O Tribunal Europeu dos Direitos Humanos

Em Dahlab contra Suíça, uma professora de

(TEDH) rege-se pela Convenção Europeia

escola primária foi proibida de usar o véu

dos Direitos Humanos. No entanto, em

islâmico no desempenho das suas funções.

várias

a

O TEDH considerou que a interferência era

proibição do uso da Burca era justificada

justificável e proporcional pois a medida

pela Convenção pois a mesma asserta que

era destinada a proteger a liberdade dos/as

instâncias

considerou

que

49


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

(CONTINUAÇÃO) outros/as, nomeadamente dos/as alunos/as.

segurança

O Tribunal mostrou-se preocupado com "o

ofensivo. O conceito de liberdade religiosa

impacto

símbolo

é claramente inexistente na Europa (Evans,

externo, como o véu islâmico, pode ter

2006). Lamentavelmente, estamos numa

sobre a liberdade de... religião de crianças

era onde "a religião se apresenta como um

muito pequenas,” apesar de não haver

problema a ser gerido e controlado, em

reclamações

vez de uma parte integrante da vida

que

um

dos

poderoso

pais

e

mães

dos/as

pública

é

simplesmente

alunos/as.

pública e da cultura” europeia (Calo, 2011).

Estes são apenas dois exemplos das várias

O TEDH deveria ter entregue "decisões de

ocorrências onde o TEDH demonstrou que

empoderamento para as mulheres" e

as

as

retratá-las como “agentes de sua própria

muçulmanas, não têm um direito igual à

vontade” (Stuart, 2010). Em vez disso,

liberdade de religião (Brems, 2018). O

“retratou as mulheres muçulmanas como

direito à liberdade de religião na Europa

vítimas

está

proferindo

mulheres,

sujeito

principalmente

tanto

à

regulamentação

de

uma

religião

julgamentos

opressiva como

se

e as

estatal como às sensibilidades religiosas e

mulheres muçulmanas precisassem de

preconceitos (Stuart, 2010). O TEDH não

proteção de uma “cultura de dominação

teve nenhum problema em promover "a

masculina” (Evans, 2006). Esta visão é

imagem do Islão como uma ameaça à

refletida

democracia”

quando o mesmo admite ter dificuldade

(Vakulenko,

2007).

A

nas

de direitos humanos não tolerante e

consecutivamente a religião muçulmana,

degradada (Evans, 2006), onde religiões

com a igualdade de género (Evans, 2006).

minoritárias como o Islão não são bem-

Outro estereótipo invocado pelo TEDH nas

vindas (Brems, 2018). Como pode uma

instâncias onde mulheres que exerciam a

proibição

roupa

atividade profissional como professoras é

religiosa ser necessária para proteger a

que as mesmas são proselitas, tentando

ordem pública, a segurança, a harmonia

converter outros indivíduos, neste caso,

religiosa, cultura democrática e os direitos

crianças à religião islâmica (Evans, 2006).

das/os outras/os? A ideia que o uso do véu

Isso novamente justifica a necessidade

islâmico constitui uma ameaça à ordem e

urgente de proibir o uso do véu islâmico

de

usar

50

véu

Tribunal

em

direito

o

do

jurisprudência do TEDH promove uma era

do

conciliar

declarações

islâmico,

e


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

(CONTINUAÇÃO) não apenas em escolas e universidades,

[como a Itália] dispõe crucifixos nas

mas também no espaço público.

escolas públicas?“ (acordão Lautsi e outros

O que o TEDH tem vindo a demonstrar nos

contra Itália).

últimos anos é que o véu islâmico é um

Numa nota mais positiva, o Comité de

símbolo político poderoso que desafia a

Direitos Humanos da Organização das

neutralidade em edifícios oficiais como

Nações Unidas (ONU) decidiu em 2018 que

escolas e locais de trabalho (Henley, 2004),

a proibição do uso da Burca pelo governo

no entanto, o crucifixo cristão é permitido

francês violava o direito das mulheres

em

muçulmanas

escolas

e

locais

de

trabalho

de

exercerem

a

sua

(McGoldrick, 2011), pois é um símbolo

liberdade religiosa, após duas mulheres

passivo,

da

terem feito uma queixa (The Office of the

neutralidade e "não é de forma alguma

High Commissioner for Human Rights,

coercivo." No entanto, usar o véu islâmico

2018). No entanto, esta decisão não teve

deve

as

nenhum efeito - dadas as recentes leis

e

propostas no senado Francês. Igualmente,

aplicar o princípio de ... neutralidade

até à data, não há conhecimento de

religiosa nas escolas” (acordão Lautsi e

nenhuma queixa ter sido feita ao mesmo, e

outros contra Itália).

nem

ser

crenças

Mas

que

respeita

proibido

religiosas

afinal

para

princípio

"proteger

dos/as

alunos/as

a

ONU

se

mais recentes (à exceção da medida na

a falta de neutralidade? Quem decide o

Suíça) (Swissinfo, 2021). Apesar de ser

que é aceitável? Juízes/as “imparciais” que

positiva a existência da ONU, onde os

ficam do lado das pessoas cristãs? Um

Direitos Humanos regem (ou devem reger)

crucifixo cristão é um símbolo neutro, mas

a sociedade, a realidade é que as Nações

um

de

Unidas não possuem um poder real de

proselitismo? (Danchin, 2010) “Como pode

decisão, estando condicionada às decisões

o TEDH encontrar o perigo de opressão ou

dos 5 Estados-Parte que compõem o

proselitismo quando uma estudante usa

Conselho de Segurança – China, França,

um

Inglaterra, Estados Unidos da América e

véu

pública

islâmico (acordão

um

numa Leyla

que

nem

neutralidade? Quem ficará ofendido/a com

é

o

Comité

pronunciaram ainda sobre estas medidas

islâmico

decide

o

é

véu

quem

o

símbolo

universidade Sahin

contra

Rússia.

Turquia), mas não quando um Estado...

Adicionalmente, em dezembro de 2020, o

51


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

(CONTINUAÇÃO) tribunal constitucional da Áustria decidiu

abrangentes,

que a lei austríaca que proibia o uso de

educação e espaços laborais livres para

coberturas faciais religiosas por crianças

todas as culturas e religiões. É imperativo

nas escolas violava o direito da liberdade

que as mulheres muçulmanas se sintam

de religião das mesmas (BBC, 2020). Apesar

bem-vindas na Europa e em todas as outras

desta decisão ser uma pequena vitória é de

partes do mundo, e lembrar-nos que, atrás

lamentar que quando a lei entrou em efeito

das Burcas, estão seres humanos (Alouane,

em 2019, os/as legisladores/as afirmaram

2021).

que a mesma não se aplicava a rapazes

Devemos recusar-nos a viver numa era em

Siques ou Judeus que usam o solidéu

que prevalece a intolerância religiosa. É

(“pequeno barrete liso e em forma de

“necessário sancionar ou mesmo impedir

calota com que o papa, os bispos e outros

todas

dignitários eclesiásticos cobrem a parte

difundem,

superior da cabeça”). Isto prova não só que

justificam

a lei é um produto da Islamofobia, mas é

intolerância”

também uma lei discriminatória contra os

Turquia). Devemos respeitar as crenças

direitos das raparigas (BBC, 2020).

religiosas de todas as pessoas.

A conclusão é simples - a Islamofobia está

Está na altura de fazermos pressão junto

fora de controlo. A luta pelos direitos das

dos nossos governos e exigir que os

mulheres muçulmanas deve ser a luta de

mesmos

todos e todas nós. Os direitos das mulheres

desconfortáveis: a islamofobia, o racismo, o

muçulmanas são importantes, tais como os

direito das pessoas refugiadas e pessoas

das mulheres negras, os das mulheres com

imigrantes,

deficiências ou diversidades funcionais, os

reabilitação das pessoas sem abrigo, a

das mulheres indígenas, os das mulheres

proteção dos direitos LGBTI, entre muitos

sem abrigo, os das mulheres refugiadas, e

outros

de todas as mulheres.

esquecidos.

É importante que os governos repensem

concordam, lembrem-se que é por isto que

seriamente estas leis e que sejam mais

devemos

proativos ao tentar incluir todas

consciente e inteligente os/as nossos/as

as

pessoas na socieda, com iniciativas mais

líderes.

52

as

com

formas

um

de

incitam, o

ódio

que

promovem

ou

com

na

os

pobreza

assuntos

votar

contra

tópicos

menstrual,

a

frequentemente

todos e

base

Erbakan

abordarem

A

de

expressão

(acordão

a

sistema

e

a

escolher

todas de

que

forma


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

(CONTINUAÇÃO)

TIPOS DE COBERTURAS FACIAIS

(BBC, 2018)

53


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

(CONTINUAÇÃO) Referências bibliográficas

Burquini. (n.d.). In Priberam. Acedido a 11

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de

Islam’ French vote in favour of hijab ban

https://dicionario.priberam.org/BURQU%C3

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https://www.aljazeera.com/news/2021/4/9/a

Calo, Z. R. (2011, setembro). Islamic

-law-against-islam

Headscarves,

Alouane, R. (2021, 10 de março). Where

Secular Human Rights. In International

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Banned.

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56


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

LUGAR DE FALA TEXTO DE OPINIÃO DE SOFIA FIGUEIREDO DISCURSO DE ÓDIO VS. LIBERDADE DE EXPRESSÃO

De acordo com Brugger, o discurso de ódio

não é possível saber quem serão as vítimas,

pode definir-se por “palavras que tendem a

sendo apenas possível saber que existem

insultar, intimidar ou assediar pessoas em

indivíduos atingidos, pela simples razão de

virtude

etnicidade,

possuírem certas características. Por outro

nacionalidade, sexo ou religião”, tendo “a

lado, o incitamento pode ser dirigido ao

capacidade de instigar violência, ódio ou

grupo como um todo, ou seja, não são

discriminação

identificadas vítimas individuais. É nesse

de

sua

cor,

contra

tais

pessoas”

(Brugger, 2007, p.2).

caso um ataque a todo um grupo de

O conceito supramencionado pode ainda

pessoas,

dividir o discurso de ódio em dois atos:

preconceito para com o conjunto de

insulto e incitamento. O primeiro diz

caraterísticas que partilham e que são

respeito à vítima, uma vez que se baseia na

vistas como “fugindo à norma” e, como tal,

falta de respeito a um grupo de pessoas

merecedoras de ataque, podendo este

devido aos traços físicos e culturais que o

ataque compreender não só palavras

diferenciam. É importante realçar que, caso

como ações. Desta forma, quem pratica o

um determinado grupo tenha sido atingido

discurso de ódio tem como objetivo a

de forma direta, mas que, estejam incluídos

mobilização e a propaganda, utilizando

indivíduos

um grande número de estratégias para o

que

não

possuem

a

com

base

no

ódio

e

no

característica utilizada para incorrer em

alcançar (Martins, 2019).

discurso de ódio, as mesmas, ao contactar

A liberdade de expressão, que se define

com

a

como a possibilidade e liberdade para

compartilhar uma situação de violência

exteriorizar crenças, ideias, sentimentos

(Martins, 2019).

e/ou opiniões sem quaisquer restrições,

Neste caso, estará a produzir-se o que se

está também diretamente associada à

chama de “vitimação difusa”, uma vez que

existência de uma garantia da democracia,

esse

mesmo

discurso

estarão

57


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

(CONTINUAÇÃO) bem

como,

da

dignidade

da

pessoa

uma

vez

que

os

discursos

de

ódio

humana (Stroppa & Rothenburg, 2015).

facilmente adquiriram uma versão digital, é

No entanto, o abuso da liberdade de

necessário que se faça uma reflexão sobre

expressão é uma realidade que deve ser

os limites da liberdade de expressão em

considerada quando falamos do discurso e

relação

da incitação ao ódio, potencializado pelo

usadas para afetar as pessoas (Stroppa &

acesso

Rothenburg, 2015).

facilitado

e

quasi-universal

à

às

mensagens

preconceituosas

internet, garantindo aos/às usuários/as o anonimato e a impunidade na prática destes discursos (Stroppa & Rothenburg, Foto: Nothing Ahead

2015). Cabe então levantar a questão acerca de se os conteúdos que envolvem o discurso do ódio estão (ou devem estar) também protegidos pela liberdade de expressão e como

será

possível

controlar

a

discriminação, se esses discursos gozam de tal

proteção.

Para

começar

qualquer

Referências bibliográficas

argumentação a este nível, é necessário

Brugger, W. (2007). Proibição ou proteção

definir o conceito de discurso de ódio

do discurso do ódio? Algumas observações

(Stroppa & Rothenburg, 2015).

sobre o direito alemão e o americano.

O conceito de discurso de ódio baseia-se na

Direito Público, 4(15).

divulgação de mensagens que propagam

Martins, A. C. L. (2019). Discurso de ódio em

o

redes sociais e reconhecimento do outro: o

ódio

(e.g.

xenofobia,

homofobia,

islamofobia, entre outros), sendo que, este

caso M. Revista Direito GV, 15(1).

conceito

Stroppa, T., & Rothenburg, W. C. (2015).

formas

pode de

ainda

ataques

englobar com

outras

base

na

Liberdade de expressão e discurso do ódio:

intolerância, que confrontam os limites

o conflito discursivo nas redes sociais.

éticos com o único objetivo de excluir os

Revista Eletrônica do Curso de Direito da

indivíduos discriminados. Desta forma,

UFSM, 10(2), 450-468.

58


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

LUGAR DE FALA TEXTO DE OPINIÃO DE TERESA RAMOS SÁ LIBERDADE INDIVIDUAL VS. SAÚDE PÚBLICA: A DISCUSSÃO INTENSIFICASE EM TEMPOS DE PANDEMIA Estado de emergência e situação de

retroatividade da lei criminal, o direito de

calamidade: definição e diferenças

defesa dos arguidos e a liberdade de

Para fazer face à pandemia que assola todo

consciência e de religião”, e a suspensão de

o Mundo, a nível nacional, o Presidente da

Direitos implica o respeito pelo “princípio

República

da igualdade e não discriminação” – artigo

tem

Emergência,

decretado estando

Estado

de

todos/as

2º, números 1 e 2.

obrigados/as a seguir determinadas regras

Posto

e sujeitos/as a restrições – até de Direitos

permitida a aplicação de restrições, por

Fundamentais – possível devido ao que

períodos limitados de tempo e de certos

consta no artigo 19º da Constituição da

Direitos Fundamentais, no entanto estas

República Portuguesa.

têm

A Lei nº 44/ 86, de 30 de setembro,

calendarizadas e não deverão exceder o

estabelece o “Regime do Estado de Sítio e

estritamente necessário.

do Estado de Emergência”, sendo que

À data da redação deste artigo, encontrava-

estes “só podem ser declarados nos casos

se em vigor a Resolução do Conselho de

de agressão efetiva ou iminente por forças

Ministros n.º 45-C/2021, que declarava a

estrangeiras,

ou

situação de calamidade, no âmbito da

constitucional

pandemia da doença COVID-19, até às

perturbação

de da

grave ordem

ameaça

isto,

de

é

ser

constitucionalmente

legítimas,

proporcionais,

democrática ou de calamidade pública” –

23:59h do dia 16 de maio de 2021.

artigo 1º, número 1. A declaração do Estado

Essa Resolução ressalva que “o esforço

de Emergência “em nenhum caso pode

dos/as

afetar os direitos à vida, à integridade

política

pessoal,

progressão

à

identidade

pessoal,

à

capacidade civil e à cidadania, a não

Portugueses/as, de

testagem da

aliado massiva

vacinação,

a

uma e

de

permitiu

redução sustentada no número de novos

59

a


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

(CONTINUAÇÃO) casos diários de infetados/as com a doença

não depende de um decreto do Presidente

COVID-19, verificando-se, de igual modo,

da República; a declaração do estado de

uma redução do número de internados/as

calamidade é da competência do Governo

em hospitais e da taxa de ocupação das

e é aplicada através de Resolução do

unidades de cuidados intensivos, tendo

Conselho

sido cumpridos os critérios identificados

trâmites normais do processo legislativo.

pelos/as peritos/as como fundamentais

Em ambos os casos, quem desobedecer ou

para o controlo da pandemia”.

resistir às ordens das autoridades será

No entanto, apesar de a situação estar um

punido/a por crime de desobediência, com

pouco mais controlada, “a necessidade de

as molduras penais a serem agravadas em

prevenção

um terço nos casos mais graves, podendo a

da

doença,

contenção

da

pandemia e garantia da segurança dos/as

de

Ministros,

seguindo

os

pena ser de prisão e ir até 1 ano e 4 meses.

Portugueses/as, aliada ao levantamento gradual

das

interdições

Liberdade individual e saúde pública:

decretadas durante o período em que

excesso de paternalismo por parte do

vigorou o estado de emergência, implica a

Estado?

necessidade de manutenção de medidas,

Durante o estado de emergência e, agora, o

ainda que menos restritivas”.

de calamidade, começou a intensificar-se a

Posto isto, qual é a diferença entre estado

discussão em torno das restrições à

de emergência e situação de calamidade?

liberdade individual em prol da saúde

O estado de emergência encontra-se

pública, tendo-se acusado o Estado de

previsto na Constituição da República

excesso de paternalismo.

Portuguesa – artigo 19º – e a sua declaração

A verdade é que só com o surgimento do

compete ao Presidente da República –

Estado Social, principalmente no pós II

artigo 134º. Já o estado de calamidade está

Guerra, se pôde falar em saúde pública

previsto na Lei de Bases da Proteção Civil –

como valor objetivo, cujas proteção e

Lei n.º 27/2006, 3 de julho –, criada em

promoção são assumidas como missões

2006 e já por várias vezes revista. Neste

do Estado. A comunidade internacional

caso,

reconheceu esta necessidade logo em

ao

suspensões

contrário

do

e

estado

de

emergência, uma situação de calamidade

1948, afirmando no número 1 do artigo 25º

60


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

(CONTINUAÇÃO) da

Declaração

Direitos

exigir do Estado e demais entidades

Humanos que “toda a pessoa tem direito a

públicas que se abstenham de práticas

um nível de vida suficiente para lhe

potencial ou atualmente lesivas da sua

assegurar e à sua família a saúde e o bem-

saúde. Simultaneamente, impõe também

estar

um dever de defender a saúde e de a

(...)”,

criadas

Universal

tendo

pelo

dos

emergido

Estado

de

promover. Mas este dever tem como

concretizarem os objetivos da política de

objeto a saúde pública, não a saúde

saúde. Em Portugal, o despertar para esta

privada; ou seja, o Estado impõe ao/à

missão social do Estado é patente com a

cidadão/ã a obrigação de, por força da sua

segunda revisão da Constituição de 1933

inserção na comunidade, tudo fazer para

que aditou ao artigo 6º uma nova tarefa

preservar o bom estado sanitário geral,

estadual, a da defesa da saúde pública

mas não lhe impõe a obrigação de se

(número 4), passando esta a caber, em

manter, a si próprio/a, de boa saúde. Esta

primeira

conclusão tem como pilar o princípio de

linha,

ao

com

estruturas

Estado

o

e

fim

demais

entidades públicas e, em segunda linha,

liberdade,

aos/às cidadãos/ãs e pessoas coletivas de

humana

direito privado, numa tarefa comunitária

capacidade

de

Estado defende o direito à saúde de cada

solidarização

e

responsabilização

(Gomes, 1999). Os choques

um/a entre

a

necessidade

de

do e

respeito

pela de

apenas

positivamente,

pela

salvaguarda

pessoa da

autodeterminação.

sua O

negativamente,

não

impondo-lhe

um

proteção da saúde pública e a tendencial

comportamento ativo de preservação da

impenetrabilidade da esfera de liberdade

sua saúde (Gomes, 1999).

do/a cidadão/ã podem ocorrer a vários

É disto que se trata. No caso da presente

títulos (tendo nós já assistido a diversas

pandemia, as pessoas podem não ter as

situações que comprovam tal afirmação,

precauções

como pais e mães que se recusam a vacinar

importarem com a sua saúde, integridade

os/as seus/suas filhos/as).

física ou morte. No entanto, isto não se

O artigo 64º da Constituição assegura o

limita a uma questão individual, uma vez

direito à saúde de cada pessoa, o qual, na

que podemos infetar outras pessoas que

vertente negativa, permite à/ao cidadão/ã

se pautam por esses mesmos cuidados ou

61

aconselhadas

por

não

se


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

(CONTINUAÇÃO) que, uma vez infetadas, podem não ter

que “a vida em sociedade só tem direitos e

mecanismos de defesa suficientes, no seu

nenhuns deveres” (Anjos, 2020).

organismo, para combater o vírus. Não é

Gostaria de destacar algumas das palavras

uma questão de saúde individual, mas sim

que foram escritas pelo humorista Bruno

pública.

Nogueira, no Instagram, que na altura da

Caso o vírus não se comportasse desta

sua publicação me fizeram todo o sentido,

maneira,

houvesse

uma vez que iam ao encontro da forma

possibilidade de ser transmitido uma vez a

como penso e acredito que se deve pautar

pessoa infetada, cada um/a teria liberdade

o

e capacidade de autodeterminação para

pandemia. Palavras que de humor não têm

escolher a forma como lidaria com a sua

nada e que encaixam que nem uma luva

infeção.

aos/às que apenas olham para o seu

ou

seja,

não

nosso

comportamento

face

a

esta

umbigo e atribuem pouca ou nenhuma Negacionistas: desinformação,

importância à saúde dos/as que os/as

preconceito e teorias infundadas

rodeiam.

Para adensar a discussão assistiu-se, ao

“O desconhecido dá medo, é o escuro das

longo do último ano e um pouco por todo

crianças. A contenção não é cobardia, é

o

teorias

trunfo. Há uma coisa importante no meio

negacionistas – “São os/as que vêem em

disto tudo: a negação do problema não o

tudo forças escondidas para dominar o

elimina, só o incendeia. Não é por me

mundo, como nos maus filmes de ação ou

sentir saudável que sigo a vida como se

de ficção científica. Os/as que dizem que

nada

tudo isto é muito suspeito e imaginam que

qualquer momento contrair o vírus, e

a pandemia foi obra da China – um vírus

antes de ter sintomas espalhar a quem

criado

não

Mundo,

em

ao

surgimento

laboratório

para

de

arrasar

e

estivesse

tem

a

sistema

acontecer.

imunitário

Posso

forte

a

o

controlar de seguida a Humanidade. Ou

suficiente para o combater. Isto não é

os/as que acham que as vacinas em estudo

sobre mim, é sobre uma coisa maior do que

trarão um chip localizador para nos vigiar.”;

eu. É sobre nós. E é esse degrau mental que

são os/as que “recusam a obrigação do uso

me faz ter consciência que a minha

da máscara”; e, ainda, os/as que acreditam

prioridade tem de ser coletiva, e não

62


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

(CONTINUAÇÃO) minha e do meu espelho. Não ceder ao

Quando a pandemia surgiu, ouvi, diversas

pânico, o pânico é um vírus que mata por

vezes, que esta nos iria tornar pessoas

dentro. Os/as outros/as somos nós, hoje

melhores, no sentido de sermos mais

mais do que nunca. (…) não multiplico o

solidários/as com as/os outras/os; de haver

que leio na imprensa nem faço vista turva.

promoção do espírito de entreajuda – uma

Filtro.

à

vez que não conseguiríamos ultrapassar

indiferença, são os dois contagiosos. Nesta

esta pandemia se tivéssemos uma visão

história não há nós e eles/as, há todos/as.”

individualista. Mais de um ano depois do

Estas palavras foram escritas a 12 de março

aparecimento do SARS-CoV-2, não há essa

de 2020 e, mais de um ano depois,

certeza.

Não

ceder

à

histeria

nem

continuam a fazer sentido face às pessoas que

ainda

acreditam

em

teorias

da

A

forma

como

a

pandemia

expôs

conspiração e espalham desinformação.

situações de desigualdade

Teorias, essas, que geraram, um pouco por

É importante lembrar que a pandemia

todo

afetou, de grande modo e na sua maioria,

o

Mundo,

reações

violentas

e

discursos de ódio contra pessoas chinesas.

as

mulheres,

expondo

situações

de

desigualdade que estão longe de ser novidade. Mais trabalho e precariedade, menos reconhecimento, menos dinheiro e acesso desigual aos lugares de topo. O diagnóstico

da

situação

laboral

das

mulheres agravou-se com a pandemia. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho, 41% das mulheres trabalham nos setores mais duramente atingidos pela pandemia e são também as mulheres que estão em maior número na linha da frente,

ocupando

empregos

com

mais

de

relevância

70%

dos

sistémica

(hospitais, lares ou escolas, empregadas de

63


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

(CONTINUAÇÃO) limpeza ou do comércio) (Bizzaro, 2021).

um dos principais veículos de comunicação

Para além da questão do desemprego,

de resultados científicos e têm sido objeto

também o teletrabalho veio realçar as

de estudo no que diz respeito à sub-

desigualdades de género nomeadamente

representação feminina enquanto autoras

no que diz respeito à divisão das tarefas

de textos (Candido & Campos, 2020).

domésticas – que caem, quase sempre, nas

Segundo

mãos das mulheres – e no cuidados dos/as

Exteriores, União Europeia e Cooperação da

filhos/as que se viram, igualmente, em casa

Espanha,

a ter aulas.

reconhecimento

Fruto deste acumular de tarefas, houve,

remunerado,

também, uma redução da submissão de

salarial e as políticas fiscais e de proteção

artigos científicos por parte das mulheres

social

em comparação com os homens. “As

empoderamento económico e evitar uma

submissões de artigos científicos escritos

maior feminização da pobreza”.

a

ministra

Arancha a

devem

das

González do

Relações Laya,

trabalho

redução

da

resultar

“o não

diferença no

seu

por homens aumentaram quase 50%. A percentagem pode mesmo chegar aos

Maio de 2021

100%,

que

Em Portugal, o número de contágios

confirmam este fenómeno: investigadoras,

diminuiu; o mesmo aconteceu com o

fechadas em casa com filhos/as sob tutela,

número de mortes e de pessoas internadas

começaram a ficar para trás em relação

nos cuidados intensivos. Há que continuar

aos colegas homens. Mesmo que eles

o esforço que todos/as temos feito até

sejam os seus maridos.” (Leal, 2021).

agora – continuar a limitar os convívios com

A publicação de artigos tem relevância,

amigos/as ou familiares; usar máscara; lavar

uma vez que tem peso nos atuais sistemas

e desinfetar as mãos com regularidade. É

de

de

segundo

avaliação

estudos

do

recentes

desempenho

de

relembrar

que

se

pretende

um

pesquisadoras/es, que influencia não só as

distanciamento físico mas não social.

possibilidades

um

É urgente a criação de políticas que não

emprego, como também de conquistar

promovam o trabalho precário e que

financiamento de projetos e visibilidade

visem o achatamento da desigualdade de

académica. As revistas especializadas são

género e que, nesse sentido, promovam

de

se

encontrar

64


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

(CONTINUAÇÃO) género e que, nesse sentido, promovam

Pública Vs. Liberdade Individual: Casos da

uma igual participação pública de homens

vida de um médico de saúde pública.

e mulheres.

Disponível

A vacina veio, inegavelmente, devolver

https://www.icjp.pt/sites/default/files/medi

alguma

a/289-133.pdf

esperança

e

representa

uma

em

“lufada de ar fresco” que nem as máscaras

Leal, S. (2021, 15 de fevereiro). Mulheres

impedem que chegue à nossa alma.

escreveram

Continuemos!

durante

menos a

pandemia

submeteram Referências bibliográficas Anjos,

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Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

LUGAR DE FALA TEXTO DE OPINIÃO DE TEX SILVA OS CRIMES DE ISRAEL E A LUTA DA PALESTINA PELA LIBERDADE “Não há simetria. Há um Estado que tem dois povos na mão. Um povo tem direito à vida, tem dignidade, tem liberdade de movimentos. E outro povo está completamente refém há 73 anos.” ‒ Alexandra Lucas Coelho, 18 de maio de 2021, RTP2 A segunda metade do mês de maio de 2021

tem

sido

forma

infraestruturas, matando cerca de 2000

significativa, pelos acontecimentos na

pessoas nos últimos 13 anos. O direito a

Faixa da Gaza, no Território Ocupado da

protestar não existe para o povo da

Palestina

agitação

Palestina que é recebido com fogo aberto

ofensivos,

se se tentar aproximar das barreiras físicas

terrestres e aéreos, sobre a população

que separam Gaza e o OPT, mesmo quando

Palestiniana, numa escalada de violência

de forma passiva (Human Rights Watch,

rápida e mortal, que vitimou até à data da

2021b).

redação deste artigo cerca de 200 pessoas

padrão de uso de força excessivo e

Palestinianas. Numa só semana, os ataques

desproporcional, que transforma esta luta

de Israel sobre Gaza vitimaram mais

pela liberdade, ou pelo seu retorno, que há

Palestinianos/as do que todos os “ataques”

décadas dura, numa luta sem fim.

da Palestina sobre Israel vitimaram desde

Nas reportagens temos lido e ouvido

2000 (Hajjaji, 2021).

informações sobre um conflito entre Israel

A atitude das autoridades Israelitas face a

e

comportamentos e movimentações em

propositadamente passivo, coloca ambos

Gaza considerados hostis tem sido, desde

os Estados em pé de igualdade. Mas

2008, responder com o uso da força,

pedras, atiradas pelas mãos do povo da

lançando ofensivas à escala militar sobre a

Palestina e das suas crianças, numa nova

população, de forma indiscriminada,

tentativa de reclamar o seu direito sobre as

(OPT).

culminaram

em

marcada,

Noites

de

incluindo ataques diretos a civis e a

de

ataques

66

Estas

Palestina,

práticas

sendo

culminam

que

o

num

discurso,


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(CONTINUAÇÃO) suas terras, não são equiparáveis àquela

autorização para despejar, confinar, separar

que representa a 4ª potência militar a

e subjugar o povo Palestiniano, aos mais

nível mundial. Não podemos falar de

variados níveis. Estas violações dos seus

conflito quando estamos perante um

Direitos Humanos e fundamentais têm

Estado que exerce um regime restritivo de

sido tais, que a comunidade internacional

direitos e liberdades sobre outro, restringe

tem discutido a possibilidade de estarmos

os seus movimentos, o despoja da sua

perante os crimes contra a humanidade

propriedade e anexa as suas terras, sob o

de

nariz de toda a comunidade internacional.

Rights Watch, 2021b).

Mas para compreender o escopo da

Mas é possível que seja esse o caso?

situação e para compreender o que está

Estaremos

por trás da luta Palestiniana, é necessário

humanidade? Ou perante um conflito entre

compreender primeiro, ainda que a um

duas nações em pé de igualdade? Alerta de

nível

superficial

spoiler ‒ a comunidade internacional tem

(incentivando as/os nossas/os leitoras/es a

razão nas suas preocupações. Não é um

fazer

se

conflito; é criminal, à luz do Direito

pretenderem aprofundar a informação que

Internacional. Vejamos a lei antes de

será disponibilizada neste artigo), o flagelo

enumerar os atos em si.

que tem sido vivido pelo povo da Palestina

Segundo o Estatuto de Roma do Tribunal

às mãos do Estado de Israel há mais de 50

Penal

anos e as graves violações dos seus

ratificação pela Resolução da Assembleia

Direitos Humanos.

da República nº 3/2002, de 18 de janeiro,

Cerca de 6,8 milhões de Israelitas e cerca

entende-se

de 6,8 milhões de Palestinianos/as vivem

Humanidade (art. 7º, nº1) “qualquer um dos

atualmente em Israel e no OPT, sendo que

actos

o

Bank,

quadro de um ataque, generalizado ou

Jerusalém-Leste e a Faixa de Gaza. Israel é o

sistemático, contra qualquer população

poder

do

civil, havendo conhecimento desse ataque”,

território. Na busca pelo poder total sob o

sendo que os atos mencionados incluem,

OPT, as autoridades Israelitas têm

entre outros, al. “h) Perseguição de um

bastante a

último

sua

basilar

e

própria

compreende

governamental

pesquisa

o na

West

maioria

67

Apartheid

e

Perseguição

perante

crimes

Internacional,

por

seguintes,

(Human

contra

aprovado

Crime quando

Contra cometido

a

para

a no


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(CONTINUAÇÃO) grupo ou coletividade que possa ser

destruir

identificado, por motivos políticos, raciais,

reconhecimento, o gozo ou o exercício, em

nacionais, étnicos, culturais, religiosos ou

condições de igualdade, dos direitos do

de sexo, (...)”; e “j) Crime de apartheid”.

homem e das liberdades fundamentais nos

Ainda no nº2 do mesmo artigo, o Estatuto

domínios político, económico, social e

acrescenta

cultural ou em qualquer outro domínio da

que

se

entende

por

ou

comprometer

o

Perseguição “a privação intencional e grave

vida pública.”

de direitos fundamentais em violação do

Importa ainda mencionar o art. 7º, nº 1, al.

direito

motivos

d) do Estatuto de Roma que define

relacionados com a identidade do grupo

“Deportação ou transferência à força de

ou da coletividade em causa;” (al. g)), e por

uma população” como crime contra a

Crime

acto

humanidade, continuando dizendo na al.

desumano análogo aos referidos no n.º 1,

d) do seu nº 2, que “Por «deportação ou

praticado no contexto de um regime

transferência à força de uma população»

institucionalizado de opressão e domínio

entende-se

sistemático de um grupo rácico sobre um

pessoas através da expulsão ou de outro

ou outros e com a intenção de manter esse

ato coercivo, da zona em que se encontram

regime;” (al. h)). Se, no caso do apartheid,

legalmente,

questiona a sua aplicabilidade ao povo

reconhecido em direito internacional;”.

Palestiniano devido à conotação racial que

Estando estabelecida a base legal, passam

o apartheid, como conceito, acarreta, esta

a enumerar-se os atos cometidos pelo

dúvida é facilmente esclarecida quando

estado de Israel sobre o povo da Palestina

olhamos ao art. 1º, nº 1, da Convenção

no OPT.

Internacional para Eliminação de Todas as

Ao longo de 2020, as autoridades e o

Formas

governo Israelitas continuaram a exercer

define

internacional

de

de a

apartheid

por

“qualquer

Discriminação discriminação

Racial, que

deslocação

sem

coativa

qualquer

de

motivo

como

um sistema de repressão e discriminação

“qualquer distinção, exclusão, restrição ou

contra o povo Palestiniano, excedendo

preferência

cor,

qualquer justificação legal (Human Rights

ascendência ou origem nacional ou étnica

Watch, 2021a). Nas últimas cinco décadas, e

que tenha como objetivo ou como efeito

tendo-se mantido até aos dias de hoje, as

fundada

na

racial

a

raça,

68


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(CONTINUAÇÃO) autoridades

Israelitas

a

reunião e associação, e da confiscação das

movimentação de cidadãos/ãs Israelitas

suas terras e propriedade, forçou milhares

para o OPT, uma vez que Israel detém o

de palestinianos/as a deixar as suas casas,

controlo

do

atos que cabem, e podem ser equiparados,

espaço aéreo, do mercado de importações

à definição legal de transferência à força

e exportações, da segurança e do próprio

de

registo

anteriormente quando se discutiram as

primário

de

imposta

têm

das

cidadania.

aos

palestiniano

facilitado

fronteiras,

Esta

movimentos e,

limitação do

povo

concomitantemente,

uma

população,

mencionada

definições legais que constam do direito

a

internacional

(Human

Rights

Watch,

facilitação dos/as Israelitas em estabelecer

2021b).

residência dentro do OPT objetivam a

Israel continuou, em 2020, a anexar

manutenção

território Palestiniano e a relocar as

dominante,

de

Israel

assim

como

como

o

as

povo

próprias

famílias

que

residiam

várias

políticas impostas que se definem a si

gerações,

próprias como instrumentos de segurança

citando leis retroativas e largamente

de proteção contra a “ameaça demográfica

discriminatórias

que os/as Palestinianos/as representam”

terrenos como desocupados ou como

(Human Rights Watch, 2021b).

tendo pertencido a Israel nos anos que

Além da proibição da entrada de pessoas

antecederam 1948. Além disso, a fronteira

palestinas em Gaza, o Governo Israelita

física construída com o intuito de dividir os

tem vindo a restringir, de forma cada vez

dois territórios (e sob o falso pretexto da

mais exigente, a liberdade de movimentos

segurança) situa-se não nas fronteiras

dos dois milhões de Palestinianos/as que

“reais”, mas sim, na sua grande maioria,

ainda vivem na zona, limitando o seu

dentro do West Bank, cortando o acesso

acesso a água e eletricidade e deixando

de milhares de Palestinianos/as aos seus

estas

pessoas

definiam

esses

ajudas

terrenos de agricultura e isolando cerca de

Rights

Watch,

11.000 pessoas que vivem no lado Oeste da

condições

barreira e que não têm autorização para

desumanas, acrescido da suspensão dos

viajar para Israel, não podendo assim

seus direitos civis, como a liberdade de

aceder à sua propriedade (Human Rights

2021a).

A

mercê

que

Jerusalém-Leste,

das

humanitárias

à

incluindo

(Human

imposição

dessas

69


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(CONTINUAÇÃO) Watch, 2021a). Na zona ocupada de West

contra a humanidade, concluiu a Human

Bank, Israel submete o povo Palestiniano a

Rights

leis militares que se assemelham ao

descrição dos abusos cometidos no OPT

direito draconiano e impõe um sistema de

que

segregação.

Palestinianos/as

Por

outro

lado,

na

zona

Watch

privam

(2021b)

baseando-se

diariamente dos

milhões

seus

na de

direitos

anexada de Jerusalém-Leste, que Israel

universais de residência, à propriedade

considera como seu território soberano

privada, de acesso ao território, a serviços

contrariamente

lei

e recursos (como educação, segurança e

internacional, o Estado prevê estatutos

saúde), à identidade, e em especial, à

legais especiais para o povo Palestiniano

liberdade.

que enfraquecem os seus direitos de

A nível da intervenção internacional, em

residência (Human Rights Watch, 2021b).

2020 os Estados Unidos da América (EUA)

As pessoas Palestinianas que residem em

apresentaram um plano que se tem vindo

Israel, ao contrário das residentes no OPT,

a chamar de “Solução de Dois-Estados”,

podem votar nas eleições Israelitas, no

plano esse que previa, por um lado, a

entanto este facto em nada diminui o seu

dominação permanente de Israel sobre

sofrimento

de

grandes partes do território do West Bank

discriminação sistémico que as visa, que

e a anexação formal de zonas como o Vale

inclui mas não se circunscreve à restrição

do Jordão e partes da Área C, e, por outro

de movimentos e proibição de reunião

lado,

com as suas famílias no OPT e West Bank.

concretização de um estado Palestiniano

Na

(Human

às

verdade,

ao

que

mãos

esta

do

afirma

a

regime

fragmentação

da

tornaria Rights

quase Watch,

2021a).

Mas

a a

população Palestiniana auxilia Israel na

consciencialização

busca de domínio total, permitindo-lhe

internacional para os crimes contra a

obscurar a repressão de direitos de milhões

humanidade cometidos por Israel tem

de Palestinianos/as, a diferentes níveis e em

levado

diferentes áreas (Human Rights Watch,

abordagem ao conflito, em especial no que

2021b).

diz respeito à postura dos EUA, que se tem

Os atos até agora descritos justificam a sua

recusado a tomar uma posição firme e a

classificação como perseguição, um crime

condenar o regime, mantendo a sua

70

a

pedidos

da

impossível

de

comunidade

reavaliação

da


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(CONTINUAÇÃO) postura como aliado de Israel, postura essa

níveis

que culminou, em 2018, numa das piores

sancionar as violações de Direitos Humanos

decisões geopolíticas da História dos EUA

cometidas por Israel sobre o povo da

com a mudança da Embaixada dos EUA

Palestina (Human Rights Watch, 2021a),

em

com alguns Estados a tomar uma posição

Israel

ocupado

para

da

Jerusalém,

Palestina

território

(Human

Rights

travar

qualquer

neutra/centrista

e

tentativa

diplomática,

declarar-se

A posição centrista que procura uma

Quanto aos Estados-Parte da Organização

Solução

das Nações Unidas (ONU), torna-se urgente

Dois-Estados

quanto

ao

pró-Ocupação.

conflito Israel-Palestina não é viável a

e

curto, médio ou longo prazo. Mas além da

publicamente

sua (in)viabilidade, devemos perguntar-

Palestina e contra os graves crimes contra

nos se é justa, ou mesmo humana. Na sua

a humanidade cometidos pelo Estado de

essência, ela prevê a negligência e omissão

Israel, pedindo que o último abandone o

de um sistema que durante décadas tem

OPT. Para além da condenação pública, a

oprimido

ONU deve atuar usando o seu poder de

e

Palestiniano,

discriminado minimizando

o

povo

todo

o

veto,

decisivo

e

a

Watch, 2021b). de

pró-Israel

ou

de

travando

se

contra

a

acordos,

ocupação

esquemas

importação e exportação, e trabalhar no

da ocupação, a ser curados por um

sentido de identificar os agentes direta e

qualquer “processo de paz” que virá.

indiretamente envolvidos na segregação e

aconselhar

o

(UE)

Governo

formas

de

tratando-os como sintomas temporários

Europeia

as

da

cooperação

União

todas

posicionem

sofrimento e todos os abusos cometidos e

A

e

que

de

tem

vindo

a

perseguição do povo Palestiniano, com o

de

Israel

a

foco na aplicação de sanções (Human

abandonar os seus planos de anexação e a

Rights Watch, 2021b).

travar

nos

O Tribunal Criminal Internacional (TCI)

a

concluiu, em dezembro de 2019 e após

ilegalidade desses atos ao abrigo da Lei

uma análise preliminar do conflito Israel-

Internacional Humanitária. No entanto, o

Palestina, que estavam preenchidos os

conflito ideológico entre os diferentes

requisitos necessários para avançar com

Estados-Membros da UE tem vindo a vários

uma investigação formal dos crimes

os

territórios

projetos

de

colonizados,

construção destacando

71


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(CONTINUAÇÃO) cometidos (Human Rights Watch, 2021a). O

insubmissa,

Estado da Palestina é abrangido tanto pelo

coincidentemente, a Liberdade, falemos da

Estatuto de Roma como pela Convenção

resposta de Portugal aos confrontos que

Internacional de 1973 sobre a Supressão e

têm marcado as esferas social, política e

Punição do Crime de Apartheid, pelo que

humanitária este mês de maio.

em fevereiro deste ano, o TCI decretou que

Demarcando-se pela negativa, o Ministério

tem jurisdição para atuar quanto aos

dos

crimes

publicou

internacionais

cometidos

na

cuja

Negócios

temática

Estrangeiros

nas

redes

é,

Português

sociais

uma

totalidade do OPT, incluindo os crimes de

mensagem

Apartheid e Perseguição. Em março de

“lançamento indiscriminado de mísseis a

2021, o Procurador do TCI anunciou a

partir da Faixa de Gaza contra civis

abertura de inquérito para investigação

israelitas”, sendo esta recebida com uma

formal da situação na Palestina (Human

enchente de respostas condenando, desta

Rights Watch, 2021b).

vez, o próprio tweet (Moreira, 2021). Quase

É de salientar que a comprovação dos

como em forma de resposta, o Partido

crimes de Apartheid e de Perseguição não

Comunista Português (PCP), o Bloco de

negam a realidade da ocupação e não

Esquerda

eliminam as obrigações que cabem a

Assembleia da República Joacine Katar

Israel ao abrigo da legislação internacional

Moreira,

(Human Rights Watch, 2021b), que inclui as

regime de Apartheid imposto pelo Estado

Convenções de Haia e de Genébra e que

de Israel e as contínuas violações dos

regulam a ocupação. Assim sendo, Israel

Direitos Humanos do povo Palestiniano,

deve

comunidade

pedindo uma posição firme do Governo

internacional a abandonar o OPT, sendo

Português que vá ao encontro dos tratados

que quaisquer possíveis sanções aplicadas

e

deverão vir em segundo plano, após o povo

Também a Associação Plano i, da qual esta

da Palestina ser libertado.

revista faz parte, publicou, em forma de

Voltando ao início e aos acontecimentos

carta aberta, a sua condenação pelos

que trouxeram a necessidade de escrever

crimes de Israel, defendendo a libertação

este artigo para a 2ª Edição da Revista

da Palestina.

ser

ordenado

pela

72

de

central

(BE)

e

condenação

a

condenaram

resoluções

pelo

representante publicamente

internacionais

na o

vigentes.


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(CONTINUAÇÃO) O

Governo

Português,

entanto,

direito do povo Palestiniano ter direito à

manteve-se fora das linhas de jogo, sendo

sua pátria, a viver em paz na sua própria

que o Primeiro-Ministro António Costa não

pátria, no seu próprio país (...) infelizmente

se pronunciou, a não ser para concordar

não tem acontecido, com a desobediência

com o Presidente dos Estados Unidos Joe

sistemática por parte de Israel a esse direito

Biden de que “ambos os lados” devem

internacional,

cessar-fogo, de forma a voltar a um

Infelizmente, vemos a UE, de uma forma

patamar onde seja possível a conciliação e

hipócrita, a tentar responsabilizar tanto o

a paz entre os dois Estados. Mas esta tem

agressor como o agredido.”

sido a postura desde a década de 60 e,

Uma semana após o início dos ataques à

como já foi possível apurar, é insuficiente,

Faixa de Gaza, e um dia após o ataque e

para lá de inviável.

subsequente destruição do edifício que, em

Em declarações prestadas ao Observador

Gaza, abrigava escritórios da Al Jazeera

(Lusa, 2021), e no que diz respeito à postura

Media Network e da American Associated

de António Costa, Jerónimo de Sousa, líder

Press (Pietromarchi, Gadzo, & Siddiqui,

do PCP, comentou: “Vemos também que o

2021), estruturas de jornalismo que há

Presidente

nesta

anos reportam e documentam os abusos e

posição que tenta embrulhar numa certa

demais acontecimentos em Israel e no

reconsideração

e,

OPT (ataque este que constitui um crime

simultaneamente, o Governo Português,

de guerra), várias cidades, espalhadas por

que balança nestas posições, que navega

todo o mundo, organizaram concentrações

nestas

essa

e protestos em solidariedade para com a

identificação inaceitável em que põe os

Palestina, exigindo a sua libertação e a

dois [Israel e Palestina] ao mesmo nível (...)

condenação

Israel

influência

diretamente envolvidos/as com a ocupação

geoestratégica. Creio que não é saudável

e a perseguição do povo Palestiniano.

nem boa a posição do Governo Português.”.

Portugal não foi exceção, com centenas a

Acrescentou ainda “(...) em conformidade

reunirem-se no na Praça da Palestina, no

com o Direito Internacional, com decisões

Porto, e no Martim Moniz, em Lisboa, no

da própria ONU, que seja respeitado esse

passado dia 17 de maio, pelas 18h00.

dos

Estados

águas,

quer

alargar

no

Unidos,

hipócrita

assumindo

a

sua

73

a

esse

daqueles

posicionamento.

e

daquelas


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(CONTINUAÇÃO) Como terminar este artigo? Pedindo que as nossas leitoras e leitores não fiquem por aqui. Que façam a sua própria pesquisa e formem a sua própria opinião, mas que o façam de forma informada e humana. A Revista

insubmissa

recomenda-lhe

a

leitura do livro “A Liberdade é uma Luta Constante: Ferguson, a Palestina e as bases de um movimento”, de Angela Davis, um dos ícones da luta pelos direitos civis

nos

EUA

(pode

encontrar

mais

informação acerca do livro no Espaço Cultural da nossa revista). Pedimos que vejam, leiam e ouçam com atenção, não só as notícias e o tipo de linguagem que é utilizada, mas também os

Foto: Mihriban

discursos e conversas à vossa volta. O ativismo não tira férias, não tem hora para

Referências bibliográficas

despegar. E quanto ao que se passa na

Convenção

Palestina, não é guerra, nem é conflito ‒ é

Eliminação

aniquilação.

Discriminação

Internacional de

Todas Racial.

as

sobre

Formas

Resolução

de da

Assembleia da República nº 7/82, de 29 de abril. Diário da República I série, nº 99, (1982). Acedido a 18 mai. 2021. Disponível em www.dre.pt. Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional. Resolução da Assembleia da República nº 3/2002, de 18 de janeiro. Diário da República: I série, nº 15 (2002). Acedido a Por uma Palestina livre.

17 mai. 2021. Disponível em www.dre.pt

74


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(CONTINUAÇÃO) Hajjaji, D. (2021, 17 maio). Israeli Airstrikes

Económico.

on Gaza Killed More This Week Than Hamas

https://jornaleconomico.sapo.pt/noticias/a-

Rockets Have in 20 Years. Newsweek.

vergonhosa-posicao-do-governo-

Disponível em:

portugues-sobre-a-aniquilacao-na-

https://www.newsweek.com/israeli-

palestina-739343

airstrikes-gaza-killed-more-this-week-

Pietromarchi, V., Gadzo, M., & Siddiqui, U.

hamas-rockets-have-20-years-1591714

(2021, 16 maio). Israeli air raid flattens Gaza

Human

Rights

Watch.

(2021a).

World

Disponível

em:

building housing Al Jazeera. Al Jazeera.

Report 2021: Rights Trends in Israel and

Disponível em:

Palestine. Disponível em:

https://www.aljazeera.com/news/2021/5/15/

https://www.hrw.org/world-

palestinian-death-toll-in-gaza-occupied-

report/2021/country-

west-bank-mounts-live-news

chapters/israel/palestine Human Rights Watch. (2021b). A Threshold Crossed: Israeli Authorities and the Crimes of Apartheid and Persecution. Disponível em: https://www.hrw.org/report/2021/04/27/thr eshold-crossed/israeli-authorities-andcrimes-apartheid-and-persecution Lusa, A. (2021, 17 maio). Médio Oriente. Posição de Portugal não é saudável, nem boa, diz Jerónimo de Sousa. Observador. Disponível em: https://observador.pt/2021/05/17/mediooriente-posicao-de-portugal-nao-esaudavel-nem-boa-diz-jeronimo-de-sousa/ Moreira, R. S. (2021, 16 maio). A vergonhosa posição do Governo português sobre a aniquilação na Palestina. O Jornal

75


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ABC DA IGUALDADE ABCDEFGHIJLMNOPQRSTUVXZ BIGAMIA Antes

de

mais,

essencial

legalmente reconhecida naquele país. Por

proceder a uma distinção clara entre os

fim, o conceito de poliamor (polyamory)

conceitos

tem vindo a ganhar reconhecimento como

de

mostra-se

bigamia,

poligamia

e

poliamor (polyamory). A bigamia não é um

um

conceito social, mas sim um conceito legal

orientação sexual, que define a prática de

e cível, definido como “o ato de contrair

se

segundo casamento legal, sem terminar o

sexualmente com mais do que uma

casamento legal anterior”. Apesar de o

pessoa, sendo este relacionamento, um

conceito ser usado no contexto social de

relacionamento

forma

monogâmico,

negativa

e

frequentemente

comportamento relacionar

sexual,

ou

afetivamente

não-casual com

o

e

uma e/ou

não-

conhecimento,

acompanhado de juízos de valor de cariz

consentimento e participação de todas as

moralista,

prática

pessoas envolvidas na relação. Legalmente,

reconhecida em várias culturas e por

as pessoas poliamor não são reconhecidas

milhares de pessoas, cuja religião ou

como

comunidade a encoraja.

LGBTQI+, mas tem havido movimentação

Já o conceito de poligamia, e a sua versão

para que isso se altere.

oposta poliandria, não é reconhecido como

Atualmente, e na grande parte dos países

conceito legal ou cível, sendo usada como

ocidentais, a bigamia é considerada crime,

palavra que define o “costume de ter mais

independentemente da cultura de origem

do que uma esposa ao mesmo tempo”

das pessoas que pretendem praticar e

(poliandria será o costume de ter mais do

efetivamente

que

tempo).

independentemente do seu estatuto penal,

Podemos, então, concluir que a bigamia

a prática existe, em alguns países e

não é poligamia, mas a poligamia pode

comunidades de uma forma mais aberta,

englobar a bigamia, caso a prática seja

pública e socialmente aceite do que

um

a

bigamia

marido

ao

é

uma

mesmo

76

fazendo

parte

o

da

comunidade

fazem.

Mas,


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(CONTINUAÇÃO) noutras,

consoante

da

Idade Média e do Direito Canónico até ao

localidade, sendo que onde existe uma

Séc. XXI, já esqueceu as suas origens,

grande influência religiosa em defesa da

porque a prática da poligamia (e, neste

monogamia, a prática tende a ser vista

caso, referindo o conceito social e histórico,

como desviante e imoral.

e não o conceito legal de bigamia) e o

Na Índia, Egito, Indonésia, Irão, Líbia,

envolvimento em relacionamentos afetivo-

Marrocos, Filipinas, África do Sul, entre

sexuais

outros, a Bigamia (ou uma forma legal dela)

relacionamento

é permitida ao abrigo da lei, mas apenas

instintivos. A monogamia, e os conceitos de

para os homens. Nas Maldivas, no entanto,

casamento para a vida e fidelidade que lhe

é totalmente legal, independentemente

acrescem, é o resultado de milhares de

do género.

anos de socialização e alterações culturais,

Concomitantemente, bigamia

faz

parte

os

em do

costumes

Portugal, Código

foram,

outrora, humano,

basilares

ao

naturais

e

a

em grande medida influenciadas tanto

Penal

pela religião, como pela assimilação e

Português, estando incluída na Secção I

desejo de pertencer.

dos crimes contra a família, Artigo n.º 247, onde refere que quem: a) Sendo casado,

Referências bibliográficas

contrair outro casamento; ou b) Contrair

Lourenço, L. A., Fukagawa, N. R. R. L.,

casamento com pessoa casada é punido

Ferreira, P. C. C. & Freitas, D. B. (2015).

com pena de prisão até 2 anos ou com

Descriminalização

pena de multa até 240 dias.

Direito e Sociedade, 3(1), 105-113.

da

bigamia.

Revista

Pinheiro, A. R. S. (2013, julho). Casar Nota insubmissa: Sendo ilegal, não quer

segunda vez nos sertões: Casos de bigamia

dizer que não seja praticada, ainda que as

na Capitania do Ceará Grande (1752-1798).

uniões

Apresentado no XXVII Simpósio Nacional

não

sejam

reconhecidas

pelo

Estado, e não quer dizer que seja uma

de

prática imoral ou contra-natura. De facto,

http://www.snh2013.anpuh.org/resources/a

a sociedade ocidental atual, em toda a sua

nais/27/1364932505_ARQUIVO_TEXTOANP

superioridade moral reciclada dos ideais

UH2013.pdf

anglo-saxónicos que sobreviveram desde a

Psychology Today. (n.d.). Polyamory.

77

História.

Retirado

de


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

(CONTINUAÇÃO) Acedido a 19 de maio de 2021. Retirado de: https://www.psychologytoday.com/us/basic s/polyamory#what-is-polyamory Rosa, G. F. & De Carvalho, G. M. (2016). Delito de bigamia e intervenção mínima: O casamento é, ainda, um bem jurídicopenal? Revista de Direito Penal, Processo Penal e Constituição, 2(1), 693-713.

78


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

SABIA QUE...? A UNIÃO EUROPEIA FOI CONSIDERADA UMA ZONA DE LIBERDADE LGBTI “O passo que o Parlamento Europeu deu hoje pode ter sido simbólico para muitos/as, mas é um sinal para a sociedade civil, ativistas e cidadãos/ãs LGBTIQ na Polónia, Hungria, Roménia e em toda a UE de que são bem-vindos/as e amados/as em toda a União”. Terry Reintke (Dezanove, 2021) Em março de 2021, a União Europeia (UE)

afirmou que “Aquilo que cada um/a é não

juntou-se e defendeu a proteção e respeito

tem a ver com ideologia, é uma questão de

das

gays,

identidade que ninguém pode arrancar.

intersexo),

Portanto, quero deixar claro que as zonas

repudiando as situações LGBTIfóbicas que

livres de LGBTIQ são zonas livres de

se têm vindo a observar em certos países

humanidade” (Silva, 2020).

da

pelo

Torna-se importante perceber o contexto

Parlamento Europeu, que contou com a

destas declarações. A UE trabalha para

rejeição da extrema direita, foi proclamado

garantir

que a UE é uma Zona de Liberdade LGBTI

pessoas LGBTI e repudiou, a dezembro de

(Esqrever, 2021).

2019, não só o estabelecimento de ‘‘zonas

“As pessoas LGBTIQ em toda a UE devem

livres de LGBTI’’ na Polónia e Hungria, mas

gozar da liberdade de viver e mostrar

também todos e quaisquer ataques contra

publicamente a sua orientação sexual e

os

identidade de género sem receio de

Membros. A UE continua a promover a

intolerância,

igualdade e a combater a discriminação

pessoas

bissexuais,

UE.

Na

LGBTI

transgénero

resolução

(lésbicas, e

aprovada

discriminação

ou

a

direitos

razão

proteção dos direitos das

LGBTI

da

noutros

orientação

Estados-

perseguição. As autoridades europeias a

em

sexual,

todos os níveis de governação devem

identidade de género e das características

proteger e promover a igualdade e os

sexuais (Parlamento Europeu, 2021b).

direitos fundamentais de todos, incluindo as pessoas LGBTIQ” (Esqrever, 2021).

Situação na Polónia

Durante o encontro, Ursula von der Leyen

A Polónia tem-se destacado, de forma

79

da


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

(CONTINUAÇÃO) negativa, nos seus esforços por disseminar

respeito pelos direitos Humanos, incluindo

uma

contra

os direitos das pessoas pertencentes a

pessoas LGBTI onde autoridades públicas,

minorias” e apela ao “pluralismo, a não

o Presidente e os meios de comunicação

discriminação, a tolerância, a justiça, a

usam o discurso de ódio para passar a

solidariedade e a igualdade entre homens

mensagem de que estas pessoas não são

e mulheres”

bem-vindas. Os ataques têm vindo a

Europeia, 2016).

cultura

discriminatória

(Jornal

Oficial

da

União

intensificar-se com a prisão de ativistas LGBTI e a proibição de marchas do

Situação na Hungria

Orgulho

É de salientar que na Hungria se tem vindo

LGBTI

(Parlamento

Europeu,

2021a). Nesta

a verificar uma situação de ataque aos medida,

a

Comissão

Europeia

direitos

das

pessoas

LGBTI,

respondeu, cortando o financiamento às

nomeadamente com a decisão tomada

cidades

numa das suas cidades, a novembro de

Polacas

que

adotaram

estes

mecanismos de opressão. Porém, tem sido

2020,

apelado a que sejam utilizados todos os

promoção

instrumentos possíveis para consolidar a

Posteriormente, e apenas um mês depois, o

posição da UE em relação a estas violações,

governo decidiu não aceitar a existência

como é o exemplo do artigo 7º do Tratado

de pessoas transexuais e não binárias e,

da UE (Parlamento Europeu, 2021a), que

consequentemente, limitar o seu direito a

decreta que “Se tiver sido verificada a

constituir uma vida familiar (Parlamento

existência da violação a que se refere o nº 2,

Europeu, 2021a).

o

maioria

Os últimos acontecimentos na Polónia e

qualificada, pode decidir suspender alguns

Hungria servem para relembrar que os

dos direitos decorrentes da aplicação dos

direitos

Tratados ao Estado-Membro em causa”;

trabalharam

sendo que o referido nº 2 diz respeito aos

retirados a qualquer momento, alertando

“valores

para a importância de continuar a luta,

Conselho,

do

deliberando

respeito

por

pela

dignidade

de

proibir da

pelos e

a

“disseminação

propaganda

quais

tantas

lutaram

e

LGBTIQ”.

pessoas

podem

ser

humana, da liberdade, da democracia, da

sempre.

igualdade, do Estado de direito e do

Apoiamos a posição da UE de defesa dos

80


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

(CONTINUAÇÃO) direitos LGBTI+ e apelamos ao respeito

direitos LGBTI é preocupante, e que a crise

pelos direitos destas pessoas e dos/as

que se seguirá à pandemia COVID-19,

ativistas.

poderá agravar a situação (Ilga Europa, 2021).

Rainbow Map 2020

Temos

A ILGA-Europe tem vindo a produzir um

retrocesso e guiar os países na direção

Mapa Arco-Íris que ilustra a situação legal

certa, para que atinjam o auge das suas

e em termos de políticas LGBTI na Europa.

possibilidades. Lutemos por uma Europa

Estes

verdadeiramente livre de discriminação

foram

os

resultados

de

maior

destaque, em relação ao ano de 2020 (Ilga

que

lutar

para

travar

este

LGBTI (Ilga Europa, 2021).

Europa, 2021): Não houve qualquer mudança positiva em 49% dos países; É o segundo ano consecutivo em que países estão a retroceder no Índice Arco-Íris, isto porque se verifica o desaparecimento de direitos que, até aí, as pessoas possuíam; Dentro dos movimentos de igualdade

Foto: Brett Sayles

LGBTI, os movimentos relativos aos direitos das pessoas trans são os mais

Referências bibliográficas

numerosos,

Dezanove. (2021). O Parlamento Europeu

tanto

positiva

como

declarou a UE uma "Zona de Liberdade

negativamente; maior

LGBTIQ" [Entrada em website]. Retirado de

proteção de pessoas intersexo contra

https://dezanove.pt/o-parlamento-europeu-

discriminação sofrida.

declarou-a-ue-uma-1395734

Também

se

observou

uma

Esqrever.

(2021).

Parlamento

Europeu

ILGA-Europe,

declara a União Europeia uma “zona de

Evelyne Paradis, avisa que o que tem vindo

liberdade” para as pessoas LGBTIQ [Entrada

a acontecer na Europa em relação aos

em website]. Retirado de

A

diretora

executiva

da

81


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

(CONTINUAÇÃO) https://esqrever.com/2021/03/11/parlamento

Silva, I. M. (2020). Comunidade LGBTQI

-europeu-declara-a-uniao-europeia-uma-

pede ação da UE contra discriminação

zona-de-liberdade-para-as-pessoas-lgbtiq/

[Entrada

Ilga Europa. (2021). Rainbow Europe 2020

https://pt.euronews.com/2020/09/24/comu

[Entrada

nidade-lgbtqi-pede-acao-da-ue-contra-

em

website].

Retirado

de

https://www.ilga-

discriminacao

europe.org/rainboweurope/2020 Jornal

Oficial

da

União

Europeia.

(2016).Tratado da União Europeia. Retirado de http://publications.europa.eu/resource/cella r/9e8d52e1-2c70-11e6-b49701aa75ed71a1.0019.01/DOC_2 Parlamento Europeu. (2021a). Parlamento declara União Europeia como “Zona de Liberdade LGBTIQ” [Entrada em website]. Retirado

de

https://www.europarl.europa.eu/news/pt/pr ess-room/20210304IPR99219/parlamentodeclara-uniao-europeia-como-zona-deliberdade-lgbtiq Parlamento

em

Europeu.

(2021b).

União

Europeia: Um lugar de liberdade para pessoas LGBTIQ [Entrada em website]. Retirado

de

https://news.cision.com/pt/parlamentoeuropeu/r/uniao-europeia--um-lugar-deliberdade-para-pessoaslgbtiq,c637507968290000000

82

website].

Retirado

de


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

ESPAÇO CULTURAL

83


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

ESPAÇO CULTURAL O Espaço Cultural é o novo espaço da nossa insubmissa. Este será um espaço em aberto, em que o objetivo, primeiro e único, será aglutinar três esferas primordiais, a sociedade, a arte e a cultura. Aqui

poderão

informativos

encontrar

acerca

de

conteúdos

personalidades

relevantes, reflexões, sugestões de livros, séries, documentários, podcasts, sítios a visitar, entre outros conteúdos. No

enquadramento

do

tema

deste

bimestre, Liberdade, temos para si um texto acerca de Natália Correia, a escritora com mais livros censurados pela Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE), quatro sugestões culturais, bem como a nossa agenda insubmissa. No final, um espaço para reflexão.

84


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

NATÁLIA OLIVEIRA CORREIA, INSUBMISSA MULHER DE ABRIL Mulher e Abril com letra maiúscula, porque ser Mulher e Livre, nunca foram coisas de ser pequenas. ESCRITO POR VÂNIA ALVES

Não é fácil escrever sobre a Natália. Digo a

poético, Natália de Oliveira Correia. Nasceu

Natália, porque nos faz chegar próxima e

em São Miguel, arquipélago dos Açores,

íntima com o seu vigor tão conciso, e as

cujo hino é de sua autoria. Quando tinha 11

suas palavras quase como um abraço, que

anos o seu pai emigrou para o Brasil,

têm tanto de revolução quanto de ternura.

acabando Natália por se estabelecer em

As informações, tantas e tão diversificadas,

Lisboa com a mãe e a irmã. A morte da sua

quase sempre extensamente adjetivadas,

mãe, em 1956, acaba por gravar em si uma

refletem quem foi e como viveu. Uma vida

saudade terna, e eterna, dos Açores que se

cheia, onde se construiu imensa.

refletiu na sua literatura.

Natália Correia poderia dividir-se entre

Natália

várias Mulheres, que mesmo assim todas

poeta/poetisa, e afirmava-se vincadamente

seriam completas, além de notáveis. Em

das duas formas, uma enquanto poeta,

comum? O vigor, a desconstrução do

pois

paradigma político e social, a oratória que

assexuada,

rasga em elegância, a forma singular e crua.

poetisa, pois, nas palavras de Maria Teresa

E nenhuma conjuga, todas elas infinitivo,

Horta: “A Natália disse-me uma vez que nos

todas elas insubmissas.

chamavam poetas, e não poetisas, porque a

a

distinguia-se

poesia, e

nas

uma

suas

enquanto

palavras,

segunda

é

enquanto

figura do poeta com qualidade poética, Natália

Oliveira

Correia

em

3

i’s:

estava dominantemente «adjudicada» aos

insubmissa, inconformada e invicta

homens,

Marcava o calendário o ano de 1923 quando

consideradas nessa categoria, tinham de

nascia

ser tão «bons» quanto eles. Nós somos

em

Portugal

mais

um

revolucionário, inquieto e singular cravo

e

as

mulheres,

para

serem

poetisas, repetia bem alto, tão boas ou

85


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

(CONTINUAÇÃO) melhores que eles. Nunca mais esqueci

quase como um símbolo consumado dessa

este aviso”. De uma forma ou de outra,

vitória.

Natália sabia que posição queria marcar e

A luta foi longa, durou-lhe 51 anos, 51 anos

o peso que as palavras teriam para a

esses em que Natália foi incisiva, nunca

tomada desse posicionamento.

moldável, nunca plasticina, sempre terra

Além

de

poeta/poetisa,

Natália

foi

molhada, indomável!

romancista, ensaísta, tradutora, jornalista,

Ativa na cultura, na literatura, na sociedade,

guionista, editora, diretora de editoras,

na política, fazendo a ponte entre estas

semanários e jornais diários, deputada e

esferas que nunca se desligam, e sabendo

ativista social e cultural. Entre o atropelo

da importância de as unir. Estava na

das convicções, que se transformavam em

política pela cultura, e usou a literatura

ocupações, criou e apresentou ainda um

como um ato político e de denúncia. Foi a

programa revolucionário na sua época, já

Mulher com mais livros censurados (num

nos anos 80, de nome Mátria, sobre as mais

total de seis livros) pela PIDE, e mesmo

destacadas figuras femininas portuguesas.

depois de condenada a três anos de pena

O nome “Mátria” deriva da ideia de que se a

suspensa nunca se demoveu. A cada

Terra é a mãe que nos cria a todas e a

palavra sua, determinada, um rasgo no véu

todos, o substantivo deveria ser feminino, e

de ignorância que encobria Portugal. Nos

não masculino como utilizado de forma

seus livros, ao longe, ouve-se um compasso

normativa (Pátria). Mais tarde, acrescenta

em espera, a sua boca, quase como uma

ao leque de palavras do seu dicionário o

visão: vermelho revolução!

conceito

É importante dizer também que, mesmo

de

Fratria,

símbolo

da

fraternidade, igualdade e equidade.

sendo uma figura de destaque, Natália não

A escritora lutou toda a sua vida, ao lado de

estava sozinha nesta luta, e fazia questão

tantas

outras

ao

lado

de não estar. Nas décadas de 50 e 60, a sua

vivia

nas

casa funcionava como um salão cultural

sombras, de forma invicta, para que um

onde se concretizavam as denominadas

programa

Tertúlias

também

de

personalidades, um

com

povo esta

que

envergadura,

artísticas

e

culturais,

que

profundamente livre e feminista, pudesse

culminavam de forma constante e feroz na

ser concretizado, e olho para o “Mátria”

crítica ao fascismo, transformando-se

86


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

(CONTINUAÇÃO) quase num símbolo de resistência que

de ser. Nunca se enquadrou, nunca se

ofereciam ao regime ditatorial de Salazar.

silenciou,

Sempre envolta em atos políticos diretos,

insubmissa, inconformada e invicta.

como subscrições de documentos, em que

Marcava o calendário o ano de 1993

aliada a outras escritoras e escritores,

quando, de forma súbita e sem aviso,

reivindicava as liberdades e solicitava,

morre de ataque cardíaco, um dos cravos

inclusive, o despedimento de António

que fez a nossa revolução. Mas fica-nos a

Oliveira de Salazar, constituindo-se como

literatura e as sementes de uma liberdade

parte integrante dos “inimigos do silêncio”,

por cumprir. Porque a sua luta não

silêncio este que era a pedra basilar da

terminou no dia 25, a sua luta continuou, e

estrutura do Estado Novo.

a de quem ainda aqui está prossegue. 25 de

Mais

tarde,

em

1971,

tornou-se

co-

lutou,

sempre,

de

forma

Abril foi um início vitorioso, nunca um fim,

fundadora do bar Botequim, consagrado

uma batalha consumada em si mesma.

como o Botequim da liberdade, no livro de

Todos os dias arrancamos mais um cravo

Fernando Dacosta (2013). Espaço lembrado

da terra que a Natália fomentou. Todos os

por ser um dos grandes centros de

dias vemos um caminho a ser feito ao

conspiração em prol da liberdade, onde se

contrário. Mas silêncio que já se ouve! Lá ao

reunia

fundo... nada mais bonito que o burburinho

parte

da

intelectualidade

portuguesa, em convívios literários, cafés-

de um compasso em formação!

concertos e tertúlias políticas. Por lá, a título de exemplo, passaram nomes como

Neste contexto, ficam aqui, alguns dos

António

factos mais relevantes acerca de Natália

Sérgio,

Mário

Cesariny,

David

Mourão-Ferreira, Almada Negreiros, Ary dos

Oliveira Correia:

Santos, Amália Rodrigues, entre tantas

Na década de 40 colaborou com o

outras personalidades.

Seminário “O Sol”, um jornal que se

Visionária e revolucionária, Natália foi, o

opunha de forma explícita ao Estado

que se costuma dizer corriqueiramente,

Novo.

uma força da Natureza. Extrapolou os

Constituía parte ativa dos movimentos

cânones,

de oposição ao Estado Novo, tendo

e

desconstruiu

convenções

sociais. Livre, quanto mais a impedissem

participado no MUD (Movimento de

87


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

(CONTINUAÇÃO) de Unidade Democrática, 1945), no

Em 1992, fundou, com José Saramago,

apoio

Armindo

às

candidaturas

para

a

Magalhães,

Manuel

da

Presidência da República do general

Fonseca e Urbano Tavares Rodrigues, a

Norton de Matos (1949) e de Humberto

Frente Nacional para a Defesa da

Delgado (1958) e na CEUD (Comissão

Cultura (FNDC).

Eleitoral

Em 1981, Natália Correia recebeu a

de

Unidade

Democrática,

1969).

medalha de Grande-Oficial da Ordem

Publicou com Luiz Pacheco, em 1953, o

Militar de Sant’Iago da Espada.

Cântico do País Emerso, exaltando o

Em 1991, foi-lhe atribuído o Grande

desejo de liberdade em Portugal.

Prémio

Em 1959, publica Comunicação, o seu

Portuguesa de Escritores pelo livro

primeiro livro censurado, proibido e

Sonetos Românticos.

apreendido pela PIDE.

Também em 1991, foi feita Grande-

Em 1965, a publicação da Antologia da

Oficial da Ordem da Liberdade.

de

Poesia

da

Associação

Poesia Erótica e Satírica condenou-a a 3 anos de pena suspensa por abuso da

Lista

de

livros

de

liberdade de imprensa.

censurados pela PIDE:

Natália

Correia

Em 1971 é musicado o poema Queixa

Comunicação, 1959

das Almas Jovens Censuradas por José

O Homúnculo, 1965

Mário Branco.

A Antologia de Poesia Erótica e Satírica,

Em 1972, foi iniciado um processo

1965

judicial contra a Editora Estúdios Cor,

O vinho e a lira, 1966

onde

A Pécora, 1967

desempenhava

a

função

de

diretora literária, devido à publicação do

livro

icónico

Novas

O Encoberto, 1969

Cartas

Portuguesas, escrito pelas conhecidas

A luta não terminou a 25 de Abril de 74

"três Marias".

A 3 de Abril de 1982, durante o primeiro

Em 1980, foi eleita para o Parlamento

debate parlamentar sobre a interrupção

pelo

voluntária da gravidez, João Morgado,

Partido

Popular

Democrático,

enquanto deputada independente.

deputado do CDS, afirma que o ato sexual

88


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

(CONTINUAÇÃO) tem como fim único a procriação. Em resposta,

Natália

deputada

Oliveira

independente

Parlamento

pelo

Correia,

eleita

Partido

para

o

Popular

Democrático, responde, de forma pouco ortodoxa e incisiva, com um poema que suscitou

gargalhadas

em

todas

as

bancadas, conduzindo à interrupção da

Foto: Arquivo Global Imagens

sessão: "Já que o coito - diz Morgado tem como fim cristalino, preciso e imaculado fazer menina ou menino; e cada vez que o varão sexual petisco manduca, temos na procriação Referências bibliográficas

prova de que houve truca-truca. Sendo pai só de um rebento,

Pedrosa, A. (2017). Escritoras Portuguesas

lógica é a conclusão

e Estado Novo: As obras que a ditadura

de que o viril instrumento

tentou

apagar

da

vida

pública.

só usou - parca ração! -

Universidade Federal de adianta Catarina.

uma vez. E se a função

https://repositorio.ufsc.br

faz o órgão - diz o ditado -

Centro de Documentação de Autores

consumada essa exceção,

Portugueses. (2004, Novembro). Natália

ficou capado o Morgado."

Correia. DGLAB. https://livro.dglab.gov.pt Movimento Democrático de Mulheres.

(n.d). Natália Correia. https://mdm.org.pt

(Natália Correia - 3 de Abril de 1982)

Domeneck, R. (n.d). Natália Correia.

89


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

(CONTINUAÇÃO) Escritas. https://escritas.org Faculdade Humanas

de da

Ciências

Sociais

e

Universidade

Nova

de

Lisboa. (2017, Abril 19). Natália Correia: todas as personalidades num botequim.

+Lisboa. https://maislisboa.fcsh.unl.pt

90


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

SUGESTÕES CULTURAIS Documentário: Paula Rego, Histórias e

Sinopse:

Segredos

Paula Rego, conhecida por ser uma artista resguardada e discreta, revela-se pela

Ano: 2016

primeira vez neste documentário realizado

Realização: Nick Willing

pelo seu filho cineasta, Nick Willing. Aqui,

Produção: Kismet Film Company

expõe as suas histórias, os segredos, e a

Imagem: Juvenal de Figueiroa

sua verdade.

Música original: Madison Willing

Este documentário apresenta-se como um

Duração: 90 minutos

grande arquivo de filmes pessoais e

Plataforma: Filmin

fotografias de família, intercaladas com entrevistas, onde a artista conta as suas histórias na primeira pessoa. Um combo que percorre 60 anos da sua existência. Breves apontamentos sobre Paula Rego: Maria Paula Figueiroa Rego, nasceu em Lisboa, no ano de 1935. Estudou, entre 1945 e 1951, na St.Julian’s School, em Carcavelos. No ano a seguir, por sugestão do pai, um pai que sempre afirmou que Portugal não era um país bom para as mulheres, que seria o mesmo que dizer, que não era um país para se ser Mulher, ingressa numa

FOTO: CINEMAX RTP

escola de artes em Londres. Em 1952, na Slade

School

Fine

Art,

ganha o seu

primeiro prémio, Summer Composition. Também aqui, conhece Victor Willing, ainda estudante, com quem viria a casar e ter um filho e duas filhas. 91


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

(CONTINUAÇÃO) Em 1957 regressa a Portugal, onde viveu

emancipação dos seus direitos, conferindo

até 1963, ano em que terminou a sua bolsa

ênfase a temas como o aborto. Paula Rego

da Fundação Calouste Gulbenkian. Desde

respira pelas suas obras, e basta vê-las

então viveu entre Portugal e o Reino Unido,

para lhe conhecer as entranhas, porque,

até se fixar definitivamente em Londres

como o próprio filho diz, sempre foi artista

em 1976.

antes de ser outra coisa qualquer. No seu

A pintora construiu um percurso artístico

traço, é alma e intensidade, é verdade e

brilhante, repleto de conquistas, prémios

denúncia. Paula Rego, é também ela um

e exposições, mas mais que o percurso,

prenúncio introspetivo de Abril.

com quem casou ou que prémios ganhou, o que importa saber é a verdade que

Factos relevantes:

carrega em si e nas suas obras. Paula Rego,

Em 1935, na Slade School of Art, tornou-

tem uma crueza quase palpável no seu

se na única artista mulher do grupo da

caráter. Revolucionária discreta, sempre

Escola de Londres;

fez uso da arte como um instrumento de

Paula Rego nesta época conviveu com

denúncia, como uma arma. Nas suas obras,

nomes internacionais, relevantes da

extraordinariamente viscerais, podemos ver

pintura como Francis Bacon, Lucian

e

Freud,

quase

que

ouvir-lhe

de

perto

os

Frank

Auerbach

e

David

tormentos. Extrapolou qualquer ideal de

Hockney;

beleza, uma fealdade que lhe pulsa nas

Entre 1960 e 1970 manifesta oposição à

obras em que expõe a violência que era

ditadura

aquilo de ser mulher, numa condição

pinturas,

colagens

e

subjugada, num mundo em que não eram

referidas

décadas,

utilizando

vistas. E que ainda hoje não são, porque o

fontes

trabalho é muito, o caminho é longo, e a

caricaturas e notícias;

meta ainda pouco se vê, lá, muito ao longe.

A artista fez uma série sobre o aborto na

Com uma ironia perspicaz denuncia o

sequência do referendo de 1998 em

colonialismo, o fascismo e todo o sistema

Portugal;

opressor

A pintora utiliza muito na sua obra a

que

violenta

a

Mulher,

insurgindo-se pela sua emancipação, pela

Portuguesa

de

através

de

desenhos

das

inspiração

anúncios,

interceção das suas experiências

92

como


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

(CONTINUAÇÃO)

autobiográficas com referências literárias

Referências bibliográficas

do século XIX e XX.

Centro Português de Serigrafia. (n.d). Paula Rego. www.cps.pt

Notícias recentes:

Moura, C. (2014, Maio 23) . Violência e

O Museu Tate Britain vai inaugurar a

liberdade em Paula Rego: uma exposição

retrospetiva de Paula Rego entre 7 de

com

julho a 24 de outubro de 2021;

Disponível em: www.publico.pt

A partir de 13 de junho é reaberta a

40

anos

de

histórias.

Público.

Lusa. (2021, Abril 13). Obra de Paula Rego

exposição Paula Rego e Josefa de

vai a leilão com estimativa de 1,2 milhões

Óbidos: Arte Religiosa no feminino, na

de

Casa das Histórias Paula Rego, sendo

euros.

Público.

Disponível

em:

www.publico.pt

prolongada até 19 de setembro. A Casa

Amaral, J. (2021, Março 29). Museu Tate

das Histórias estará fechada até 12 de

Britain inaugura retrospectiva de Paula

junho para intervenção e manutenção

Rego

de algumas áreas, seguem os horários e

no

verão.

Diário

Disponível em: www.dn.pt

os respetivos preços das visitas ao espaço após a reabertura: Horário 3ª a 6ª: das 10h às 18h sábado e domingo: 10h às 13h e das 14h às 18h Público Geral: 5€ Residentes: 2.5€

93

de

Notícias.


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

SUGESTÕES CULTURAIS Série: Três Mulheres

Falcão,

de

pseudónimo

Vera

Lagoa,

primeira locutora da RTP. Ano: 2018

Estas três Mulheres pela sua atividade

Realização: Fernando Vendrell

cívica e cultural foram na História, e são

Produção: David e Golias

durante

Argumento: Fátima Ribeiro, Luís Alvarães,

permanente de Revolução.

Filipa

Martins,

Diogo

Figueira,

toda

a

série,

um

prenúncio

Rúben

Gonçalves, Flávio Gonçalves

Espaço temporal:

Música: Pedro Marques

Portugal durante os últimos anos do

Duração: 1 temporada | 13 episódios | 45

Estado Novo, entre 1961 (Início da Guerra

minutos

Colonial) e 1973 (Vésperas da Revolução).

Plataforma: RTP Play Retratos relevantes: 1961: Lançamento do livro Cântico do País Emerso de Natália Correia no primeiro bairro de lata de Lisboa, o Bairro da Alegria. Uma ação política e simbólica; Retrato de Portugal na época da eclosão da Guerra Colonial pelos olhos de Snu, uma atenta e observadora Sinopse:

dinamarquesa de visita a um país que

Esta série de ficção é inspirada na biografia

não conhece a liberdade;

de três Mulheres, todas elas insubmissas,

Representação da ação da PIDE e todas

todas elas Abril: Natália Correia, consagrada

as

poeta/poetisa; Snu Abecassis, fundadora da

tomada de um posicionamento no

Publicações Dom Quixote, conhecida pela

regime fascista, pelos olhos de Maria

publicação de livros de ideias contrárias ao

Armanda Falcão;

regime; Maria Armanda

Golpes de estado falhados,

94

consequências

que

acarreta

a


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

(CONTINUAÇÃO)

conspirações em prol da liberdade e protestos estudantis; Toda a construção do livro Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, da ideia à publicação; A fundação da editora Dom Quixote, a origem e o seu papel; A obrigação do serviço militar; Desaparecimento e morte do General Humberto Delgado; Julgamento de Natália Correia por pornografia e atentado ao pudor em consequência

da

publicação

da

Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica; Abertura do Botequim. Referências bibliográficas RTP. (2018). RTP PLAY. Disponível em:

www.rtp.pt

95


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

SUGESTÕES CULTURAIS Livro: Novas Cartas Portuguesas

consumado em si mesmo. Revolucionário na desconstrução do paradigma patriarcal

Data da primeira publicação: 1971

e no desmantelamento do estereótipo da

Autoras: Maria Isabel Barreno, Maria Teresa

feminilidade representado por Mariana nas

Horta e Maria Velho da Costa

Cartas Portuguesas, símbolo da Mulher

Editora: Estúdios Cor

nacional, submissa, devota e enclausurada. Importa enfatizar que Cartas Portuguesas é um livro de 1669, representando desta forma

a

perpetuação

e

constante

manutenção de um papel de género inferior, secundário e mais do que isso, instrumentalizado. Maria Teresa Horta, Maria Isabel Barreto e Maria Velho da Costa, sob alçada de Natália Correia que, ao contrário de todas as diretivas, se recusou a cortar partes da obra e a apresentou na íntegra, rasgaram o papel de género que lhes foi construído, concedendo a todas as Mulheres a ideia do direito ao papel e à caneta para se escreverem, inventarem e se assumirem conforme a sua identidade e não sob a vontade de uma sociedade que as faz instrumento. Esta publicação parece vir dizer: Estas somos nós, cruas e verdade! Estas são as O livro Novas Cartas Portuguesas constitui

Novas Cartas Portuguesas, esta é uma

mais do que um macro literário, constitui

nova era, viemos ocupar o nosso lugar, não

acima de tudo, um marco revolucionário

o que nos cederam, mas o que nós criamos!

96


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

(CONTINUAÇÃO)

Neste livro encontramos as mais bonitas cartas de amor. Amor por uma revolução a chegar, pela construção de um mundo novo, um amor pela identidade feminina. A par desse amor, a denúncia da guerra colonial,

de

um

sistema

de

justiça

inexistente, uma violência galopante e um sistema patriarcal putrificado. Notícias recentes: No mês de maio, Rosa Monteiro, Secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade, desafiou as Mulheres que integram o XXII Governo

a

lerem

esta

obra.

Uma

homenagem às Três Marias e a todas as Mulheres que com elas estiveram, Natália Correia, Maria de Lourdes Pintasilgo, Ana Luísa Amaral, e tantas outras. Aconteceu entre o dia 18 e 21 de maio, com a divulgação, nas redes sociais do Governo, das leituras das 8 Ministras e 18 Secretárias de Estado, mas também de Maria Teresa Horta, de excertos da obra. Referências bibliográficas Novas Cartas Portuguesas. (n.d). Novas Cartas Portuguesas | 40 Anos Depois. www.novascartasnovas.com

97


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

SUGESTÕES CULTURAIS Livro: A Liberdade é uma Luta Constante

e ativista, Angela Yvonne Davis. Angela

Davis,

Mulher,

Racializada

e

Data da primeira publicação : 2015

Lésbica, é um símbolo interseccional de

Autora: Angela Davis

uma

luta

permanente.

Neste

livro

é

desconstruído o paradigma político e social de forma global, desmantelando o patriarcado, a supremacia branca e as políticas imperialistas, trazendo para a discussão a violência atroz vivenciada em tantos lugares do nosso mundo, com um enfoque especial em lugares como a Palestina, um tema que, infelizmente, não podia ser mais atual. Desta forma, Angela Davis é considerada uma das ativistas mais incómodas da atualidade, porque agita as bases infundadas de um sistema dominado pela injustiça social, pela discriminação e pelo capitalismo desenfreado. Nota

1:

panorama

Podem geral

ler da

mais

acerca

Palestina,

do na

atualidade, no texto de opinião deste Volume II Os crimes de Israel e a luta da Palestina pela liberdade.

Liberdade é uma Luta Constante é um livro

Nota

imperativo e urgente que surge de uma

informações acerca de Angela Davis no

seleção de discursos, ensaios e entrevistas,

Volume I da nossa insubmissa, no espaço

da emblemática e inspiradora, académica

dedicado às Mulheres Pioneiras.

98

2:

Podem

ter

acesso

a

mais


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

AGENDA INSUBMISSA A agenda insubmissa vem dar a conhecer

Até 19 de junho | Ver com outros olhos |

os eventos culturais, de cariz social e

Biblioteca Municipal de Cascais - São

educativo, a decorrer durante os dois

Domingos de Rana, Cascais | Gratuito

meses após o lançamento da Revista.

Até 20 de junho | Des(obedecer), Patrícia Ferreira | Theatro Club - Póvoa de Lanhoso

Até 6 de junho | Utopia!?, Nalini Mali | Serralves, Porto |

Até 20 de junho | The Horizon is Moving Até

6

de

junho

|

Nearer | CPF - Centro Português de

ROOM

Fotografia, Porto

[Performance/Instalação] | Bistrô, Cowork

& Concept Store, Porto Até 27 de junho | Octopus e Miopia, Ilídio Candja Candja | Galeria Quadrum, Lisboa

Até 7 de junho | Exposição: as passadas prolongadas noutros passos | Casa da

Achada - Centro Mário Dionísio, Lisboa |

Até 30 de junho | Mensagens de Amor,

Entrada livre

Quem Não as Tem? | AMUCIP - Associação

para Até 9 de junho | Matéria Vital, António Ole

o

Desenvolvimento

das

Mulheres

Ciganas, Seixal | Exposição Online

| Movart Galeria, Lisboa Até 30 de junho | 8998 Pomar | Museu do Até

16

de

junho

|

“A

Imprensa

Aljube - Resistência e Liberdade, Lisboa

Clandestina”, Câmara Municipal da Maia e

a Direção da Organização Regional do Porto

Até 30 de junho | Arte na Lusofonia |

do PCP | Fórum da Maia, Maia | Entrada livre

Centro

Cultural

Cabo

Verde,

Lisboa

|

Gratuito Até 16 de junho | Os pássaros escondemse para morrer, Jérémy Pajeanc | Maus

Até 17 de julho | In Memory We Trust,

Hábitos - Espaço de Intervenção Cultural,

René Tavares | This Is Not A White Cube,

Porto | Entrada livre

Lisboa 99


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

(CONTINUAÇÃO)

Até 25 de julho | Inauguração do Museu Efémero de Arte Urbana | LX Factory,

Lisboa Até 31 de Julho | A Tribute To Women | São Roque Antiguidades e Galeria de Arte, Lisboa

100


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

JOSÉ MÁRIO BRANCO Não se podia criar um Volume sobre

Envie

as

suas

Liberdade e não mencionar José Mário

revista.aplanoi@gmail.com ou responda

Branco, símbolo de Inquietação.

nos

instastories

a

reflexões ser

para

publicados

no

Instagram do Grupo de Jovens Promotor da Igualdade e da Saúde.

Foto: Rita Carmo

Desta forma, deixamos em baixo uma pergunta

de

homenagem.

resposta As

aberta

respostas

em

sua

serão

publicadas na próxima edição da revista insubmissa, podendo estas ser anónimas.

O que o/a inquieta na sociedade e mundo de hoje?

(Este espaço é inspirado por uma ação do podcast de jornalismo independente Fumaça!)

101


Revista insubmissa

VOL. 2 | MAIO, 2021

EXPOSIÇÃO FOTOGRÁFICA SOBRE EU E LISBOA

Nestas

fotografias

pode-se

encontrar

vós. Um bem-haja e sejam felizes, seja onde

certamente uma amadora para os olhos de

for.

alguns/ algumas, pelo menos aos meus, mas para além disso, uma pessoa que deu oportunidade. Oportunidade de gostar. Outrora, não suportava a ideia de passear até à capital. O movimento, o trânsito, os preços exorbitantes enfim... até que, me apaixonei em Lisboa. Paixão esta que não durou, mas que marcou. Fez com que eu me apaixonasse pela cidade, que jamais me passaria pela cabeça. A liberdade que me dá de a observar como se de uma pessoa

se

tratasse.

Enquanto

ando

livremente a observar as cores das ruas, os azulejos das casas, como se fossem uns profundos olhos castanhos. Observo com tanto amor e com uma ambição enorme de criar vida em ti. Como refere Rui Veloso numa das suas músicas, “Nunca voltes ao lugar, onde já foste feliz...”. É o que sinto sempre

que

regresso,

mas

a

minha

vontade de ser feliz em ti é maior. Por isso Lisboa, aos meus olhos, és uma prova de amor. E é nestas fotografias que o tento transmitir.

Espero

passar

alguns

pormenores desta mensagem a todos/as

BEATRIZ FIGUEIREDO

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FOTO: BEATRIZ FIGUEIREDO


FOTO: BEATRIZ FIGUEIREDO


FOTO: BEATRIZ FIGUEIREDO


FOTO: BEATRIZ FIGUEIREDO


FOTO: BEATRIZ FIGUEIREDO


FOTO: BEATRIZ FIGUEIREDO


FOTO: BEATRIZ FIGUEIREDO


VOL. 2 | MAIO, 2021

Revista insubmissa

FICHA TÉCNICA REVISÃO DE CONTÉUDOS: PAULA ALLEN SOFIA NEVES EDIÇÃO E REDAÇÃO: ANA SOFIA FIGUEIREDO MARIANA REIS SHEILA GÓIS HABIB TERESA RAMOS DE SÁ TEX SILVA VÂNIA ALVES COMPOSIÇÃO GRÁFICA: SHEILA GÓIS HABIB TERESA RAMOS DE SÁ

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ATÉ LÁ!


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