Fausto 1 (Material do Professor)

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MATERIAL DIGITAL DO PROFESSOR fausto 1 Christine Röhrig Lúcia de Figueiredo

Domo 72 Via das Samambaias, 102 – sala 04 Jardim Colibri / Cotia - SP CEP: 06713-280

Fausto 1 - Domo 72 - 2021 MATERIAL DIGITAL DO PROFESSOR – PNLD 2021 Ensino Médio Título da obra FAUSTO 1 ISBN 978-85-54177-09-6 (Manual do professor) Formato 135 mm x 205 mm Nº de páginas 96 Autores Johann W. von Goethe/Christine Röhrig/Lúcia de Figueiredo Editora Domo 72 Gênero Teatro Temas Ficção, mistério e fantasia

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5Fausto 1 - Domo 72 - 2021 Sumário Carta ao professor 7 Sobre o autor e a obra 9 Propostas de atividades I 11 Pré-leitura 11 As dúvidas existenciais e a alma humana 15 Leitura 17 Pós-leitura 18 Propostas de atividades II 20 Pré-leitura 20 Leitura 24 Pós-leitura 24 Aprofundamento 25 Sugestões de referências complementares 27 Bibliografia comentada 29

7Fausto 1 - Domo 72 - 2021

Carta ao professor

Caro professor, cara professora, A obra Fausto, de Goethe, traz temas atuais repletos de ambiva lências, com uma linguagem potente e fluente, traduzida e adaptada neste volume por Christine Röhrig, com ilustrações de Lúcia de Figueiredo. Sem dúvida, Fausto é a mais conhecida produção dramática de Goethe, e os arquétipos do texto foram assimilados em outras obras significativas da literatura mundial, como O retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde, e na reinvenção do mito em A igreja do diabo, de Machado de Assis. Também é possível perceber elementos da obra em Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, em que o personagem Riobaldo chega a invocar a entidade diabólica de maneira a se empo derar e derrotar o antagonista, Hermógenes. A primeira parte do texto a que temos acesso nessa adaptação é aquela em que o pacto fáustico é produzido. O diabo encontra Deus, o criador, que está orgulhoso de sua bela produção na Terra. Mefisto ou Mefistófeles, como é chamada a terrível criatura, questiona a veracidade dessa beleza e desafia o criador a prová-la, pois “tudo ali está muito malfeito e a humanidade a sofrer” (p. 8). Deus reconhece os argumentos do diabo e diz: “Verdade, a ambição faz o homem errar” (p.8). Então, Ele aceita a aposta, desafiando Mefisto a corromper alguma alma na Terra. O diabo parte à procura de Fausto, um notável sábio e doutor que transfere seus conselhos a seus discípulos, mas que não possui bens materiais ou glórias acumuladas. Diante da influên cia nefasta de Mefisto, ele experimenta novas situações, questionando escolhas de vida e valores.

O que torna o texto de Goethe importante para a vivência lite rária do estudante do Ensino Médio são os temas da ética e da alma humana, apresentados e problematizados pelos diálogos de maneira ágil, repletos de figuras de linguagem metafóricas e muitas ironias.

O bem e o mal, a riqueza e a pobreza, a humildade e a ambição são antagonismos e ambivalências que perpassam a temática do livro e desencadeiam reflexões acerca da vida e de seus prazeres mais sedutores. Assim, a obra traz inúmeras possibilidades de abordagens, tanto no contexto estrutural como no existencial e no linguístico, constituindo um vasto campo de veredas para a exploração do professor.

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As sugestões a seguir contemplam todos os atos da primeira parte do texto dramático, levando em consideração as habilidades e competên cias que a Base Nacional Comum Curricular do Ensino Médio prevê e viabilizando um trabalho com outras áreas de conhecimento.

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Há muitos anos coordena edições de livros, tanto infantojuvenis como adultos, e escreve peças de teatro. Lúcia de Figueiredo estudou belas-artes e comunicação visual no Brasil, mas em 1980 mudou-se para Frankfurt, na Alemanha, a fim de estudar litografia com Christian Kruck. Atualmente, trabalha como artista plástica e já participou de várias exposições coletivas em países como França, Hungria, Egito, Croácia e Alemanha, onde mora até hoje.

Sobre o autor e a obra Johann Wolfgang von Goethe nasceu na Alemanha, em 1749, e foi cientista, filósofo, poeta e dramaturgo. Junto a O sofrimento do Jovem Werther, Fausto é a sua obra mais conhecida, tendo sido traduzida, adaptada e lida por mais de dois séculos desde a sua primeira publicação, em 1808. A grandiosidade do texto e a temática abordada seduzem escritores e leitores de todo o mundo, sendo “o pacto fáustico” referência e tema reinserido em outras obras não só do campo literário, mas também do cinema, da televisão e dos games. Fausto levou anos para ser escrito e Goethe o publicou em duas partes. Exploramos neste manual a primeira parte, pois a segunda foi publicada somente após a morte do autor, em 1832. De produção li terária vasta, Goethe é um dos grandes nomes do romantismo alemão. A edição que acompanha este guia foi traduzida e adaptada por Christine Röhrig e ilustrada por Lúcia de Figueiredo. Röhrig estudou jornalismo e se especializou em tradução de textos de teatro alemão.

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PRÉ-LEITURA

• Compreender os processos identitários, os conflitos e relações de poder que permeiam as práticas sociais de linguagem, res peitar as diversidades, a pluralidade de ideias e posições, e atuar

11Fausto 1 - Domo 72 - 2021 Propostas de atividades I

Diante do explicitado na Base Nacional Comum Curricular do Ensino Médio, pensamos alguns caminhos possíveis para você, professor, no trabalho com o livro.

São muitas as possibilidades de mobilizar conhecimentos e estabelecer relações de mundo a partir da experiência de leitura de Fausto 1.

• Compreender as diferentes linguagens e práticas (artísticas, corporais, verbais) e mobilizar esses conhecimentos na recepção e produção de discursos nos diferentes campos de atuação social e nas diversas mídias para ampliar as formas de participação social, e entendimento e as possibilidades de explicação e interpretação crítica da realidade (BNCC, p. 481). Ao aluno, o professor poderá questionar a atualidade do texto, os temas que perpassam a obra e sua relevância para a discussão atual, bem como as características de sua estrutura, a forma, as marcas linguísticas e as ambiguidades semânticas. Nesse sentido, o texto é producente em diversas abordagens. Também se pode abordar sua relação com outras obras da literatura, assim como do cinema e das artes em geral.

socialmente com base em princípios e valores assentados na de mocracia, na igualdade e nos Direitos Humanos, exercitando a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, com batendo preconceitos de qualquer natureza (BNCC, p. 481).

Por ser um texto transgressor, que discute princípios éticos e políti cos da natureza do homem, escolhas, caminhos e possibilidades, o debate oral da obra e a produção escrita sobre os temas dialogados compreendem um campo profícuo para a mediação. O texto objetivo e a linguagem acessível propiciam tanto a leitura individualiza da da obra por parte do aluno quanto a dramatização em sala de aula mediante o acompanhamento do professor.

• Apreciar esteticamente as mais diversas produções artísticas e culturais, considerando suas características locais, regionais e globais, e mobilizar seus conhecimentos sobre as linguagens artísticas para dar significado e (re)construir produções autorais individuais e coletivas, de maneira crítica e criativa, com respeito à diversidade de saberes, identidades e culturas (BNCC, p. 482).

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O texto de Goethe é universal porque, apesar de ter sido escrito no século XVIII, traz dúvidas existenciais relativas à vida e à morte, aos prazeres e deveres, à ética e à corrupção, ao racionalismo e sentimentalismo, todas muito atuais. A diversidade temática e a estrutura da obra no que diz respeito aos personagens, tempo, espaços e suas camadas arquetípicas (Deus, diabo, anjos, donzelas, princesas, estudantes e outros), permitem ao professor e aos alunos que infiram relações intertextuais e temáticas. O texto dramático, que se baseia em diálogos, oferece ao leitor a experiência com sentimentos diversos e conflitivos, num exercício de alteridade, empatia e identificação.

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EM13LGG102 Na leitura do caminho traçado pela “amizade” entre o personagem-título e a criatura demoníaca, o professor pode indicar algumas abordagens de leitura aos seus alunos, como analisar as visões de mundo dos personagens, os conflitos de interesse, os preconceitos e ideologias, e relacioná-los com fatos da atualidade vincu lados pela mídia e imprensa em geral, em que se propõe a escolha pela ética ou pela subversão.

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Os conflitos gerados entre os personagens e a produção de discursos marcados pela sua influência e poder constituem-se como potências no texto de Goethe. Há duelos entre Deus e o diabo, Fausto e o diabo, Fausto e Margarida, Mefisto e a Bruxa, além de diálogos que revelam a visão de mundo e suas transformações diante das tensões provocadas na trama. Ao abordar essas tensões, o professor ajudará o aluno a analisar os conflitos de identidades e di versidades em sua disputa pela legitimidade nas práticas de linguagem e na cultura.

A partir dessas competências é possível traçar caminhos para que os alunos desenvolvam algumas habilidades. Ao ser desafiado para provar a Deus que sua obra não é tão perfeita, Mefisto (diabo) desce à Terra e vai em direção ao gabinete de estudos do dedicado médico e estudioso Fausto, personagem principal da trama. Vivendo sua cri se existencial de muito conhecimento acumulado e pouca riqueza, o personagem-título parte para o portal da cidade, onde presencia a figura de cão que se transmuta em Mefisto, iniciando a parceria com nosso protagonista e influenciando-o a trilhar um caminho de sedução, prazeres e enganos.

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AS DÚVIDAS EXISTENCIAIS E A ALMA HUMANA EM13LGG603

A figura do diabo na literatura e nas artes em geral sempre produziu muita curiosidade, já que o mal na cultura pode assumir diferentes formas. No cinema, na literatura e nas artes em geral é possível reconhecer a presença deste personagem como um legado da obra de Goethe, já que, ao representar a ambiguidade da existência, demonstra também a fragilidade do humano diante do prazer e do sobrenatural. Ao realizar leituras intertextuais e dramáticas em que aparece a figura do mal, o professor pode exercitar o princípio dialógico da leitura de mundo, propiciando a expressão e atuação do educando em processos criativos que integrem diferentes linguagens, referências estéticas e culturais.

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Ao iniciar o trabalho com o livro, o professor poderá organizar uma roda de conversas com os alunos para abordar o gênero dramático e a relação dos educandos com o teatro. Alguns questionamentos introdutórios em sua fala poderão ser utilizados em busca de aproximar os leitores da obra, como “Vocês costumar frequentar ou ir ao teatro?”. Caso a resposta seja afirmativa, perguntar “Como foi a experiência?”, “O que vocês observaram na apresentação e no texto representado pelos atores?”, “Quais as características do gênero dramático?”.

Para situar Fausto e sua relação com o gênero dramático, o pro fessor apresentará a definição de gênero a partir do professado por Aristóteles na Grécia antiga, em sua Poética , quando classifica os gêneros em épico, lírico e dramático. O gênero dramático pode ser

2. Quais partes do corpo humano são evidenciadas pela ilustradora? A figura humana é contemplada em que dimensões e perspectiva?

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3. Há um jogo de cores e sombras em contraste. Que clima a ilustração buscou criar antes de iniciarmos a viagem pela his tória de Fausto?

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dividido em duas vertentes: a tragédia e a comédia. Na tragédia, temos um caráter mais sério, formal, marcado por um conflito que mudará a vida de todos os personagens, causando tensão na repre sentação dos atores. Já a comédia apresenta um tratamento mais pitoresco e informal, abusa de situações que envolvem o ridículo, o cômico, o constrangedor. Nesse sentido, o professor poderá sugerir aos alunos que observem durante a leitura onde aparece o trágico e o cômico na obra.

O jogo contrastante entre as duas cores, o claro e o escuro, a ênfase no movimento das mãos, as formas grandes, distorcidas e projetadas reme tem às características desse importante movimento artístico, que também trabalha com temas como o mistério, a paixão, o profano. Dessa forma, a partir da capa do livro e das ilustrações, o professor poderá construir junto aos estudantes algumas hipóteses de leitura.

As ilustrações de Lúcia de Figueiredo remetem ao cinema expressionista alemão de Murnau e seu personagem mais famoso, o vampiro Nosferatu.

1. O que você observa a partir das cores e das formas representa das na capa do livro?

Antes de iniciar a leitura propriamente dita da obra, o professor ainda poderá explorar alguns aspectos estéticos da capa e da contracapa do livro.

b) Quantos aos personagens, quais vocês identificam como prota gonistas e quais identificam como secundários?

d) Quanto ao tempo descrito na obra, é possível apontar em que época se passa a história? Que elementos o texto traz em busca de fundamentar a caracterização do tempo?

LEITURA Nessa fase, o professor poderá explorar aos poucos inúmeras ca racterísticas da obra, bem como seus aspectos internos (estrutura) e externos (temática), mediante questionamentos e proposições aos alunos. Essa leitura poderá ser feita em dois momentos, tanto em sala de aula, de forma compartilhada, como em casa, individualmente, podendo ocorrer também de maneira concomitante. Sugestões de enfoque e questionamentos que poderão ser anotados pelos alunos durante a leitura:

a) No prólogo da obra, qual o duelo principal que desencadeará a trama?

c) Com relação aos cenários (ambientes) em que a trama se desen volve, quais são os mais significativos?

17Fausto 1 - Domo 72 - 2021 4. “Fausto”, além de um substantivo, nome próprio, em nossa língua pode ser também um adjetivo. Qual o sentido do adjetivo “fausto”? O que se pode, a partir dele, supor sobre o enredo da obra?

Por se tratar de um texto dramático, é possível lançar mão de uma leitura oral e performativa, solicitando aos alunos que interpretem di ferentes personagens. A partir dessa experiência, é possível pensar na encenação da peça pelos alunos em grupos visando compor o trabalho da disciplina e de outras áreas de Linguagens e suas Tecnologias. O texto de Fausto é altamente performático justamente por estar repleto de visões do outro, de uma alteridade que pode estimular a empatia do leitor. É um texto que chama para a dramatização, a corporificação. Como aponta Zumthor (2007, p. 41), “a condição necessária à emergência de uma teatralidade performática é a identificação, pelo espectador-ouvinte, de um outro espaço; a percepção de uma alteri dade espacial marcando o texto”.

Outra atividade possível para o professor é realizar um grande debate partindo da tese: “Fausto foi coerente ao abandonar sua vida de estudos e trabalho e seguir Mefisto em suas experiências com a bebida, as mulheres e o pecado?”. Defesa de argumentos a favor e contra e as causas e consequências apontadas pela história embasam o trabalho crítico e argumentativo que poderá resultar na produção textual de uma dissertação ou resenha crítica para ser publicada no blog ou jornal da escola. O respeito à diversidade de leituras e interpretações viáveis dentro de uma coerência interna são capazes de produzir novas perspectivas, ampliando o horizonte de expectativas do leitor dentro de uma obra literária. Como afirma Zilberman (2001, p. 51), “nenhum leitor absorve passivamente um texto; nem este subsiste sem a invasão daquele que lhe confere vida ao completá-lo com a força de sua imaginação e o poder de sua experiência”.

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PÓS-LEITURA

É possível identificarmos na obra a presença dos sete pecados capitais: luxúria, avareza, soberba, ira, gula, inveja e preguiça. O professor poderá dividir a turma em sete grupos e pedir a cada um que descreva em que segmentos da obra é possível identificar a presença de cada pecado capital. Também é uma boa ideia pedir aos alunos que analisem como as escolhas de cada personagem interferiram nas relações sociais e nas tensões estabelecidas entre eles.

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Propostas de atividades II

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os professores da área de Ciências Humanas po derão abordar aspectos relacionados ao trabalho e ao pensamento, à valorização das profissões e ao prestígio social dentro de uma perspec tiva de tempo e espaço, do século XVIII aos dias atuais, enfatizando a insatisfação de Fausto com seu trabalho enquanto professor, médico e pensador. Assim, o professor dialogará com o previsto pela Base Nacional Comum Curricular do Ensino Médio, que contempla em suas competências a análise das relações de produção, capital e trabalho em diferentes territórios, contextos e culturas, bem como seu papel na transformação das sociedades. Ademais, o professor desenvolverá

PRÉ-LEITURA

Mediante abordagem dessas questões, os professores da área de Ciências Humanas referendarão as competências previstas na Base Nacional Comum Curricular do Ensino Médio para a área, como a análise dos processos políticos, econômicos, culturais, sociais e am bientais em diferentes tempos, de modo a se compreender criticamente a realidade. Levarão os educandos a posicionarem-se de modo crítico em relação aos fatos históricos, filosóficos e temporais. O texto de Goethe é marcado por polifonia, representando tipos sociais e arquétipos diversos. Também traz marcas de um tempo dominado pelas relações patriarcais em que os papéis e os discursos de poder estavam bem marcados. É possível perceber em Fausto o papel dos intelectuais no século XVIII e o seu respaldo limitado pela desva lorização

Nessefinanceira.caminho,

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junto a seus alunos a habilidade de perceber criticamente as relações entre sujeitos, classes sociais (EM13CHS401) e seus efeitos sobre as novas gerações (EM13CHS404), uma vez que Fausto tinha alunos e discípulos, como o personagem Wagner, que via em seu mestre um modelo de virtude a ser seguido.

Também em outra perspectiva, os professores das disciplinas de Ciências Humanas poderão explorar o lugar da mulher na obra, que se encontra relegada a papel secundário, pautada pelas decisões do homem, cujo papel era de protagonismo. Outro ponto marcante na leitura da obra é a existência do amor burguês, representado pela rela ção entre Fausto e Margarida, cujos papéis sociais são desconstruídos pela figura sedutora de Mefisto. A relação dos personagens e seu papel dentro das classes sociais representadas na obra são um importante ponto de análise conjunta que poderá ser desencadeado a partir do trabalho

Outra perspectiva interessante para a área de Ciências Humanas, principalmente a Filosofia, é a questão ontológica e metafísica do texto de Goethe. Alguns questionamentos poderão ser resgatados na interlocução com os estudantes sobre a obra, como:

Outrainterdisciplinar.possívelaproximação

com o livro para os professores da área de Ciências Humanas é analisar questões específicas da Alemanha no século XVIII e as influências do Romantismo no modo de vida social, da ascensão da classe burguesa e seus costumes. Esse percurso envolveria disciplinas como História, Geografia, Sociologia e Filosofia. Nesse sentido, posicionar-se criticamente sobre esse modo de vida e as relações sociais de um tempo-espaço está contemplado como uma importante competência da área para o desenvolvimento do senso crítico e do repertório do aluno.

a) Há a possibilidade de existência de um Deus?

c) O bem e o mal são características intrínsecas ao ser humano ou dependem da influência de outros seres para se perpetuarem?

Identificar esses temas e problematizá-los juntos com os alunos, trazendo outros autores para discutir as questões filosóficas, enriquecerá ainda mais o trabalho de leitura. O texto de Goethe pode ser caracterizado como de forte fruição, como nos aponta Barthes (2019, p. 21): “Texto de fruição, aquele que põe em estado de perda, aquele que desconforta (talvez cause até um certo enfado), faz vacilar as bases históricas, culturais, psicológicas do leitor, a consistência de seus gostos, de seus valores, de suas lembranças, faz entrar em crise sua relação com a linguagem”. A área de Ciências Humanas, mais especificamente de História e Geografia, poderá contextualizar a obra de Goethe, enriquecendo a pré-leitura dos alunos, apresentando aspectos sociais e culturais da Alemanha no século XVIII, mais especificamente da cidade de Leipzig, espaço em que ocorrem ações importantes da trama, como a sequência da Taverna de Auerbach. Na taverna, jovens bebem sem li mitações, queixando-se do amor não correspondido, e Mefisto diverte-se com a total entrega de seus companheiros aos vícios da bebida e da perda do amor. “Aqui, todo dia é uma festa. Viu como a vida pode ser vivida facilmente?”, provoca o maléfico.

b) Quais as contradições mais percebidas na atitude dos humanos e suas relações?

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PÓS-LEITURA Após a leitura do texto e os debates em consonância com a área de Língua Portuguesa, os alunos poderão confeccionar cartazes sobre a vida de Goethe e sobre a literatura alemã, relacionando-a com o Romantismo brasileiro e os aspectos discutidos na aula de Filosofia sobre vida, morte e Deus. Outra obra que retrata amplamente esse aspecto dialógico é Noite na Taverna, de Álvares de Azevedo, que retoma todos esses temas filosóficos. Nesse livro marcante do Romantismo brasileiro, um grupo de amigos se reúne para narrar contos macabros morte e experiências com o sobrenatural. Outra possibilidade de trabalho é organizar um vídeo sobre a Alemanha, salientando aspectos de sua cultura, localização e cida des, aproveitando os aspectos abordados pelas disciplinas de História, Geografia e inserindo a obra de Goethe e seus aspectos também estru turados em Língua Portuguesa e literatura.

envolvendo

LEITURA Durante o processo de leitura da obra, alguns aspectos da influência da religião na vida e na cultura alemãs poderão ser inter pelados pelos professores da área de Ciências Humanas. Os alunos poderão pesquisar também sobre a cultura alemã, população, situação geográfica, religiões praticadas e o paganismo no século XVIII, forte influência transgressora da cultura secular de imposição de crenças que entrou em conflito com outras religiões.

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c) É possível falar em herói e vilão da história? Os personagens apresentam características lineares ou são ambivalentes? Como o autor retrata as mulheres da obra, Margarida e Marta?

a) O texto de Goethe trata de temas como o sobrenatural, o ocul tismo, a sedução e o prazer. Descreva como essa temática aparece no comportamento, no discurso e nas atitudes dos personagens.

b) A obra traz características importantes do Romantismo literário, como o amor proibido, a paixão e a morte. Explique como isso se evidencia nos fatos ocorridos na obra e relacione-os com os estudos literários do período.

d) O que permite aos personagens principais um trânsito mágico entre cenários, inclusive em ambientes proibidos pela cultura re presentada na trama, como o quarto de Margarida e o jardim da casa de Marta?

Após a leitura do texto e seu acompanhamento pelo professor, a obra ainda permite algumas abordagens para escrita e reflexão:

Aprofundamento

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Sugestões de complementaresreferências

Como sugestão de prática da intertextualidade crítica, o filme O retrato de Dorian Gray (2009), dirigido por Oliver Parker e com base no famoso livro de Oscar Wilde, é um interessante objeto de estudo, já que aborda o mito fáustico em seu enredo. Na trama, o personagem principal, Dorian Gray, retorna a Londres depois da morte de seu pai e, como herança, recebe a casa. Ele conhece o pintor e artista plástico Basil Hallward, que decide pintá-lo num retrato. Dorian se apaixona pela sua pintura e conhece o carismático e sedutor Henry Wotton, que o apresenta à sociedade, leva-o a conhecer os prazeres da vida, como bebidas e festas, e o introduz ao obscurantismo. Henry convence Dorian a fazer um pacto com o diabo em troca de mantê-lo sempre jovem e atraente. No entanto, o quadro pintado por Basil vai envelhecendo e mostrando o lado mais perverso da alma de Dorian. Todos que descobrem seu segredo

A análise de aspectos intertextuais e interdiscursivos é habilidade prevista na Base Nacional Comum Curricular do Ensino Médio e está no campo das práticas de leitura. A intertextualidade, segundo Kristeva (2012), aponta para a forma como um texto é assimilado por outro texto e outra cultura. Já a interdiscursividade trata de temas comuns a um ou mais textos (EM13LP03). Dessa forma, levar o estudante leitor a perceber essas relações dialógicas é um ótimo exercício de formulação teórica e reflexiva, inclusive sob a perspectiva da produção escrita, por meio de textos, resenhas e blogs que podem ser divulgados pelas redes sociais ou na forma de jornal escolar.

começam a desaparecer misteriosamente. Ao mesmo tempo, a pintura revela um lado sombrio e terrível da personalidade do protagonista, que, antes de conhecer Henry, era um rapaz de valores e conduta irretocáveis.

• Para assistir: Filme O retrato de Dorian Gray, disponível Acessohttps://www.youtube.com/watch?v=_W2YFEn6KP0em.em:17jan.2021.

b) Que pontos de coincidência existem entre os personagens de Mefisto e de Henry Wotton?

e) Em que medida os personagens Fausto e Dorian Gray pratica ram crimes e cometeram infrações éticas?

a) O que há de semelhança entre as mudanças na vida de Fausto e de Dorian Gray?

Após uma roda de conversa com os alunos, abordando pontos em comum e diferenciados entre as duas obras, o professor poderá propor aos alunos a criação de um vídeo-resenha sobre a obra, recomendando a leitura do livro para outras pessoas, salientando seus aspectos quali tativos e temáticas éticas e existenciais.

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d) Qual o papel das mulheres no enredo do filme e do livro?

Como sugestão para proposta de abordagem interdisciplinar, os professores poderão aproximar o texto de Fausto 1 do filme O retrato de Dorian Gray, considerando algumas relações.

c) Como acontece o pacto com o diabo nas duas obras?

• WILDE, O. O retrato de Dorian Gray. Trad. Paulo Schiller. São Paulo: Penguin Companhia, 2012.

COLOMER, T. Andar entre livros: a leitura literária na escola. São Paulo: Global, 2007.

BARTHES, R. O prazer do texto. 6. ed. São Paulo: Perspectiva, 2019. Uma obra de referência para os que apreciam a literatura, sejam pro fessores ou estudantes. Barthes é uma leitura indispensável por apresentar uma série de categorias fundamentais para a crítica literária.

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília/MEC/Consed/Undime, 2017.

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Bibliografia comentada ARISTÓTELES. Poética. São Paulo: Editora 34, 2015.

As competências e habilidades indicadas nas propostas sugeridas foram extraídas do documento que hoje é a maior referência para a orga nização curricular do ensino no Brasil.

O primeiro e mais importante tratado sobre as formas literárias da tradição ocidental, a Poética de Aristóteles (384-322 a.C.) não tem deixado de ser lida e interpretada ao longo de seus 23 séculos de existên cia. Trata-se de uma obra fundamental para quem se dedica ao ofício de ensinar literatura.

É uma obra de consulta essencial para fomentar o trabalho com a leitura, tanto na escola como em outros espaços. Apresenta estratégias que compreendem desde a seleção de livros até a interpretação e a escrita, passando pelo estabelecimento de redes de informações.

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ZUMTHOR, P. Performance, recepção e leitura. São Paulo: CosacNaify, 2007. O livro apresenta o diálogo entre textos, leituras e interpretações pelo viés da Antropologia, da Sociologia, da História, da Filosofia e ainda da Teoria Literária. Leitura essencial para quem se propõe a formar leitores fruidores de sentidos.

A autora aborda as perguntas fundamentais ligadas ao texto: quais são as leis de seu funcionamento? Qual é o lugar desse objeto específico dentre a multiplicidade das práticas significantes? Apresenta as últimas conquistas na análise da significação.

LERNER, D. Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário. Porto Alegre: Artmed, 2002.

Uma abordagem sobre as transformações profundas que a escola deve promover para um ensino mais eficaz da leitura e da escrita. En foca os problemas e necessidades do aprendizado, encaminhando para possíveis soluções.

KRISTEVA, J. Introdução à semanálise. 3 ed. São Paulo: Perspectiva, 2012.

ZILBERMAN, R. Fim do livro, fim dos leitores? São Paulo: Senac, 2001. A autora aborda a leitura, inicialmente, pela trajetória e evolução dos suportes de escrita, do pergaminho ao e-book. Apresenta discussões sobre as teorias da leitura, o papel do ensino, o lugar do leitor e o futuro do livro.

É permitida a criação de obras derivadas deste material desde que não tenham fins comerciais, atribuam crédito ao autor e licenciem as criações sob os mesmos parâmetros.

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