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Enquanto Julieta está a caminho da igreja de São Pedro para ver se o Frei ajuda a encontrar uma saída, Páris já está com o Frei Lourenço para acertar detalhes do seu casamento com Julieta.

Sem entender o que está acontecendo, Frei Lourenço tenta convencer Páris a adiar a data alegando ser muito em cima da hora, mas Páris explica que esta é a vontade do senhor Capuleto e que não quer contrariá-lo.

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Muito preocupado, Frei Lourenço diz que a ideia não lhe agrada nem um pouco e que, além do mais, Páris nem sabe se Julieta vai aceitar.

Páris explica que não conseguiu falar com Julieta porque ela não para de chorar a morte de Tebaldo. Quanto à pressa em se casar, ele diz que a intenção é de alegrá-la, de fazer com que ela se esqueça o quanto antes do assassinato do seu primo Tebaldo.

Nesse momento chega Julieta. Páris a cumprimenta com alegria: – Feliz encontro. Minha amada e esposa! – Assim seria se eu fosse casada com o senhor – responde Julieta. – Não é ainda, mas na quinta-feira será. – O que tiver de ser, será. – Veio se confessar com o Frei? – Páris pergunta.

E Julieta argumenta que se respondesse a essa pergunta, já estaria se confessando com Páris.

Tomado de prepotência, Páris diz: – Não negue a ele que me ama. Tenho certeza de que me ama da mesma maneira que eu. Pobre alma, seu rosto foi muito castigado pelas lágrimas. – A vitória é pequena para as lágrimas, porque meu rosto sempre foi feio – diz Julieta. – Falando assim, você o castiga mais que as lágrimas. – Não é mentira não, é verdade. – Seu rosto é meu, então é mentira. – Pode ser, porque a mim ele não pertence. O senhor tem tempo agora, Frei, ou é melhor eu voltar à tarde, na hora da missa?

E o Frei se apressa em responder: – Tenho tempo agora, sim, minha filha melancólica. Será preciso que nos deixe sozinhos.

E Páris concorda imediatamente. Antes de ir embora, diz: – Deus me livre de perturbar a sua devoção! Julieta, quinta-feira, vou acordar você bem cedinho. Até lá, adeus. Fique com esse beijo.

Ao se ver sozinha com o Frei, Julieta desmorona e desabafa: – Ai! Feche logo a porta, Frei, e depois venha chorar comigo. Já não há esperança, nem remédio, não há socorro algum.

– Julieta! Já sei do seu desgosto. Ele ultrapassa em muito os meus espíritos. Disse que você deve se casar nessa quinta-feira agora com ele, o conde Páris, sem que nada possa adiar a cerimônia. – Não me fale, padre, que soube dessa desgraça e não sabe como evitá-la. Se em toda a sua ciência não encontrar solução alguma, ao menos considere sábia minha resolução, pois essa faca será o meu remédio. Meu coração e o de Romeu foram unidos por Deus. O senhor mesmo juntou as nossas mãos. Antes que essa mão, abençoada pelo senhor com a de Romeu, possa servir a outra tarefa ou que o meu coração revoltado se entregue a outro, essa arma vai imobilizar mão e coração com a morte. Assim, recorro à sua enorme experiência para me aconselhar. Do contrário, essa faca sanguinária irá decidir a minha sorte. Não responda logo, Frei, porque se não tiver um remédio, tenho pressa em morrer. – Espere, filha! Vejo uma pequena esperança, mas que é tão desesperadora, como é desesperado o que queremos impedir que aconteça. Se em vez de se casar com Páris você tem força para se suicidar, é possível que tenha coragem de fazer uma coisa que lembra o suicídio para impedir um sacrifício que para você se parece com a morte. Se me disser que tem coragem para isso, eu arranjo o remédio. – Em vez de me casar com Páris, mande eu saltar do alto daquela torre ou andar pelas estradas entre assaltantes ou me esconda em ninhos de serpentes. Me amarre com ursos rugidores. Me tranque à noite numa sala de cadáveres, cheia

de ossos humanos, tíbias apodrecidas, crânios sem mandíbulas estalando. Me manda entrar num túmulo recente, me esconder ao lado do defunto, debaixo de sua mortalha, essas coisas que só de ouvir, já me fizeram tremer. – Então, escute: vá para casa, mostre-se alegre, diga que está disposta a se casar com Páris. Amanhã é quarta-feira. Amanhã à noite, vá deitar-se sozinha. Não deixe a Ama dormir no quarto. Pegue esse frasco e, quando estiver deitada em sua cama, beba esse licor destilado. Você logo sentirá um efeito entorpecente correr pelas veias, um humor frio, sonolento, e a sua pulsação irá perder o ritmo, até parar. Nenhum sinal de respiração, nenhum calor atestando que está viva. A cor do seu rosto e dos seus lábios mudará para cinza pálido. Suas pálpebras cairão como quando a morte apaga o dia da vida. Todas as partes do seu corpo, privadas de mobilidade e controle, ficarão frias e rígidas, parecendo mortas. E você ficará quarenta e oito horas nesse estado de morte aparente e depois acordará de um agradável sono. Então, quando o noivo vier procurá-la de manhã, irá encontrá-la morta. Daí, como manda o costume, vão vesti-la com a sua roupa mais bela e colocá-la no caixão aberto. Depois, vão levá-la ao mesmo túmulo em que toda a família Capuleto está sepultada. Nesse meio-tempo, Romeu receberá a minha carta, que mandarei o Frei João levar, contando o nosso plano, e virá para cá, antes de você despertar. Juntos, eu e ele, iremos esperar que você acorde. Depois, Romeu levará você a Mântua. Assim você se livrará da vergonha. Mas cuidado para que, na hora de executar

o plano, nem o medo infantil nem o feminino atrapalhem a sua coragem.

Decidida, Julieta concorda: – Pode me dar! Me dê! Vai ver que não tenho medo algum. – Toma. Anda logo e mantenha-se firme nessa resolução. Vou mandar agora mesmo um portador a Mântua, com uma carta minha para o seu marido. – O amor me dá forças e a força vai me ajudar. Adeus, meu bom padre.

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