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Nesse meio-tempo, Páris e seu pajem, trazendo flores e uma tocha, vão ao cemitério visitar o túmulo dos Capuleto.

Páris pede ao pajem para lhe dar a tocha e manda que este aguarde embaixo do cipreste com o ouvido encostado no chão para ouvir se alguém se aproxima. – Se alguém vier, você assobia. Me dê as flores e faça o que eu disse.

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O pajem sente muito medo de ficar sozinho no cemitério, mas obedece. Páris entra no mausoléu onde está Julieta e fala com ela: – Minha querida flor. Vou espalhar essas flores em seu leito! A tampa é de pedra! Virei aqui todas as noites regar a sua sepultura com água perfumada ou com as minhas lágrimas. Os funerais de nossa desventura farão nascer flores na sepultura. – Ouve o assobio do pajem. – O menino está avisando que vem gente. Que pé maldito pisa estes caminhos durante a noite, para perturbar-me nos funerais e ritos do puro amor? Como! Traz uma tocha? Noite, esconda-me por uns instantes.

Quem chega é Romeu, acompanhado por Baltasar, carregando uma tocha e uma enxada. Romeu pede que Baltasar lhe dê a enxada e entrega a ele uma carta que Baltasar deve levar ao seu pai assim que amanhecer.

– Agora o seguinte, seja lá o que você veja ou ouça, fique fora, nem pense em vir me perturbar. Se estou descendo a este leito de morte, em parte é para ver o rosto da minha mulher, mas, principalmente, para tirar de seu dedo de morta o anel muito precioso que pode vir a ser útil. Por isso, vai embora daqui logo. Agora, se por um acaso, só por curiosidade, você resolver retornar para espiar o que pretendo fazer, eu juro pelo céu que arrebento as suas juntas e depois espalho as partes do seu corpo por todo o cemitério. Numa hora dessas, meus planos são selvagens, mais violentos e inabaláveis que o tigre faminto e o mar revolto. – Pode deixar que vou embora, sem atrapalhar em nada – garante Baltasar.

Romeu se despede: – Toma isso. Viva bem e seja feliz. Tchau, meu bom amigo.

Mas Baltasar resolve se esconder por ali porque desconfia que Romeu cometerá uma loucura.

Romeu abre a sepultura e depara-se com Páris, que grita: – É o maldito Montecchio, banido por ter matado o primo de Julieta e que fez com que ela acabasse morrendo de tristeza. Veio para profanar os cadáveres. Vou prendê-lo. Você deve morrer. – Sim, devo morrer – concorda Romeu. – Foi para isso que vim. Amigo, não provoque um homem aflito. Foge e me deixa em paz. Suplico a você, amigo, não me faça carregar mais um pecado, porque vim para cá armado contra mim mesmo. Não fique. Viva e diga que a clemência de um louco pediu para você fugir.

– Desprezo o seu pedido e vou prendê-lo, como criminoso. – Quer me provocar? Então, defenda-se.

Romeu e Páris começam a lutar e o pajem que está do lado de fora resolve chamar os guardas. Romeu atinge Páris que, antes de morrer, pede que Romeu o deite ao lado de Julieta, mas Romeu diz: – Na verdade, eu o farei. Deixa ver a sua cara: conde Páris, parente de Mercúcio! O que foi que Baltasar disse quando estávamos vindo para cá e minha alma atormentada não escutava nada? Não disse que Páris e Julieta iam se casar? Foi isso mesmo, ou terá sido sonho? Ou eu estou louco e imaginei isso ouvindo-o falar de Julieta? Ah, toca aqui, você que também está inscrito nesse livro do infortúnio. Vou sepultá-lo num túmulo triunfante! Túmulo? Não, num farol luminoso, porque Julieta está deitada aqui e a sua beleza faz dessa catacumba um lugar transbordante de luz. Deita aqui, morto, enterrado por um morto. – E Romeu coloca o corpo de Páris em outro túmulo. – Quantas vezes os que estão para morrer mostram um lampejo de alegria? É o lampejo da despedida, dizem os que estão velando. Poderei chamar isso de lampejo? Ó meu amor! Minha mulher! A morte que sugou todo o mel de seu hálito não teve força para tirar sua beleza. Não, ela não venceu ainda. O símbolo da beleza em seus lábios e no seu rosto ainda é vermelho. O pálido pendão da morte não avançou. Tebaldo, e você aí deitado, enrolado num lençol ensanguentado? Que favor maior posso fazer a você do que com essa mesma mão que

cortou a sua mocidade fazer desaparecer o seu inimigo? Me perdoa, primo. Amada, por que ainda está tão linda? Será que a morte impalpável se apaixonou por você e que esse monstro magro e horrível quer guardá-la nas trevas como amante? Por temer que isso aconteça, ficarei com você sem nunca mais deixar os aposentos da tenebrosa noite. Quero ficar aqui com os vermes, seus serventes. Aqui quero fixar minha morada eterna e livrar esta carne cansada do mundo da tirania das estrelas funestas. Olhos, olhem pela última vez! Braços, deem seu último abraço! E lábios, portas da vida, selem com um beijo legítimo este pacto eterno que a morte roubou! Vem, guia amargo, vem, guia repugnante! Piloto desesperado, anda, lança de uma vez o seu barco avariado da viagem tempestuosa contra a rocha escarpada. Para o meu amor. – Em seguida, Romeu abre o frasquinho que trouxe do boticário e bebe todo o veneno. – Ó boticário honesto! Tua droga é rápida. Assim morro, com um beijo.

Frei Lourenço chega ao cemitério e encontra Baltasar. Ele conta que Romeu está dentro do mausoléu a cerca de meia hora. Frei Lourenço entra no mausoléu e estranha o rastro de sangue logo na entrada. – Romeu! Romeu! Meu Deus! Que sangue é este manchando a entrada da sepultura? Que querem dizer essas espadas sem dono, cheias de sangue, neste lugar de paz?

O Frei avista Romeu ali imóvel e também Páris deitado mais adiante e percebe que Julieta se mexe. Julieta desperta e pergunta:

– Ó meu bom frade, onde está meu amor? Onde está Romeu?

Na tentativa de fazer com que Julieta saia rapidamente dali, Frei Lourenço diz: – Estou ouvindo um barulho. Filha, venha, saia desse ninho de morte, de contágio e de sono contrário à natureza. Um poder mais forte se levantou contra nós e frustrou nossos planos. Vem, vamos sair daqui! Seu marido está caído morto ao seu seio. Páris também morreu. Vem logo. Vou levar você ao convento das Freiras piedosas. Não perca tempo com perguntas. Vamos embora. Os guardas estão chegando. Vem, bondosa Julieta. Não me atrevo a esperar mais.

Mas Julieta se nega a sair dali. – Vá o senhor, Frei, porque eu não vou.

Frei Lourenço sai correndo para buscar ajuda e deixa Julieta sozinha com Romeu. Desesperada, Julieta vê o frasco de veneno na mão do amado. – Que é isso? Um frasco apertado na mão do meu amor? É veneno, que o matou cedo demais. Oh! Que egoísta! Bebeu tudo, sem deixar uma só gota amiga, para o meu alívio. Vou beijar esses lábios. Talvez ainda tenham sobrado algumas gotas para me matar. – Julieta beija Romeu. – Seus lábios estão quentes. – Um guarda entra no mausoléu acompanhado do pajem. Julieta ouve e diz: – Vem vindo gente. Serei breve. Ah, punhal feliz! – Ela pega o punhal da cintura de Romeu e finca-o em seu peito. – Sua bainha é aqui. Enferruja aqui e me deixa morrer.

Julieta cai sobre o corpo de Romeu e morre.

Chegam mais guardas e encontram Baltasar e o Frei. Um deles avisa: – Aqui está um frade que suspira, chora e não para de tremer. Estava com uma pá e esse ferro na mão e vinha desse lado do cemitério.

Nesse momento, chega o Príncipe acompanhado do séquito e quer saber: – Que desgraça se deu aqui tão cedo, para nos tirar do descanso matinal?

O senhor e a senhora Capuleto também chegam aflitos porque ouviram as pessoas na rua gritando os nomes de Romeu, Julieta e Páris. – Que horror é esse que fere os nossos ouvidos? – pergunta o Príncipe.

E um dos guardas relata: – Príncipe, o conde Páris está lá dentro, foi assassinado. Romeu está morto e Julieta, que antes estava morta, está quente e outra vez morta. Encontramos o frade e o criado de Romeu carregando instrumentos para arrombar o túmulo dos mortos.

O senhor Capuleto exclama, horrorizado: – Minha Nossa! Mulher, veja a nossa filha. Estásangrando! O punhal se enganou. Sua bainha está vazia na cintura do Montecchio. Está mal colocado em nossa filha.

Nesse momento, os Montecchio e outras pessoas também entram no mausoléu. Dirigindo-se ao pai de Romeu, o príncipe diz:

– Venha cá, Montecchio. Levantou cedo para ver seu filho e herdeiro deitar-se cedo demais.

Desesperado e apreensivo, o pai de Romeu relata: – Minha mulher faleceu durante a noite. A tristeza do exílio de meu filho cortou seu fôlego. Que mais conspira contra minha idade? – Você verá com seus olhos – responde o príncipe.

Estarrecido, o senhor Montecchio xinga: – Ó filho ingrato! Que jeito é esse de entrar na sepultura antes do seu pai?

O príncipe pede que o pai de Romeu pare de falar por um instante até que o mistério das mortes seja esclarecido e fiquem sabendo qual foi sua origem e o que aconteceu de fato. – Depois disso, serei comandante do seu luto e chorarei com você até a morte. Apresentem os suspeitos – diz o príncipe.

Frei Lourenço logo se apresenta: – Dos aqui presentes sou eu o mais suspeito. Apesar de ser aquele que tem menos forças para cometer um assassinato tão terrível, o lugar e a hora me incriminam. Estou aqui para me acusar e me defender. – Diga logo o que sabe – ordena o Príncipe.

E o Frei começa a contar o acontecido, tintim por tintim: – Serei breve, porque meu fôlego curto não é mais longo do que a história incômoda. Romeu, aqui sem vida, era marido de Julieta, e ela, morta também aqui, era a fiel esposa de Romeu. Eu mesmo os casei no dia em que

Tebaldo morreu, causa do banimento do pobre noivo da cidade. Era por causa dele, e não por Tebaldo, que Julieta vinha definhando. Vocês, querendo livrá-la da tristeza, prometeram-na ao conde Páris, e obrigaram-na a casar-se com ele. Ela então me procurou desesperada e pediu que eu inventasse qualquer recurso que a livrasse desse segundo casamento, ou então lá mesmo, sem vacilar, poria fim à vida. Dei-lhe então – aconselhado por minha arte – um narcótico que produziu o efeito por mim esperado dando a ela a aparência da morte. Nesse meio-tempo, escrevi a Romeu, para que ele viesse aqui hoje à noite e me ajudasse a retirá-la de seu falso sepulcro, pois o efeito do veneno iria passar. Mas a pessoa que levou a carta, Frei João, foi detida por acidente e me devolveu a carta ontem à noite. Então, sozinho, na hora prefixada para ela despertar, vim retirá-la do túmulo dos seus, com a ideia de escondê-la em meu retiro, até chamar Romeu. Mas quando cheguei aqui, alguns minutos antes da hora de Julieta acordar, encontrei mortos antes do tempo o nobre conde Páris e o fiel Romeu. Julieta despertou. Implorei a ela que fugisse e que aceitasse com paciência o que o céu lhe destinara. Nisso, um barulho me afastou do túmulo, sem que, em seu desespero, ela se retirasse comigo. Parece que aí ela pôs fim à sua existência. É tudo que sei. A Ama sabia do casamento. Se alguma coisa falhou por minha culpa, que minha velha vida expie o erro em sacrifício, algumas horas antes do tempo, sob o rigor da mais severa pena.

– Sempre o tivemos por um homem santo – diz o Príncipe e se dirige a Baltasar: – E o que o criado de Romeu tem a dizer? – Fui portador ao meu senhor da morte de Julieta. Ele veio correndo de Mântua para cá, para esse túmulo, e me ordenou que entregasse essa carta a seu pai hoje de manhã, bem cedo. Antes de entrar no túmulo, me ameaçou de morte se eu não fosse logo embora e não o deixasse aqui. – Me dê a carta. Quero ver o que diz – ordena o Príncipe e pergunta: – E onde está o pajem do conde Páris, que chamou os guardas? Que fazia seu amo aqui, menino? – Veio trazer flores para a sepultura da noiva e ordenou que eu ficasse aqui fora. Obedeci. Depois chegou um homem, com uma luz, querendo violar a sepultura. Aí, o meu senhor sacou a espada contra ele. Saí correndo e fui chamar os guardas – explica o pajem de Páris. – A carta confirma o que o Frei disse. Romeu conta aqui do seu amor. Fala da notícia da morte de Julieta e também que comprou veneno de um pobre boticário; e que veio morrer aqui, deitando-se junto de Julieta. Onde é que estão esses inimigos? Capuleto? Montecchio! Vejam que maldição pesa sobre o ódio de vocês. O próprio céu encontrou um jeito de acabar com a alegria de vocês usando o amor. Todos fomos castigados. Até eu, que perdi dois parentes por ser condescendente – conclui o príncipe muito abalado com o ocorrido.

– Me dê a mão, irmão Montecchio. Entrego o dote da minha filha porque não vou precisar mais dele – diz Capuleto.

E Montecchio retruca: – Mas eu posso dar mais. Vou mandar erguer uma estátua dela de puro ouro. Enquanto Verona for conhecida por esse nome, nenhuma imagem terá tanto valor como a da fiel e leal Julieta. – Romeu deverá ficar ao lado dela. Pobres vítimas da nossa inimizade – diz Montecchio.

E, com muito pesar, o Príncipe conclui: – Esta manhã nos trouxe a paz sombria. De tanto pesar, hoje o sol não quer mostrar o rosto. Vamos andando que ainda temos muito a falar sobre esses trágicos acontecimentos. Alguns serão perdoados e alguns serão punidos, porque nunca houve uma história mais triste que essa de Julieta e seu Romeu.

FIM

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