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Romeu já está em seu exílio em Mântua e, bem cedinho, enquanto caminha pela rua, se lembra do sonho estranho que teve naquela noite. – Se eu puder acreditar na verdade agradável do sono, meus sonhos são presságio de uma notícia alegre. A dona do meu coração está sentada em seu trono risonha, numa alegria fora do comum, e enche a minha alma de pensamentos alegres. Sonhei que meu amor tinha chegado e me encontrou morto. Sonho estranho que deixa o morto com vida para pensar! Ela me soprou vida beijando os meus lábios e eu ressuscitei como imperador. Como deve ser doce o amor se a sua sombra é tão rica e alegre! – Nesse momento, o seu empregado Baltasar chega esbaforido e Romeu está curioso para saber as novidades. – Notícias de Verona! Que acontece, Baltasar? Frei Lourenço não mandou carta? E meu pai, está bem? Como está a minha Julieta? Insisto em perguntar porque se ela está bem, tudo está bem. – Então, ela está bem e nada pode estar mal. Seu corpo está dormindo no túmulo dos Capuleto e sua essência imortal vive com os anjos. Vi quando ela foi colocada na tumba da família e vim correndo dar a notícia. Me perdoe por trazer notícias tão tristes, mas você me deu essa incumbência.

– Isso é verdade? Então desafio vocês, estrelas. Vai buscar tinta e papel e alugar cavalos. Partirei esta noite.

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Mas Baltasar tenta acalmá-lo: – Eu lhe peço para ter paciência. Está pálido e parece desorientado. Tenho medo de que aconteça alguma desgraça. – Não, você está enganado. Anda logo e faz o que eu pedi. O Frei não me mandou alguma carta? – Não, nenhuma. – Não importa. Trata logo de alugar cavalos. Irei já para casa.

Baltasar sai e Romeu traça seu plano sinistro: – Julieta, hoje à noite vou me deitar ao seu lado. Como o mal se intromete rápido nos pensamentos dos desesperados! Lembro um boticário aqui na redondeza que vi não faz muito tempo, maltrapilho, separando suas ervas. Tinha uma tartaruga pendurada em frente da loja, um crocodilo morto e empalhado e muitas peles de peixes deformados. Nas prateleiras imundas, um monte de caixinhas vazias, potes verdes, bexigas e sementes bolorentas, restos de fios. Vendo tanta miséria pensei que se algum dia alguém precisasse de um veneno que não é vendido em Mântua sob pena de morte, ali vivia um homem que certamente o venderia. A ideia veio muito antes da necessidade. Esse coitado vai me vender a droga. – Romeu põe-se a caminho da casa do boticário e dá com a cara na porta porque é justo um dia de feriado. Apressado, ele bate com força. – Olá! Ô de casa!... Boticário!

Irritado com o barulho, o boticário aparece. – Quem está gritando desse jeito?

Romeu responde, aflito: – Aqui amigo, desculpe. Vejo que o senhor é pobre. Toma esses quarenta ducados e me arrume uma dose de veneno, mas de um veneno tão fulminante que se espalhe rápido pelas veias de quem está farto de viver para que caia morto imediatamente e para que a alma saia do corpo com a violência da pólvora inflamada ao sair do ventre do canhão. – Eu tenho este veneno poderoso, mas aqui em Mântua também tem a pena de morte para quem o vender... – Verdade, mas o senhor está quase sem roupas, parece tão pobre e ainda assim tem medo da morte? Consigo ver a fome no seu rosto, a necessidade e a desgraça que jejuam em seus olhos e a pobreza pendurada às suas costas. Nem o mundo nem as leis do mundo são seus amigos. Não existe lei alguma que possa deixar o senhor rico. Então passe por cima da lei e deixe de ser pobre. Aceite isso. – E Romeu lhe entrega os quarenta ducados, que naquele tempo era um monte de dinheiro. – É a minha pobreza que está aceitando, não a minha vontade. – Pago pela pobreza, não por sua vontade. – Misture isso em qualquer líquido. Isso aqui derruba e faz cair morto mesmo quem tiver a força de vinte homens. – Toma aqui seu ouro, veneno mais nocivo para os homens, que cometeu mais crimes nesse mundo sujo, do

que essas pobres drogas misturadas. Fui eu quem lhe deu veneno, não você. Adeus. Vê se compra comida e engorda um pouco. – E olhando para o veneno, Romeu diz: – Vamos, substância cordial. Você não é veneno. Vem comigo ao túmulo de Julieta e mostra que é meu amigo.

Romeu e Baltasar montam em seus cavalos e saem galopando rumo a Verona.

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