4 minute read

cena 5

Next Article
cena 1

cena 1

A Ama entra no quarto de Julieta para acordá-la e a encontra deitada na cama. – Filha, acorda! Julieta! Dorme como uma pedra. Meu anjo! Acorda, dorminhoca! Queridinha. Amor! Está descansando para ter reservas para uma semana. Garanto que não vai ter descanso essa noite com o conde. Deus me perdoe. Santa Virgem e amém! Que sono calmo! Mas preciso acordá-la. Querida, acorda! Quer que Páris a surpreenda na cama? Se ele aparecer, eu expulso você daí à força. Não é mesmo? – A Ama abre as cortinas ao redor da cama. – Como assim? Já vestiu toda a roupa e voltou a dormir? Vou te acordar agora mesmo! Acorda!... Ó Deus!... Socorro! Julieta está morta!... Aqui!... Socorro! Oh dia triste! Antes eu nunca tivesse nascido. Julieta! Julieta!... Acudam!

A senhora Capuleto chega correndo. – Que gritaria é essa? O que foi que aconteceu?

Advertisement

E a Ama responde: – Olha, senhora... Oh dia!

E ao perceber o que aconteceu, a mãe de Julieta se desespera. – Oh! Minha única filha! Minha filha! Filha, acorda, olha para mim, ou vou morrer com você. Aqui! Socorro! Vá chamar as pessoas!

Incomodado com a demora de Julieta, o pai resolve ir chamá-la pessoalmente. – Que vergonha! Traga Julieta logo. O noivo está chegando.

E a Ama diz: – Julieta está sem vida, morta, sem vida! Oh dia desgraçado!

E a senhora Capuleto lamenta aos prantos: – Dia desgraçado! Ela morreu! Morreu! Morreu!

Percebendo a gravidade da situação, o senhor Capuleto corre até o quarto. – Quero vê-la. Oh dor! Está gelada. O sangue está parado, e os membros, duros. Estes lábios e a vida já se separaram há muito tempo. A morte caiu sobre ela como geada fora de estação, matando a mais linda flor do campo. A morte a tirou de mim para me fazer gemer. Travou a minha língua, não consigo falar...

Frei Lourenço e Páris entram acompanhados dos músicos e Frei Lourenço pergunta se a noiva está pronta para a igreja. Desolado, o senhor Capuleto responde: – Sim, para ir à igreja e não voltar nunca mais. Ó filho, a morte roubou a sua noiva na véspera de seu casamento. É minha herdeira. A morte cortejou minha filha. Quero morrer para entregar à morte tudo o que possuo: vida, bens. Tudo o que é meu é dela.

E Páris se desespera: – Esperei tanto por esse dia, para ver isso?

Uma tristeza enorme e incontrolável se abate sobre todos. A senhora Capuleto chora. – Dia infeliz, maldito, desgraçado! A hora mais triste que o tempo jamais viu em toda a sua peregrinação. Uma só filha, uma só, uma pobre e amada filha, arrancada do nosso lado pela morte desgraçada.

E a Ama, também em meio às lágrimas, resmunga: – Ai, ai, ai, que dia triste! Que dia mais triste! Muito triste! O dia mais sombrio e lamentável de toda minha vida. Esse dia odioso! Triste demais! Nunca houve dia mais triste que esse maldito dia!

E Páris também lamenta: – Enganado, divorciado, desprezado, destruído... Foi você, morte nojenta, que me enganou, acabou comigo. Amor! Que vida!... Vida não, amor na morte!

E o senhor Capuleto também está tomado de desespero. – Desprezado, desolado, martirizado, morto! Inconsolável tempo, por que veio me matar agora, acabar com a nossa alegria, nossa festa? Ó filha! Filha querida, minha alma! Você já não vive! Está morta! Ah! Minha filha está morta e a minha alegria será enterrada com ela.

Mas o Frei Lourenço intervém, tentando confortá-los: – Calma! Por favor, calma! O remédio dos desesperados não é o desespero. Ela pertencia ao céu e a vocês. Agora é só do céu. Não é um destino tão infeliz assim. Vocês não puderam protegê-la da morte, mas o céu pode dar a ela a vida eterna. O que mais queriam era vê-la elevada e agora o céu a elevou. Por que chorar? Não veem que subiu às nuvens

e que está tão alta como o céu? O amor por sua filha é tão doentio que os enlouquece ao verem que ela está bem? As bem casadas não são as casadas há muito tempo e sim as que morrem jovens. Agora enxuguem as lágrimas, enfeitem o corpo com rosmaninho e levem-na à igreja vestida com seus mais ricos trajes. Ainda que a nossa natureza nos faça chorar, as lágrimas da natureza são motivo de alegria. – Tudo que seria usado para a festa, agora servirá ao sombrio funeral. Os instrumentos serão melancólicos sinos. Nossa festa, um jantar funéreo. Nossos hinos nupciais, cantos fúnebres. As flores do noivado vão enfeitar o caixão e tudo se converteu em lágrimas. Tudo se transformou no contrário – observa o senhor Capuleto.

Mas o Frei toma as rédeas da situação. – Agora vá se recolher, senhor Capuleto. Vá com ele, senhora, e Páris também. Preparem-se para acompanhar esse belo corpo até o túmulo. Se o céu está punindo vocês, não o provoquem ainda mais contrariando a sua vontade.

QUINTO ATO

This article is from: