SIGEOLITERART 2019 Anais do IV Simpรณsio Internacional e V Simpรณsio Nacional de Geografia, Literatura e Arte
Uma interface entre Geografia, Turismo, Literatura e Arte: Entre viagens reais e imaginรกrias
UNIRIO, Rio de Janeiro, 6 a 8 de novembro de 2019
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As Tabuletas da Avenida Sete de Setembro: uma análise Iconológica e Iconográfica Guilherme Bentes Da Silva Graduado em Letras – Língua Portuguesa pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e participante do Grupo de Pesquisa Intercidade.
RESUMO: A comunicação é o grande expoente da humanidade e de suas particularidades. Principalmente no que tange ao comércio e à vida cotidiana, como demonstra o povo da cidade Uruk, que idealizou um sistema de escrita com o uso da argila e de ferramentas. Dessa evolução surgem as tabuletas, que simbolizam os brasões das ruas e a idealização da comunicação comercial das cidades. Como temática, pretendemos analisar três tabuletas encontradas na Avenida Sete de Setembro em Manaus-AM, apresentando a evolução e o uso das tabuletas ao longo do tempo e como elas se adaptam, a nível dos materiais e características básicas. Para tanto, apresentaremos alguns conceitos base para a formação da pesquisa como Flâneur, limites, iconologia e iconografia. Esta discussão está fundamentada nas teorias de Kevin Lynch, Otoni Mesquita, Erwin Panofsky, João do Rio e Katia Maria Paim Pozzer. O tipo de pesquisa é exploratória e a metodologia é de cunho qualitativo, fazendo com que possamos analisar o material artístico de forma aprofundada. A análise teve início com a pesquisa de campo e com as leituras dos teóricos. Palavras-chave: Tabuletas. Sete de Setembro. Iconologia. Iconografia. ABSTRACT: Communication is the great exponent of humanity and its particularities. Especially with regard to commerce and daily life as demonstrated by the people of the Uruk city, who devised a writing system using clay and tools, and from this evolution came the tablets, which symbolize the coats of streets and the idealization of communication. of the cities. As a theme, we intend to analyze three tablets found at Avenida Sete de Setembro in Manaus-AM, presenting the evolution and use of the tablets over time and how they adapt, in terms of materials and basic characteristics. For that we will present some basic concepts for the formation of the research as the Flâneur, limits, iconology and iconography, this discussion is based on the theories of Kevin Lynch, Otoni Mosque, Erwin Panofsky, João do Rio and Katia Maria Paim Pozzer. The type of research is exploratory and the methodology is qualitative, so that we can analyze the artistic material in depth, the analysis began with field research and readings of theorists. Keywords: Tablets. September 7. Iconology. Iconography. RESUMEN: La comunicación es el gran exponente de la humanidad y de sus particularidades. Principalmente en lo que concierne al comercio y la vida cotidiana como demuestra el pueblo de la ciudad Uruk, que ideó un sistema de escritura con el uso de arcilla y herramientas, y de esa evolución surge las tabletas, que simbolizan los escudos de las calles y la idealización de la comunicación comercial
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de las ciudades. Como tema, pretendemos analizar tres tabletas encontradas en la Avenida Siete de Septiembre en Manaus-AM, presentando la evolución y uso de las tabletas en el tiempo y cómo se adaptan, a nivel de las materias y características básicas. Para tanto presentaremos algunos conceptos base para la formación de la investigación como el flâneur, límites, iconología e iconografía, está discusión se basa en las teorías de Kevin Lynch, Otoni Mesquita, Erwin Panofsky, João do Rio y Katia Maria Paim Pozzer. El tipo de investigación es exploratoria y la metodología es de cuño cualitativo, haciendo con que podamos analizar el material artístico de forma profundizada, el análisis comenzó con la investigación de campo y las lecturas de los teóricos. Palabras clave: Tabletas. Sete de Setembro. Iconología. Iconografía.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS A comunicação tem sido o grande expoente para a vida do ser humano, principalmente, a que se refere aos movimentos artísticos. A pintura como uma expressão íntima de pensamentos únicos, a dança como expressão de conhecimento, a música como criadora de ideias, o designer como um modo de pensar e produzir, entre outros. Podemos também exemplificar o caso da escrita que nos acompanha há séculos que é uma das maiores formas de expressão, o poder de criar códigos predestinados por uma comunidade de falantes para transcrever sons em grafia. Partindo da ideia que a arte tem o poder de comunicação visamos nesse trabalho a análise de duas tabuletas localizadas na avenida Sete de Setembro, no centro histórico da cidade de Manaus. Para a realização da análise nos baseamos em Erwin Panofsky (2014), João do Rio (2007), Otoni Mesquita (2009), Zecharia Sitchin (2004) e Katia Maria Paim Pozzer (1999). A metodologia adotada é a qualitativa que oportuniza a análise do material artístico e o aprofundamento da pesquisa e o tipo da pesquisa é exploratória. A análise iniciou com a pesquisa de campo indo até a Avenida Sete de Setembro para o registro das tabuletas, a seguir, uma investigação bibliográfica sobre as tabuletas por meio da história, com a investigação da obra O Livro Perdido de Enki: Memórias e Profecias de um Deus Extraterrestre, de Zecharia Sitchin (2004), a leitura da obra A alma encantadora das ruas, de João do Rio (2007), com ênfase no capítulo intitulado Tabuletas, a leitura da obra Significado nas artes visuais, de Erwin Panofsky (2014) e suas teorias da arte, sobretudo na iconologia e iconografia. Para apresentar a pesquisa o texto está estruturado em três partes. Na primeira, iniciamos com a contextualização das tabuletas e suas características, na segunda parte traremos os olhares de João do Rio ao material artístico e suas relações com o período da Belle Époque. Na terceira parte contextualizamos as tabuletas da Avenida Sete de Setembro no que tange às suas características informativas por conta do território comercial. Destaca-se a análise de três tabuletas à luz das teorias de iconologia e iconografia de Panofsky (2014).
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TABULETAS: UM AVANÇO NA COMUNICAÇÃO E ESCRITA Em várias crenças acredita-se que a escrita tenha sido concebida pelos deuses, como os exemplos dos gregos que pensavam tê-la recebido de Prometeus, ou os egípcios, de Tot e, para os sumérios, a deusa Inanna havia roubado de Enki e deu aos homens. À medida que tais ideias iam perdendo crédito, especialistas investigaram por quais outros motivos civilizações antigas criaram a escrita, sejam motivos religiosos, artísticos ou de outra ordem. Foi então que na cidade de Uruk, a cerca de 225 quilômetros sul-sudeste de Bagdá, em 1929, que o arqueólogo alemão Julis Jordam desenterrou uma vasta biblioteca de tábuas de argila com figuras abstratas, com um tipo de escrita chamada “cuneiforme”, com aproximadamente 5 mil anos. Essas tábuas possuíam idade superior aos escritos encontrados na China, no Egito e na América e, como citado na obra O Livro Perdido de Enki: Memórias e Profecias de um Deus Extraterrestre, provavelmente referem-se às ruínas do palácio de Assurbanipal que contava com uma Biblioteca com pelo menos 25.000 tabuletas de argila inscritas (SITCHIN, 2004, p. 5). Com a tradução dessas tábuas descobriu-se tratar de documentos sobre cobranças da população e, entre outras, a história recontada dos textos dos hebreus. Em muitas tábuas a história do dilúvio e de outras passagens pentateucas com algumas diferenças ou pontuações diferentes do texto dito original. As configurações de local da escrita cuneiforme passaram por mudanças ao longo das eras, por motivos técnicos e até didáticos no funcionamento desse tipo de escrita. No artigo Escritas e Escribas: o cuneiforme no antigo Oriente próximo, Katia Maria Paim Pozzer (1999) discute as características do formato da argila e a divide em estágios para demonstrar a evolução. No primeiro estágio (figura 1) a autora nomeia de fichas ou calculi, pois eram caracterizados de símbolos numéricos, com representações de objetos ou símbolos convencionais, todo o material era produzido em argila. No segundo estágio (figura 2), caracterizados de esferas eram produzidos em argila mole, fazendo a impressão de fichas e selos, um tipo de autenticação.
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Figura 1 – Primeiro estágio - Fichas.
Fonte: Hrouda (1992, p. 272). Figura 2 – Segundo Estágio – Esferas.
Fonte: Hrouda (1992, p. 273).
No último estágio (figura 3) surgem os formatos de tabletes como se as esferas fossem esticadas, formando uma configuração de tábuas em argila. Nesse estágio a escrita comum era o cotidiano dos mesopotâmicos e suas ações de comércio.
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Figura 3 – Terceiro Estágio – Tabletes.
Fonte: Hrouda (1992, p. 87).
Essas tábuas de argila logo receberam o nome de tabuleta, por serem dotadas de significação e comunicação. Com funções básicas de organização e de memórias, as primeiras tabuletas nasceram simples, feitas de argila, mas de grande utilidade ao povo sumério, já que esta é a escrita conhecida mais antiga da humanidade. Muitos anos de evolução e as tabuletas estão nas paredes dos principais cafés da Europa e de estabelecimentos super sofisticados, e nas paredes de uma cidade no meio da floresta amazônica. AS TABULETAS DE JOÃO DO RIO: UM OLHAR DE UM FLÂNEUR À ARTE Na célebre obra A alma encantadora das ruas de João do Rio (2007), o flâneur segue explorando a Belle Époque carioca e suas inovações acerca da cidade. Até que no segundo capítulo, em que explora as entranhas que compõem a alma encantadora das ruas, o cronista se depara com as tabuletas, instrumento usado para sinalização de estabelecimentos, comércio em geral e identificação. Em sua crônica nomeada de Tabuletas, João do Rio faz algumas afirmações sobre elas. Segundo o cronista, um poeta considerou as tabuletas o brasão da rua (RIO, 2007), os escudos urbanos, e sua explicação para tal feito é que desde que um homem realiza a sua obra, imediatamente o homem batiza-a, dando assim o efeito de que as tabuletas têm a função de servir como uma espécie de bandeira ou o principal comunicador do comércio para a época declarada Belle Époque em que o cronista vivia.
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Da sua origem, o cronista afirma que não se sabe ao certo quem trouxe para aquele contexto ou de onde a tabuleta surge para ornamentar a cidade. E complementa que no Oriente as tabuletas já existiam e que sua evolução, tanto no tocante às ferramentas, quanto aos materiais e ao tipo de confecção, foi se adaptando ao tempo e ao contexto em que elas foram utilizadas. João do Rio observa também os aspectos de produção das tabuletas. Faz isso quando observava alguns artistas, cada um trabalhava à sua maneira, uns eram exclusivos do comércio, outros trabalhavam com artes mais rebuscadas, ao estilo francês. O cronista tende a afirmar que os artistas lembram os iluministas medievais, pela sua paciência e todos os detalhes que faziam em cada obra. João do Rio, como o curioso flâneur, pode identificar nas ruas algumas intervenções da arte do período da Belle Époque. Nesse contexto, o cronista nos descreve como foram surgindo e como foram nomeadas, além de mostrar os pintores de tabuletas e como o seu trabalho era de extrema importância para a construção do ambiente. Veremos essas relações da Belle Époque com as tabuletas também na cidade de Manaus, em especial na avenida Sete de Setembro e suas relações com a identificação do espaço. A ARTE NA AVENIDA SETE DE SETEMBRO: AS TABULETAS DE INFORMAÇÃO E COMÉRCIO Localizada no Centro Histórico da cidade de Manaus-Amazonas, a Avenida Sete de Setembro carrega um grande acervo de obras. Obras que vão desde monumentos a praças, pontes e escolas, a avenida também é habitat natural das tabuletas, que percorrem os mais de 2.400 metros de extensão. A avenida tem como nascedouro o antigo bairro de São Vicente, centro antigo, que fica às margens do Rio Negro (figura 4). E é por meio deste encontro entre cidade e rio que o centro histórico da cidade de Manaus foi sendo construído. As embarcações vindas diretamente da Europa atracavam às margens do Rio Negro e toda mercadoria ia sendo transportada pela Avenida Sete de Setembro.
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Figura 4 – Nascimento da Avenida Sete de Setembro às margens do Rio Negro em Manaus.
Fonte: Acervo Intercidade.
Todo esse enriquecimento da cidade aconteceu pelo favorecimento do período áureo da borracha. Por meio da influência parisiense a área foi organizada e seu entorno sofreu mudanças expressivas, como a criação de ruas retilíneas e largas, a implementação de iluminação adequada, a expansão do transporte e a criação de espaços comerciais e de lazer, fazendo Manaus passar a ser reconhecida como a Paris dos Trópicos, tudo graças à administração de Eduardo Ribeiro, como explicita Mesquita (2009, p. 143): A partir da administração de Eduardo Ribeiro, a cidade de Manaus adquiriu uma nova feição, sendo ampliada e embelezada. Sem dúvida, a atuação de Ribeiro coincidiu com a fase de maior prosperidade financeira na região, quando a exportação da borracha gerou os maiores índices e o Estado pôde financiar um grande número de obras para os melhoramentos da cidade, mas com certeza sua liderança política foi decisiva para o processo de transformação da cidade, podendo ser apontado como o programador responsável pela definição vitrine.
Pela grande extensão da Avenida recorremos às ideias de Kevin Lynch (2006) em sua obra A imagem da Cidade que discute os limites geográficos e, principalmente, a relação da cidade com o designer urbano, afirmando que o desenvolvimento acontece de forma pessoal, em especial, pela vivência do urbano. Isso fica evidente quando Lynch (2006) debate sobre as cidades modernas e como o ato de perder-se numa cidade é extremamente raro, pelo número de informações disponíveis, já que os próprios logradouros se organizam de forma arbitral para que o morador, o passante e outros possam desfrutar da cidade em seu esplendor. Para fomentar a divisão Lynch (2006, p. 14) discute que: no processo de orientação, o elo estratégico é a imagem do meio ambiente, a imagem mental generalizada do mundo exterior que o indivíduo retém. Esta imagem é pro-
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duto da percepção imediata da memória da experiência passada e ela está habituada a interpretar ações. A necessidade de conhecer e estruturar o nosso meio é tão importante e tão enraizada no passado que esta imagem tem uma grande relevância prática e emocional no indivíduo.
O que vem a calhar com os ideais da flânerie já que para se conhecer e saber verdadeiramente da cidade é preciso se perder, conhecer e, principalmente, andar por ela. Fato que vem sendo discutido na obra de João do Rio (2007) e é sempre frisado pelo autor como parte de sua pesquisa em demonstrar sua admiração pela cidade, em especial pela rua. Para os padrões europeus, a avenida apresentava uma extensão favorável ao comércio e moradia, essa divisão ainda repercute no período atual. Na primeira parte que compreende o seu nascedouro até o cruzamento com a Avenida Eduardo Ribeiro, a avenida tem uma característica fortemente histórica, contendo uma gama de monumentos e expressões artísticas da época. A segunda parte, que compreende o cruzamento da avenida Eduardo Ribeiro indo até a Avenida Getúlio Vargas, apresenta um território altamente comercial. E a última parte da avenida, que compreende do cruzamento da avenida Getúlio Vargas até a avenida Castelo Branco, apresenta a mescla entre o comercial e moradias. Para esta pesquisa daremos foco à primeira área para a análise de duas tabuletas. Delimitamos esta área pois o número de tabuletas é expressivo, além de fazer parte do centro histórico mais antigo. A maioria das tabuletas encontradas nessa área seguem a característica de serem comerciais, e outra pequena porcentagem de serem informativas. Na presente pesquisa analisaremos uma tabuleta de cunho informativa, um teatro e outra comercial, uma livraria. Como base teórica para a análise utilizaremos as ideias sobre crítica e observação acerca da arte de Erwin Panofsky (2014). Em seus estudos o crítico conseguiu sintetizar as ideias discutidas na Escola de Warburg, produzindo um famoso artigo, nomeado Iconografia e Iconologia: uma introdução ao estudo da arte na Renascença. Em seus estudos, Panofsky (2014, p. 50) classifica três níveis de interpretação correspondentes a níveis de significado. O primeiro nível, voltado ao significado primário ou natural, pode ser identificado como uma descrição pré-iconográfica, que consiste na identificação de formas puras, nos detalhes e objetos propostos na oba. O seguinte nível é voltado ao significado secundário ou convencional, propriamente dito, a descrição iconográfica, que difere do primeiro nível busca os conceitos e composições da obra. O terceiro nível é voltado às ligações intrínsecas e conceitos da obra, em resumo, o terceiro é a análise iconológica. Partindo da análise iconográfica identificamos uma tabuleta (figura 5) de cunho informativo. Sobre o seu tamanho, a tabuleta é bem maior que o formato das demais que se encontram próximas, seu material é de ferro, fica suspensa à porta do estabelecimento e é orientada no sentido vertical. Algo que a destaca, também, é o conteúdo escrito, que fica na
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parte superior e que não ocupa grande espaço deixando o restante da tabuleta vaga, ainda há a imagem de uma xícara de café e os letreiros abaixo no estilo Market Deco. Basicamente, as cores que concernem à tabuleta são marrom e branco, apresentando arabescos nas extremidades que são fixadas. Figura 5 – Tabuleta do Les Artistes Café Teatro.
Fonte: Acervo Intercidade.
Iconologicamente falando, a tabuleta da figura 5 é fortemente inspirada na Art Nouveau, que ocorreu com bastante força na Belle Époque. Esse estilo de arte surgiu em decorrência do abuso das artes clássicas e tradicionais, sendo assim a Art Nouveau valoriza os ornamentos e curvas decorativas. No que concerne às cores, a simplicidade do marrom e branco não condiz muito com o estilo adotado na época, que preferia cores mais vivas. Outro aspecto importante é o nome do local Les Artistes Café Teatro, comemorando os cafés parisienses que eram a grande moda na cidade, além de ser um ponto de intelectuais, artistas e escritores. Hoje o prédio funciona como um teatro e museu, mas já foi hospedaria e residência do Comendador J. G. Araújo. Os arabescos que compõem a tabuleta foram produzidos de forma curvilínea. Algumas formas podem ser comparadas com corações, mas a principal referência são ramos. A segunda tabuleta (figura 6) tem o cunho comercial, se trata de uma livraria católica. Na visão iconográfica, essa tabuleta se diferencia muito da analisada anteriormente, primeiro seus materiais, que se mesclam entre o ferro e o plástico, mostrando uma modernização do clássico. Fica à porta do estabelecimento, é composta de uma forma retangular, com bordas curvilíneas. Seu letreiro preenche toda a tabuleta e apresenta cores simples, como o vinho e o branco. Apresenta a representação de um globo e nome do estabelecimento.
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Figura 6 – Tabuleta Livraria Paulinas.
Fonte: Acervo Intercidade.
Sob a ótica da iconologia, a figura 6 recebe as características de Art Nouveau nos arabescos. Fora isso, o restante da tabuleta se caracteriza com a indústria moderna e com a produção rápida, isso se dá pela adoção do plástico como material, por ter um custo econômico menor e uma produção em massa, é preferível aos comerciantes atuais. Isso pode ser visualizado na avenida Sete de Setembro quando identificamos um número demasiado de tabuletas de plástico e outras que mesclam as características originais da Belle Époque, como os arabescos, madeira e pintura. A tabuleta apresenta o símbolo do globo terrestre que mostra os meridianos e paralelos, conceitos ligados às dimensões de espaço e fuso horário. É um símbolo usado pela cartografia na confecção de mapas, também significa áreas de conhecimento, muito usado nas expedições e navegações. Por se tratar de uma loja de cunho religioso, em especial católico, o estabelecimento recebe o nome de Livraria Paulinas, pois trata-se da Pia Sociedade Filhas de São Paulo, que tem como missão ser Apóstolas no mundo da comunicação. A Sociedade Filhas de São Paulo está em todos os estados do país e conta com lojas, rádios, programas de televisão e internet e, por meio das livrarias, vendem aquilo que é produzido para pregação do evangelho. Com isso vemos o desenvolvimento das tabuletas dessa avenida e suas composições de diferentes tipos. Vimos que ao mesmo tempo em que há a presença de tabuletas com materiais clássicos como o ferro, há também com materiais modernos, como o plástico. E que essas tabuletas são desenvolvidas de acordo com o tipo do estabelecimento e seu local de funcionamento, por exemplo um prédio histórico que recebeu uma tabuleta clássica e um prédio comercial inovando com uma tabuleta de materiais contemporâneos.
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Figura 7 – Tabuleta da Loja Info Store.
Fonte: Acervo Intercidade.
Por fim, temos a última tabuleta a ser analisada (figura 7). Em relação às questões iconográficas, a tabuleta segue um formato retangular, num tamanho menor que as demais analisadas. Tem o azul como predominante, que cobre praticamente todo letreiro, o vermelho com uma faixa no canto esquerdo e um designer imagético na ponta direita, e por fim o branco que está num quadrado na esquerda abaixo e em outro ponto, formando o nome da empresa Info Store. O material usado é o plástico e a tabuleta conta com duas faces, seu diferencial se dá pelo fato de ter uma luminosidade interna, fazendo com que se destaque. Embora apenas seja usada nos turnos da noite, quando há um fluxo menor de pessoas na avenida, a luminosidade interna demonstra como as tabuletas tem se adaptado às novas tecnologias e continuam demarcando o território de vendas. Da perspectiva iconológica, a tabuleta apresenta as características das obras de Piet Mondrian, que foi um importante pintor modernista holandês, que fazia parte do movimento Neoplasticista e Cubista. Das características estilísticas do artista se destacam o pensamento teosófico e as figuras abstratas geométricas, principalmente, no formato retangular. Mondrian utilizava especialmente as cores primárias (vermelho, azul, branco, amarelo e preto), que considerava elementares no universo. Outro ponto que nos chama atenção é a figura imagética acima do nome da empresa que, correspondentemente, seria a representação de uma montanha com o sol ao fundo, muito comum nas obras orientais, sobretudo nas técnicas de xilogravura, muito populares durante o período Edo, a técnica de gravura é procedente da China e foi introduzida no Japão no século VIII, é comumente conhecida como ukiyo-e, literalmente “pinturas do mundo flutuante”.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS O exercício de observação das tabuletas ainda tem oportunidades a seguir. Há ainda tabuletas de diferentes materiais e especialidades e outras áreas de investigação. Manaus foi uma cidade que se comportou como Paris, em especial no período da Belle Époque, importando as inovações e conquistas da cidade luz. De lá também vieram as tabuletas, que nos dias atuais preenchem o centro histórico e o comércio, indicando as informações precisas ou apenas nos apresentando um certo local. E a avenida Sete de Setembro como berço dessas obras de arte nos traz em suas vias a história e o comportamento da cidade. No seu auge a via era clássica e dizia que o seu comércio era farto, atualmente a avenida continua apresentando um comércio farto, mas também comporta os contingentes de transformação urbana. Na via que um dia passava o bonde, hoje os carros e ônibus a transformam em modernidade. REFERÊNCIAS HROUDA, Barthel. L'Orient Ancien. Paris: France Loisirs, 1992. LYNCH, Kevin. A imagem da cidade. Tradução: Jefferson Luiz Camargo. São Paulo: Martins Fontes, 2006. MESQUITA, Otoni. La belle vitrine: Manaus entre dois tempos 1890-1900. Manaus: FAPEAM, 2009. PANOFSKY, Erwi. Significado nas artes visuais. Tradução: Maria Clara F. Kneese e J. Guinsburg. São Paulo: Perspectiva, 2014. POZZER, Katia Maria Paim. Escritas e escribas: o cuneiforme no antigo Oriente Próximo. Clássica, São Paulo, v. 11/12, n. 11/12, p. 61-80, 1998/1999. RIO, João do. A alma encantadora das ruas. São Paulo: Martin Claret, 2007. SITCHIN, Zecharia. O livro perdido de Enki: Memórias e profecias de um Deus extraterrestre. São Paulo: Madras, 2004.
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