Design, Identidade e Imagem da Cidade

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SIGEOLITERART 2019 Anais do IV Simpรณsio Internacional e V Simpรณsio Nacional de Geografia, Literatura e Arte

Uma interface entre Geografia, Turismo, Literatura e Arte: Entre viagens reais e imaginรกrias

UNIRIO, Rio de Janeiro, 6 a 8 de novembro de 2019


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Design, Identidade e Imagem da Cidade: processos de construção e análise dos instrumentais de pesquisa do Projeto Iconografias Urbanas da Uea Yama Talita Passos Monteiro Graduada em Letras – Língua Portuguesa; Pesquisadora do Grupo de Pesquisa Intercidade Universidade do Estado do Amazonas, Escola Normal Superior | ytalita43@gmail.com

RESUMO: O projeto intitulado Design, identidade e imagem da cidade: estudos iconográficos na região metropolitana de Manaus – AM tem como objetivo principal a identificação, análise e catalogação de elementos iconográficos que sublinhem traços de memória, identidade e paisagem urbana da região metropolitana de Manaus, capital do Estado do Amazonas. No presente estudo delimitamos a reflexão acerca dos processos de catalogação e análise dos dados obtidos até o presente andamento da pesquisa. Focando no aprimoramento e desenvolvimento de metodologias de pesquisa, baseamo-nos na produção cultural e na análise do discurso de elementos iconográficos urbanos: impressos, embalagens, letreiros comerciais e tipografias, assim como aspectos do ambiente natural da cidade e suas inter-relações enquanto patrimônio artístico, histórico e cultural. Ainda situados em questões metodológicas, tal análise se estabelecerá a partir da produção e leitura de instrumentais de pesquisa que delimitarão os pontos de exploração, tais como fichas catalográficas e formulários historiográficos do município. Por se tratar de uma análise em desenvolvimento, espera-se que, a partir dos resultados ainda parciais, seja possível realizar uma leitura interna e localizada das ruas principais da Região Metropolitana e gerar um acervo de dados que foque na valorização e preservação dos elementos iconográficos enquanto componentes patrimoniais e identitários da Amazônia. Palavras-chave: Iconografia Urbana. Metodologia. Amazonas. Região Metropolitana. ABSTRACT: The project entitled “Design, identity and image of the city: iconographic studies in the metropolitan region of Manaus – AM” has as its objective the identification, analysis and cataloging of iconographic elements that underline traces of memory, identity and urban landscape of the metropolitan region of Manaus, capital of the State of Amazonas. In the present study we delimit the reflection about the cataloging and analysis processes of the data obtained until the present research. Focusing on the improvement and development of research methodologies, we rely on cultural production and discourse analysis of urban iconographic elements: print, packaging, commercial signs and typography, as well as aspects of the city's natural environment and their interrelationship as heritage artistic, historical and cultural. Still situated in methodological issues, such analysis will be established from the production and reading of research instruments that will delimit the exploration points, such as catalogs and historical forms of the municipality. As it is an analysis under

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development, it’s expected that from the still partial results, it will be possible to perform an internal and localized reading of the main streets of the Metropolitan Region and generate a data collection that focuses on the valorization and preservation of iconographic elements as patrimonial and identity components of the Amazon. Keywords: Urban Iconography. Methodology. Amazonas. Metropolitan region. RESUMEN: El proyecto titulado “Diseño, identidad e imagen de la ciudad: estudios iconográficos en la región metropolitana de Manaus – AM” tiene como objetivo principal la identificación, análisis y catalogación de elementos iconográficos que subrayan rastros de memoria, identidad y paisaje urbano de la región metropolitana de Manaus, capital. del estado de Amazonas. En el presente estudio delimitamos la reflexión sobre los procesos de catalogación y análisis de los datos obtenidos hasta el progreso de la presente investigación. Centrándonos en la mejora y el desarrollo de metodologías de investigación, confiamos en la producción cultural y el análisis del discurso de elementos iconográficos urbanos: impresión, empaque, letreros comerciales y tipografía, así como aspectos del entorno natural de la ciudad y su interrelación como patrimonio. artístico, histórico y cultural. Aún situado en cuestiones metodológicas, dicho análisis se establecerá a partir de la producción y lectura de instrumentos de investigación que delimitarán los puntos de exploración, como los catálogos y las formas históricas del municipio. Como se trata de un análisis en desarrollo, se espera que a partir de los resultados aún parciales, sea posible realizar una lectura interna y localizada de las calles principales de la Región Metropolitana y generar una recopilación de datos que se centre en la valorización y preservación de los elementos iconográficos. como componentes patrimoniales y de identidad de la Amazonía. Palabras clave: Iconografía urbana. Metodología. Amazonas. Región Metropolitana.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS Fomentado pela Fundação de Amparo à Pesquisa no Amazonas (FAPEAM) através do edital N. 016/2014 PPP-CNPq, o projeto intitulado "Design, identidade e imagem da cidade: estudos iconográficos na região metropolitana de Manaus - AM" – Iconografias Urbanas – (INTERCIDADE, 2014) tem como objetivo principal identificar, analisar e catalogar elementos iconográficos que sublinhem traços de memória e identidade e a paisagem urbana da região metropolitana de Manaus, capital do Estado do Amazonas. Com isso, espera-se desenvolver e aprimorar metodologias de pesquisa que sustentem os estudos sobre identidade paisagística dentro dos espaços urbanos que compõem a área da metrópole amazonense. A pesquisa conta ainda com especificidades que abrangem a identificação, seleção e catalogação de elementos presentes em manifestações gráficas dentro do espaço estudado como impressos, embalagens, letreiros comerciais e tipografias, assim como aspectos construtivos constantes no espaço urbano. Tais fases de análise têm o fim de reconhecer e intervir na relação identitária destes elementos considerados urbanos com elementos que se fazem presentes (ou não) nas cidades metropolitanas, como fauna e flora.

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Há uma preocupação com a tradução e análise cultural do discurso apresentado nos/ pelos elementos iconográficos encontrados durante o estudo. Tais processos são fundamentais para a valorização e preservação destes elementos enquanto componentes do patrimônio histórico, artístico e cultural da região metropolitana de Manaus, uma vez que se trata de uma leitura interna, localizada e sucinta não somente da região em si, mas também da Amazônia sob um ponto de vista geral, o que leva ainda à estruturação de um laboratório que tem os olhos voltados para a relação que a globalização e a sustentabilidade têm exercido dentro do contexto amazônida. Além do fomento da FAPEAM, o projeto recebe o auxílio locativo da Escola Normal Superior (ENS-UEA), onde são realizadas reuniões semanais para estudo, análise e discussão dos procedimentos, documentos e informações relevantes acolhidas no decorrer de pesquisas realizadas em campo ou bibliográficas. Atualmente existem vinte e um pesquisadores ativos no projeto, o que torna ainda maior a área de abrangência discursiva da pesquisa, uma vez que, visando a transversalidade de ideias e conceitos, há pesquisadores de diversos cursos de graduação, como Língua Portuguesa, Geografia, Design, Pedagogia, Libras, Turismo e Artes. O foco da presente pesquisa, além de ser o recorte de algo muito maior, é explanar e discutir os processos metodológicos do projeto Iconografias urbanas enquanto divulgação e análise de dados obtidos. Como veremos mais à frente, existem três processos metodológicos que norteiam a ideia principal da trajetória do projeto: a Ficha técnica do município, a ficha de caracterização da rua e a ficha de catalogação de imagens. Essas três estão em desenvolvimento por conta do caráter parcial do trabalho mas já funcionam de forma eficaz para que se tenha uma noção, mesmo que parcial, do desenvolvimento e andamento do programa. 1 VISUALIDADES DISCURSIVAS: QUESTÕES METODOLÓGICAS Considera-se necessária a contextualização no que tange o viés metodológico do projeto como um todo, uma vez que todos os processos de análise foram baseados nas proposições sobre tradução identitária e análise do discurso desenvolvidas por Alexandre Oliveira (2013, p. 135-138) e Evany Nascimento (2014, p. 25-30). A seleção constitui a primeira etapa de análise metodológica. Nesta etapa há a identificação dos aspectos que serão traduzidos a partir da compreensão de que tal processo ocorre sob determinadas circunstâncias e dentro de uma relação espaço-temporal específica. A partir disso desenvolvemos um estudo das metodologias de pesquisa sobre a identidade e a paisagem urbana a partir de uma perspectiva iconográfica; elaboramos uma série de critérios que servirão para identificar os elementos iconográficos e os validarão dentro de um pré-teste realizado. Logo em seguida há a seleção, análise e tradução de tais ele-

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mentos encontrados e validados por meio de registros fotográficos que englobam letreiros comerciais, tipografias, aspectos construtivos e o ambiente natural, e também através da coleta de material gráfico como impressos e embalagens. Após a primeira fase, o reconhecimento destes elementos prevê a necessidade de conhecer as condições específicas em que estavam inseridos os objetos iconográficos coletados. Com isso, há a identificação e catalogação por meio de recursos de reconhecimento de imagens como vetorização, animação, ilustração e vídeos de curta duração. Além disso, temos, ainda em processo de criação, uma ficha de análise dos registros fotográficos feitos em campo, o que serve para categorizar e elencar as fotos. Essa ficha conta com algumas categorias pré-estabelecidas, como “Panorâmica da rua”, “letreiros”, “placas”, “espaços abertos”, etc., em que as fotos são elencadas e separadas em pastas. Por fim, há a terceira fase em que busca-se verificar o contexto político, econômico, social e cultural nos quais estavam/estão inseridos. Aqui prevemos a triangulação de dados com a pesquisa bibliográfica, o trabalho de campo e resultados obtidos. Essa contextualização visa compreender como esse conjunto de elementos contribui/contribuiu para o processo de construção memorial, paisagística e identitária da cidade selecionada. Em seguida, são realizadas análises comparativas a partir do material coletado, analisado e contextualizado para que se indiquem parâmetros de uso, avaliação, valorização e preservação. Aliando todos os caminhos chegamos à prática, o que constitui as atividades de campo que são realizadas. Durante as atividades são discutidos e relembrados alguns conceitos que irão nortear a identificação e a catalogação dos elementos iconográficos da rua principal da cidade visitada, juntamente com os instrumentais de pesquisa, sejam da rua, sejam do município. Chegando ao destino de estudo, todo o trajeto na rua escolhida é feito a pé; somente em uma cidade, Manacapuru, a chuva se mostrava torrencial e parte da catalogação foi feita dentro da van. Durante a caminhada são observados todos os momentos, vivências e estilos urbanos que compõem aquela rua, o que deixa aberto o caminho para que se compreenda como aquela rua em particular pode evidenciar a identidade e também a memória de uma cidade toda. 2 PROJETO, OBJETO, SENTIDO: HALL, CALVINO E NASCIMENTO A presente pesquisa é interdisciplinar e faz circular diversos conceitos-base que servirão como sustento para a aplicação da metodologia. Dentro da concepção de cultura (viés antropológico), trazida pelo design, apropriamo-nos de um locus de atuação que nos dispõe a cultura projetual, uma área de trocas simbólicas entre produtos e processos conceituais. É a partir da inserção deste campo na pesquisa que introduzimos a tríade "projeto, objeto, sentido" pensada a partir de Stuart Hall (2000), Ítalo Calvino (1990) e Evany Nascimento

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(2014). Acreditamos que essa relação não pode ser pensada fora dos grupos sociais que as governa, pois muito lhes atribui significado. Neste sentido, o primeiro aspecto a ser considerado é o conceito de identidade e mais especificamente a identidade cultural. A globalização em conjunto com a ascensão da pós-modernidade tem tido enérgica significação em diferentes campos do conhecimento. Hall (2000, p. 109) discute que as elocuções sobre identidade surgem a partir do incômodo que os movimentos de globalização causam nas populações ao redor do globo; e é neste momento que as identidades são inseridas e construídas dentro, e não fora, do discurso apresentado. Desta forma, as práticas discursivas que dão significado e sentido às identidades precisam ser compreendidas a partir de seu referencial e, principalmente, dentro de seus contextos originais. Isso faz com que consigamos entender como são construídas as negociações e as (res)significações culturais através da globalização, o que, a esse ponto, já atingiu a identidade das cidades, dos objetos iconográficos que dela resultam, constituindo assim, uma das interrogações que esta pesquisa busca exclamar. Em segundo foco temos o objeto, que neste caso é a cidade. No que concerne a imagem da cidade, o estudo parte da ideia que ela está sempre passando por períodos que podem ser construídos e, consequentemente, vivem em construção (CALVINO, 1990). Logo, compreende-se que a cidade é uma obra aberta que tem/torna seus moradores em sujeitos ativos no processo de construção e significação. Este viés nos guia para a construção conjunta de uma metodologia que baseia-se em estudos anteriores de autores consagrados, mas que se estrutura na temática regional pensada na dimensão urbana das cidades da Região Metropolitana de Manaus. A metodologia desenvolvida nos mostra cada vez mais que a imagem da cidade, adquirida com o tempo e que é exposta ao mundo também constitui um discurso construído que revela a presença de várias identidades e várias cidades dentro de um mesmo espaço urbano, como bem pontua Nascimento (2014). Isso faz com que coloquemos lado a lado o projeto de estudo - as visualidades - e o objeto de estudo - as cidades metropolitanas - para que finalmente tenham um sentido completo. Tratar a(s) identidade(s) da cidade com foco em sua visualidade é realizar um casamento das linguagens iconográficas com as perspectivas de linguagem visual que o design dispõe. Tal encontro de áreas faz com que o espaço público, em sua dimensão compreendida, integre uma significação enérgica de sua existência e torne-se, de uma vez, design urbano (NASCIMENTO, 2014). Por fim, traz-se à tona ainda a dimensão dos estudos iconográficos e sua metodologia etnográfica. Esta dimensão terá como foco a construção discursiva, dentro de suas dimensões. Construção esta que descreve e interpreta com a finalidade de encontrar os sentidos que os sujeitos e objetos de pesquisa tomam dentro do contexto em que estão inseridos.

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Isso nos leva à concepção de que as interpretações que serão feitas dentro da pesquisa são e serão permeadas de interferências sociais, políticas, financeiras e culturais, uma vez que trata-se da aplicação de uma metodologia que, assim como as cidades de Calvino, está sempre em construção e suas lacunas etnográficas evidenciam o pesquisador como um tradutor cultural que trabalha os sentidos de sua cultura em conjunto com a cultura do outro. Por exercer uma metodologia interdisciplinar, a pesquisa tem oportunizado a fixação de jovens pesquisadores, a ampliação, aperfeiçoamento e troca de conhecimentos e experiências requeridas pelo campo acadêmico. Essas vivências colaboram cada vez mais para a construção de um banco de dados instrumental que valorizará e sustentará o campo de pesquisa acadêmico que existe sobre as visualidades identitárias e discursivas da Amazônia. 3 VISUALIDADES: REGIÃO METROPOLITANA A Região Metropolitana de Manaus (RMM) também conhecida como Grande Manaus, foi criada pela Lei Estadual nº 52 de 30 de maio de 2007. É formada, de acordo com o Site do Fórum Nacional de Entidades Metropolitanas (FNEM, c2019), pela união de treze municípios: Autazes, Careiro, Careiro da Várzea, Iranduba, Itacoatiara, Itapiranga, Manacapuru, Manaquiri, Manaus, Novo Airão, Presidente Figueiredo, Rio Preto da Eva e Silves. De acordo com estimativas do Fórum, sua população em 2018 era de 2.631.239 residentes, fazendo desta a segunda maior área metropolitana do Norte do Brasil e a 13ª de todo o país. A incisão que a RMM tem sobre o desenvolvimento do Amazonas é indiscutível, uma vez que se instalou em uma área um tanto quanto estratégica, colaborando enormemente para seu desenvolvimento e para o desenvolvimento do Estado. Situada em uma área de livre comércio, a Região conta com importantes empresas de diversas áreas, como comunicações, transportes, biotecnologia e petroquímica que auxiliam na expansão e divulgação comercial da localidade. No que tange o discernimento do projeto Iconografias Urbanas, temos como abrangência boa parte dos municípios que integram a RMM, o que nos leva aos seguinte municípios: Manaus, Careiro, Careiro da Várzea, Iranduba, Itacoatiara, Manacapuru, Novo Airão, Presidente Figueiredo e Rio Preto da Eva. Cada município foi escolhido de forma logística e pensada juntamente com os organizadores da pesquisa de forma que pudesse ser concluída dentro do prazo de dois anos com êxito e fundamentação. Abaixo temos a lista dos municípios e suas ruas escolhidas em que foi possível catalogar dados até o mês de agosto do corrente ano.

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Tabela 1 - Municípios visitados pelo Iconografias Urbanas

MUNICÍPIO

RUA ESTUDADA

DISTÂNCIA DA CAPITAL

Avenida Sete de Setembro

Manaus

Avenida Grande Circular

capital

Careiro Castanho

Avenida Adail de Sá

124 km

Manacapuru

Avenida Manuel Urbano

95 km

Iranduba

Avenida Amazonas

24 km

Fonte: Intercidade (2019a).

Até então, as cidades e as ruas visitadas e catalogadas foram enumeradas e analisadas de acordo e a partir do que se propõe aqui: as fichas de análise. As ruas de Manaus, pelo que se observa previamente nas fichas, se mostram mais agitadas e mais complexas enquanto material de análise, uma vez que o investimento visual e o material iconográfico se estendem por toda sua dimensão, estando muitas vezes até amontoado, algo que também se observa em cidades como Manacapuru e Iranduba. As demais cidades como Careiro Castanho se mostram mais bem planejadas e mais divididas no que se refere ao investimento visual de comércio, residência e vivências urbanas, o que não exclui seu caráter de aglomerado visual que aparece, muito raramente, em fases da caminhada. Deste modo, esta pesquisa ao tempo que identifica esta lacuna no que diz respeito ao tema, se propõe contribuir para uma maior compreensão sobre a iconografia da cidade de Manaus e seu entorno constituindo-se numa oportunidade para dar visibilidade às manifestações gráficas, aos aspectos construtivos e as relações identitárias oriundas do ambiente natural, através de uma metodologia apropriada, indicando parâmetros para o uso, avaliação, valorização e preservação dos elementos iconográficos enquanto componentes do patrimônio histórico, artístico e cultural da região metropolitana de Manaus. 4 VISUALIDADES IDENTITÁRIAS: INSTRUMENTAIS DE PESQUISA Os processos de construção dos instrumentais de pesquisa se constituíram a partir das reuniões que o grupo Intercidade vinha/vem realizando dentro do espaço de pesquisa da Universidade do Estado do Amazonas. Como visto na metodologia do projeto, esses instrumentos irão servir para que se configure uma análise mais objetiva, centrada e conceitualizada dos elementos iconográficos encontrados na Região Metropolitana de Manaus. Acredita-se que a participação de membros de diferentes áreas contribuiu imensamente na construção destes instrumentais, uma vez que cada área pensa a cidade, os elementos iconográficos e a identidade de uma forma, o que faz com que tanto as fichas de análise quanto as próprias análises se mostrem transversais e multidisciplinares enquanto material didático-científico.

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Iremos, então, discorrer sobre os processos de construção e uso dos instrumentos de pesquisa dentro dos materiais obtidos nas quatro cidades visitadas até então. Frisando novamente, temos um elenco de três fichas que constituem o instrumental: a. Ficha técnica do município; b. Ficha de caracterização da rua; c. Ficha de catalogação de imagens. A primeira ficha (Quadro 1) aborda questões de contexto e conhecimento prévio do município, trazendo informações mais gerais acerca da cidade, como Nome, Data de surgimento, Localidade, etc. Cada pesquisador do grupo fica responsável por uma cidade da RMM e se encarrega de preencher esta primeira ficha com o objetivo de apresentar ao grupo o contexto histórico-político-social de determinada cidade. Todas as informações contidas nesta ficha são (re)vistas e discutidas de forma geral com os demais pesquisadores, o que possibilita, mais uma vez, a transversalidade de informações sobre a cidade. Algo que ocorre muito dentro do grupo é o fato de ocorrer, de acordo com Armando Silva (2001) o contexto da cidade vivida. Alguns pesquisadores têm mais vivências em determinadas cidades (ou ele morou/mora ou conhece pessoas próximas que lá vivem), o que deixa mais fácil a discussão e a relação de entender como funciona aquele município, aquela rua, a partir da experiência de cidade vivida do pesquisador. Além disso, ainda temos a cidade vivida enquanto estamos dentro do trabalho de campo, o que também cria o viés de dualidade dentro da discussão posterior a partir da ficha, mostrando que vivências daquela cidade podem ou não ser parte de vivências que nos são familiares. A seguir veremos como se configura a Ficha técnica do município e suas subcategorias. Quadro 1 – Ficha técnica do município.

OBJETO DA PESQUISA: PESQUISADOR: Nome Histórico População ASPECTOS CONTEXTUAIS

Localização Administração Administradores políticos Economia

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Símbolos e ícones Festas ASPECTOS CULTURAIS

Aspectos religiosos Culinária Artistas Línguas faladas Sistema de transporte

IDAS E VINDAS

Principais acessos Atrações turísticas

OUTROS ASPECTOS

Aspectos naturais Curiosidades

Fonte: Intercidade (2019d).

A ficha acima contribui nas considerações acerca da maior contextualização e maior conhecimento das cidades selecionadas pelo projeto. Como dito, cada pesquisador do grupo ficou encarregado de pesquisar sobre uma determinada cidade, isso faz com que este tenha a responsabilidade de preencher e socializar posteriormente as informações que obteve através de pesquisas. Em sua primeira categorização há o aspecto da própria contextualização, onde são indicadas as informações que servem de base para que se tenha a noção de estrutura física e econômica da cidade. Nos Aspectos Culturais já tratamos de questões como os símbolos e ícones da cidade, festas e festivais, os aspectos religiosos, a culinária e os artistas com o intuito de entender como a população se constitui enquanto identidade cultural. As categorias seguintes falam sobre as estruturas de ir e vir, como os transportes disponíveis dentro da cidade e também dos meios de acesso ao município, sejam eles o rio, a estrada ou vias aéreas. Em Outros Aspectos vemos os interesses turísticos, os aspectos naturais e todos sentidos que englobam as principais ideais que norteiam sua caracterização. Tendo em mente essas informações básicas, os pesquisadores já podem seguir nas discussões sobre os municípios e as ideias de pesquisa. A ficha de caracterização da rua (Quadro 2) expande as visões de reflexão acerca da identificação do que é realmente necessário enquanto se está na atividade de campo, como veremos a seguir.

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ANAIS DO SIGEOLITERART 2019 Quadro 2 – Ficha de caracterização da rua.

OBJETO DA PESQUISA: PESQUISADOR: Quem ocupa a rua DIMENSÃO HUMANA

Usos do espaço Principais fluxos Idiomas/sotaques Cheiros Sons

DIMENSÃO SINESTÉSICA

Imagens marcantes Grafites/pichações Elementos publicitários Construções comerciais Construções comerciais

DIMENSÃO DE PATRIMÔNIO CONSTRUÍDO

Construções residenciais Construções históricas Espaços abertos/vazios Marcos visuais Funcionalidades Trajeto

DIMENSÃO DE PERCURSO

Tipos de transporte Pontos de encontro/permanência

DIMENSÃO DE PODER DIMENSÃO DE SEGURANÇA Calçadas Placas Limites ELEMENTOS URBANOS

Vitrines Lixeiras Iluminação Pavimentação Design vernacular

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Perfil do público frequentador Crianças, jovens, adultos ASPECTOS IDENTITÁRIOS

Diurno ou noturno Limpeza Rural ou urbana Núcleo fundador da rua

ASPECTO PANORÂMICO

Visão de conjunto Fauna

ELEMENTOS NATURAIS

Flora Arborização Limites naturais

ALMA ENCANTADORA PONTO DE VISTA CIDADÃO Fonte: Intercidade (2019b).

Partindo da familiarização com a segunda ficha podemos revisar os conceitos que Silva (2001) discorre sobre a cidade vista. Dentro da rua os pesquisadores precisam estar atentos para tudo que ocorre dentro das vivências urbanas de cada pessoa que compõe a rua. O preenchimento desta ficha compreende doze categorias discutidas e elaboradas pelo grupo Intercidade em conjunto com a coordenadora. Tais categorias partem da ideia de se ter doze maneiras de se observar a rua. Algumas tangem aspectos humanos e sinestésicos que podem ser entendidos enquanto seu significado mais subjetivo e pessoal partindo do pesquisador. O patrimônio, o poder, o urbano e a ideia de segurança da rua podem servir para que se compreendam as questões mais materiais e administrativas que caracterizam a cidade. A identidade da rua, a Alma encantadora e o ponto de vista cidadão são embasadas em, como dito, Armando Silva (2001) quando entendemos a ideia de que a cidade vista e vivida interfere na construção de um imaginário não somente daquela rua em questão, mas de toda a cidade. Por fim, chegamos ao que se constitui, parcialmente, ao fim dos instrumentos de pesquisa desenvolvidos até o primeiro semestre de 2019. Na ficha de catalogação das imagens temos uma ideia de como se dará o processo analítico dos dados obtidos nas atividades de campo.

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Quadro 3 – Ficha de catalogação de imagens.

Detalhes Adjacências Elementos naturais Respiros Muros Construções FOTOS TÉCNICAS

Tabuletas Vitrines Fachadas Panorama das ruas e fachadas Faixas Placas Outros elementos

FOTOS POÉTICAS

Item 15: figura típica regional

FOTOS DOS PESQUISADORES Fonte: Intercidade (2019c).

Vemos que a constituição e execução das ideias apresentadas até então são materializadas por meio das fotografias tiradas oficialmente (através das câmeras profissionais) e pessoalmente, por meio de aparelhos celulares que podem ou não compor o acervo imagético do projeto. Dentro desta temos a divisão triádica de classificação de imagens separadas por cidade: a primeira é a de Pesquisadores que possui todas as fotos dos pesquisadores em ação no trabalho de campo; a segunda é a categoria de Fotos poéticas que, visando abranger a intertextualidade e a interdisciplinaridade do grupo, aborda as fotos mais elaboradas com o fim de compor, futuramente, outras modalidades textuais, como crônicas, poemas, exposições e narrativas ficcionais ou não. Por fim, temos as Fotos técnicas que entram de acordo com a metodologia de pesquisa, literalmente, mais técnica. Dentro desta categoria temos as seguintes subdivisões: Detalhes, Adjacências, Elementos naturais, Respiros, Muros, Construções, Vitrines, Tabuletas, Faixas, Placas, Panorama Fachadas, Panorama Ruas e Outros elementos. Visando explanar sucintamente cada subcategoria, apresentaremos as mais subjetivas que não possibilitam a compreensão literal por meio de sua nomenclatura como a categoria Detalhes que, subjetivamente, visa as imagens da que são capturadas com uma lente específica, de longo alcance. Com Adjacências queremos abranger as ruas que cruzam a via principal, uma vez que estas, ao encontrar a avenida, já se fazem parte principal da cidade. Os elementos naturais são retratados como árvores, rios, igarapés ou instalações natu-

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rais que se fazem presentes na rua principal, assim como os respiros, que são os espaços abertos – propositalmente ou não –, como terrenos baldios e praças abertas. As fotografias de Panorama são as capturadas com a lente mais aberta, o que possibilita a visão mais ampla e geral seja da rua, seja das fachadas; já os outros elementos ainda não se encaixam em nenhuma outra categoria principal ou secundária da ficha, deixando em aberto sua interpretação e classificação sem pôr fora seu uso e captura. Por fim, o ver, viver e registrar a cidade é construído através das múltiplas formas que o grupo de pesquisa encontra e dispõe para a comunidade traduzir as inúmeras cidades que existem dentro de um único espaço urbano. As análises feitas a partir do instrumental de pesquisa irão compor um rol muito maior de contribuições acadêmicas acerca da idealização e imaginação urbana de uma área que só tem crescido dentro do Estado do Amazonas: a Região Metropolitana de Manaus. A integralização e triangulação de dados evidenciará que mesmo com as diversas interferências da modernidade e da expansão, os ideais tradicionalistas caboclos do Norte ainda lutam para se manterem vivos e aquecidos dentro de ruas e ruelas interioranas ou da capital por meio de mercadinhos, casas de madeira, igrejas e escolas que remetem um passado não muito distante e saudoso. Tais conclusões só são possíveis porque o discurso se grita por todos os cantos da RMM, tendo como maior difusor os elementos de visualidade que o projeto Iconografias Urbanas quer evidenciar e valorizar dentro da academia. CONSIDERAÇÕES FINAIS É importante destacar ainda que, com exceção das referências citadas, até o momento não foi encontrado trabalho acadêmico de cunho da graduação ou pós graduação que tenha se ocupado em identificar ou analisar elementos iconográficos que marquem a memória, a paisagem e a identidade urbana da Região Metropolitana de Manaus. Sendo assim, esta pesquisa tanto se identifica com a lacuna acadêmica referente ao tema quanto busca contribuir para maior contribuição sobre a iconografia de Manaus e seu entorno, construindo uma oportunidade de visibilizar as manifestações gráficas, os aspectos construtivos e as relações identitárias oriundas do ambiente natural por meio de uma metodologia apropriada que coloque em evidência os elementos iconográficos enquanto patrimônio histórico, artístico e cultural da RMM. REFERÊNCIAS AMAZONAS. Lei complementar nº 52/2007 de 30/05/2007. Institui a Região Metropolitana de Manaus e dá outras providências. Manaus: Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas, 2007. Disponível em: https://www.observatoriormm.org.br/categoria/publicacoes/legislacao/. Acesso em: 27 mar. 2020.

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CALVINO, Ítalo. As Cidades Invisíveis. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. FÓRUM NACIONAL DE ENTIDADES METROPOLITANAS (FNEM). Região Metropolitana de Manaus (AM). c2019. Disponível em: http://fnembrasil.org/regiao-metropolitana-de-manaus-am/. Acesso em: 10 jun. 2019. HALL, Stuart. Quem precisa da identidade? In: SILVA, T. T. da (org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000. INTERCIDADE. Design, identidade e imagem da cidade: estudos iconográficos na região metropolitana de Manaus - AM. Manaus: FAPEAM, 2014. INTERCIDADE. Municípios visitados pelo Iconografias Urbanas. Manaus, 2019a. INTERCIDADE. Ficha de caracterização da rua. Manaus, 2019b. INTERCIDADE. Ficha de catalogação das imagens. Manaus, 2019c. INTERCIDADE. Ficha técnica do município. Manaus, 2019d. NASCIMENTO, Maria Evany do. Do discurso à cidade: políticas de patrimônio e a construção do espaço público no Centro Histórico de Manaus. 2014. 243 f. Tese (Doutorado em Design) – Departamento de Artes e Design, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014. OLIVEIRA. Alexandre Santos de. Identidade cultural e ensino do design no Amazonas. Rio de Janeiro, 2013. 187 f. Tese (Doutorado em Design) – Departamento de Artes e Design, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013. SILVA, Armando. Imaginários urbanos. São Paulo: Perspectiva; Bogotá (Colômbia): Convênio Andes Bello, 2001.

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