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TURISMO
A FESTIVA E ENCANTADORA PUTIGNANO
Com ruelas de pedra ladeadas por igrejas do século XI, a cidade do sul da Itália encanta pela história, pela arquitetura e pelas festividades locais
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Na belíssima região da Puglia, no calcanhar da Itália, está a pequena, histórica e deliciosa comuna de Putignano. Trata-se de um centro agrícola repleto de grutas e belezas naturais, que atrai turistas do mundo todo pela gastronomia e por ser o palco e o cenário do carnaval mais antigo da Europa, e um dos primeiros do mundo.
A tradicional festa começa no dia 26 de dezembro. Primeiro, as pessoas levam velas às igrejas para pedir perdão pelos pecados que serão cometidos durante o carnaval. Em seguida acontece o Propaggini, um evento em que poetas recitam, de maneira improvisada, versos satíricos sobre as camadas mais influentes da sociedade. E entre carros alegóricos, músicas e foliões mascarados, a celebração só tem fim em fevereiro, na Terça-feira Gorda, quando um cortejo fúnebre composto por alegorias de papel machê retrata os excessos da festança. No final do desfile, todas as esculturas são incendiadas, marcando o fim das liberdades permitidas pela temporada festiva.
“Gosto muito do carnaval da cidade, embora na Itália as comemorações de carnaval sejam bem diferentes das que os brasileiros estão acostumados a fazer. As músicas usadas para entretenimento são um misto de canções italianas atuais e antigas e de vários outros países”, conta Maria Cristina Recchia, brasileira que vive na Puglia há 17 anos e, embora não more em Putignano, visita sempre a cidade para curtir os encantos e o clima de festa do lugar. “Me impressiona a alegria das pessoas que se fantasiam e desfilam pelas ruas festejando um carnaval discreto, mas bem organizado. Grandes e pequenos carros alegóricos são testemunhas de muito trabalho e dedicação de pessoas que seguem esta tradição. É um cenário surpreendente para nós”.
A HISTÓRIA DO CARNAVAL DE PUTIGNANO
Conta a lenda que, em 1394, o território era dominado pelos Cavaleiros de Malta, que decidiram mudar as relíquias de Santo Stefano que estavam em Monopoli para Putignano. Os malteses temiam que os saracenos conseguissem roubar as relíquias em Monopoli, que é uma cidade costeira, e por isso transferiram os bens para o interior da região.
Durante a passagem dos cavaleiros, os fazendeiros que trabalhavam no campo começaram a segui-los, dançando e fazendo sátiras em homenagem às relíquias. Começou aí a tradição de carnaval.
Ao longo dos anos a festa cresceu, ficou mais produzida e profissional, e ganhou até um mascote, chamado Farinella. Semelhante a um arlequim, ele usa roupas em azul e vermelho, as cores da cidade, e um chapéu de três pontas, representando as três colinas sobre as quais Putignano foi construída. Até o nome do mascote remete à cultura local: farinella é um prato típico preparado com cevada ou grão de bico que os fazendeiros costumavam comer no almoço, antes de começarem a trabalhar no campo.
Maria Cristina Recchia, brasileira que vive na Puglia há 17 anos
O QUE FAZER EM PUTIGNANO
Mas o carnaval não é a única atração da cidadezinha de menos de 30 mil habitantes. Quando a festa não está rolando, Putignano é uma tranquila e charmosa cidade que atrai, além dos turistas de longe, os moradores da região que querem comer bem e aproveitar o ambiente hospitaleiro e o cenário histórico do lugar.
“Já visitei muitos lugares de Putignano, como igrejas, museus e o centro histórico, mas meus favoritos são os locais de agriturismo e as masserias, porque oferecem uma gastronomia de ótima qualidade”, conta Maria Cristina, explicando que os lugares de agriturismo são fazendas que propõem um cardápio com produtos que normalmente são produzidos dentro da propriedade ou nas redondezas.
Autora de um blog de turismo sobre a região, o Vem Pra Puglia, Maria Cristina aconselha que todos os turistas que forem a Putignano não deixem de visitar uma masseria, e até indica a favorita: Masseria Spartaglio, situada na Strada Comunale Spartaglio. “As masserias fazem parte da história pugliese. Elas são um conjunto de casas em estilo rústico e algumas delas são em forma de trullo, um tipo de casa característica da região, em forma de cone e construída sem argamassa, ou seja, pedra sobre pedra. Nos séculos passados, a masseria foi de grande importância para a Puglia porque tinha a função de abrigar proprietários de terras, camponeses e pastores que trabalhavam nas plantações, na produção de óleo e vinho, e na criação de animais. Algumas eram fortificadas, com grandes muros e torres defensivas para se protegerem das invasões”, conta a moradora da região. “Hoje é possível encontrar masserias de vários tipos: as que são empresas agrícolas, as que são vinícolas, e as que foram transformadas em hotéis ou bed & breakfast, e fazem com que seus hóspedes vivam uma realidade próxima à de séculos passados”.
O centro histórico também merece horas reservadas para uma visita regada a caminhadas, fotos e compras. Igrejas construídas entre os séculos XI e XVIII ladeiam ruelas estreitas calçadas de pedras, e junto com elas, palácios construídos pelas famílias mais tradicionais da região ajudam a contar a história da pequena Putignano.
“O meu lugar favorito é a Piazza Plebiscito, o coração da cidade, ponto de encontros e desencontros, onde estão a Chiesta Matrice e o histórico Palazzo del Balì”, indica o designer e guia de turismo Alex Maia, que há 12 anos vive em Mola di Bari, também na província de Bari.
Autor do blog Brasil da Puglia, ele conta que já foi a Putignano diversas vezes, tanto para curtir com a família quanto para apresentar a cidade a turistas. “Gosto da cidade porque é divertida e acostumada a organizar eventos e festas”, comenta.
Para quem busca belezas naturais, a cidade também tem ótimos atrativos. A Gruta del Trullo, localizada na estrada que vai para Bari, atrai turistas de todas as idades por ter escadas
O Carnaval de Putignano atrai visitantes de todas as regiões da Itália
Vista panorâmica de Vieste, na Puglia
Putignano está situado na província de Bari, na região central da Puglia
que facilitam a visitação. Já a Gruta di Castellana proporciona uma caminhada de até 3 quilômetros de extensão e 73 metros de profundidade, por esculturas de estalactites e estalagmites de diferentes cores.
Maria Cristina, do Vem pra Puglia, conta que há diversos momentos do ano em que a cidade se torna ainda mais interessante. “Eu diria que a melhor época para visitar Putignano seria no mês em que é festejado o Carnaval, ou seja, fevereiro ou março. Mas o final de agosto, e os meses de setembro e outubro podem ser interessantes porque são os meses da vendemmia, ou seja, os meses de preparação de vários tipos vinhos. Os meses de novembro e dezembro também são interessantes pela colheita de azeitonas, tanto para consumo como para a produção de azeite”, indica.
UM TOUR PELA PUGLIA
Quem vai a Putignano pode aproveitar para conhecer outras charmosas cidades do sul da Itália, como Alberobello, famosa pelas 1.400 casas em formato de cone, chamadas de trulli, e Gioia del Colle, um paraíso para os amantes de vinícolas e, claro, de um bom vinho. Maria Cristina recomenda aos viajantes que incluam no roteiro a cidade que ela escolheu para viver: “Polignano a Mare, com seu charme, suas falésias e grutas que tornam mais encantadora a cidade do famoso cantor Domenico Modugno, que levou a música Volare para o mundo”
Outros bons lugares para visitar são Matera, uma das civilizações mais antigas do mundo, Conversano, a cidade da arte, e Bari, cidade portuária que é a capital da Puglia e, além de um centro histórico labiríntico, tem uma imponente arquitetura datada do século XIX e boas opções para quem gosta de ir às compras. ||