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PARCERIAS BRASIL ITÁLIA
Ferdinando Fiore, diretor-geral da Agência ICE
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No comando do escritório brasileiro da ItalianTrade Agency (ITA) desde novembro de 2019, Ferdinando Fiore conversou com a Itália 360º sobre as ações da Agência durante a pandemia e as perspectivas otimistas para reforço e ampliação das relações comerciais e de parceria entre Brasil e Itália para 2021.
Itália 360º: Qual o balanço geral que o senhor faz dos impactos deste ano nas relações de intercâmbio comercial entre o Brasil e Itália?
Fiore: Em linhas gerais, pode-se dizer que a crise causada pelo coronavirus teve um impacto maior no setor industrial brasileiro do que no italiano, pelo menos no que tange aos investimentos. As importações brasileiras de máquinas, equipamentos mecânicos e elétricos provenientes da Itália recuaram 15,2% nos primeiros 11 meses de 2020. Já entre as 6 principais categorias de produtos que o Brasil exportou para a Itália em 2019 (pastas de madeira; café; ouro; ferro e aço; peles e couros; minério de ferro) apenas as exportações de ouro cresceram em 2020, tendo as demais recuado, em média, 11%.
Apesar de difícil, este ano também abriu oportunidades. É o caso do segmento de produtos farmacêuticos e componentes para a indústria farmacêutica, cujas importações provenientes da Itália cresceram 13,2% diante de uma queda em cerca de 6% das importações do setor.
Outro segmento que cresceu foi o de vinhos e destilados. Nunca se bebeu tanto vinho no Brasil quanto durante a pandemia. O consumo per capita aumentou em quase 1 garrafa por brasileiro maior de 18 anos. Com isso, as importações também cresceram, da ordem de 10,4% em valor e 11,5% em quantidade. A Itália, todavia, não aproveitou bem essa oportunidade, pois os vinhos que exporta para o Brasil custam em média USD 3,25/litro, enquanto que a média dos vinhos exportados é da ordem de USD 2,74/litro. Outro ponto fraco é a comunicação, que vimos tentando remediar, apresentando ao brasileiro a grande vastidão de rótulos ofertadas pelos italianos, sem comparação com a oferecida pela concorrência.
Um ano difícil, de reflexões, no qual a busca por processos mais eficientes foi mais necessária do que nunca. Um ano de transformações, no qual o digital, que vinha engatinhando, passou a correr a passos largos. Um ano para tomar fôlego e ir com tudo em 2021, com a lição de casa feita e atenção nas oportunidades que se descortinam, procurando ser cada vez mais proativo e menos reativo.
Itália 360º: Na visão do senhor, quais são os maiores desafios a serem enfrentados em 2021 pela Agência ICE?
Fiore: Apesar das dificuldades impostas em 2020, a atividade do escritório não parou. Estávamos em vias de digitalização dos processos e o home office pôde ser introduzido de maneira relativamente simples e com grande ganho de produtividade.
Claro que as atividades promocionais e, em particular, a participação em feiras e eventos com grande público, foram reduzidas a praticamente zero. Por outro lado, os serviços personalizados e a produção de materiais informativos cresceu exponencialmente. Até o momento já atendemos a mais de 600 solicitações de serviços vindos de empresas italianas e brasileiras,
especialmente de identificação de parceiros comerciais. Esse número é mais de 36% superior à nossa meta para 2020 e mais de 120% superior ao realizado em 2019. No campo editorial, publicamos até o momento 356 notícias e 13 estudos setoriais na seção de notícias de nosso site www.ice.it, contra cerca e 300 notícias publicadas e 6 estudos realizados em 2019.
No campo das atividades promocionais, embora os eventos presenciais tenham sofrido uma forte freada, as versões digitais vieram com tudo. Participamos e favorecemos a participação de compradores e investidores internacionais em diversos eventos digitais e em 2021 não deve ser diferente, particularmente com o desenvolvimento do Projeto Smart 365, plataforma que permite a realização de feiras digitais com a qualidade e conteúdo de um evento presencial, inclusos estandes, materiais de divulgação, rodadas de negócios, etc. É claro que em segmentos como o de bens de consumo e, em particular, o de alimentos e bebidas, que requerem a experimentação, o digital não consegue ser 100% adequado. Para esses casos, criamos os eventos figitais, nos quais as amostras de produtos são entregues aos potenciais compradores, após uma prévia avaliação econômica, e as reuniões de negócios são realizadas virtualmente.
No ano que vem, pretendemos reforçar as ações em plataformas digitais de comércio eletrônico e expandir as ações para todas as principais praças econômicas do país e onde a demanda por produtos importados é maior.
Itália 360º: Quais aspectos o senhor considera que podem ser melhor explorados para favorecer o desenvolvimento comercial e tecnológico entre Brasil e Itália?
Fiore: O Brasil é um mercado de imenso potencial ainda a ser explorado. Tem uma importante agricultura, que não vê crise, que surfa no aumento da demanda internacional e que investe pesadamente em tecnologia, campos nos quais os italianos são referência internacional. Também é um país no qual os investimentos em infraestrutura que, embora desacelerados em 2020, devem crescer a partir do ano que vem, com a retomada dos processos de privatização anunciados de malhas ferroviárias, aeroportos, portos, rodovias, sistemas de produção e distribuição de energia e prospecção e exploração de petróleo, para os quais os italianos podem oferecer desde serviços de engenharia e gestão até partes e componentes mecânicos.
No segmento de bens de consumo, o mercado também é grande. Basta escolher bem o mix de produtos que o brasileiro está disposto a comprar e ajudar os italianos a superarem certas barreiras, aproximando-os cada vez mais dos compradores, que o sucesso é garantido.
O maior desafio se concentra no setor de máquinas e equipamentos, mas o sucesso, nesse caso, depende muito mais da retomada da economia. Existe grande receptividade para a tecnologia italiana e pudemos mensurar isso a partir de uma pesquisa com 123 empresas brasileiras de diversos segmentos e dimensões, realizada recentemente e segundo a qual para 65% dos entrevistados, um dos principais pontos fortes da tecnologia italiana é a qualidade e para outros 38% os italianos são a melhor alternativa para fornecimento de máquinas e equipamentos no cenário internacional.
Itália 360º: No cenário atual, como uma cooperação mútua pode contribuir para que a Itália e o Brasil superem os efeitos da pandemia?
Fiore: O Brasil é rico em recursos naturais e com uma crescente população, pautada pela necessidade serviços básicos, como saneamento, saúde, educação e moradia, mas mas também, embora por uma menor – mas igualmente – importante parcela da população, por novidades e produtos de alta qualidade. São economias complementares: onde em um falta matéria-prima, em outro abunda tecnologia. Ademais, são países com culturas próximas, cunhadas por décadas de presença italiana no Brasil, com influência no modo de se falar, comer e se vestir.
Não fossem as barreiras de caráter fiscal, os italianos seriam ainda muito mais presentes, mas com o advento dos marketplaces, cada vez mais italianos de pequeno porte conseguirão colocar seus produtos diretamente no mercado brasileiro, sem intermediários, viabilizando-se economicamente. Há também a possibilidade de mitigar as barreiras através de parcerias, com a união do know-how tecnológico de um e o conhecimento de mercado do outro.
Essas todas são pautas que procuraremos levar adiante no ano que vem e, a passos curtos, mas firmes, caminhar cada vez mais distante dentro do território brasileiro. ||
NOTA 360º
Minas Gerais é o estado brasileiro que mais exportou para a Itália em 2020*. Ao todo, foram contabilizados U$$ 562.236.929 em negócios de exportação realizados entre janeiro e novembro de 2020.
Em termos de importação em relação à Itália e também de fluxo comercial total, Minas ocupa o segundo lugar entre todos os estados no ranking nacional.
(*acumulado de janeiro a novembro de 2020. fonte: Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços)