Por onde andei - Marcos Antonio Corpa

Page 1


Copyright © 2021 by Marcos Antônio Corpa Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que entrou em vigor no Brasil em 2009.

Capa MOAI COMUNICAÇÃO Foto de Capa TOMAS MUELLERLEILY Coordenação Editorial JAIR ELIAS DOS SANTOS JÚNIOR REVISÃO GRAMATICAL MÔNICA CORPA REVISÃO DE TEXTOS ALI DAVIS DÉRIK MOREIRA DA SILVA GABRIEL HENRIQUE DE SOUZA Projeto Gráfico ANDRÉ LUIZ ALVES Equipe de Apoio ANDRÉ LUIZ ALVES DÉRIK MOREIRA DA SILVA JAIR ELIAS DOS SANTOS JÚNIOR Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Corpa, Marcos Antônio Por onde andei : de Caconde a Campo Mourão / Marcos Antônio Corpa. -- 1. ed. -- Campo Mourão, PR : Nova História Pesquisas Históricas, 2020. ISBN 978-65-993363-1-7 1. Memórias autobiográficas I. Título.

21-53845

CDD-920 Índices para catálogo sistemático:

1. Memórias autobiográficas 920 Aline Graziele Benitez - Bibliotecária - CRB-1/3129

[2021] Todos os direitos desta edição reservados à NOVA HISTÓRIA ASSESSORIA E GESTÃO CULTURAL Rua João Teodoro de Oliveira, 171 | Parque das Acácias Campo Mourão | Paraná | [44] 99923-4760 www.novahistoriapr.com.br


POR ONDE ANDEI DE CACONDE A CAMPO MOURÃO POR ONDE ANDEI MARCOS A ANTÔNIO CORPA DE CACONDE CAMPO MOURÃO MARCOS ANTÔNIO CORPA

1ª Edição Campo Mourão – PR 2021



À minha família e à tia Anna



Tudo vale a pena. Se a alma não for pequena. Fernando Pessoa


SUMÁRIO 8

POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


14

PREFÁCIO

16 17

Parte I – Minhas origens

20 23

MEUS PAIS

28

HISTÓRIAS COM A FAMÍLIA EM CACONDE

46 47

Parte II – Aventurando pelo mundo afora

53 56

NO INTERNATO DE LINS

58

UMA NOVA EXPERIÊNCIA EM SÃO PAULO

61 68

A FORMAÇÃO EM CURITIBA

78

Parte III – A construção dos meus sonhos

79

CAMPO MOURÃO

OS ANCESTRAIS DA FAMÍLIA CORPA MINHA INFÂNCIA EM CACONDE

A VIDA EM TRÊS LAGOAS E ADAMANTINA RIBEIRÃO PRETO: PREPARAÇÃO PARA O VESTIBULAR

RIO DE JANEIRO: TEMPOS DE RESIDÊNCIA MÉDICA

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI

9


98

MINHAS EXPERIÊNCIAS NA PECUÁRIA

108

CONTOS DO AMIGO CHICO por FRANCISCO ROMANELO

109

HISTÓRIAS NA PRESIDÊNCIA DA EXPOCAMPO

111

ACICAM: DESAFIOS COMO PRESIDENTE

112 113

A IDEIA DO LATICÍNIO

115

PARTICIPAÇÃO NO CLUBE E SOCIEDADE DE RADIOLOGIA DO PARANÁ

134 135 136 138 142 147

Parte IV – O desejo de conhecer o mundo

172 179

Parte V – O grande amor pelo futebol

182

DIEGO E O MARCOS CORPA FUTEBOL CLUBE por DIEGO ALVORADA

10

OUTRA CONTRIBUIÇÃO: À FRENTE DO INTEGRADO

O DESEJO DE CONHECER O MUNDO VIAGENS PELO BRASIL VIAGENS PELA AMÉRICA DO SUL PELA AMÉRICA CENTRAL E DO NORTE CRÔNICAS DAS NOSSAS VIAGENS por REGINA MENIN GAERTNER

A FORMAÇÃO DO MARCOS CORPA FUTEBOL CLUBE

POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


184

JOÃO MILTON E O CORPINHA FUTEBOL CLUBE por JOÃO MILTON LIMA E SANTOS

186

CASOS COM O PRIMO JAIRO por JAIRO TARDELLI FILHO

188

ATRAVÉS DO ESPORTE E COM AS MÃOS DE DEUS CONHECI ESTE GRANDE AMIGO por JAIR GRASSO

196

Parte VI – Contos e casos com familiares e amigos

198 199

UM MILAGRE EM PONTA GROSSA

202

A CONFRARIA DA SAUNA por IRAN ROBERTO BRZEZINSKI

205

O FOTÓGRAFO MARCOS CORPA por DILMÉRCIO DALEFFE

206

ATRAVÉS DO ESPORTE E COM AS MÃOS DE MARCOS CORPA: CIDADÃO E PROFISSIONAL APAIXONADO E REALIZADO por ILIVALDO DUARTE DE CAMPOS

208

A CONFRARIA RESERVA ESPECIAL por ALFREDO FERRARI NETO e MARIA REGINA MACHADO FERRARI

210

ONDE FICA CACONDE por GETÚLIO FERRARI JÚNIOR

211

MARCOS CORPA NA VISÃO DE SEUS COMPANHEIROS DE TRABALHO por SEUS COLEGAS DE TRABALHO

A HISTÓRIA NO ROTARY GRALHA AZUL por LUIZ CARLOS MALAVAZI

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI

11


215

O MAESTRO MARCOS por FRANCISCO MARCOS FREIRE

216

NÃO ESQUEÇO DO AMIGO MARCOS CORPA por GUILHERME MENIN GAERTNER

217

UMA AMIZADE TRANSGERACIONAL por RICARDO MENIN GAERTNER

217

LEMBRANÇAS por EDRIN CLARO DE OLIVEIRA VICENTE

219

CORAÇÃO DE OURO por IZAURA MARIA ERCOLI

219

PORTO SEGURO por VANDERLEI ERCOLI

220

“ESSE É O CARA!” por MÁRIO ERCOLI

221

MARCOS: SEMPRE CUIDANDO DE TUDO! por DANIELLE ALVES KASHIWAGI

222

TIO CONSELHEIRO por RAFAEL CORPA GUIMARÃES

224

CORAÇÕES SÃO PAULINOS por GUILHERME WALTER PESSOA CORPA

225

MEU TIO SÃO PAULINO por HENRIQUE CORPA TAMBELINI

229

TIO DO CORAÇÃO por TIAGO CORPA TAMBELINI

231

MEU IRMÃO por MÔNICA CORPA

234

MEU SOBRINHO por TEREZA CORPA VENDRAMINI

12

POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


234

MEU SOGRO por JOSÉ LUIZ GURGEL JÚNIOR

239

TIO MARCOS por FERNANDA AGULHON CORPA

240

QUEM DIRIA QUE SERIA MEU SOGRO por JOÃO PAULO BURIHAN FARIA

241

MEU PAI: O MELHOR por MARIA CAROLINA CORPA GURGEL

243

MEU PAI: MOTIVO DE ORGULHO por MARCOS ANTÔNIO ERCOLI CORPA

245

MEU PAI: MEU MELHOR AMIGO por ANA CRISTINA CORPA FARIA

246

MEU ESPOSO por DERCI ERCOLI CORPA

272 273 276 277 279 281

Parte VII – Encontros e reencontros da vida

296 297

REFERÊNCIAS

MEU LADO FESTEIRO UM AMIGO NÃO CONVIDADO MUNDO PEQUENO PENSAMENTOS SOBRE A ATUALIDADE GRATIDÃO

CRÉDITOS

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI

13


PREFÁCIO 14

A pensadora e escritora paulista Cris Pizzimenti em seu poema Sou Feita de Retalhos, apesar de muitos o atribuírem à poetisa e contista goiana Cora Coralina, registrou em um de seus trechos: “obrigado a cada um de vocês, que fazem parte da minha vida e que me permitem engrandecer minha história com os retalhos deixados em mim. Que eu também possa deixar pedacinhos de mim pelo caminho e que eles possam ser parte de suas histórias”. Nesse livro o Dr. Marcos Antônio Corpa apresenta retalhos de sua vida desde os cômicos até os mais sombrios com um grande leque de variedades, de maneira descomplicada, permitindo ao leitor imaginar os fatos contidos em cada um desses retalhos. Na parte I desse livre, o Dr. Marcos Corpa nos conta as origens de seus avós, o que e como faziam para sobreviver. Na parte II vamos saber como era o Dr. Marcos na sua infância, adolescência e juventude, seu relacionamento com os pais, irmãos, irmãs e parentes, e as muitas traquinagens como as de qualquer criança em Caconde onde nasceu. Sua primeira mudança foi para Três Lagoas, depois para Adamantina e o internato em Lins para continuar seus estudos, e as dificuldades que teve para formar novos amigos nessa fase de adolescência pois tinha deixado os amigos de infância em Caconde e era muito tímido, depois para Ribeirão Preto e São Paulo para se prepa-

POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


rar para o vestibular e finalmente Curitiba, onde passou na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paraná, onde novas amizades surgiram. Terminado o curso de medicina, havia a necessidade de uma Residência Médica para receber um título de especialista em medicina, e optou pelo Hospital Santa Casa na cidade do Rio de Janeiro. Na parte III, terminada a Residência Médica, iniciou sua vida profissional nas cidades de Marília e Adamantina no estado de São Paulo e pouco depois para a cidade de Campo Mourão no estado do Paraná, onde se fixou, progrediu profissionalmente e constituiu família. Esses muitos retalhos deixados no Dr. Marcos Corpa em cada um dos lugares Por Onde Andou o engradeceram e fez surgir nele um espírito de liderança, tendo sido indicado para ser presidente da Expocampo (Exposição Agropecuária, Comercial e Industrial de Campo Mourão), da Acicam (Associação Comercial e Industrial de Campo Mourão), do Grupo Educacional Integrado, mantenedor do Colégio Integrado em Campo Mourão, um dos fundadores e mais tarde presidente do Clube de Radiologia do Interior do Estado do Paraná Dr. Sebastião O. Leão de Carvalho, juntamente com outros médicos radiologistas do Paraná refundou a Sociedade de Radiologia e Diagnóstico por Imagem do Paraná vindo a ser também um de seus presidentes. As três últimas partes desse livro são contos, histórias, encontros e reencontros de sua família atual e companheiros. O Dr. Marcos Corpa deixa aqui nesse livro os muitos pedacinhos de si, para que cada leitor se deleite com cada um dos retalhos deixados na sua formação humana. Lutero Marques de Oliveira

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI

15


PARTE I MINHAS ORIGENS


Os ancestrais da família Corpa Minha história começa numa cidade pacata do interior de São Paulo conhecida como Caconde. Ela fica a cerca de 290 km da capital. Atualmente, a estimativa é de que vivem na região aproximadamente 19 mil habitantes. Desde 1966 (de acordo com a Lei 9.275), minha cidade natal é considerada um dos 12 municípios que cumprem função de estância climática do estado de São Paulo. Toda vez que retorno à minha terra natal, sinto uma saudade imensa dos tempos que lá vivi. Não nego que a emoção toma conta de mim. Lembro-me das brincadeiras, das travessuras, de momentos que marcaram de maneira muito positiva minha vida. Uma das lembranças vivas que guardo foi acompanhar de perto em meados de 1960, as obras de construção da Usina Caconde pela Comércio Construtora Camargo Correa. O represamento das águas pela barragem, cuja extensão chega a 450 metros, proporcionou a formação de um lago artificial com 31 km² de área. O município tem grande vocação no turismo com fazendas centenárias e forte tradição na cafeicultura. Antes de relatar a minha história, é necessário voltar ao tempo. Nada começa sem raízes. A minha família tem origem humilde, fortalecida no trabalho e na honestidade. Tanto do lado do meu pai quanto da minha mãe, sempre

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI

17


foram pessoas boas e ricas de coração. Meus avós paternos são descendentes de espanhóis, e chegaram no Brasil com muito “brilho nos olhos”, ainda crianças, buscando um novo horizonte para sua família. Meu avô, Antônio Domingos Corpa, chegara por volta de 1897, e minha avó, sua futura esposa, em meados de 1906. Mais adiante, meu avô construiria um comércio que cumpriu o papel que meus avós objetivaram: encaminhar os filhos. Meus avós maternos eram brasileiros, vindos do Sul de Minas Gerais. Chamavam-se Pedro Pereira Pessoa e Maria Carolina Silveira. Meu avô era seleiro, “trabalhava duro”, era muito hábil profissionalmente, fazia arreios lindíssimos, mas era medroso para os negócios, se comparado com meu avô paterno. Sua esposa sempre ficou ao seu lado, independente do que acontecesse, sempre cuidando de todos os filhos. Eram mais severos, assemelhados com a família de meu pai, muito rígidos para educar os filhos, cerca de nove, se não me falha a memória. Meu avô paterno era mais tranquilo e mais liberal com os filhos. Porém, quando não gostava de alguém, isso era perceptível no seu olhar, apesar de ser raro tal fato acontecer. Sempre foi muito preocupado com o rumo da família e sempre buscou o melhor para todos eles. Antes de ter o comercial de secos e molhados, trabalhou nas lavouras de café e juntou um bom dinheiro para investir e ter seu próprio negócio. Primeiro montou um açougue, depois um armazém, onde havia praticamente tudo: chapéus, sapatos, alimentos, enfim, a variedade era muito grande. Esse armazém existiu durante muito tempo, não sei ao certo, mas acredito que foram cerca de 30 anos de existência. Apesar de analfabeto, meu avô era um ótimo co-

18

POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


merciante, sabia vender tudo que havia na loja. Em uma cadernetinha anotava tudo que era vendido, e nada passava batido, cada pacote de arroz, cada saco de milho era registrado por ele. A relação que o cliente tinha, naquele comércio, era sempre de muita amizade. Quem comprava ali acabava se sentindo como parte da família. Com os funcionários não era diferente: sempre foi justo, nunca tratou mal ou cometeu alguma injustiça. Construiu tudo a partir da bondade e da dignidade, sempre demonstrando grande carinho pelo seu trabalho. Tem uma história muito interessante com esse meu avô que não poderia deixar de contar. Ele chegou a ter um caminhão, coisa rara naquela época, durante a Segunda Guerra Mundial, sempre ia em direção ao Paraná, levando querosene e gasolina e trazendo de volta mantimentos como arroz, feijão e outros mais. Ele tinha planos de mudar-se de Caconde (SP), onde estava localizada a loja dele, para a região do Norte-Pioneiro do Paraná. Acabou não fazendo isso, não sei bem o motivo, mas isso ressalta que nossa relação com o território paranaense vem desde o passado em nossa família. Falando um pouco da minha avó, sua esposa, Cândida Corpa Fernandes, ela cuidava muito bem da casa e dos filhos. Fazia de tudo: costurava, cozinhava, ajudava a matar porcos e fazia um vinho de laranja maravilhoso, que é difícil de esquecer o sabor que deixava na boca. Essa é uma parte da história de meus avós que, apesar de suas peculiaridades familiares, sempre buscaram dar o melhor para os seus filhos. A dedicação ao trabalho e a força de vontade ajudaram a formar o caráter justo de seus filhos, que, futuramente, iriam se tornar meus pais.

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI

19


Meus pais Quando decidi escrever este livro, enquanto me perdia nas lembranças, no decorrer dos dias, sempre me emocionava quando lembrava dos meus pais. Meu pai, Antônio Corpa Filho, era natural de Guaxupé, interior de Minas Gerais, e faleceu em 5 de maio de 1985. Minha mãe, Josefina Pessoa Corpa, nasceu em Botelhos (MG), hoje com 96 anos de idade. Eles se casaram no dia 06 de dezembro de 1945, e o fruto do amor deles gerou cinco filhos: eu, Marcos Antônio Corpa, nascido em 19 de julho de 1949; meu irmão mais velho, Adilson Pessoa Corpa, que nasceu em 1948; meu irmão mais novo, Antônio Corpa Neto, de 1952; e minhas irmãs, Jusi Pessoa Corpa e Mônica Maria Pessoa Corpa, de 1955 e 1960, respectivamente. Hoje todos muito bem formados e educados, graças ao bom relacionamento dos meus pais. O que falar sobre meu pai? Tenho uma ligação muito grande com ele e, apesar de seu falecimento, nunca perdi meu contato emocional. Meu pai, assim como meu avô, fora comerciante. Acabara decidindo seguir os passos do pai e continuou cuidando da loja da família, localizada no município de Caconde (SP). Sempre fora um homem muito honesto, correto e um excelente comerciante. Não tem como falar do meu pai sem falar da sua habilidade com os negócios. Ele sabia o preço de cada metragem de tecido, de cada peça da loja, o peso de qualquer alimento que havia à venda. Meu pai sempre dizia:

20

POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


- Quem quiser estudar, estude, mas quem não quiser, venha trabalhar comigo na loja. O ritmo dele era muito pesado, então acabava assustando-nos. Tanto que todos os filhos resolveram estudar e hoje são muito bem formados. Apesar de não acompanhar seu ritmo, dos filhos eu fui o que mais teve tendência ao negócio; eu gostava de ajudar na loja, quando era possível. Meu pai era muito companheiro, sempre foi muito compreensivo e muito calmo conosco. Sempre educou os filhos e buscou dar uma condição de vida boa para todos. Um dos conselhos dele era: - Tenham uma condição de vida melhor que a minha, sempre busquem melhorar. Ele falava isso pois trabalhava 24 horas por dia na loja. A rotina era árdua, pesada, mas sempre fazia todo o serviço com muito “brilho nos olhos”. Com 40 anos de idade, o que ele tinha de patrimônio era uma loja muito bem estruturada e cinco filhos para cuidar: a mais nova com 3 anos e o mais velho com 14. Minha mãe sempre foi uma pessoa muito religiosa e dedicada à família. Entre outras dificuldades que havia na época, ela não tinha máquina de lavar, nem sequer um lugar adequado para estender as roupas. Sempre buscou dar o melhor para todos nós, batalhando duro por isso. Qualquer dificuldade que havia, sempre buscava ajuda de Deus. Fomos aconselhados a ir à igreja e se não tivermos Deus em nossas vidas, não terá sido por falta de ensinamento dela. Quando era menino e rasgava as roupas, ela as costurava. Sempre foi muito caprichosa, dedicada, cuidava de tudo com muito zelo. O cuidado e o capricho eram tão grandes que ela fazia questão de arrumar todos os filhos,

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI

21


colocando uma roupa bem bonita e idêntica para todos (ela mesma confeccionava) e nos levava para a cidade de São José do Rio Pardo (SP), cidade vizinha, onde tinha um fotógrafo, para registrar aquele momento. Minha mãe fazia questão de tirar essas fotos sempre que podia. Naquela época, nós praticamente não tínhamos rádio em casa, pois eram ondas curtas e dificilmente pegava alguma coisa (a Copa de 58 foi ouvida pelo rádio numa dificuldade danada). Quando minha mãe ia atrás de algum rádio para comprar, tinha que sintonizar apenas uma rádio: a rádio Aparecida. Ela chegava para o vendedor e já perguntava: - Pega a Rádio Aparecida? Tem? Eu compro. Não tem? Não compro. Sempre foi uma mulher de muita fé. Um dia, sentado na calçada, conversando com a minha mãe, enquanto arrumava algumas roupas, fizemos umas contas para saber quantas missas ela já havia ido: deu mais de 22.500 missas pelos nossos cálculos! Ela sempre ficará na minha lembrança como uma ótima mãe. Meus pais, juntos, administraram a loja com dedicação e carinho, o que ajudou a manter o sustento da família e os estudos dos filhos. Conseguimos ter estabilidade graças ao trabalho deles. Tudo que fui e sou devo ao trabalho deles.

22

POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


Minha infância em Caconde Minha infância em Caconde (SP): afirmo que foram os melhores momentos de minha vida, foi rodeada de parentes e amigos que levo no meu peito para sempre, mas, sem a tecnologia do século XXI, o que se fazia naquela época? Fazíamos muitas brincadeiras e muitas travessuras, óbvio. Caconde é uma cidade montanhosa e consequentemente com muitos desníveis. Havia uma espécie de depressão e nela um terreno baldio com um gramado bom. Fizemos as traves com bambus, colocamos dois gols para jogarmos bola como segue: metade do tempo um time ficava do lado que era íngreme, e depois trocávamos para ser justo com todos. Lembro-me que existia uma casa perto desse campinho e vez ou outra a bola caia lá, íamos pegar e depois voltávamos. Só que um dia a dona da casa estava, pegou a bola e não queria devolver de jeito nenhum. Na época, havia uma espécie de inspetor de menores que cuidava da região e essa mulher pegara a bola e dera para ele. Eu fiquei muito bravo, não havia motivos para ela fazer aquilo com a gente, estávamos só nos divertindo e ela acabou com a brincadeira. Cheguei a brigar com ela fisicamente, foi tensa a situação. A sorte foi meu pai ser muito amigo do inspetor e ter conseguido pegar a bola de volta.

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI

23


Não era somente com o futebol que nos divertíamos. Em Caconde, a maioria das ruas era de terra. Calçamento, somente em uns poucos lugares. Como fazíamos para usar carrinho de rolimã? Não usávamos. O que tínhamos era um carrinho de madeira que fizemos com a ajuda de alguns marceneiros da região e do meu avô materno. Havia uma rua, bem íngreme, e era maravilhoso descer nela com o carrinho, era uma sensação de liberdade incrível, com o vento batendo no rosto, mas quando chegava lá embaixo, era uma tristeza para subir com o carrinho de volta. Então, o que fazíamos? Quem quisesse descer com o carrinho, tinha que levá-lo de volta. Realizávamos um tipo de empréstimo e o pagamento era levar o carrinho para cima. A barganha e a sequência eram sempre essas. O passatempo do sábado à noite era a banda e a nossa diversão era segurar as partituras para os músicos para que pudessem tocar suas músicas. Depois de segurar a partitura, a grande brincadeira era o pique, divertia-me muito com meus colegas. Tudo isso acontecia na praça principal de Caconde, onde os homens caminhavam de um lado do círculo e as mulheres ficavam do outro. Quantos namoros, quantas paixões não começaram nesses encontros... Vez ou outra, aprontávamos umas traquinagens. Não existia piscina onde morávamos, então a diversão era nadar nos ribeirões que havia nas redondezas. Minha mãe geralmente não sabia que a gente tinha ido e quando ficava sabendo, brigava conosco por isso. A nossa tia Tereza nos dava broncas se soubesse que tínhamos ido nadar, mas era algo inocente, nada que fosse muito grave. Éramos muito travessos! Havia um armazém onde tinha uma espécie de fresta e o pessoal sentava lá para descansar ou dar uma pausa. Em certos momentos, alguns casais iam nesse lugar para

24

POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


sentar e namorar. Eu e meu irmão, muito levados, jogávamos água por baixo da porta nesses casais. Era muito engraçado, ríamos muito disso! Outra brincadeira que eu e meu irmão Adilson aprontávamos era com o seu Joaquim. Ele era um vizinho nosso, e não sei porque, mas ele não gostava de nós, apesar de ser um grande amigo da família. Ele vivia dizendo: - Esses meninos do Corpa nunca me dão sossego. E não dávamos mesmo. Havia uma novela na rádio - naquela época não existia televisão - chamada Aventuras do Anjo e o seu Joaquim adorava ouvi-la. Toda vez que começava a trama, nós ligávamos um liquidificador velho e que fazia um tremendo barulho para dar interferência no som. Nós rachávamos o bico ouvindo-o resmungar porque não conseguia ouvir a programação! Era uma brincadeira inocente e sempre acho muito engraçado quando me lembro. Tinha algumas artes que fazíamos, mas era muito na inocência. Certa vez, durante a construção da barragem de Caconde, tiveram que fazer um desvio até chegar na cidade. Eu e um amigo começamos a andar nesse desvio. Andamos, andamos, andamos até chegarmos na obra. No final das contas, ficamos só eu e ele, dois garotos sozinhos naquele lugar, pertinho de escurecer. A nossa sorte foi que havia alguns caminhões que transportavam os peões e deram-nos carona para voltarmos. Eu fico imaginando: e se não tivesse aqueles caminhões? O que seria da gente? Recordo-me, também, de lembranças muito boas da minha infância. Em dias de domingo, todos nós, eu, minha mãe e meus irmãos, íamos para um sítio de um compadre de meu pai. Saíamos de manhãzinha no domingo, a pé, para passarmos o dia todo por lá. Brincávamos, corríamos, comíamos uma comida caseira maravilhosa; era muito gostoso. No final do dia, meu pai, que estava trabalhando, vinha de caminhone-

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI

25


te para nos buscar. Tenho vários contos que vivi em Caconde que não poderia deixar de retratar. Tem uma história interessante de quando fomos fazer nossa primeira comunhão. A igreja matriz de Caconde estava passando por uma reforma e foi parcialmente demolida. Em decorrência das obras, a utilização dela ficou inviável. A cerimônia acabou sendo no cinema recém-inaugurado da cidade. Detalhe: a simplicidade era tão grande que meus padrinhos foram os barbeiros da cidade, “seu” Chico e “seu” Angelim. Apesar desse fuzuê todo, deu tudo certo no final e a cerimônia foi belíssima. Nas férias, o que mais fazíamos era ir ao sítio do meu tio, Geraldo, na cidade que minha mãe nasceu, Botelhos (MG). Passávamos um bom tempo por lá e não havia dia para voltar. Meus tios, Geraldo e Mariana, eram espetaculares, gostavam muito de quando íamos passar as férias com eles. Havia vacas que eram ordenhadas todos os dias, e uma serraria. Nela existia uma serra enorme, tocada à água e nós ficávamos olhando a serra indo bem devagarinho, para depois ela voltar com tudo. Também existiam porcos engordando, carro de boi, tudo da cultura rural da época havia naquele lugar. Dentre outras lembranças boas de Caconde, não posso esquecer de citar a famosa sopinha da tia Augusta. O que havia nessa sopinha? Era uma caneca, daquelas esmaltadas, colocava-se leite, cortava vários pedacinhos de pão em quadradinhos, umedecia no leite e depois comíamos. Aquilo era uma delícia, a famosa sopinha da tia Augusta! Eram várias as brincadeiras que fazíamos: jogávamos “burquinha” (bola de gude), empinávamos papagaio, brincávamos de pega-pega, esconde-esconde, subíamos em ár-

26

POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


vores, caçávamos com estilingue (sempre fui muito ruim de pontaria, nunca fiz mal nenhum para os pássaros por causa disso rsrs), líamos gibi, batíamos figurinhas. Não existia TV, as brincadeiras eram muito diferentes, passavam no cinema da cidade. O bom do cinema era a matinê, pois passava o seriado do Batman e Robin, Zorro, entre outros. Alguns eram exibidos com bastante frequência: filmes de cowboy, do Roy Rogers, do Mazzaropi, a produtora Nacional Atlântida, com a programação do Oscarito e Grande Otelo. Enfim, foram programas que marcaram a minha vida enquanto criança. Posso afirmar, com toda certeza do mundo, que minha infância em Caconde foi muito boa. Ela foi vivida por completo e tenho muitas saudades quando começo a recordar de tudo que passei por lá. Tudo que contei até aqui é muito gostoso de lembrar, pois minha infância foi extremamente saudável e divertida.

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI

27


Histórias com a família em Caconde Além de minha infância em Caconde, das brincadeiras com amigos, tenho muitas outras recordações. A começar pela minha relação com meus paren- . tes. As famílias Corpa e Pessoa sempre viveram muito unidas naquela cidadezinha pacata. Minha relação com meus irmãos, por exemplo, sempre foi boa. Às vezes, acontecia de ter uns casos de ciúme entre nós, mas era por causa da diferença de idade, e depois tudo se resolvia rapidamente. Recordo-me que havia apenas um quarto para os três irmãos e outro para minhas duas irmãs. Era tudo muito simples, mas havia muita união. Meu avô materno, Pedro, era muito grudado com a gente. Ele fazia várias espingardas para matar passarinho e nos levava para caçar. Tenho uma dessas guardadas. Não dou, não empresto. Ela sempre ficará comigo de recordação. Certa vez, em meio às caçadas, meu irmão mirou em um passarinho e quando foi disparar, a espingarda arrebentou na mão dele. A sorte foi que ele virou bem rapidamente e não acertou seu rosto. Foi um susto só! Tenho muitas coisas guardadas dessa época: um cofre do meu avô, uma calculadora antiga da década de 50, os óculos que foram do meu pai, guardo tudo com carinho. Todos esses objetos têm mais de 70 anos e me trazem boas lembranças da vida em Caconde. Voltando a falar sobre a relação dos meus parentes nes-

28

POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


sa época, não posso deixar de comentar sobre meus tios. Do lado paterno, meus tios têm mais escolaridade. Isso ocorreu porque meu avô materno, como citara anteriormente, era rígido com os filhos e não deixava as mulheres saírem para estudar fora de casa. Só um tio materno que saiu para estudar e hoje é dentista (aposentado). As mulheres não tiveram oportunidades. Apenas duas tias estudaram, já com mais idade. Apesar de todas dificuldades, elas as superaram e tiveram uma condição de vida diferenciada. Meu avô paterno foi totalmente diferente, era mais liberal e mais aberto ao diálogo com os filhos. Lembro-me de uma passagem da minha tia Helena que levara o namorado, posteriormente seu marido, para conhecer os pais dela. Na hora de ir embora, ele disse ao meu avô: - Seu Corpa, pode deixar que eu vou cuidar muito bem da sua filha agora. Ele respondeu: - Não precisa, pois, minha filha sabe “se cuidar” muito bem sozinha! Isso mostra a confiança que ele tinha nas filhas, o que foi extremamente recompensador. Posteriormente, vou falar das relações produtivas que tive com meus tios ao longo da vida, e me ajudaram a tornar quem eu sou, hoje. Falando sobre o transporte, naquela época, era tudo mais complicado. Meu pai nunca fora me buscar na escola, pois trabalhava muito e não havia tempo para isso (trabalhava até nos finais de semana vendendo máquinas de costura pelos sítios da região). Eu e meus irmãos sempre íamos a pé, eram mais ou menos dois quilômetros da minha casa até a escola e nunca reclamei de fazer isso. Às vezes, esquecia algo em casa, voltava e depois ia para a escola

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI

29


novamente, sempre com alegria. Sobre as festas... Ah, as festas... Em Caconde, cidade interiorana, havia muitas festas típicas, de todos os santos possíveis: São Pedro, São João e Santo Antônio eram os três santos principais. Havia uma espécie de mastro que era levantado, ficava bem no alto e havia a imagem dos três no topo. A maior era de São Pedro. Era interessante porque havia comida de todos os tipos: pamonha, pipoca, quentão e muitas outras. Tudo acontecia principalmente no sítio do tio Geraldo, lugar muito pacato e muito calmo. Lembro-me da dança que todos dançavam nessa festa: a catira. O que era a catira? É uma dança do nosso folclore, com um ritmo musical marcado pela batida dos pés e mãos dos dançarinos, que tem origem indígena, africana e europeia. Era muito animada! Havia também, na cidade, a festa de Nossa Senhora Aparecida. Era uma festa que ocupava quatro quarteirões, que fechava tudo só para realização dela. Era muito organizada, pois cada lugar era separado para uma função: havia local para comer, correio elegante, ambulantes vendendo enfeites, sorteio de um cartucho cheio de quitutes, muito enfeitado e muito bonito, tinha brincadeiras de criança, enfim, era algo muito gostoso de participar. A Semana Santa era algo que envolvia toda a cidade também. Na quinta-feira, no dia do lava pés, vestíamos umas batas que minha mãe fazia para nós, e íamos para uma espécie de pedestal. O padre vinha para beijar e lavar o pé de todos. Depois havia a Procissão do Enterro de Cristo, e eu adorava aquilo, achava muito bonito. Lembro-me de que havia uma “solteirona” que cantava com voz marcante: chamava-se Rosa.

30

POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


No meio de todo esse evento religioso, eu e meus irmãos fazíamos uma coisa muito interessante: vendíamos velas e conseguíamos uns bons trocados. Até que um dia minha mãe chegou e falou: - Podem parar com esse negócio de vender vela. Vendemos por mais um ano de teimosos. Ela achava ruim porque era dia santo e não podíamos trabalhar nesse dia. Ninguém, absolutamente ninguém, trabalhava nesse dia. Mulher não fazia serviço de casa, homem não trabalhava, criança não brincava. Era muito diferente dos dias atuais: o pessoal respeitava o dia santo. Depois da sexta-feira santa, vinha o sábado de aleluia e a brincadeira da malhação de Judas, o pessoal surrava um boneco mal feito. Por fim, chegava a Páscoa. A ressurreição de Cristo finalmente tinha chegado. Naquela época, era muito difícil ter ovos de chocolate, nossas opções eram limitadas. Geralmente, pegávamos as coisas que havia na loja, coisas mais brutas, como enlatados, por exemplo. O bacalhau que nós comíamos vinha em uma caixa, era seco e extremamente salgado, muito diferente dos que existem atualmente. Interessante, porque o pessoal come bacalhau a hora que quiser, não tem uma data especial para consumi-lo. Lembro-me também do Natal. Sempre existia o sonho de ser presenteado com algum brinquedo. A bicicleta era o sonho de consumo que havia em uma loja de Caconde, onde você passava e observava pela vitrine. Essa loja existe até hoje! Sempre que podemos, quando voltamos a Caconde, vamos visitá-la: Casa Progresso. Nela, você escolhia o presente e esperava algo do Papai Noel. Sempre esperávamos algo que viria pela chaminé. Chegando em casa, havia uma mesa farta, cheia de comidas variadas, e com a família toda reunida em volta dela. O Natal era bem comemorado.

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI

31


As datas como o dia das mães, dia dos namorados não eram tão comemoradas. As maiores festas eram aquelas ligadas à religiosidade. Caconde foi e continua um ótimo lugar para renovar sua espiritualidade. Como em toda cidade do interior, havia suas figuras marcantes e eu não poderia deixar de lembrar de algumas delas. Uma delas era o “Baieta”, pessoa muito bem estruturada, aposentada e que não trabalhava. Quando alguém perguntava: O que você está fazendo, se respondia: “Tô” ajudando o Baieta, ou seja, não estava fazendo nada. Outra pessoa era o Alcides: ele não queria morrer de jeito nenhum. Havia também a Luísa, mulher que sempre usava vestido sem calcinha. Quando os garotos enchiam a paciência dela, ela levantava a saia e mostrava a bunda. Eram figuras simples e engraçadas, nos divertíamos muito com elas. Há uma história interessante de Caconde: as provas que fiz durante os tempos de escola. Do segundo para o terceiro ano primário, havia uma prova e eu passei em primeiro lugar nela. Fiquei extremamente feliz, pois sempre fui dedicado aos estudos e esse resultado foi reflexo dos meus esforços. Meus tios, como recompensa, me levaram em uma viagem de trem até São Paulo. No meio da viagem, ganhei um livro: Os grandes benfeitores da humanidade, que guardo comigo até hoje. Nas provas do quarto ano, que seria um exame de admissão, eu fiz e passei em primeiro lugar novamente. Só que dessa vez gerou uma onda de ciúme entre meus colegas, que ficaram me infernizando por causa disso. Hoje, eu percebo que fizeram bullying comigo, de maneira tão forte que não tenho lembranças dessa escola. Não me lembro das salas, das brincadeiras, é como se tivesse um branco em minha mente. Algo que não gosto muito de recordar e deixo no esquecimento.

32

POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


Outro fato interessante era o serviço do meu pai. Como já havia dito, ele fora um ótimo comerciante e vendia muito bem durante os dias de semana. Nos finais de semana, ele descansava? Absolutamente: de jeito nenhum!!! Ele saia pelos sítios da região vendendo máquinas de costura Vigorelli e colchões Probel. Vale um adendo aqui: meu pai era tão esperto como vendedor que deixava a máquina de costura com as donas de casa e pedia para que elas as testassem durante a semana. Quando voltava no outro final de semana, não dava outra: praticamente todas compravam, porque se acostumavam com a facilidade da nova máquina. Continuando a história, às vezes, por serem da zona rural, os clientes do meu pai pagavam com produtos que eles mesmos produziam: arroz, feijão, batata, cebola e bananas. Muitas vezes ele trazia 10, 15, até 20 cachos de banana, e tudo era armazenado na garagem de casa. Eu e o Adilson, meu irmão mais velho, pegávamos essas bananas, colocávamos dentro de um carrinho e puxávamos igual uns burrinhos naqueles terrenos acidentados. Saíamos para vender na cidade, dava uns troquinhos bons e tudo que ganhávamos era colocado naqueles cofrinhos metálicos da Caixa (banco) de antigamente. Tudo na cidade era muito pacato e simples. Era tão calmo que nossa casa alugada ficava ao lado de uma cadeia, e nunca tivemos problema. Nós até entrávamos lá para entregar comida aos presos. Algo muito interessante de lembrar, porque hoje isso é algo inimaginável: uma criança entrando na cadeia? É algo surreal de se pensar. Só depois que meu pai construíra uma casa que nos mudamos de lá. A vida em Caconde fora assim: simples, com a família sempre unida e me recordo com carinho e gratidão. Tenho saudade imensa do período que vivi na minha terra natal, pois garanto que foram os melhores momentos da minha

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI

33


vida. Deixamos um legado em Caconde: a honestidade. Toda vez que voltamos lá para fazer alguma visita, vamos de cabeça erguida, pois sabemos do passado limpo que a família deixara na cidade. Sempre me emociono quando me recordo, pois, foram muitas emoções que senti naquela cidadezinha. Infelizmente, chegou um determinado momento que tivemos que nos mudar.

34

POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


Meus pais, no casamento deles.


Meus avós: Antônio Corpa e Pedro Pessoa (esquerda p/ direita)

Família do meu pai.

Meus Pais.


Adilson e eu, em Caconde. (esquerda p/ direita)


Com o irmão mais velho, Adilson, de chapéu, Jesse Haroldo, meu primo, e eu no meio, o cabeçudo.


Fotografia artística dos vários momentos de uma criança. Era comum esse tipo de imagem na década de 1950. Meus pais eternizaram a minha infância em uma foto que guardo com imenso carinho.


Meu batizado: Meu avô materno, Pedro; minha avó materna, Maria Carolina (comigo no colo), minha avó paterna, Cândida (com meu primo Jesse no colo) e meu avô paterno, Antônio (com meu irmão, Adilson, no colo). (Esquerda p/ direita). Naquela época, era comum reunir os familiares para um registro fotográfico.

Meus pais (à direita), meus primos (à esquerda), meu tio Fernando (agachado), em frente à casa onde nasci, em Caconde.


No Grupo Escolar, em Caconde. Começavam os meus estudos.


Brincando com o Adilson, meu irmão.

Outro registro das nossas brincadeiras em Caconde.

Adilson, meu irmão e eu, na nossa primeira comunhão, em Caconde/1957. (esquerda p/ direita)


Lembrança do meu primeiro aniversário .


Registro na praça de Caconde.

Adilson, tia Cândida (Dota) e eu (esquerda p/ direita).


Meus tios paternos.

Viagem a São Paulo, com meus tios Jorge e Anna.


PARTE II AVENTURANDO PELO MUNDO AFORA


A vida em Três Lagoas e Adamantina Terminaram de construir a barragem em Caconde em questão de cinco ou seis anos. Meu pai tinha uma relação tão boa com o pessoal da construção da hidrelétrica que resolveram levá-lo para outra construção que estava se iniciando. Assim, preocupado com a estabilidade da família e o futuro dos cinco filhos, ele conseguira uma concessão da Usina de Jupiá, que estava sendo edificada em Três Lagoas (MS). Ao lado da usina, fora construída a Vila Piloto, uma vila planejada e construída com a finalidade de alojar os operários responsáveis pela construção da usina, bem como suas famílias. A vila, até os dias atuais, possui uma estrutura interessante: tem formato de círculo. Apenas no ano de 1964 começaram as construções de escolas, clubes, supermercados, correios, enfim, vários outros serviços essenciais. O progresso chegara aos poucos naquela região e o acompanhamos, desde o início. Posteriormente, com o término da construção da usina, as casas pré montadas da Vila Piloto foram desmanchadas, restaram somente as de alvenaria. Na década de 90, foram construídas casas de conjunto habitacional e a vila voltou a ser habitada na sua plenitude, pois, até então, somente as casas de alvenaria que haviam restado eram habitadas por militares.

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI

47


A mudança de Caconde para Três Lagoas fora muito diferente das mudanças atuais. Meu pai possuía uma caminhonete, uma F100 de 1962, era um modelo muito bom na época e ajudava bastante quem era comerciante. Ele pegou toda a família, colocou um colchão atrás da caminhonete (para deixar todos confortáveis durante a viagem) e foi para Três Lagoas, lugar que seria nossa nova moradia. Um fato interessante é que durante essa transição eu não fui com minha família, fora na frente de todos. Explico o porquê: meu pai já havia deixado a loja montada, pronta para funcionar, quando chegássemos lá; porém, ele não podia organizar a mudança e cuidar da loja ao mesmo tempo. O que ele fez? Mandou-me primeiro, de carona com meu tio Wilson, ou “Ico,” como era conhecido. Esse tio era casado com minha tia paterna, Guiomar e eles moravam na Vila Piloto. Cuidei da loja enquanto ele cuidava da mudança. Foi uma experiência boa, posso dizer que fui gerente da loja com 13 anos de idade. Falo isso com orgulho, porque foi muita confiança do meu pai em mim e isso me deixou contente. Com 13 anos, era inexperiente e um dia um comerciante, amigo do meu pai, me viu brincando com uma funcionária da loja, e me deu um ensinamento que guardei para sempre: Corpinha, venha cá. Você não pode brincar com a funcionária, tem que haver uma hierarquia, mas sempre com muito respeito. Sempre me recordo desse ensinamento, dessa experiência que tive, pois foi a partir dali, administrando a loja de meu pai, que comecei a ter certa tendência ao comércio e isso carrego comigo até hoje. Apesar de a loja do meu pai estar dando certo, ele ficara receoso de os nossos estudos ficarem aquém do que ele vislumbrava para nós e graças ao bom relacionamento da

48

POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


família, conseguimos uma ótima continuação dos estudos. Não podendo pagar por eles e pela moradia fora de casa, ele mandou o Adilson para Araçatuba (SP), na casa da nossa saudosa tia Helena e eu fui morar com minha inesquecível tia Anna, em Adamantina (SP). Fiquei em Adamantina durante um ano. Foi bem rápida a minha passagem nela. Tia Anna e tio Jorge sempre me trataram muito bem. Meu tio era bem rigoroso, quase não me dava espaço. Eu também não queria espaço, então estava tudo certo. Eles eram como uma segunda família para mim, pois me acolheram de maneira que sempre me senti muito à vontade na casa deles. Fora em decorrência do nome dessa tia querida que surgiram várias outras Anas na família: Ana Cristina, Ana Laura, Ana Luísa e Ana Ercília. Todos esses em homenagem a ela: tia Anna, pessoa ímpar! Essa transição de cidade em cidade foi uma experiência boa. Isso porque havia saído de uma cidade muito pequena e não tinha visão de mundo. Adamantina, por exemplo, tem uma forte presença da cultura nipônica e isso foi impactante de maneira muito positiva. Conhecer outra cultura - muito diferente da nossa - foi muito gratificante. Sem falar que Adamantina, hoje, possui cerca de 35 mil habitantes e Três Lagoas 120 mil. Então, é diferente se compararmos com Caconde; o contato com as pessoas era maior. Minha outra tia, Helena, me ensinou análise sintática. Ela era muito didática, dona de enorme conhecimento da língua portuguesa e me ajudara a superar as deficiências de conhecimento gramatical que trazia comigo. Ela ensinava mesmo. Como disse várias vezes, meus tios foram importantes na minha vida, cada um contribuindo

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI

49


de uma maneira diferente. Minha adolescência fora tranquila, nunca fui de ficar jogando, bebendo ou fumando. Levava à risca um ensinamento de meu pai: - Não quero que meus filhos bebam, nem fumem, ou joguem. Na minha adolescência, tive um comportamento atinente à fase. Eu sempre ficava transitando entre Três Lagoas e Adamantina para visitar minha família. Geralmente, percorria esse trajeto de ônibus. Falando ainda em transporte, comecei a dirigir enquanto morava em Três Lagoas. Todo domingo, na parte da tarde, meu pai pegava a caminhonete dele e me levava pelas estradas afora para me ensinar a dirigir o veículo. Foi uma experiência inicial muito boa, porém, futuramente, terei alguns casos que me causaram temor de dirigir. A adolescência em Três Lagoas foi muito calma, não fazia muita coisa preocupante e a cidade também não colaborava para isso. A noite era perigosa, não podíamos sair sempre, havia riscos. Eu também nunca fui namorador, não gostava de jogar baralho ou sinuca. Eu sempre fazia companhia ao meu pai. Ele foi um ótimo companheiro durante a vida toda e na adolescência não foi diferente. A atração da nova cidade era o aeroporto. Como havíamos saído de Caconde - cidade pequena onde não havia praticamente nada - Três Lagoas foi um certo espanto, pois havia muitos atrativos diferentes e um deles era o campo de aviação. Gostávamos de ver os aviões decolando e aterrissando. Além disso, não havia muito o que fazer. Não fazíamos parte de nenhum clube social da região, o cinema era pre-

50

POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


cário. Com isso, as opções de diversão eram bem limitadas. Inclusive, os amigos de verdade, que tenho guardado em meu peito, ficaram em Caconde, pois arrumar amizade em Três Lagoas era algo difícil. Eu era tímido. Na época, existiam as brincadeiras dançantes, umas festas que a garotada participava e eu nunca gostei de participar delas. Tanto que se fosse dizer algo para o meu eu adolescente, eu diria: seja mais extrovertido. Não a ponto de ser chato, mas pelo menos para aproveitar um pouco mais a adolescência. De Carnaval tenho poucas recordações. Lembro-me de mim e dos meus irmãos, ainda bem crianças, em Caconde, usando óculos de plástico para proteger os olhos, porque, na época, o lança-perfume era permitido. Pesquei algumas vezes com meu pai, gostava de andar de bicicleta no terreno arenoso da cidade, enfim, acredito que minha adolescência por lá não foi perfeita, mas também não foi algo terrível. Lembrando de algumas histórias, há umas boas do meu tio Geraldo: Eles se mudaram do sítio para a cidade e ele adquirira um bar. No fundo do bar, havia um pomar com várias laranjeiras. Havia uma que as laranjas eram bem azedas e outras não tão azedas, e por isso, estava sempre carregada. Chegou o motorista do caminhão de leite e pediu se poderia apanhar umas laranjas para levar para casa. Ele, muito espirituoso, disse ao motorista: Pode apanhar, só, por favor, não apanhe daquele pé – apontando o pé de laranjas azedas – pois eu estou reservando as laranjas para o meu cunhado que vem do Mato Grosso. O motorista, sorrateiramente, pegou o saco para colocar as frutas e foi justamente na laranjeira que meu tio havia dito para ele não ir. Meu tio ficou espiando por uma fresta

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI

51


da janela, o motorista pegando as laranjas e cuidando para ver se meu tio não estava vendo (risos). Ele foi embora levando o saco, todo faceiro e meu tio ficara morrendo de rir. No outro dia, logo cedo, o motorista apareceu e disse: Poxa, Seu Geraldo, o senhor me enganou e meu tio disse: não te enganei, não, até pedi para você não apanhar daquele pé (risos). E assim ele fazia com as pessoas que pediam laranja. Muitas, sabendo do jeito brincalhão dele, voltavam para dar risada com ele. Esse mesmo tio vendia sal amoníaco e quando as pessoas iam comprar, ele dizia: olha, tem esse aqui, não sei se está bom, cheire para ver o que você acha. Era espirro na certa!!! No bar dele, havia uma mesa de snooker e, na parede, uma placa onde estava escrito: Proibido sentar na mesa. Acontece que ele, muitas vezes, deitava na mesa e as pessoas diziam: Seu Geraldo, está escrito que não pode sentar na mesa. Ele respondia: Não pode SENTAR, deitar pode (rsrsr). Finalizando as histórias do meu tio, ele sabia que alguns fregueses dele só gostavam da caninha 51. Quando acontecia de acabar, ele pegava caninha de qualquer outra marca e colocava no litro. A diversão dele era ver os fregueses tomando e dizendo: essa, sim, é uma pinga boa...(risos) Não posso deixar de comentar também da minha boa relação com os animais, durante minha infância e juventude. Os cachorros sempre foram meus preferidos. Lembro-me de termos um casal de pequinês, Shake e Lady, em Andradina (SP), anos 70. Aliás, nossa família sempre gostou de cães. Meu avô materno gostava de caçar e preferia os perdi-

52

POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


gueiros, uns cachorros grandes de bom faro. Minha tia possuía uma cachorra chamada Gina, era muito fofa. Não me esqueço do Pelé, outro cachorro do meu avô paterno que fez muito sucesso entre os familiares.

No Internato de Lins A partir do ano de 1964, comecei a estudar em outro lugar: no internato de Lins. Outra cidade do interior de São Paulo, que hoje possui um turismo muito agradável de se fazer. Tinha 15 anos quando fui morar lá. Foram anos que me marcaram muito. O ambiente era diferente, existiam bastantes regras; se não houvesse, ninguém daria conta de toda a molecada. O rigor era menor que dos colégios católicos, mas existia: o internato era gerido por protestantes. O primeiro ano foi muito traumático. Eu brigava com todo mundo, todo dia, não sei porque me desentendia tanto. Acredito que não tenha me adaptado bem inicialmente com aquele ambiente. Chegou final do ano, tudo que eu mais queria era ir embora daquele lugar. Pouca gente sabe, mas eu fiz uma carta para o meu pai, que nunca cheguei a enviar pedindo para ir para outro colégio, em outra cidade. Conto isso, agora, somente para se ter uma noção do quanto eu não gostava daquele lugar. Porém, no segundo ano, tudo melhorou bastante. Adaptei-me à rotina, com o ambiente, com as pessoas, enfim, comecei um melhor convívio. Quem me trazia para casa e me levava para Lins era um motorista japonês amigo do meu

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI

53


pai, o “seu” Geraldo. Era uma distância grande, dava mais ou menos 200 km. Era sempre ele que ia nos buscar e levar. Aprendi muito com a convivência obrigatória nesse internato. Acredito que principalmente a me relacionar com as pessoas. Como já havia dito, eu era tímido e não sabia lidar bem com elas. Inclusive, tinha um dia, que um aluno podia se oferecer para fazer a leitura de algum trecho de livro ou poema para todo mundo. Nunca me disponibilizei para tal feito pelo acanhamento. Porém, meu relacionamento com alguns colegas foi fundamental para perder isso ao longo dos anos. Além da timidez, não poderia deixar de mencionar que a disciplina imposta me ajudou a formar o meu caráter. Tínhamos hora para dormir e acordar, precisávamos lavar nossas roupas, deixar o dormitório sempre arrumado. Enfim, a disciplina e a ordem eram o lema daquele lugar. Recordo-me, também, da divisão entre o internato masculino e feminino. Raramente os dois se encontravam, até porque existia uma fiscalização ferrenha para que isso não acontecesse. Éramos em torno de 200 jovens, com idades que variavam entre 15 e 18 anos, e a rotina era boa: de manhã tomávamos café, íamos para o colégio, depois da aula voltávamos para o internato, almoçávamos, depois havia a sesta e o horário de estudo. Todos os dias assim, sempre regrado. Tínhamos que ficar espertos com nossos pertences, pois no mínimo descuido, a molecada ia lá e furtava sem você nem perceber. Para se ter ideia, na hora do banho, era você ensaboar o olho e alguém roubava seu sabonete. A comida não era ruim, nada fora do comum, mas um fato interessante deu-se, quando meu pai chegou para conversar com o diretor: - Olha, o menino não toma café. - Não toma café? 54

POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


- Não. - Então pode deixar que nós temos outras opções. Realmente, havia outra opção: café com leite. Tomei café com leite dois anos sem gostar, sempre me recordo dessa história com boas risadas. Nós não éramos levados. Nossa vida era basicamente estudar, cuidar dos nossos pertences e dormir. A saída autorizada era apenas nos fins de semana, porém, nós sempre escapávamos para ir assistir filme no cinema. Certo dia, fomos pegos pelo diretor. Foi um susto! Ele nos fez pular o muro e voltar 20 vezes como forma de castigo. Não aguentava mais, mas tinha que continuar o trajeto. Lembro desse castigo até hoje... Acredito que o mais senti diferença foi nos estudos. O internato em Lins foi um dos melhores lugares que estudei, tinha ótimos professores. A língua portuguesa, matemática e a ciência eram extremamente bem ensinadas a nós, mas o inglês foi o que mais senti impacto, pois realmente aprendi a compreender essa língua. A professora se chamava Antonieta, excessivamente disciplinadora, mas ensinava que era uma beleza. Do ensino e da aprendizagem, não tenho o que me queixar dessa época. Vale ressaltar que em 31 de março de 1964, quando começava a ditadura militar, eu estava morando no internato de Lins. Um fato interessante foi que o batalhão do exército era ao lado do internato. Não teve barulho, não teve tiro e nem alarme nenhum, era como se a vida tivesse continuado normalmente. Em um primeiro momento, fiquei por fora de toda essa jogada política que estava acontecendo. Apenas futuramente que iria sentir os males do Regime Militar. Nessa época, com 14/15 anos de idade, eu também não dava motivos para ser perseguido pela ditadura. O único lazer que me fazia perambular era o amor pelo futebol. Fiz

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI

55


questão de ter um capítulo neste livro falando apenas do meu amor pelo futebol, mas já me recordo aqui do jogo que fui ver em Bauru, onde o Santos foi jogar. Foi uma experiência maravilhosa. Meu lazer principal sempre fora ir ao estádio assistir a um bom jogo de bola. Em Lins foi assim: apesar do ambiente caótico no início, conseguira me adaptar bem e depois os aprendizados que conquistei foram recompensadores. Depois de Lins, por orientação do meu tio Fernando, passei a morar em Ribeirão Preto, onde comecei a mudar os rumos de minha vida.

Ribeirão Preto: preparação para o vestibular Quando estava prestes a terminar os estudos em Lins, meu pai, sempre preocupado com nosso futuro, queria saber para onde eu iria. Meu tio Fernando, irmão dele, aparecera novamente em minha vida para guiar meus estudos. Ele e meu pai tinham uma relação boa, sempre ajudando um ao outro. O meu irmão, Adilson, por ser mais velho, sempre estava um ano à frente nos estudos e ia morar em Ribeirão Preto (SP) para fazer cursinho para o vestibular. Meu tio, muito esperto, disse o seguinte para o meu pai: - Tonico, deixa o Marcos ir para Ribeirão Preto com o Adilson, que ele faz o cursinho dois anos e prepara-se melhor para o vestibular.

56

POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


Foi uma ótima ideia por parte do meu tio, pois no vestibular, posteriormente, não tive dificuldade alguma e passei com muita facilidade. Pois então, fui para Ribeirão Preto, cidade riquíssima em cultura, que conta com inúmeros espaços dedicados à realização de eventos culturais das áreas de teatro e música, como o Teatro Pedro II, que possui uma estrutura belíssima para ser apreciada. Se nas cidades anteriores o impacto já havia sido grande, em Ribeirão Preto não foi diferente. Eu e o Adilson fomos morar em uma pensão. Pensão da Dona Virgínia, lugar muito simples, mas ali, havia um diferencial: a comida era de dar água na boca. O sabor era inigualável e trazia gente de todos os cantos da cidade, algumas vezes para almoçar, outras para jantar, mas sempre em busca do tempero da dona Virgínia. Nós dois convivíamos bem nessa pensão. Basicamente estudávamos o dia inteiro, por causa do vestibular que se aproximava. Lembro-me de estudar bastante e havia uma matéria que me marcou muito: eletrorressonância, era algo extremamente esquisito e complicado de aprender. O período ditatorial ainda estava em vigor, mas pouco senti durante o período em Ribeirão Preto. Saía no máximo para jogar bola, ir atrás de alguns materiais para estudo, mas nunca cheguei a ser parado ou abordado. Nesse ano, sentira que minha adolescência estava chegando ao fim e o ritmo da vida adulta estava começando. O que posso dizer é que minha adolescência foi produtiva e satisfatória. Até comentei sobre isso com a minha mãe, para ela se conscientizar disso. Nunca passei necessidade de nada. Nosso padrão de vida era bom, não chegava a ser de rico, mas era muito bom. Se eu tivesse oportunidade hoje, diria para o Marcos Corpa adolescente ser mais solto, brincalhão, alegre. Eu

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI

57


não era triste, mas era tímido e talvez se tivesse mudado isso poderia ter aproveitado mais algumas coisas. A passagem por Ribeirão Preto foi curta, mas muito satisfatória. No final do ano, meu irmão, com muita dedicação e esforço, passou na PUC e na Universidade Federal do Paraná, em Curitiba. Ficou aquela incógnita de novo: e o Marcos? Vai fazer o quê? Meu pai, novamente, preocupado com meus estudos e não querendo que eu ficasse sozinho, me mandou para buscar novos horizontes.

Uma nova experiência em São Paulo Após meu irmão passar no vestibular e ir morar com meu tio Fernando, em Curitiba (PR), meu pai não quis que eu continuasse o cursinho sozinho em Ribeirão Preto (SP). Pensando em manter minha qualidade de ensino e também preocupado em me deixar acompanhado para que pudesse buscar socorro (caso precisasse), meu pai me mandou morar em uma grande capital, São Paulo, com um outro tio paterno, chamado João, que era gerente de uma firma enorme e era muito bem de vida. Meu pai disse: - Vão vocês dois morar no hotel e deixa por minha conta. Eu queria fazer Objetivo e tudo que eu falava meu pai dava um jeito e ia atrás. Enfim, fui morar em São Paulo. O aprendizado na cidade começou logo quando cheguei.

58

POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


Meu pai havia me dito: - Marcos, vai com um funcionário do seu João – comerciante amigo do meu pai - e ele vai te ensinar a ir do hotel até o cursinho, a pé. Obedeci a meu pai, como sempre, e fui encontrar-me com esse funcionário. Conversei com ele, sujeito muito tranquilo e foi me ensinando o que era cada lugar da Terra da Garoa. - Aqui é Santa Efigênia, bairro da região central de São Paulo. O funcionário continuava: - Essa rua aqui é a Boa Vista... Região bem complicada, que possui uma criminalidade alta, sendo bem perigoso andar por lá. O funcionário ainda dizia: - Aqui é a Praça da Sé. Enquanto estávamos conhecendo a praça, um fato curioso aconteceu que recordo. Um sujeito estava fazendo estripulias, com várias pessoas em volta dele. O meu guia então disse-me: - Está vendo, Corpinha? Nunca fique perto dessa multidão, pois sempre tem um pronto para roubar sua carteira. Nunca fiquei. Sempre que vejo esse tipo de situação, fico o mais longe possível. Depois de algum tempo rodando pela cidade, agradeci o funcionário pelo passeio e voltei para o hotel, que ficava na esquina da Avenida Ipiranga com a Rua Santa Efigênia. A rotina com o meu tio era muito diferente. Nós morávamos em um hotel em São Paulo, no mesmo quarto. Nos

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI

59


dias de semana, quando ele levantava de manhã para trabalhar, eu estava dormindo. Quando era à tarde e à noite eu estava no cursinho, e a hora que eu chegava no hotel, ele já estava dormindo. Praticamente não tínhamos contato, não porque não queríamos, mas porque estava focado em estudar para o vestibular e o contato com ele era praticamente inexistente. São Paulo foi importante na minha vida, pois tive grandes aprendizados. O ritmo da cidade grande era notório nas ruas, e pouco me relacionei com as pessoas, pois meu foco era unicamente os estudos. Apesar de estar dedicado aos estudos, tinha um lazer que adorava fazer com meu pai. Como ele ainda tinha a loja em Três Lagoas (fazendo muito sucesso, inclusive), vez ou outra precisava ir a São Paulo fazer compras e abastecê-la, e eu, como adorava ajudar com os negócios da loja, deixava de ir à aula do cursinho e ia com meu pai às compras. Nesse ano vale ressaltar que, para mim, foi um ano muito pesado por causa da ditadura. Diferentemente das outras cidades que havia passado, em São Paulo o clima estava muito tenso, era nítido que algo estava errado por ali. Tinha um amigo meu, Joel, que logo quando cheguei, disse para mim: - Marcos, nós não sabemos muito das coisas aqui direito, a censura é muito forte, então toma cuidado. Apesar disso, desse clima tenso rondando pelo ar, minha vida por lá foi tranquila. Inclusive, quando completei 18 anos, eu estava voltando do cursinho para o hotel, a pé, à noite - dia 18 para 19 de julho. Um fato interessante, porque era muito tarde e nada me aconteceu. Toda minha jornada de estudos valeu a pena! Chegou final do ano, tinha terminado o cursinho e feito o vestibular. Era mais de mil candidatos concorrendo na Univer-

60

POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


sidade Federal do Paraná. Passei em décimo quinto lugar, no primeiro vestibular que fiz! Foi uma alegria sem tamanho. Não foi nada difícil, pois era mais simples comparado com os vestibulares da atualidade. Minha família não fez nenhuma comemoração ou algo do tipo, como é feito atualmente. Passar na prova não era mais do que nossa obrigação. O máximo que se ganhava por ter passado no vestibular era um bonezinho da universidade e rapava a cabeça. Não reclamo por isso, mas é bom relatar para ficar clara a diferença dos vestibulares realizados anteriormente. O vestibular não foi o fim do mundo. Tinha um certo estresse, tensão, mas foi relativamente tranquilo para mim. Chegou o final do ano, meu tio solteiro, que morava comigo no hotel, casou-se e eu fui para Curitiba, onde já estavam meu irmão e tio. Mal eu sabia, mas ali estava começando minha jornada na radiologia.

A formação em Curitiba Minha trajetória até Curitiba (PR) me faz refletir, pois não basta o indivíduo só estudar e não ter a malícia das coisas. Tem que ter uma carta na manga. Se não fossem meus pais e meus tios, dificilmente teria chegado até a universidade e, se tivesse, teria sido muito mais difícil. Logo que cheguei em Curitiba, fui morar com meu tio, Fernando, e meu irmão, Adilson, em uma república. ÉraMARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI

61


mos mais ou menos sete pessoas e nunca houve problemas, porque, além dos meus parentes, era um pessoal conhecido de Caconde que morava conosco. Não havia brigas nem nada nesse sentido. Criei um problema para o Adilson e o tio Fernando. Como eles moravam em uma quitinete, tivemos que mudar dali. O problema foi solucionado com uma mudança à noite para um apartamento bem próximo; não tivemos quaisquer despesas, ou seja, transportamos “no lombo”, de um par de meias a um guarda-roupa. Alguns anos depois, alguns primos também viriam morar conosco e o convívio foi muito bom! Íamos assistir futebol e quando ficávamos sem empregada, dividíamos o serviço entre todos. Éramos como uma grande comunidade: a comunidade do Fernando Corpa e seus sobrinhos! O que me impactou de verdade foi o frio curitibano. Estava acostumado com o calor das cidades do interior de São Paulo e Curitiba era muito diferente. O povo curitibano era muito arredio ao pessoal de fora, principalmente o paulista. Hoje em dia, mudou bastante, não existe mais essa divisão entre o curitibano e o não curitibano. Na capital paranaense, meus estudos foram realizados na Universidade Federal do Paraná, a mais antiga instituição de ensino com concepção de universidade do Brasil, fundada em 19 de dezembro de 1912, inicialmente com o nome de Universidade do Paraná. Tenho ótimas histórias de quando estudei por lá. Uma delas começa logo na “calourada”, no começo do ano. Havia a chamada “chopada dos calouros”, uma espécie de festa feita para recepcionar os calouros. Eu, meu primo e meu amigo fomos com uma jarra enorme nas mãos. Bebemos, bebemos, bebemos... até ficarmos completamente bêbados! Briguei, entrei na piscina e nem sabia como, fiz muita

62

POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


presepada. Subi numa espécie de quiosque e fiquei de cueca dançando lá em cima. Meu primo gritava: - Desce daí, Marcos! Desci e, por sorte, não aconteceu nada comigo, foi o maior susto quando comecei a lembrar de tudo que fiz naquela noite. Depois disso, fiquei focado apenas nos estudos da universidade. Na época, a UFPR era muito bem estruturada (e ainda é). Cada turma de medicina tinha cerca de 150 alunos, era muita gente! O funcionamento era diferente do sistema de ensino atual. Primeiro você aprendia biofísica, bioquímica, anatomia, neuroanatomia, fisiologia, fisiopatologia, de maneira bem graduada. Atualmente vem um pacote com milhões de coisas para se aprender. Interessante, pois a bioquímica e a microbiologia não constam mais da grade curricular. Tudo foi reestruturado para que o aprendizado ocorra de maneira mais rápida. A partir do segundo semestre do quinto ano, dávamos cobertura para os médicos do interior viajarem: cidades de Pato Branco, Francisco Beltrão e região. Certa vez, eu estava trabalhando em Witmarsum, em Santa Catarina, e já estava pronto para voltar a Curitiba, quando me disseram que havia um médico na cidade de Verê, ao lado de Pato Branco, que estava viajando e precisava de cobertura: Doutor Flávio, até então, não o conhecia. Cheguei e ele já havia viajado. Fiquei hospedado na residência dele, em um porão bem estruturado. Nesse porão, a esposa dele tinha vários potes em conserva, e eu, como gostava muito de doce, “muito esperto”, tirava um pêssego por dia dessas embalagens. Conclusão: azedaram todas. Se eu tivesse pegado um pote só e comido todo o doce, as conservas não teriam azedado. Imagine a cara da mulher quando retornou e viu to-

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI

63


das as conservas azedas? Além das histórias em Curitiba, posso afirmar que minha formação foi tranquila, pois, além de já estar habituado a estar sempre de mudança em várias cidades, tive a sorte de chegar na cidade e meu tio e irmão já estarem morando lá. Meu irmão estava no segundo ano e meu tio no quinto ano de medicina, tive todo o apoio de ambos para estudar. Em Curitiba, assim como nas outras cidades que já havia vivido, nunca passei necessidade. Meu pai continuava nos mantendo, o comércio dele ia bem, então, tínhamos uma condição de vida muito boa. Inclusive, tive o privilégio de ganhar um Fusca durante a faculdade. Infelizmente, as histórias que tenho com ele não são muito alegres de se contar. Certo dia, deixara o Fusca na frente da universidade, como sempre fizera. Quando voltei, uma circular havia abalroado nele. Fiquei chateado, pois não fiz absolutamente nada de errado e bateram no meu carro. Fui atrás do dono da empresa para arcar com os prejuízos, mas me receberam muito mal e ninguém quis assumir a dívida da batida. Deixei de lado, arrumei o carro e segui minha vida. Outro dia, voltando da casa da namorada, já estava acostumado com o caminho com três semáforos sincronizados, perto da Biblioteca Pública do Paraná. Fui entrar na rua, veio um ônibus e deu uma batida feia no meu Fusca. Levei um susto danado! Depois, fui falar com o dono da empresa e dessa vez mandaram pagar a pintura, mas ficou uma lástima, parecia que o carro estava remendado. Depois disso, fiquei traumatizado. Dois acidentes em pouco tempo - e a culpa nem foi minha em ambos os casos - não conseguia aceitar. Cheguei para o meu pai e disse: - Estou devolvendo o carro. Foi muito bom, mas não quero mais.

64

POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


Fiquei um bom tempo sem dirigir novamente depois desses ocorridos. Outro fato não tão interessante que ocorrera durante meu período em Curitiba, foi minha participação ativa nos movimentos contra a Ditadura Militar. O pessoal da faculdade começara a escrever para um jornal, eu me empolguei e comecei a participar. Toda a minha trajetória nas outras cidades havia sido neutra em relação à Ditadura, mas foi completamente diferente no território curitibano. Tenho várias histórias de confusões em que me meti por causa disso. Uma delas foi quando houve um vestibular no campus de engenharia. Seria um curso pago, e a esquerda era contra qualquer tipo de curso que fosse pago na universidade. O vestibular aconteceria no Centro Politécnico, bem longe do centro da cidade. Um pessoal organizou uma manifestação e nos convidou para ir lá e eu fui. Peguei carona com alguém que não me lembro quem era e fomos até a manifestação. A região era saída de praia, então, havia bastante gente voltando do litoral. Nós parávamos os carros e fazíamos tumulto para chamar atenção. Depois de um tempo, chegou o batalhão da polícia em cima de cavalos para nos conter e os manifestantes assustavam os cavalos para não ficarem em pé. Depois de uma confusão danada, a polícia veio para cima de nós e começamos a correr em direção a uma ribanceira, onde os cavalos não podiam ir. Corri. Entrei no meio de um matagal, não sabia nem para onde estava indo. No meio da correria, em um segundo de descuido, acabei machucando o braço em um pedaço de madeira. Uma data importante foi a tomada da reitoria. Eu morava na Rua Mariano Torres, praticamente ao lado da reitoria. Foi um movimento de ampla mobilização estudantil con-

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI

65


tra determinação para que a UFPR cobrasse mensalidades dos aprovados no vestibular de 1968. Como foi realizada essa tomada? Houve uma grande mobilização e qualquer carro chapa branca (carro do governo) que passasse por lá, faziam parar, descer e faziam uma espécie de barricada com esses carros. Depois de muitos atritos e desentendimentos, chegara o governador Paulo Pimentel para apaziguar a situação. Não demorou muito e ele acalmou o caos que estava implantado naquele lugar. Era um clima muito pesado. Uma história que me marcou bastante em Curitiba foi a de um domingo de manhã. Saímos eu e mais umas pessoas começando a manifestação na Praça Santos Andrade, uma praça onde fica o prédio central da Universidade e do outro lado o Teatro Guaíra. A manifestação cresceu e tomou direção à Boca Maldita. Quando eu percebi estava o Batalhão de Choque na nossa frente. Começou um corre-corre, uma gritaria, olhei para o lado, tinha na esquina a farmácia Minerva. Não quis nem saber, entrei correndo na farmácia e fui lá para o fundo. Fiquei dentro de um banheiro, esperando a algazarra passar. Passou um bom tempo, saí e comprei um sabonete para simular que estava comprando alguma coisa. Eu não consegui nem sequer caminhar, de tão pesado que estava o ambiente. Peguei um táxi, entrei nele e fui embora. A Ditadura foi algo muito pesado, a repreensão era forte. Por sorte, nunca fui preso, mas corri um risco de bobo que fui, não precisava ter feito o que fiz. Apesar desses momentos tensos, não posso reclamar do meu tempo em Curitiba. Fiz grandes amizades e algumas mantive durante o transcorrer dos anos. Com o avanço da internet, temos um grupo do WhatsApp da minha turma, mas tive que sair. O motivo: conversavam o dia inteiro, não dava para entender nada.

66

POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


Depois de anos estudando, me dedicando à formação, finalmente chegou o ano de minha formatura. Comecei a pensar: o que eu quero? Que especialidade pretendo fazer? Enquanto pensava nisso, caminhando pelo hospital da universidade, eu passei pelo raio-X, comecei a observar o pessoal trabalhando e gostei demais! Pensei: é isso mesmo que quero fazer! Mas, como que eu iria fazer isso? Felizmente, sou um cara de sorte. Nessa época, eu estudava com professor, Dr. Sebastião, acabara me apoiando nele para alcançar o objetivo de ser radiologista. A convivência com ele era boa, a simples presença dele me fazia bem. Ele foi um grande amigo, para toda vida, tanto que fora meu padrinho de casamento. Tenho uma homenagem a ele na minha clínica. Foi uma figura importante na minha vida. Finalmente chegara minha formatura. Algo muito bom de recordar, pois já havia passado por diversos degraus: primário, ginásio, colegial, cursinho e faculdade. Minha mãe se emocionou no dia; ela e meu pai se sacrificaram muito para proporcionar os meus estudos. Para ela, fora difícil ver os filhos saírem de casa para estudar. Éramos cinco e, de repente, a casa ficara vazia. Minha mãe sentiu bastante, mas é muito orgulhosa da nossa formação. Às vezes, me perguntam se eu me arrependo de ter feito medicina no lugar de outros cursos. Afirmo com toda certeza que não, e na vida, sempre existe alguém direcionando: um pai que é oftalmologista tem vários filhos oftalmologistas, engenheiro tem vários filhos engenheiros e por aí vai. No meu caso, foi meu tio que me deu seguimento e inspiração para a carreira de médico. Minha formatura se deu em 1973 e, junto comigo, uma turma que levo no coração. Somos 147 formados e pos-

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI

67


suímos um vínculo forte, como se ainda estivéssemos estudando medicina juntos, por todos esses anos. Considero-me um cara de sorte por tê-los em minha vida, a cumplicidade de cada um permanece por toda a vida. O tempo não abalou nossa relação. Chegou final do ano, precisava decidir onde queria fazer residência. Eram poucas as opções, para onde eu iria? Depois de conversar com alguns colegas e professores, decidi ir para o Rio de Janeiro.

Rio de Janeiro: tempos de residência médica No final do ano, pensando na residência disse ao doutor Sebastião: - Dr. Sebastião, vou tentar fazer residência no Rio de Janeiro. Como faço para ir pra lá? Ele me respondeu: - Vou te dar uma carta de apresentação e quando você chegar no Rio, você a entrega ao doutor Luís Filipe Matoso. Peça para ele te arrumar algo. Com uma carta de apresentação em mãos, senti-me seguro para ir ao Rio de Janeiro.

68

POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


A chegada foi tranquila, hospedei-me em um hotelzinho e fui direto procurar o doutor Matoso, radiologista do Hospital Pedro Ernesto. Ele não trabalhava mais lá! Naquela época, não existia GPS, internet... Entrei em desespero. Decidi ir à Santa Casa. Na Santa Casa, fui atendido pela secretária, lembro até hoje o nome dela: dona Helena. Muito simpática, me atendeu muito bem, mas disse: - Infelizmente o nome do senhor não está na lista de inscrição. Sem inscrição, não posso deixar você entrar, pois estamos lotados. Fiquei estarrecido, pois havia pedido para um amigo fazer a inscrição, e ele não fez, nem a minha, nem a dele. Como diz aquele ditado: peguei minha violinha, enfiei no saco e fui embora. Agora vem mais um dos casos de grande sorte da minha vida. Estava caminhando para ir embora. Saindo de lá, pensei: - Vou no Doutor Emílio Amorim em Botafogo, ele é muito bom também e pode ter algo para mim. Pensei: não vou desistir, vou batalhar, continuar... Em direção a Botafogo, na procura pela clínica do Dr. Amorim passei pela rua México, onde já sabia da existência de embaixadas. Na minha situação eu aventei a possibilidade de conseguir um estágio no exterior. Nesse interim adentrei a um edifício onde eu procurava uma embaixada, conforme já disse antes. Qual foi a minha surpresa quando descobri que no único prédio que eu entrei ali estava o consultório do Dr. Matoso. O difícil foi um achado, uma sorte sem dimensão. Entrei no prédio e fui até o consultório do Dr. Matoso e ele prontamente me atendeu, dada a amizade dele com o Dr. Sebastião e inclusive me deu a op-

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI

69


ção de escolher entre a Clínica do Dr. Amorim, Santa Casa e o Hospital dos Servidores. Escolhi a Santa Casa e não me arrependo. Eu estava procurando a embaixada, achei num prédio do Rio de Janeiro, a pessoa que procurava e não achava. Essa foi a grande coincidência. Minha experiência de residente foi boa. Tive o prazer de ter como professor-chefe da residência Nicola Casal Caminha. Antes do seu falecimento, em 06 de janeiro de 1995, foi ocupante da cadeira número 45, da Academia Nacional de Medicina (ANM). Ele era formado pela Faculdade de Medicina da UFRJ e especializou-se em Radiologia nos Estados Unidos e na Suécia. Era a pessoa que mais entendia de radiologia no Brasil. Tenho uma fotografia com ele, que tirei em um evento que tivemos no Rio de Janeiro. Nós nos vimos por acaso e pedi para tirar a foto comigo. Dr. Caminha era bravo e rigoroso, mas também disponível. Qualquer dúvida que tínhamos, podíamos perguntar que ele respondia na hora. Nós nos sentíamos à vontade. Não posso deixar de mencionar as amizades que ganhei na radiologia. Na residência, éramos mais ou menos 14 pessoas, todos companheiros. Até hoje somos. Inclusive, na minha festa de 50 anos, vieram dois do Piauí, um de Belém do Pará, outro de Cuiabá, outro de Santa Vitória do Palmar. Enfim, só para mostrar que a distância não afastou nossa amizade. Tenho muitas histórias boas com esses amigos que fiz durante a residência. Teve um final de semana que eles disseram: - Vamos à praia? Todo mundo junto? Fomos juntos. Chegando na Praia do Leme, lugar bonito aliás, é uma parte mais tranquila, pois o bairro do Leme é

70

POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


menos conhecido, então a quantidade de pessoas que circulam é menor. Ficamos andando para lá e para cá e acabei decidindo entrar na água. Nadei, fiquei o tempo que quis e decidi sair. Quando sai, cadê os rapazes? Não consegui achá-los de jeito nenhum porque tinha entrado no mar sem os óculos, e acabei não deixando nenhuma referência para quando saísse de lá. Demorei um bom tempo para encontrá-los. Depois que eles descobriram toda a história, começaram a chamar-me de cego. Para eles, não sou o Doutor Marcos Corpa, sou o cego. Nunca liguei para tal apelido, pois é apenas uma brincadeira. O apelido pegou tanto que quando um professor meu fez uma dedicatória, escreveu o seguinte: Ao residente cego... Então, no Rio, eu sou o cego. Outra história que vivi na Cidade Maravilhosa foi quando eu e um amigo resolvemos ir a um ensaio da Portela. Acabamos indo uma, duas, três vezes. Em um desses dias ele chegou a perguntar se havia meia entrada para estudante, de tanto que íamos lá. Porém, certa vez, esse meu amigo disse que não queria ir, pois estava muito cansado. Era um sábado, eu queria muito ir, e fui, de bobo. Minha identidade e o dinheiro da passagem de volta estavam no bolso da camisa e, andando no meio daquela multidão, quando percebi, haviam me furtado. Comecei a pensar: a pé não consigo ir, pois é muito longe; de táxi, não tenho dinheiro para pagar; de carona, não conheço ninguém, e agora, o que eu faço? Comecei a andar e pensar em alguma solução, quando, de repente, avistei um homem sentado. Expliquei toda a situação para ele, e pedi um dinheiro emprestado para ir embora. Por sorte, ele emprestou, peguei um ônibus e fui embora. Tive que me humilhar para poder ir embora. Ainda bem que ele teve dó e me emprestou o dinheiro.

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI

71


Eu gostei de morar no Rio de Janeiro, não só pelas experiências com meus colegas de residência, mas pela vida que levava lá. Não tinha vida social, mas adorava jogar bola no Aterro do Flamengo. Inclusive, algo que me marcou bastante foi que, no segundo semestre da residência, eu ganhei outro carro do meu pai. Mas eu estava tão traumatizado com os acontecimentos em Curitiba que o deixava guardado e andava de ônibus. Era muito perigoso também, podia ser roubado a qualquer momento, então decidi deixá-lo parado. Infelizmente, nem todas as histórias que tenho no Rio de Janeiro são boas. Enquanto eu fazia residência, meu pai mudara a loja da Ilha Solteira para a cidade de Andradina, onde ele havia construído nossa casa. Nossa casa fora construída em Andradina, porque a Ilha Solteira, assim como a Vila Piloto, foram polos construídos com previsão de serem temporários. Meu pai, nessa época, já estava bem depressivo, não tinha tanta saúde quanto antigamente. Eu estava concluindo a residência e no final do ano haveria uma prova de especialidade e eu precisava passar nela para pegar o diploma. Bem nesse período, meu pai passara mal, tivera uma crise forte de depressão. Ligaram-me de Andradina, tentaram explicar a situação. A ligação era horrível, naquela época, e eu não entendera nada. Deixei tudo para trás, peguei o fusca e fui do Rio até lá: eram mais de 1.000 km. Fui sem saber se meu pai estava vivo ou morto. Apenas fui. Cheguei na cidade de Jacareí onde alguns primos meus moravam. Encontrei a casa deles, depois de muito procurar. No dia seguinte, meu primo foi comigo para Andradina, onde encontrei meu pai, doente, mas vivo, graças a Deus.

72

POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


Meu pai adoecera e a inauguração da loja de Andradina já estava marcada. Perguntei a mim mesmo: e agora, o que a gente faz? Eu e meus irmãos nos organizamos, trabalhamos juntos e inauguramos a loja. Fora um grande momento! Não deixamos a “peteca cair” e a inauguração da loja - em ponto comercial excelente - foi muito boa. Depois da inauguração, meu irmão fora com meu pai para São Paulo a fim de fazer exames e se tratar. Eu fiquei na loja, como nos meus 13 anos em Três Lagoas, só que em circunstâncias diferentes. Estávamos em meio à inauguração da loja e chegáramos à parte mais difícil do comércio: comprar. Vender qualquer um vende. Se o produto for de qualidade, ele sozinho se vende. Na hora de adquirir, você precisa saber as manhas. Exemplo: existem dois vendedores comprando um produto para venda. Quem chega primeiro compra por 10 reais; o segundo por 12. O primeiro já saiu na frente, pois seu lucro será maior que o do segundo vendedor. Enfim, era época de final de ano e eu sabia que a loja precisava de tecido para terno, pois as pessoas compravam bastante em razão das festividades. Fui a Lins, em uns amigos atacadistas do meu pai e comprei desses tecidos para a loja. Passaram-se dois anos e aqueles tecidos ainda estavam lá! Por quê? Porque não sabia comprar para venda. Mesmo assim, a loja funcionou bem, meu pai ainda estava doente, tanto que, posteriormente, a vendera. Voltei para o Rio, terminei minha residência. E agora? Terminada a residência, o que eu ia fazer? Já estava formado, tudo certinho, mas precisava começar a trabalhar. Comecei a me aventurar pelo mundo afora...

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI

73


No Instituto Americano de Lins, em 1964. Da esquerda para a direita: Quidinho Tolentino de Queiroz (Três Lagoas), Nélio Marques Campos (Poconé), José Roberto da Silva (Cardoso), eu (Três Lagoas), Leossir Mamede de Arruda (Paconé) e João Paulo Franco (Cuiabá).

Com a minha família, em Três Lagoas (MS).


No Passeio Público, em Curitiba (PR).

Com os colegas, em Curitiba (PR).


Com meu primo, Jesse, em Curitiba (PR).

Com o tio Fernando, no Passeio Público de Curitiba (PR).

Minha colação em Curitiba (PR), 1973. Ao lado, com a minha mãe no baile de formatura.



PARTE III A CONSTRUÇÃO DOS MEUS SONHOS


Campo Mourão Depois de terminar a residência, minha vida se resumiu em duas cidades: Marília e Adamantina.Ficava na casa das minhas tias que moravam nessas cidades, trabalhando um pouco e buscando novos horizontes. Queria trabalhar em Tupã, mas acabei não conseguindo. Continuei transitando entre Marília e Adamantina. Certo dia, em Marília, um colega radiologista, naquela região, chegou e disse para mim: - Marcos, você não quer ver uma clínica no Paraná que está à venda? Essa clínica era em Campo Mourão, cidade que nunca tinha ouvido falar. Disse para ele: - Não posso, nem sei onde fica. Ele insistiu: - É uma clínica muito boa, tem uma estrutura boa e ótimos aparelhos. Lá tem máquinas que nem Maringá e Cascavel têm! Comecei a ficar pensativo. Fui conversar com meu tio Jorge, de Adamantina: - Tio, tem uma clínica à venda lá no Paraná, em uma cidade chamada Campo Mourão. Olha como as coisas se encaixam. Ele me respondeu: - Tenho um amigo que mora em Campo Mourão, Francisco

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI

79


Cardamoni, podemos ir lá ver a clínica que ele nos abrigará muito bem. Então viajamos para Campo Mourão. Cidadezinha pacata e com ambiente gostoso. Olhamos a clínica, era tudo que o médico de Marília havia descrito e depois fomos embora. Voltei e pensei: - Vou comprar a clínica! Não me lembro exatamente como fora a negociação da clínica, mas agi como se fosse um empresário. Um empresário que possuía de patrimônio apenas um fusca, ainda dado pelo pai. Comecei a negociação e alguém me disse que o Banco Real estava realizando financiamentos. Porém, precisava de alguém da região para ser avalista e eu não conhecia ninguém. Pensei: E agora? O que eu faço? Pois é, mais uma coincidência em que contei com o fator sorte na minha vida. Meu pai ficou sabendo que estava em Campo Mourão, pois meus tios haviam conversado com ele. Ele pensou: - Vou lá ver o que o Marcos está aprontando... Ele sabia que não aceitavam compras desse valor com contas de bancos de São Paulo. Meu pai sabia que eu não nasci para ser funcionário, mas, sim, para comandar. Nunca tive planos de conseguir um emprego e aposentar-me, queria ter meu próprio negócio. Então meu pai veio, sempre com aquele espírito de comerciante para ver o que eu estava fazendo por aqui. Conhecendo Campo Mourão, meu pai estava andando pela Capitão Índio Bandeira quando, de repente, ele olhou para onde era a antiga Banca do Jonas e viu vários fardos com o seguinte nome: Pequito. Meu pai pensou: - Pequito eu conheço de São Paulo...

80

POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


Conhecia mesmo. Eram o “seu” Assis e o Acurcio Pequito que estavam descarregando produtos na frente do Banca do Jonas, dois grandes amigos do meu pai da 25 de março. Meu pai chegou, conversou bastante com o seu Assis e explicou toda a situação. Resumindo: o seu Assis Pequito foi avalista da clínica. Graças a ele e à boa relação do meu pai com ele, pude comprar a clínica sem nenhum problema. Paguei tudo certinho, em 24 parcelas. Tenho o recibo dela até hoje! Foi muita sorte ter encontrado “seu” Assis em Campo Mourão, estava a mais de 700 km de São Paulo e conseguimos encontrá-lo justamente aqui, quando precisávamos dele. Cheguei em Campo Mourão em 1976. Quando cheguei aqui, pela primeira vez decidi “criar raízes”. Gostei da cidade, do ambiente, não queria mais mudar de lugar. Fora a décima e última cidade em que residi. Fui morar no Hotel Santa Maria, que, na época, era o único edifício da cidade. Morava em um quarto sem banheiro e, no final do corredor havia uma pia, onde eu lavava as minhas camisas, à noite (camisas Volta ao Mundo - que não precisavam ser passadas) e meias de nylon. Só as calças eu mandava na lavanderia. Precisava economizar, pois o compromisso do pagamento da clínica necessitava ser cumprido. O quadro funcional da clínica, inicialmente, era composto por uma secretária e uma zeladora. Era sozinho, eu mesmo fazia o exame, o revelava manualmente e laudava. Trabalhava “pra caramba”. Sempre motivado: com muita vontade e garra. Meus dias, quando aqui cheguei, eram trabalhar, trabalhar muito e ir na casa da dona Romilda para tomar uma sopa de Capeletti ou feijão. Gostava muito da companhia deles e da acolhida.

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI

81


Boas lembranças! Aos poucos, fui fazendo amizade com os médicos. Éramos muito poucos, mas me dava muito bem com o Jofre, Raul, Mário Riscalli, Iolanda, Hiroshi e Vicente. Adorava passar os finais de semana em suas casas com as crianças, ficava de guarda, quando eles viajavam e até fazia companhia para as crianças. A criançada e eu nos dávamos muito bem. Fiz muitos são paulinos, vivia com o carro cheio de camisetas do São Paulo, comprava direto da fábrica. No prazo certo, terminei de pagar a clínica, e agora precisava comprar um terreno e fazer uma outra com maior espaço. Comecei a construção da clínica de Raio X e, em dois anos, ela ficou pronta. Saí de uma clínica com 86 para outra com 326 metros. A inauguração da clínica ocorreu em 14 de março de 1980. Para a nova clínica, adquiri mais um aparelho, um técnico, mais três secretárias e mais serviços. Trabalhava muito. Chegara a atender mais de 50 pacientes em um dia. Era uma loucura. Isso tudo manualmente, nada era automatizado. Aos poucos, fui comprando outros aparelhos. O primeiro ultrassom chegou em Campo Mourão em 1982. Foi um bom investimento para a cidade e também para mim. A seguir, comprei mais um aparelho de raio-x, e mais um terreno ao lado da clínica. Uma nova construção começara ali para aumentar o tamanho e equipá-la mais. Fomos aumentando o número de aparelhos para funcionar no novo espaço. Um desses aparelhos era o telecomandado. Comecei a clínica sozinho, com uma zeladora e uma secretária. Hoje somos uma verdadeira família, com um espaço de 1.200 m² e 30 funcionários. Nesse período de muito traba-

82

POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


lho, alguns médicos trabalharam comigo e com o tempo foram para outros centros. Importante ressaltar que paralelamente à inauguração da clínica, no dia 13 de março de 1980 eu e a Derci ficamos noivos e nos casamos no dia 7 de junho de 1980, com muito amor e muita alegria. A Derci é filha de italianos, meu sogro se chamava Giocondo Ércoli – um italiano muito honesto com quem me dava muito bem, e minha sogra Palmira Ércoli – uma senhora humilde e carinhosa com todos. Gostei muito da família. Tenho também quatro cunhados e três cunhadas e nos damos muito bem. A família é amorosa e me acolheu muito bem. Temos muitas lembranças boas em praias e festas comemorativas. Quando as crianças eram pequenas, todos os natais eram na nossa casa. Tenho carinho de irmão por todos eles. Da família também “herdei” a cidadania italiana, bem como meus filhos e meus netos. Tive o prazer de ter três filhos com ela: Maria Carolina Corpa Gurgel (nascida em 12 de outubro de 1981); Marcos Antônio Ércoli Corpa, o “Kiko” (nascido em 30 de janeiro de 1983) e a mais nova, Ana Cristina Corpa Faria (nascida no dia 31 de julho de 1989). Havia em mim um grande desejo de ser pai e foi uma emoção indescritível o nascimento da minha filha, Maria Carolina, em 12 de outubro, dia de Nossa Senhora Aparecida. Foi um acontecimento no Hospital Anchieta. Eu filmei, fotografei e 24 horas depois, já havia fotos reveladas e postadas no correio para os familiares e amigos mais próximos. O Kiko veio logo em seguida. A Carolina estava com 6 meses e ele já estava a caminho. Lógico que dei meu nome a ele. A Ana não estava nos nossos planos, foi uma grata surpresa, os meninos já estavam com 8 e 6 anos. Começamos

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI

83


tudo novamente e ela foi o meu presente de 40 anos. O tempo passou rapidamente e logo tiveram que ir em busca de novos caminhos para atingirem seus ideais. A decisão de todos fazerem medicina bem como especializarem-se em radiologia foram decisões particulares deles. A formatura de todos foi motivo de grande alegria e contamos com a presença de muitos parentes e amigos. Emocionei-me muito em todas as formaturas. Vieram as residências e quando vi já estavam retornando para assumirem comigo os trabalhos da clínica. Isso me envaidece e posso afirmar que as metas foram atingidas. Fizemos três casamentos em 10 meses. Foram muitas emoções, muitas alegrias e, entre os casamentos, a formatura da Ana Cristina. Com o tempo, naturalmente, vieram os netos. A primeira foi a Helena, menina linda e muito esperta; depois veio o Enrico, palmeirense, meu oponente (palmeirense por influência do pai); para contrabalancear temos o Benício, são paulino e, por ora, a caçulinha Ana Luísa, meu xodó e minha vizinha. Fora uma emoção muito grande ver o nascimento dos meus filhos e dos meus netos. Nunca consegui conter a alegria de vê-los ainda bem pequenos. Não escondo isso, chorei no casamento dos três, pois percebi que meus filhos haviam crescido e estavam indo embora. Sou grato a Deus por ter me dado uma família tão maravilhosa. Todas essas histórias que vivi em Campo Mourão são de grande importância para mim e envolvem minha família, minha relação com o futebol, com os clubes sociais que participei, os lugares que tive o prazer de trabalhar, além das viagens que fiz com minha querida esposa. Viagens maravilhosas, mas uma coisa é certa: sempre gostei de voltar para o meu lar, que é Campo Mourão.

84

POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


Inauguração da Clínica (1980)

Com Derci, minha noiva, na inauguração da Clínica.

Meus pais na inauguração.

Minha família e da Derci reunidos na inauguração.

Da direita para esquerda: padre Alcides, meu sogro e meu pai.


Clínica de Raio X no começo de tudo. Ela ficava localizada no Edíficio Manoelito, na Av. Manoel de Mendes de Camargo, na área central de Campo Mourão.

Novas instalações da Clínica, na Avenida Manoel Mendes de Camargo.


Início dos trabalhos, em Campo Mourão, em 1980.

Nas novas instalações, 1990.


Os raios X foram descobertos acidentalmente quando o cientista alemão Wilhelm Conrad Röetgen estava fazendo experimentos com tubos de vácuo em 1895. Wilhelm Röetgen foi gratificado com o primeiro Prêmio Nobel de Física em 1901. Ele se recusou a tirar patentes relacionadas à sua descoberta porque queria que a humanidade como um todo se beneficiasse. O primeiro raio X (ou radiografia) foi da mão da esposa de Röetgen (Anna Bertha Ludwing), completa com aliança de casamento, em 1895. Sua esposa ficou muito impressionada e declarou: “Eu vi minha morte!”


Congresso Mundial de Radiologia, em Chicago (USA).


Nota Fiscal do Aparelho de Raio-X.

Documentos dos equipamentos da Clínica do Dr. José Valentin de Araújo.


Contrato de Compra e Venda da Clínica.

Exposição Comercial do Congresso Brasileiro de Radiologia, em Guarujá (SP).


Sempre fizemos investimentos na clínica, com equipamentos modernos para melhor atender a população.


Capa da Revista Saúde, de circulação regional.


Recebendo a minha noiva Derci, no nosso casamento, na Catedral São José.


Troca das alianças.


Bênçãos das alianças pelo padre Oscar.



Minhas experiências na pecuária Quando cheguei em Campo Mourão, meu forte era o comércio. A experiência adquirida com meu pai me ajudou a construir o que tenho hoje, mas eu queria explorar novos horizontes, aventurar-me em novos desafios. Foi aí que tive a ideia de entrar no mundo da pecuária. Meus cunhados sempre lidaram com gado e eu sempre tive curiosidade em saber como era ser um pecuarista. Em um determinado dia, decidi comprar uma fazenda e começar o negócio com gado. Comecei em uma fazenda no município de Pitanga (PR), sem nenhuma experiência, tanto que acredito ter feito algumas “batatadas” nesse período. Comprei um lote de gado, cerquei todo o terreno, que era bem acidentado, além de ser muito frio, era difícil plantar algo por lá. Mas nem por isso desisti. Fui levando, levando, levando... Até que precisei decidir entre a fazenda ou a clínica, pois precisava fazer uns investimentos nela. Decidi vender a fazenda, com o coração apertado, e comprei os equipamentos que precisava para a clínica. De tal forma, fiquei uns três anos sem fazenda nenhuma para visitar, mas, chegou um determinado momento que fiquei com saudades da pecuária, eu gostava de ter uma fazenda para visitar. Foi aí que decidi ir para o Mato Rico (PR) para comprar terra outra vez. E comprei. Comecei com 58 alqueires e cheguei a ter 210. Voltei a mexer com a pecuária. Essa fazenda do Mato

98

POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


Rico era administrada por um grande amigo meu, Chico. Ele era responsável por tudo na fazenda e me ajudava a cuidar quando estava ocupado. Tive grandes amizades nessa região, o pessoal era unido e prestativo, nunca tive problema com nenhum vizinho de lá. Como já havia dito, comecei com 58 alqueires. Os outros 140 foram adquiridos posteriormente. Quando começamos a trabalhar com gado nessa fazenda, percebemos que era muito difícil levar os animais do pasto e embarcar na mangueira, era um trajeto difícil e longo. O que eu fiz? Decidi adquirir o sítio que ficava na parte de cima da fazenda e construí uma mangueira para facilitar a vida dos funcionários. Geralmente, eram cerca de 60 a 120 bois carregados, então era um trabalho difícil, por isso, decidi facilitar para eles. Apenas uma vez, em um caso isolado, que acontecera algo desagradável. Ficamos um tempo sem o registro dos funcionários da fazenda e, dentre eles, estava o seu Pedro Fontes. Sempre deixei o pagamento em dia com todos os funcionários, e com o Pedro não foi diferente; fui pagando-o, dando dinheiro e acabara por perder o controle. Chegou um determinado dia que ele, sem me avisar, entrou na justiça trabalhista contra mim. Nem sequer conversou para resolvermos entre nós. Como não havia nada registrado no papel, tive que ir a julgamento e levar minhas testemunhas - que eram do Mato Rico - na cidade de Ivaiporã. Eram 13 pessoas, inclusive o cartorário. Quando começara o julgamento, em determinado momento, tive que sair pois era um depoimento contra a minha pessoa. Enquanto eu estava fora do tribunal, um auxiliar do juiz chegou e começou a me aconselhar a fazer um acordo, dizendo que seria melhor para todos. Respondi a ele:

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI

99


- Não devo nada para esse povo. Não tenho porque pagar nada. Tudo mentira. Quando voltei para o tribunal, o juiz disse-me: - Faça as contas, doutor. Se você perder aqui, o seu processo vai para Curitiba e, se isso acontecer, como você vai conseguir testemunhas lá? Faça um acordo aqui e acabe com essa história. Recordo-me que eles queriam 15 mil, três vezes o valor do pagamento normal. Recusei-me a pagar até o final e acabei vencendo a causa, que deu menos de R$ 3 mil reais. Nem o advogado acreditava que tínhamos ganho! Eu falei a verdade e consegui provar que eles estavam mentindo. Chegando na fazenda, já aliviado depois de todo o ocorrido, lembrei-me que o Pedro tinha um piquete na minha fazenda, onde foi plantado milho. Falei para os funcionários: - Pode soltar os bois nesse piquete ai! Os animais comeram com gosto, e eu fiquei só observando. Tirando esse empecilho, minha vida na fazenda sempre fora tranquila, inclusive em relação ao manejo dos animais. Começamos mexendo com as chamadas vacas criadeiras. Mais tarde, passamos a trabalhar com boi de engorda. A partir daí, o sistema começou a mudar: era necessário piquetear mais o terreno (para que o boi ganhasse peso mais rápido), precisava marcar os bezerros, enumerar, marcar o peso em um caderno para se ter um controle do quanto o boi estava engordando. Era um manejo bem controlado. Exemplificando: se esse controle não existisse, ficaria boi de um ano misturado com os de dois anos e isso complica na hora de embarcar e desembarcar o gado, gerando um trabalho enorme, movimentando os animais para todo

100 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


canto. Sem falar que, sem esse monitoramento, o animal poderia ficar quatro ou cinco anos comendo sem produzir nada. Nesse controle, também sabíamos quando as vacas iam criar e podíamos auxiliar, caso precisasse. Eu sabia o lugar que cada animal precisava ficar e um fato interessante: para auxiliar no controle de onde os animais estavam, todos os piquetes eram nomeados. Lembro-me do piquete Zé Carlos (nome do vizinho próximo a ele), outro se chamava Itaipu (pois tinha uma represa que fiz por lá), enfim, eram vários nomes e na época sabia todos eles. Fora um grande lazer para mim. Sempre que podia, fosse sábado, domingo ou feriado, eu saia de Campo Mourão, às 7h da manhã, ficava o dia inteiro e voltava bem a noitinha, mais “morto que vivo”. Tenho inúmeras histórias dessas idas e vindas da fazenda. Uma delas acontecera quando eu comprara um cavalo e fui montá-lo. Ele já estava encilhado e não havia ninguém por perto. Montei e acabei batendo, sem querer, as esporas nele. O cavalo disparou e não parava mais, até que chegara a um ponto que não conseguira mais manter-me em cima dele e caí na terra dura. Minhas costas doíam, e doíam muito! Fui embora com dor e, à noite, haveria reunião da radiologia em Maringá. No sábado de manhã, decidi fazer uma radiografia para saber se havia acontecido algo: foram duas vértebras fraturadas. Faltara muito pouco para eu ficar na cadeira de rodas. Foi bruto o negócio! Outra vez, ainda me envolvendo com os animais da fazenda, bati na bunda de uma vaca baixinha e ela me deu um coice, que chegou a fazer vento perto do meu rosto. Não me machuquei, nem nada, mas foi por muita sorte.

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 101


Os animais que havia na fazenda eram da raça nelore, por isso eles eram tão atiçados. Quando íamos vacinar os bezerros, sempre acontecera alguma coisa. Lembro-me que, em uma das vacinações, fui na seringa onde os bezerrinhos estavam, e pensei: como já estou aqui, aproveito para vaciná-los. Fui andando sem olhar para trás... Quando, de repente, ouvira um barulho tremendo, olhei para trás e todos os bezerros estavam correndo em minha direção. Passaram por cima da minha cabeça, peguei os óculos do chão e pulei fora. Foi um susto enorme que passei! Existiam alguns animais que acabavam marcados mais do que outros na fazenda. Nós tínhamos um touro que comprei em Quinta do Sol e era da raça kianina, meio sangue italiano. O “Kiko”, meu filho, tinha medo de boi e, certa vez, estávamos lidando com esse touro, colocamos ele em um tronco, e lá ficou imóvel. Cheguei para o Kiko e falei: - Está vendo, Kiko? Não adianta ser bravo na vida, o bravo está aqui, olha, paralisado, sem poder fazer nada. Usei o touro didaticamente para ensiná-lo. Havia outro animal: o Itajara. Muito mansinho e fácil de lidar. Qual é a história do Itajara? Certa vez, na Expocampo - feira que acontecia no aniversário do município, em outubro – houve uma exposição de bois da raça simental. Comprara alguns, mas depois de comprar, eles foram me “comendo pela perna”, eram muitos custos e cuidados necessários com essa raça. O tempo passara e deixei de lado a ideia. Fora um tiro n’água a compra desses bois, mas foi uma experiência válida. Ninguém chega na exposição e aponta qual boi você precisa comprar, tem que haver um risco durante a aquisição e pode dar certo ou errado.

102 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


O simental era um gado muito bonito, mas precisava de sombra, terreno plano, não era boi de ficar largado. Alguns deles morreram, pois sentiram falta de um ambiente adequado. De maneira geral, nossa relação com os animais da fazenda era boa. Nunca maltratamos nenhum. O gado funciona da seguinte maneira: tem-se um garrote sozinho na mangueira, ele vira um demônio, mas, se você coloca com mais onze, ele se acalma. Sei disso graças às experiências que tive, e que fui adquirindo para melhorar no manejo dos animais. Eu gostava de cuidar de todos os animais, e eles sabem quando você não gosta ou cuida deles. Um exemplo é um cavalo saber quando é montado por alguém experiente ou não e, depois que percebe isso, faz a pessoa de gato e sapato, ou não. Vai depender do que a pessoa que o monta vai transmitir a ele. Certa vez, estava trocando o gado de piquete e decidira ir na frente deles. Um adendo: se você não é do ramo, não vá na frente (rsrs). Fui e quando olhei para trás, os bois começaram a chegar muito perto. Pensei: se eu correr mais, eles vão correr também, se eu parar, eles vão me passar. Pensei e pensei, decidi correr. Corri muito... No final, o cavalo acabou ganhando dos bois. Não deveria ter me metido onde não sabia. Quis dar uma de “artista” e levei um grande susto. Vale lembrar que era tudo muito diferente nessa época, não existia internet para auxiliar na venda dos animais. Era tudo muito simples. Às vezes, saía-se por aí com aqueles caminhõezinhos 608D, e passava comprando bezerros de várias regiões, animais que aqui se pagaria 2 mil reais, lá nós pagávamos 1200. Era bem interessante, pois hoje mudou bastante nesse sentido, a maioria das vendas aconte-

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 103


cem pela internet, ou em leilões pela TV. O fato de ter sido pecuarista durante minha vida me ajudou (e muito) a conversar. Gado mais “erado”, “maior”, “mais adiantado” são termos que quem é de fora do ramo não vai entender. É um dialeto diferente que um traz e passa para o outro. O “burrego”, por exemplo, significa carneirinho. Conhecer esses termos, vivenciar tudo que vivi foi de grande ajuda para mim. Continuando a falar de minhas histórias, sobre as idas à fazenda, certa vez, andando pelas estradas da região, percebera que o carro estava ficando sem gasolina. Nessa época, existia a Venda do seu Otávio e decidi parar lá e ver se havia um pouco de combustível para o veículo. Perguntei a ele, que logo me respondeu: - Tem um galão aqui, Doutor Marcos, pode pegar ele. Coloquei o combustível no carro, agradeci e fui embora. No outro dia, o carro ficou engasgando muito, parecia que ia fundir. Levei na oficina, e descobri que o que tinha no galão era óleo diesel... Às vezes, passamos apuros e nem sabemos o porquê. Em outras dessas idas e vindas, em um determinado sábado, eu ainda era solteiro e estava à toa em casa. O Jofre passou com uma caminhonete emprestada do Armando e me perguntou: - Vamos ver a fazenda hoje, à tarde, no Mato Rico? Como não havia nada para fazer, fora com ele. Fomos em uma camionete pequena, caindo aos pedaços. Ao chegarmos perto de Roncador, estava chovendo bastante, mas não acontecera nada de ruim. Porém, na volta, pegamos uma estrada de terra e na primeira subida, a camionete empacou. O Jofre falou para mim:

104 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


- Desce lá e empurra! Peguei um saco de açúcar vazio que estava dentro do veículo, coloquei na cabeça para proteger da chuva e tentei empurrar. Óbvio que não adiantou nada. Comecei a olhar em volta e percebi que havia um sítio, vizinho do Tadeu, que tinha um trator no terreno. Fui lá e pedi emprestado. O empregado dele veio com o tratorzinho e começamos a puxar essa camionete no meio do toró d’água. De repente, do nada, veio uma outra camionete na contramão e bateu no trator, piorando ainda mais a situação. Decidimos voltar para Roncador, pegamos um fusca por lá e, com sacrifício, voltamos para casa. No outro dia, logo de manhã, ele chegou e disse: - Você vai ter que pagar metade do conserto. Fui, me lasquei empurrando o carro, quase não voltei e ainda paguei metade do conserto. Foi um “belo” passeio. Novamente, em um sábado, eu estava à toa, disse ao Mário Riscalli: - Mário, vamos para Mato Rico, neste final de semana? Ele ficara meio receoso, mas acabou indo. Durante o trajeto, havia acabado de cair uma chuvinha e passamos por um trecho que estava com um barro liso, bem “colento”. De repente, precisei frear e o carro foi para lá e veio para cá e continuou derrapando o percurso inteiro. Felizmente, conseguimos chegar sem acontecer nada. O Mário ficou branco, nunca mais quis saber de ir à fazenda. Lembro-me com carinho de algumas personalidades que conheci durante minhas visitas à fazenda, como é o caso do “seu” Dito peão, que era ótimo roçador. Recordo-me dos seus ensinamentos - eram vários - mas em especial um sobre os arranha gato espalhados pela fazenda. Ele dizia:

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 105


- Você só pode roçar o arranha gatos na lua nova de novembro. Se for no dia 1º de janeiro ou 30 de dezembro, não adianta. Aprendi vários ensinamentos com ele. Passou um certo tempo, num dia de Finados, a caminho da fazenda, perguntei sobre o seu Dito: ele havia acabado de falecer. Eu estava em uma caminhonete ranger, novinha. Falei: - Seguinte, eu vou para a fazenda, mas volto para levar o seu Dito no cemitério. Fui à fazenda e, na volta, o levei ao cemitério. Nunca comentei com ninguém que havia carregado um defunto na camionete. Ele foi um grande amigo meu. Já pude ajudar várias pessoas também, como foi o caso de um dia, que estava voltando da fazenda, chegando na Ponte Torta, percebi que algo errado havia acontecido. O Chico estava comigo e debaixo da ponte estava saindo muita fumaça. Um caminhão havia caído e eles estavam tirando o rapaz do interior. Perguntei se ele queria que eu o levasse para Campo Mourão de camionete e ele aceitou. O Chico acabou sendo o enfermeiro, cuidando do rapaz durante o trajeto. Levei-o para o hospital, no final, deu tudo certo. Outra história com meu filho Kiko ocorrera em meados de 1989, decidimos fazer uma viagem para o Nordeste. Planejamos tudo certinho e fomos. Chegando em Natal, encontramos um jeguinho, muito bonito e coloquei o Kiko em cima dele com um chapeuzinho. Tenho essa foto na clínica. Pois bem, voltamos para o hotel e fiquei pensando naquele jeguinho e o quanto ele combinava com o Kiko. Decidi comprar o jegue e trazê-lo para Campo Mourão. Foi uma das piores aquisições que já fiz na vida! Ele não cruzava, não fazia nada, era um animal péssimo. Enfim,

106 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


chegou um dia que foi a gota d’água: cheguei na fazenda para ver como as coisas estavam e o jegue havia matado o carneiro reprodutor. Decidi que tinha que me livrar dele. Fomos para o Mato Rico. Havia um barzinho que sempre passávamos para tomar um guaraná, conversar e sentir o ambiente. Chegou um pequeno grupo de pessoas para conversar conosco, pedindo para doar algum animal para a festa que aconteceria na cidade, uma bezerra ou novilha. Em vezes anteriores eu já havia doado novilhas. Só que, dessa vez, aproveitando o empecilho do jegue, decidi entregá-lo como forma de ajuda. Ficaram contentes! Mal eles sabiam que estavam me ajudando e não o contrário (risos) Recordo-me com alegria dessas histórias, pois foram grandes momentos da minha vida em que pude rir, passar apuros e ajudar inúmeras pessoas. Mas, infelizmente, chegou um determinado momento que precisei vender a fazenda. Decidi vender um lote de escrituras, dividindo a fazenda em várias partes. O maior lote que vendi foi para o seu Izidoro, residente de Roncador que, infelizmente já faleceu. Tempos atrás, encontrei o filho dele e perguntei como estava a fazenda. Ele disse-me: - Doutor, você me deu ela pronta! Dei mesmo. Tudo que precisava para cuidar dos animais existia lá. Foi triste vender a fazenda, mas fiquei feliz por saber que os compradores ainda usufruem dela até na edição deste livro. A pecuária fora importante em minha vida, pois, além das amizades, das aventuras e das experiências que vivi, ela também me fez amadurecer e crescer profissionalmente, principalmente na área comercial.

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 107


DEPOIMENTO

CONTOS DO AMIGO CHICO por FRANCISCO ROMANELO

“Falar no Marcos Corpa como patrão é complicado, porque o que nós tínhamos ali não era uma relação entre patrão e empregado, éramos e somos grandes amigos. Antes de conhece-lo, eu trabalhava na lavoura, e quando fui trabalhar na fazenda dele de pecuária, foi algo muito diferente para mim. Mesmo sendo difícil, o Marcos nunca deixou de me ensinar tudo que sabia para facilitar minha vida. Nunca tivemos nenhum problema ou atrito, nossa relação sempre foi harmoniosa. Tanto é que chegou um dia que o Marcos vendeu a fazenda, e o Sr. João Soares, dono de outra, me chamou para trabalhar com ele, e o Corpa disse-me: - Vai lá, eu acho que ele vai ser melhor do que eu. Respondi: - Doutor, se ele for igual ao senhor, já está ótimo! Trabalhei nessa fazenda por um tempo, mas acabei não me adaptando ao sistema deles. Outro dia, quando fui buscar um animal que me deu em Mato Rico, já era quase 11 da noite e minha mulher começou a ficar preocupada. Ela decidiu ligar para o Dr. Marcos, que estava na praia, perguntando onde eu poderia estar. Ao saber que estava tudo bem, ela passou a conversar sobre o trabalho na fazenda. O Corpa perguntou: - Mas o que ele fala de mim? Ela começou a falar como eu considerava o Dr. Marcos, não como patrão, mas como grande amigo e companheiro. Ficou um silêncio por um tempo. Minha esposa perguntou

108 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


se estava tudo bem, e o Corpa respondeu emocionado: - Nada, é que nenhum funcionário falou isso para mim até hoje. Isso mostra como nossa relação sempre foi muito boa. Nos dávamos bem e ainda nos damos. Com os outros funcionários da fazenda não era diferente, todos sempre foram muito bem tratados, tanto é que sempre tinha um boi para nós fazermos um churrasco. Falar do Corpa é isso: mais do que uma relação de patrão/empregado, nós temos uma relação de amizade muito forte, que dura e vai durar até o fim de nossas vidas”.

Histórias na presidência da Expocampo Tive o prazer de ser presidente da comissão organizadora da Expocampo (Exposição Agropecuária, Comercial e Industrial de Campo Mourão). A feira fora criada em 1980, e era esperada ansiosamente pela população, em razão das suas atrações, porém, vinha apresentando resultados ruins, a ponto de não ser realizada. Em 1999, fui convidado e aceitei assumir a presidência. Fizemos uma parceria entre prefeitura e diversas entidades empresariais. Na época, fui dar uma mão para o prefeito, Tauillo Tezelli, e para o Getúlio Ferrari Júnior, o “Getuli-

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 109


nho”. Grande parte da exposição girava em torno do gado, por isso, me chamaram para auxiliá-los. Recordo-me de várias histórias desse período. Dentre elas, de quando o recinto dos leilões ainda era bem velho e decidiram reformar. Organizaram, passaram tinta, ficou bonito. Tenho orgulho de dizer que fiz parte dessa reforma. Um conto engraçado foi quando foram tocar dois boizinhos, de mais ou menos dois anos de idade e eles acabaram escapando. Resultado: eles foram parar no meio do povo. Foi uma correria danada! Ninguém se machucou, graças a Deus. Outra vez, quando ainda administrava a festa, uma antiga roda gigante que ficava no parque de exposições parou e um pessoal ficou lá em cima. Foi um grande sacrifício tirar todo mundo, mas, deu tudo certo. Ninguém sofreu um arranhão. Perguntei se queriam que eu os levasse para casa, mas todos disseram que estavam bem. No dia seguinte, avistei um pessoal da televisão de Maringá filmando tudo. Fiz uma besteira, cheguei perto deles e disse: - O que vocês estão fazendo aqui? Estão parecendo urubu na carniça! Não aconteceu nada, podem se mandar! Dei uma bronca neles e eles foram embora. O resultado não poderia ser outro: no dia seguinte, apareci no jornal das 13, das 19h e se duvidar até no Fantástico. Hoje, dou boas risadas desse acontecimento. Foi breve minha participação como presidente da Comissão Organizadora da Expocampo, mas, como todos os acontecimentos narrados neste livro, foi muito importante para construir a minha personalidade.

110 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


Acicam: desafios como presidente Em Campo Mourão, exerci diversos papéis na comunidade e um deles foi ser presidente da Acicam (Associação Comercial e Industrial de Campo Mourão), entre os anos de 1997 e 1998. Por que fui presidente? Certo dia, o José Aroldo Gallassini, o Ronauro Gouveia, o Jintaro Ikeda e outros empresários de peso da região chegaram na minha clínica e disseram que eu seria presidente da Acicam. Disse para eles que precisava pensar, que era uma responsabilidade grande. Quando fui dar a resposta, disse o seguinte: - Só serei presidente se o prefeito Tauillo Tezelli apoiar e a Marta Kaiser ficar na secretaria. Acabaram concordando com as condições, então fui empossado. Enquanto presidi, acredito que tenha ajudado a comunidade de diversas maneiras, a começar pelo SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito), que cresceu e passou a ter uma melhor dinâmica nas consultas. Fizemos muitas parcerias e fomos premiados pelo Ministério da Ciência e Tecnologia juntamente com o Cefet (atual UTFPR – Universidade Tecnológica Federal do Paraná). Lideramos um grupo de empresários em uma visita ao governador do Estado, Jaime Lerner. Levamos e obtivemos resultado em diversas reivindicações. Investimos o nosso trabalho e o bom nome da Acicam na conquista de diver-

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 111


sos cursos superiores. O comércio se beneficiara do bom relacionamento com o poder executivo em várias promoções de Natal, Dia dos Pais, Mães, Namorados etc. Houve também uma parceria excelente com a FIEP (Federação da Indústria do Estado do Paraná) com a realização das feiras industriais. Foi uma experiência extremamente positiva, pois realizamo-nos com o crescimento da entidade e com nossa atividade particular. Fiz o que esteve ao meu alcance, tive importantes apoios e uma excelente diretoria. Sou uma pessoa agradecida à comunidade pela oportunidade que me foi dada ao presidir a Acicam.

A ideia do Laticínio Em uma das minhas aventuras administrativas, decidi juntamente com alguns empresários montar um laticínio em Campo Mourão. Tudo começou com a liderança do Celso Ferrari, com apoio de vários empresários da região. Começamos pequenos e, ao longo do tempo, fomos aumentando, chegando a ter pouco mais de 60 angariados. A estrutura física dele era boa, mas faltava uma administração realmente efetiva para que o laticínio continuasse. O pessoal possuía o dinheiro, mas não havia experiência na área para fazer funcionar. Em um determinado período, colocaram o Antônio Colli para ser gerente, ele sempre foi honesto e batalhou para

112 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


manter o laticínio em pé, mas, infelizmente, ele fora despedido, o que acabou decretando a falência do lugar. Certo dia, “seu” Alfeu perguntou o que um bando de empresários estava querendo fazer com laticínio e eu respondi: - Olha, eu não quero ganhar dinheiro aqui, quero criar uma estrutura para que o pessoal do campo de Campo Mourão e região tenha onde se apoiar. Disse a verdade, pois minha ideia era ajudar a comunidade, como sempre fizera, mas infelizmente o laticínio acabou fechando as portas. São casos da vida, nem sempre conseguimos sucesso naquilo que almejamos.

Outra contribuição: à frente do Integrado Acompanho a história do Colégio Integrado desde os seus primórdios e, a meu ver, é um dos projetos mais dignos que já foram realizados em Campo Mourão. Em meados de 1984/85, empresários conversavam sobre a educação mourãoense, como era defasada e precisava urgentemente de investimentos. Muitos jovens saiam daqui e iam fazer o Ensino Médio em outras cidades, como Curitiba, Londrina, Maringá e outras. A partir das conversas realizadas na sede da Acicam, na época, José Aroldo Gallassini reuniu um grupo de empresários que estariam dispostos a investir na educação de Campo Mourão. 50 pessoas aceitaram essa tarefa e dentre elas, estava eu, disposto a fazer tudo pela melhoria do ensino

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 113


na região. No dia 10 de outubro de 1986, foi realizada a reunião para assinatura do contrato social oficializando a criação do Grupo Educacional Integrado, mantenedor do Colégio Integrado. O Gallassini fora o primeiro presidente do conselho, o segundo foi o João Luiz Pessa Júnior, depois a Maria da Conceição Montans Baer, o quarto foi o Ronauro Gouveia e, por fim, fui o quinto presidente. As reuniões aconteciam semanalmente e todos se dedicavam à causa. Futuramente, além do Ensino Fundamental e Médio, o Integrado também começaria a ofertar cursos superiores. Dentre eles, o curso de Direito seria implantado graças aos nossos esforços. O curso teve a aula inaugural em 20 de outubro de 2001, com a presença do ministro do Superior Tribunal de Justiça, Dr. Milton Luiz Pereira. Digo com grande alegria que foi graças aos nossos esforços que um curso tão importante é ofertado para a população mourãoense. Infelizmente, depois de 16 anos, o grupo de 50 pessoas já não conseguia mais subsidiar os recursos necessários para o funcionamento do colégio. Alguns nem residiam mais em Campo Mourão. Na época, eu ainda era presidente e fizera tudo para manter o grupo unido, mas de nada adiantara. Em 2 de maio de 2002, foi realizada a venda do Integrado em sua totalidade para Henning Erich Baer e Maria da Conceição Montans Baer, desvinculando, assim, meu nome e dos demais sócios do colégio. Apesar disso, tenho orgulho em dizer que pude participar da realização do grande feito que foi a idealização e construção do Colégio Integrado que, hoje realiza o sonho de milhares de jovens e traz qualidade de vida para a população de Campo Mourão e região.

114 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


Participação no Clube e Sociedade de Radiologia do Paraná Durante minha jornada, tive o prazer de presidir inúmeras instituições para contribuir com o desenvolvimento delas, como pode ser visto. Fora assim com o Integrado, Acicam e outros mais. Com o Clube de Radiologia do Interior do Estado do Paraná não foi diferente. Presidi-o, de março de 2002 até março de 2005 e minha gestão foi direcionada para a unificação da classe de imagenologia (métodos que usam imagens como meio de diagnóstico), procurando sempre somar forças e permitir melhores resultados nas negociações com os compradores de serviços - essenciais na época – como ainda são nos dias de hoje. Os resultados que colhi durante minha presidência foram muito positivos e diversas arestas foram aparadas, dando mais conforto aos associados. Apesar da distância, dada a dedicação de meus companheiros, as reuniões mensais sempre resultaram em saldos satisfatórios. Participei de diversas reuniões, simpósios, eventos e diversos outros encontros para melhorar as condições do clube. Graças a esses esforços, fui convidado para ser presidente da Sociedade de Radiologia do Paraná, que tem como foco o segmento de Associações Culturais, Desportivas e Sociais. Nela, participei de diversos encontros e eventos também, angariando diversos membros que esta-

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 115


vam ausentes. Estive presente em vários encontros, como a Jornada de Radiologia do Paraná, sempre tentando cativar, convencer o pessoal a participar. Acredito que minha participação no mundo da radiologia não poderia ficar de fora deste livro, pois foi algo que marcou minha vida e ajudou a desenvolver-me como profissional e, sobretudo, ser humano. Contribuí da maneira que pude para que, assim, mais membros participassem dos encontros sobre radiologia. Além desses grupos e iniciativas sociais que eu salientara, participei de inúmeros outros, mas deixarei para que meus amigos contem por mim futuramente nas páginas deste livro. O que posso dizer é que sou grato por ter participado e contribuído com todos eles, sem exceção. Todos eles foram importantes para minha vida e mais que isso, importante também para o povo paranaense e, principalmente, mourãoense.

116 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


Votando na eleição da Acicam, que me elegeu presidente da entidade. MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 117


Nota do jornal Comércio e Indústria, de fevereiro de 1987, mencionando o nosso trabalho como primeiro secretário da Acicam.

Recebendo o distintivo comemorativo da Acicam por ocasião dos seus 33 anos. A entrega foi realizada pelo presidente Dilmar Daleffe, em evento no ano de 1987.

Com o prefeito Augustinho Vecchi e o ministro da Saúde, Borges da Silveira.


Com o governador Jaime Lerner na solenidade que criou o Parque Estadual Lago Azul, em 1997.

Tivemos uma boa parceria com a administração municipal, que gerou bons frutos para a cidade. Aqui em uma das reuniões da Acicam com a presença do prefeito Tauillo Tezelli.


Com o presidente da Fiep, José Carlos Gomes de Carvalho.

Café com o governador Jaime Lerner, oportunidade que as lideranças de Campo Mourão fizeram diversas reivindicações. Em pé, discursando, o amigo Nelson Teodoro de Oliveira.


Fotografia feita quando ocupava a Presidência da Acicam.


Reunião com lideranças empresarias no gabinete do prefeito Tauillo Tezelli. Parceria com a administração municipal foi importante para a concretização de várias conquistas.

Com os presidentes da Acicam. Da esquerda: Aniceto Jorge dos Santos, Ronauro Gouveia, Alcídio Pereira, Jintaro Ikeda, João Roberto Breschiliare e Oscar Azuma.


Passando a presidência para Oscar Azuma.

Recebendo homenagem pelos trabalhos que fizemos na Acicam.

Inserção do meu quadro na galeria dos presidentes da Acicam.


Aula inaugural do curso de direito do CIES. O evento contou com a presença do ministro do Superior Tribunal de Justiça, Dr. Milton Luiz Pereira, ex-prefeito de Campo Mourão.

Um registro histórico: Pedro Palma (presidente da OAB – subseção de Campo Mourão), Tauillo Tezelli (prefeito de Campo Mourão), Dr. Milton Luiz Pereira (ministro do STJ e ex-prefeito de Campo Mourão), Dr. Rui Antônio Cruz (juiz da Comarca de Campo Mourão) e eu.


Recebendo Prêmio pela parceria que resultou em conquistas para Campo Mourão das mãos do Senador Fernando Bezerra, então Ministro de Estado da Integração Nacional, do Governo Fernando Henrique Cardoso, de 1999 a 2001.



Com autoridades, na entrega do diploma de cidadão honorário de Campo Mourão.

Agradecendo a Câmara de Campo Mourão pela generosidade em me conceder o Título de Cidadão Honorário.


Com os meus companheiros do Rotary Club de Campo Mourão Gralha Azul.

Com Assis Pequito, avalista da compra da clínica. Sou grato pela confiança dele, fato que me propiciou escolher Campo Mourão como minha casa em definitivo.


Diploma da Moção de Aplausos, reconhecimento regional pelos serviços profissionais, sociais e comunitários prestados a Comcam em prol da saúde dos cidadãos.


Abertura da exposição “Patagônia Chilena”, de caráter permanente no campus da Faculdade Integrado, aberta na inauguração do Espaço Integrado+Cultura.

Minha fotografia na galeria dos diretores do Grupo Integrado.


Amigos Radiologistas do Paraná

César Tramontin, Eu, Luiz Cláudio (Pato Branco, PR), Tomas Yoshida, Nelson Schiavanatto e Leonidas Virmond.


Da Esquerda para a direita: Lutero Marques de Oliveira, Oscar Idefonso, Dr. Sebastião Carvalho, Dr. Manoel Saraiva e eu.


Memoráveis companheiros presentes na XIX Jornada Paranaense de Radiologia.

Um dos nossos gurus, Dr. Valdir Maymone e Armando Amoêdo e Leonidas (Guarapuava, PR).


PARTE IV O DESEJO DE CONHECER O MUNDO


Antes de começar a contar sobre as diversas viagens que fiz ao redor do globo, não poderia deixar de comentar de onde surgiu essa vontade de explorar os continentes. Quando jovem, existira em mim uma curiosidade imensa para conhecer as culturas diversas de outros países. Porém, nessa época, não existia condições para que eu pudesse viajar por aí. O que eu fazia? Mandava cartas para as embaixadas e consulados de outros países pedindo folhetos, documentos, qualquer coisa que me dissesse algo daquele país. Cada vez que recebia uma devolutiva, minha curiosidade e vontade de conhecer o mundo aumentava. Quando fiquei mais velho, com condições de vida melhores, pude realizar o sonho de viajar por vários lugares. Tenho orgulho de dizer que pude visitar 40 países! Cada viagem, cada detalhe dos diferentes países, cada cultura, me fascina e me instiga a descobrir mais sobre esse planeta que habitamos. As histórias que vivera nessas viagens não poderiam ficar de fora deste livro, pois estão guardadas em minha memória com carinho. Começarei a falar sobre as viagens que fiz no nosso país: o Brasil.

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 135


Viagens pelo Brasil Visitei inúmeras localidades do Brasil. Algumas para trabalho, outras para visitas, turismo: todas com sua importância e beleza única. Começando pelos lugares que visitei no Sul, falarei primeiro sobre do Rio Grande do Sul. Por lá, tive a oportunidade de conhecer Porto Alegre, Gramado, Canela e a Serra Gaúcha com uma arquitetura rica e bonita de apreciar. Posteriormente, conheci a Serra do Rio Rastro, em Santa Catarina, uma estrada extremamente diferente das que já vi. Foi muito interessante passar por ela. Perto dessa estrada está Urupema, a cidade mais fria do Brasil e, também, Lages que, além de ter uma beleza esplendorosa, tem ótimos vinhos para serem degustados. Seguindo para o litoral catarinense, pelo município de Sombrio - terra do Toninho Machado - chegamos ao Paraná. Conheço praticamente todo o Paraná, em meio às visitas e encontros de trabalho que já fizera. Recordo-me com boas memórias das viagens que fiz pelo Sul, acredito que todas tiveram um valor significativo em minha vida. Partindo para a região Sudeste, nem preciso comentar sobre São Paulo: estado onde vivi e realizei uma parte dos meus estudos, conheço muito bem o território paulista; Minas Gerais, conheço mais Belo Horizonte e a parte do Sul, que é território vizinho da cidade em que nasci: Caconde. Indo em direção ao Rio de Janeiro, pelo fato de eu ter feito residência por lá, sei muito sobre as localidades fluminenses, pois vez ou outra dávamos uma escapada para

136 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


conhecer a região. Inclusive, minha lua de mel foi em Paraty e Angra dos Reis, lugares de uma beleza imensurável. Seguindo para o Nordeste, visitei boa parte do litoral da Bahia, em especial, Ilhéus e Porto Seguro. Tenho uma história interessante das minhas idas ao Nordeste. Em 1986, fui em um congresso em Recife com minha família, a Derci e os dois filhos que tínhamos, na época. Meu compadre e amigo do Piauí, Walter, sabendo onde ficaríamos hospedados, teve a gentileza de deixar um carro comigo e, com isso, pude conhecer o litoral do Nordeste. Passei pela Paraíba, Rio Grande do Norte, Fortaleza, e por fim, voltamos para Picos, no Piauí, região extremamente seca. Tão seco que existe um ditado por lá: urubu lá em Picos voa com uma asa, a outra ele usa para se abanar. Além dessas regiões, desfrutei das belezas de Belém, que visitei três vezes: a primeira foi com a Derci, ainda grávida da Carolina; depois fomos a uma festa de bodas e outra apenas a passeio. Um sonho que ainda quero realizar é fotografar as dunas dos Lençóis Maranhenses, pois ainda não tive oportunidade de visitar. No Norte, conheci Manaus, onde fui ver o Encontro das Águas, um espetáculo incrível da natureza. Tirei foto de uma vitória-régia nessa região, mas, infelizmente a perdi e não me conformo com isso. Região Centro-Oeste conheço bastante a região de Campo Grande, conheci quando ainda estava estudando. Depois disso, passei por lá duas vezes. Também conheci Brasília, mas não gosto muito, pois, para mim, é o “ralo” da nossa economia. Muitos dizem que conheci apenas países do exterior, mas isso não é verdade. Conheci boa parte do Brasil, lugares tão belos quanto os países de fora. Inclusive, se pudesse, voltaria a Gramado, pela beleza, por seus vinhos e tam-

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 137


bém para fotografar os cânions que existem na região; para Porto de Galinhas, pois o mar de lá é uma delícia, quente e sem desconfortos, enfim, muitas viagens que gostaria de refazer, pois gosto muito de admirar todas as belezas do nosso território brasileiro. Também admiro a hospitalidade e o afeto dos amigos nortistas e nordestinos que sempre nos receberam com alegria.

Viagens pela América do Sul As viagens que fiz na América do Sul me trazem recordações maravilhosas. Infelizmente, dentre todos eles, não pude conhecer o Equador, a Bolívia e a Venezuela, pois não tive oportunidade. Estava me planejando para ir ao Equador durante 2020, mas em razão da pandemia da Covid-19 isso não foi possível. De toda forma, conheci os demais e tenho ótimas histórias sobre eles. Começando pelo Chile, onde pude estar umas quatro ou cinco vezes, durante a vida, e digo mais: gostaria de voltar lá! O que mais me chamou atenção no território chileno foi a topografia. Os relevos diversificados chamam bastante atenção. Atravessei os lagos andinos, saindo de Puerto Montt e indo em direção a Bariloche, passeio muito interessante de realizar. Em Bariloche, fui umas cinco vezes e iria de novamente. Fui muito bem tratado, uma região muito chique e elegante, sem falar que conheci o Morro da Catedral, uma ótima região para quem gosta de esqui. Infelizmente, não é meu forte.

138 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


Quando fui a Santiago, foi espetacular, pois eu e a Derci fomos conhecer os vinhedos, saber como fazem e fotografar tudo por lá. Deu tudo certo, foi maravilhoso! Conheci também Viña del Mar, uma comuna da província de Valparaíso, tem história riquíssima e lindos lugares para visitar. Existe a Patagônia Chilena que tive o prazer de conhecer. Suas esculturas moldadas pela água, pelo tempo e pelo vento trazem brilho aos olhos. Além das paisagens, o Chile possui uma culinária de dar água na boca: os pratos típicos possuem um sabor inigualável. A cultura e a característica de cada povo são interessantes de observar. O Deserto do Atacama, outra região chilena que visitei, é uma atração à parte, acredito que minhas melhores fotografias foram tiradas lá. Falando agora sobre a Argentina, visitei a Patagônia Argentina também. Nessa região, existe a cidade de Ushuaia que é uma cidade turística na Argentina localizada no arquipélago da Terra do Fogo, no extremo sul da América do Sul, conhecido como: “fim do mundo”. Localizada em uma colina íngreme e sujeita a ventos fortes, a cidade é cercada pela cordilheira Martial e pelo Estreito de Beagle. Ela serve como base para cruzeiros e passeios pela Antártida que passam pela ilha Yécapasela, conhecida como a “Ilha do Pinguim” por conta de suas colônias de pinguins. Conheci o famoso Glaciar Perito Moreno, uma extensão enorme de paredões de gelo, outro espetáculo da natureza. Caminhei em cima dessas geleiras com um sapato que parece uma ferradura e sempre com o guia do lado. Foi maravilhoso andar nessas geleiras! Vez ou outra podíamos ouvir uns barulhos bem altos, eram as geleiras despencando, em decorrência do derretimento. Tenho uma foto do momento exato em que a geleira despencou perto de nós. Acredito que, infelizmente, daqui uns anos, elas não existirão em razão do aquecimento global. Continuando a falar dos casos na Patagônia Argentina,

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 139


eu e minha mulher fomos nessa viagem só para fotografar as baleias em Puerto Madryn. Uma cidade muito diferente e foi nela que pudemos observar a eficiência do Google. Não conhecíamos nada e tudo que a Derci pesquisava a resposta estava lá. Além das baleias, também vi os elefantes marinhos e os pinguins. Uma curiosidade que me fascinou bastante foi o fato de os pinguins colocarem seus ovos no chão, em uma espécie de buraco, saírem para buscar alimento no mar e voltar exatamente no mesmo lugar. Outra maravilha da natureza! Nessa região, tive a sorte de estar lá bem no dia da Festa do Cordeiro, festividade parecida com a Expocampo de Campo Mourão. Vários cordeiros espetados no fogo, e eles iam servindo aos montes. O cordeiro da Patagônia é fabuloso, tem um sabor inigualável. Uma história que me recordo e não poderia deixar de contar é de quando fui em uma expedição fotográfica na Patagônia Argentina/Chilena. Para os fotógrafos da época, existia uma ave muito difícil de ser fotografada: o condor. Uma ave extremamente bonita e a dificuldade de ter uma foto sua é em razão da altura que ela voava. Nessa viagem, tivemos a sorte de achar um bando de condores em volta de um animal morto, ficaram pertinho de nós. Consegui tirar a imagem do condor de asa aberta algo difícil de conseguir - nunca vi nada parecido. Na segunda vez que fomos para a Patagônia Argentina, aconteceu algo engraçado. Quando chegávamos no aeroporto, sempre havia o transfer com uma plaquinha escrita: “Marcos Corpa”. Chegando Em El Calafate, na Argentina, na hora do desembarque, cadê a placa? Não havia transfer nenhum, pois chegamos com um dia de antecedência! Ri muito da situação quando aconteceu. Visitei também a província de Salta, onde existe um trabalho que a natureza esculpira de maneira minuciosa,

140 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


cheia de montanhas coloridas, campos verdes, um atrativo aos olhos de quem vê. Não poderia deixar de falar dos vinhos, tanto da Argentina quanto do Chile, ambos são uma iguaria à parte e têm um sabor inigualável. Uruguai é uma país que conheço razoavelmente. Pude conhecer a cidade de Montevidéu e uma parte do interior do país. O que mais me chamou a atenção foi o povo uruguaiano: fui muito bem recebido por eles, e se tiver oportunidade, quero voltar para conhecer mais. Um país que me surpreendeu muito foi o Peru. Havia dúvidas de viajar para esse país, mas a Derci fez um plano de rotas tão bom que foi satisfatório conhecer. Fomos até Lima, ficamos cerca de três dias, e depois conhecemos a região de Machu Picchu. Ali você chora de tristeza de ver aquela cultura que aqueles povos tiveram e foi destruída pelos colonizadores espanhóis. Nem com a tecnologia atual se desenvolve a arquitetura construída em Machu Picchu. As defesas construídas em volta das aldeias, o jeito de coletar a água, tudo é bem elaborado e construído. Conheci o folclore peruano com seus trajes usados durante a festa, algo bonito, tenho tudo registrado em fotografias. Inclusive, o Peru tem uma Amazônia mais preservada que a nossa, nós devíamos seguir o exemplo deles e cuidar dela como eles cuidam. Outro país que tem muita história é a Colômbia. Um povo animado e receptivo, não tem esses sinais de banditismo como se mostra no Brasil. Ficamos em um hotel na cidade de Cartagena (ou Cartagena das Índias). Uma cidade interessante, pois ela se divide em uma parte totalmente histórica, e outra parte totalmente moderna. O artesanato daquela região também chama atenção e é bem barato (diferente dos totens do Canadá que custam 200 dólares). Também conhecemos Bogotá, especificamente uma região que existia uma mina de sal. O que eles fizeram?

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 141


Depois da desativação da mina, fizeram inúmeras construções, uns tipos de adornos. Chama-se hoje de Catedral de Sal, vale muito a pena conhecer. Devo salientar aqui um detalhe importante para todas as viagens: o planejamento. No meu caso, quem faz isso por mim é a Derci (com muita maestria). Antes de viajar, você precisa estudar o lugar, conhecer a cultura e adequar-se à região, pois ir de peito aberto nunca dará certo. Posso dizer com toda certeza que gostei (e muito) das viagens que fiz na América do Sul. Acredito que, antes de conhecer os continentes de fora, como a Europa, por exemplo, devemos visitar e aprender sobre nossas raízes, nosso povo, nossa história. Temos países lindos à nossa volta, e devemos aproveitar isso. Acredito que, nas viagens que realizei, pude fazer isso com muito prazer!

Pela América Central e do Norte Tenho o grande privilégio de conhecer quase toda a América. Além dos países da América do Sul, fiz grandes viagens pela América Central e do Norte. Dentre eles, visitei Cuba, que considero a primeira viagem interessante que fiz em minha vida. Antes da viagem a Cuba, o meu grande amigo e grande radiologista, Hilton, esteve em casa, após termos participado de um evento de radiologia. Depois que ele foi embora, minha esposa olhou para mim e disse:

142 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


- Olha, você precisa viajar mais, sua conversa não está mais batendo com a dos seus amigos. Não estava mesmo. Aproveitei uma coincidência: o pessoal do evento que eu, recentemente, havia participado estava fazendo uma colaboração mútua com os radiologistas de Cuba, independentemente de qualquer ideologia, o foco deles era a boa vizinhança e o aprendizado bilateral. Com isso, acabara embarcando em direção a Cuba com o Hilton, onde conheci Havana, capital cubana. Uma cidade que possui grandes elementos históricos, com uma arquitetura que traz “brilho aos olhos”. O que posso dizer de Cuba é que essa viagem foi para dar um “start” na minha vida, pois eu andava muito parado e desatualizado com o que ocorria à minha volta. Ainda na América Central, tive o privilégio de conhecer Cancún, que acredito ser organizada como cidade. Posso afirmar, com toda a certeza do mundo, que ali existe o mar mais bonito do ocidente, uma cor azul turquesa que espanta aos olhos de quem vê. Essa região do México foi feita para gastar dinheiro, tudo que se vê para comprar é caro e chique, mas vale a pena cada centavo gasto. Conheci também Turks e Caicos, uma possessão britânica que fica perto das Bahamas, umas ilhas muito bonitas de se visitar. Na América do Norte, visitei a Disney com minha família e com um grupo que se planejou aqui de Campo Mourão. Achei bem interessante, mas não pude aproveitar muito, pois já me encontrava com uma certa idade. Os filhos, que eram pequenos, aproveitaram bastante, adorava vê-los brincando e se divertindo no parque. Gostaria de voltar hoje, caso fosse possível. Se pudesse definir minhas viagens pelos Estados Unidos em apenas uma palavra, seria consumismo. Naquela época, bem como na atualidade, o espírito de compra vive nos cidadãos estadunidenses. Um exemplo claro em que vi de

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 143


perto tal fato foi em Miami. Em meio às praias, ao calor e à beleza daquela cidade, sempre estava presente o consumismo que contagiava quem estava lá. Passei apenas duas vezes por Nova Iorque, conheci pouco da cidade. Até algum tempo atrás, conversando com as esposas de meus amigos, perguntei: - Vocês comprariam roupas de Paris ou de Nova Iorque? Umas falavam Paris, outras Nova Iorque, então o que percebo é como Nova Iorque se equipara a Paris, uma das cidades mais chiques do mundo. O Natal nova-iorquino é algo espetacular. O clima que eles criam na região parece coisa de cinema. Toda a cidade é iluminada, árvores enfeitadas são espalhadas, enfeites natalinos são colocados, e o interessante é que nenhum vândalo destrói ou faz algazarra: algo que me recordo com muita satisfação. Outra cidade do sul dos Estados Unidos que conheci foi Dallas, na região do Texas. Fui apenas para ver onde ocorreu o assassinato do presidente John F. Kennedy; além disso, a cidade não tem muitos atrativos. Visitei apenas a Praça Dealey, não consegui visitar o The Sixth Floor Museum, que trata do assassinato do presidente John Kennedy. Conheci Chicago também, cidade belíssima, possui uma estrutura formidável, de dar inveja a muitas cidades do mundo. Muito poderosa e, na época, era uma das cidades mais influentes dos EUA. Em Chicago, para quem não sabe, é onde se produz todos os hortifrutigranjeiros consumidos nos Estados Unidos. Conheci as estruturas de irrigação que são fabulosas e fazem da região uma grande referência quando o assunto é agricultura. Outro fato marcante foi quando viajei para Chicago em 1995, no centenário do raio-x. Fotografei o primeiro raio-x

144 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


que foi registrado no mundo - estava exposto nesse evento. Além disso, visitei também o Museu da Ciência e Indústria, ótimos pontos turísticos da região. Tive o prazer de conhecer São Francisco, lugar que possui a maior Chinatown do mundo. Foi muito interessante, pois fiquei hospedado perto desse bairro e apreciei de perto a cultura chinesa. Além disso, havia um passeio que acabei não participando, que ia da orla de São Francisco até Los Angeles. Ficou apenas na vontade, mas são coisas que nos escapam na vida. Algo que aprendi nos Estados Unidos foi assistir as partidas de basquete. Não só os jogos em si, mas percebi o profissionalismo deles diante do esporte. Nas arquibancadas, todos têm uma visão ampla do jogo, todos se respeitam, tudo é muito bem programado e organizado. Tive o privilégio de ver o Michael Jordan nas quadras e também o falecido Kobe Bryant. Dentre os times que vi, recordo-me do Chicago Bulls, os Lakers e os Nets. No meio dessa descoberta sobre o mundo do basquete, passei o maior medo da minha vida. Certo dia, em Los Angeles, eu, a Derci e a Ana, minha filha, decidimos sair para ver um jogo de basquete. Saindo do hotel, um funcionário nos disse: - Evitem o metrô, é muito perigoso! Ouvi o que ele disse, decidi pegar um táxi e fomos. Assistimos à partida, tudo normal, quando faltavam três minutos para o fim da partida, decidi ir embora, pois sairíamos com mais tranquilidade. Recordo-me que era época de Halloween, pelos enfeites e fantasias espalhadas pelas ruas. Pegamos um táxi, o motorista começou a conversar sobre Halloween e dar várias voltas. Um detalhe: nosso hotel era perto do aeroporto. Depois de muitas voltas, avistei uma placa que dizia “Beverly Hills”, ou seja, nada a ver com

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 145


aeroporto. Percebera que ele estava rodando demais conosco, decidi descer, paguei 50 dólares para ele (para evitar qualquer problema) e fui em direção a uma loja de conveniência que ficava num posto. Pensei: - Enquanto chamo um táxi, deixo a Derci e a Ana nessa lojinha, por segurança. Por azar, chegou o dono do posto e disse que não podíamos ficar ali esperando. Fiquei desesperado! Não tínhamos lugar perto para ficar, não conhecia nada da região, foi um grande sufoco. Depois de algum tempo, passou um motorista meio árabe, que parou e falou que levaria a gente. Logo na partida, o rapaz estava correndo demais, pedi para ele ir mais devagar e andar tranquilamente. Em determinado ponto do trajeto, ele me mostrou uma placa indicando que estávamos perto do aeroporto. Até nós descermos e entrar no hotel, foi um grande apuro. Apesar da segurança das minhas viagens, uma vez ou outra acontecia essas infelicidades. Outra cidade que visitei foi Las Vegas. Para quem gosta de jogar, a cidade tem um charme especial, com seus cassinos e estrutura excelentes. Lá é onde gira o mundo do dinheiro, da prostituição e de coisas banais desse mundo. Realizei um voo de helicóptero até o Grand Canyon, onde pousei e pude apreciar uma vista maravilhosa. Uma história interessante que me aconteceu, foi quando fui fazer o check-in no hotel em Los Angeles, na Califórnia. Perguntei para o atendente onde ficava a Calçada da Fama, e ele disse: “Lá fora”. Ficamos procurando e quando percebi, estávamos em cima dela. Acredito que o que mais me marcou durante as viagens pelos Estados Unidos foi a educação do povo, é nítido quando se compara o povo estadunidense com o povo brasileiro. Deveríamos seguir o exemplo deles nesse aspecto para quem sabe, no futuro, chegarmos ao mesmo patamar

146 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


de país que eles se encontram atualmente. Outra cidade que visitei foi Las Vegas. Para quem gosta de jogar, a cidade tem um charme especial, com seus cassinos e estrutura excelentes. Lá é onde gira o mundo do dinheiro, da prostituição e de coisas banais desse mundo. Realizei um voo de helicóptero até o Grand Canyon, onde pousei e pude apreciar uma vista maravilhosa. Acredito que o que mais me marcou durante as viagens pelos Estados Unidos foi a educação do povo, é nítido quando se compara o povo estadunidense com o povo brasileiro. Deveríamos seguir o exemplo deles nesse aspecto para quem sabe, no futuro, chegarmos ao mesmo patamar de país que eles se encontram atualmente. DEPOIMENTO

CRÔNICAS DAS NOSSAS VIAGENS por REGINA MENIN GAERTNER

Em 1976... Lá vão-se 44 anos, quando chega em Campo Mourão o novo médico radiologista, Dr. Marcos Corpa, para trabalhar com o Dr. Valentin, que já era radicado na cidade há algum tempo e tinha o seu consultório na avenida Manoel Mendes de Camargo, no prédio do Manuelito. O número de médicos era pouco, por volta de 30, contando entre os mais antigos e a primeira leva de especialidades. Nesses últimos estava o meu marido, Dr. Raul Cesar Gaertner, oftalmologista que representava o médico número 22 até a data que chegamos, que foi outubro de 1973. Praticamente juntos, em janeiro de 1974, vieram Dr. Edino Vicente, otorrino, e Dr. Celso Ramos, cardiologista. Cada pouco foram chegando outros e mais outros, e o corpo clínico da medicina foi aumentando, assim como suas mais variadas especialidades. Como era de costume, cada médico novo era acolhido pelos que já estavam, bem como sua família, esposa e filhos.

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 147


Não raramente traziam junto outros familiares, como pai, mãe, irmão ou tia. A expectativa era que vínhamos “desbravar um sertão”, e nada melhor do que trazer na “bagagem” alguém da família para ser o suporte na aventura de uma vida nova, numa terra desconhecida. Pouquíssimos eram solteiros. O Marcos foi um deles e achou sua cara metade aqui na terrinha mesmo. Depois de quatro anos, em 1980 casou-se com a Derci, sua grande companheira até hoje. Nossos “santos” bateram de imediato, reforçados numa feliz coincidência: meu pai e o Marcos nasceram na mesma cidade, Caconde, quase na divisa de Minas Gerais. Isso foi o suficiente para entrelaçarmos uma amizade que perdura até hoje, uma coisa quase de irmão mesmo. Como bom são paulino que é, fazia a cabeça de todas as crianças, filhos de amigos, e imediatamente essas crianças adotavam o São Paulo como time favorito! Vide meus 3 filhos, Guilherme, Fernando e Ricardo, são paulinos tão fervorosos quanto o “padrinho de esportes”, eficiente na “lavagem cerebral”! A criança nascia, e se fosse menino, na porta do hospital o Marcos já pendurava o kit do uniforme do São Paulo! A vida em Campo Mourão seguiu o seu rumo, com essa classe prestando seus serviços médicos e assim a cidade foi desenvolvendo-se. Vencidos os primeiros desafios, filhos encaminhados e comunidade entrelaçada nas amizades que se formaram, depois de alguns anos resolvemos partir para outras aventuras, e nada melhor do que reunirmos em grupo, arrumarmos nossas malas e partir para viagens de turismo, já que havíamos vencido com galhardia a nossa primeira aventura que foi a adaptação em Campo Mourão. O primeiro destino do grupo foi um final de semana esticado em Buenos Aires, aquela cidade linda, imponente, glamorosa no bom estilo europeu, para despeito nosso, os brasileiros! Éramos numerosos, quase 30 pessoas, e

148 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


nos hospedamos todos no mesmo hotel. Essa foi uma feliz descoberta, pois formamos um grupo tão coeso com todos aqueles amigos que despertou em nós um desejo imenso de daí para frente não mais sairmos sozinhos. Eu e o Raul já havíamos feito algumas viagens, só nós dois, mas depois dessa ida a Buenos Aires, fazíamos o possível para viajarmos com os nossos amigos. Marcos e Derci estavam juntos também e passaram a nos acompanhar quase sempre daí em diante. Eis que um dia desses recebo o telefonema do amigo dizendo do seu projeto de escrever um livro meio autobiográfico e nele deveria estar também um capítulo dedicado às nossas divertidas e inesquecíveis viagens! Pediu que eu me responsabilizasse por um trecho desse capítulo. Orgulhosa e honrada pelo convite, aceitei, não sem antes me desculpar por possíveis relatos deixados para trás, visto que minha memória, às vezes, me trai. Afinal, o meu “HD” já está meio sobrecarregado! Então, em junho de 2007, nosso roteiro foi o norte da Europa: algumas cidades da Holanda, Bruxelas, Paris, Luxemburgo e Holanda novamente. Esse roteiro, de poucos dias, fizemos por nossa conta, alugando carro etc. Depois, na volta para Amsterdam, pegamos um pacote para a Escandinávia, fazendo os quatro países: Dinamarca, Noruega, Finlândia e Suécia. O grupo era grande: Marcos e Célia Kunzler, Corpa e Derci, Lau e Diva (minha irmã de Maringá), Gilberto e Ione, eu e Raul e quatro amigas avulsas: Gislaine, Hosana, Idelma e Vitória. Marcos Kunzler foi o nosso líder desde a primeira viagem. Esperto, destemido, assumiu “compulsoriamente” o papel de guia da turma! Saíamos do Brasil já com tudo programado: quantos dias seriam por nossa conta, reservas de hotéis já feitas pela internet e aluguel de carro também. Numa segunda parte da viagem era o pacote que a gente

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 149


comprava através de agência de turismo. Mas, nós seguíamos o Kunzler sem pestanejar, porque ele sabe das coisas! O Corpa sempre foi nosso fotógrafo. Sempre com suas câmeras fotográficas ultramodernas para captar as cenas e os registros de passagens e momentos que ficaram para sempre! Além dessa sua habilidade, ele tem um outro talento: um contador de piadas como ninguém! Para cada situação ele lembra uma piada que tem tudo a ver com o que está se passando naquele momento! Quase que ininterrupto essa atuação dele! O mais interessante é que ele conta a piada e no exato momento que termina já vem com a sua risada que é contagiante e peculiar! A gente não sabe se ri da piada ou da risada dele! Que dom! Voltando para a Escandinávia, a primeira parada foi Estocolmo, a capital da Suécia, com quase 1 milhão de habitantes. Ela abrange 14 ilhas em um extenso arquipélago no mar báltico. A cidade tem as ruas pavimentadas com pedras arredondadas e suas casas são pintadas na cor ocre. A sua parte antiga é formada por ruelas estreitas que nos dão uma boa impressão de como viviam seus habitantes em épocas remotas! Como ícones arquitetônicos, destacam-se a Catedral Metropolitana, datada do século XIII, o Palácio Real (a Suécia é uma monarquia parlamentarista) e o museu Nobel, dedicado ao prêmio Nobel. Há barcos e balsas que transportam os locais e os turistas por entre as ilhas. Estocolmo é uma cidade incrivelmente linda e atraente! De lá seguimos para Helsinque, capital da Finlândia, distante, quase 400 km. Fica à beira do mar báltico e em dias claros é possível avistar São Petersburgo, uma das principais cidades da Rússia. O caminho entre Estocolmo e Helsinque é basicamente por água, então nossa travessia foi por Ferry, restando poucos quilômetros por terra, que foram feitos de ônibus. Esses trechos que fazemos de ônibus são verdadeiros

150 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


momentos de diversão, porque são os momentos que o Corpa expressa sua veia artística contando as piadas e rimos à beça. Os ônibus, geralmente, têm pessoas de várias partes do Brasil, já que os pacotes vêm de agências, mas o nosso grupo acaba sobrepondo-se aos demais. Nosso lugar no ônibus é sempre no fundão, pois é o que sobra para tanta gente! Chegamos em Helsinque, uma cidade com 600 mil habitantes, que disputa hoje com Copenhague e Zurique, o primeiro lugar para se morar, dentre as melhores cidades do mundo, dada à sua qualidade de vida! Sua população é pequena, não há multidões e nem congestionamento de trânsito; é pacata, tranquila e com índice zero de violência e criminalidade! Sua economia é baseada na alimentação de produtos orgânicos de excelente qualidade, como resultado do incentivo aos produtores locais. Uma das capitais mundiais do design, cuja arquitetura de edifícios, bares e restaurantes, entre outras construções, demonstram bem essa característica; roupas, joias, móveis e todo tipo de objeto tem um design inovador e original. Seguindo viagem em direção a Oslo, passamos pelo altiplano da Noruega, uma região inóspita e coberta de neve, cuja particularidade foi conhecer a comunidade dos lapões. Os lapões estabelecem-se nesse lugar porque é o que mais parece com a terra de onde tem origem. Fazem moradias no estilo cabana e coberta com vegetação para torná-la mais quentinha e vivem da caça de rena. Com a pele do animal, eles abrigam-se do frio e grande parte delas é destinada à venda. É comum ver ao lado das cabanas, extensos varais onde estendem as peles para o deleite dos turistas! Foi só o nosso ônibus estacionar, as mulheres descerem e cinco minutos depois não havia mais nenhuma pele estendida! Como num passe de mágica “su-

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 151


miram” todas para a felicidade dos “anfitriões”! No final da tarde chegamos em Oslo, a capital da Noruega, cuja estrada é “bordada” por rododendros floridos, numa enorme extensão! Aliás, Oslo é inteira florida por eles, na cor rosa! Uma pintura! Com 680 mil habitantes, também é uma cidade tranquila, índice de violência zero e famosa por suas áreas verdes, parques e museus. Possui um sistema de transporte público eficiente e fácil de utilizar. Como em toda a Escandinávia, Oslo não foge à regra na facilidade de comunicação, pois o inglês é falado normalmente pela grande maioria da população. Uma monarquia parlamentarista. Fomos conhecer o Museu dos Navios Vikings (Viking Ship Museum), com exemplares do século IX e também o Vigeland Park, passando pela parte alta da cidade que oferece uma espetacular vista panorâmica da região! A grande curiosidade desse parque é que ele abriga 212 estátuas de pedra, bronze e ferro fundido, que foram esculpidas por um só artista: Gustav Vigeland. Ele tinha uma obsessão artística com a forma humana nos seguintes estágios: nascer, crescer, envelhecer e morrer, e sempre num contexto familiar. Levou 20 anos para esculpir as estátuas em tamanho real e doou para a cidade de Oslo. A obra mais famosa desta coleção é a pequena estátua de uma criança fazendo birra e batendo os pés. Comparada à Monalisa, é orgulho de todo norueguês! Saindo de Oslo, em direção a Bergen, fizemos uma parada em Lillehammer, um vilarejo bem simpático, aconchegante e charmoso! Foi sede das Olimpíadas de Inverno de 1994. A rua principal é um calçadão, com muitas lojas e um ótimo lugar para passear. O centro da cidadezinha é bem preservado, com algumas casas de madeira do século XIX, além de estações de esqui e outras atrações como um museu a céu aberto! Valeu o pernoite!

152 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


Oslo fica à beira dos fiordes, que são formações da natureza muito frequente no país, tão fascinantes que chegam a hipnotizar. Foram formados há cerca de 25 mil anos, quando antigos vales que eram preenchidos pelo gelo derreteram e foram invadidos pela água do mar. Parte do nosso trajeto para Bergen, uma cidade na costa sudoeste da Noruega, foi feito em uma embarcação, tipo Catamarã, por um desses inúmeros fiordes. Conhecer Bergen foi outra maravilhosa surpresa! A segunda maior cidade da Noruega, famosa por suas casinhas de madeira coloridas no antigo cais, que no passado foi um centro importante do império mercantil da Liga Hanseática! Finalmente, seguimos para nosso último destino, Copenhague, a capital da Dinamarca, com uma população urbana de 1 milhão e duzentos mil habitantes, portanto a maior das capitais da Escandinávia! Mas, nem por isso, menos tranquila, organizada e ótima para se viver! O significado do seu nome em dinamarquês quer dizer: “porto do mercador”, visto que sua localização geográfica em tempos remotos, provavelmente entre os vikings, já era bem estratégica para as transações comerciais. Apesar do alto nível de vida, o bem-estar do país não tem ostentação e nem se traduz em objetos de luxo. Lá se respira uma agradável sensação de conforto e felicidade baseada em saber desfrutar a vida à base de planos simples e descontraídos, em solidão ou em boa companhia. Para se perceber esse astral, é necessário percorrer as suas ruas e descobrir suas histórias através das casas antigas que convivem tranquilamente com a arquitetura moderna de seus edifícios imponentes. Um dos pontos altos de Copenhague é o Parque Tivoli, uma mistura de atrações de feira, luzes e magia que levantam o ânimo de qualquer um. Para completar, ele possui um jardim predominado por rosas que encantam até os

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 153


mais insensíveis dos olhos. A Escandinávia é, sem dúvida, um exemplo máximo de primeiro mundo! Todas as viagens que realizei com o Marcos foram memoráveis. Suas piadas, suas fotografias, seu estilo único de ser, transformavam o ambiente em que estávamos em algo extremamente agradável. Sinto-me grata por poder contar nossas histórias, e mais ainda de ter ele como grande amigo que carrego no meu coração.

154 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


Grupo em viagem pela França e Europa Oriental.

Nosso grupo no Antiplano de Hardanger na Noruega.



Deserto do Atacama, Chile. Com tantas opções para fotografar, fica difícil escolher qual é a melhor paisagem.


Para decolar, o condor utiliza sua energia máxima.

Patagônia Chilena (Chile), onde fotografei os Guanacos.


Em Bourdeaux, na França. Uma cidade portuária no sudeste francês, conhecida por suas mansões do século XVIII e XIX.

Na Áustria, terra de Mozart, Strauss e Freud. Com arquitetura barroca, história imperial e relevo alpino acidentado.


Com Derci, em Machu Picchu, no Peru.

Canteiros de cultivo de milho e batata, no Peru (Incas).


Em Munique, 2010.

Eu e Derci, em São Pedro de Atacama, no Chile: local conhecido como o deserto mais seco e maior altitude do mundo.


No glaciar em Perito Moreno, na Argentina.

Com a Derci, alimentando pombos em Veneza, na Itália. O registro fotográfico é do amigo Marco Kunzler.


Na Argentina, em Salta, que abriga as vinícolas mais altas do mundo.

Cabo da Boa Esperança, na África do Sul.


Aurora boreal visualizada na Islândia.

Jardim do Vale do Loire, considerado o berço da Língua Francesa, na França.


O Monte Saint-Michel é uma ilha rochosa na foz do Rio Couesnon, no departamento da Mancha, na França, onde foram construídos uma abadia e santuário em homenagem ao arcanjo São Miguel. Seu antigo nome é “Monte Saint-Michel em perigo do mar”.

Alpes Italianos, as paisagens são diversificadas e mudam de acordo com as estações do ano, ganhando novas cores e encantos. São cadeias de montanhas, vales, colinas, lagos, pastagens, pequenas cidades que mais parecem cartões postais.


Ponte Golden Gate, em São Francisco, nos Estados Unidos. A ponte liga São Francisco a San Sauslito, sobre o estreito do Golden Gate.

Imponente e inspirador, o Parque Nacional do Grand Canyon, no norte de Arizona, sem dúvida faz parte da lista de atrações imperdíveis de todo viajante. Este Patrimônio Mundial da UNESCO é, indiscutivelmente, um dos pontos turísticos mais famosos dos EUA e abrange cerca de 5 mil quilômetros quadrados de desfiladeiros em queda livre, rochas multicoloridas, penhascos surpreendentes e ravinas deslumbrantes.


Registro do Fernando Nunes. A fotografia é uma das minhas maiores paixões.


Patagônia Argentina: reúne algumas das paisagens mais belas do planeta, com lagos, montanhas, geleiras, parques preservados, trilhas radicais e grandes espaços ainda inabitados.


Torre Eiffel, o encanto e a beleza do ponto mais alto de Paris.


Com Derci, na Noruega.



PARTE V O GRANDE AMOR PELO FUTEBOL


Sempre fui e sempre serei apaixonado pelo futebol. Se tem algo que eu gosto de fazer na vida é ir a um estádio para gritar, vibrar e torcer enquanto a bola rola no gramado. As emoções das arquibancadas sempre fizeram parte da minha vida e, sempre que podia, ia ao estádio, independente da região que estava morando. Antes de falar das minhas experiências dos jogos que já tive o prazer de assistir, não poderia deixar de comentar sobre o grande time do meu coração: o São Paulo Futebol Clube. Sou são paulino, graças à orientação do meu pai, que também era. Em Caconde, lembro-me que quando ele ia ler o jornal, diariamente, a primeira coisa que meu pai fazia era procurar a página de esportes e via informações sobre o São Paulo. Recordo-me que uma vez, após os cinco campeonatos estaduais conquistados no Pacaembu, entre os anos de 1943 e 1949, o Tricolor foi campeão do Paulistão de 1953, na Vila Belmiro (com um 3 a 1 sobre o Santos), às vésperas do quarto centenário da Cidade de São Paulo, no dia 24 de janeiro de 1954. Os paulistanos passaram o aniversário do município a festejar mais uma glória são-paulina. O Municipal, contudo, só voltou a ver o São Paulo campeão novamente - e pela última vez - em 1957, já com as obras do Estádio Cícero Pompeu de Toledo, no Morumbi, a pleno andamento. Na época, não tínhamos condições de assistir à final contra o grande rival Corinthians e nem TV para assistir ao jogo, mas meu pai, com seu radinho na mão, assim que ouviu que o São Paulo havia sido campeão de 1957, soltou uma caixa inteira de foguetes. Sinto que foi ali, naquele exato

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 173


momento, olhando a alegria e o amor de meu pai, que me tornara são paulino. Depois disso, passaram-se 15 anos do São Paulo sem ganhar. Naquela época, isso aconteceu pois, como já mencionado, estavam construindo o estádio do Morumbi, palco de grandes alegrias e tristezas para mim. Havia poucos que se salvavam no time pós 57, apenas os zagueiros Roberto Dias e Jurandir que faziam algo de bom, o restante era tudo perneta. Até que um dia o presidente do São Paulo da época, Laudo Natel, se tornara governador do estado de São Paulo e isso deu um impulso na construção do estádio. Ele, como são paulino roxo, ficava na boca do túnel do vestiário vibrando e torcendo pelo time. Apesar de ser são paulino, não posso deixar de mencionar o time do Santos, que tinha Pelé e companhia ganhando vários e vários títulos por onde jogava. Recordo-me que, no internato de Lins, em meados de 1965, eu tive o prazer de ver o Santos jogar. Surgira uma excursão de Lins até Bauru e eu fui. Vi o Pelé em campo várias vezes, mas um fato curioso é que nesse dia pude ver o irmão dele em campo, Zoca, que infelizmente morreu no dia 25 de março de 2020. Conheço muitos santistas roxos que nunca viram o Pelé jogando, mas eu vi muitas vezes. Não apenas na vida, mas minha história com o futebol é marcada com várias coincidências também. Sou um cara de sorte até na hora de assistir ao futebol! Quando fui para Ribeirão Preto, tive o prazer de ver o Comercial em campo, que é um time da própria cidade. Haveria o clássico Comefogo, onde o Comercial jogaria contra o Botafogo. O Comercial meteu 5x0, algo nunca visto até então. Foi um jogo espetacular e tive o prazer de vivenciá-lo. Isso tudo foi graças a um grande amigo do meu pai, “seu” Amilton, dono de uma cadeira cativa no estádio do Comercial e, sempre que podia, me convidava para ir junto. Homem muito bom,

174 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


tenho boas recordações dele. Ainda falando de jogos marcantes, outro que tenho guardado em minha memória foi quando fui ver Corinthians contra o Botafogo. O Corinthians abriu uma vantagem de dois gols no primeiro tempo, estava fácil para eles levarem a partida. Porém, no segundo tempo, o Botafogo foi lá e empatou a partida, deixando tudo mais acirrado. Chegando nos minutos finais do jogo, o Corinthians fez o terceiro gol e levou a partida. Foi muito emocionante o jogo em si. Aqui vale um adendo: eu prefiro assistir a um jogo que não seja do São Paulo, pois não me envolvo emocionalmente e posso analisar a partida de maneira mais precisa. Depois de Ribeirão Preto, já na capital São Paulo, com 17 anos, sempre que podia, eu ia ao Morumbi assistir ao time do meu coração. Nunca tive problema; às vezes, saía tarde da noite e a torcida sempre de maneira amigável, saía do estádio rumo às suas casas. Aproveitei muito bem essa oportunidade de morar em São Paulo, assisti a grandes jogos que marcaram minha vida. Além do Morumbi, também ia ao Pacaembu, mas no estádio do Palmeiras e do Santos nunca tive oportunidade de ir. Durante o tempo em São Paulo, tive minha maior decepção do futebol. Estava marcado o jogo entre São Paulo e Corinthians, era o último jogo do campeonato. Meu time precisava ganhar para levar a taça: nem perder ou empatar, apenas a vitória garantiria o primeiro lugar. Estava 1 x 0, o São Paulo estava segurando bem a partida. Porém, faltando uns 20 segundos para a partida terminar, o maldito jogador Bene, foi lá e empatou a partida. Assim, o São Paulo fora vice-campeão daquele ano. Foi uma frustração muito grande, tanto para mim, quanto para meu irmão Adilson, que também estava assistindo à partida. Em Curitiba, nos tempos que cursava medicina, sempre que o São Paulo ia para lá, eu fazia uma grande festa. Certa

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 175


vez, fiz uma faixa enorme, escrito: Medicina saúda o tricolor! Saímos no jornal e na universidade, muitos ficaram muito bravos comigo, vários colegas chegavam e diziam: - Mas eu nem sou são paulino! Foi uma situação muito engraçada, sempre que podia, ia recepcionar o time do São Paulo, com ou sem faixa da medicina. O São Paulo teve uma dupla de ataque avassaladora: Nelsinho e Babá. Eles eram do Guarani e vieram para o São Paulo, que iria jogar contra o Coritiba no Estádio Major Antônio Couto Pereira, também conhecido como Alto da Glória. Eu, como são paulino fanático, comprei uma bandeira de ambulante, e ficávamos, eu e meu primo, Jesse (corintiano), chacoalhando essa bandeira no meio dos torcedores do Coritiba. São Paulo em campo? Chacoalhamos a bandeira. São Paulo marcou gol? Chacoalhamos a bandeira. Quando deram 30 minutos do segundo tempo, o Babá pegou a bola e meteu um gol. Eu estava doido para chacoalhar a bandeira de novo, mas a nossa sorte foi que apareceu um policial pedindo para pararmos. Se ele não chegasse, apanharíamos do pessoal que estava do nosso lado, fervendo de raiva. Imagine só, o que o fanatismo faz com a pessoa: corri o risco de levar uma surra! Outro fato interessante foi que a seleção brasileira de 1970 passou por Curitiba para treinar antes da Copa do Mundo. Nessa época, infelizmente, não havia máquina fotográfica para registrar, mas estive perto de grandes jogadores, como Pelé, Rivelino, Tostão, Gérson, Pedro Rocha, entre outros. Nunca tive interesse em seleção brasileira, sempre preferi torcer e assistir aos jogos nacionais, mas foi interessante acompanhar o treino deles em Curitiba.

176 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


Não poderia deixar de falar de um dos jogos que marcaram minha vida: uma partida entre São Paulo e Palmeiras, em meados de 1970. Na época, havia um jogador - Leivinha – que jogava pela Portuguesa e só depois foi jogar no Palmeiras. Era um dos últimos jogos do campeonato e eu estava no meio da torcida assistindo ao jogo, quando, de repente, o Leivinha marcou um gol de cabeça pelo Palmeiras. Fiquei branco, não acreditava que o São Paulo ia perder o jogo. Mas, para meu alívio, quando olho novamente, o juiz o havia anulado. Esse gol ficou marcado por muitos anos na vida de são paulinos e palmeirenses. Do meu período em Curitiba, lembro que o São Paulo contratou o Toninho Guerreiro para jogar no time. Ele que, futuramente, seria campeão paulista durante 5 anos: um baita jogador. A contratação dele fora algo tão importante que marcaram um jogo especial contra o Atlético Mineiro, no Morumbi, só para estrear os jogadores. Eu, como torcedor fanático, viajei a São Paulo para assistir a esse jogo. Foi terrível, apanhamos de 5x2. Triste foi eu ter ido de tão longe para assistir uma derrota tão feia assim (risos). Até chegar no Rio de Janeiro, só vi time bom jogando com excelentes jogadores. E lá não foi diferente. Assisti ao Flamengo jogar contra o Grêmio de Porto Alegre, também assisti ao grande clássico das multidões (Vasco x Flamengo), além de Fluminense contra Vasco, entre vários outros. Apesar de assistir mais aos jogos de times cariocas nessa época, meu coração nunca deixou de ser são paulino. Meus amigos de residência gostavam de assistir aos jogos, e sempre que podíamos, íamos juntos. Em Campo Mourão, virei o famoso fogueteiro. Toda vez que o São Paulo era campeão, eu soltava foguetes para comemorar. Certa vez, um amigo meu havia comprado um carro zerinho, e eu, como gostava de soltar foguete, levei,

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 177


soltei um e acabei acertando justamente no carro dele. A sorte é que ele nunca falou nada, nem reclamou. Meus vizinhos já estão acostumados, ou acostumam, ou mudam, não tem conversa. Falo com muito orgulho: fiz muitos são paulinos durante minha vida. Os filhos do Raul, do Pérsio, do Claudino, do Vicente, todos são tricolores fanáticos. Eu sempre carregava camisetas do São Paulo para as crianças dentro do carro e sempre que podia entregava para quem não tinha. Em uma ocasião, o Clóvis Bassani, corintiano doente, apareceu na minha clínica com o seu filho mais velho e conversando com o garoto, ele me disse que, se eu entregasse uma camiseta do São Paulo para ele, viraria são paulino para o resto da vida. Não deu outra. Entreguei a camiseta e o Clóvis ficou muito bravo comigo. Sempre fiz esse “aliciamento” de são paulinos. Hoje, tenho um neto palmeirense roxo, acho que estou pagando os pecados de fazer tantos são paulinos na vida... Infelizmente, não foram só alegrias que o futebol trouxe na minha vida. O maior susto que levei durante uma partida de futebol foi em meados de 2016, quando o São Paulo foi jogar contra o Atlético Nacional da Colômbia, pela Copa Sul-Americana. Saímos de Campo Mourão eu, Marcão, seu filho e o Dimas, rumo ao Morumbi. Perdemos o jogo. Durante a saída, a torcida B do São Paulo começou a agredir um monte de gente. Foi uma correria! Enquanto não saí do Morumbi e fui para o Hospital Albert Einstein não sosseguei. Imagine só, são paulino brigando com são paulino. Isso me desanimou bastante, deixei de ir assistir aos jogos no estádio, desde então. Agora só acompanho o São Paulo pela TV, em uma cadeira diferenciada para não ter mais problema. Apesar disso, posso afirmar que o futebol e, principalmente, o São Paulo me deu muitas alegrias. Sou tão fanáti-

178 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


co por futebol que, em meados de 2010, decidi formar um time: o Marcos Corpa Futebol Clube.

A formação do Marcos Corpa Futebol Clube Meu amor pelo futebol sempre foi algo gigantesco, isso é fato. Assistir às partidas, acompanhar os resultados, torcer, vibrar, chorar, tudo isso foram e ainda são sentimentos que só o futebol pode proporcionar. Mas eu queria ir além disso, queria poder pisar em campo, ter meu time, participar mais ativamente do jogo de bola. Foi aí que, em meados de 2008, surgiu a ideia de criar o “Marcos Corpa Futebol Clube”. Em uma ocasião, um amigo, dono de um time forte disputando os campeonatos da região, precisava de um patrocinador e eu disse: - Estou com uma ideia nova, quero formar um time de futebol para a “garotada” jogar. Ele trouxe alguns garotos que se conheciam e começaram a treinar e foi aí que tudo começou. Com o patrocínio, pudemos expandir e criar um novo, o Marcos Corpa Futebol Clube. No começo, pensei em algo mais simples: um pequeno time para que a garotada pudesse jogar. Em nenhum momento pensei em criar um time com o foco de ganhar

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 179


dinheiro, títulos e coisas nesse sentido, mas, para minha alegria, em 10 anos que participei ativamente, o time foi um grande vencedor, ganhando oito vezes o Campeonato Citadino. Houve um ano em que acabamos por ficar de fora e em outro ficamos em terceiro lugar. É um grande orgulho para mim, pois posso dizer que tive um time e ele foi campeão em praticamente todos os campeonatos que participou: salão e suíço. Recordo-me de grandes momentos que vivi com esse time e um deles foi em uma das finais do Campeonato Citadino. Nosso jogo já estava marcado e o adversário era o time da transportadora Rincão. Na época, eles eram fortes, vinham de uma sequência enorme de títulos e eram imbatíveis. Porém, infelizmente, o dono da transportadora havia morrido e eles já estavam com um churrasco pronto para, depois do jogo, comemorar o título e homenagear o homem, mas eles não contavam com o “Marcos Corpa Futebol Clube” no caminho. Bem no finalzinho da partida, o jogo estava empatado, Paulinho, grande jogador nosso, chutou da pequena área do nosso goleiro e marcou um golaço, pois o goleiro do Rincão estava adiantado. Os caras ficaram loucos! Eles achavam que a vitória estava garantida, mas nós fomos lá e provamos o contrário. Colocamos água no chopp deles! Não posso deixar de comentar que dentro de campo eu provocava muito os adversários. Brincando, é claro, mas, às vezes, eles ficavam irritados com as provocações. Sempre precisava ter alguém por perto para evitar confusão. Fora de campo era totalmente diferente. Sempre gostei de me comportar como um pai para os garotos do time, tanto é que se perguntar sobre mim a qualquer um que participou do time original, vão falar bem de mim. Digo “time original”, pois existia rotação no time e sempre entravam novos jogadores; às vezes cinco, às vezes quatro, mas sempre dávamos oportunidade para que todos parti-

180 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


cipassem do time. Acredito que, durante os 10 anos que participei, passaram cerca de 50 jovens, com alguns nomes em destaque, como Wendersom, Flavinho, Paulinho Zagoto, que são grandes nomes do futebol de Campo Mourão. Qualquer um que passasse pelo time daria certo, digo isso na questão de futebol, pois tínhamos um time base muito forte. Mas o que eu prezava mesmo era a questão humana do jogador. A seleção era como em qualquer outro time de base: era feito uma espécie de jogo teste para selecionar os jovens e os melhores entravam para o time, mas, se os selecionados não mantivessem o respeito, tanto com os colegas quanto com o treinador, já seria mandado embora. Sempre dizia: - Eu não quero, nunca, que nesse time o financeiro esteja no topo. Quero que vocês prezem o companheirismo, a amizade entre vocês e o respeito, principalmente. Às vezes, havia jogadores excelentes, mas que respondiam a todo mundo, eram mal-educados e, por isso, acabavam não ficando no time. Se a pessoa que entrasse no time saísse um grande jogador, tudo bem, mas o meu foco era que ele se tornasse uma pessoa de respeito. Tanto é que vários jovens que passaram pelo time hoje são muito bem-sucedidos em seus negócios: engenheiros, jogadores profissionais, donos de empresa, enfim, a lista é bem grande. Claro que, às vezes, havia uma discussão ou outra, mas não podia sair de fora do campo. Depois dos jogos, sempre fiz questão de reunir a turma, fazer um churrasco, que era onde todos, ganhando ou perdendo o jogo, deveriam se acertar e manter o bom relacionamento. Acredito que esses momentos foram importantes para o desenvolvimento de todos que estavam ali presentes. Infelizmente, hoje o nome de Marcos Corpa não faz parte do time. Fiquei muito triste quando mudaram, mas era algo necessário. Mesmo assim, sempre fiz questão de me manter por perto, acompanhando a garotada e vendo os

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 181


jogos sempre que posso. Quantos troféus levantei, quantas alegrias vivi, quantas vezes irritei-me com algum apito do juiz. Toda vez que olho os garotos jogando hoje em dia, recordo-me das confraternizações no “Peixe Frito”, onde comemoramos muitos títulos. São ótimas lembranças que tenho e que ficarão guardadas para sempre em minha memória. Essa foi a história do “Marcos Corpa Futebol Clube”, uma ideia que tive visando ajudar as pessoas e dar um pouco do privilégio que tive em minha vida. Desejava, mais do que tudo, que todos ali pudessem desfrutar daquilo que eu tenho e mais do que isso: formar jovens honestos, que tivessem o respeito como pilar de suas atitudes na vida. DEPOIMENTO

DIEGO E O MARCOS CORPA FUTEBOL CLUBE por DIEGO ALVORADA

Faz mais de 16 anos que conheci o Dr. Marcos. Lembro que eu ainda era bem garotão, na faixa de 16 anos, quando o treinador de futebol e amigo Doutor, foi até minha casa e disse que estava trabalhando para formar um novo time em Campo Mourão. Quando fomos até a clínica para conversar sobre o novo projeto, conheci ali uma das figuras que futuramente seria uma das mais importantes de minha vida. Tive o prazer de ser campeão oito vezes pelo Marcos Corpa Futebol Clube. Me recordo do Doutor na beira do campo, gritando com os adversários para desestabilizá-los, e depois tinham alguns que queriam pegar ele na saída. Muitos estranhavam essa parte polêmica do Dr. Marcos, mas ele era assim apenas dentro de campo. Para nós, que estávamos no time, ele sempre foi um paizão, tanto que se perguntar para qualquer um dos jogadores, todos, sem exceção, vão falar muito bem dele. Algo que não poderia deixar de mencionar, é que mantenho o contato com o Dr. Marcos até os dias atuais. Às vezes, fico um

182 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


tempo fora, por causa do trabalho e dos estudos, mas sempre que posso venho para ver como ele e a família estão. Muitos acreditam que ele é metido, mas quem conhece de perto sabe a pessoa incrível que ele é. Recordo-me de quando chegavam novos jogadores no nosso time, e o pessoal que já estava a mais tempo no time, chegava para os novatos e falava brincando: - Não olha para o Dr. Marcos, se não ele manda sair na hora. De repente o Doutor já soltava uma das suas famosas piadas, e o novato que já estava encolhido percebia na hora que foi enganado. Tivemos muitas histórias juntos, mas uma que eu me recordo é quando era bem jovem. O pessoal do time havia decidido que iriam viajar para Maceió, e começamos a juntar dinheiro para tal feito. Queríamos pedir ajuda para o Dr. Marcos, mas pensamos “poxa, ele já nos ajuda pra caramba, não devemos pedir mais.” Acabou que um dia, ele chegou para nós e disse: - Peguem esse dinheiro e vão lá se divertir. Foi uma quantia muito alta, e graças a ele conseguimos fazer a viagem, que foi muito divertida. Não tenho palavras para descrever o quanto o Dr. Marcos é uma pessoa especial em minha vida. Me ajudou a subir na vida, e mais do que isso, me ajudou a melhorar como pessoa também, com seus sábios ensinamentos.

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 183


DEPOIMENTO

JOÃO MILTON E O CORPINHA FUTEBOL CLUBE por JOÃO MILTON LIMA E SANTOS

Para começar a falar sobre a ideia do “Corpinha Futebol Clube”, não posso deixar de comentar sobre nossa relação no Rotary. Eu e o Marcos sempre fomos participantes ativos, com a diferença de que ele era membro do Gralha Azul e eu dos Verdes Campos. Sempre buscando ajudar e promover eventos que contribuíssem com o futuro de Campo Mourão. Sempre realizávamos também várias confraternizações entre ambos os clubes, inclusive marcávamos várias partidas de futebol. Em uma delas, que me recordo até os dias de hoje, em 2001, estávamos inaugurando o campinho que ficava na casa do Marcos, e o jogo estava 20 para o Gralha Azul e 19 para o Verdes Campos. Bem no finalzinho, saiu o gol do empate do escanteio perto do portão, que inclusive foi feito pelo falecido Valdemar Danieli. Depois do jogo, com toda a confraternização acontecendo e o pessoal conversando, cheguei para o Corpa e disse: - Marcos, nós poderíamos usar esse campo aqui com mais frequência. Ele achou a ideia boa, e começou a chamar um pessoal: Valdemar Danieli, professor Dorival, advogado Jurandir, Peteleco, Toninho da Coamo, Serginho, Serjão, e vários outros. Foi aumentando, aumentando, até que chegamos a ter 35 atletas, e assim surgiu o “Corpinha Futebol Clube”, um grande time de amigos. Sempre fazíamos a confraternização pós jogo, e sempre que havia indícios de começo de briga, o Corpa tinha uma bela solução: apagava a luz do campo e terminava o jogo. Sempre fazíamos times de cinco pessoas, como o espaço era pequeno, sempre ficava dois times de fora, e estes sempre ficaram com um pessoal mais garrido, que a gente sa-

184 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


bia que ia brigar dentro de campo. Por isso, para evitar que o pessoal ficasse sem jogar, nós os deixávamos por último, e assim, caso alguém brigasse, era luz apagada e fim da partida. O tempo foi passando, o time e as amizades foram crescendo, até que um dia o Marcos chegou para nós e disse: - A turma que nós juntamos aqui é muito boa. Precisamos fazer alguma ação social, apoiar alguma causa humanitária. Assim, foi criado oficialmente a Associação de Amigos do Corpinha. Fizemos camisetas, nos organizamos e começamos a fazer várias ações sociais.

Confraternização da Turma do Corpinha.

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 185


DEPOIMENTO

CASOS COM O PRIMO JAIRO por JAIRO TARDELLI FILHO

O DROMEDÁRIO EM CAMPO Por volta de 1970, morávamos em São José do Rio Pardo (SP), e o Marcos foi passar uns dias com a gente. Havia um clube perto de casa, e sempre juntávamos uns amigos para jogar futebol. Todos adolescentes, o joguinho era um momento de relaxamento e diversão. Uma tarde, levamos o Marcos e montamos os dois times para o “arranca-toco”, obviamente, sem juiz nem nada. Eu e o Marcos estávamos no mesmo time. Dada a partida, a coisa esquentou. O Marcos entrava em qualquer dividida, marcava duro (nem sempre na bola...), gritava pedindo a bola, enfim, parecia que estava disputando a final da Copa. Ganhamos e estávamos saindo quando um amigo veio perto de mim e perguntou, apontando para o Marcos: “Pô, quem é esse dromedário aí?”. UM PRIMO ALEGRE NO ESTÁDIO No segundo semestre de 1971, minha família mudou para São Paulo (SP). Morávamos no bairro do Brás, e pouco tempo depois o Marcos foi lá em casa fazer uma visita. Era o primeiro Campeonato Brasileiro de Futebol (Atlético Mineiro foi o campeão), e o São Paulo receberia o Botafogo do Rio de Janeiro, à noite, no Morumbi. Como bom tricolor que era, quis ver o jogo e lá fomos nós (eu, palmeirense!). Pegamos o ônibus da CMTC no Vale do Anhangabaú (e era uma boa “pernada” até lá). No ônibus, para ir entrando no clima, ele ia ouvindo as entrevistas e os comentários iniciais da Rádio Bandeirantes no radinho de pilha. O São Paulo tinha ganho o Campeonato Paulista daquele ano, com um time respeitável (Gerson, Toninho Guerreiro, Forlan etc.). Foi um jogaço! O São Paulo começou perdendo, mas virou

186 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


e meteu 4 x 1 no Botafogo. Um pouco antes de terminar o jogo, tínhamos de sair rápido para pegar o ônibus de volta, descer no Anhangabaú e ir a pé ou pegar outro ônibus até em casa (que programão!). Tenho uns flashes na minha cabeça, nós na correria descendo a rampa do Estádio do Morumbi, e o Marcos pulando em delírio comemorando a grande vitória do Tricolor. O TROTE Naqueles dias de 1971, o Corinthians estava fazendo uma campanha para arrecadar dinheiro entre os torcedores para contratar o Paulo César Caju. Você tinha de ligar e obter as informações de como depositar a sua contribuição em uma conta especial. O Marcos não poderia perder essa oportunidade. Comprava um monte de fichas para um orelhão e ficava ligando para o Corinthians, oferecendo-se para contribuir, e logo depois, dava o prazeroso trote, com aquela gargalhada característica dele. Com tantos torcedores adversários “secando”, não poderia dar certo mesmo, o Paulo César Caju não veio... AVENTURA AUTOMOBILÍSTICA Outra vez, ainda em 1971, em um final de semana, teve uma corrida de Fórmula 2 no longínquo Autódromo de Interlagos, já que o Grande Prêmio do Brasil passaria a fazer parte do circuito em 1972 (o Emerson Fittipaldi ganhou o seu primeiro título nesse ano). Lá fomos eu e o Marcos para o autódromo. Inacreditável o grupo de pilotos presentes: Graham Hill, Ronnie Peterson, Carlos Reutemann, e pelo Brasil, o Emerson, o Wilsinho Fittipaldi e o José Carlos Pace. Só feras! Casa cheia, os primórdios do circo da Fórmula 1 no Brasil, valeu a viagem!

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 187


DEPOIMENTO

ATRAVÉS DO ESPORTE E COM AS MÃOS DE DEUS CONHECI ESTE GRANDE AMIGO por JAIR GRASSO

No ano de 1977 tive que realizar um Raio X devido a uma pequena lesão em um de meus braços. Por orientação médica fui até a primeira Clínica de Raio X, da qual era proprietário o Dr. Marcos Corpa, localizada na Av. Manoel Mendes Camargo nº 1553, térreo, Edifício Manoelito. Naquela ocasião tive o primeiro contato com o Dr. Marcos. Após realizar o procedimento, trocamos algumas palavras sobre futebol e de imediato nos identificamos como torcedores, ele são paulino e eu santista. Evidentemente, naquela época, Dr. Marcos levou a melhor, pois o seu clube de paixão estava em uma fase favorável e assim, aproveitou a ocasião para “tirar um sarro” de mim e do meu time. Desde esse primeiro contato até os dias atuais, todas as vezes que nos encontramos falamos de futebol, tanto é que quando completei 50 anos de vida e fui homenageado no programa esportivo Tocando de Primeira, apresentado pelo amigo Ilivaldo Duarte, Dr. Marcos fez questão de comparecer e me presenteou com uma bela camisa do meu time – Santos Futebol Clube. De fato, foi perceptível já no nosso primeiro contato, em 1977, que tínhamos algo em comum: o gosto pelo esporte. Saí de Campo Mourão em 1979, retornando no ano de 1984 como professor de Educação Física e técnico de handebol, e uma das primeiras pessoas que procurei, com vistas a obter patrocínio para a modalidade do meu coração (handebol), foi o Dr. Marcos Corpa, o qual prontamente me recebeu, me ouviu e se colocou à disposição dizendo: “pode contar com o meu apoio”. Imaginem eu, um profis-

188 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


sional recém-formado, em seu primeiro ano de trabalho em Campo Mourão, a alegria e satisfação que senti. Parecia, no momento, que tinha ganhado sozinho na Loteria Esportiva (na época o jogo que mais pagava em premiação no Brasil). Desde então, Dr. Marcos mantém-se como patrocinador fiel e, mais do que isso, um grande incentivador e apaixonado pela modalidade. Um dos projetos que o Dr. Marcos volta o seu olhar é o Handebol Social (projeto que oportuniza crianças e adolescentes à prática saudável do esporte). Tive a grata satisfação de presenciar, quando no ano de 2019, o mesmo acompanhou o Festival Municipal de Handebol realizado no ginásio de esportes do Colégio Estadual - coincidentemente o local onde, no ano de 1973, iniciou-se a prática desta modalidade, e eu era um dos alunos atletas. Ao entrar no local e encontrar a equipe que estava na organização do evento, ele exclamou: “Que atividade linda! Estou encantado! Ações como essa deveriam se estender em todos os bairros do nosso município. Todos vocês estão de parabéns e é por essa razão que eu apoio e continuarei sempre a apoiar esse projeto!” Ao Dr. Marcos Corpa serei sempre grato, pela sua disponibilidade e apoio, tornando-se um valioso funcionário na consecução de ações positivas no meio social através do esporte.

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 189



Amigos do Futebol Clube Corpinha.

Campeão do Campeonato Popular de Futsal (2009).

Conquista de título da equipe Marcos Corpa. Com Karla Tureck, secretária de Esportes e Lazer e o prefeito Nelson Tureck.

Bi Campeão do Campeonato Citadino de Futsal.


Bi Campeão do Campeonato Popular de Futebol Suiço, 2011.


Campeão do 1º Campeonato Chave Prata 2011.


Meu eleitorado são paulino. Conheci esses meninos quando aqui cheguei. A convivência com eles foi grande e hoje temos mais que uma amizade. Vi crescerem e se projetarem para o lado do bem.


Charge de Tiago Silva, o são paulino Marcos Corpa.


PARTE VI CONTOS E CASOS COM FAMILIARES E AMIGOS


A trajetória de toda a minha vida foi marcada por inúmeras conquistas. Muitas delas por mérito próprio, mas a grande maioria foi com a ajuda de meus familiares, amigos e pessoas que conheci na longa jornada desse plano terreno. Por isso, decidi escrever nas páginas deste livro os diversos acontecimentos que me marcaram narrados por pessoas próximas. São histórias engraçadas, emocionantes e até mesmo inesperadas que foram acontecendo em meus 71 anos de existência. Sou grato por essas pessoas fazerem parte de minha vida e guardo com muito carinho todos os contos narrados por elas.

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 197


Um milagre em Ponta Grossa Era Semana Santa do ano de 1987. Como acontece com a maiorias das famílias, resolvemos viajar para descansar. Saímos na quarta-feira com destino ao Balneário Camboriú. Na época, tínhamos dois veículos: um Voyage e um Santana. Passando por Ponta Grossa, em certo trecho da estrada existem ilhas, e foi nesse lugar que o carro ficou impossibilitado de seguir viagem. O Voyage havia ficado em casa. Liguei para Campo Mourão e pedi ajuda ao meu excepcional cunhado Mário, que conseguiu entrar na minha casa e pegar a chave do nosso carro reserva. Pedi ao Mário que trouxesse o Voyage até Ponta Grossa. Tudo foi feito da melhor maneira possível e ele chegou com o carro. O Santana ficara na agência para os devidos reparos, nós estávamos todos prontos para seguir a nossa viagem, meu cunhado havia cumprido sua missão e fomos levá-lo até a rodoviária para comprar a passagem de volta a Campo Mourão. Deixei a família no carro, fomos até o guichê e compramos a passagem. Na volta, outra surpresa: cheguei no carro e a Derci, minha esposa, falou: “deixei a chave do carro no porta mala e o tranquei”. Era impossível encontrar alguém para trabalhar, fora do horário comercial e numa cidade estranha. Foi

198 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


muito complicado, mas uma luz acendeu na minha cabeça. Só existe uma opção: pegar a chave do Santana e tentar abrir o Voyage. E não é que abriu? Era a única opção que nos restava. Realmente foi um milagre ou uma sorte muito grande. DEPOIMENTO

A HISTÓRIA NO ROTARY GRALHA AZUL por LUIZ CARLOS MALAVAZI

Em meados de 1983, quando minha esposa quis abrir um laboratório de análise clínica, me mudei para Campo Mourão. Logo no ano seguinte, fui convidado para participar do Rotary, e foi nessa época que conheci o Marcos Corpa. Em um primeiro momento, tive apenas um breve contato com ele, pois fui fazer uma obra em Palmas, e só fui empossado no Rotary em meados de 1985. Daí em diante minha amizade com o Corpa só cresceu, e dela nasceram inúmeras obras e projetos que fizemos participando sendo rotarianos. O Marcos sempre foi um rotariano de primeira, um companheiro na íntegra, não tenho outra palavra para descrevê-lo. Ele conta que foi convidado pelo Ronauro Gouveia para ser membro de um novo clube, e depois de vários almoços discutindo o assunto, foi criado o Rotary Gralha Azul. Recordo-me de quando ele passava em casa, pegava os filhos de todos os companheiros, junto com o próprio filho, e levava para jogar futebol no Lar Dom Bosco. No final do jogo, o Marcos sempre comprava um carrinho de sorvete para a garotada e distribuía para eles. Ele sempre puxou a fila nesses assuntos, sempre buscando ajudar sem querer algo em troca, e seus trabalhos no Rotary não foram diferentes. Tanto é que, logo quando entrou, já assumiu a presidên-

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 199


cia. Devido ao falecimento do primeiro presidente do clube, poucos meses depois da fundação do mesmo, o Marcos foi convidado a ser o segundo empossado. Era um período difícil, o Gralha Azul estava passando por um momento conturbado. Éramos em 27 companheiros, e ninguém podia assumir a presidência depois do Marcos, mesmo assim, como bom sócio fundador que é, ele chegou e disse: - Pode deixar que eu vou assumir novamente! Foi a primeira pessoa a assumir o Gralha Azul uma segunda vez consecutiva. Foram cerca de quatro anos na lama, pois não tinha ninguém preparado para comandar, mas o Corpa foi segurando as pontas, para não deixar o clube morrer. Poderia contar inúmeras histórias de como o Marcos ajudou o Rotary, mas vou narrar algumas que considero mais importante. Uma delas foi em meados de 1993, na terceira festa do Carneiro no Buraco. Naquela época, era tudo mais difícil de se fazer, pois não existia os barracões cobertos, não existia estrutura montada. Nós tínhamos que correr atrás de todos os materiais de construção: tijolo, madeira, lona, tudo para fazer a festa acontecer. O Marcos foi um dos que mais ajudaram, tanto é que posteriormente, somando outras participações, foi agraciado com o Título de Cidadão Honorário de Campo Mourão, foi homenageado com uma Moção Honrosa em Engenheiro Beltrão na Câmara dos Vereadores, e também por uma Moção Honrosa pela Acamdoze (Associação das Câmaras Municipais da Microrregião 12). Tudo isso faz parte do reconhecimento que o Corpa fez em prol da comunidade mourãoense. Outro feito foi a homenagem que o Corpa fez questão de ir atrás, para colocar o nome da praça homenageando um dos nossos sócios fundadores: Ayrton Paulo Cerqueira Alves. Nessa praça, além da homenagem, também foi cons-

200 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


truído um marco rotariano, uma estrutura de ferro, muito bonita. Qual a história desse marco? Em meados de 1994, pedi para que a esposa do professor Valter fizesse um projeto para homenagear o Gralha azul. Ela fez: uma gralha azul, metálica, muito bonita. Porém, o projeto no papel era lindo, mas difícil de ser construído na prática. Chegamos para um rapaz que trabalhava no barracão da Seosp, que era apelidado “Magaiver”, pois ele fazia de tudo quando o assunto era solda. Ele fez. Ficou maravilhoso e está lá até os dias de hoje. O Marcos sempre foi assim, qualquer projeto que fosse idealizado, por mais difícil que fosse, ele ia lá e fazia, se não, chegava no final do ano e ninguém fazia nada. Além desses projetos que ajudaram o clube, o Marcos era um grande idealizador de projetos para a comunidade: festas, rifas, almoços, tudo que ele podia fazer para ajudar as pessoas de Campo Mourão, ele ia lá e fazia. Em uma dessas rifas, arrecadamos dinheiro para a APAE rural, para iluminar e construir um alambrado no campinho que existia lá. Ficou muito bom, está de pé até os dias atuais. O galpão no fundo desse campo chama-se: “Gralha Azul”, em reconhecimento ao nosso esforço, que também foi construído por nós. Ele não ajudou só no clube, mas me ajudou muito também em outras questões. No dia 24 de junho de 1994 - não tiro essa data da cabeça, pois era dia de jogo da seleção brasileira e dia de São João também - eu estava no carro da prefeitura e acabei me envolvendo em um acidente, bati a cabeça e fui desacordado para o Pronto Socorro. No dia seguinte, depois de ter recebido alta, o Corpa já apareceu na minha casa com uma bolsa de água quente, muito preocupado para saber se estava bem. Fiquei extremamente emocionado nesse dia, pois eu estava lá, todo inchado, esperando os exames saírem, e o Marcos ficou do meu lado. Graças a Deus, os exames não apontaram nada de grave,

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 201


mas pude contar com o Corpa do meu lado até ficar mais tranquilo. O Corpa no meio rotariano é como um espelho para todos os membros, pela orientação, ajuda e pessoa incrível que ele é. Independentemente da idade, ele participa até os dias de hoje, querendo saber se o clube está bem, se está realizando projetos, enfim, sempre querendo ser prestativo, como sempre foi. O Rotary não é apenas um clube, é uma grande família de pessoas que se ajudam e ajudam a comunidade também, e tenho muito orgulho de dizer que faço parte dela, junto com o Marcos Corpa, homem honesto, prestativo e, acima de tudo, um grande amigo meu. DEPOIMENTO

A CONFRARIA DA SAUNA por IRAN ROBERTO BRZEZINSKI

Na segunda metade do século passado existia no local uma grande serraria e beneficiamento de madeira, de propriedade do industrial italiano Sergio Lisa. Era uma importante indústria que se destacava, sobremaneira, na entrada do bairro denominado Jardim Lar Paraná. A madeira desdobrada ali era oriunda de nossas densas florestas de Araucária, o pinheiro do Paraná, mas, com praticamente o desaparecimento da árvore símbolo do Paraná, também a madeira diminuiu (e muito!). Antes, porém, seu gerente Djalma Janine Franco, construíra no local, com lambris ali industrializados, uma sauna, para o deleite de poucos amigos. O imóvel foi alienado à Viação Mourãoense, do empresário Ricardo Gurzinski, que estava predestinado a alcançar sucesso pela dedicação e empenho de sua família. A venda e compra foi efetivada, com uma condição: que a sauna fosse mantida no mesmo lugar onde fora edificada. A família Gurzinski honrou o compromisso, aliás, atitu-

202 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


de sempre presente nas ações da família pioneira. De uma maneira natural foi, paulatinamente, sendo constituído um grupo de frequentadores da sauna que obrigatoriamente se reúne todo sábado. Cada final de semana, um dos componentes responsabiliza-se pela recepção aos companheiros. Trata-se do mais duradouro e permanente grupo, profundamente heterogêneo, que se reúne impreterivelmente todo sábado à tarde. Não há explicação razoável para pessoas de atividades tão distintas e poder aquisitivo tão dife-

Com meu amigo Iran Roberto Brzezinski.

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 203


rente, entenderem-se tão bem, se não o sentimento de amizade, respeito e solidariedade que é a tônica do ambiente. Não é apenas uma confraria, uma reunião de amigos: é um verdadeiro “estado de espírito”. Dentre os confrades está presente o Dr. Marcos Corpa, ou o Marcos, o Marcão, o Corpa. Sim, ele que responde por todos esses nomes, mas portador de um só coração enorme e repleto de solidariedade intensa. Sua presença no ambiente é regular em horários sempre precisos, com pouca variação de tempo. Sua chegada ocorre quando a maioria dos companheiros lá já está, a saída dá-se sempre, praticamente, no mesmo horário, como se ainda tivesse que cumprir outro compromisso (e certamente tem), mesmo que seja para ir para casa. O Corpa é assim, metódico e organizado. A presença de Marcos na sauna nunca alterou o ambiente reinante, o que sempre altera para melhor é o astral do grupo. Chega brincando, enaltecendo seu time São Paulo e não raras vezes, portando fotografia dos amigos em algum evento, com as quais os presenteia ou com fotos de lugares maravilhosos que conheceu e fotografou ao redor do mundo em suas viagens. As atitudes de Marcos sempre irradiam sua liderança natural. Todos os confrades consideram suas opiniões sempre abalizadas. Como conheço muito bem o Corpa, desde o ano de 1976, quando começou a trabalhar em uma modesta clínica de radiologia de propriedade do Dr. Valentim, que acabou por ele adquirida, e mais: conheço seu périplo por Campo Mourão, onde chega, imediatamente, integra-se e sua enorme liderança aflora, destacando-se de pronto e é instado a assumir seu lugar de timoneiro, pois se envolve com as causas e dispõe-se sempre a colaborar, é o seu modo de ser.

204 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


O Marcos é uma pessoa ímpar, em conversas de amigos íntimos brincamos: é um grande fotógrafo de interiores e exteriores (quando fazemos referência a sua profissão e seu amor pela fotografia). O sucesso profissional, anda sempre “pari-passu” com sua solidariedade, sua preocupação e paixão por Campo Mourão. O filho está distante de Caconde, Campo Mourão para sua felicidade, o adotou, a sauna não seria a mesma sem o Marcão. DEPOIMENTO

O FOTÓGRAFO MARCOS CORPA por DILMÉRCIO DALEFFE

“Eu não gosto de fazer qualquer foto. Gosto de foto diferente”. Foi com esta frase, incessantemente falada por Marcos Corpa, que fui conhecendo um pouco do seu estilo fotográfico. Por vezes, saímos em Campo Mourão testar nossas lentes. Cada paisagem, cada lugar, era imensamente estudado. Por fim, eternizado pelas câmeras. Marcos sempre gostou da arte. Lembro ainda menino, quando meu pai, Dilmar Daleffe, era amigo dele. Escutava falar das fotos que havia feito através de suas infinitas viagens pelo mundo. Quis o destino que, anos depois, agora fosse a minha vez de compartilhar as experiências com o “Marcão”. Meu pai foi-se. Eu fiquei. Curioso, Marcos sempre pesquisa sobre novos lançamentos de equipamentos. Não quer saber se são caros, ou não. Se gosta, compra. Afinal, a fotografia entrou em sua vida como um prazer absoluto. Uma espécie de “tesão”, em épocas de aposentadoria. A cada viagem que faz, o sujeito chama os colegas fotógrafos para apreciar sua visão, através das lentes. Ele sempre consegue resgatar “um algo a mais”. São as tais “fotos diferentes”, que tanto fala.

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 205


Cada fotógrafo possui um estilo inegável, é como uma impressão digital. Cada um tem a sua. Marcos, embora aprecie a minha – foto jornalismo, gente, miséria – prefere a dele. Óbvio. Gosta de paisagens exuberantes, seja na neve da cordilheira, ou no “areião” do deserto. Também coleciona retratos de igrejas. Em todo canto do planeta, e, todas elas, com um olhar “diferente”. DEPOIMENTO

MARCOS CORPA: CIDADÃO E PROFISSIONAL APAIXONADO E REALIZADO por ILIVALDO DUARTE DE CAMPOS

Conheço o Dr. Marcos Corpa há algumas décadas e mais de perto há uns 15 anos temos uma relação mais estreita e pude acompanhar sua trajetória e aprender com sua forma de pensar e principalmente de agir. Para esse cacondense de nascimento e mourãoense de coração, foi Deus que indicou a bela Campo Mourão para ele vir há 44 anos em um mês de fevereiro e como diz sempre: veio, viu, gostou e nunca mais foi embora. Desde muito cedo ainda jovem, decidiu ser radiologista por pura intuição. Sua carreira de médico se resume graças a Deus a nossa cidade de Campo Mourão. Desde quando comprou a Clínica São Valentim, então com 80 m² e fez 100% do financiamento e mais do que rápido, em pouco mais de dois anos ele pode comprar o terreno onde está sua moderna e bem-estruturada clínica. Desde sempre vi e ouvi as pessoas falarem muito bem do Marcos Corpa. Antes de tudo como cidadão, esposo e pai; depois como amigo, rotariano, líder, participante ativo da nossa comunidade e com elevado padrão de humildade e simplicidade. Marcos é uma pessoa feliz, que vive alegre e de bem

206 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


como a vida, e acima de tudo é um humano e serviçal, que tem visão e ética, sonhos para crescer e prosperar. Com certeza, esses atributos influenciaram bastante seus filhos, seja na formação como na vocação, pois os exemplos arrastam. Também aos seus amigos, porque a gente aprende dia a dia com as palavras e as ações. Seus pais, o “seu” Antônio Corpa Filho e a dona Josefina Pessoa Corpa, sempre tiveram motivos para se orgulharem dele. Da sua luta para formar-se médico na Universidade Federal do Paraná em 1973, de ser cidadão de bem, visionário e investir na cidade que escolheu para viver e ser feliz, com evolução e transformação para o bem da nossa população e da comunidade. Fora do ambiente da medicina, Marcos é assim como o nosso povo mourãoense: educado, alegre e acolhedor. Um ser humano muito bacana que sempre está rodeado pelos amigos, mesmo que seja para ouvir suas histórias do seu time (São Paulo) ou das suas incontáveis viagens com apresentação das paisagens por meio dos flashes registrados em sua outra paixão: a fotografia. Na comunidade esportiva, sempre apoiou diversas modalidades e programas acreditando que, além de colocar a marca da sua Clínica, estaria apoiando ações de comunicação e marketing para a formação e perpetuação do caráter e ética, de virtudes de atletas e dirigentes, e se puder ganhar, como aconteceu, conquistando títulos com troféus e medalhas, então, foi bom demais. Mas a maior vitória deste cidadão de fé, nascido na bela Caconde (SP), é poder andar com a cabeça erguida e os olhos abertos, com a certeza de que ao lado da sua companheira Derci formou uma família maravilhosa e pode fazer muito nesses mais de 40 anos como mourãoense, desejando o melhor para a nossa cidade e para os amigos e clientes. Isso não é pouca coisa. Viva o Dr. Marcos Corpa, de bem com a vida e muito feliz, pois a alegria é uma das virtudes do cristão, que acredita e vive com a graça de Deus. MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 207


DEPOIMENTO

A CONFRARIA RESERVA ESPECIAL por ALFREDO FERRARI NETO E MARIA REGINA MACHADO FERRARI

Há cerca de 14 ou 15 anos, um grupo de amigos frequentemente se reunia para usufruir da companhia uns dos outros, fora do ambiente de trabalho, aproveitando seu tempo de lazer para cultivar as amizades. Eram encontros informais, ora na casa de alguém, ora em um jantar em algum restaurante, ou em algum evento beneficente. Nessas reuniões, onde a conversa corria livremente, como é comum entre amigos que se gostam, um assunto volta e meia vinha à tona, e cada vez com mais frequência: o vinho! Às vezes era um amigo que trazia uma garrafa de um vinho especial que lhe haviam recomendado, em outras era uma indicação do proprietário do restaurante, em algumas um vendedor que havia passado pela cidade trazendo novidades, e por aí em diante. Dessa forma, provávamos de tudo, vinhos bons, outros nem tanto, e alguns ruins, como não poderia deixar de ser. Assim, foram surgindo cada vez mais motivos para a formação da Confraria Reserva Especial, ou simplesmente Confraria, como os amigos passaram a chamá-la, com o intuito de adquirir conhecimento sobre os diferentes tipos de vinho, poder provar vinhos oriundos dos mais diversos países, das mais diversas cepas de uvas, vinhos doces, espumantes e tantos outros, e adentrar a todo o universo que existe em torno do vinho. Mas o motivo mais importante, creio eu, foi a amizade. Poder presentear um amigo com uma bela garrafa de vinho, ou mesmo dividir aquela garrafa que você comprou em uma viagem, servir em sua casa uma bebida que deixasse seus amigos felizes e satisfeitos, é muito melhor do que

208 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


tomar um vinho sozinho. Dessa forma, três desses amigos e suas respectivas esposas se reuniram no início de 2008, para montar um esboço do que seria a nossa Confraria. Em primeiro lugar, deveria ser formada por casais, em que tanto homens quanto mulheres tivessem participação ativa. No grupo deveriam constar apenas pessoas que tivessem extrema afinidade de valores, prevalecendo sempre o respeito mútuo entre todos. Então, no dia 15 de Maio de 2008, foi fundada a Confraria Reserva Especial, comportando 14 casais fundadores, com o intuito de reunir estudiosos, apreciadores e amigos do vinho e com a finalidade de promover e estimular a cultura e o hábito da sua degustação. Entre os Confrades Fundadores estava o casal Marcos e Derci Corpa, até hoje assíduos participantes nas reuniões mensais que a Confraria realiza, que hoje ultrapassam os 130 eventos oficiais, e possivelmente um número maior do que esse de encontros informais. Durante esses quase 13 anos, Marcos e Derci sempre tiveram participação ativa na Confraria, inclusive participando da Diretoria da mesma no biênio 2010/2011, e nunca medindo esforços para a evolução de todos os Confrades no conhecimento enológico. Anfitriões generosos, muitas das reuniões que eram realizadas sob sua responsabilidade criavam expectativas, seja pelos excelentes vinhos apresentados, ou pelo convite e participação de palestrantes renomados no mundo dos vinhos, o que sempre enriqueceu o aprendizado de todos os Confrades. Transcorrido todo esse tempo em companhia de Marcos e Derci, não apenas nas reuniões oficiais, mas também em viagens enológicas, no Brasil e no exterior, os Confrades

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 209


sempre foram agraciados com o bom humor e o companheirismo do casal. Exemplo de amizade, incorporam o que é a essência da Confraria Reserva Especial. DEPOIMENTO

ONDE FICA CACONDE

por GETÚLIO FERRARI JÚNIOR Eu sei onde fica Caconde, e posso definir assim: ela está próxima do coração de todas as pessoas que conhecem o Marcos. Quando ele veio para Campo Mourão em 1976 o Marcos trouxe Caconde com ele, e aí me atrevo a dizer que todos os amigos que conviveram com o Marcos todo esse tempo sabem o quanto ele importa-se com o lugar em que ele está, prova disso é a de que ele tem participação efetiva na construção de cada canto dessa cidade, seja pelas suas obras, na sua empresa, através das ações junto à comunidade, pelos seus filhos trabalhando para que Campo Mourão desenvolva-se cada dia, principalmente nessa área tão delicada que é a medicina. Enfim, o Marcos trouxe Caconde junto com ele. Essa cidade ficou marcada em cada amigo, companheiro, pessoa que caminhou um pouquinho com ele, que seja nessa estrada, então não tem como dimensionar geograficamente a cidade de Caconde. Ela é um lugar fictício, embora real, que mora no coração da família e dos amigos do Marcos, afinal falar dessa cidade remete imediatamente ao Marcos Corpa e nós tivemos sim a grande honra e o prazer de ter um morador de Caconde junto da gente e que ajudou a transformar nossa cidade, Campo Mourão, em um lugar melhor, então, repito, não tem como situar a cidade onde o marcos nasceu, geograficamente no espaço. ela está em todos os lugares, amigos, na família e pessoas que por um momento, estiveram com ele.

210 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


No Rotary, na Associação Comercial e em todos aqueles lugares em que o Marcos por um instante que seja colocou um pouquinho do seu tempo, melhorando cada canto que ele ocupou e ocupa, afinal ele é singular, uma pessoa que aquece os ambientes por onde passa e caminha. Eu posso dizer seguramente que Caconde fica no coração de todos os amigos do Marcos e que vamos levá-lo para sempre como grande amigo e companheiro que ele é, seja contando suas histórias através de fotos, atos, de sua família, empresa que está aqui ajudando milhares de pessoas que ali passaram ao longo desse tempo todo. Então, Marcos Corpa, pode ter certeza que Caconde está onde você está e nós, seus amigos, agradecemos todos os dias por ela ter nos dado você! DEPOIMENTO

MARCOS CORPA NA VISÃO DE SEUS COMPANHEIROS DE TRABALHO por SEUS COLEGAS DE TRABALHO

Um dia me perguntaram por que escolhi a radiologia como profissão, e então dei-me conta de que não foi eu que escolhi a radiologia, mas sim a radiologia através do dr. Marcos Corpa que me escolheu. Oportunidade dada a mim pelo dr. Marcos Corpa em 1995 eu nem sabia ao certo o que era radiologia, sequer haviam cursos da área na época, abracei esta oportunidade com dedicação e aprendi, aprendi muito e continuo aprendendo não só como profissional, mas também como ser humano. Devo minha profissão a este homem que confiou uma oportunidade a mim e me ensinou tudo que sei hoje. Sei que tive e tenho falhas (afinal somos seres humanos) mas espero ter honrado a confiança que um dia Dr. Marcos con-

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 211


fiou a mim. A palavra para este breve texto é gratidão. Denise Centro de Diagnósticos Dr. Marcos Corpa, nome forte, de respeito por onde falam, de referência em cada canto desse Brasil, que tenho muito orgulho em dizer que trabalho há sete anos, faço parte dessa história e principalmente dessa família, construída por um homem trabalhador, honesto, humano, corajoso por fazer da nossa cidade de Campo Mourão (PR) referência em exames de diagnósticos, profissionais capacitados e aparelhagens de última geração. Com muito carinho, respeito e gratidão a toda família o meu muito obrigado pela oportunidade, Deus abençoe a todos! Fica aqui meu Bordão: Unimos força em um só corpo, para representar com orgulho todos Corpa. Sérgio Outubro de 2020, esse mês completo 12 anos de prestação de serviço no Centro de Diagnósticos, só tenho que agradecer ao Dr. Marcos Corpa por ter aberto as portas e acreditado no meu potencial. Dr. Marcos um grande exemplo de ser humano e empreendedor que sempre trouxe aparelhos de última geração para melhor qualidade de exame de seus pacientes. Que Deus sempre abençoe sua vida e parabéns por tudo que conquistou na sua vida, é um exemplo de vida para qualquer ser humano. Renann Cintra Há 32 anos e seis meses estou trabalhando com Dr. Marcos, homem que tenho orgulho de dizer que é meu patrão

212 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


pois é um grande homem, uma pessoa que não mede esforço para ajudar quando precisamos. Tenho a agradecer por tantas e tantas vezes que ele esteve ao meu lado me ajudando. Convivi mais com ele no trabalho do que com minha família. Já trabalhou muito para fazer da sua clínica o que é hoje. Obrigada Dr. Marcos por tudo que o senhor fez por mim, te admiro muito e tenho o senhor como um exemplo. Deus te abençoe sempre, te dando muita saúde. Gildete Ao Dr. Marcos. Quero agradecer pela oportunidade de trabalhar e conviver com sua pessoa. O que eu posso dizer é apenas GRATIDÃO. Por sempre orientar e ensinar nos momentos de dúvidas. O Sr. é uma das pessoas mais humanas e inteligentes que conheço. Uma pessoa de um caráter ímpar. Uma competência magnífica. Então obrigado meu amigo por tudo que fez pela minha família, o senhor nem sabe o quanto somos gratos por você. Micael Trabalho na clínica desde de fevereiro de 1995, o motivo de ser contratada foi a necessidade de uma técnica feminina para fazer os exames de mamografia, que era uma novidade para Campo Mourão e região, o aparelho era um dos mais modernos para aquela época. Quanto aos exames realizados, o forte da clínica eram os exames de raio-x, onde a revelação dos filmes era manual, utilizando câmara escura e produtos químicos, nesse tempo eram nove funcionários, sendo dois médicos radiologistas, três técnicos, três secretárias e uma zeladora. Após dois anos, a clínica passou por reformas para am-

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 213


pliação devido a chegada de mais uma novidade, a tomografia computadorizada. Mais adiante tivemos a instalação dos aparelhos de ultrassom, de ressonância magnética, aumentando a capacidade de atendimento de mais pacientes e aumento no número de funcionários, tanto de médicos, técnicos, administrativos e agentes de limpeza. Em 2020 completei 25 anos de trabalho nessa empresa, onde tive a oportunidade de aprender a ser uma profissional da área de saúde, tendo um grande professor, que foi Dr. Marcos, que com paciência ensinava seus funcionários a fazer sempre o melhor da melhor maneira possível. Ao longo desses anos uma coisa com certeza não mudou, a preocupação em atender os pacientes de forma a ter os melhores exames e precisão no diagnóstico, trazendo segurança nos laudos para os médicos que solicitam os exames e a certeza aos pacientes que terão sempre exatidão em seus diagnósticos. Vanda Maria Tonhato de Castro Quero agradecer ao Dr. Marcos a oportunidade de fazer parte da equipe da clínica desde 1986, quando fui registrado após ser encaminhado pela Guarda Mirim, que era uma instituição que encaminhava adolescentes ao mercado de trabalho. Agradecer por todo aprendizado diário e toda ajuda concedida a mim. Nesses anos todo, recordo que todo sábado era dia de lavar a Boni, uma cadela pastora alemã, que era a guardiã da clínica. Às vezes eu ajudava o Dr. Marcos passar creolina na Boni, era tranquilo, ela era bem mansa. Teve uma manhã que após lavar a Boni e deixar ela secando, não sei como, ela achou umas portas abertas e sumiu. Procurei no mesmo instante em ruas próximas da clínica, mas não a encontrei. Foi uma pena, ela nunca mais voltou. Eder

214 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


DEPOIMENTO

O MAESTRO MARCOS

por FRANCISCO MARCOS FREIRE Falar sobre o Dr. Marcos, é falar sobre o Maestro. Quando tomei conhecimento, de que esta pessoa ímpar, decidiu enfrentar a missão de escrever sobre suas caminhadas, confesso que fiquei entusiasmado de conhecer um pouco mais dos caminhos que lhe foram apresentados pelo criador, quais foram percorridos e, quais outros tantos estarão no seu ideário a percorrer. Sim, digo a percorrer, pois como empreendedor, está sempre envolvido em algum projeto, seja ele qual for, principalmente se for para o bem da comunidade. Parafraseando “não deixar a peteca cair”. Alguns de seus projetos que tive a oportunidade de conhecer, foi o desenvolvimento humano. Ahh, sim!!! A contribuição dele na comunidade no desenvolvimento humano é de sobremaneira fantástico. Como sabemos o ofício, eleito pelo Dr. Marcos, foi a medicina, e como tal a Especialidade Imagenologia, é tida como: “os olhos da medicina”. Assim quando da sua acomodação e desenvolvimento do seu ofício em Campo Mourão, não haviam profissionais técnicos para lhe auxiliar na atividade, foi aí, que ele sentiu a carência de profissionais nessa área da saúde, empreendedor que é, levantou essa bandeira, por assim dizer e, estimulou, encorajou o Serviço Nacional de Aprendizagem/ SENAC, a formar os profissionais técnicos em radiologia. Se, há profissionais técnicos em radiologia, bem como o Curso de Formação de Técnicos em Radiologia na região, foi graças ao seu empenho.

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 215


Continuando na linha do desenvolvimento humano, ele contribuiu e colaborou em muito para surgimento de um dos grandes centros educacionais da região, conhecido como Centro Educacional Integrado - CIES, em reconhecimento ao seus esforços, foi homenageado com a criação/ exposição permanente de uma galeria de fotos. Na esteira do desenvolvimento e atuação comunitária, contribuiu com a Associação Comercial de Campo Mourão – Acicam, como associado e Presidente, Rotary Gralha Azul como fundador e presidente, Sociedade de Radiologia do Paraná - SRP, como membro e presidente. No esporte foi um grande incentivador do atletismo, basquete e futebol de Campo Mourão, por vezes custeando do próprio bolso as acomodações e outras despesas desses jovens atletas. DEPOIMENTO

NÃO ESQUEÇO DO AMIGO MARCOS CORPA por GUILHERME MENIN GAERTNER

Apesar de compartilhar a mesma paixão futebolística, e sem dúvida o Marcos Corpa foi importante para isso. Tenho flashs da minha infância com o Marcos, mas de qualquer forma eu sempre fui são paulino. Acho que foi na Libertadores de 2005, vieram ele, o Stefanuto, o Fiorese, nós fomos ver a final e o São Paulo ganhou do Atlético Paranaense, e realmente foi muito legal. Mas de longe, saindo do “chavão” futebolístico, o que mais levo em conta ao Marcos Corpa foi na eminência da morte do meu pai. Em uma das conversas que tive com ele, perguntei quais pessoas que mais gostava em Campo Mourão. E o meu pai, muito fechado, já imaginava que não seria uma lista grande, mas nela tinha o nome do Marcos Corpa. Realmente me tocou muito que dentre essas pessoas estava o nome do Marcos Corpa, sempre vou guardar maior do que qualquer paixão futebolística.

216 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


Eu não esqueço a ajuda que a Carol deu quando o papai foi diagnosticado na Clínica. Nós falamos com ela. Aquele dia que ele foi pra São Paulo, e depois das conversas que eu tive com Marcos também, até sugeriu levar o papai para a Clínica Mayo, na Flórida. E também a reação do Marcos no velório do papai, ele não quis carona lá da Vila Alpina, isso eu também não esqueço. Obrigado, amigo Marcos Corpa! DEPOIMENTO

UMA AMIZADE TRANSGERACIONAL por RICARDO MENIN GAERTNER

Tio Marcos Corpa influenciou uma geração de São Paulinos, o que foi possível não só pelo esquadrão tricolor dos anos 80 e 90, mas principalmente por sua paixão, pelo futebol e pelas pessoas. As lembranças são do Tio Marcos sempre feliz, falando, cumprimentando e abraçando todos, capaz de preencher o ambiente com seu vozeirão e sorriso fácil. Um grande orgulho poder falar que sou são-paulino pela sua influência, e mais ainda por poder compartilhar, com os seus filhos, a mesma amizade que o Tio Marcos sempre teve com meus pais. E agora, também as amizades dos meus filhos com os netos do Tio Marcos – uma amizade transgeracional!!! Com carinho do seu sobrinho. DEPOIMENTO

LEMBRANÇAS

por EDRIN CLARO DE OLIVEIRA VICENTE Eu tenho duas lembranças bem nítidas com o Marcos Corpa, ambas anteriores aos meus 10 anos de idade. A primeira lembrança é que por algum título do São Paulo Futebol Clube, eu lembro de alguém, ou do meu pai ou da minha mãe, que o tio estava chegando em frente de casa

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 217


para pegar as crianças para comemorar o título. Em casa, não tinha o hábito de assistir futebol, eu nem lembro de ter assistido esse jogo, mas eu lembro o que era o futebol na época. Para mim, aquilo era uma novidade: quer dizer que quando um dos times ganham, as pessoas saem pra rua comemorar? Obvio que não fiz essa pergunta na minha cabeça, mas o que eu tenho de lembrança é a sensação de novidade. Achei que foi um convite divertido. Lembro dos meus pais deixarem eu ir comemorar, junto com diversas outras crianças, subimos em uma espécie de pick-up e o tio cruzando as avenidas Manoel Mendes Camargo e Índio Bandeira, e as crianças atrás comemorando. Lembro da expressão gravada do tio Marcos, aos olhos de uma criança da época, me dava uma sensação de paixão, que abraça o momento e se diverte, tinha um certo contraste de que outros adultos passavam na minha cabeça de criança, de disciplina, rigor, da impressão de que ele mantinha sempre um sorriso do rosto. É como se ele articulasse as palavras num canto da boca e do outro ele deixasse um sorriso no rosto. Então é como se fosse um primeiro registro do que eu entendia como paixão, tanto no futebol como outras coisas da vida. Outra lembrança que tenho do Marcos é da inauguração da Clínica de Radiologia dele. Eu tinha menos de 10 anos de idade, e eu lembro de várias crianças correndo pelas salas da clínica, e de um momento que hoje seria inimaginável em que as crianças subiram num radioscópio, e o Corpa fazia as radioscopia das crianças, e todos queriam ver o esqueleto dos amiguinhos. E lembro do Corpa fazendo isso com grande sorriso no rosto. Essa é um pouco das lembranças que tenho do Marcos, da paixão pela vida, pela vitalidade.

218 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


DEPOIMENTO

CORAÇÃO DE OURO por IZAURA MARIA ERCOLI

O Dr. Marcos Corpa é uma das pessoas que dentro da família tem um papel importantíssimo, pois é uma pessoa muito humana, nas situações de dificuldade sempre se apresenta e impressiona. Sempre pronto para acolher e resolver os problemas da família. Ele tem um coração de ouro e é sempre muito prestativo com todos. Sempre está presente. Que Deus esteja sempre do lado dele dando essa força e essa perseverança. Obrigado! DEPOIMENTO

PORTO SEGURO

por VANDERLEI ERCOLI Derci e Marcos, o que falar dessa biografia? Quando você casou com a Derci, a gente teve um porto seguro na nossa família. Porque você era um médico, e nessa sua profissão tudo que a gente precisava, a gente recorria a você. E sempre indicava: vai em fulano, vai em ciclano. Não conseguia consulta? Você ligava e marcava. Ou seja, você fazia muita coisa para nossa família, e para tua também, porque sei que você fazia muita coisa pra sua família também. Mas pra nossa família foi uma referência que nós tivemos. Então nós nos sentimos seguros, não tinha mais aquela insegurança, porque precisava de um cardiologista você indicava, precisava de pediatra, você indicava, ortopedista, e ainda marcava. Muitos dos que vão ler vão até chorar de algumas coisas que você vai colocar.

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 219


É isso, obrigado e grande abraço a todos vocês! Beijo a todos! DEPOIMENTO

“ESSE É O CARA!” por MÁRIO ERCOLI

Falar desse homem não cabe no livro. Esse é o cara. Quantas vezes morre gente, e ele vem ver, vê tumulo, vê não sei o que. É companheiro, sempre foi. Uma vez, vindo do casamento do nosso sobrinho Marcos, vinha na Castelo Branco, São Paulo tinha ganhado, chegando no maior restaurante da Castelo Branco da época ele foi lá e falou com o gerente. “Será que você não deixa eu colocar a bandeira do São Paulo ali em cima?” O gerente respondeu “Rapaz, está ficando louco?” Eu falei pra ele: “Marcos, você não está em Campo Mourão, esses corinthianos são todos fanáticos”. Entramos no banheiro pra se lavar e almoçar e ouvimos uns caras falando: “Viu que um cara queria colocar a bandeira do São Paulo aqui?”, depois que saímos do restaurante falei: “Viu Marcos!”. Para a família toda, sempre foi e é, muito prestativo. Não estou puxando saco, estou falando a verdade. Teria mil histórias pra contar aqui que não caberia no livro. Ele tira a camisa e se acaba quando ele quer ajudar alguém. Uma vez, vindo de Roncador, caiu uma roda da caminhonete. Nós pegamos um parafuso de cada roda e montamos vindo de Roncador. Para todos da nossa família. Ele merece muito mais do que tem nesse livro, não cabe tudo nessas páginas. Tudo que escrevi vem do coração. Sempre brincando, com piadas. Ele não é travado, é sempre prestativo. Sempre animado e rindo. Sempre do bem. É são paulino, briga pelo time, esse é o Marcos, pessoa que ajuda todo mundo.

220 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


DEPOIMENTO

MARCOS: SEMPRE CUIDANDO DE TUDO! por DANIELLE ALVES KASHIWAGI

Não tenho palavras para expressar toda gratidão que minha família tem pelo Tio Marcos. Minha mãe ficou viúva com 29 anos e três filhos pequenos. Ele juntamente com a minha tia e madrinha Derci, não ajudaram apenas financeiramente. Meu tio levava meus irmãos brincarem na clínica, dava vários presentes para nos alegrar em meio essa situação. Sempre estudei em colégio particular, graças a sua contribuição, pois sabe da importância do estudo na vida das pessoas. Nunca me esqueço quando meu irmão Fabiano, passou em Agronomia na Faculdade de Bandeirantes. A minha mãe apesar da felicidade estava apreensiva, pois não seria fácil manter o meu irmão. Mais uma vez, estava meios tios com todo apoio em palavras e financeiramente. Na minha formatura e do meu querido irmão eles estavam presentes com toda alegria pela nossa conquista. E sempre foi assim em todos os momentos de nossas vidas. Eu e a sua filha Maria Carolina nascemos no mesmo dia, dia de Nossa Senhora Aparecida, e todas as festas lindas que fizeram para Tata, era pra mim também! Até as roupas eram iguais! Nas viagens de final de ano, nunca me esquecerei. Foram várias. E no momento mais triste de nossas vidas, com a morte prematura do meu irmão. Ele estava lá! Cuidando de tudo. Me lembro com tristeza que um jornal da cidade de Goioerê onde ocorreu o acidente do meu irmão, publicou fotos fortes do acidente. Meu Tio fez questão de entrar em contato com esse jornal e expor a sua indignação. Gratidão pelo que fez e faz pela minha família! Não tinha obrigação nenhuma e fez de coração!!!

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 221


DEPOIMENTO

TIO CONSELHEIRO

por RAFAEL CORPA GUIMARÃES Tio Marcos! O que falar dele? Sou suspeito para falar a respeito dos meus tios. Cada um representa um momento da minha vida! Mas, falar do tio Marcos não é difícil. É fácil, não tem segredo. Quando eu nasci, em 1977, o tio tentou de todas as formas que eu, seu sobrinho e neto mais velho do vô Tônico fosse torcedor do São Paulo. Porém, ele não conseguiu essa proeza. Cheguei a usar camisetas e agasalhos do São Paulo, presentes dele, mas, influenciado por meu pai e tios, me tornei palmeirense. Mas, falando do “homem tio”, ele sempre foi parceiro e tentou organizar a família da melhor forma possível! Lembro-me que quando meus pais se separaram, em 1984 (eu estava com 7 anos), ele fez tudo para minimizar as dificuldades que tivemos decorrentes da separação, nos dando apoio e orientações. Outra passagem marcante foi em 1991. Eu estudava no Colégio Estadual Três Fronteiras de Foz do Iguaçu (PR) e os professores entraram em greve por um período longo. Sem aula, fui passar uns dias na casa do tio em Campo Mourão. Meus primos iam para a escola e eu ficava na casa do tio sem ter muito o que fazer. Ele me chamou no escritório e disse que eu deveria aproveitar o tempo para ler e estudar no escritório dele. Esse conselho parece bobo, mas esse incentivo me fez “acordar para a vida”. Após esse período de greve, minha mãe e meu pai resolveram matricular-me no Colégio Anglo Americano e certamente meu rendimento

222 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


foi maior, pois aprendi com meu tio que eu devia focar nos estudos, não perder tempo, como quando fiquei na casa dele sem fazer nada. Outra passagem dele foi comigo morando e estudando Direito em São Paulo. Nessa época, eu ajudava meu pai a cuidar dos caminhões dele e sonhava ser empresário e tive oportunidade de comprar meu primeiro caminhão. E aí? O que faço? Fui a Campo Mourão e, em uma conversa informal com o tio, expliquei a minha situação, relatei que se eu comprasse o caminhão, até que eu pagasse o financiamento, ficaria com o dinheiro contado para as despesas e eu temia algum imprevisto. Mais uma vez ele me orientou, explicou como era o começo de um empresário, ou seja, me deu um norte. Essa conversa mais uma vez “abriu minha cabeça” para começar meu próprio negócio e nele fiquei, entre altos e baixos, até meus 40 anos. Os conselhos não pararam por aí. Mais uma vez o tio Marcos entrou em cena, em 2016. Eu e a Diva estávamos muito estressados da vida louca que levávamos em São Paulo e, como já tínhamos um começo de estrutura no Paraná, decidimos nos mudar e começar vida nova no sítio que já possuíamos, em Santa Cecília do Pavão. O tio apoiou nossa decisão e orientou os passos a seguir. Ele teve as fazendas dele, já havia “apanhado” com as dificuldades do campo e me deu dicas importantes para eu não entrar em “furada” como, por exemplo, a concorrência com os grandes produtores rurais. No primeiro momento, me recomendou plantar eucalipto, pois outra coisa em pequena escala não supriria nossas necessidades. Ainda nessa vez, deu outra dica: você e a Diva são comerciantes natos, então façam alguma coisa ligada ao comércio para ajudar nas finanças. Assim fizemos. Voltamos ao comércio, o sítio hoje é autossuficiente, se tornou nosso refúgio e é o lugar que mais gostamos.

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 223


Para escrever sobre o tio Marcos, acabei “falando” muito de mim. Tive que me expressar dessa forma para deixar clara a importância dele na minha vida. Tio, sou eternamente grato por tudo que fez por mim. Seus conselhos e incentivos permanecem e permanecerão sempre vivos em minha memória. DEPOIMENTO

CORAÇÕES SÃO PAULINOS

por GUILHERME WALTER PESSOA CORPA Tive a sorte de passar a minha infância bem próximo dos meus primos. Brincávamos muito e não víamos a hora de nos encontrar. A maior parte desse período eu passei na casa do meu tio Marcos. São paulino roxo, ele influenciou na escolha do meu time e consequentemente no time dos meus filhos. Mas o tio Marcos não é só um apaixonado pelo São Paulo. É, sim, um apaixonado pela sua família. Eu aguardava ansiosamente pelas férias para poder ficar na casa dele. Íamos à fazenda vacinar o gado e andar a cavalo (acordar cedo era o problema, mas ele chamava uma vez e eu e o Kiko já estávamos prontos). Sempre foi muito justo. Agradava quando tinha que agradar e puxava a orelha quando tinha que puxar. Como não relatar a famosa foto dos primos no carrinho de picolé? Lembro-me claramente desse dia. Passou um “picolezeiro” e o tio Marcos comprou todo o sorvete do carrinho. Foi um alvoroço. Quase uma competição para ver quem tomava mais picolés. O primeiro que eu peguei foi um de leite. O segundo era um de hortelã. Naquela época, eu não gostava daquele “trem” ardido. Enquanto eu sofria com o picolé ruim, os meus primos estavam acabando com o sorvete do carrinho. Eu não queria jogar fora. Então, corri

224 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


ao banheiro, abri a torneira e coloquei o picolé embaixo da água. Rapidamente ele acabou e voltei para devorar mais picolés. Os anos se passaram e os encontros se tornaram menos frequentes em decorrência das correrias do dia a dia. Mas, o carinho e a admiração continuam os mesmos. Tio, um grande abraço do seu sobrinho são paulino. DEPOIMENTO

MEU TIO SÃO PAULINO

por HENRIQUE CORPA TAMBELINI Sem esperar, recebi um pedido, simples e direto, do meu tio Marcos. Foi curto e grosso, sem delongas: queria que lhe encaminhasse um texto sobre nossos pontos em comum. Tal fragmento serviria para compor sua autobiografia, seu mais novo projeto de vida, e minha ausência, segundo ele, seria injustificável. Na hora, embora lisonjeado pela lembrança, pensei: “Poxa vida, estou lascado! Quanta responsabilidade deixar algo registrado na biografia de meu tio...” Mas, sem chances de dar qualquer desculpa para me esquivar de um pedido tão especial, aqui estou matutando no que talvez ficará averbado para sempre em sua biografia. Falar da sua competência, ética e profissionalismo, algo que desde pequeno sempre admirei e são fontes de inspiração para o desempenho das minhas atividades na carreira de servidor público, seria, a meu sentir, “chover no molhado”. Contar seus conselhos e ajudas nos momentos de algumas dificuldades na infância e juventude não seria exatamente um ponto em comum entre nós, mas momentos de

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 225


afeto dele comigo. Dizer do sincero carinho com quem sempre tratou a mim e minha família, mesmo nos encontrando poucas vezes durante esses anos, por causa da distância, do mesmo modo. Sua inconfundível gargalhada alta, as brincadeiras sadias e a receptividade amorosa (“Ô, assombração!”) ficarão sempre na minha lembrança, mas, também, não seriam o tal do ponto em comum. Talvez gostar de viagens e de conhecer novos lugares seria, aí sim, um ponto em comum para assinalar - aliás, em um encontro de supetão da minha família com ele e a tia Derci na piscina de um hotel de Natal/RN rendeu ótimas dicas de passeios, além de momentos preciosos na capital potiguar. Ainda assim, queria ir adiante; queria conseguir registrar algo além da obviedade; afinal, gostar de viagem e de conhecer novos lugares praticamente todo mundo gosta, e outras pessoas poderiam facilmente ter esse mesmo ponto em comum em suas vidas. Como é o livro da autobiografia do meu tio Marcos, gostaria, é claro, de honrar o convite para redigir nossos pontos comuns à altura da sua importância para mim. De nada adiantou tanto pensar em algo surpreendente, pois acredito que acabei caindo no ponto comum que muitos outros familiares e amigos podem ter com meu tio Marcos. Mas comigo, com certeza, é um ponto comum que vai além, pelos momentos memoráveis vivenciados a seu lado. Então, escolhi registrar algo que, para quem nos conhece, é o mais puro óbvio ululante; o ponto em comum mais evidente de todos: a nossa paixão pelo São Paulo Futebol

226 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


Clube. É algo que não tem explicação, pois transcende o racional e me conecta com meu tio Marcos. De verdade, pois minha paixão pelo São Paulo Futebol Clube é diária. Não há um dia sequer que não veja algo sobre o meu amado tricolor paulista. De onde brotou isso? Quando? Não sei. Só sei que foi por causa do tio Marcos, desde as minhas primeiras lembranças da infância. Cada notícia lida, cada blog visitado, cada jogo assistido, e lá está o meu pensamento instantaneamente remetido ao meu tio de várias maneiras: “Tio Marcos deve estar felizão da vida com o resultado, vou ligar para ele” ou “Será que ele gostou dessa nova camisa do nosso time, dessa ou daquela contratação?” Ou, ainda: “Coitado do tio Marcos, deve estar sofrendo com nosso SPFC”... Entre tantos outros, não posso deixar de mencionar o ano de 2005, o mais especial de todos para mim. Dia 14 de julho. Sem desconfiar de nada, acredito eu, meu tio Marcos me proporcionou um dos dias mais felizes da minha vida, senão o mais de todos. São Paulo Futebol Clube na final da Libertadores contra o hoje denominado Atléthico/PR. Estudava em Maringá/PR. Tio Marcos me liga e questiona se gostaria de assistir junto com ele a partida que decidiria a taça no Cícero Pompeu de Toledo, nosso Morumbi, em São Paulo/SP. Ele iria financiar o meu deslocamento e ingresso. Sem vacilar, por óbvio, topei na hora. Matei inclusive uma prova de direito processual penal na UEM para realizar a viagem de excursão com outros torcedores são-paulinos. Tio Marcos, Kiko e mais um amigo iriam se deslocar um dia depois, pela tarde, de avião, também a partir de Maringá. Nosso ponto de encontro seria uma banca de jornal localizada numa praça situada na frente do portal principal do estádio. Que eternidade para o tio Marcos chegar com

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 227


o Kiko e amigo! A cidade de São Paulo parou por causa desse evento e acabaram pegando muito trânsito no deslocamento do aeroporto até um local próximo do Morumbi. Minutos antes do jogo começar, ouço gritos do tio Marcos me chamando para avisar que estavam na área. Demos um rápido abraço e logo rumamos para o portão em que ingressaríamos para assistir ao jogo. Para mim, não tinha explicação: algo que só via na TV, estava ali presenciando ao vivo: aquela enorme multidão, foguetórios, os gritos e cânticos da torcida. O final da história todos já sabem. Deu tudo certo. Era o nosso dia, o meu dia! E meu tio Marcos estava ao meu lado. Fizemos um gol no primeiro tempo, e o Atléthico/PR perdeu um pênalti marcado no minuto final do primeiro tempo. Assistimos meio sem entender à defesa do Rogério Ceni, bem atrás das traves em que foi batida a cobrança. O segundo tempo foi bem mais tranquilo, embora não menos emocionante. Os gols foram saindo e acabamos goleando o time paranaense por 4 gols de diferença. Comemoramos muito, vimos a taça ser erguida, a volta olímpica, enfim, ficamos praticamente até o último minuto no campo. Ali na frente do Morumbi nos despedimos. “Ganhamos nosso presente de aniversário de maneira antecipada”, brincamos meu tio e eu. Voltei para o local onde o ônibus da excursão nos aguardava para iniciar o retorno à Maringá/PR. Quanta alegria ali, todo mundo extasiado e rouco de tanto gritar. Tio Marcos, Kiko e o amigo ainda iriam comemorar o título em algum bar de São Paulo/SP. Ainda tem mais do ano de 2005. Era 18 de dezembro. Final da Mundial de Clubes no Japão. São Paulo Futebol Clube contra o Liverpool. Com quem eu estava naquele domingo bem cedinho? Com meu tio Marcos, na sala da casa dele. Kiko não pôde assistir ao jogo conosco, porque tinha compromisso em Presidente Prudente/SP ou algo parecido. Eu e tio Marcos, sozinhos, em Campo Mourão/ PR, vimos a partida pela TV. O final da história todos já

228 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


conhecem também. Fomos campeões, após intenso sofrimento promovido pela equipe europeia. Era um timaço inglês, detentor de inúmeros recordes até aquela partida. Mas Rogério Ceni brilhou. E o Mineiro, quem diria, nosso camisa 7, fez o golaço que nos garantiu a suada vitória naquela bela manhã. De novo, era o nosso dia, o meu dia! E meu tio Marcos estava novamente ao meu lado. No fim do jogo, claro, muita comemoração, foguetório do tio Marcos nas redondezas de sua casa, ligação para o Kiko e amigos. E assim vivi, mais uma vez, um dos dias mais felizes da minha vida. Muito obrigado, querido tio Marcos, por me fazer são-paulino roxo, nosso ponto, sem dúvidas, mais comum entre tantos outros. Esse ponto comum que agora tenho o privilégio de compartilhar, com muito amor, com meu filho, Henriquinho, que desde sempre soube: somos são-paulinos por causa do tio Marcos! DEPOIMENTO

TIO DO CORAÇÃO

por TIAGO CORPA TAMBELINI Tenho muita gratidão pelo meu tio. Só me lembro de coisas boas dele em relação a mim. Graças a ele eu aprendi a nadar. Por quê? Eu era bem criança e ele com seu jeito brincalhão, me viu dando bobeira na beirada da piscina e me empurrou. Minha mãe, na mesma hora gritou: - Marcos, o Tiago não sabe nadaaaaaarrrrrr. Ele só tirou os óculos e pulou na piscina, de roupa e tudo para me tirar da água. Depois disso, meus pais me matricularam na natação, que é o único esporte que pratico até hoje.

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 229


Carrinho do “picolezeiro” que foi autorizado pelo tio Marcos a nos entregar quantos picolés quiséssemos. Na direção do carrinho, Rafael, o primogênito dos netos.

Também me lembro de ele parar um “picolezeiro”, em frente à casa da vó Fifi e autorizar o garoto a nos entregar quantos picolés quiséssemos. Temos uma foto de todos netos em frente ao carrinho de sorvete, estando nosso primo mais velho, Rafael, na “direção” do carrinho. Meu tio sempre teve umas tiradas engraçadas e quando fazíamos perguntas bobas, ele nos chamava de Pedro Bó. Nós não conhecíamos o Pedro Bó, mas sabíamos que era gozação. Eu e meu irmão éramos estudantes em Maringá e quando íamos nos despedir dele, ele nos dava um dinheiro e dizia: para vocês tomarem um refrigerante. Olha, dava para tomar uns 2 fardos de refrigerantes naquela época. Tio, obrigado por tudo que o senhor representa para nós: exemplo de homem íntegro, profissional impecável e tio maravilhoso. Sou grato a Deus por ter nascido seu sobrinho.

230 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


DEPOIMENTO

MEU IRMÃO

por MÔNICA CORPA A lembrança mais remota que eu tenho do meu irmão Marcos é de mais ou menos 1966, quando ele veio passar as férias na nossa “nova” casa, em Três Lagoas (MS). .

Com a mudança da família, em 1963, ele ficara morando na casa da saudosa tia Anna, em Adamantina (SP), e depois fora estudar no Colégio Americano de Lins (SP). Com isso, eu achava que meus irmãos eram somente os que estavam sempre conosco e lembro-me perfeitamente de perguntar à nossa mãe se ele também era meu irmão. Tenho uma vaga lembrança dela fazendo doces, bolachinhas para levarmos até Lins. O Marcos sempre foi muito chegado a doces e minha mãe muito dedicada a agradar aos filhos. Em 1969, nós nos mudamos para Andradina (SP), e ele e o Adilson, o mais velho dos cinco irmãos, passaram a vir com mais frequência até a casa paterna. Muitas vezes, junto com eles, vinha o saudoso primo, Jesse, e ficávamos até muito tarde conversando, rindo das histórias de Curitiba, da república e universidade deles. Houve uma vez em que ele apareceu em um jornal de Curitiba, porque junto com amigos foram recepcionar o time do SPFC no aeroporto. Meu pai nos fez são-paulinos convictos. Dos cinco irmãos, somente um preferiu outro time... Quando eu tinha 15 anos, meu pai teve que afastar-se do trabalho. Foi o Marcos quem veio para tomar conta tanto da loja, como da nossa casa e nos fazer companhia. Eu estava pegando gosto pela cozinha e sempre tentava fazer agrados com comidas gostosas. Ah, meu Deus, fui fazer uma pizza e confundi orégano com erva doce... Ele sentiu um

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 231


gosto esquisito e logo os que estavam à mesa perceberam o meu erro e caíram matando em cima de mim... Foi gozação por muito tempo... Claro que nunca apelei porque eu sabia que, se o fizesse, seria ainda pior. Quando concluiu a Residência em radiologia, na Santa Casa do Rio de Janeiro, fui com ele para buscar sua “mudança”, em um fusca que ele havia ganho do meu pai ao formar-se em Medicina pela Universidade Federal do Paraná. Ele me levou para conhecer a cidade e até hoje lembro-me de suas explicações sobre a praia do Leme, em relação a Copacabana, e do Arpoador, em relação a Ipanema. Toda vez que vejo imagens da ponte Rio-Niterói, recordo de que passei por ela com meu irmão querido. Nessa mesma ocasião, ele me levou a Petrópolis. Paramos na serra para tirar fotos e fomos à Catedral de Petrópolis e ao Quitandinha. Pena que o Museu Imperial estivesse em reforma, mas isso não apequenou aquele passeio mágico e inesquecível. Posteriormente a isso, nosso pai ficou bem doente e o Marcos, sempre muito generoso, suprindo nossas necessidades quando nosso pai esteve impossibilitado de fazê-lo. Não posso deixar de mencionar que, quando ele comprou um carro com o próprio dinheiro, um Corcel II, me deu a chave para andar o quanto quisesse pela cidade de Andradina. Também fomos a Adamantina – eu dirigindo... Foi a primeira vez que peguei um carro na estrada e me senti muito importante. Hoje é comum as mulheres dirigirem, mas, à época, 1979, não era – e ele, como uma pessoa sempre à frente do seu tempo, foi meu grande incentivador em todos os quesitos. A meu ver, ele é o filho que mais puxou ao nosso pai, que também tinha muita visão comercial e facilidade em se comunicar com as pessoas. Aos 21 anos, casei-me, e ele e a Derci foram meus padri-

232 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


nhos de casamento. Em seguida, vieram meus filhos, são-paulinos como ele, e por causa dele (risos), que nunca lhes deixou faltar uniformes e agasalhos do time do coração. Houve uma vez em que o nosso irmão mais novo tentou dar um agasalho do Santos para o meu caçula, Tiago, mas ele, já na loja, disse à minha ex-cunhada que queria o agasalho do São Paulo. Para o Marcos, foi o máximo e, por muito tempo, rimos muito da tentativa frustrada do nosso irmão de converter o Tiago a santista. Do meu filho mais velho, Henrique, ele é padrinho três vezes: de batismo, crisma e casamento. Sempre foi um tio maravilhoso, atencioso e muito respeitado pelos meninos. Em 1996, passei no vestibular de Direito. Era meu segundo curso superior. Não raro, cansada de trabalhar durante o dia e estudar à noite, eu comentava com ele que estava tentada a abandonar o curso, mas ele dizia: “final do ano que vem, você passa para o terceiro ano”, “final do ano que vem, você passa para o quarto ano” (risos) e, assim, foi me convencendo a continuar, a não desistir. Em decorrência dessa força que ele me deu e de tantas outras vezes que foi solidário, dediquei somente a ele meu TCC do Direito. Eu precisaria de muitas páginas para contar nossas histórias, com fatos comprobatórios de o Marcos ter sido sempre muito próximo, carinhoso, atencioso. Também me faltam adjetivos para qualificar satisfatoriamente meu adorado irmão... Então, limito-me a dizer que sou muito grata a Deus por ter-me concedido o privilégio de ter esse irmão sempre ao meu lado, na dor e no amor.

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 233


DEPOIMENTO

MEU SOBRINHO

por TEREZA CORPA VENDRAMINI Os filhos do meu irmão, Tonico, sempre foram muito queridos e atenciosos com os tios e avós. Dentre eles, está o Marcos, falante, comerciante nato como o pai. Uma característica marcante desse sobrinho, que sempre me vem à mente, é o fato de ele gostar de doce. Nunca me esqueço, no ano de 1963, ele morou em Adamantina (SP), na casa da minha saudosa irmã Anna, por ocasião de seus pais estarem em fase de adaptação, decorrente da mudança da família de Caconde (SP) para Três Lagoas (MS). Nessa época, eu e minha família morávamos na Fazenda Jacutinga, próxima a Adamantina e eu fazia panelas enormes de doce de leite (pastoso), daqueles que ficam clarinhos e levava um pirex enorme para minha irmã. O mais gratificante era ver o Marcos saborear o doce. Não era como outras pessoas comendo, era uma cena muito especial, pois ali você via o agradecimento e o prazer em degustar minha iguaria. Há quem diga que cozinhar é um ato de amor, mas a pessoa que saboreia um prato seu como o Marcos saboreava aquele doce, também exala amor e aquela cena jamais saiu das minhas doces lembranças. DEPOIMENTO

MEU SOGRO

por JOSÉ LUIZ GURGEL JÚNIOR Inicialmente, necessário esclarecer que minha participação nessa obra busca contribuir, por pouco que seja, com histórias vivenciadas conjuntamente; contudo, não poderia deixar de repassar aos amigos leitores o meu pon-

234 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


to de vista acerca de pessoa que veio a se tornar figura muito importante em minha vida, quer seja por corroborar ou solidificar valores que já possuía, quer seja por me repassar ensinamentos que somente a experiência, aliada a um digno caráter, podem ministrar. Mas que fique muito claro: minha pequena participação não se resumirá a apenas homenagear ou enaltecer os feitos desse grande homem, vencedor e companheiro, mesmo porque encômios não faltarão. Antes de mais nada, por entender ser imprescindível, ressalto um aspecto que sempre me chamou muita atenção no Marcos Corpa, aquele que diz respeito à fé. Deus, que tenho como sinônimo de amor, acredito ter essa significância e valor para ele também. Marcos é possuidor de uma fé enraizada, que não transige, que é inegociável. E isso ele transpõe em suas ações. Não fica apenas no campo teórico. Tais valores, como dito, inegociáveis, foram repassados à minha esposa e estão sendo repassados aos nossos filhos. Esse aspecto do Marcos, sua crença em Deus, nos seus ensinamentos e a obediência àquilo que Jesus transmitiu, reforçam ainda mais minha admiração e respeito. Desnecessário falar das inúmeras caridades feitas, mesmo porque são praticadas no anonimato para assim permanecerem. Mas eu, que convivo com ele, posso afirmar que não se trata de um fariseu, que não faz o que prega. Marcos é um cristão com C maiúsculo, e esse ponto não poderia deixar de ser abordado. Passando agora ao campo terreno, a primeira lembrança que trago do Marcos Corpa, sujeito um tanto quanto “fechadão” para quem não o conhece, ou melhor explicando, meu primeiro contato direto com ele (digo direto porque sempre o conheci – e quem nessas plagas não o conhece???), deu-se de forma um pouco inusitada para mim. Eu devia estar entre meus 11 ou 12 anos de idade quando, em um sábado à tarde, antevéspera de Natal, fui jogar futebol

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 235


em uma chácara na Usina Mourão (mais precisamente na antiga chácara dos funcionários do Banestado). Pois bem, tive um choque violento com um colega e machuquei o joelho, não conseguindo andar. Fui levado com muito jeito para casa, uma vez que não sabíamos a gravidade e nem ao certo o que fazer, ou como tratar. Meu pai lembrou-se do Marcos, da clínica do Marcão, que obviamente estava fechada. Isso já era quase noite, perto das 19 horas. Ligou para ele, meio sem esperanças, afinal não éramos íntimos, mas, de forma até espantosa, fomos surpreendidos com a maneira como nos acolheu. Ele se deslocou até a clínica, sozinho, abriu seu estabelecimento para nos atender e realizou todos os procedimentos que estavam ao seu alcance, com presteza e atenção, sem exigir nada, sem apressar os exames, sem requisitar pedido de outro colega, nada. Apenas fez o que podia fazer, e da melhor maneira que sabia fazer. Aquela atitude me marcou profundamente pois, conforme dito, não fazíamos parte do seu rol de amizades; não se tratava, portanto, de um filho de amigo que ele estava socorrendo num sábado à noite. Graças a Deus não foi nada grave, recuperei-me bem e a tempo de poder correr de novo atrás da pelota e, ironia do destino, atrás da filha mais velha dele... se ele imaginasse! Somente o fato pitoresco é que não poderia faltar. Mesmo estando eu sofrendo de dor, e ele percebendo, não perdeu a chance de dar uma alfinetadinha, com o humor irônico e ácido que lhe é peculiar. Eu ainda estava na maca da clínica com a roupa de jogo, e usando um calção do Palmeiras, meu time do coração, quando ele, ao me ver deitado, não resistiu e soltou a pérola: “Também, com esse shorts... se fosse um do São Paulo nada disso teria acontecido”. Que barbaridade! Tão inteligente, tão humano e prestativo e, ao mesmo tempo, horroroso na arte de escolher sua agremiação! Brincadeiras à parte, tenho plena certeza e convicção 236 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


que esse fato se tornou corriqueiro na trajetória do meu sogro. E digo convicção porque testemunhei, em outra feita e por razões médicas diversas, mas com roteiro extremamente parecido, ele assim agir quando precisamos examinar nosso saudoso amigo Silvio Turci. Só que desta vez, era um domingo. Ele não mediu esforços e fez o que pode para ajudar o Silvio. Por essas e outras que não preciso bajular o Marcão. A história dele foi ele quem escreveu. O roteiro foi preenchido com boas ações, com exemplos, com o legado que já deixa em vida. Como disse alhures, ele faz o que pode e da melhor forma que pode. Erra, como todos nós, mas não por falta de hombridade ou retidão, e jamais por omissão. Ele nem imagina, mas minhas intenções para com sua filha, hoje esposa, Maria Carolina, vêm de longe. Obviamente, ela sempre se fez respeitar, mas não dá para negar que sempre tive aquela sensação de que o pai da moça é muito bravo. O Marcão não é bravo. É sério, correto, direito, honesto e trabalhador. Tem seus defeitos? Como todos nós..., mas é um baita companheiro. Só quem já precisou do Marcos, como eu precisei, é que sabe. Quando comecei meu namoro, depois consolidado em matrimônio, e passei a conviver com essa figura humana ímpar, minhas impressões e sentimentos se revigoraram e amadureceram. São inúmeros os casos, as passagens que presenciei, sempre notando um coração maior que o corpo, uma sensibilidade imensa e uma vontade gigantesca de dar o melhor de si. Preguiça ou indisposição, ele desconhece. Em algumas viagens que fizemos, já me deparei com situações onde ele, já exausto, sempre se pôs a postos para ajudar no que for preciso. Assim como já o peguei “zoando” um torcedor rival infanto juvenil, por entender que nunca é tarde para converter alguém em são paulino. Quando o assunto é o time do São Paulo, a coisa fica séria.

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 237


Para ilustrar a afirmação supra, relato que, certa feita, fui buscar o ex-jogador Alex, que jogou pelo Palmeiras, seleção brasileira e times do exterior, com grande sucesso, no aeroporto de Maringá para trazê-lo a Campo Mourão. E é fato público e notório (como não poderia deixar de ser) que esse craque certa feita marcou um golaço, em pleno Morumbi, contra o São Paulo, aplicando dois chapéus, um na zaga são paulina e um no então goleiro Rogério Ceni. Durante a viagem contei ao ex-atleta que meu sogro era são paulino fanático e pedi a ele que gravasse um vídeo para o Marcão, dizendo que não teve a intenção de humilhar ninguém (apesar de ter humilhado, sem sombra de dúvidas) e em tom de brincadeira. Ele, supersimpático e educado que é, gravou um vídeo muito respeitoso, apenas mandando um forte abraço para o “Marcão” e dizendo que não tira sarro de ninguém. Vocês, leitores amigos, acham que o Marcos Corpa assistiu ao vídeo? Nunca parou para ver e, ainda hoje, mesmo eu explicando que o Alex não está de sacanagem com ele, nega-se a ver. Esse é o Marcão. Orgulhoso, teimoso como uma porta, esse é o Marcão. Eu diria, convicto! Esses traços, esses valores são aqueles que acredito serem os que importam e, por isso, tenho orgulho que meus filhos tenham o avô materno que têm. Quero que eles sigam seus exemplos, sua conduta e também se orgulhem de dizer que são seus netos. Por isso, não é fácil escrever em livro que conta sua história, pois são tantas, e contadas por tantos vieses e ângulos, com tantos personagens, que se torna realmente difícil falar sobre ele. De qualquer forma, procurei repassar minhas impressões e meu verdadeiro sentimento, o que realmente nutro por ele, todo meu carinho e respeito. Além de contar a vocês um pouco de suas peripécias. Pelo menos as que

238 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


presenciei. Forte abraço Marcão e que Deus continue te abençoando. DEPOIMENTO

TIO MARCOS

por FERNANDA AGULHON CORPA Conheço o tio Marcos há apenas oito anos, antes de ser sua nora tinha a impressão dele ser uma pessoa fechada, meio sério ou bravo! Desde que entrei na família vi que não é nada disso, muito pelo contrário, conheci um homem de coração enorme que soube ensinar isso ao seu filho (meu marido e posso presenciar muitas cenas assim), que adora fazer brincadeira, uma piada, contar do seu passado, e o principal tomar um bom vinho reunido com seus amigos. Aliás, fazer uma festa é com ele mesmo. Isso eu não presenciei tanto mas sempre ouvi que foi um médico muito trabalhador, competente, acreditou na sua cidade e fez muito por ela... “deu a vida pelo trabalho” (talvez aqui não usaria “deu a vida”, pois ele tá vivo, mas quis dizer que “quase ele viveu para trabalhar, pode mudar o que você quiser) já ouvi histórias que ele corria pela clínica de meias!!! Hoje posso dizer que conheço mais outra profissão dele, de fotógrafo, pode ser um pôr do sol, um pé de milho, umas árvores secas, seus netos e ele transforma em uma recordação maravilhosa! Nesses oito anos nunca ouvi uma pessoa dizer nada ruim sobre ele, somente ouço elogios e o quanto ele é uma pessoa boa. Só tenho a agradecer por ter ele como meu sogro!

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 239


DEPOIMENTO

QUEM DIRIA QUE SERIA MEU SOGRO por JOÃO PAULO BURIHAN FARIA

Marcão, quem diria que um dia você se tornaria meu sogro. Lembro-me bem do dia em que cheguei a Campo Mourão no ano de 2006 e precisava encontrar um local para morar, foi quando passei em frente ao seu imóvel e liguei no celular da faixa que anunciava “Aluga-se”, foi quando você atendeu e já logo me respondeu que não tinha nenhum loft disponível, foi quando te perguntei, “mas não esta escrito na faixa aluga-se?”, e você já me disse curto e grosso, “a faixa é para alugar a sala comercial, os lofts estão ocupados, procura o Lincoln que ele tem apartamentos para alugar”. Após quinze dias do ocorrido, apresentei um quadro de sinusite e precisei fazer um raio-X em sua clínica, na qual fui muito bem atendido, me tirando a primeira impressão que tive de você. Em 2012 fomos juntos a Curitiba e comentei durante a viagem que estava pensando em montar uma empresa, porém estava apreensivo, e você com toda sua franqueza me disse, “já está atrasado, montei a minha empresa com 26 anos”. Na época, estava com 32 anos de idade. Esta situação e tantas outras me encorajaram e me ajudaram a chegar onde estou hoje. Agradeço por todo o seu carinho e apoio a minha família, a qual estará sempre e literalmente ao seu lado, pois somos muito mais que parentes, somos seus vizinhos, amigos e companheiros.

240 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


DEPOIMENTO

MEU PAI: O MELHOR

por MARIA CAROLINA CORPA GURGEL Meu pai é um homem simples e direto. Para ele não existem meias-palavras ou meias-verdades. É o dito preto no branco. À primeira impressão ele é um homem sério, mas ela logo se desfaz com uma piada na sequência. Sempre tem uma na manga para contar. Essa é uma das suas principais características, que logo vem acompanhada da sua conhecida risada. Para nós, seus filhos, ele sempre foi um pai amoroso, dedicado, nosso porto seguro, para quem sempre recorríamos quando algo saía diferente do esperado. Sempre soubemos que ele sempre estaria ao nosso lado, fosse para nos socorrer ou nos corrigir, mostrando o caminho certo. Assim como a criação que ele recebeu dos meus avós, ele nunca nos deu a opção de não estudar. Sempre nos apoiou e nos deu condições de estudarmos em boas escolas, mas em contrapartida precisávamos mostrar que estávamos fazendo a nossa parte. Honestamente, quando adolescente, sempre ficava me questionando se realmente era preciso estudar tanto quanto ele nos cobrava, mas hoje, agradeço a Deus todos os dias por ter tido esta educação e essas oportunidades. Acho que ele sabe que sempre foi um exemplo para nós e que sempre o admiramos, haja vista que nós três (filhos) somos médicos radiologistas. Não que isso tenha sido uma imposição, mas sempre nos espelhamos nele e quisemos estar naquele papel que ele desempenhou e desempenha com tanta maestria. Meu pai sempre foi um batalhador que conquistou o que tem por mérito próprio. Não nasceu de família abastada, mas sempre foi incentivado pelos meus avós a estudar, para ter um futuro melhor. E assim o fez. Estudou e trabalhou muito, e assim foi fazendo seu “pé de meia”. Por muiMARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 241


tos anos ele trabalhava de segunda a sexta-feira na clínica e todo sábado de manhã ia para a fazenda, não para passear, mas para trabalhar lá também. Aos domingos sempre tocava o telefone da minha casa pela manhã, era sempre de algum hospital pedindo para ele fazer exames de pacientes internados. E ele ia, sem reclamar. Não descansava nunca. E assim foi por muitos anos, até que por insistência da minha mãe ele vendeu a fazenda para poder descansar pelo menos aos sábados. Sempre pronto para ajudar quem precisasse, desde amigos, parentes até os mais necessitados. Até hoje em todo natal ele pega cartinhas de natal nos correios e realiza o sonho de algumas crianças. Sem alarde e sem fazer propaganda. Eu mesma já fui algumas vezes levar esses presentes de surpresa para algumas crianças e é realmente emocionante a felicidade delas. Ele se preocupa com detalhes que passam despercebidos para a maioria das pessoas, como uma vez em que ele levou o seu barbeiro para cortar os cabelos das crianças de um orfanato. Um gesto tão simples, mas tão especial. Eu poderia escrever mais muitas linhas como essas, e mesmo assim me esqueceria de muitas passagens. Eu sou a filha mais velha. Meu nome foi dado pelo meu pai em homenagem à avó materna dele, Maria Carolina, que faleceu pouco antes do meu nascimento. Ele gostava muito da avó e prometeu a ela que se tivesse uma filha daria o seu nome a ela. Espero corresponder a esta responsabilidade à altura. Sempre ouvi que pareço muito com ele. Fisicamente e em alguns trejeitos e manias. Confesso que fico lisonjeada. Ele sempre foi um paizão! Cuidava muito de nós, filhos, quando pequenos, sempre nos acompanhou de perto, me levou para prestar alguns vestibulares, comemorou muito as nossas aprovações, formaturas, congressos de radiologia, casamentos e os nascimentos dos netos.

242 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


Sempre presente e participativo, na época da faculdade, quantos domingos ele e a minha mãe viajavam 270 km só para almoçar comigo e com o meu irmão e retornavam para Campo Mourão no mesmo dia. Tem orgulho de falar que os filhos estão dando continuidade para a sua carreira. Quando os meus filhos nasceram, ele entrou na sala de parto dos dois com a sua câmera, claro, para registrar tudo! E depois ele ficava “namorando” cada fotografia, revelava e distribuía as fotos, com o maior orgulho dos netos. O meu filho mais novo, Enrico, nasceu prematuro e precisou ficar uma semana na UTI neonatal. Meu pai ia todos os dias vê-lo. Levava bolo para o pessoal da enfermagem para agradecer o cuidado com o neto. Sempre grato e zeloso com todos. Eu poderia escrever mais muitas páginas e com certeza me esqueceria de citar passagens e virtudes do meu pai. Hoje eu só queria agradecer por tudo e por tanto. Com certeza ele não é perfeito, mas é o melhor pai para mim e para os meus irmãos, um marido zeloso, companheiro e um avô amoroso. DEPOIMENTO

MEU PAI: MOTIVO DE ORGULHO por MARCOS ANTÔNIO ERCOLI CORPA

Para começar carrego o nome dele, algo que sempre foi motivo de orgulho, responsabilidade e muitas confusões, algumas engraçadas. Meu nome é Marcos Antônio Ercoli Corpa, assim o primeiro e último são iguais. Quando precisava ligar em algum lugar que não me conheciam logo na adolescência, como em um banco, onde ninguém sabia quem eu era, não tinha dúvidas, me identificava como Marcos Corpa e tudo fluía mais fácil, lógico pela seriedade e credibilidade que meu pai tinha. Na faculdade e residência tudo bem eu ser o Marcos Corpa, mas quando voltei para Campo Mourão para trabalharmos juntos, tentei no

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 243


começo identificar-me como Marcos Corpa Filho, Marcos Ercoli e sempre dava confusão, enfim, sou o Kiko Corpa, para facilitar e não deixar alguma falha minha comprometer meu pai. Desde pequeno sempre fui muito apegado a meus pais, tive alguns medos da infância e só ficava bem com um deles ao meu lado. Enxergava minha mãe como minha companheira, mas meu porto seguro sempre foi meu pai. Nos finais de semana, ele sempre ia para uma das fazendas, não gostava de ir, mas como ele geralmente ia sozinho, ia junto, naquela época obviamente não tinha celular ficava angustiado enquanto ele não voltava. Tinha um medo que durou até eu me formar, onde pensava “Bem, se eu perder meu pai, como vou assumir o lugar dele como homem da casa? Quem vai nos sustentar?”. Assim, não tive dúvidas, sempre estudei na escola, faculdade e residência para poder terminar assim que possível e estar pronto para poder vir trabalhar junto dele. Voltei para Campo Mourão em 2012, e desde então, trabalhamos juntos. Muitas vezes tenho que assumir algumas responsabilidades, mas sei que ainda posso contar com o verdadeiro Marcos Corpa ao meu lado. Não sou um filho e um pai muito afetivo assim como ele. Temos dificuldades em manifestar nosso amor em palavras. Isso sempre procuramos demonstrar através de atitudes, como uma ligação rápida e objetiva, e principalmente com presentes. Porém, esse é o momento de demonstrar em palavras, mais fácil por sinal, todo meu carinho, respeito e admiração por você meu Pai.

244 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


DEPOIMENTO

MEU PAI: MEU MELHOR AMIGO por ANA CRISTINA CORPA FARIA

Eu sei que cheguei por último, sua caçulinha que não foi nada planejada, mas que veio como seu presente de quarenta anos, como você mesmo diz. Cheguei de mansinho e ganhei seu coração, coisa que não é difícil, pois ele é muito grande e sempre aconchega quem está ao seu redor. Orgulho-me muito de der sua filha, de poder estar sempre ao seu lado, tentando te ver bem e contornar todas as situações para te ver feliz, pois foi você que ao longo da minha vida que fez isso por mim. Você é uma pessoa do bem, corajosa, amorosa e muito preocupada com todos que o cercam. Não é por acaso que você chegou até aqui e tem uma linda história para contar. Você sempre nos faz questão de contar de onde veio, sua Caconde tão amada. Lembro-me de muitas vezes estar precisando de ajuda nos meus estudos e você com toda paciência se sentava para estudar comigo, e saiba que foi isso que me guiou até aqui, onde estou, trabalhando ao seu lado, com a segurança de estar sempre com o meu professor por perto. Durante várias etapas da minha vida você me ajudou a ir cortando aos poucos o cordão para eu poder ir me tornando uma pessoa madura, profissional, mulher e mãe, coisa que não é nada fácil, mas que pudemos ir passando por cada uma com muitas alegrias e algumas lágrimas, pois você é forte, mas ao mesmo tempo é muito sentimental. Você é meu amigo de todas as horas, pessoa com quem sempre posso contar, pois sabe como me entender. Algumas vezes você pode ter falhado, mas saiba de que como pai eu não me lembro. E hoje você se tornou o Vovô Corpa, quem a Ana Luísa ama muito, nossa pequena tão esperada,

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 245


quem você sonhou comigo até sua chegada. Obrigada por ser você, meu Pai. DEPOIMENTO

MEU ESPOSO

por DERCI ERCOLI CORPA Eu e o Marcos nos conhecemos em novembro de 1979 e nos casamos em junho de 1980. Para quem não nos conhece bem pode parecer que fomos apressados ou até precipitados, mas quem é do nosso convívio sabe que foi uma decisão acertada e que nós nos completamos. Desde o início da nossa parceria, sempre apoiamos um ao outro e nossos sonhos de casar, ter filhos, trabalhar para darmos o melhor a eles, passear pelo mundo foram realizados em perfeita sintonia. A princípio, eu fui esposa e mãe, cuidava da nossa casa e das crianças. Com o tempo, com as crianças maiores, senti necessidade e vontade de participar mais da vida profissional dele. Comecei cuidando do almoxarifado da clínica, cortei os desperdícios de materiais de consumo e fui abrindo os olhos do Marcos para não confiar tanto em todos, saber separar o lado pessoal do profissional. Não demorou muito tempo e eu já estava com as planilhas de despesas e receitas da clínica sob o meu comando. Também passei a acompanhá-lo mais em viagens profissionais, sempre com o intuito de apoiá-lo e fortalecer nossa parceria. Ele sempre foi muito ativo profissionalmente, buscou conhecimento, transitou em várias frentes da radiologia e é um orgulho para mim o fato de ter feito parte das conquistas dele. As crianças já estavam grandes quando fizemos nossa primeira viagem internacional à Disney, viajávamos pou-

246 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


co nesse período, porque as nossas despesas eram grandes. Vieram as faculdades, as residências e nós sempre priorizando os estudos deles. Foi depois deles formados que fizemos viagens inesquecíveis. O Marcos gosta de fotografar e nossas viagens foram bem aproveitadas em todos os sentidos, com muito respeito ao gosto um do outro. Hoje, me sinto realizada como pessoa, mãe e esposa que compartilha das decisões profissionais e pessoais dele, não fazemos nada sem antes trocar ideias, ou seja, temos vida de casal que se ama e se apoia. Com muita alegria, dividimos nossos dias com a nossa vizinha e netinha mais nova, Ana Luísa, pois a mãe dela precisa trabalhar e do nosso apoio. Nos finais de semana, vêm os outros netos e a festa fica completa. Os primos mais velhos são apaixonados pela pequena e nosso sentimento em vê-los juntos é de indescritível felicidade. Agradeço a Deus todos os dias pela nossa parceria pessoal e profissional. São 40 anos de união e podemos dizer que o tempo, os problemas e as alegrias só nos uniram e eu espero que assim seja até quando estivermos bem velhinhos, sempre unidos e rodeados pelos nossos filhos e netos.


Meu pai com a minha filha Maria Carolina, em Andradina.

Minha avó com a minha filha Maria Carolina, em Andradina.


Com a minha filha Maria Carolina.


Kiko, ainda bebê.

Com o Kiko, no Carnaval de 1985.


Com a Ana Cristina, a caçula da nossa família.


No primeiro aniversário da Ana Cristina.

Kiko, sempre são-paulino.

Os meus três filhos pequenos.

Família são paulina.


Maria Carolina, Kiko e Ana Cristina.


Carta do Kiko.

Carta da Maria Carolina.


Carta da Ana Cristina.


Kiko, Ana Cristina e Maria Carolina, crianças.


Festa dos Meus 50 anos

Família cantando parabéns na festa dos meus 50 anos.

Minha família.

Com a minha família na festa dos meus 60 anos.

Comemorando os 70 anos na Finlândia, com um grupo de amigos. Em Helsinque na frente do Palácio Presidencial na praça do Mercado.


Minha mãe, Fifi, na festa dos meus 50 anos.


Em evento festivo do Rotary, com minha esposa e filhos.

Primeiro Encontro da Família Corpa em Campo Mourão.

Aniversário de 90 anos da minha mãe Josefina.

Minha família.


Formatura em Medicina da Maria Carolina.


Formatura em Medicina do Kiko.


Formatura em Medicina da Ana Cristina.


Casamento da Maria Carolina com José Luiz Gurgel Júnior.


Casamento do Kiko com Fernanda Agulhon Corpa.


Casamento da Ana Cristina com João Paulo Burihan Faria.


Avô são paulino, pai também são paulino, neto são paulino e palmeirense.


Avô são paulino e neto palmeirense.


Netos aprendizes do avô.


Convite da festa dos meus 50 anos




PARTE VII ENCONTROS E REENCONTROS DA VIDA


Meu lado festeiro Festa de 50 anos Fiquei entusiasmado com a chegada dos meus 50 anos e decidi fazer uma festa para reunir os meus amigos e familiares. Naquela época, não existiam aplicativos de mensagens, como temos hoje o WhatsApp. Mandei e-mails, telefonei para os meus amigos e familiares e foram gratas surpresas as confirmações de presença de muitos deles. Fizeram-se presentes meus amigos do Piauí, de Belém do Pará, do Mato Grosso, do Rio de Janeiro e Chuí, vários radiologistas do Paraná – com excelência o doutor Sebastião de Curitiba. Também vieram pessoas de Paranavaí, Cianorte, Maringá e muitos amigos de Campo Mourão, bem como os familiares da Derci. De familiares meus vieram todos meus irmãos, meus tios paternos Fernando, Helena, Tereza, Cândida, Guiomar e Anna; tios maternos Dalka, Lili e Pedro, além da minha prima Ana Ercília e família que vieram de Uberaba. Outra presença também muito especial foi do amigo dos meus pais, Antônio Sabin que veio de São Paulo. Foi uma festa marcante, parecia “festa de polaco” e teve duração de uma semana. Na segunda-feira, comemoramos com os funcionários da clínica; na terça, com os meus companheiros do Rotary Gralha Azul. Na quinta, começaram a chegar meus amigos de longe e, no sábado, servimos o nosso prato típico - Carneiro no Buraco - preparado no ter-

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 273


reno da família Teodoro de Oliveira. A nossa amiga Sônia Pessa fez um vídeo sobre mim muito emocionante e ele foi exibido logo após o almoço. No sábado, à noite, houve a comemoração com maior número de convidados, no Salão de Festas do Hotel Cristal Plaza. No domingo, muitos parentes e amigos de fora almoçaram na nossa casa. O pessoal do Nordeste trouxe um pato congelado e preparou o famoso Pato no Tucupi. Foi um almoço paraense. A festa terminou na segunda-feira, com os amigos almoçando em casa, antes de partirem de volta às suas casas. Realmente valeu a pena a realização dessa comemoração. Todos os amigos de residência lembram até hoje desse nosso encontro, pois, depois dele, não tivemos mais a oportunidade de nos reunir. Festa de 60 anos Meus 60 anos foram comemorados no Clube 10 de outubro juntamente com os 20 anos da minha filha caçula Ana Cristina. Inspirados pela novela da época “Caminho das Índias”, solicitamos aos convidados que viessem vestidos de acordo com a temática e a grande maioria aderiu à nossa ideia. Foi uma festa marcante para todos que participaram, mexeu com a cidade e até os dias atuais nossos amigos comentam conosco sobre esse evento. Na comemoração, além de amigos e parentes de Campo Mourão, vieram de fora meu colega de residência e amigo, Hilton Koch, meus irmãos, Oscar Fonzar e família e parentes como meu tio Fernando com a esposa Carolina e meus sobrinhos Henrique e Tiago. 70 anos Para comemorarmos a chegada dos meus 70 anos, eu e a Derci optamos por fazer um cruzeiro pelo Mar Báltico,

274 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


com mais três casais de amigos. Foi uma viagem espetacular, temos tudo registrado em fotos lindas. O bom de viagens assim é que revigoramos a alma e, ainda, em contrapartida adquirimos conhecimento na prática, vivenciando e aproveitando o lado peculiar dos lugares. A idade nos faz rever as opções de comemoração e a viagem, atualmente, é a minha opção preferida.

Amigos de residência que vieram para o meu aniversário de 50 anos: Zilmar, Walter Soares, eu, Macedo, Dr. Sebastião, Pedro e Carlinhos (da esquerda para direita).

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 275


Um amigo não convidado Há, aproximadamente, 15 anos, recebi a visita de um amigo não convidado: o Parkinson. É um amigo com quem tenho convivido bem até aqui, haja vista que tenho motivos para me sentir confortável. Com essa visita, tive bons ganhos, fiz amigos e aprendi a valorizar as pessoas que me dão o prazer da convivência, não só da ordem médica, como da vida social. São situações, em princípio preocupantes, mas que nos levam a crescer e espiritualmente ser mais engrandecidos. Faço questão de destacar o meu amigo e excelente profissional doutor Orlando Barsottini, neurologista e o doutor Geraldo Busatto Filho, psiquiatra. Também me atendem com maestria: Sandra Lopes, fisioterapeuta; Érica Tardelli, neurofisiologista; Wilson G. Fernandes “Ralado”, personal trainer. Eu não teria conhecido essas pessoas/profissionais, teria sido privado do prazer da convivência, se não fosse pela visita do meu amigo não convidado. Ao longo da vida nos lembramos sempre de pedir benesses e materiais ou espirituais, porém, raramente nos postamos em situação de agradecimento. Com certeza, essa situação continuará a ser trabalhada e dela retiraremos exemplos que beneficiarão a todos que passam por essa situação. Finalizando essa que considero uma grande página da

276 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


realidade que me cerca, espero que tenha sido compreendida e que inspire outras pessoas que passam por essa situação a serem beneficiadas com a minha experiência.

Mundo pequeno Todas essas pessoas que convidei para contar histórias que vivenciamos juntos estão guardadas no meu peito. São pessoas especiais, que me ajudaram na trajetória da minha vida. Durante essa trajetória, pude encontrar e reencontrar diversas pessoas com as quais convivi, e não poderia deixar de contar esses “causos” antes de terminar o livro. Em 17 de junho de 1999, em uma de minhas visitas à cidade de Caconde, minha terra natal, tive o privilégio de reencontrar minha professora do primário: Professora Otília. Minha história com essa professora é muito interessante. No terceiro ano do primário, por azar, acabara reprovado na última prova do ano, e o marido dela era o meu professor nessa época. Nunca houve ressentimento da minha família para com ele, pelo fato de eu ter repetido de ano quando fui seu aluno. No quarto ano do primário, dona Otília foi minha professora, e percebeu meu esforço em sala de aula e me ajudou muito a desenvolver meus estudos. No nosso reencontro em 1999, ela me presenteou com um livro, “O poder do mito”, de Joseph Cambpell. Guardo esse livro com muito carinho até os dias atuais, pois marcou muito minha vida. Outros professores, que não poderia deixar de mencionar são os Doutores Valdir e Amoedo, figuras muito impor-

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 277


tantes para mim. Quando eles vinham para algum evento na região, sempre fiz questão de hospedá-los em minha casa, mostrando reconhecimento pelo que eles fizeram em minha vida. Aqui também falei com um professor de Ribeirão Preto, filho da minha antiga professora, Otília. Ele me ensinou ótica e nunca me esqueci dessa matéria. Quando estudava em Lins, conheci Juarez e Jurandir Silveira Pinto, e os reencontrei aqui na região. Há vários outros como o Osmar, um colega de Adamantina, que reencontrei em 1967, quando fui fazer vestibular. São muitas coincidências! Outra delas foi quando fiz o objetivo em 1967, em São Paulo. Meu professor se chamava Ivan, muito nervoso. O pessoal gostava de tirar sarro dele, e toda vez que ele virava, gritava: - OH, INFELIZ! Depois do cursinho nunca mais vi o professor Ivan. Já em Campo Mourão, em um dos meus aniversários, apareceu o Ivan, segurando um bolo. Outra grande coincidência, pois eram amigos do Raul e da Regina. Não foi somente no Brasil que tive esses reencontros, em minhas viagens também! Em uma delas pelo Uruguai, em uma cidade onde tem uma escultura que parece dedos gigantes, ouvi alguém me chamando: - Oh, Marcos Corpa! Olhei para o lado, era o Ronald Portugal, um médico que atuou em Campo Mourão durante um tempo de sua vida. Outra vez, em Cortina D’Ampezzo, na Itália, encontrei o Dr. Luigiano Coletty e sua família, que eram de Engenheiro Beltrão.

278 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


Em Barcelona, naqueles ônibus de turismo, encontrei um amigo das antigas de Curitiba, o Dr. Dante, com a família dele. Concluímos dizendo que a vida é boa e curta; e o mundo é pequeno.

Pensamentos sobre a atualidade Durante pouco mais de 71 anos de existência, percebi inúmeras mudanças no cotidiano das pessoas. A começar pelas crianças, que são bem diferentes das da minha época. Hoje não se pede mais bênção para o avô ou avó. Quando eu era pequeno, às vezes perguntava o que minha avó estava falando, e mesmo sem entender, concordava com ela. Também não existe mais o “senhor”, é só “você”, isso quando não xingam o pai e a mãe, respeito é algo que não existe mais. No passado, as crianças eram muito mais educadas. A adolescência mudou muito também. A maioria dos adolescentes é rebelde, não se importa com o futuro e dificilmente respeita os mais velhos. Recordo-me que, em 1965, pedi ao meu pai para sair, dar uma volta, e ele disse para eu ir dormir, e eu fui. Era uma relação de respeito mútuo. Acredito que a droga contribuiu com isso. Sem falar que hoje o namoro é bem diferente de quando eu era jovem. Era difícil até o pai deixar pegar na mão da garota.

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 279


Além disso, os alunos de um modo geral também não respeitam mais os professores. A convivência na escola mudou de um modo geral. Certa ocasião, ainda na escola, um colega de Maringá, de maneira simplória chamou a cidade de Apucarana de “pucarana” e o professor deu um esporro nele. Ficou por isso mesmo, não houve retaliação ao professor. Tudo está muito mudado. Atualmente acabou o respeito, jovem acha que ele é o bom da boca. Não adianta achar que os filhos vão seguir nosso exemplo, são de outra época, temos que entender isso para não nos frustrarmos. Apesar dessas mudanças, acredito que algumas nunca vão mudar. Por exemplo, acredito que a melhor maneira de se chegar nos pais é por intermédio de seu filho. Eu, particularmente, sempre me dei bem com os pequenos, às vezes cuidava dos filhos de amigos, os levava para jogar bola e encontrava crianças em viagens, como foi o caso que contei enquanto estava na Disney. Independente da época, do ano ou do lugar, as crianças sempre serão o melhor jeito de abordar os adultos, pois são puras de coração e ao entretê-las você ganha a confiança dos pais/adultos. Tenho muitas opiniões sobre diversos assuntos, mas decidi colocar apenas essas neste livro para mostrar o contraste das gerações, para que as pessoas vejam como nosso mundo está mudado, e quem sabe, consigam fazer algo para reverter essa situação, trazendo de volta o respeito que existia tempos atrás.

280 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


Gratidão A jornada que vivi aqui na Terra foi muito satisfatória. Conheci várias pessoas que carrego no meu peito com carinho, e fico triste de não poder mencionar todas neste livro. Se pudesse, faria um livro somente com os nomes das pessoas que contribuíram de alguma forma em minha trajetória, mas, como não posso, deixo aqui alguns destaques que não poderia deixar de mencionar: Aos meus tios, que sempre me ajudaram em diversos trechos de minha vida, sempre me dando recursos e apoio para me tornar quem eu sou hoje; Ao senhor Assis Pequito, que me ajudou a comprar a clínica; Ao senhor Ariovaldo Gavioli, que cedeu a compra do terreno do lugar onde fica minha clínica, e saliento aqui que ele fez isso, não pelo dinheiro, mas pelo bem de Campo Mourão, e diversas outras que me auxiliaram a erguer e ampliá-la para tornar-se a referência que é atualmente; À minha esposa, Derci, que esteve ao meu lado nos momentos bons e ruins de minha vida; Aos meus filhos, que tenho orgulho em dizer que seguiram meus passos e hoje me ajudam no comando da clínica. Por fim, não poderia deixar de mencionar meu finado pai e minha mãe. Sem eles, eu não teria chegado a lugar algum. Sem eles, eu teria ficado em Caconde, sem expectativa de crescer na vida. Sem eles, eu não seria o conhecido

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 281


Doutor Marcos Corpa. A eles devo gratidão por terem sido a base da minha vida, e por me guiarem para tornar a pessoa que sou hoje. Todos os nomes que aqui menciono são importantes para mim de tal maneira que nem consigo calcular, pois foram fundamentais para o sucesso que alcancei. Essa foi/é minha história, marcada por grandes alegrias, pessoas especiais, tristezas, momentos de sorte e muitas reviravoltas. Sou grato por ter vivido cada momento de minha vida, e deixo minha história registrada nas linhas deste livro para que, assim, ela não se perca em minha memória e fique eternizada para as gerações futuras.

282 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


Com lideranças do município: Tauillo Tezelli, Lilian Claudino, José Luiz Gurgel, Iran Roberto Brzezinski, Eu, Fátima Nunes e Francisco Claudino.


Hilton Koch - colega de residência. Abdias - técnico em Raio X.


Com meu filho Kiko e o amigo Marco Kunzler.


Aqui termina o primeiro volume das histórias dos Corpinhas. E ela continua..

Eu e minha esposa, Derci, companheira de todas as horas.



Eu e minha neta, Helena, a primogênita dos netos: menina amorosa, falante, conquista a todos com sua simpatia.


Eu meus netos, Enrico e Benício Vovô é fã deles!!! (da esquerda para direita)


Eu com a caçulinha da família, Ana Luísa, no colo, ladeado pelo Enrico, Helena e Benício. Meus netos, meus amores.



Eu e meus netos Benício, Helena e Enrico. Que a vida deles seja sempre colorida, uma aquarela brilhante!!! Amor que não cabe no peito de um avô coruja.


Com a princesinha Ana Luísa, nossa caçulinha que alegra nossos dias.


Maria Carolina, Ana Cristina, eu, Derci e Kiko. Meus filhos, por quem fiz e faria tudo novamente.



REFERÊNCIAS

ADAMANTINA: In: IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/sp/ adamantina/historico. Acesso em: 6 nov. 2020. CACONDE. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2021. Disponível em: <https:// pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Caconde&oldid=60165157>. Acesso em: 20 mai. 2020. USINA HIDRELÉTRICA ENGENHEIRO SOUZA DIAS. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2020. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Usina_Hidrel%C3%A9trica_Engenheiro_Souza_Dias&oldid=59741504>. Acesso em: 6 nov. 2020. WACHOWICZ, Ruy. História do Paraná. Curitiba: Editora Paraná Cultural, Curitiba, 1969.

296 POR ONDE ANDEI

MARCOS ANTONIO CORPA


CRÉDITOS

Acervo da Família Corpa Acervo da Nova História Acervo de Jair Elias dos Santos Junior Fotografias de Marcos Antônio Corpa Fotos de Fernando Nunes Fotos de Graci Polak

MARCOS ANTONIO CORPA

POR ONDE ANDEI 297


Esta obra foi composta nas tipografias Futura e Malaga e suas famílias e impressa para a Nova História Assessoria e Gestão Cultural em Maio de 2021.




Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.