Foto: Bertrand Linet
C APĂ? T ULO 10
Como Imprimir Nosso Planejamento e Desmanchar o Plano do Paciente
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Cap. 10 - Desmanchar o Plano do Paciente
A sociedade contemporânea brasileira ainda mantém os resquícios da época colonial, em que a vontade do senhorio prevalecia sobre a autonomia do profissional. É o “mandonismo” cultivado e transmitido de pai para filho, que se transformou numa cultura hereditária e sobrevive em nossos dias na Odontologia, ao contrário de outras profissões. De forma inocente, automatizada, o paciente senta-se na cadeira e dá as ordens para o dentista executar. Seu ponto de vista, na maioria das vezes, se restringe a uma autovisão estética pequena, limitada, por não ter a condição abrangente de avaliar sua própria saúde oral. E, quando o profissional cede para não desagradar ao paciente, temendo perdê-lo, está alimentando essa deformação histórica e denegrindo a profissão.
Nas conversas com meus pacientes, em 90% dos casos, constato que foram eles próprios que conduziram os dentistas ao erro. Essa situação se repete invariavelmente. A fraqueza de ceder por medo de perder o trabalho, ou até por imaginar que a postura do não possa melindrar o paciente, denigre socialmente nosso ofício e nega a nossa responsabilidade profissional diante daqueles que nos procuram.
O dentista não pode dizer ao paciente o que este quer ouvir, envolvendo-se com suas limitações e fantasias estéticas. Deve seguir o roteiro técnico-científico a todo custo e planejar o tratamento fundamentado à risca no diagnóstico. Só então poderá ir ao encontro dos anseios do paciente, com muito critério, para não descaracterizar a imagem estética que está registrada na sua tela mental, e está conectada à sua auto-estima.
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Por ser quem dirige os trabalhos, o dentista tem o poder de conduzir o paciente ao aprimoramento da auto-imagem estética, mostrando-lhe as possibilidades que a Odontologia proporciona e que ele próprio não consegue ver. Esse é o ângulo bonito do nosso trabalho: quando a relação profissional/paciente se torna solta e leve para viabilizar o encontro existencial e pleno da humanidade, que está na raiz filosófica de toda cura. Dentro do roteiro técnicocientífico, podemos traduzir os anseios estéticos do paciente, interpretando suas expectativas e ampliando-lhe a visão do tratamento, cujas possibilidades integrais ele desconhece.
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Quando diz que está insatisfeito com a cor dos dentes, não é só isso que quer dizer. Sabemos que o problema maior está na má oclusão, que deforma sua fisionomia, atingindo os desenhos faciais, suas angulagens, as linhas de força, a forma dos seus lábios e o sorriso. Devemos orientar o paciente sobre o trabalho incorreto, em geral, produzido por forças que incidem de forma equivocada, gerando desgastes e abrasões (sem a contribuição da flora bacteriana) normalmente em um dos quadrantes, ou num determinado grupo de peças dentárias, imprimindo aí a força maior da cadeia muscular envolvida e que atua nos movimentos da mastigação, da articulação da palavra, do gestual da face, já que a malha muscular está envolvida em todas as nossas atitudes.
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Ressaltar sempre que a mecânica muscular trabalha ininterruptamente, mesmo quando estamos dormindo. Em geral, ouvimos a célebre frase: “Estava comendo um pedaço de bolo, e o meu dente quebrou”, ou: “Não faço força ao mastigar” – como se o ato mastigatório fosse totalmente controlado por comando mecânico, como se o nosso sistema nervoso central não atuasse nesse momento.
Ao processarmos o bolo alimentar, nosso cérebro recebe um comando e, atocontínuo, começamos o trabalho. A máquina é ligada. Não ficamos planejando o ato mastigatório. Para que isso aconteça é necessário muito preparo psicológico, um treinamento, e aí então acionamos outro comando que emite um alerta. Nosso sistema nervoso central fica de prontidão à espera de nossa ação.
Assim, o dentista que conhece com abrangência a verdadeira causa da insegurança e insatisfação do paciente vai usando toda a sua habilidade para fazê-lo compreender, tornando-o cúmplice do planejamento técnico-científico do seu caso. Essa manobra ampliará infinitamente o resultado estético que o paciente espera de nós. Logo, é muito bom quando podemos dizer-lhe: “Você pode esperar muito da resolução do seu caso.” Para que possamos apostar todas as fichas na nossa competência e confiar plenamente no nosso potencial, existe um preço – muito estudo, muita pesquisa, observação constante das particularidades inerentes ao ser humano nos mais distintos ângulos, dedicação, seriedade e muito respeito por aquele que vem em busca do nosso trabalho.
Vamos mostrar, a seguir, algumas situações que comumente surgem no nosso dia-a-dia de trabalho, ilustrando assim a insatisfação dos pacientes.
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Queixa frequente - coloração dos dentes Dificuldade na oclusão
Correção das proporções crânio-faciais, atuando na trajetória condiliana, tendo como objetivo principal mudar o estilo de trabalho incorreto. A intervenção na ATM (articulação têmporo mandibular) foi severa.
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A ossatura foi redesenhada. As dimensões crânio faciais apresentam ganho considerável
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Quero usar aparelho para fechar os espaços O cruzamento da mordida causa uma distorção facial acentuada em toda a M face direita. Planejamento objetivando recuperar as dimensões da face. Correção da mordida cruzada. Construção de novo padrão oclusal.
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Leveza e muita juventude. Fisionomia descansada. Pirâmide nasal levantada, proporcionando remodelagem da cartilagem do nariz. Maçãs da face levantadas graças a ação muscular correta. Todos os contornos faciais foram suavizados. Pálpebras corrigidas.
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Quero dentes certos, os meus estão feios e tortos.
Recuperação da dimensão vertical, essa manobra proporciona resultados muito bons. Correção de todo o sistema estomatognático. O posicionamento da ossatura crânioo facial foi totalmente corrigido, possibilitando assim o reposicionamento da malha muscular.
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O relaxamento da malha muscular causa atrofia. Os danos apresentados na face são severos. O tecido conjuntivo ganha volume. Os músculos ocuparam os espaços vazios.
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