O Arauto 19

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Ano III - nº 19 - dez.2010

O Jornal O Arauto é uma publicação da Faculdade de Comunicação e Artes (FCA) do Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio - CEUNSP

Assexuados

Da redação / O Arauto

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TRÁFICO DE HUMANOS Na busca desenfreada do sonho, muitos jovens acabam sumidos fora do país.

FERNANDO PESSOA A obra do poeta português segue influênciano gerações.

pág.12

Alessandra Luvisotto / O Arauto

Alessandra Luvisotto / O Arauto

Murilo Santos / O Arauto

Por que nem todo mundo só pensa naquilo...

ESPECIAL INSEAD

encarte

Suplemento mostra os cursos, o ensino e os laboratórios do Instituto de Engenharia, Arquitetura e Design do CEUNSP.


da mesa do redator

Passando a régua

FLAGRA Alessandra Luvisotto / O Arauto

Palavra do editor:

O comércio e o consumo já adiantaram o relógio. Ouvimos Jingle Bells e vemos decoração natalina. O fim do ano está ai! Como dizemos para o garçom: “Passa a régua!” Assim, se torna oportuno ao editor de O Arauto fazer balanços.

O balanço do CEUNSP foi de crescimento, um reconhecimento a uma estrutura cada vez mais aperfeiçoada. O ano da FCA foi de conquistas – com prêmios importantes dados aos nossos estudantes, a maturação da Agência Experimental (AECA), passando pela reforma no prédio e na aquisição de novos equipamentos – e de reconhecimento junto ao MEC (ah, quanto trabalho!). Este ano foi, sem dúvida, agitado, com direito a Copa do Mundo, secas, chuvas e eleições. Acreditamos que O Arauto cumpriu o propósito de trazer o debate de temas e demandas atuais. Este ano, mostramos a preocupação com a aparência física (em a Ditadura do Corpo, o terror da Pedofilia, a magia da Fotografia, o Olhar sobre o Caos (que tratou sobre duas tragédias: a inundação de Capivari ao terremoto no Haiti), sem falar na valorização do livro, da leitura e de estar sempre “antenado” nas mudanças tecnológicas da Comunicação.

Agora – na toada de brinde ao ano novo - nos resta tratar outros temas. Vamos falar de quem não se interessa por sexo, vamos mostrar que existe muito dinheiro sendo oferecido a bons projetos culturais, alertar sobre a existência de tráfico humano, além debater o termo Contracultura... isso sem esquecer das seções Flagra, Vida Universitária, Fotogaleria e Acontece na FCA. A partir de agora, além de desejar boa leitura, começamos a projetar uma nova etapa. Torcemos para que tudo de bom que rolou este ano seja apenas o pior pelo que passaremos em 2011. Que novos debates e discussões apareçam, sejam bem-tratados e comprovem que a raça humana quer e precisa se aprimorar. Que a Dilma seja uma senhora presidente. Que Papai Noel tenha aumento salarial e que tenhamos cada vez mais paz e saúde. E, vá lá, que O Arauto esteja sempre ao lado de vocês. Feliz Natal, boas férias de verão e até logo!

O olhar é fundamental na Fotografia. Nossa colaboradora, Alessandra Luvisotto, exerceu a técnica: achou um ninho construído nos galhos internos de uma videira. O clique foi em Tietê/SP. Virou o “Flagra” desta edicão.

Comunicação do Leitor Então é Natal... A árvore já está montada. Em cada peça confeccionada existe um pouco de amor, ternura e dedicação. Os galhos podem representar as dificuldades, o cansaço e principalmente as angústias vividas no decorrer do ano.

E que venha o Natal. O clima de amor ao próximo é muito forte. Os anseios do ano vindouro se aproximam e trazem novas expectativas. Junto vêm os presentes que são como doação divina. Que eles sejam de coragem para quem está desanimado; que sejam de saúde para quem está doente; que sejam de trabalho para quem está desempregado e que sejam de amor para quem o tem pouco. O mais importante é que a família esteja reunida. É nesse momento que crianças e adultos se unem, fazem a chamada “corrente do bem” e trocam seus presentes. Então é Natal. Os sinos tocam e a alegria desfila para a vida. Os corações parecem não se conter de diversas emoções. Sinceramente, que essas emoções tragam o que o mundo mais precisa: PAZ E AMOR ENTRE OS SERES HUMANOS. Francisca Soares – estudante de Jornalismo

Ops... - Wry: O nome correto da banda de rock mostrada no Fotogaleria de novembro é Wry e não Why como foi grafado.

- Contato para adquirir livro: O e-mail correto para adquirir Office Acadêmico, da professora do curso de Design de Moda do CEUNSP, Daniella Romanato, é:

livros@daniellaromanato.com.br

E o site é:

www.daniellaromanato.com.br

Ainda há promoção de venda do livro para professores e alunos do CEUNSP, com custo reduzido de apenas R$ 30,00.

expediente

Publicação da Faculdade de Comunicação e Artes (FCA) do Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio (CEUNSP). Jornalista Responsável e Editor-Chefe: Prof. Esp. Pedro Courbassier (MTb.: 23.727). Diagramação desta edição: Jean Pluvinage.

Contato: redator@arauto.info

Tiragem: 30 mil exemplares

Pré-revisão: Maria Nathalia Pimenta, Nathalya Mendonça e Jean Pluvinage. Revisão final: Prof. esp. Maria Regina Amélio. Conselho Editorial: Prof. Edson Cortez (coordenador-Geral da FCA); Prof. Ms. Filipe Salles (coordenador cursos de Artes); Prof.ª Ms. Maria Paula Piotto S. Guimarães (coordenadora cursos de Comunicação); Prof. Murilo Santos; Prof. Esp. Pedro Courbassier; Prof. Dr. Rubens Anganuzzi Filho (diretor da FCA).

O Arauto é um produto da Agência Experimental de Comunicação e Artes (AECA), feito em parceria com os estudantes de Comunicação que pautam, assinam as reportagens, fotografam e abastacem o blog Arautomania.

Os textos são de responsabilidade dos autores

Blog: arautomania.blogspot.com

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debate

O arauto /dez.10 pág.03

Eduardo Carvalho / O Arauto

Tráfico de

seres humanos [ Geraldo Siqueira ]

Jovens e adolescentes são as maiores vítimas do tráfico de pessoas. E isso pode ocorrer bem mais perto do que você imagina A busca pela realização de sonhos, ideais e desejos tem feito muitos jovens entrarem no mundo do crime, do tráfico e da violência, recorrendo a falsas oportunidades. Um caminho muitas vezes sem volta. O tráfico de pessoas é um exemplo de violência que vem se firmando cada vez mais em todo o mundo. Uma atividade que se desenvolve por causa dos baixos riscos e altos lucros. Os traficantes se utilizam dos meios de comunicação, como Internet, para fortalecer suas redes de aliciamento. Também recorrem a pessoas especializadas para atrair as novas vitimas com promessas de bons empregos e sucesso. O que é? - O tráfico de pessoas é uma forma de escravidão, caracterizada pelo deslocamento dos seres humanos por: rapto, engano, fraude, ameaça e promessa de uma vida melhor. Acontece em todas as partes do mundo, podendo ser dentro do mesmo país, entre países e até entre continentes. Tem como finalidades a exploração da força de trabalho, a exploração sexual e/ou remoção de órgãos. Segundo levantamento feito pela Asseplan, empresa especializada na execução de pesquisas sociais e única responsável em atuar contra o tráfico de seres humanos em Pernambuco, de uma a quatro pessoas são traficadas por ano em todo o mundo. A coordenadora geral e jornalista da empresa, Glyzia Nogueira, ressalta que, apesar do tráfico de pessoas não ser uma atividade nova, nos últimos anos tornou-se um problema de grande preocupação mundial, a ponto de ser chamado por muitos como “a forma moderna de escravidão”. “Como podemos ver a escravidão nunca deixou de existir”, completa a coordenadora.

Quem são os personagens desse crime?

Os traficantes - Dados coletados pelo Ministério da Justiça (MJ) e pelo escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime (UNODC) relatam que são predominantemente homens com mais de 30 anos de idade, em sua maioria com nível médio e superior. Existem também aliciadoras, são mulheres mais velhas, o que confere credibilidade e autoridade para aconselhar as vítimas e fazê-las aceitar as ofertas vindas do exterior. As vítimas - Segundo relato da psicóloga Jackeline Coelho, geralmente estas já sofreram algum tipo de violência dentro ou fora de casa (abuso sexual, estupro, maus tratos, entre outros aspectos que a levaram a acreditar numa melhoria em suas vidas ofertada pelos aliciadores). Dados levantados pela PESTRAF, Pesquisa de Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para fins de exploração sexual comercial no Brasil, através de análises de inquéritos e processos judiciais, apontam uma predominância de mulheres e adolescentes com idade entre 15 e 25 anos, de classes pobres, com baixa escolaridade, além de terem filhos e trabalharem em atividades de pouco reconhecimento. Entrevistamos Liriope, como prefere ser chamada, uma jovem de 26 anos, que foi vítima do tráfico de seres humanos para fins de exploração sexual. Ela relata que tudo começou depois do falecimento de seu pai, comissário da polícia civil. Sua mãe ficou sem receber a pensão. Passando necessidades, a jovem se desesperou. Se esse problema tivesse sido resolvido, na opinião dela, não teria passado pelo que passou. “Eu ia para a escola e quando chegava em casa não tinha o que comer, então o primeiro caminho que eu recorri foi a prostituição”, completa a jovem. Liriope recebeu uma proposta irrecusável de uma colega para ir trabalhar na Europa como garçonete em um restaurante. Ao chegar lá se deu conta de que o assunto era outro, seu passaporte foi retido e daí percebeu que se tratava de uma casa de prostituição. Privada da sua liberdade não podia sair da boate onde tinha que trabalhar. “Eu me sentia um lixo, escravizada, não queria me prostituir, fui agredida, cheiravam pó em cima de mim, me deram uma injeção para passar seis meses sem menstruar, para produzir mais dinheiro para eles. Foi horrível”, relata Liriope. Sem forças para continuar e muito menos para reagir, a jovem de 26 anos, recorreu as drogas. Todo dinheiro que recebia era para alimentar esse ciclo mortal em sua vida. Três anos depois, mesmo diante de ameaças, ela conseguiu voltar ao Brasil. Hoje, de volta ao país de origem, Liriope faz tratamento psiquiátrico e toma remédio controlado. “Esse trauma ficará marcado para sempre em minha vida”, diz Liriope.

Quais são as principais causas? A pobreza e falta de trabalho são causas marcantes. Impulsionam as pessoas a buscarem melhores condições de vida, podendo ser facilmente iludidas pelos aliciadores. Outro aspecto, é que alguns turistas vêm ao Brasil a procura de sexo com crianças e adolescentes. Ao retornarem aos seus países, muitas vezes as levam para serem exploradas no mercado do sexo. As pessoas que sofrem de violência dentro de casa acabam indo para as ruas ou procuram moradias precárias, facilitando a ação do traficante em levá-las para outros locais e serem exploradas. A falha no cumprimento das leis é um ponto muito importante, suas ineficiências e desatualização, facilitam a atuação dos traficantes. O código penal prevê o crime de tráfico de pessoas para fins de exploração sexual nos artigos 231 e 231-A. Quem cometer esse crime poderá ficar até oito anos na prisão. Nem todos que desejam migrar são necessariamente pobres, mas muitos vêem no exterior um caminho para conseguir a realização dos seus sonhos. O desejo por mais conquistas, prestígio, a bus-

ca em atender as expectativas de familiares, amigos e as exigências sociais, acabam levando muitas pessoas a procurar alternativas em outros lugares. Esse perfil de pessoas torna-se alvo fácil dos traficantes. O desejo de viver novas emoções é também um dos motivos que levam as pessoas a procurar outros países. Os jovens, para fugir do vazio e do tédio, embarcam em aventuras, sem pensar nas consequências. O mundo em que vivemos nos convida a todo instante para, a qualquer custo, concretizar os sonhos impostos pelo consumismo. Sonhos estes, que não são nossos. Assim, muitos jovens deixam suas casas em busca desse tal sonho e vão levar a vida em outro lugar, outro país. “Os pescadores de ilusões” fazem milhões de promessas, mas a realidade é muito diferente. Não pense que escravizar seres humanos é algo do passado. Bem próximo à sua residência pode existir algum jovem sendo explorado. A melhor forma de enfrentar esse crime é a denúncia aos órgãos competentes: Polícia Federal, Polícia Civil e Ministério Público.


ASSEXUADOS

Reprodução autorizada/ Internet

Eles não praticam, se sentem bem assim e querem ser reconhecidos como comunidade [ Samuel Peressim ]

“Sexo é o maior nada de todos os tempos”, dissera, certa vez, o pai da Pop Art, Andy Warhol. Quem concorda com esse pensamento é a estudante Julia Santos, de 25 anos. Para a jovem, nenhuma outra frase traduz tão bem sua opinião sobre o sexo quanto a de Warhol. Julia faz parte de uma pequena tribo que não se interessa pela prática de qualquer tipo de relação sexual. São os assexuados.

uma tentativa de se adaptar a nossa sociedade - elas devem procurar tratamento. E quem sabe, se encontrarem um bom terapeuta, terão a chance de se aceitar se forem assexuadas legítimas, ao invés de tentar se adaptar a qualquer custo”, avalia a terapeuta.

Assim como ela, o técnico de investigação científica Wesley Hilebrand, 25 anos, é mais um dos adeptos da frase de Warhol. “Não entendo porque as pessoas fazem sexo. Não sou doente mental e tenho até alguma experiência. Faço os movimentos como todos fazem no momento da relação sexual, mas não sinto prazer. Chego até a sentir nojo. Quando vejo uma mulher nua à minha frente sinto indiferença”, relata Hilebrand, que depois de desfrutar das mais íntimas sensações da carne percebeu que era “assexual”.

Tratamento - Nem sempre a falta de desejo sexual significa que a pessoa seja assexuada. Quando isso acontece, é possível tratar o problema. “A primeira coisa a ser definida é saber se a pessoa gostaria de ter desejo sexual. A segunda é definir o que causou a extinção de seu desejo, já que este faz parte da natureza humana. A terceira é investigar o que está mantendo este desejo em baixa e tentar mudar a situação. Um exemplo: uma mulher reprimida sexualmente se casa com um homem grosseiro. A quarta é investigar quais são as fantasias sexuais naturais do indivíduo e liberar a libido da pessoa, primeiro pelo sexo e depois pelas pessoas. Esta é a função da terapia sexual”, explica a sexóloga Maria Lúcia Beraldo.

“Desde a minha adolescência, eu tinha consciência de que não sentia atração sexual por outras pessoas. Nunca fiz e acho que nunca farei sexo. Faço, apenas, coisas que tenho vontade e o sexo não é uma delas”, conta a estudante.

No Brasil, o Estudo da Vida Sexual do Brasileiro (EVSB), concluído em 2003, revelou que, entre os 7.103 entrevistados acima de 18 anos, 7,7% das mulheres e 2,5% dos homens não faziam sexo. A pesquisa, realizada pelo Programa de Estudos em Sexualidade (Prosex) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq - HCFMUSP) e coordenada pela psiquiatra Carmita Abdo, foi reunida e publicada no livro “Descobrimento Sexual do Brasil”.

Motivos - Pouco divulgado, o assunto ainda gera alguma confusão. Contrariando o que algumas pessoas pensam, a assexualidade é diferente do celibato, quando, em uma decisão consciente, o indivíduo tenta reprimir os desejos sexuais. Já a assexualidade, que pode ser explicada pelo baixo nível de hormônios ou a baixa sensibilidade à sua presença no corpo, implica na pequena ou total ausência de impulso ou desejo sexual.

O diretor e psicoterapeuta sexual do Instituto Paulista de Sexualidade (Inpasex), Oswaldo Martins Rodrigues Júnior, explica que a assexualidade é uma condição que se assemelha à heterossexualidade e à homossexualidade, pois, nos três casos, são preferências sexuais não voluntariamente produzidas.

Doença - Segundo a psicoterapeuta corporal Ana Luisa Testa, a assexualidade não é uma doença, e sim, uma possibilidade humana. Ela conta que o que define se uma pessoa tem um distúrbio ou é assexual é a existência ou não de sofrimento. “Se isso as incomoda - penso que é por

Experiências traumáticas nas primeiras relações, episódios de violência sexual e até mesmo uma educação em que o sexo é classificado como “sujo” são, de acordo com a psicoterapeuta, condições agravantes, causadoras de distúrbios: inibição do desejo sexual ou fobia sexual. Contudo, diz Ana, não são determinantes para justificar a orientação das pessoas pelo assexualismo.

Desde a minha adolescência eu não sentia atração sexual por outras pessoas.

Preconceito - Assumir-se “assexual” numa sociedade em que o sexo está na televisão, na Internet, nas publicidades, em capas de jornais e revistas, ou seja, impregnado no cotidiano das pessoas, tem lá suas dificuldades.

Aos 19 anos, quando a estudante Letícia Costa entrou na faculdade, nunca havia beijado ninguém. Em uma conversa com as novas amigas sobre o “potencial” dos garotos da sala, contou a elas que nunca se envolveu com outra pessoa: a revelação, segundo Letícia, as surpreendeu. “Elas me encheram de perguntas. Queriam saber se era algo relacionado à religião ou algum problema com a minha boca ou meu corpo. Respondi que nunca me interessei em beijar ninguém e esse era o único motivo”, lembra a estudante, hoje com 23 anos. Diante da situação, as amigas começaram a dizer que ela precisava encontrar a pessoa certa. “Elas falavam disso o tempo todo. Comecei a me sentir pressionada. Beijei alguns garotos. Depois, comecei a namorar um cara três anos mais velho que eu. Três meses depois, transamos pela primeira vez. Me senti super mal. Por mais algumas vezes, mantivemos relações. Mas eu nunca me sentia bem. Comecei a evitar as relações com meu namorado. Expliquei a ele que não me sentia bem e não queria mais transar. Três semanas depois, ele terminou o namoro e começou a espalhar as causas para os amigos. Virei alvo de muita brincadeira. Criaram vários apelidos como frígida, lésbica e menina robô”, diz Letícia.

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O ser humano não consegue lidar com aquilo que foge do normal - e como normal não quero dizer correto, apenas o que a maioria das pessoas faz.

Alessandra Luvisotto / O Arauto

Com depressão, resultado do preconceito sofrido na faculdade, e cheia de dúvidas sobre sua orientação sexual, a estudante procurou ajuda médica e descobriu que era normal não se interessar pelo sexo. “Foi bom ouvir isso. Me senti aliviada. Eu já estava pensando que tinha algum problema. Infelizmente, nossa sociedade, embora as pessoas não admitam, é muito preconceituosa. Minha família e amigos custaram a entender minha opção. Para tentar viver em paz, até mudei de faculdade”, conta Letícia. Mas o que há de errado em ser assexual? Segundo a psicoterapeuta Ana Luisa Testa, nada. “Os assexuados sofrem bastante preconceito. O ser humano não consegue lidar com aquilo que foge do normal - e com normal não quero dizer correto, apenas o que a maioria das pessoas faz- e tende a nomear essas coisas de doença. Vamos pensar: na sociedade, hoje, é normal os filhos saírem de casa muito tarde, o que não quer dizer que seja a opção mais saudável. Eu questiono muito essa coisa do normal. Para ser normal temos que nos adaptar muito ao social e isso faz o indivíduo perder o contato com aquilo que é seu. Não é porque não é ‘normal’ que é doença. Penso que as pessoas têm o direito de ser aquilo que são e é um erro social muito forte não aceitar as diferenças”, defende.

Internet, o refúgio - Com um ideal semelhante ao dos gays, que conquistaram uma identidade e direitos civis após décadas de lutas, os assexuados ainda procuram ser reconhecidos como comunidade e orientação sexual. E foi na internet que eles encontraram uma grande aliada. Com o boom da grande rede, diversos sites, blogs e comunidades relacionados ao tema foram criados. “Sempre me senti sozinha. Não conhecia nenhuma pessoa como eu. Com a internet, vi que não estava só. Podemos trocar experiências, nos expressar e nos sentir em um lugar onde não somos estranhos. A internet é como um refúgio. Muitas pessoas descobriram sua identidade nela. Sinto que ela será fundamental para conquistarmos espaço na sociedade e sermos reconhecidos como um grupo, uma comunidade”, prevê a estudante Julia Santos. O site www.assexualidade.com.br é um dos principais sobre o tema em língua portuguesa. A página da organização “Assexual Visibility and Educacion Network” (Aven), rede para a visibilidade e a educação assexual (tradução em português), uma das maiores comunidades de assexualismo do mundo, é: www.asexuality.org .

Eles também amam - O sexo - dizem algumas pessoas - não é tudo em um relacionamento. Para os assexuados, ele é, literalmente, nada. Contudo, isso não significa que eles não queiram encontrar um parceiro e serem felizes. “Sei que é difícil encontrar alguém que aceite ou, até mesmo, partilhe da minha orientação sexual. Mas quero encontrar uma pessoa com quem eu possa dividir experiências, fazer planos e construir uma vida. Todos têm o direito de amar. Inclusive os assexuais. Somos pessoas normais, apenas não gostamos de sexo”, destaca a estudante Letícia Costa.

Contrariando as palavras de Antonio Houaiss, que disse: “Sexo é tão importante na vida quanto comer”, a sexóloga Maria Lúcia Beraldo afirma ser possível passar a vida toda sem praticar sexo, embora seja uma decisão difícil, já que, hoje em dia, segundo ela, a pressão por sexo é tão grande quanto à repressão já fora no passado. “A libido, o nosso potencial erótico, não é canalizado somente para o ato sexual. Assim, pessoas que não têm interesse sexual podem obter o seu prazer erótico através de seu trabalho, da alimentação ou da dedicação a qualquer outra função social”, finaliza.


vida universitária

Vamos dar uma “fugidinha” para comer? Barbara Alves / O Arauto

[ Lígia Martin ]

Variedade de fast food, preço e ambiente divertido : motivos para procura é grande mesmo com uma lanchonete dentro da instituição

Fique de olho nas calorias Produto Cachorro quente Pastel Espetinho de carne

Calorias 620 kcal 300 kcal 105kcal

Gordura 36,5g 10g 6g

Gordura Saturada 10g 5g 3g

Dar um “fugidinha” durante o intervalo das aulas é sinônimo de visitar o comércio próximo das faculdades do CEUNSP. Nas ruas ao redor da instituição são encontradas opções de comidas rápidas. E também é possível presenciar rodas de amigos em volta das barracas de cachorro-quente, pastéis, churrasquinhos ou churros. De acordo com a estudante Amanda Duarte, fora da faculdade há um clima agradável: “Encontramos colegas e professores, as barracas proporcionam comidas que não encontramos na cantina”. A estudante ainda ressalta que, muitas vezes, encontra-se produtos com preços mais acessíveis do que os oferecidos na lanchonete instalada no interior do campus. O professor Tony Maia também faz visitas ao lado de fora da faculdade para aproveitar o comércio alternativo durante o intervalo: “Venho para cá porque gosto do clima de fora. Gosto de ver a ‘rapaziada’ confraternizando. Também gosto de estar no meio dos alunos que ficam por aqui e em um ambiente como este é onde descubro o que eles pensam.” Com relação ao comércio, o professor dá uma sugestão: “Poderia ter mais opções saudáveis”, afirma. Se é bom para o aluno é melhor ainda para o comerciante. Bruno Santos, vendedor de lanches, diz que a renda que consegue é muito boa e garante a sobrevivência de sua família. “Não há o que reclamar da clientela, até fiz amizade com muitos alunos”, ressalta. O comerciante trabalha há dois anos, perto do portão de entrada e saída dos estudantes do CEUNSP, em Salto. Bom para o aluno, melhor para o comerciante, mas, em excesso, comidas muito gordurosas são prejudiciais à saúde. Ter comida rápida e mais opções durante o intervalo pode ser útil devido ao pouco tempo, mas de acordo com a nutricionista Natalia de Oliveira “todos devem ficar atentos a quantidade de gordura saturada e trans presentes nesses alimentos, pois são prejudiciais à saúde e causam obesidade, diabetes, problemas cardiovasculares, hipertensão, entre outros males.” Maurício Pinguim / O Arauto

Adivinha quem foram os destaques do CineFest? [ Pedro Courbassier ]

O 7º Cinefest Votorantim premiou na categoria “melhor curta-metragem regional” o trabalho ‘Vincent - Vida e Simplicidade’, produzido pelos estudantes de Cinema da FCA/CEUNSP Cleber Avancini, Fernando Diniz, Rafael Speranza e Yuri Ledesma. ‘Vincent - Vida e Simplicidade’ conta a vida do holandês Vicent van Gogh, um dos nomes mais importantes da pintura. Pósimpressionista, Van Gogh frequentemente é considerado um dos maiores artistas de todos os tempos (veja mais sobre o artista no box desta página).

Outros vencedores - O melhor curta de ficção foi “Amigos Bizarros do Ricardinho”, do diretor Augusto Canini. O troféu de melhor documentário ficou com “O Som do Tempo”, do cearence Petrus Cariry. Já a melhor animação foi a paranaense “O Acaso e a Borboleta”. Como foi - O festival, um dos mais importantes do interior paulista, com mais de 500 inscritos, teve a exibição de cerca de oitenta produções audiovisuais inéditas na região, entre curtas e longas. Durante uma semana (16 a 21 de novembro), além das mostras competitivas, teve muito debate e palestra, contando inclusive com a presença do cantor e compositor Oswaldo Montenegro e o ator e diretor Matheus Nachtergaele. O primeiro foi mostrar seu primeiro longa-metragem, o musical “Léo e Bia”. Nachtergaele também exibiu sua estreia atrás das câmeras com o intenso drama, “A Festa da Menina Morta”. Ambos conversaram com o público.

Mais FCA - O 7º CineFest também ofereceu oficinas e palestras entre os dias 16 e 21 de novembro e chamou quem para participar? Nossos talentos: professores, funcionários e alunos. Vamos a eles: O professor Leandro Alamino comandou um workshop sobre Montagem e Edição de Cinema. Já a oficina Mixagem e Áudio Para Cinema foi feita pelo Fernando Quesada. A professora Lilian Santiago mostrou todo conhecimento sobre Produção de Documentário. A agenda incluiu ainda a oficina Produção Cinematográfica, com Sylvio Scarpeline e Marcelo Camargo (ambos do 8º semestre de Cinema). Nesta, os participantes realizaram um curta em alta definição de três minutos. E duas palestras, “Aventura do Cinema Brasileiro” e “Cinema Experimental no Cineclubismo” foram feitas, respectivamente, pelo mestre Agnelo Fedel e pelo coordenador do Cineclube CEUNSP, Paulo Ernesto Aranha.

Yuri Ledesma, estudante de Cinema da FCA é premiado: Melhor curta-metragem sobre a vida de Van Gogh

Van Gogh não viveu para saber que era um gênio Vincent van Gogh (Zundert, março de 1853 — Auvers-sur-Oise, julho de 1890) nasceu na Holanda e, como muitos de sua época, tentou a sorte profissional em Paris. Mas falhou em todos os aspectos importantes para o seu mundo, em sua época. Foi incapaz de constituir família, custear a própria subsistência (só vendeu um quadro em vida: para o irmão) ou até mesmo manter contatos sociais. Aos 37 anos, sucumbiu a uma doença mental, suicidando-se. A sua fama póstuma cresceu especialmente após a exibição das suas telas em Paris, no dia 17 de março de 1901. Desde o século XX, Van Gogh é considerado um dos pioneiros das aspirações modernistas, sendo a sua influência reconhecida em variadas movimentos artísticos, como por exemplo o expressionismo, o fauvismo e o abstracionismo. As obras dele, hoje, valem milhões de dólares. Há até um museu, o “Van Gogh”, em Amsterdã, dedicado exclusivamente aos seus trabalhos e aos dos seus contemporâneos.

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acontece na fca

O arauto /set.10

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Jean Pluvinage / O Arauto

Vida Alves revela o nascimento da TV

Cia Teatral se une ao CEUNSP e “vira filme” Famosa pelos espetáculos de comédia que têm ganhado os palcos de todo o Estado de São Paulo, a Nósmesmos Produções Artísticas – companhia teatral de Itu – agora se empenha em um novo e ousado projeto: a produção de um curta-metragem com roteiro criado por Ricardo Vandré, ator da companhia.

A empresa já conseguiu o apoio da Faculdade de Comunicação e Artes (FCA), do CEUNSP Salto, que disponibilizou todos os equipamentos das áreas de audiovisual e cinema e será responsável pelo processo de edição. Agora, o próximo passo é buscar a participação de outras instituições neste projeto, que tem grandes chances de ganhar destaque em todo o país. “Pretendemos inscrevê-lo em festivais de cinema regionais, nacionais e internacionais existentes para sua categoria e realizar uma divulgação maciça do filme por meio de publicidade e assessoria de imprensa”, revela o diretor de projetos, Juliano Mazurchi.

Aparelhos televisores e prêmios de audiovisuais: cenário do Museu da TV, onde a atriz Vida Alves recebeu a estudante Lais Camargo

“Temos a segurança de estarmos produzindo este curta de forma extremamente profissional, dentro do melhor padrão de qualidade. Além disso, o roteiro é incrível com certeza chamará atenção dos profissionais da área”, revela o diretor de produção Christian Hilário.

Os estudantes do 2º semestre do curso de Rádio e TV Leo Moraes, JC Neto, Lucas Veiga e Lais Camargo entrevistaram no Museu da TV, em São Paulo, Vida Alves. A atriz participou da transição histórica da era do rádio para a da televisão, sob a chancela de Assis Chateaubriand, o “Cidadão Kane” da mídia brasileira dos anos 1950. A entrevista fará parte do documentário “Para ver e ouvir”, sobre o período da inauguração da TV no Brasil e seu impacto social. “Não quisemos apenas coletar dados históricos, mas também fazer uma comparação com o impacto da nova TV que vemos hoje”, explica Leo Moraes em nome do grupo. (Jean Pluvinage)

Antes de iniciar a produção do curta-metragem, os atores da Nósmesmos realizaram o curso de preparação de atores para cinema do Studio Fátima Toledo – o mesmo que preparou o elenco do filme Tropa de Elite 2 – com a professora Olga Machado. “O método dela é utilizado na maioria dos filmes nacionais. Tivemos um aprendizado muito importante a respeito da linguagem de cinema e outros aspectos específicos dessa área e iremos aplicar no filme”, afirma Juliano.

Uma noite para o Relações Públicas

Atualmente, o filme já passou pela pré-produção e está em processo de filmagem – que deve ir até o final deste ano. Em janeiro de 2011, inicia-se a edição e divulgação do curta-metragem. A pré-estreia está programada para acontecer no mês de março.

Aproveitando o Dia Latino-Americano de Luta pela Valorização da Profissão do Relações Públicas (RP), comemorado dia 22 de novembro, a professora especialista Rayneci Vidal, do curso de RP da FCA/CEUNSP, convidou dois profissionais da área para conversar com alunos de Comunicação. Marcus Bonfim e Fábio Monfrin falaram no Auditório da FCA. O primeiro comentou a profissão de RP no cenário nacional. O segundo mostrou em detalhes o case de lançamento da cerveja Devassa para os próprios funcionários da Schincariol, enfatizando a importância da comunicação interna na estratégia de divulgação.

Os interessados em apoiar o projeto podem entrar em contato com o escritório da Nósmesmos Produções Artísticas, pelo telefone (11) 4024-0852 ou pelo seguinte email: nosmesmospa@ yahoo.com.br .

Uma centena de estudantes participou das palestras, inclusive fazendo perguntas sobre o caso Devassa e sobre o futuro da profissão, que parece promissor no cenário nacional.

O curta - Com o nome “A Aposta”, a trama conta a história de Fábio, Cláudio, Roberto e Adriano, quatro amigos de longa data, que se reúnem habitualmente nas noites de quinta para um inocente e enfadonho jogo de pôquer. Depois que Roberto descobre que sua mulher o trai, nada mais é como antes. Numa noite, ele propõe uma arriscada aposta entre eles. O perdedor deverá realizar um assalto e o dinheiro será repartido entre os demais. O que os amigos não sabem é que a aposta e o assalto são partes do seu sórdido plano de vingança.

Marcus Bonfim é um RP com oito anos de experiência em gestão da comunicação. Trabalha no Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP). Diretor-secretário da Associação Brasileira de Relações Públicas, seção São Paulo (ABRP-SP), pela gestão 2008/2010. Está cursando uma segunda especialização, em Gestão Integrada da Comunicação Digital (Digicorp) pela ECA-USP.

Evandro Ananias / O Arauto

Fábio Monfrin foi Coordenador de Comunicação Interna do Grupo Shinchariol. É formado em Marketing pela Escola de Administração e Marketing de Campinas e Jornalismo pela Universidade Metodista de Piracicaba. (da Redação)

“Tendo em vista o tom melancólico dos personagens e suas personalidades medíocres, a direção será minimalista muito focada em closes e com pouca movimentação”, revela o diretor Ricardo Vandré. Os personagens do curta “A Aposta” são cheios de defeitos e escondem de forma pueril seus medos. “Por isso olharemos muito nos olhos destes personagens para extrair a verdade: suas vidas são sem sentido”, explica o criador do roteiro. Todo filme terá tons escuros e opressores para passar com fidelidade a falta de opção dos personagens, que são homens infelizes nas profissões, sem sorte e que se encontram para fugir de uma realidade que os acompanha a todo o momento. “A cenografia será pobre e pouco valorizada para novamente mostrarmos que o importante é o interior desses homens. Muitas cenas serão noturnas e a iluminação será tênue”, pontua. (da Redação) Ficha técnica

- Roteiro e Direção: Ricardo Vandré - Assistente de Direção: Yuri Ledesma - Elenco: Juliano Mazurchi, André Almeida, Chicó Ferreira, Alessandre Pi, Jana Marchesi, Christian Hilário e Yara de Napoli. - Coordenador FCA: Edson Cortez - Orientação: Luiz Adriano e Lilian Santiago - Direção de Arte: Eduardo Scorzelli - Direção de Fotografia: Marcelo Camargo - Técnico de Som: Léo Moraes - Fotógrafo: Alessandro Franco - Produção: Juliano Mazurchi e Christian Hilário. - Assistente de Produção: Mariana Mendes - Realização: Faculdade de Comunicação e Artes (Ceunsp) e Nósmesmos Produções Artísticas

Mais informações no site www.nosmesmos.com.br Fábio Monfrin, Coordenador de Comunicação Interna do Grupo Schincariol, em palestra na Sala Multimeios da FCA-CEUNSP


comunicação

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Mesmo na era do e-mail e do twitter, a gente (ainda)

precisa dos carteiros Kazuo Watanabe / O Arauto

[ Leandro Bidola ]

A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) possui mais de 108 mil funcionários. Destes, pouco mais de 55 mil são carteiros. Mais de 50% dos recursos humanos são “aqueles que levam e trazem a notícia”. Os carteiros são o corpo e a alma da empresa, a figura mais conhecida. A reportagem de O Arauto acompanhou o dia-a-dia desse profissional. No período da manhã é feita a separação das correspondências e encomendas. Alguns funcionários são designados a entrarem mais cedo para descarregarem a carga. Depois é feita a separação de todos os objetos pertencentes a uma determinada unidade, que são conhecidas como CDD - Centro de Distribuição Domiciliar, local onde são divididas as cartas e os objetos registrados, como Sedex e malotes. Enquanto os carteiros motorizados ficam responsáveis pela entrega dos Sedex 10 e malotes, os perueiros separam os objetos mais “pesados”. Já os “pedestres” fazem a separação das cartas na TD (Triagem por Distrito). Feito isso, cada carteiro fica responsável por recolher as cartas correspondentes a seu distrito. Depois de separadas por região, as correspondências seguem para a SL, a Separação por Logradouro (rua). Depois de terminada a SL, começa o Ordenamento das Correspondências. Durante este período, cada carteiro é chamado para colocar na ordem de entrega. A gíria interna chama esse processo de “colecionar os registrados”. Importante: homens carregam, no máximo, 10 kg na bolsa que transporta as cartas, enquanto que as mulheres carregam 8 kg.

Terminado o serviço interno, o carteiro faz sua refeição e parte para efetuar a entrega das correspondências. Ou seja, começa a segunda parte do trabalho, a mais difícil: o carteiro enfrenta sol, chuva e a hostilidade dos cachorros. Mesmo com adversidades os carteiros encaram o trabalho com alegria e profissionalismo. “Ser carteiro para mim é um prazer, pois eu gosto do contato com as pessoas. Procuro ser o mais educado, verdadeiro e alegre possível, para que esse voto de confiança que a população tem na gente possa durar muito tempo”, relata Gilberto Ferreira Valentim, 24 anos entregando cartas. Orgulho - Mesmo os que estão começando agora se sentem orgulhosos pelo trabalho. “Ser carteiro é muito gratificante, pois é uma profissão muito respeitada e conto com a confiança das pessoas”, explica Diego Portronieri, na profissão há dois anos. As mulheres, apesar de ainda serem minoria, também participam ativamente das atividades exercidas pelos carteiros e assumem as responsabilidades que lhes são dadas. “Procuramos manter a nossa feminilidade, mesmo dentro de uma profissão tradicionalmente masculina, pelo menos aos olhos da população em geral”, afirma Hozana Patrícia do Nascimento. “Nossa responsabilidade é tão grande quanto a dos homens”, completa.

Esse jeito alegre de ser e senso de responsabilidade são características que chamam a atenção das pessoas. “Eu vejo o carteiro como uma figura alegre, espontânea e atenciosa, principalmente quando precisamos tirar alguma dúvida, sobre alguma correspondência”, observa o aposentado José Armelin. É difícil achar alguém que não exalte o trabalho dos carteiros: “Sempre tive ótimo relacionamento com todos os carteiros que tive contato, pois são excelentes profissionais e muito atenciosos no tratamento com as pessoas”, observou o comerciante Osvaldo Modesto. O contato direto com as pessoas é que mantém o vínculo entre os Correios e a população. E é por isso que é importante ser bem quisto aos olhos do povo, já que os carteiros são os “garotos-propaganda” da ECT. O dia do carteiro é comemorado no dia 25 de janeiro. O jornal O Arauto se antecipa – como uma forma de desejar feliz ano novo - e parabeniza todos os carteiros espalhados pelo Brasil! Para saber mais sobre a ECT e os carteiros: www.correios.gov.br .

Da de Pero Vaz de Caminha a do Papai Noel, a carta sobrevive [ Gisele Gutierrez ]

Ela existe em vários formatos. Pode ser de solicitação, informal, aberta, fechada, de amor. Mas todas têm uma coisa em comum: a necessidade de comunicar, de se fazer entender. Foi essa necessidade que fez com que a carta surgisse ainda nos primórdios da escrita, como forma de interagir com o outro. Depois que o homem conheceu a escrita, não parou mais, algumas cartas ficaram famosas, pelo valor histórico ou mesmo comercial. Pero Vaz de Caminha fez história com sua carta enviada a El Rei Dom Manuel. Neste documento, considerado uma espécie de certidão de nascimento do Brasil, Caminha descreve ao rei de Portugal suas impressões sobre a aventura que foi o descobrimento: desde as maravilhas naturais, até o primeiro contato com os nativos.

Entretanto, nos dias de hoje, dificilmente se escuta alguém falar que mandou uma carta para contar as novidades a um amigo distante. Hoje envia-se um email, que surgiu como substituto que, além de ser mais rápido – a entrega é imediata – não tem custo de postagem. Porém, nas escolas, escrever e enviar cartas ainda são práticas comuns. Os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais), propostas curriculares elaboradas pelo governo federal que norteiam e unificam os conteúdos do ensino fundamental e médio no país, indicam a carta como gênero literário a ser trabalhado deste as séries iniciais. Segundo o PCN de Língua Portuguesa, o objetivo de se trabalhar a carta, além de outros gêneros, é que o aluno “seja capaz de compreender o sentido nas mensagens orais e escritas”, além disso, o aluno deve ser capaz de reconhecer diferentes tipos de texto, além de conhecer sua estrutura, para que assim possa produzi-lo.

Na prática, alunos do ensino fundamental aprendem, de fato, desde as séries iniciais, a escrever e enviar cartas. Joélia Bráz Coutinho, professora de Português e atualmente trabalhando com alunos de alfabetização, explica “trabalhamos os gêneros literários, a carta é um tipo, então a gente tem que trabalhar”, segundo ela, o gênero está previsto como conteúdo para todas as séries iniciais e completa: “embora hoje em dia quase não se usa (escreve) mais carta, eles têm que saber que existe esse tipo de texto, além de saber diferenciar um tipo do outro”. A professora ainda diz que mesmo sem fazer uso no dia a dia, ensinar como se escreve uma carta é importante, mas a produção fica restrita à sala de aula, “eles praticam aqui”, diz a professora enquanto os alunos produzem uma carta para o Papai Noel.

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Eduardo Radical Há apenas dois semestres na FCA/CEUNSP, Eduardo Carvalho adora dois ambientes: estúdios fotográficos e competições de esportes radicais. Aventura-se pela região para fazer coberturas de eventos. Aqui alguns dos seus trabalhos:

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contra cultura

O que é mesmo

contracultura ? [Gisele Gutierrez]

Sim, só isso. Como se fosse muito fácil, sem nada muito definido, solto, criativo. Aliás, “nada definido” era exatamente o problema. Afinal, falar em cultura é sempre muito amplo. Produzimos cultura a todo o momento. Tal qual uma fábrica funcionando a pleno vapor. Até mesmo quando queremos derrubar uma cultura estamos fazendo cultura. E foi às voltas com essas questões que surgiu a grande dúvida: afinal, o que é CONTRACULTURA? Portanto, preparese. Será uma viagem alucinante em que você vai descobrir que tem muito mais a ver com o movimento hippie e com os beatniks do que pensa.

Década de 50. Após o fim da Segunda Grande Guerra explodiu nos Estados Unidos o boom do consumismo. Tecidos não eram mais racionados, assim como cosméticos, o que fez com que a aparência passasse a ser de grande importância. A tecnologia de guerra começou a trabalhar a serviço das facilidades domésticas. Possuir era o verbo do momento, o dinheiro era abundante e não se poupavam esforços para ter e comprar. “Os norte-americanos passaram a gastar como nunca”, afirma Kristine Ziwica no artigo “Estados Unidos atingiam apogeu no mundo”. Depois da crise econômica de 1929, os americanos gabavam-se pelo fato de serem a única potência mundial que saiu da guerra mais rica do que quando entrou. Geração Beat –Foi neste clima que surgiu um movimento que se opunha a toda essa febre pelo consumo. Eram os beatniks, que surgiram no fim da década de 50. Um grupo de rapazes, poetas principalmente, que andaram na contramão da cultura vigente, propunham uma nova visão de mundo, ao som do jazz. Com eles é que se estreiou o conceito de contracultura. Chamados também de geração maldita, foram pejorativamente chamados de beatniks, em uma alusão ao satélite russo Sputnik, enviado para a órbita da Terra em 1957. Ser comunista não era exatamente uma qualidade apreciada.

Mais do que ser contra o consumismo exagerado, os Beats faziam uma crítica ao estilo de vida americano e a política conservadorista. Entretanto, suas experiências, segundo o professor Agnelo Fedel, estavam “voltadas para o interior, para

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Tudo começou com uma pauta sobre contracultura.

o pessoal, uma questão de não aceitação daquela cultura enraizada da década de 50, do pós-guerra.” Buscavam a liberdade e a não conformidade, “era uma liberdade da alma, do espírito”, diz ainda Agnelo. Expressavam-se através da poesia e da música, que poderia, para a sociedade dos anos 50, ser extremamente agressiva, “mas bem menos agressiva do que a gente viu com o movimento hippie”, explica o professor da FCA. Para alcançar esse ideal, muitos colocaram o pé na estrada. “Eles bebiam pra caramba”, diz a professora Lilian Santiago, lembrando outra forma de tentarem alcançar um maior conhecimento interior. “Eles utilizavam (bebidas e drogas) para fazer viagens”, conta Agnelo, “e assim partiam para um processo mais criativo”, completa.

E foi numa dessas viagens alucinógenas que foi escrito “On the Road” (Pé na Estrada), de Jack Kerouac, obra que é a representação máxima do movimento Beat. Publicado em 1957, com uma narrativa intensa e o pensamento desordenado, prega, acima de tudo, a busca por experiências autênticas, o compromisso com a vida, a espontaneidade. Kerouac foi o principal escritor do movimento e sua obra foi adotada como a bíblia do movimento hippie.

Paz, amor e rock and roll – Assim pode ser definido o movimento hippie. Influenciados pelos Beats, mas com uma diferença decisiva: enquanto os Beats interiorizavam, os hippies queriam ser vistos. “A intenção era exteriorizar”, explica o professor Fedel, “tem a questão da roupa extravagan-

te e natural, deixar crescer o cabelo e a barba, o sexo livre.” Na década de 60 eram contra a política vigente, a guerra do Vietnã e a qualquer tipo de discriminação. Assim como os Beats, iam contra as normas vigentes e chocaram uma sociedade pautada no conformismo.

Foi uma geração marcada pelo psicodélico, o uso de drogas alucinógenas como o LSD e a maconha (curiosamente repudiavam o tabaco) e que viram seus ídolos (como Janis Joplin) morrerem de overdose. O que eles queriam? “O movimento hippie tinha por objetivo rebelar-se contra os valores instituídos pela sociedade e através do descondicionamento chegar à existência autêntica”, diz a historiadora Patricia Marcondes de Barros. Rebelar-se foi o que mais os hippies fizeram e são lendários seus problemas com as autoridades. Apesar disso, começaram a ser vistos como expressão cultural de massa. “Entre as décadas de 60 e 70, essa experiência foi passada para a telona, para as artes plásticas e roupas”, explica Agnelo, “obviamente a indústria cultural começou a absorver esse processo e o transformou em moda”, completa. Sendo assim, o movimento hippie deixou de ser expressão da contracultura e passou a fazer parte da cultura normatizada.

Mas o sonho não acabou. Em todo o globo, existem jovens que, assim como aqueles da década de 60, acreditam que podem mudar o mundo, transformando-o num lugar melhor.

On The Road – Jack Kerouac Jack Kerouac foi o escritor que melhor sintetizou, em sua obra, o que era o movimento Beat. Conheça um pouquinho do que foi seu maior sucesso “On The Road”: “Casualmente, uma gostosíssima garota do Colorado bateu aquele shake pra mim; ela era toda sorrisos também; eu me senti gratificado, aquilo me refez dos excessos da noite passada. Disse a mim mesmo: Uau! Denver deve ser ótima. Retornei à estrada calorenta e zarpei num carro novo em folha, dirigido por um jovem executivo de Denver, um cara de uns trinta e cinco anos. Ele ia a cento e vinte por hora. Eu formigava inteiro; contava os minutos e subtraía os quilômetros. Bem em frente, por trás dos trigais esvoaçantes, que reluziam sob as neves distantes do Estes, eu finalmente veria Denver. Imaginei-me num bar qualquer da cidade, naquela noite, com a turma inteira; aos olhos deles, eu pareceria misterioso e maltrapilho, como um profeta que cruzasse a terra inteira para trazer a palavra enigmática, e a única palavra que eu teria a dizer era: ‘Uau!’...”

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Essa máxima do movimento hippie permanece intacta até hoje.

Revolução “eu te amo” – E não foram apenas os hippies que acharam que podiam mudar o mundo. Em maio de 1968, a capital da França parou. “Paris era a cidade luz, em todos os sentidos, principalmente cultural”, diz o professor Agnelo sobre a cidade no início do século XX. Manifestações estudantis ocorridas entre estudantes parisienses das universidades de Sorbonne e Nanterre ganharam uma dimensão fantástica quando quase 20 mil estudantes enfrentaram a polícia nas universidades e ruas de Paris. Depois disso, operários juntaram forças com os universitários, aproveitando o momento para impor suas próprias reinvindicações, decretando uma greve geral de 24 horas. “No dia 20, a mobilização atinge seu auge”, explica o jornalista Ébano Piacentini: “Paris amanhece sem metrô, ônibus, telefones e outros serviços. Cerca de seis milhões de grevistas ocupam as 300 fábricas da França.” Essa manifestação, que aparentemente começou num repente, trouxe à tona temas como democracia, direito das minorias, igualdade entre homens e mulheres, brancos e negros e homossexualismo, que foram amplamente discutidos na França e que, direta ou indiretamente, influenciou discussões em vários outros países, inclusive no Brasil.

“É proibido proibir” –

No Brasil da Ditadura Militar, surgiu um movimento que tinha como arma principal a música. Era o Tropicalismo, que entre 1967 e 1968 agitou o cenário da música popular brasileira. À frente do movimento ninguém menos que Caetano Veloso e Gilberto Gil, que experimentaram uma mistura um tanto inusitada: bossa nova, rock and roll e a ainda “temida” guitarra elétrica. E se hoje Caetano e Gil são sumidades da música popular brasileira, em 67 foram recebidos, juntamente com outros nomes da música - como Os Mutantes - com ovos, tomates, pedaços de madeira e muitas vaias. Como disse Caetano no Festival Internacional da Canção, de 68, na apresentação da música É proibido proibir (numa clara alusão ao Maio de 68) “vocês não estão entendendo nada, nada, nada, absolutamente nada”. A sociedade não estava preparada para o que estava acontecendo. E incomodaram tanto que, em 1968, Caetano e Gil foram exilados. “O Tropicalismo renovou radicalmente a letra de música”, diz Ana de Oliveira, responsável pelo site Tropicália, totalmente dedicado ao movimento. Mas sua influência não ficou apenas na música. Política, cinema, teatro, comportamento e o vestuário receberam o toque da Tropicália e nunca mais voltaram a ser o que era antes. A cultura do país “já estava marcada para sempre pela descoberta da modernidade e dos trópicos”, conclui Ana, sintetizando o que foi esse movimento para o futuro cultural do país.

Não é de hoje que jovens criam maneiras para se opor a cultura vigente. Seja usando calças coloridas, piercing ou pintando o cabelo de verde. Se hoje temos a liberdade de nos expressar dessa forma, é porque há tempos atrás outros jovens, definidos como loucos e subversivos, tiveram a coragem de mostrar todo o seu descontentamento com uma sociedade toda certinha e dizer, ao mundo todo, para que eles vieram.

E O Arauto? – Sempre antenado no que acontece no mundo, O Arauto mantêm um caderno especial para discutir-se cultura: Contracultura. Seja abordando assuntos atuais ou puxando pela memória temas que fizeram a diferença, mas sempre lembrando o leitor a riqueza cultural que existe por aí.

Por essas páginas já passaram uma variedade de assuntos, desde Charles Darwin e sua Teoria da Evolução até o Clip Festival, que ocorreu ano passado na cidade de Indaiatuba. Também já foram temas do caderno Contracultura os 40 anos de Woodstock, a galera do SxE, Literatura de Cordel, Valentina – a erótica heroína dos HQs e muitos outros. Não está lembrado? Então corra atrás das suas antigas edições de O Arauto e delicie-se. Cultura nunca é demais.

Alessandra Luvisotto/O Arauto Eduardo Carvalho/O Arauto


ESPECIAL

Fernando (várias) Pessoa(s) Saiba sobre o gênio da literatura, que nos deixou há 75 anos A trajetória do escritor que multiplicou-se, desdobrou-se e reinventou-se em outras personalidades poéticas, produzindo uma das mais importantes obras da literatura mundial [Samuel Peressim]

A vida - Nascido em 13 de junho de 1888, em Lisboa, Pessoa ficou órfão de pai ainda criança, aos cinco anos. Pouco tempo depois, sua mãe casou-se novamente e a família mudou-se para Durban, na África do Sul, onde Pessoa passou a infância e a adolescência e recebeu educação inglesa. Anos mais tarde, em 1905, o garoto voltou a Lisboa e iniciou o Curso Superior de Letras. Porém, antes de se formar, abandonou a escola e abriu uma tipografia. O negócio teve vida breve e Pessoa começou então a trabalhar como correspondente estrangeiro, redigindo cartas comerciais em inglês e francês. Modesta, a atividade o sustentou por boa parte da vida. Paralelamente ao trabalho, dedicava o tempo livre à literatura. Um de seus versos sintetiza bem sua escolha de viver uma vida pequena para construir uma grande obra: “Viver não é necessário; o que é necessário é criar”. O multiplicador de “eus” - Pessoa não morreu

sozinho. Levou consigo muitos outros “eus”, heterônimos como Ricardo Reis, Álvaro de Campos, Alberto Caeiro, Bernardo Soares e Antonio Mora. Sua capacidade ímpar de explorar a heteronímia, multiplicando-se, desdobrando-se e reinventandose em diversas personalidades poéticas constituem a principal característica do escritor.

Ainda hoje, a habilidade do português de recriar-se em outros personagens é tema de debates e pesquisas. Pessoa, o poeta fingidor (“Fingir é conhecer-se”), não criou apenas personagenspoetas. Concebeu obras de poetas e deu vida própria a cada um deles. Em carta direcionada ao amigo Adolfo Casais Monteiro, em 1935, o português descreve em detalhes como nasceram seus três principais heterônimos: Ricardo Reis, o poeta neoclássico, Álvaro de Campos, o poeta modernista, e Alberto Caeiro, o poeta-pastor. A mensagem aponta para sua pluralidade, desmitificando a ideia da personalidade humana como algo inteiro e absoluto. (Abaixo, trecho da correspondência.) “Eu vejo diante de mim, no espaço incolor mas real do sonho, as caras, os gestos de Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos. Construi-lhes as idades e as vidas. Ricardo Reis nasceu em 1887 (não me lembro do dia e mês, mas tenho-os algures), no Porto, é médico e está presentemente no Brasil. Alberto Caeiro nasceu em 1889 e morreu em 1915; nasceu em Lisboa, mas viveu quase toda a sua vida no campo. Não teve profissão nem educação quase alguma. Álvaro de Campos nasceu em Tavira, no dia 15 de Outubro de 1890 [...]. Este, como sabe, é engenheiro naval (por Glasgow), mas agora está aqui em Lisboa em inactividade. Caeiro era de estatura média, e, embora realmente frágil (morreu tuberculoso), não parecia tão frágil como era. Ricardo Reis é um pouco, mas muito pouco, mais baixo, mais forte, mais seco. Álvaro de Campos é alto (1,75 m de altura, mais 2 cm do que eu), magro e um pouco tendente a curvar-se. Cara rapada todos — o Caeiro louro sem cor, olhos azuis; Reis de um vago moreno mate; Campos entre branco e moreno, tipo vagamente de judeu português, cabelo, porém, liso e normalmente apartado ao lado, monóculo. [...] Como escrevo em nome desses três? ... Caeiro por pura e inesperada inspiração, sem saber ou sequer calcular que iria escrever. Ricardo Reis, depois de uma deliberação abstracta, que subitamente se concretiza numa ode. Campos, quando sinto um súbito impulso para escrever e não sei o quê.”

Arte: Jean Pluvinage/O Arauto

Há 75 anos, no dia 30 de novembro, em decorrência de problemas hepáticos, a literatura mundial perdia um de seus principais nomes: Fernando António Nogueira Pessoa ou, apenas, Fernando Pessoa, como ficara conhecido. Considerado o mais importante representante do Modernismo português, geração a qual deu início com a criação da revista Orpheu, em 1915, o nome de Pessoa goza, hoje, do prestígio e reconhecimento que o autor não recebera em vida. “Não há dúvida de que Pessoa é um dos grandes autores contemporâneos. Ele projetou a poesia de língua portuguesa na literatura mundial”, reconhece o escritor Moacyr Scliar, ocupante da Cadeira nº 31 da Academia Brasileira de Letras (ABL).

Obra - Imaginação. Está é a palavra que rege a obra de Pessoa. Outros elementos como a inquietude, a busca constante de consciência e a necessidade de compreender todas as coisas, aplicando a elas os mais diferentes pontos de vista, também configuram características marcantes do trabalho do escritor. Reunindo o sentir e o pensar (“o que em mim sente ‘stá pensando”), conjugando lucidez e vidência, alheio à sua postura analítico-racional, de constante indagação crítica, as grandes experiências e contradições vislumbradas por Pessoa foram recriadas poeticamente em seus textos, em uma linguagem simples e clara.

Navegar é preciso. Viver não é preciso...

Além de poemas, compõem a obra de Pessoa críticas literárias, contos e ensaios. Em 1934, um ano antes de sua morte, publicou seu único livro de versos em português “Mensagem”, no qual, a partir de Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões, recria a História de Portugal. O escritor, que praticamente nada desfrutou da fama durante a vida, deixou milhares de escritos (alguns completos e outros inacabados) que, desde a década de 40, têm sido divulgados. Aos que leram está reportagem até aqui, o próprio Pessoa lhes cumprimenta com um de seus versos: “Saúdo todos os que me lerem/Tirando-lhes o chapéu largo/ Quando me vêem à minha porta/Mal a diligência levanta no cimo do outeiro./ Saúdo-os e desejo-lhes sol,/E chuva, quando a chuva é precisa,/E que as suas casas tenham/Ao pé duma janela aberta/Uma cadeira predileta/Onde se sentem, lendo os meus versos”.

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Entrevista: Carlos Felipe Moisés

“O mais brasileiro dos poetas portugueses”

Alessandra Luvisotto/O Arauto

Autor de cinco livros sobre Pessoa, o escritor o classifica como divisor de águas da literatura

Quando o assunto é Fernando Pessoa, não importa a hora ou o lugar, o tema interessa ao escritor Carlos Felipe Moisés, um dos principais estudiosos da obra do poeta no país. Poeta, crítico literário e ex-professor de literatura da Universidade de São Paulo (USP) e da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC), Moisés já escreveu cinco livros sobre Pessoa. Atualmente, o escritor é, ao lado de Richard Zenith, um dos curadores da exposição “Fernando Pessoa, plural como o universo”, que está em cartaz na sala de exposições temporárias do Museu da Língua Portuguesa (MLP). A exposição, a primeira a homenagear um autor português no MLP, é composta por poemas impressos e projetados, fac-símiles de documentos, imagens de Pessoa, quadros de pintores portugueses e um vídeo. Em entrevista ao jornal O Arauto por email, Moisés fala sobre a exposição, a obra e a importância de Pessoa na história da literatura.

O Arauto - Como surgiu a idéia de criar a exposição sobre Pessoa? Moisés - Como o Museu da Língua Portuguesa não foi concebido para homenagear apenas escritores brasileiros, era natural que um dia abrisse as portas para os demais escritores da língua. A escolha foi óbvia. Primeiro porque Fernando Pessoa é reconhecido unanimemente como um escritor genial; depois, porque é o mais brasileiro dos poetas portugueses (uma prova dessa popularidade é, por exemplo, achada ao acessar o Orkut, site de relacionamentos da internet que está recheado de citações do mestre: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena...” ou “ o poeta é um fingidor...”).

Arauto - Este mês faz 75 anos da morte de Fernando Pessoa. Qual a importância do escritor na literatura mundial? Moisés - Fernando Pessoa foi um divisor de águas: inovou, revolucionou, abriu perspectivas insuspeitadas para a criação literária. Tendo criado sua obra entre 1910 e 1935, tendo desaparecido há 75 anos, o que mais impressiona é a atualidade de sua visão de mundo. Não há leitor, hoje, que não se identifique com essa visão, que não se reconheça nos seus versos ou prosas, que não o sinta como um contemporâneo. São raros os escritores, em toda a História, que estejam no mesmo caso. E isso vale para padrões estritamente luso-brasileiros e para padrões internacionais.

Arauto - O que faz de Pessoa único? Moisés - São vários aspectos. O primeiro deles é a poderosa imaginação, geradora de “heterônimos”, isto é, diferentes personalidades, diferentes estilos, cada qual portador de um ponto de vista próprio em relação à vida e ao mundo. O segundo é que essa imaginação não se confunde com a mera fantasia ou o devaneio, mas vem sempre associada a uma também poderosa inteligência das coisas, isto é, a uma impressionante capacidade de raciocinar e refletir. O terceiro é isto mesmo: Pessoa é um poeta que não se limita a sentir, não abre mão de estar sempre pensando, também – e isso, entre nós, é raro; Pessoa leva essas duas vertentes (emoção + razão), sempre indissociáveis, à sua máxima potencialidade. Por fim, o quarto aspecto: sua linguagem é predominantemente clara, direta, concisa, enganadoramente simples, ao contrário da linguagem empolada, rebuscada, repleta de torneios retóricos, ornamentais, da tradição.

Arauto - Qual das obras de Pessoa considera a principal? Moisés - Há apenas duas obras (no sentido de “livros” autônomos) às quais Pessoa se dedicou a vida toda: “Mensagem”, que ele chegou a publicar, um ano antes de morrer, e “O Livro do Desassossego”, este assinado por Bernardo Soares, que ele não só não publicou como deixou truncada, incompleta, em boa parte apenas rascunhada. Fora isso, deixou outras “obras” (no mesmo sentido de livros autônomos) bem delineadas, praticamente terminadas, como “O Guardador de Rebanhos”, de Alberto Caeiro, as “Odes” de Ricardo

Reis, o “Cancioneiro”, assinado com seu nome de batismo, e uma notável quantidade de textos avulsos, em verso e prosa, que ele próprio hesitou em reunir na forma de livro. No conjunto da sua obra (“obra”, já agora, no sentido amplo) não creio que exista um livro que possa ser considerado o principal: tudo quanto ele deixou, ainda que inacabado, só rascunhado, disperso, é imprescindível para o seu conhecimento. Arauto - Qual sua influência na literatura brasileira? Moisés - Pessoa morreu praticamente inédito em livro, sua obra só começou a ser divulgada nos anos 40, mas já na década seguinte vários poetas brasileiros se dão conta de sua importância, como Carlos Drummond de Andrade e Cassiano Ricardo, e prestam seu tributo a ele. A partir dos anos 60, sua popularidade no Brasil cresce, graças, sobretudo, a compositores e intérpretes como Caetano Veloso, Maria Bethânia, Tom Jobim e tantos outros, e isso vem se expandindo, tanto na MPB, na mídia em geral, nas salas de aula como entre os escritores que o admiram. Sua influência em nossa literatura deve ser significativa (ainda está por ser pesquisada), mas nunca chegou a resultar em nenhum “movimento” específico. Arauto - Acredita que a capacidade de Pessoa de “deixar-se possuir por outros seres”, a heteronímia, aponta para a perda de identidade do ser humano ou mesmo do escritor? O que o poeta pretendia evidenciar? Moisés - “Deixar-se possuir por outros seres” tem uma conotação de algo espírita, sobrenatural e paranormal, que absolutamente não se aplica ao caso da criação dos heterônimos, fruto do conhecimento, da razão, da inteligência, da sensibilidade, das emoções e da imaginação (isto é, faculdades perfeitamente naturais e humanas), que levaram Fernando Pessoa a enxergar que o mundo à sua/nossa volta é heterogêneo, contraditório e instável. E que, para sintonizar com esse mundo, a consciência humana precisa tornarse igualmente heterogênea, multiplicando-se, ou multiplicando a sua capacidade de variar, de mudar, a fim de aplicar à realidade o máximo possível de pontos de vista, ou modos de ser e de reagir. “Perda da identidade?” Eu diria que é o contrário: é ganho, conquista de identidade, tão mais verdadeira ou autêntica quanto mais variada. Perda de identidade, isto sim, é a ilusão com que as pessoas tentam se convencer de que são dotadas de um “eu” ou uma “identidade” própria, exclusiva, inalterável, sempre igual a si mesma. Pessoa diz (entre muitas outras frases admiráveis, similares) “Eu sou muitos”, perfeitamente sabedor de que isso não se aplica só a ele, mas a todo e qualquer indivíduo minimamente consciente.

Arauto - Acredita que o tempo será capaz de fazer com que Pessoa caia no esquecimento? Moisés - Em matéria de poesia, talvez seja possível falar-se em “ciclos”, isto é, largos períodos em que é predominante a figura de determinado poeta de gênio, realmente excepcional. Em língua portuguesa, para falar em termos de ampla generalização (e confesso que não sei se tem algum valor falar-se nesses termos), há só dois grandes ciclos, um “camoniano”, que se estende do séc. XVI ao início do XX, e o “pessoano”, que começa naquele momento. Estamos vivendo ainda o pleno apogeu deste segundo ciclo, e é impossível prever se será tão extenso quanto o anterior. Mas é possível supor que, mais cedo ou mais tarde, outro poeta de gênio surgirá, que dará origem a um terceiro ciclo. Agora, cair no esquecimento, não creio que isso venha a acontecer, assim como Camões não caiu no esquecimento só porque outro grande poeta deu por cumprido o ciclo que o primeiro protagonizou. Pessoa, Camões e todos os outros poetas só cairão no esquecimento quando esta civilização dita ocidental, em que vivemos, há mais de 2.000 anos, for capaz de (re)conduzir o bicho homem à barbárie absoluta de onde este proveio.


comunicação

Conheca as leis de incentivo à

cultura

[Sandra Ribeiro]

Você é uma pessoa que adora inventar arte? Vive com a cabeça cheia de pensamentos criativos? Então fique atento: suas ideias podem virar projetos e esses, ações culturais. E melhor, tudo isso sem botar a mão no seu próprio bolso.

esta lei ainda era novidade no mercado. Hoje podemos contar com vários outros mecanismos, o que facilita muito o meu trabalho”, comemora.

Segundo dados do Ministério da Cultura (Minc), a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) destinou, para setor cultural no ano de 2010, pouco mais R$ 2,2 bilhões. Parte desta verba compôs o Fundo Nacional de Cultura (FNC), órgão que financia projetos por meio de editais e outra foi para o incentivo fiscal de empresas patrocinadoras. Este orçamento é destinado exclusivamente à execução de programas na área cultural. Portanto, recurso há, mas é preciso ficar atento aos editais que são divulgados no decorrer do ano nos sites dos órgãos e nas publicações do gênero.

Atitudes como a do Grupo Votorantim proporcionaram o surgimento de profissionais como a Luciana, que ganham a vida para ficar de olho nas oportunidades que estas fundações e corporações abrem para os produtores.

Só no Procultura, plano de reforma da Lei Rouanet, há a injeção de R$ 300 milhões no mercado cultural por meio de apoio direto, convênios e bolsas de estudo. Para facilitar a vida dos futuros empreendedores pesquisamos algumas das principais ferramentas de fomento cultural. E fomos atrás de algumas pessoas que já se valeram delas para tirar as ideias do papel e fazer acontecer: Lei Rouanet - A lei federal nº 8.313 leva o nome do seu criador, Sergio Paulo Rouanet (exsecretário de Cultura do Minc), foi assinada em dezembro de 1991. A Lei Rouanet criou novas diretrizes para a política cultural no país. Através dela foi instituído o Programa Nacional de Apoio a Cultura (Pronac) e uma política de renúncia fiscal que permitiu às empresas e cidadãos investir em projetos culturais.

Atualmente as pessoas jurídicas que aplicarem recursos nesta área podem recuperar parte deste valor no IR (Imposto Renda), desde que o valor não ultrapasse 4% do imposto devido. Além do benefício do abatimento, isto valoriza a empresa ao vincular sua marca às ações culturais. O contribuinte pessoa física pode abater até 6%, e tem a certeza da destinação do seu imposto. Para a produtora cultural Luciana Machado, especialista em Rouanet, “a lei representou uma mudança radical na filosofia de incentivo à cultura no país. As empresas adiantam o dinheiro aos produtores culturais, e depois são reembolsadas na hora de pagar o seu Imposto de Renda, é a forma que o governo encontrou de apoiar a produção cultural nacional”, afirma.

Que tal levantar uma grana e ainda dar uma mãozinha à cultura? Luciana fez do conhecimento das leis de incentivos uma profissão. Atualmente trabalha com terceirização na elaboração de projetos para empresas e instituições: “Comecei a trabalhar na área em 1996. Em 2001 através da Fundação de Desenvolvimento Cultural de Sorocaba (Fundec) fui estudar gestão cultural e em consequência disso a Lei Rouanet. Na época

A elaboração de projetos e captação de recursos requer equilíbrio entre arte e mercado. Por isso, é preciso estar “antenado” na política da patrocinadora. “Falar a mesma linguagem passa por conhecer minimamente a empresa”, aconselha a assessora de comunicação da Metso Brasil, Susi Berbel. Segundo Susi, empresas como a Metso e a Votorantim, que possuem tradição no investimento na área cultural, buscam cada vez mais canais de comunicação com os produtores, mas a proposta precisa estar bem elaborada.

A Rouanet está mudando - Tramita atualmente no Congresso Nacional uma proposta de reestruturação da Rouanet, formulada pelo Minc. É o PL 6722/2010, que está sendo chamado de Procultura e cria outras formas de apoio como o Fundo de Investimento Cultural e Artístico (Ficart) e o Vale Cultura.

Segundo especialistas, o ponto forte desta mudança prevê a destinação de um percentual maior dos recursos para o FNC e, desta forma, aprovar mais projetos através de editais. “O que acontece hoje é que a maior parte dos recursos que saem do Minc é por incentivo fiscal. Isto só beneficia os projetos grandes, concertos internacionais, peças com atores famosos, filmes de orçamentos e planos de divulgação imensos. Os pequenos e médios produtores saem prejudicados e com esta nova lei isto vai mudar”, explica Luciana.

A reforma circula na câmera dos deputados em regime de prioridade, mas alguns benefícios já estão à disposição dos arteiros em geral. Novos editais nas áreas de programação cultural de livrarias, estímulo ao circo, dança e teatro, artes visuais, banda de música e audiovisual estão abertos (vão ate 10 de dezembro). Todas as informações dos editais podem ser acessadas no site do Minc (www.cultura.gov.br).

Alessandra Luvisotto/O Arauto

Estamos falando de leis de incentivo à cultura. Com elas, cada vez mais artistas, produtores culturais e cidadãos comuns estão mostrando seu trabalho. O resultado é o aumento de peças teatrais, espetáculos circenses e musicais, produções audiovisuais e muitos outros produtos culturais à disposição da população.

O incentivo cultural por meio de renúncia fiscal sempre foi a grande sacada do Ministério da Cultura. Mas por se tratar de um mecanismo burocrático, tornou-se uma ferramenta mais usada por empresas de grande porte. Exemplo é o caso do Grupo Votorantim, gigante em operações que vão da produção de cimento a bancos de investimentos, e que criaram uma fundação só para administrar ações culturais e sociais.

Proac - O estado de São Paulo possui sua própria lei de incentivo, o Programa de Ação Cultural (Proac). Criado em 2006, o Proac utiliza recursos do Imposto sobre circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para patrocinar projetos através de editais e do incentivo fiscal. Os editais usam recursos orçamentários da Secretaria de Cultura, isto é, se o projeto é aprovado, o estado libera a verba. Eles são abertos no decorrer do ano para os segmentos de cinema, circo, teatro, dança, artes plásticas, música, literatura e hip-hop. Há também editais para projetos ligados às culturas tradicionais e indígenas e novas mídias.

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Além das ferramentas que utilizam verba do poder público para incentivar a produção cultural, existem inúmeras fundações, autarquias e empresas privadas dispostas a dar uma força para seu projeto alçar vôo. Listamos algumas com seus períodos de lançamento de editais. Agora é só botar a trupe para ensaiar, soltar a voz ou sair por ai com uma câmera - ou notebook - na mão e uma boa idéia na cabeça. Boa sorte! • Instituto Votorantim (www.institutovotorantim.org.br). – Agosto/Setembro – É necessário ter o selo da Rouanet para concorrer. • Correios (www.correios.com.br) – Agosto/Setembro

• Itaú Cultural (www.itaucultural.org.br) – Março

• Proac (www.cultura.sp.gov.br) – Lança edital em qualquer período. • Mais informações sobre o tema: http://www.blogacesso.com.br

O produtor cultural Marcelo Nascimento utilizou verba do Proac para levar teatro para crianças do ensino fundamental do Vale do Ribeira. É o projeto Teatro em Movimento, “uma continuação de ações culturais anteriores, pois já trabalhamos com escolas. Ficamos sabendo do edital pela imprensa e resolvemos nos inscrever, o estado aprovou e assim viabilizamos. O mais recompensador é que na região tinham alunos que nunca tinham visto teatro na vida”, conta ele.

Outra forma de se conseguir verbas é pelo incentivo fiscal, muito parecido com a Rouanet, só que desta vez descontando no ICMS da empresa patrocinadora. O projeto é pré-aprovado pela Secretaria da Cultura através dos conselhos de cada segmento e o autor pode captar os recursos entre a iniciativa privada.

A comissão julgadora de projetos do Proac é formada por artistas indicados por entidades ligadas à cultura. O diretor teatral Mário Pérsico é o mais Alessandra Luvisotto/O Arauto

novo representante da região no conselho. “Eu entrei através da indicação do Sated (Sindicato dos Artistas e Técnicos em Diversão do Estado de São Paulo) e pelo meu currículo”, conta ele. Leitura atenta do edital é algo fundamental ao propor um projeto. “Os critérios analisados são: excelência artística, qualificação dos artistas envolvidos, diversidade temática e estética, viabilidade, interesse do público e adequação orçamentária. Há uma preocupação em aprovar grupos que ainda não foram contemplados. Entre 250 projetos para se escolher 16, a seleção precisa ser justa, pois há grupos que ganharam outros editais com o mesmo projeto”, explica Mário. O Proac é aberto tanto para pessoas físicas como jurídicas (com ou sem fins lucrativos) desde que comprovem no mínimo dois anos de residência no estado de São Paulo. Para participar é necessário um credenciamento. Mas não se assuste, é tudo online, no próprio site da secretaria.

Linc - Alguns municípios brasileiros também possuem leis de incentivo. Na região, a cidade de Sorocaba é um deles. Desde 1998, parte do Imposto sobre Serviços (ISS) da cidade é destinado para apoio de projetos culturais na área de vídeo, teatro, literatura, formação cultural, música e patrimônio histórico. No ano 2010 o valor destinado a Linc foi de R$ 660 mil, que foram distribuídos em dois editais. Os projetos são selecionados por uma Comissão de Desenvolvimento Cultural (CDC) formada por artistas de cada área. Estes, por sua vez, são indicados pelas associações e entidades culturais da cidade. “Este mecanismo é muito importante para nós, pois ao contrário de leis estaduais ou federais, que visam grandes regiões ou mesmo estados, se foca em nosso município. É de sorocabanos para sorocabanos. Isso ajuda a preservar a identidade cultural da região em vários aspectos, como o tropeirismo, a ferrovia, o passado tecelão da cidade e tantos outros. Sem falar da parte artística”, afirma o conselheiro de vídeo Laerte Guimarães. Por ser uma lei municipal, o incentivo cultural da Linc só é concedido às pessoas que comprovem domicílio eleitoral em Sorocaba de pelo menos dois anos. Empresas também podem pleitear desde que comprovem estar na cidade há quatro anos. Os projetos devem seguir à risca o edital e os temas regionais são priorizados.

Lei do Audiovisual - As atividades cinematográficas e audiovisuais possuem um mecanismo próprio de fomento. Se você está pensando em rodar um curta, média ou até longa metragem, fique de olho na lei 8685/93 ou Lei do Audivisual. Criada em 1993, para alavancar a produção brasileira da área, a lei era prevista para vigorar até 2003. Em 2001 uma medida provisória prorrogou os incentivos fiscais até o ano de 2010. Atualmente tramita o projeto de lei 7674/10 que procura estender seus benefícios até 2016.

Da mesma forma que as outras, esta lei também funciona atraves de incentivos fiscais. O projeto primeiramente deve ser aprovado pela Agência Nacional de Cinema (Ancine) e só assim partir para a captação de verba. As empresas que comprarem cotas de investimentos ou patrocinarem projetos independentes podem abater o valor do imposto de renda.


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