Caderno de Cinema Palmas de Ouro nº 02

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REVISTA DIGITAL SALTENSE DE CINEMA E ARTES AUDIOVISUAIS

#02

abr. 2015

ISSN 2359-3830

Foto de Capa: Fernando Henrique


HALL DE ENTRADA

Editorial

CADERNO DIGITAL PALMAS DE OURO

A NECESSIDADE DE PENSAR O CINEMA

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segunda edição da revista Palmas de Ouro traz uma grande seleção de textos sobre cinema e, também, sobre pensar o cinema. Afinal, se queremos a diversidade da sétima arte, precisamos formar cineastas e profissionais do audiovisual que sejam críticos quanto ao que é produzido, que possam ir além do que já existe e formular ideias novas, ou reapropriar ideias antigas em novos contextos. No caso de Salto, a grande cidade de Anselmo Duarte, o legado de fazer cinema e também pensar o cinema continua presente e atuante diante de um curso superior de cinema que está se tornando referência nacional diante de sua qualidade, prêmios e atuação na comunidade saltense. Confira em nossa seção especial! E pensar o cinema é também agir para abrir espaços, ir além dos desafios da produção, distribuição e exibição. Devemos apoiar a produção nacional de forma ampla e democrática. Confiram, aqui, exemplos importantes como as realizações do Festival de Curta-Metragem de Brasília e o Cine Guerrilha (de São Paulo).

Também quero dar minhas boas-vindas a três novos colunistas da revista: André Roedel , Bárbara Fcamidu e Pedro Chamon Pardim. São pensadores do audiovisual que, junto com toda nossa equipe, irão analisar o cinema saltense, nacional e internacional, o cinema comercial e independente, em todas as suas formas, mas, principalmente, analisar o cinema de forma crítica. Juntos fazemos a revista que pensa o cinema. Boa leitura! Jean-Frédéric Pluvinage / Diretor CONTATO@PALMASDEOURO.COM.BR

Foto: Erica Dal Bello


QUEREMOS A SUA PARTICIPAÇÃO!

SUGESTÕES, DICAS, PRESS-RELEASES? Entre em contato com a nossa equipe de redação!

CONTATO@PALMASDEOURO.COM.BR


HALL DE ENTRADA

Índice

Divulgação

SESSÃO EDITORIAL

Salto digital no cinema • Jean-Frédéric Pluvinage SESSÃO ESPECIAL • ESTUDAR CINEMA EM SALTO

Novos cineastas na terra de Anselmo Duarte • Paulo Stucchi Comunidade e Universidade • Lilian Solá Santiago SESSÃO ANÁLISE

Levando emoções há 75 anos • Paulo Stucchi O tempo para Richard Linklater • Pedro Chamon Pardim Você não fala sobre o Clube da Luta • Bárbara Fcamidu Invasão heroica • André Roedel Interestelar: filmando a física • Rodolfo Emili Êxodo: divino e agnóstico • Jean-Frédéric Pluvinage Birdman • Tatiani Faria Para sempre Alice • Tatiani Faria Curta Brasília celebrando seu terceiro ano • Paulo Aranha SESSÃO DIÁLOGOS

A velha guerra do cinema independente • Tatiani Faria Fazer cinema no Brasil • Tatiani Faria


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HALL DE ENTRADA

Redação Jean-Frédéric PLUVINAGE Diretor da FoxTablet, editora de publicações impressas e digitais. Escreve e ministra cursos sobre o aplicativo Adobe InDesign, editoração e storytelling.

André ROEDEL Repórter do portal de notícias Itu.com.br e colunista do Jornal Identidade. É fascinado por quadrinhos, cinema, séries e pela cultura pop em geral.

Lilian Solá SANTIAGO Diretora da Terra Firme Digital, na qual produz filmes e vídeos. Professora de cursos sobre cinema no CEUNSP. Tem paixão por filmes documentários.

Bárbara FCAMIDU Jornalista formada na Universidade Federal do Pampa (RS), Bárbara é apaixonada pela fotografia e pelo cinema, especificamente pelo gênero do Film Noir.

Paulo ARANHA Cineclubista, cineasta e multiartista, Paulo é jurado dos festivais Super-8 de Campinas, Festival Internacional de Cinema de Itu e Cine Fest Votorantim.

Filipe SALLES Fotógrafo e cineasta, coordena os cursos de artes do CEUNSP. Diretor e diretor de fotografia, tem grande interesse nas afinidades entre som e imagem.

Paulo STUCCHI Diretor da Parla! Assessoria, atua como jornalista e redator para publicações de Itu e região. Também ministra cursos de comunicação corporativa.


Pedro CHAMON PARDIM Ex-aluno e oficineiro do ponto de cultura “Anselminhos - pagadores de promessas” e crítico no site “Salada de Cinema”. Apaixonado pela sétima arte. Rodolfo EMILI Estudante de Letras no CEUNSP, estuda e pesquisa Literatura e Cinema Comparado, com especial apreço por livros e filmes de ficção científica. Rodrigo LARA Estudante do curso de cinema do CEUNSP, é diretor do documentário “Temporada de Caça”. Atua como produtor executivo e roteirista na Eora Filmes. Tatiani FARIA Formada em Cinema, Tatiani é CEO da produtora Circle. Diretora do curta “Valquíria”, está atualmente envolvida em produções como o longa “Diana”.


SESSÃO EDITORIAL

Lançamento Palmas de Ouro

Fotos: Divulgação

SALTO DIGITAL NO CINEMA Confira o lançamento oficial da revista digital Palmas de Ouro, uma publicação que irá enaltecer todas as linguagens e culturas do cinema com um sabor regional. POR JEAN-FRÉDÉRIC PLUVINAGE revista digital Palmas de Ouro foi lançada oficialmente, em evento aberto ao público, no dia 10 de dezembro de 2015, na Sala Giuseppe Verdi, em Salto. A revista que você tem em mãos (mais precisamente em seu tablet ou smartphone) – ou na tela de seu computador PC – é uma revista digital gratuita inspirada nos cadernos de cinema franceses como o Cahiers du Cinéma, unindo a tradição desses cadernos

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com a tecnologia da linguagem digital e seus elementos interativos, hipertextuais e multimídia. A publicação foi um dos projetos contemplados pelo Edital de Cultura nº 02/2014, promovido pela Prefeitura de Salto e Secretaria da Cultura. O evento contou com a presença do Secretário da Cultura de Salto, Marcos Pardim, além de membros da secretaria, produtores culturais, amantes do cinema e membros


INTERATIVO! Vídeo sobre o evento de lançamento. Produzido por GUIA REGIONAL EM VÍDEO Jean-Frédéric Pluvinage, idealizador da revista, durante o lançamento oficial em Salto da equipe de redação. Foram instalados no espaço do evento dois totens interativos, com telas sensíveis ao toque, para que os visitantes pudessem visualizar a revista em ambiente digital. Na ocasião, foi apresentado o conceito da publicação e também distribuído cartões com links para a página da revista na Internet. Para o público presente, o evento destacou que a publicação é uma grande oportunidade para mostrar a cultura audiovisual do interior. A intenção é continuar a mostrar a magia do cinema em todas as suas linguagens e também nos mais diversos suportes, principalmente pelo meio digital. A revista Palmas de Ouro foca na análise profunda da sétima arte, indo, portanto, além da descrição dos lançamentos atuais, mas com um texto simples e descontraído. Além disso, a publicação se dedica tanto a mostrar a produção regional quanto a analisar o cinema de forma mais abrangente. Dessa forma, é possível mostrar toda a cultura do cinema saltense, mas vamos tam-

bém dialogar com as novidades importantes do cinema nacional e internacional. Será divulgada a cultura de Salto para todo o Brasil ao mesmo tempo que haverá informações sobre cinema de interesse geral. A equipe de redação é composta por Jean-Frédéric Pluvinage (idealizador do projeto) e os redatores André Roedel, Bárbara Fcamidu, Filipe Salles, Lilian Solá Santiago, Paulo Aranha, Paulo Stucchi, Pedro Chamon Pardim, Rodrigo Lara, Rodolfo Emili e Tatiani Faria. A primeira edição da revista tem como destaque a vida e obra de Anselmo Duarte, cineasta saltense que é o único vencedor, no Brasil e na América Latina, do maior prêmio do cinema, a Palma de Ouro do festival de Cannes, na França. Ele recebeu o prêmio em 1962, com o filme “O Pagador de Promessas”. A revista pode ser lida pelo computador através do site www.palmasdeouro.com.br e baixada nas lojas de aplicativos App Store (iOS) e Google Play (Android).


SESSÃO ESPECIAL

Estudar cinema em Salto

Foto: Fernando Henrique

NOVOS CINEASTAS NA TERRA DE ANSELMO DUARTE Curso de Cinema oferecido pelo CEUNSP se consolida como referência em todo o Brasil e torna-se parte fundamental para ratificar Salto como polo cinematográfico. POR PAULO STUCCHI ão cinquenta e sete anos de história e várias mudanças, frutos de ciclos de investimentos realizados na área de educação e ensino superior. O Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio (CEUNSP) pavimentou sua trajetória apostando em abrir oportunidades diferenciadas de cursos para estudantes das mais diversas áreas. Contudo, foi em 2007 que a instituição passou a

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figurar não somente entre algumas das mais bem-sucedidas universidades do interior do estado, como também escreveu seu nome no segmento cinematográfico brasileiro. Naquele ano, foi inaugurado o Curso de Cinema, o qual, apesar de inicialmente não ter atraído a atenção dos alunos, tornou-se, pouco tempo depois, um dos mais concorridos.


Professores que ensinam, pesquisam, produzem e escrevem sobre cinema: Filipe Salles e Lilian Solá Santiago são professores que se mudaram para Salto visando aprimorar o ensino de cinema, e contam com grandes produções e pesquisas na área. Edson Cortez, diretor do CEUNSP, acompanhou de perto a evolução do curso. Em 2008, o então nomeado coordenador das Faculdades de Comunicação e Artes tinha um desafio: fazer o curso de Cinema “decolar”. “Tínhamos um bom projeto, mas precisávamos de credibilidade. E a única maneira de conseguirmos isso foi montando um corpo docente de primeira”, explica Cortez. O primeiro professor a se unir à nova equipe montada por Cortez foi Filipe Salles, especialista no ensino de cinematografia e diretor da editora Mnemocine. Depois de Salles, outros vieram, formando um sólido corpo docente que, em 2009, revolucionou o ensino superior em Cinema e colocou definitivamente Salto no circuito nacional de produções cinematográficas.

“A princípio, o investimento que fizemos foi desproporcional ao que o curso rendia. Hoje, temos fila de espera para matrícula”, ressalta Cortez. “Eu só tenho a agradecer a todos os professores que ajudaram a construir esse curso, que hoje é uma de nossas pérolas.” Projeto Pedagógico Além do corpo docente, um importante diferencial do Curso de Cinema do CEUNSP é seu projeto pedagógico, formado por disciplinas teóricas e práticas, e uma produtora júnior (a Kimera Filmes). Permeando toda a estrutura acadêmica, está um alto grau de exigência por parte da direção e corpo docente. “Os alunos têm contribuído de modo soberbo”, diz Cortez. “Hoje, o Curso de Cinema possui nota máxima no


SESSÃO ANÁLISE

Estudar cinema em Salto

MEC, e venceu vários prêmios no Intercom e Expocom [veja box ao lado] desbancando cursos de Universidades paulistanas.” O auge chegou em 2014, em Vila Velha (ES), quando o curso teve 25 trabalhos entre os finalistas do Intercom, qualificando-se para a etapa nacional em Foz do Iguaçu, onde faturou seis prêmios. Salto A vocação de Salto para a arte, cultura e cinema é inegável. Ou seja, a vocação encontrou o viés prático através do Curso de Cinema, que, além de alunos de todo o estado de São Paulo, também atrai estudantes de Norte a Sul do país, bem como de outros países da América Latina e da África Portuguesa. E o que isso significa, na prática? O cinema vivo! O curso é responsável pela produção anual de cerca de 10 curtas, um padrão elevadíssimo no contexto do ensino superior ou mesmo entre as produtoras profissionais. “Salto está voltando a ser um polo artístico e a seguir sua vocação”, afirma Cortez.

INTERCOM E EXPOCOM A Intercom é a Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação – uma instituição voltada ao fomento e troca de conhecimento entre pesquisadores e profissionais atuantes no mercado. A instituição promove um Congresso Nacional entre pesquisadores e estudantes do Brasil e do exterior. O evento, sediado em cidade escolhida pelos sócios no ano anterior, é precedido de cinco Congressos Regionais. Nesses Congressos regionais, estudantes de comunicação podem inscrever seus trabalhos universitários para concorrer ao Expocom (Exposição de Pesquisa Experimental em Comunicação). Os melhores trabalhos de cada região concorrem então no Congresso Nacional.

INTERATIVO! Depoimentos dos estudantes de cinema. Depoimento do Prof. Edson Cortez na volta às aulas, para o programa Por Aí da TV Record.


Divulgação

INTERATIVO! CONHEÇA A PRODUÇÃO DA FCAD! FCAD no Youtube

LipDub FCAD

Sigur Rós - Varðeldur (2012)

Sem Nome Definido (2013)

Melhor videoclipe estudantil nacional no EXPOCOM 2013

Roteiro e Direção de Julyano Abnner de Macedo Glisotte


SESSÃO ESPECIAL

Estudar cinema em Salto

Foto: Pola Fernandez

COMUNIDADE E UNIVERSIDADE Silêncio! Este encontro está sendo filmado

Solidarizar-se não é ter a consciência de que explora e “racionalizar” sua culpa paternalistamente. A solidariedade, exigindo de quem se solidariza, que “assuma” a situação de com quem se solidarizou, é uma atitude radical. Paulo Freire POR LILIAN SOLÁ SANTIAGO Extensão Universitária é um processo educativo, cultural e científico, que promove o diálogo entre as instituições de ensino superior e a comunidade. O objetivo geral da Extensão Universitária é manter um canal de comunicação direta entre a Universidade e a Comunidade, de forma a

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possibilitar o intercâmbio de saberes e produções culturais e científicas que permitam uma prática acadêmica integrada às demandas locais e regionais. No ensino audiovisual, temos questões particularmente desafiadoras nesse sentido: sabemos que os meios de informação


massivos não atendem às necessidades de comunicação com vistas à integração das pessoas na comunidade, ao desenvolvimento das noções de cidadania e a um aumento de sua participação social. No entanto, os meios de comunicação – o vídeo, principalmente – têm, por suas próprias características, a capacidade de auxiliar na transformação social das comunidades. A atuação dos movimentos independentes de vídeo nas comunidades, particularmente no Brasil [confira matéria sobre o Cine Guerrilha nesta edição da Palmas de Ouro], tem uma vitalidade enorme, mas via de regra bem distantes da Academia. A força de ações desse gênero está no processo participativo e não somente na geração de produtos. Sua práxis inverte a lógica de mercado – a soma de iniciativas de produção, de difusão e de debate é o que importa. É a partir dessa lógica que imagino a interação entre a comunidade e a universidade nos cursos superiores de audiovisual. O foco no produto será uma constante na vida dos egressos do ensino superior de cinema, que querem justamente “se inserir no mercado”. A faculdade acaba sendo um lugar privilegiado (senão, o único) para se vivenciar processos participativos junto à comunidade que reforcem a formação humanística, base fundamental para o saudável exercício das habilidades técnicas acumuladas durante o curso superior. Videotransformação Em 2003, pude participar do treinamento com a documentarista colombiana Sylvia Mejia e sua técnica de videotransformação,

Foto: Pola Fernandez


SESSÃO ESPECIAL

Estudar cinema em Salto experiência que desembocou em minha dissertação de mestrado. A videotransformação aproveita-se do elevado nível de mitificação do audiovisual em nossa cultura, ao capitalizar suas propriedades lúdicas através de exercícios e jogos gravados, que são observados e analisados em grupo e individualmente. Segundo Mejia, o objetivo da videotransformação é utilizar o meio audiovisual “com propósitos definidos de desenvolvimento humano e social”. Desde então venho trabalhando com essa técnica em diferentes contextos. Na FCAD/CEUNSP desde 2011, encontrei um ambiente extremamente favorável à extensão universitária. Já neste primeiro ano, em parceria com a Coordenadoria de Igualdade Racial da Prefeitura da Estância Turística de Salto, tivemos a possibilidade de realizar uma oficina de videotransformação com um grupo de mulheres negras da cidade, tendo como tutores alunos do curso de cinema. Os envolvidos quiseram continuar a experiência e, ao final de 2012, fizemos mais uma ação que gerou o vídeo Meio Século - totalmente produzido pelo grupo. Hoje, esse pequeno grupo de mulheres interessadas em audiovisual, transformou-se no Grupo de Mulheres Negras Saltenses, realizando diversas atividades artísticas coletivas que agitam a cidade. Os alunos participantes do projeto, por outro lado, tornaram-se referência no curso audiovisual, propiciando um ambiente de intensa produção colaborativa, que fortaleceu enormemente o curso.

Foto: Pola Fernandez

Outra atividade de extensão que vem ganhando força em Salto é a realização do


Curta Salto, mostra que exibe filmes realizados pelos alunos do curso de cinema para a comunidade no auditório de maior prestígio da cidade, a Sala Palma de Ouro. Começou em 2012, com uma pequena exibição e foi crescendo de importância paulatinamente e, em 2014, ganhou o nome atual [confira matéria sobre o Curta Salto na edição nº1 da Palmas de Ouro]. Este ano, teremos a 2ª edição do evento neste formato. Nosso objetivo é ampliar o evento para se tornar um Festival, com exibição de filmes nacionais, que se firme como referência cultural para a cidade e região.

Pola Fernandez, ex-aluna do Curso de Fotografia do CEUNSP e uma das alunas-tutoras da oficina em 2011. Neste projeto, a FCAD/ CEUNSP cede espaço para encontros, ensaios fotográficos e registro audiovisual, além de fomentar a participação dos estudantes num documentário dirigido por mim sobre o projeto. Já nesses momentos iniciais podemos enxergar os frutos da interação entre esses jovens, recém saídos da adolescência, com o grupo de mulheres, em sua maioria idosas, que dificilmente teriam a oportunidade de conviver e trabalhar conjuntamente.

Atualmente, estamos envolvidos num novo projeto – Mulheres bordadas, fios da memória negra em Salto - que novamente reúne o Grupo de Mulheres Negras Saltense com os estudantes da FCAD/CEUNSP. Este projeto foi contemplado pelo Edital do PROAC de 2014 e é encabeçado pela artista

Essa vivência circular inter-classes sociais, inter-idades, inter-racial, exige de quem participa uma profunda identificação com o outro, mas não com sentimentalismo barato e sim com ação e reflexão, o que é transformador e potente combustível de empoderamento de todos os envolvidos.

INTERATIVO! Curta “Meio Século” (2012), produzido por universitários em conjunto com a comunidade saltense.


SESSÃO ANÁLISE

Clássico

Fotos: Divulgação

LEVANDO EMOÇÃO HÁ 75 ANOS Filme “...E o vento levou” completa neste ano 75 anos de sua primeira exibição e, mesmo após mais de sete décadas, prossegue sendo um marco no Cinema Mundial. POR PAULO STUCCHI uando as cortinas do ano de 1940 se abriram, estreava também um dos maiores (se não, o maior) feito cinematográfico de todos os tempos; em 1º de janeiro de 1940, estreava nos EUA o filme Gone with the wind, que, em versão brasileira, recebeu o título ...E o vento levou.

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O filme consagrou definitivamente a personagem Scarlett O’Hara (vivida por Vivien

Leigh, a 1ª atriz não-americana – ela era indiana com nacionalidade inglesa - a ganhar o Oscar) como uma das mais lembradas da sétima arte, e tornou o galã Clark Gable mundialmente conhecido. Seu sucesso se refletiu, obviamente, nas bilheterias. O longa arrecadou mais de US$ 400 milhões em todo o mundo, valor inimaginável para a época, e hoje equivalente a US$ 6,832 bilhões.


Cena icônica do filme “...E o vento levou” e uma das cenas mais clássicas do cinema A história tem como pano de fundo a Guerra de Secessão norte-americana e se passa em Tara, uma fazenda localizada na Geórgia (na época, um estado escravocrata e conservador). Além do romance entre Scarlett e Rhett (personagem de Gable), o filme também retrata a dura vida em meio à guerra, a queda da aristocracia sulista, e, ainda, a força de espírito das mulheres. Além disso, cenas que se tornaram iconográficas no mundo do Cinema tiveram origem na película, como a imponente escadaria da casa em Tara, as brigas entre os protagonistas, que alternam momentos cômicos e dramáticos, e o monólogo de Scarlett quando, diante da destruição, jura vingança e declara amor pelo solo em que nasceu (como se esquecer da frase: “Com Deus por testemunha, eu nunca sentirei fome novamente”?).

Mitos Como toda grande produção cujo lugar na imortalidade está assegurado, ...E o vento levou possui uma grande mitologia em torno de sua pré-produção, produção e atores. Por exemplo, mais de 1400 atrizes foram entrevistadas para o papel de Scarlett O’Hara, sendo que mais de 400 chegaram a fazer leitura do roteiro. A atriz consagrada Bette Davis chegou a ser convidada para o papel de Scarlett O’Hara, mas o recusou por achar que teria que contracenar com Errol Flynn, que terminou também não fazendo parte do elenco. A escolha da intérprete de Scarlett O’Hara, uma das protagonistas do filme, foi feita após o início das filmagens. Outra curiosidade diz respeito à produção; a primeira cena de ...E o vento levou a ser


SESSÃO ESPECIAL

Clássico

filmada foi a do incêndio em Atlanta. Foram rodados 113 minutos mostrando o incêndio de cenários de filmes antigos, como os da primeira versão de King Kong. Contudo, o fogo provocado foi tão intenso que vários moradores próximos ao local ligaram para os bombeiros, pensando que o estúdio estivesse pegando fogo. Há também muita fofoca. Entre os rumores dos bastidores, circulava a informação de que Vivien Leigh não suportava as cenas de beijo com Clark Gable por causa de seu mau hálito. O filme terminou de ser filmado em 1º de julho de 1939 – mas só estrearia em 1940, tendo feito uma pré-estreia em Atlanta, capital da Georgia. Seu legado está presente até hoje no imaginário audiovisual, como uma referência de filme épico, com personagem feminino ousado e uma forte história da perseverança humana.

FICHA TÉCNICA

A imponente escadaria da casa em Tara

TRAILER

...E O VENTO LEVOU DIREÇÃO: Victor Fleming; B. Reeves Eason (2ª unidade) PRODUÇÃO: David O. Selznick ROTEIRO: Sidney Howard 1939 | 238 m. | Inglês PAÍS: Estados Unidos ESTÚDIO: Selznick International Pictures ELENCO: Vivien Leigh, Clark Gable, Olivia de Havilland, Leslie Howard, Hattie McDaniel ORÇAMENTO: 3,85 milhões RECEITA: 400 milhões

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SESSÃO ANÁLISE

Contemporâneo

Fotos: Divulgação

O TEMPO PARA RICHARD LINKLATER Muitos filmes se destacaram no ano de 2014, um deles é “Boyhood” que, com produção atípica e várias premiações, trouxe o prestígio e reconhecimento que seu diretor merecia. POR PEDRO CHAMON PARDIM ichard Linklater é um dos grandes nomes do cinema independente americano desde os anos 90. Seus filmes, como Jovens, loucos e rebeldes (1993) e Escola de Rock (2003) são aclamados pela crítica e apreciados pela cultura pop. Mas são dois projetos específicos que colocam o diretor em uma posição de destaque: a Trilogia Antes e o próprio Boyhood são experiências cinematográficas que fazem do tempo um personagem que, ao versar com os prota-

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gonistas humanos de suas respectivas tramas, os amadurece e modifica. “Trilogia Antes”: três filmes em 18 anos Através de diálogos minuciosamente construídos, Linklater fala de amor em sua trilogia. Mas não é um amor romantizado, um amor cinematográfico, é um amor real. Antes do amanhecer (1995), Antes do pôr-do-sol (2004) e Antes da meia-noite (2013)


contam a história do casal Jesse e Celine, interpretados, compartilhados e vivenciados por Ethan Hawke e Julie Delpy. Os mais atentos perceberam que nove anos separam cada filme, o mesmo intervalo que separa os momentos na vida dos dois personagens narrados pelos longas. Em Antes do amanhecer, o jovem americano Jesse está de passagem pela Europa e conhece a jovem francesa Celine em um trem. Sem dinheiro para ficar em um hotel, ele a convida a caminhar por Viena durante a noite, enquanto espera seu voo que parte na manhã seguinte. Até mesmo nesse cenário platônico não há espaço para pieguices. “As pessoas projetam romantismo em tudo e esquecem da realidade” - diz Jesse em determinado momento, evidenciando o que ambos sabiam: todo aquele encanto só seria possível se limitado àquela noite. Nove anos depois, os dois se reencontram em Paris. Antes do pôr-do-sol apresenta-os mais maduros, realizados profissionalmente e com maior experiência em relacionamentos. Todas as frustrações passadas e o ceticismo de ambos em relação ao amor é exposto e afrontado. A cada diálogo, todo encanto daquela noite se mostra presente não só naquele momento, mas na memória de cada um, mesmo após todo esse tempo. Enquanto os dois primeiros filmes são marcados por uma perspectiva apaixonante e de flerte, Antes da meia-noite traz um choque de realidade brutal. Jesse e Celine, agora juntos e com filhos, passam férias no interior da Grécia. Apesar de ainda encantadores, os diálogos trocam o romantismo anterior por problemas reais que

Antes do amanhecer - 1995

Antes do pôr-do-sol - 2004

Antes da meia-noite - 2013


SESSÃO ANÁLISE

Contemporâneo

Richard Linklater com Urso de Prata de Melhor Diretor, no Festival de Berlim, por Boyhood relacionamentos longos sempre trazem, dando um ar mais adulto à trilogia que, junto de seus personagens, amadurece no decorrer dos filmes. A sensibilidade com que Linklater, junto dos dois protagonistas (que trabalham como roteiristas nos dois últimos filmes), constrói seus personagens cria ao espectador a possibilidade de identificação com os dois e os dilemas enfrentados por eles. É aí que a trilogia se torna fascinante. Na representação crua e fiel do amor. “Boyhood”: um filme em 12 anos O cinema costuma nos transportar para situações deliciosamente idealizadas. O que a gente normalmente não percebe é que nossa vidinha, pacata e ordinária, é extremamente cinematográfica. É isso que faz de Boyhood diferente. O entendimento de que o amadurecimento de uma criança é grandioso o suficiente.

Que jeito melhor de demostrar isso senão amadurecendo junto? Por isso o processo de filmagem funciona tão bem. De 2001 à 2013, uma vez por ano, a equipe se reunia e gravava algumas cenas. Isso propiciou o crescimento não só dos atores junto de seus personagens, mas também de Linklater, cuja evolução como roteirista e diretor fica mais clara a cada corte. Junto dos personagens, quem se modifica com o passar do tempo é a sociedade. As inúmeras referências à cultura pop da época constroem um saudosismo iminente. De Dragon Ball a virais do Youtube, de Britney Spears a Arcade Fire, de Harry Potter a possíveis sequências para Star Wars. O diretor cria uma ambientação da década passada, com elementos cuidadosamente selecionados. Acompanhamos Mason (Ellar Coltrane) dos 5 aos 18 anos, da infância à adolescência. Tudo ao seu redor, suas decisões, as


Amadurecimento real, dos 5 aos 18 anos, do ator Ellar Coltrane é destaque de Boyhood decisões de próximos a ele e seus momentos vividos o formam como pessoa. Tudo é cuidadosamente escolhido por Linklater para que haja uma identificação inevitável do espectador com a trama. Comigo, particularmente, isso funcionou assustadoramente. É interessante ver como a percepção do passar do tempo varia entre os personagens. Enquanto Mason, jovem e com a vida toda pela frente, vê o futuro como uma porta aberta para possibilidades, sua mãe, bri-

lhantemente representada por Patricia Arquette, tem uma visão pessimista do que o futuro lhe reserva. Eles representam a diferença entre a dúvida do que vem pela frente e a incerteza de que há algo pela frente. O filme apresenta a vida como ela é. Não é a frase filosófica de tatuagem ou o beijo na chuva. É o primeiro dia de aula, o corte vergonhoso de cabelo, a irritação com o irmão e os recomeços. Que Boyhood seja o recomeço de uma vertente realista do cinema.


SESSÃO ANÁLISE

Contemporâneo

Fotos: Divulgação

VOCÊ NÃO FALA SOBRE O CLUBE DA LUTA Obra de David Fincher revela os sintomas do vazio na sociedade consumista atual. POR BÁRBARA FCAMIDU lube da Luta, filme de David Fincher, foi um grande fracasso de bilheteria em seu lançamento em 1999, um verdadeiro fiasco. Porém, fez um tremendo sucesso quando lançado em VHS. Hoje, há mais de quinze anos de sua estreia, é considerado um retrato da sociedade pós-moderna.

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Loucura, ambiguidade moral, sexo e violência são elementos ideais para tornar uma narrativa fílmica muito atraente, ou

também ter no elenco Edward Norton, Helena Bonham Carter e Brad Pitt. Mas, para se tornar um clássico, são necessários diversos fatores em conjunto, que fazem Clube da Luta se tornar singular. Guarda-roupa completo com marcas internacionais, apartamento mobiliado e emprego em uma empresa automobilística multinacional não é suficiente para o protagonista (Edward Norton) de Clube da Luta. Sentindo que sua vida pessoal está


estagnada, procura uma solução para lidar com sua mente inquieta e os problemas com a insônia que não o deixa em paz. Clube da Luta foi baseado no romance do escritor Chuck Palahniuk, de 1997. Assim como no livro, o protagonista não possui nome – ele é o anti-herói da trama, e narra sua própria história. No filme, esse recurso foi utilizado para o público se afeiçoar com o personagem. Mesmo quando o protagonista age com propósitos doentios, o telespectador sente compaixão e até compreende o motivo de seus atos. E quando o filme termina, é possível perceber sua paranoia e entender sua visão sobre a sociedade e seus conflitos.

necessidades emocionais, ou porque se sentem só e incompletas. O vazio também acompanha o personagem, sua vida parece que não tem esperança, apesar de ter tudo o que a sociedade julga ser necessário. A atual geração, que não teve contato com guerras, grandes depressões ou crises, se vê totalmente perdida, sem propósitos.

O protagonista procura o sentido da vida e os motivos pelos quais a sociedade é como é. As pessoas compram para satisfazer suas

Seu sentimento de estagnação o leva por diversos caminhos, e todos eles são suficientes apenas por pouco tempo. A mente do protagonista é tão inquieta que não se conforma com as respostas que a sociedade quer convencê-lo a acreditar. Em meio à solidão e ao desespero que o grande centro urbano traduz nas cenas, juntamente com a iluminação em alto contraste (em ambientes desconhecidos ou em cenário urbano a iluminação é escura, em ambientes calmos e seguros a iluminação tem alta claridade).

FICHA TÉCNICA

TRAILER

CLUBE DA LUTA DIREÇÃO: David Fincher PRODUÇÃO: Art Linson, Ceán Chaffin, Ross Grayson Bell ROTEIRO: Jim Uhls 1999 | 139 m. | Inglês PAÍS: Estados Unidos ESTÚDIO: Regency Enterprises ELENCO: Brad Pitt, Edward Norton, Helena Bonham Carter, Meat Loaf, Jared Leto ORÇAMENTO: 63 milhões RECEITA: 101 milhões

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SESSÃO ANÁLISE

Contemporâneo

A jornada o nosso “herói” começa com a participação nos grupos de apoio para pessoas doentes. O narrador encontra uma paz momentânea, na qual é muito confortante ser ouvido por desconhecidos, como se fosse a última vez que pudesse se comunicar. As pessoas realmente prestavam atenção ao invés de esperar a vez delas de falar. Os grupos de apoio perdem sua utilidade após o narrador conhecer Tyler Durden (Brad Pitt). A amizade de Tyler o leva para um caminho de crimes, violência e delitos. Mesmo prejudicado por Tyler, o protagonista sente cada vez mais a dependência dessa amizade que o leva para uma estrada sem volta. As relações de afeto apresentadas ao longo do filme são densas e complexas. O protagonista revela que seu pai o abandonou quando criança. A relação com seu pai pode ser vista como reflexo de sua interação com a sociedade: o grande centro urbano ilustra sua solidão e carência emocional. É o mesmo padrão afetivo com Tyler e com Marla Singer (Bonham Carter), outra personagem perdida em seu vazio, com os quais impera o sentimento de abandono, dependência e submissão. “O Clube da Luta começa quando o Clube da Luta termina”. Os combates que acontecem no clube de luta clandestino é a extensão da luta interior, é o que vai preencher o vazio e servir como escape para todos os anseios da vida real. Esse sentimento não é único do narrador ou Tyler, que fundaram o clube, mas sim, de todos os homens que buscam à noite o “algo a mais” de suas vidas, o desígnio da felicidade, mesmo que momentânea.


Esse “Clube da Luta” cresce, com franquias espalhadas pelos Estados Unidos, frequentados por homens em busca de uma luta, sem vencedor. São homens perdidos, que seguem ordens criminosas a fim de restabelecer a ordem na sociedade. Entre os planos desse Clube, surge o projeto “Destruição” com o objetivo de zerar os registros de dívidas, desta forma, os clientes dos bancos não deviam mais. O narrador só percebe o quão culpado é pelos crimes quando observa, através de

Marla, que Tyler não existe, é apenas seu alter ego. E todos seus pensamentos se voltam em como desfazer toda a realidade que criou sem notar. Ao perder-se e submeter-se ao sistema de uma sociedade vazia, o narrador deu vazão a um sósia profundo, não submisso à regra nenhuma. Se a sociedade vazia o destrói com seu consumismo desmesurado, é na conexão com o outro, mesmo um outro que também se sente vazio, que surge um caminho para salvá-lo do abismo.


SESSÃO ANÁLISE

Super-Heróis

Fotos: Divulgação

INVASÃO HEROICA Filmes baseados em quadrinhos de super-herói tomam as salas de cinema no mundo todo. Um novo gênero cinematográfico foi criado? POR ANDRÉ ROEDEL uando o primeiro X-Men foi lançado, os fãs de histórias em quadrinhos mal podiam imaginar que aquele seria o precursor de uma grande leva de filmes baseados nos personagens que tanto amam. O sucesso do longa-metragem dos mutantes deu sinal verde para os estúdios produzirem mais obras como aquela. Novos sucessos como Homem-Aranha e a trilogia O Cavaleiro das Trevas vieram para corroborar isso. Agora

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é a vez de Vingadores: Era de Ultron iniciar uma nova fase. O filme que estreia dia 23 de abril nos cinemas brasileiros tem tudo para ser uma das maiores bilheterias de todos os tempos. O primeiro longa baseado nos “heróis mais poderosos da Terra” já havia conseguido a façanha de arrecadar mais de um bilhão e meio de dólares, o que o coloca no terceiro lugar da lista dos filmes mais


O super-herói “Daredevil” (foto) representa investida da Marvel nos serviços de streaming rentáveis de todos os tempos – atrás apenas de Avatar e Titanic. Dirigida por Joss Whedon, essa continuação promete reunir tudo que o ávido leitor de HQs tanto quer: personagens bem adaptados para as telonas, uma grande trama e muitas referências aos gibis. Isso tudo com o apoio de um elenco de peso, que inclui nomes como Robert Downey Jr., Chris Evans, Mark Ruffalo, Scarlett Johansson, Samuel L. Jackson e James Spader, que dá voz ao grande vilão da vez. Vingadores: Era de Ultron será o divisor de águas do universo que vem sendo construído pela Marvel desde 2008, quando o estúdio lançou o primeiro Homem de Ferro. O

filme deve começar a derrubar tudo que já foi visto até então para construir algo novo, com a inserção de novos personagens e novas histórias – algumas delas sendo contadas em outras mídias, como a TV e serviços de streaming. A história, bem amarrada, com diversos encontros entre personagens e tramas leves mas, ao mesmo tempo, sofisticadas, conquistou uma legião de fãs no mundo todo. Muitos expectadores sequer haviam lido uma HQ dos personagens alguma vez na vida. Esse enorme sucesso motivou outros estúdios a correrem atrás. E é assim que vemos surgir no início desse século um novo “gênero” do cinema: o filme de super-herói.


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Super-Heróis

Concorrência A Warner Bros. viu que estava ficando pra trás na “corrida dos filmes heroicos” e começou a se mexer. Produtora de grandes sucessos do gênero como os filmes do Batman dirigidos por Tim Burton, a empresa resolveu também criar seu próprio universo coeso nos cinemas, já que tem todos os personagens da concorrente da Marvel – a DC Comics – nas mãos. Aliás, esse é o grande trunfo do estúdio: ter todos os heróis à disposição, coisa que a Marvel não tem. Prestes a falir nos idos dos anos 1990, a Marvel precisou licenciar algumas de suas propriedades e isso significou perder os direitos cinematográficos de importantes personagens, como o Homem-Aranha e os X-Men. (Recentemente os fãs do cabeça-de-teia tiveram uma boa notícia, pois a Marvel chegou a um acordo com

a Sony Pictures e “resgatou” o herói – que ganhará um novo filme solo em 2017 e irá integrar os Vingadores). Com todas as cartas nas mãos, bastava à Warner um empurrão inicial. E esse empurrão foi O Homem de Aço, versão mais recente do Superman nas telonas. Apesar de não ter obtido muitas avaliações positivas da crítica, o filme fez sucesso entre os fãs – dando assim o aval necessário para que mais filmes fossem produzidos. E são vários, já que o pacote anunciado pelo estúdio terá lançamentos até 2020. O primeiro dessa nova leva a chegar aos cinemas será o tão aguardado confronto entre os principais heróis da DC Comics. Batman vs Superman: A Origem da Justiça irá colocar os dois personagens frente a frente e será o início da formação da Liga da Justiça – grupo que, nas HQs, serviu de inspiração para a

Ben Affleck como Batman durante a produção do filme “Batman vs Superman”


Anthony Hopkins interpreta Odin, pai de Thor, super-herói de clara inspiração mitológica criação dos Vingadores. Os planos da “Distinta Concorrência” (DC Comics) são ambiciosos. Será que o retorno irá corresponder?

no papel do herói foi tão grande que muitos nem se lembram do histórico problemático do ator.

Grandes astros

Outros nomes de peso podem ser vistos nos filmes de super-herói recentes, como Robert Redford em Capitão América 2: O Soldado Invernal, Anthony Hopkins como Odin em Thor, William Hurt em O Incrível Hulk e Jeff Bridges em Homem de Ferro. Isso sem falar no inesquecível Heath Ledger como Coringa em O Cavaleiro das Trevas, que lhe rendeu o Oscar póstumo de Melhor Ator Coadjuvante.

O sucesso dos filmes de super-herói está atraindo cada vez mais astros. Se, antes, apenas ilustres desconhecidos vestiam capa e uniforme colorido, como foi o caso de Christopher Reeve no Superman de 1978, hoje, grandes estrelas recebem cachês milionários para esta tarefa. Alguns deles, aliás, “devem” aos longas baseados em histórias em quadrinhos a glória atual, como é o caso de Robert Downey Jr. Deixado de lado pela indústria cinematográfica após alguns problemas com drogas, o filho de Robert Downey voltou ao estrelato interpretando o gênio, bilionário, playboy e filantropo Tony Stark na trilogia Homem de Ferro e também em Vingadores. O sucesso

Críticas Apesar do enorme sucesso, os filmes de super-herói ainda enfrentam críticas vindas de profissionais ligados ao mundo do cinema. Em 2013, o crítico Joe Queenan, que escreve para o The Guardian, afirmou que as produções “começaram como entretenimento


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Super-Heróis

fraco e populista e transformaram-se em um desfile interminável de chatices sexistas e semi-fascistas”. Outro que teceu duras críticas foi o cineasta Steven Soderbergh, reclamando que a indústria tem gasto muito com essas produções “com muitos efeitos especiais e pouca arte”. Em fevereiro deste ano, o cineasta Dan Gilroy (O Abutre) disse após ser premiado no Independent Spirit Awards que os participantes do evento sobreviveram a “um tsunami de filmes de super-heróis que dominam a indústria cinematográfica”. O excesso de filmes do gênero também foi motivo de piada durante apresentação musical de Jack Black na última cerimônia de entrega do Oscar. Isso sem falar no vencedor do prêmio de Melhor Filme, Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância), que traz, entre outros temas, críticas às produções heroicas [confira a crítica ao filme Birdman nesta edição do Palmas de Ouro].

James Gunn, diretor do blockbuster Guardiões da Galáxia, se posicionou nessa discussão. Segundo ele, “a produção popular, em qualquer meio, sempre foi esnobada pela autodenominada elite”. “O que me incomoda um pouco é que muitas pessoas assumem que se você faz filmes grandes, você trabalha com menos amor, cuidado e atenção do que as pessoas que fazem filmes independentes ou que fazem o que são considerados filmes mais sérios em Hollywood”, desabafou o diretor. Esse tipo de discussão tende a ser ainda mais intensa nos próximos anos, já que veremos mais de 40 filmes baseados em histórias em quadrinhos invadirem os cinemas. São lançamentos para todos os gostos, com heróis da Marvel e da DC ganhando versões cinematográficas – alguns deles desconhecidos até pelos fãs. A “elite” pode não gostar muito da ideia, mas esse novo gênero chegou para ficar.

Michael Keaton como o primeiro Batman do cinema, em 1989, no filme de Tim Burton

No filme Birdman (2014), Michael Keaton faz uma auto-paródia aos filmes de super-herói



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Ficção Científica

Fotos: Divulgação

INTERESTELAR: FILMANDO A FÍSICA Christopher Nolan, consagrado pela sua trilogia de Batman, agora embarca em uma ficção científica detalhada, na qual o mundo da física é revelado em alta definição. POR RODOLFO EMILI cineasta Christopher Nolan nos apresenta mais uma obra controversa e bastante polêmica. Interestelar é um filme de ficção científica, no qual a história se passa em um futuro próximo, não muito distante.

o planeta, uma equipe especial secreta da NASA envia os seus melhores astronautas para o espaço em busca de um lugar com as mesmas condições que o nosso para poder abrigar os terráqueos. Os quarenta minutos iniciais do filme mostram toda essa dificuldade com altos recursos visuais.

A Terra passa por um momento difícil. Seus recursos naturais estão se exaurindo e, ainda, inúmeras tempestades de areia acontecem ao redor do mundo. Para tentar salvar

Isso é bem visível no filme, pois o diretor Christopher Nolan deu total crédito para que sua obra fosse a mais realista possível. Tanto que usou pouquíssimos recursos

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Interestelar cria representações visuais de fenômenos físicos, como este buraco negro de efeitos especiais e chroma key (o famoso fundo verde ou azul usado nos estúdios). Nolan cultivou uma plantação de milho imensa no Canadá, foi filmar na Islândia (lugar bem inóspito), e as naves espaciais foram realmente construídas com a ajuda da NASA, dando uma credibilidade fantástica ao filme. Isso sem contar com as cenas espetaculares de efeitos astrofísicos. Outro fator positivo é a interpretação dos atores: todos estão muito bem em seus papeis. Em especial Matthew Mcconaughey (o ganhador do Oscar de 2014 por sua atuação em Clube de Compras Dallas), provando que não é mais apenas um galã de cinema. O filme é dividido em duas partes: uma que acontece na Terra e outra no espaço, porém, a última foi fragmentada em vários conflitos, criando maior tensão durante o filme. Dessa forma nós, espectadores, criamos uma expectativa, pois sentimos uma ânsia de resolver os acontecimentos e torcemos muito para o personagem principal completar sua missão ao lado de sua tripulação. Mas des-

cobrimos, ao deixar nosso lar, que o espaço é tão belo quanto perigoso. A historia feita por Nolan e seu irmão, o roteirista Jonathan Nolan levou longos anos para ser feita e colocada em prática. Desde 2006 os dois vêm trabalhando neste projeto. Até Steven Spielberg chegou a participar, mas saiu logo no início. O grande problema enfrentado por eles era como passar para o público questões tão complexas sobre a física, como a Teoria da Relatividade, de Einstein, Buracos Negros e o Buraco de Minhoca. Ambos tiveram a ajuda do físico Kip Thorne, do seu livro Black Holes and Time Warps: Eistein’s outrageous legacy. Kip Thorne é amigo de Stephen Hawking e foi amigo do famoso físico Carl Sagan. A colaboração de Thorne foi essencial para que Nolan e seu irmão pudessem passar para o roteiro e mostrar para o público essa ideia que é constantemente mostrada no filme. Como mostrar um buraco negro sendo que nunca ninguém o viu? Mas, através de estudos e das equações de


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Ficção Científica

Thorne, a equipe de Nolan produziu efeitos tão bem acurados, que o resultado do trabalho agora vai ser usado em universidades nos Estados Unidos e fazer parte de ilustração de livros científicos, devido à tamanha seriedade. Também é notável a influência do diretor Stanley Kubrick em Nolan, pois ambos são cineastas notáveis e incrivelmente visuais. Apenas um detalhe para os cinéfilos: ao ver Interestelar há uma maior compreensão de 2001: Uma Odisséia no Espaço e algumas semelhanças bem sutis. O filme Interestelar é um filme excelente. Roteiro muito bom, atores fantásticos, cenas memoráveis e ótimos efeitos especiais (ganhadores de Oscar na categoria). Nostalgia é bom, mas não podemos viver somente no passado. Interestelar prova que ainda há produções de obras primas do cinema mundial.

FICHA TÉCNICA

Ator principal Matthew McConaughey

TRAILER

INTERESTELAR DIREÇÃO: Christopher Nolan PRODUÇÃO: Emma Thomas, Christopher Nolan, Lynda Obst ROTEIRO: Jonathan Nolan, Christopher Nolan 2014 | 169 m. | Inglês PAÍS: Estados Unidos, Reino Unido ESTÚDIO: Syncopy Films, Lynda Obst Productions, Legendary Pictures ELENCO: Matthew McConaughey, Anne Hathaway, Jessica Chastain, Bill Irwin, Mackenzie Foy, Matt Damon, John Lithgow, Michael Caine

ORÇAMENTO: 165 milhões RECEITA: 672 milhões (até abril de 2015)

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Épico

Fotos: Divulgação

ÊXODO: DIVINO E AGNÓSTICO Ridley Scott nos apresenta o que seria um épico filme do Antigo Testamento, mas nuances do divino criam a realidade dúbia do filme, na qual deuses podem ser astronautas... POR JEAN-FRÉDÉRIC PLUVINAGE onsagrado por filmes clássicos de ficção-científica como Alien, o 8º passageiro (1979) e Blade Runner (1982) [confira crítica de Blade Runner na edição nº1 da Palmas de Ouro], o diretor e produtor inglês Ridley Scott também se aventurou em filmes históricos, de sua primeira obra como diretor, Os Duelistas (1977) a 1492 - A conquista do paraíso (1992), Gladiador (2000) e Cruzada (2005). Certamente um artista eclético, sem contar com suas incursões nos segmentos da fan-

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tasia, filmes de guerra contemporâneos, de gangster etc. E, recentemente, a produção de Prometheus (2012) parecia apontar uma volta de Ridley para o segmento da ficção científica. Afinal de contas, trata-se de uma história baseada no mesmo universo do Alien, o filme que lhe rendeu enorme popularidade. Porém, depois de Prometheus, Ridley se voltou para outros temas (embora a possibilidade de uma sequência de Prometheus


Príncipes egípcios brancos e personagens negros apenas na figuração gerou polêmica. ser muito grande). E seu filme mais recente é Êxodo: Deuses e Reis, que além de um épico histórico refere-se a um importante trecho do Antigo Testamento: a história de Moisés e sua libertação dos hebreus da escravidão no Egito. Mais um filme épico como Gladiador? Claro. Mas poderíamos dizer que essa última produção ainda inclui um leve toque de ficção científica. Sim, pois é como o próprio diretor definiu este filme, e há elementos extremamente sutis para afirmarmos isso, vejamos os motivos. Êxodo: primeira leitura O filme se apresenta inicialmente como um épico que narra a luta de Moisés (Christian Bale) para libertar os hebreus. O foco é a fase de sua vida como príncipe até a revelação de sua origem, expulsão do palácio, seu contato com o deus hebraico, o envio das sete pragas, a libertação dos hebreus e fuga da perseguição egípcia pela abertura das águas do Mar Vermelho...

É um longo conto, mas que se mantém coeso no filme pelo foco constante na relação entre Moisés e seu “irmão”, o inseguro Ramsés (Joel Edgerton). Ambos fazem juramentos de proteção, mas a irmandade entre os dois logo é quebrada e dá lugar a uma forte rivalidade, pois um precisa libertar seu povo sob as ordens do deus hebraico e o outro não pode perder a mão de obra que sustenta sua economia. Mesmo assim, opostos ao extremo, ambos ainda têm forte consideração um pelo outro, apesar da intervenção de um deus. Sim, pois por trás desse conflito social e político está o deus hebraico, representante da parte religiosa do filme e motivador das ações de Moisés, embora o profeta nem sempre concorde com seu deus. Como vemos, Ridley não foi totalmente fiel ao Antigo Testamento – ele toma a liberdade de criar uma relação intimista e conflituosa entre Moisés/Ramsés e Moisés/ Deus, além de fazer seu profeta mais questionador, com conflitos internos de sua fé. Esse olhar questionador que percorre o filme é a porta para uma segunda leitura.


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Épico

Malak, mensageiro de Deus com forma de criança, mistura poder com inocência pueril Êxodo: segunda leitura O marco central do filme é o encontro de Moisés com seu deus, que ocorre de maneira “acidental”. Moisés, já feliz como pastor com sua esposa Zípora (María Valverde), tenta recuperar suas ovelhas que fugiram para o Monte Sinai, a montanha proibida. Eis que uma pedra atinge Moisés e ele perde a consciência. Ao acordar, ele está envolto em um barro negro, diante de uma sarça ardente e um querubim, Malak (Isaac Andrews) que fala em nome de Deus. Vemos então um Deus de aspectos infantis, muito emotivo, que fala de guerra e generais de forma inocente e assustadora. Portanto, o filme deliberadamente coloca um cenário dúbio que pode ser tanto uma revelação divina como uma alucinação mental do personagem. A alusão à loucura

é constante, sendo que Moisés é visto frequentemente falando sozinho nas cenas. A mesma “racionalização” do encontro com Deus é aplicada a todos os elementos religiosos do filme. As pragas aliás, são explicadas de forma científica por um dos súditos do faraó: o barro vermelho do Nilo teria dado o aspecto de sangue às águas, causando por sua vez a fuga das rãs que querem evitar a água intoxicada. Com a morte dos animais, surgem as moscas e estas, por sua vez, causam as doenças... A única praga sem uma explicação lógica é a última, a morte dos primogênitos. Mas quando ocorre essa praga, Ridley aplica sobre o céu do Egito uma sombra não natural, podendo ter qualquer interpretação, de um eclipse instantâneo a uma nave alienígena não vista pela câmera...


E nos momentos finais, a cena do Mar Vermelho também é racionalizado: ao invés de muros de água mágicos, Moisés vê um cometa indo em direção ao mar, para, no dia seguinte, se deparar com uma maré extremamente baixa, permitindo a passagem do povo hebreu pelo mar. A volta das águas ocorre na forma de um tsunami, que engole o exército egípcio. Temos a impressão de um fenômeno natural: o choque do cometa teria afastado as águas do local temporariamente, até a sua volta de forma violenta. Seriam os deuses astronautas? Ridley é assumidamente agnóstico e tentou incorporar uma visão científica e racionalista ao conto de Moisés, partindo da premissa de torná-la a mais realista possível. O resultado final é discutível... Suas deviações do texto original e suas interpretações científicas não irão agradar o público cristão. Já

o público mais voltado para épicos históricos terão excelentes cenários e figurinos à disposição, embora a fidelidade histórica também se perde com um elenco majoritariamente branco e de sotaque inglês (e fonte de uma polêmica racial de que Ridley “branqueou” a realeza egípcia). Certamente, não é o melhor histórico de Ridley e não é comparável a Gladiador, mas a obra nos oferece uma narrativa interessante: a Bíblia apenas caracteriza seus personagens por fora, sem destaque para os pensamentos e emoções. Como seriam as histórias bíblicas em uma narrativa pós-Flauberiana, na qual vemos os conflitos internos dos personagens? Afinal de contas, é interessante imaginar as emoções de um profeta em dúvida de sua própria fé. Ou os sentimentos por trás de um deus onipotente em busca de justiça divina. O psicológico no bíblico é certamente a proposta mais interessante, e ousada, deste filme.

FICHA TÉCNICA

TRAILER

ÊXODUS: DEUSES E REIS DIREÇÃO: Ridley Scott PRODUÇÃO: Peter Chernin, Ridley Scott Jenno Topping, Michael Schaefer, Mark Huffam ROTEIRO: Adam Cooper, Bill Collage, Jeffrey Caine, Steven Zaillian 2014 | 150 m. | Inglês PAÍS: Estados Unidos, Reino Unido, Espanha ESTÚDIO: Chernin Entertainment, Scott Free Productions Babieka, Volcano Films ELENCO: Christian Bale, Joel Edgerton, John Turturro, Aaron Paul Ben Mendelsohn, Sigourney Weaver, Ben Kingsley ORÇAMENTO: 140 milhões | RECEITA: 267 milhões

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Realismo Fantástico

Fotos: Divulgação

BIRDMAN

OU (A INESPERADA VIRTUDE DA IGNORÂNCIA) A industria cultural americana vista por ela mesma, uma história cheia de som e fúria. POR TATIANI FARIA o passado, o personagem Riggan Thomson (Michael Keaton) fez sucesso interpretando o Birdman, um super-herói que se tornou um ícone cultural. Mas, desde que se recusou a estrelar o quarto filme com o personagem, sua carreira decaiu. Riggan então parte desesperado em busca da fama perdida e também do reconhecimento como ator: decide dirigir, roteirizar e estrelar a adaptação de um texto consagrado para a Broadway. Mas os críticos insistem em não lhe dar credibilidade, pois para eles Riggan é apenas

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um “velho ator mimado que está afim de gastar o seu dinheiro, enquanto a Broadway é o espaço sagrado da arte verdadeira da interpretação” e cuja peça “tem em seu elenco atores de nome da indústria comercial do cinema, ou seja, focando apenas nos lucros e não na arte pura”. Mas sabemos que isso não é verdade, afinal quando Riggan ganha milhares de visualizações no Youtube por ser obrigado a caminhar de cueca pelas ruas da Broadway, ele nem sequer dá importância a sua popularidade. Ele quer reconhecimento pelo seu valor.


Logo nos primeiros minutos do filme, nos deparamos com uma câmera inquieta, que nos leva por diversos planos sequência, percorrendo todos os cantos de um teatro, trazendo a velocidade e a intensidade da pressão em que Riggan se encontra. Essa câmera se desvia por algumas vezes e invade os espaços sob suas subjetivas para reforçar as ansiedades de outros personagens. Isso nos leva a crer que tudo foi pensado de antemão, logo ali no roteiro, pois os movimentos estão intrinsecamente ligados à narrativa. Mas tudo é tão fluído que fica difícil, até mesmo aos olhos treinados, perceber rapidamente os cortes. Deixamos de lado os efeitos para ler nas entrelinhas. Há movimentos de câmera que nos deixam curiosos para entender como foram feitos, há uma mistura de elipses e alucinações que se intensificam a cada dia que termina, dos três dias que restam para a estreia do espetáculo.

Em meio à pura maestria, não podemos deixar de ressaltar a aplaudível interpretação de Michael Keaton, que mantém o equilíbrio do desequilíbrio de emoções do personagem que ora soam como deprimente e desesperado e ora arrogante e soberbo, incitado pela voz do seu fantasma interior. Ele move alguns objetos com um dedo ou apenas com o pensamento, quebra outros, até que alguém invade a cena e ele é apenas o velho ator que interpretou o ícone Birdman. “Só que Birdman foi um sucesso e todos precisam entender a importância de Riggan, ele pode voar enquanto os demais são meros mortais” - aqui somos inundados pela realidade fantástica, entramos na mente de Riggan e nela tudo se torna possível, uma realidade que as vezes parece tão palpável que chega a nos fazer duvidar se ela é mesmo fantástica.

FICHA TÉCNICA

TRAILER

BIRDMAN DIREÇÃO: Alejandro González Iñárritu PRODUÇÃO: Alejandro González Iñárritu, John Lesher, Arnon Milchan, James W. Skotchdopole ROTEIRO: Alejandro González Iñárritu, Nicolás Giacobone Alexander Dinelaris, Jr, Armando Bó 2014 | 119 m. | Inglês PAÍS: Estados Unidos ESTÚDIO: Regency Enterprises, New Regency Productions M Productions, Le Grisbi Productions, TSG Entertainment Worldview Entertainment ELENCO: Michael Keaton, Zach Galifianakis, Edward Norton Andrea Riseborough, Amy Ryan, Emma Stone, Naomi Watts

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Realismo Fantástico

Os demais personagens não se distanciam dessa qualidade de Keaton; engrandecem, na verdade, ainda mais com o altamente egocêntrico Mike (Edward Norton) e a insegura Lesley (Naomy Watts). Uma sinfonia perfeitamente orquestrada de diálogos e ações. E isso tudo, quando nem ainda falamos da trilha sonora rica em improvisos de jazz e com uma bateria que vai se intensificando tal como as ações da narrativa e os anseios do personagem Riggan. Após a longa crescente do filme, Riggan tenta suicídio, mas ao invés de atirar em sua própria cabeça, acerta seu nariz e falha, tal como os diálogos de abertura na leitura dos personagens do texto da peça. Seu espetáculo é um sucesso, a crítica mais cruel cita que “enfim se viu sangue de ver-

dade nos palcos da Broadway, como há tempos se esperava” e o reconhecimento merecido é atribuído. Riggan acorda no hospital e se depara com seu rosto modificado ao se olhar no espelho do banheiro, e se percebe mais parecido com Birdman. Teria ele se transformado no herói? Então, Birdman dá a descarga e ela leva embora o que há de mortal em Riggan. Ele é invadido pela pura sensação de liberdade, emoção tamanha que salta pela janela do quarto. Na sequência sua filha entra no quarto procurando-o, se aproxima da janela e observa extasiada, subtendendo que ela o vê voar. Cada um pode interpretar este final sob seu ponto de vista, mas, para mim, ele está no ápice e aproveita aquele momento para voltar ao seu mundo interior apenas para comemorar.

Riggan corre nu, buscando a sua relevância em um mundo mergulhado no instantâneo



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Drama

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PARA SEMPRE ALICE

SENSIBILIDADE E MEMÓRIA A sensibilidade de uma vida em um roteiro que reflete a condição de um dos diretores. POR TATIANI FARIA Não foi à toa que Julianne Moore ganhou todos os prêmios aos quais concorreu como melhor atriz por interpretar a Dra. Alice Howland em Para Sempre Alice. Um filme de atriz, extremamente sensível com diálogos ricos e substanciais, onde vemos a memória da Dra. Alice sendo apagada gradativamente até a sua quase aniquilação pelo Mal de Alzheimer.

É impossível não se envolver com o drama pessoal e da família que é pega inesperadamente pela notícia. Afinal, o mal da doença afeta significativamente as relações entre mãe e filha e entre mulher e marido, levando Alice ainda a atitudes mais radicais, como gravar um vídeo com um passo a passo, diante de uma evolução da doença, se auto instruindo ao suicídio. Mas se Julianne se sobressai, Kristen Stewart, que interpreta Lydia Howland, filha da Dra Alice, já não


alcança o primor de sua interpretação e, ao ganhar mais foco na trama, perdemos um pouco da intensidade do filme. Deparamo-nos muitas vezes com a câmera parada e os personagens invadindo seu campo de visão como meros coadjuvantes do tempo, mas como falamos de um filme de atriz, não vemos grandes recursos técnicos e uma fotografia que fuja do comum. No entanto, as elipses temporais estão muito bem construídas ao serem atreladas à magnífica interpretação de Julianne na progressão de sua doença, levando-nos rapidamente pelo tempo sem que este seja questionável. Por mais que não se encontre uma ousadia em sua construção, o filme prende o espectador e o faz abandonar seu mundo dentro daquela uma hora e meia de exibição. O que vemos não é mais um drama

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exagerado, mas sim, o curso da vida que não pode ser freado. Richard Glatzer Roteirista e diretor ao lado de seu marido Wash Westmoreland, Richard Glatzer era portador de ELA (esclerose lateral amiotrófica). Ele faleceu no dia 10 de março deste ano (2015), poucos dias após a cerimônia do Oscar, aos 63 anos de idade, em Los Angeles, por complicações de sua doença. Richard se apaixonou por cinema após conhecer Frank Capra (A Felicidade Não Se Compra). Foi professor de roteiro e participou de projetos inicialmente na área de produção, iniciando-se como roteirista em alguns episódios das séries ABC Afterschool Specials e Maxie’s World. O primeiro filme que roteirizou e dirigiu foi a comédia Grief, em 1993, que venceu o Torino International Gay & Lesbian Film

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PARA SEMPRE ALICE DIREÇÃO: Wash Westmoreland, Richard Glatzer PRODUÇÃO: Lex Lutzus, James Brown, Pamela Koffler ROTEIRO: Wash Westmoreland, Richard Glatzer 2014 | 101 m. | Inglês PAÍS: Estados Unidos ESTÚDIO: Killer Films, Backup Media, Big Indie Pictures BSM Studio ELENCO: Julianne Moore, Kristen Stewart, Alec Baldwin, Kate Bosworth, Hunter Parrish ORÇAMENTO: 5 milhões RECEITA: 25,6 milhões

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Drama

Festival, além do Prêmio do Público no San Francisco International Lesbian & Gay Film Festival. Em 2001, dirigiu The Fluffer (2001), sobre a indústria dos filmes pornôs gays, primeiro trabalho no qual dividiu o set com seu marido. Com o drama Meus 15 Anos, de 2006, atingiu grande sucesso em festivais indies e venceu tanto o prêmio do Júri quanto o do Público no Festival de Sundance. Já em 2013, foi exibida a cinebiografia The Last of Robin Hood, sobre os últimos anos do astro do cinema Errol Flynn. Este filme, tanto quanto Para Sempre Alice, tiveram seus projetos desenvolvidos após Richard ser diagnosticado com ELA.

Richard Glatzer (sentado) e elenco

Memórias finais As filmagens de Para Sempre Alice tiveram inicio quando Richard já estava com sua saúde bastante debilitada. Nas três semanas de filmagem, ele se comunicava com os atores e a equipe técnica por meio de um aplicativo que permitia transformar textos em fala. Infelizmente, ele acompanhou a cerimônia do Oscar apenas pela TV do hospital, de onde também ouviu Julianne o homenagear. Fica aqui implícita sua sensibilidade pela vida em Para Sempre Alice e o seu amor pelo cinema. Sabe-se que, quando diagnosticado, foi indagado pelo marido o que ele gostaria de fazer e Richard disse “que queria fazer filmes”. Para sempre Richard...

Julianne Moore na entrega do Oscar



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Mostra

Fotos: Paulo Aranha

CURTA BRASÍLIA CELEBRANDO SEU TERCEIRO ANO A revista Palmas de Ouro enviou seu correspondente especial para acompanhar de perto o Festival de Curta-Metragem de Brasília. Confira o que aconteceu! POR PAULO ARANHA esta terceira edição do festival, ocorrido em dezembro de 2014, o momento foi de celebração. Com parcerias estabelecidas, público fiel e realizadores que acompanham esta trajetória.

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Foram exibidos ao longo de quatro dias mais de 100 curtas, escolhidos entre os 643 inscritos. Em 2014, ampliou também o numero de produções internacionais da França

e Alemanha. A formação do público, aliás, é objetivo primordial do festival, tendo em vista que o festival cresceu. Em entrevista com o idealizador Alexandre Costa, ele ressaltou: “Tenho uma produtora chamada Sétima produções junto com a Ana Arruda, e este festival estava sendo pensado há oito anos. Da ideia inicial à realização dele, esta edição está com cara realmente de festival. Enfim, este ano o festival tornou-se um festival que sempre queríamos desde o inicio dele.”


Na edição de 2014, tivemos duas grandes homenagens: uma dedicada ao ator Andrade Junior, que atuou em vários curtas do Distrito Federal e a outra ao cineasta pernambucano Claudio Assis. Andrade Junior atuou em diversos curtas-metragens produzidos em Brasília, com uma alegria contagiante e milhares de histórias para contar, este humilde ator conquistou o público pela sua brilhante trajetória, cujo caminho continua a brilhar. Dentre os curtas exibidos estão, Defunto Vivo (1992), Tepê (1999), Nada Consta (2007), Macacos Me Mordam (2005) e O Egresso (2011), todas as produções de Brasilia. Na abertura do festival foi exibido o curta A louca Historia de Andrade Junior (2014) do cineasta Érico Cazarré e Victor Pennington, onde relatam a vida, a arte e as loucuras do excêntrico ator brasiliense Andrade Junior, o grande homenageado desta terceira edição. Outro homenageado do festival, o cineasta Claudio Assis, é um dos grandes nomes do cinema brasileiro das ultimas décadas. Mantendo seu tom autoral, o diretor trabalha de maneira visceral produzindo um cinema que está consolidado e distribuído no circuito comercial. Criou uma estética própria, no potencial e na linguagem, sempre com suas características livres e criativas. Este cineasta com personalidade forte, inquieto e visceral, vem conquistando e provocando o público e a crítica a cada longa-metragem, desde Amarelo Manga e até o recente Febre do Rato. Na homenagem ao cineasta no festival, tivemos a Mostra Visceral: O cinema de Claudio Assis, no qual foram exibidos curtas importantes de sua carreira; dentre eles estão os documentários Samydarsh: os artistas

Correspondente especial Paulo Aranha (esq.) e cineasta Claudio Assis (dir.) da rua (1993), que dirigiu juntamente com Marcelo Gomes, outro cineasta importante desta nova fase do cinema pernambucano; O Soneto do Desmantelo Blue (1993), no qual relata a vida e a obra do poeta pernambucano Carlos Pena Filho; e, na ficção, o curta-metragem Texas Hotel (1999), com a direção de fotografia de Walter Carvalho, que continuou a parceria até seu último trabalho.


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Mostra

Nesta edição, podemos acompanhar uma parcela importante das produções audiovisuais brasileiras no formato de curta-metragem. Que 2015 seja mais um ano com muitas novidades deste festival que cresceu e ganhou musculatura. Lançamento do DVD Curta Brasília v.3 DVD idealizado pela Cult Vídeo em 2005 para divulgar o audiovisual de Brasília, em 2014 foi lançado a terceira edição, com seis curtas-metragens premiados nas edições anteriores do festival. O DVD será distribuído para escolas, cineclubes, universidades e centros culturais de todo o Brasil. Com uma novidade: legendas em inglês e francês. “A ideia é lançar um por ano, com os filmes

brasilienses. Nesta edição, é a primeira vez que fizemos com legendas. A ideia também é distribuirmos internacionalmente estes DVDs”, conclui Alexandre Costa. Os filmes que fazem parte desta edição são: Meu amigo Nietzsche (2012), Braxília (2011), O filho do vizinho (2010), Deus (2011), A arte de andar pelas ruas de Brasília (2011) e Zé do pedal, acima da terra e abaixo do céu (2012). Mostra à francesa Na Mostra à francesa – Le Courts dês Grands, foram exibidos os trabalhos dos cineastas franceses François Reichenbach, Jean-Luc Godard, Jean Rouch, Cédric Klapisch e Laurent Cantet. Nestes curtas, revelaram-se as personalidades que futuramente marcariam suas trajetórias no cinema internacional.

Lançamento do DVD Curta Brasília - com apresentação do idealizador Alexandre Costa

INTERATIVO! Acesse o website do Festival de Curta-Metragem de Brasília!


Furgão do projeto CineSolar realiza exibições por meio de abastecimento sustentável O festival ampliou o número de produções internacionais em exibição. Além da Mostra à francesa, tivemos também a mostra Prêmio Alemão de Curtas (Deutscher Kurzfilmpreis). A mostra de curtas clássicos franceses aconteceu em parceria com a Embaixada da França, que trouxe para Brasília estas pérolas do cinema Francês. Nicolas Corman, assessor cultural da Embaixada da França em Brasília, comentou: “Em 2013, o realizador premiado viajou para a França e, neste ano, também o premiado vai realizar uma viagem profissional, para novas parcerias com produtores”. Circuito Itinerante O festival expandiu outros pontos de exibição dos curtas-metragens no Distrito Fe-

deral, com a realização do Curta Circuito de Cineclubes e da participação especial do projeto CineSolar, que além de exibir filmes, promoveu oficinas de cinema e sustentabilidade para crianças. O projeto CineSolar consiste em exibições realizadas com abastecimento de energia solar (um furgão com toda a estrutura para projeção de filmes e acomodação do público). As atividades itinerantes tiveram o objetivo de aproximar os cineclubes e seus frequentadores com os realizadores. O circuíto contou com o programa de 24 curtas-metragens brasilienses, todos exibidos nas edições anteriores do Curta Brasília. Os cineclubes que fizeram parte, nesta terceira edição, são Cineme-se, Cine EIT, Cidade Livre, Jiló na Guela, Brasil na Tela, Integra Cine e Cine CEM02.


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A VELHA GUERRA DO CINEMA INDEPENDENTE A produção e distribuição de cinema no Brasil enfrenta diversos percalços, mas propostas inovadoras surgem para superar os desafios. Conheçam o projeto Cine Guerrilha. POR TATIANI FARIA ão é de hoje que sabemos a dificuldade que cerca a distribuição de filmes no Brasil. Se os longas-metragens sofrem com isso, o que dizer então das pequenas produções?

N

É daí que percebemos a grande importância do papel dos cineclubes e outros projetos paralelos, na divulgação de novos artistas e suas produções. Espaços estes que já revelaram talentos pelo país e que lutam para se manterem ativos. E é por este

motivo que trago hoje para vocês leitores do caderno de cinema Palmas de Ouro, a entrevista com Paulo Gabriel, responsável pelo Cine Guerrilha, um projeto ativo na cidade de São Paulo, que tem suas exibições realizadas bimestralmente no MIS (Museu da Imagem e do Som), tendo realizado a primeira no ano de 2013. Confira o trabalho de Paulo e veja como as dificuldades não são diferentes na capital, mas que o fronte está armado e pronto para a guerra!


PAULO GABRIEL É ator e empreendedor cultural. bacharel em Publicidade e Propaganda pela FAAP, com conhecimento e prática em PNL (Programação Neurolinguística). É gestor do Teatro MuBE Nova Cultural, sócio fundador da Innovax Gestão Cultural e da Emotion Cultural, além de ser sócio em projetos de entretenimento noturno, como o Bar Dezoito. Fotos: Divulgação

Paulo, quando e como surgiu a ideia do Cine Guerrilha?

mos um lugar fixo, um ponto de troca, de comunhão de intercâmbio.

Surgiu em 2012. Quando pensei neste projeto, pensei um pouco na minha carreira e na de muitos amigos que fazem trabalhos de cinema e que têm um belo material na mão, mas não sabem o que fazer com ele. Por vezes, temos como ferramenta festivais, a Internet através do Vimeo e do Youtube para divulgar nossos trabalhos, mas o que percebi é que não existe em muitos casos, o ápice, a catarse que é ver o filme de fato em uma telona, no cinema ou num espaço que se proponha para este fim.

Baseado na premissa dos tradicionais cineclubes, vi que este formato, para nós do cinema independente, que fazemos no peito, na raça, estava longe da realidade que vivemos. E quando fazemos algo neste sentido, na maioria dos casos, sempre é feito de forma tímida, sem impacto.

Quem faz cinema independente, sabe das dificuldades, que não são poucas, para se realizar um filme de qualidade. Diante das dificuldades, se criam oportunidades... Aí entra meu lado de empreender, vi uma lacuna, um espaço carente para este público de profissionais, no qual me incluo, de ter-

Compartilhei este meu projeto com outros artistas, como o Daniel Torres, que entrou também de cabeça, e aí fomos aglutinando outros profissionais como a Vanessa Portugal, Bruna Brito, Haroldo Joseph, Elza Cohen, Thogun, Che Moais, Carlos Norcia, entre outros. Surgia assim o conceito do Cine Guerrilha,

Fazemos arte, mas através ‘’do nada’’, juntamos talentos e vamos pra cima, sem medo, sim às vezes temos recursos, mas sempre é apertado.


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Expectadores lotam o Teatro MuBE Nova Cultural no Cine Guerrilha de fevereiro de 2015 um lugar para podermos exibir nossos trabalhos, onde todos falamos a mesma língua.

Como tem sido manter esse projeto e como você mensura os resultados?

Quais foram os desafios e como foi possível concretizar o projeto?

É um desafio. Tínhamos a intenção de manter o projeto semanal. Mas o projeto mostrou-se muito dificultoso, diante da demanda operacional e promocional que seria preciso. Testamos esse formato, entre outros, e hoje chegamos ao caminho ideal. O projeto acontece então de forma bimestral, sempre com uma taxa de ocupação acima da metade dos assentos do Teatro MuBE Nova Cultural (são cobrados ingressos no valor de R$ 10,00 com direito à meia entrada e os cineastas em exibição se comprometem a ajudar na venda de um percentual de convites), onde fazemos a sede do projeto.

Primeiro desafio foi o investimento, precisávamos de um investimento inicial. Foi investido capital pessoal para tirar do papel e não ter de esperar pelas leis de incentivo. Segundo, precisávamos de pessoas interessadas, que compartilhassem seu tempo, doando seu tempo em prol de um projeto que vale para toda a classe. Terceiro, trazer isto à tona ao mercado, difundir o conceito, o nome, conseguir angariar produtores interessados em exibir o seu filme dentro deste projeto. Hoje, conseguimos superar o mais difícil. Somos ainda uma marca em formação, mas que, em São Paulo, no cenário independente de cinema, atinge inúmeros adeptos.

Os resultados foram satisfatórios no primeiro ano. Reorganizamos o modelo, o que tornou melhor o retorno promocional.


Hoje, passados 16 meses de projeto, estamos tendo uma busca cada vez maior de pessoas interessadas em ver e em exibir seus projetos! Como você tem avaliado as produções que têm sido apresentadas? O mercado independente é promissor. Temos ótimas produções sendo exibidas, vencedoras de festivais internacionais, nacionais, mas ao mesmo tempo, também temos exibições de novos cineastas independentes. A ideia é misturar os novos talentos com os já atuantes neste mercado. É gerar troca. Tanto é que aceitamos inclusive TCCs de cursos da área, para que exista a possibilidade dos entrantes terem também o seu espaço. E claro, existe um filtro, uma curadoria, que filtra o que tem possibilidade de ser exibido, aí são levados em consideração

roteiro, foto, atuação, direção, enfim, tudo que define a qualidade de um filme, independente da estética adotada. Quais as perspectivas futuras para o Cine Guerrilha? Colocamos o projeto em Leis de Incentivo Federal e Municipal para dar sequência e expansão ao projeto de forma que os envolvidos possam ser remunerados, desde equipe até os exibidores, além de termos um apelo midiático maior com um aporte desta natureza. Conteúdo para isso nós temos. Por aqui passaram mais de 15 grandes nomes do nosso cinema nacional como Marcelo Galvão, Sérgio Machado, Roberto Guervitz, Patrícia Vilela, Chico Gaspar, Caco Souza, Caru Alves, André Klotzel, Clery Cunha, Marco Dutra, Marat Descartes, além de termos exibido mais de 40 títulos.

Che Moais, Haroldo Joseph, Vanessa Portugal, Bruna Brito, Daniel Torres e Paulo Gabriel


SESSÃO DIÁLOGOS A premissa é existir. E para isso, não precisa ser um evento gigante. Precisa ser bom, genuíno e que venha com um propósito. Já temos grandes festivais espalhados pelo Brasil e mundo afora, nosso anseio é de atender aqueles que buscam um espaço alternativo ao circuito já convencionado no mercado e, para isso, se tiver de se tornar mais amplo, em outras capitais, aí estudaremos isto com calma, para que o projeto cresça de forma orgânica, natural e organizada. O escopo do projeto será ampliado? Hoje, diante da nossa visão estrutural, o evento bimestral é mais assertivo em termos de retorno de público. Conseguimos aglutinar mais filmes, mais pessoas. Com a aprovação e captação de recursos via leis de incentivo, a ideia é que se torne mensal. No momento, como é feito totalmente de forma independente, este foi o melhor modelo que encontramos. Já pensaram em gerar um circuito de produções, através de parcerias com cineclubes de outras cidades?

Produção Nacional Pois bem, o Cine Guerrilha está apto a receber as produções de outras cidades do Estado de São Paulo. Seria ótimo recebermos diversas cidades com seus filmes em nosso projeto! Uma ousadia que nos agrada muito! O difícil é operacionalizar isto... Fazer principalmente com que esta informação chegue aos produtores locais. Acho que seria uma grande avanço, expor mais o que é produzido em outras cidades, pois, na capital, é difícil o acesso a esse material. Seria, com certeza, algo muito produtivo, uma grande troca! Gostaria de deixar algum recado para esse pessoal que luta para poder produzir, finalizar e exibir suas produções? Gostaria de convidar todos os cineastas, atores e diretores que venham conhecer o Cine Guerrilha e trazer seu filme pra cá. Aqui, como nós dizemos: Vem pro fronte! Nossa próxima edição será em maio de 2015. Fiquem ligados no site! [Acesse www. cineguerrilha.com.br ou clique diretamente no box da página seguinte]


INTERATIVO! Acesse o website do Cine Guerrilha e confira a programação!


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FAZER CINEMA NO BRASIL Desbravando um caminho possível Como Lucas Mendes, em busca de uma linguagem cinematográfica própria e poética, construiu uma trajetória inovadora no Brasil que transcende padrões. POR TATIANI FARIA possível fazer cinema no Brasil. Um caminho difícil, mas que pode ser trilhado. Essa é a experiência de Lucas Mendes, um jovem cineasta goiano de apenas 22 anos. Após ter produzido vários curtas metragens, ele está produzindo agora seu primeiro longa. Mesmo ainda jovem, Lucas já fez um pouco de tudo nos trilhos da arte, o que serviu de base para que ele chegasse até o cinema.

É

Ele começou na carreira artística aos 17 anos, tocando Blues, Punk e estudando

música erudita. Nessa época, Lucas decidiu estudar música erudita na Alemanha, ocasião em que ele teve seu primeiro contato com o cinema. Para Lucas, no centro cultural da cidade de Lüdenscheid não havia muita coisa além da escola de música e o centro de cultura. Um bar era a coisa mais marginal do local e, por isso, era bastante frequentado pelos estudantes de teatro e de cinema. Ele passou a frequentá-lo, mentindo ao dono do local ao dizer que era famoso no Brasil e que, portanto, era uma atração internacional.


LUCAS MENDES Cineasta goiano, produtor de curtas que dialogam com a literatura, o surrealismo, o realismo fantástico, o terror, entre outras linguagens. Graças a sua atuação cinematográfica e cultural, foi premiado pela ONU com uma medalha da Associação Brasileira das Forças Internacionais de Paz (ABFIP) na Assembleia Legislativa de São Paulo

Fotos: Divulgação

Fato que o permitiu tocar música no local. O público gostou bastante e logo ele foi convidado para compor trilhas sonoras para as produções do pessoal. Voltando ao Brasil e para Goiânia, ele começou o que chamou em nossa entrevista de “brincar de cinema, produzindo uns filminhos bem bizarros”, o que era mais próximo da ideia de uma video-instalação. Começou então a cursar Fotografia na Puc e logo produziu uma exposição que rendeu muito o que falar. Chamava-se Carne Fraca, era sobre pessoas comendo carne crua e cortando os próprios pênis. Rogério Flori, que era o fotógrafo responsável pela curadoria, disse a ele que suas fotos sugeriam movimento e que dele devia dar movimento a elas, portanto. Seguindo o conselho de Rogério, Lucas produziu sua primeira experimentação ci-

nematográfica, um stop motion que se chama Fuck You e que era totalmente uma instalação. Com esta exposição, ele ganhou o Galo de Propaganda na categoria foto, só que não compareceu à entrega do prêmio, devido à presença de um padre na entrega do mesmo, que levou a organização do evento a optar por não exibir o trabalho do Lucas. Irritado, ele viajou para o Rio de Janeiro, onde ele conta que começou a frequentar os grupos de poesia boêmios, no caso, o Corujão da Poesia, que começava na terça– feira às onze da noite e terminava na quarta às cinco da manhã, “bebendo cerveja, tomando uísque, falando poesia e pensando cinema”. Então, ele volta para Goiânia e roda Televisionários e, em seguida, começa a Ode à psicanálise. Durante esse processo, ele se muda para São Paulo. Mas nem tudo foram flores, suas produções não seguiam uma linha muito comum ao gosto popular e,


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Lucas recebe medalha da Associação Brasileira das Forças Internacionais de Paz da ONU por vezes, ele foi desencorajado, tido como doente, como louco e inclusive não aceito em festivais. Diante disso, Lucas conta que só sobreviveu porque conheceu três mulheres as quais ele tem como suas “gurus”: • Maria Abdala curadora da Mostra Curtas de Goiânia – que ele conheceu após dirigir na TV o trabalho Entre Pontos e que apontou ter gostado muito do seu trabalho; • Paula Gaitán, viúva de Glauber Rocha – que ele conheceu por acaso em um espetáculo de teatro na Praça Roosevelt, e para quem ofereceu uma cópia de seu filme Jardins dos Homens, sem saber de quem se tratava e que reencontrou no mesmo festival no qual não foi aceito e que dela ouviu: “seu filme era a melhor coisa que podia ter nesse festival, mas as pessoas não o entenderam”;

• E Bernadette Lyra, que após assistir A ideia, lhe disse: “isso aí ainda vai dar muito pano pra manga”, e deu. Lucas conta que A ideia, era baseado nos trabalhos de Augusto dos Anjos, algo que queria muito fazer e que acabou sendo exibido em festivais europeus. Diz que então refletiu “opa, não sou tão louco assim, calma aí, os alemães estão gostando do que eu estou fazendo, se o Brasil não quer ver meu filme, não vou ficar fazendo a linha tupiniquim”. Por conta de seus trabalhos cinematográficos, a ONU reconheceu seus trabalhos como de suma importância e, no ano passado, ele foi condecorado com uma medalha. Na sequência, ele rodou A galinha dos ovos podres, um texto baseado nos textos do Mario Sérgio Cortella, onde ele afirma que seu trabalho começou a ganhar um


corpo diferente e que se viu plenamente afinado com sua equipe. E Olhinhos, filme baseado nos textos do Edgar Alan Poe, um curta lançado no Cine Guerrilha [confira matéria sobre o Cine Guerrilha nesta edição do Palmas e Ouro]. Lucas é um dos exibidores mais presentes no Cine Guerrilha, mas, diferente de uma maioria, seus filmes se distanciam da realidade comum, trazendo a estética surrealista e seu puro gosto pelos filmes de terror. Questionado sobre como o público encara o seu trabalho, ele logo me respondeu: “...para mim, que estou dentro da minha bolhinha, é difícil de olhar o meu trabalho e dizer, mas eu tenho meus dogmas, crenças minhas sobre arte, sobre cinema que seria de filmar o infilmável, de misturar poesia, sei lá, eu diria que o meu cinema é poético. Mas também não sei se é isso, um surrealis-

mo, um realismo fantástico. Acho que paira entre todas essas coisas. Eu gosto de filme que seja estranho, eu gosto que o público não se sinta bem, eu quero gerar incômodo, quero gerar discussão. Se eu fizer um filme de 15 minutos, a discussão sobre ele tem que durar 30, se eu fizer um longa de uma hora e meia, eu quero que a discussão dure no mínimo três horas. Eu não gosto de entregar o filme pronto. Eu misturo literatura com cinema, cineliteratura.” A seguir, um diálogo direto com Lucas e sua trajetória artística fora dos padrões. Como você a importância do seu trabalho, nesse período que as produções emergem? Eu me sinto um provocador, eu entro na briga para botar o dedo no olho, diferente de muitos que estão aí fazendo filme da

Uma Ode à Psicanálise

Olhinhos


SESSÃO DIÁLOGOS “família brasileira”, algo que eu acho um saco. Sabe o que é família brasileira? É o filme água com açúcar romantizado. Estamos em um momento estranho, cinema é muito mais do que isso, do que ficar falando do seu problema pessoal. O filme tem que trazer novos mundos e, hoje, tem muito daquela coisa quadradinha. Então eu penso o seguinte, que dentro dessa galera que está fazendo essa Nouvelle Vague Paulistana eu estou aqui para discutir, eu estou em uma linha totalmente contrária. Eu converso muito mais com os cineastas da Boca do Lixo, que estão fazendo filme porque eles gostam muito daquilo e não para mostrar para a família que fez algo. Eu não estou sozinho nessa, o Ian Soffredini faz isso no teatro, o Domênico faz isso nas artes plásticas. Nesse ponto, eu não estou sozinho. Não há mais uma questão ideológica nas produções, as ideologias morreram.

A ideia.

Produção Nacional Você está rodando o seu primeiro longa e a gente sabe que, aqui no Brasil, produzir é algo muito complicado, pois conseguir a grana é um grande desafio. Como você conseguiu quebrar essa barreira? Grana é o primeiro problema, o segundo é a cadeia de egos que existe no mercado artístico. O que eu posso dizer é que a minha equipe vive o cinema junto comigo, eu não consigo falar dos meus projetos, sem falar de Guilherme Grielber, sem falar de Celso Matias da Fonseca, sem falar de Yader Marques e Alan Grando, que são pessoas que estão me acompanhando desde quando eu ainda era o “maluco“. Eu não consigo pensar em cinema isoladamente. Cinema e teatro são duas artes nas quais o ego pesa bastante, mas elas não existem sem coletividade. Eu gosto de correr o risco, afinal, se der certo, vai ser bonito contar a história de como aquilo foi


feito. Eu gosto do desafio, de pensar que “esse trabalho pode me ferrar” e, por isso, eu trato a minha equipe muito bem. Sobre o que é o seu primeiro longa? A casa dos sonhos esquecidos é um longa em produção com Bruno Vieira de Melo, que é também diretor de arte do filme. Ele teve uma ideia de uma pipa voando no céu, essa pipa cai dentro de uma casa e eu usei isso como argumento para o longa, onde eu tenho basicamente uma homenagem às histórias que eu tive com um amigo meu, que é o Renato Franco de Melo, um grande amigo apesar de termos idades muito diferentes com o qual eu sempre saio para beber um uísque. Durante essas saídas a gente sempre costumava inventar histórias. Sonhos nossos então que eu coloco na história que estão aprisionados ali na casa. Então um menino está soltando pipa, a pipa cai vai de encontro a um velho nessa casa, um velho muito bizarro com vários chapéus, e essa criança sai correndo, chega em casa e conta para a mãe que não dá atenção para ele. Quando essa criança vai dormir, a Drag do Duchamp, a Rrose Sélavy, aparece no sonho dele e o incentiva a voltar para a casa do velho. Ele volta lá e acaba vivendo várias experiências. É um filme extremamente lúdico e que eu não vou dizer mais nada, pois eu espero que vocês assistam e se não forem ver, eu desejo tudo de ruim, brincadeira (risos), mas venham ver, por favor. Mas é importante dizer que não há, de certa forma, um personagem central, não

Rrose Sélavy (Marchel Duchamp) há uma narrativa do herói. É um filme com uma câmera extremamente solta e tento quebrar um pouco a forma. Uso muitos recursos teatrais e tem atores como Blota Filho, Rafael Araújo, Gabi Lopes e Bethânia Betcher que abraçaram o filme, mesmo sem grana e estão fazendo acontecer de uma maneira esplêndida. Eu agradeço muito a eles e minha equipe. Qual o seu recado para os tão jovens quanto você que estão aí, começando no cinema, às vezes um pouco longe das capitais, onde, de certa forma, há mais facilidade para produzir? Eu sou de Goiânia e consegui produzir os meus trabalhos. Nunca deixe que ninguém te rebaixe, sem prepotência é claro.


SESSÃO DIÁLOGOS Se você acredita no que você está fazendo continue. Seja sincero: você realmente acredita nisso? Porque faça chuva ou faça sol, eu vou continuar a fazer os meus filmes e se cinema não for minha fonte de renda eu vou trabalhar na TV ou em qualquer outro lugar. Cinema são noites em claro, é você se propor desafios, é viver constantemente em conflito consigo mesmo. Não deixe de ler, de ter muitas experiências, de buscar o máximo possível de referências artísticas, pois cineasta que é cineasta não pode ficar preso ao cinema, tem que saber de música, tem que saber de artes plásticas, tem que saber de todo tipo de arte. E como você se vê daqui alguns anos? Eu não faço tantos planos, mas eu seria a mesma pessoa que eu sou agora, um diretor de cinema, pois eu não quero e não sei fazer outra coisa. Eu não sei se eu serei um fracassado, mas a única certeza que eu sei é

Produção Nacional que eu sempre estarei trabalhando no meu próximo filme. Qual a sua mensagem final antes de encerrarmos esse nosso bate-papo? Você que está fazendo cinema, que tem experiência, olhe para o lado e ensina. A gente tem acesso precário aos filmes, livros, equipamentos. Poxa, empreste seu equipamento! Empreste a sua luz, você não vai morrer por isso (risos), vai ajudar a fazer filmes. Se você gosta tanto assim quanto diz, não pode enxergar apenas como um mercado competitivo. E ainda, incentive produções diferenciadas, diferentes da sua, incentive o diálogo artístico. Eu sempre estou ajudando em produções menores e se você já tem um repertório, mesmo que não tão grande, ensine, passe isso para frente. Se você gosta de cinema de verdade, pense no cinema e não em você.

O Jardim dos Homens

INTERATIVO! Acesse o canal do Youtube de Lucas Mendes.


“Num filme o que importa não é a realidade, mas o que dela possa extrair a imaginação.”

CHARLIE CHAPLIN


Caderno de cinema Palmas de Ouro [ISSN: 2359-3830] Diretor: Jean-Frédéric Pluvinage Editor-chefe: Paulo Stucchi Redatores: André Roedel, Bárbara Fcamidu, Filipe Salles, Lilian Solá Santiago, Paulo Aranha, Pedro Chamon Pardim, Rodolfo Emili, Rodrigo Lara, Tatiani Faria Projeto Gráfico: FoxTablet Assessoria de imprensa: Parla! Assessoria O caderno de cinema Palmas de Ouro é uma publicação gratuita. Direitos autorais • Todos os direitos sobre esta obra estão reservados. Você pode distribuir esta revista gratuitamente, porém, não pode editar ou alterar o conteúdo desta publicação sem que haja prévia permissão por escrito dos autores e editora. Normas para uso de conteúdo • A informação contida nesta revista somente poderá ser utilizada para fins terceiros com a devida autorização por escrito dos autores e editora. Apesar de todas as precauções terem sido tomadas no preparo deste material, os autores e a presente editora não se responsabilizam por danos, perdas ou procedimentos que possam ser causados direta ou indiretamente pela informação contida nesta obra. Propriedade de marcas • Produções cinematográficas são protegidas por leis de direito autoral. Sendo assim, as obras são analisadas no conteúdo desta revista para finalidade acadêmica, cultural e artística não sendo intenção infringir ou transgredir qualquer norma de direito autoral, e sem efetuar a reprodução ilegal dessas obras.


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