ENTRE LENÇÓIS POR ROBERTA SENDACZ
Dois grandes pensadores discutem as diferenças e semelhanças entre amor e erotismo
FOTO FERNANDO TORRES; ARTE ISABELLE TUCHBAND
Não é de todo precisa a diferença entre erotismo e amor. Para o escritor mexicano Octavio Paz ambos se encontram, apesar de distintos. Paz nem sempre toca no assunto erotismo, porém, em A Dupla Chama: Amor e Erotismo, ele diz: “O amor é atração por uma única pessoa: por um corpo e uma alma. O amor é escolha; o erotismo, aceitação. Sem erotismo – sem forma visível que entra pelos sentidos – não há amor, mas este atravessa o corpo desejado e procura a alma no corpo e, na alma, o corpo. A pessoa inteira”. No livro, passeando na história, de tudo quanto é forma, do medieval ao contemporâneo, o escritor diz que “o libertino [século 18] necessita sempre do outro e nisso consiste sua condenação: depende de seu objeto e é escravo de sua vítima”. Para ele, é como se o libertino participasse de uma sessão sadomasoquista: é objeto de si e de outro ao mesmo tempo. Já para o escritor francês Georges Bataille, “o erotismo é invenção, variação incessante; o sexo é sempre o mesmo”. O “seu” sexo é criativo, diferente de Paz. Bataille diz que “o amor é uma das formas em que se manifesta o desejo universal e consiste na atração pela beleza humana”. O universal é a tentativa para várias certezas, uma delas é o amor cortês: “O amor cortês não era uma desordem e sim uma estética dos sentidos”. Como exemplo, levantamos Tristão e Isolda da literatura e ópera. Aquela coisa do amor impossível. Aproximar ou afastar o amor de erotismo é tão subjetivo quanto de acordo com cada autor. Para Paz, o erotismo ao mesmo tempo está fora ou dentro do homem (sagrado). É uma coisa que aproxima esse tipo de pensamento da antropologia. Passa pela história, filosofia, literatura, sociais, e outros canais do conhecimento. Por fim, Paz salienta a diferença entre erotismo e amor, e menos pornografia. Seu livro é gostoso. Já a obra de Bataille, repleta de pornografia, incomoda. São assuntos de precipício. ROBERTA SENDACZ é jornalista, mas se encontrou na filosofia. gosta de experimentar tudo com o que fica velado
FEVEREIRO 2020 J.P 57
