Os rodrigues sentem - Rosaneves & Ytagnomota

OS RODRIGUES SENTEM ROSANEVES & YTAGNOMOTA - FIASCO 2018

algum dia eu enlouqueço: [eu prometo. abro a porta para ninguém marco um jantar a dois comigo [sempre me atraso ytagno ytagno faço perguntas às paredes, e telefonemas à televisão. ofereço frango aos passarinhos e rosas, à minha planta favorita do quintal. até lá, apenas, mas só apenas: um mistério baterá á porta às 6 da manhã, e eu, confuso abrirei para aquele que já estava dentro. algum dia eu enlouqueço. e para que tudo esteja bem, eu prometo, enlouquecerei.

grafo nas temperas do tempo com uma caneta invisível no visível momento: todas as palavras que tenho dito todos os poemas que tenho escrito: foram eles sentidos antes. no espelho: apago meus olhos para não me ver no espelho. nem, tão pouco, o novo suspiro de vida velha e a velha saudade de uma vida nova. a morte mora comigo faz duas décadas. mas eu vou mais tarde sozinho ainda não sei se falta pássaros na minha janela ou pedras no meu estilingue.

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dar a luz um filho: e então eis que nasce a penumbra. ytagno ytagno

nove meses depois da nossa relação quase amorosa você se aproxima de mim, totalmente insensata com uma ninhada de palavras insisto no aborto, mas você – indobrável – pare na minha frente: conjugações que fazem meu peito se abrir. rosa

você só me dá as costas, mesmo sabendo que não sou capa ou herói de épico – tão amador e nossas metades se partem – em um, em dois, em quatro quero conhecer quem junte meus pedaços quero amor que me ame – mas não me amo, como amo outras me odeio exatamente como odeio dizer “bom-dia” toda manhã minha cara metade está largada nas bordas do espelho, a outra metade da minha laranja, está descascada e descansa, sobre a pia onde apodrece e sozinho, então, me afago do lado errado, me masturbo o resto da tarde para esvaziar meu saco cheio de tudo.

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a noite não nos engana, tudo exala uma sombra. mas a sombra da lua é a única que pesa a terra. ytagno

agora busco nas cenas de abril um sonho fluido: lígia me interrompe o amor: está uma ótima noite para colecionar pessoas. o amor foge e me diz: noite é noite né, sempre troca de roupa. eu, de moletom preto: noite que é noite vira dia. nossos olhos se chocam, a gente se segura pra não cair, o céu já tinha desabado faz tempo. rosa

há algo despercebido pelos observantes. pelo bicho da terra, da goiaba, do pé, do corpo, dos olhos verdes, dos azuis, castanhos, castanhas, das pedras, das perdas. há algo a ser notado, a ser dito, a ser inventado uma despedida retalhada no aeroporto, das bocas, das moscas, das moças uma conversa paralela jogada ao pé d'ouvido, um assunto mal resolvido, pelo menos, vamos fingir que tivemos uma despedida, e logo, vamos fingir um esquecimento. vamos fingir uma fuga, e logo, ir embora com o próprio adeus, sozinhos vamos fingir uma luta, e logo, vamos fingir estarmos ganhando, o mundo em esquecimento pelo mundo esquecido. vamos fingir que há algo, que sempre passa despercebido por todos, que sentam em um banco de uma praça e acendem sua melancolia a qualquer, trago, olhando para cima e contemplando os aviões, as conversas, as aves e seus roubos (que me tiram o ar a força) vamos sentir, um mistério que sempre nos atravessa.

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acordo de madrugada pensando em parar com os cigarros. aproveito a falta de sono para ir na esquina comprar mais cigarros minha falta de fé com o que eu quero me faz sofrer de hipocrisia uma coisa me assusta: penso em escrever um epicédio sobre eu mesmo desisto em seguida, não quero ser Brás Cubas nem tampouco Machado. quero mesmo uma lâmina prata e afiada para que apunhale este poema não esqueço, não consigo esquecer daniel me disse que "quem não tenta, não vê o fim". daniel, meu amor anônimo não sabia que meu pseudônimo estivesse tão triste demais a ponto de perder o lado otimista da sua filosofia agora: são três da manhã e exagero a insônia, tenho medo do que minhas mãos podem fazer comigo enquanto durmo. rosa