Heritage issue 1

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A S g A r E S D E A LC Â n TA r A | C E n T r A L T E J O | B A r B A D I n H O S | TO r r E g A L P | E L E VA D O r S.TA J U S TA | I g r E J A S ã O r O Q U E






ALPHA

CRÓNICA DO EDITOR

Aconteceu, outra, vez Texto de Pedro Bragança

Aconteceu, outra, vez, Duarte, Marques, voltou, a, escrever. Duarte Marques escreve às terças no Expresso.pt e o problema é persistentemente o mesmo: escreve inacreditavelmente mal. Isto é, não sabe escrever em português.

A

conteceu, outra, vez, Duarte, Marques, voltou, a, escrever. Duarte Marques escreve às terças no Expresso.pt e o problema é persistentemente o mesmo: escreve inacreditavelmente mal. Isto é, não sabe escrever em português. O autoproclamado consultor, de 33 anos, bem conhecido de todos pela sua notável e repentina mudança de opinião sobre a co-adopção, conta já com um vastíssimo currículo: deputado, chefe de gabinete da delegação portuguesa do PPE no Parlamento Europeu, presidente da JSD, vice-presidente da YEPP (Juventude do Partido Popular Europeu)... Porém, sem dúvida, o grande feito foi conseguido em tenra idade. Aos 21 anos, Duarte Marques era nada menos do que assessor do Ministro da Presidência. O que fazia? Segundo o seu currículo, fazia ‘’assessoria política’’, preparava ‘’visitas e deslocações oficiais em Portugal e no estrangeiro’’ e organizava Conselhos de Ministros. Organizava, Conselhos, de, Ministros, imagino eu. Mal conheço Duarte Marques. São parcas as memórias que tenho dos tempos em que ele, enquanto presidente da JSD, vagueava entre as lides de Associações de Estudantes e Federações Académicas no execrável xadrez da “politics” (em modo jardim de infância) que todos, melhor ou pior, conhecemos. A questão não é pessoal. O problema maior não está no facto de Duarte Marques conseguir enfiar 100 vírgulas num texto de 800 palavras. Nem em pô-las, preferencialmente, entre o sujeito e predicado. Nem no Expresso.pt, um órgão de comunicação social credível, deixá-lo discorrer sem uma gramática de nível 1 por perto. O problema, quanto a mim, é outro e mais grave. É que Duarte Marques é deputado da Assembleia da República e (leia-se bem!) membro da Comissão de Educação, Ciência e Cultura. Sim, a Comissão de Educação, Ciência e Cultura, a que se pronuncia e discute os currículos das escolas, a que deixa passar os sucessivos cortes brutais na investigação e na cultura porque o PSD, partido do qual é membro e dirigente, acha que a ‘’investigação não rentável’’ não deve ser financiada. É que a decadência da política, a crise da representatividade, a abstenção, o voto de protesto e todos os fenómenos que mais tarde ou mais cedo acelerarão uma crise aguda da democracia não têm uma origem abstracta; são sobretudo impulsionados por isto: politólogos de café que criaram uma carreira própria e autista e que inevitavelmente governar-nos-ão. E esta inevitabilidade, de entre todas, é a mais dramática. É uma epopeia escrita pelo dramaturgo Duarte Marques.¶ 6

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SUMÁRIO I

Modernismo Gares Marítimas de Alcântara O exterior e interior em diálogo modernista

14 II

Património Industrial Central Tejo Testemunho da produção de electricidade na primeira metade do Século XX

28 Estação Elevatória dos Barbadinhos Para conservar a memória da energia e das máquinas a vapor

38 Torre de refinaria da Galp Testemunho da cidade ocupada pela indústria

48 Elevador de S.ta Justa Testemunho da cidade ocupada pela indústria

58 III

Da Patriarcal à Capela Real de S. João Baptista Regresso ao período áureo do século XVIII em São Roque

70 IV

Ensaio I A especificidade de cada universo industrial 82 V

Ensaio II Modernidade e contemporaneidade em museologia 66

OMEGA

Edição limitada

A publicação heritage não é uma vulga revista, é um reflexo da bela cultura lusa, como tal assume um papel classico e intemporal. Exemplar n.º / 500.

Crónica Modernidade e contemporaneidade em museologia 94



01

Tomar As Velhas (Teatro de Rua) Joana Grupo de Teatro 21:30h - Praça da República ESPECTÁCULO TEATRO

04

Pombal Splash Teatro do Montemuro 21:30h - Teatro Cine de Pombal ESPECTÁCULO TEATRO

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10:30h - Centro Cultural Raiano ATELIER ARTES VISUAIS

10:00h - Centro Cultural Raiano ATELIER ARTES VISUAIS

Idanha-a-Nova Origami centa@mail.telepac.pt

Idanha-a-Nova Origami centa@mail.telepac.pt

16:00h - Centro Cultural Raiano ATELIER ARTES VISUAIS

16:00h - Centro Cultural Raiano ATELIER ARTES VISUAIS

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10:00h - Centro Cultural Raiano ATELIER ARTES VISUAIS

10:00h - Centro Cultural Raiano ATELIER ARTES VISUAIS

Idanha-a-Nova Origami centa@mail.telepac.pt

Idanha-a-Nova Origami centa@mail.telepac.pt

16:00h - Centro Cultural Raiano ATELIER ARTES VISUAIS

16:00h - Centro Cultural Raiano ATELIER ARTES VISUAIS

Penafiel Terra Firme Filandorra - Teatro do Nordeste

Vila Real de Santo António Fernando Lopes Graça (1906-1994) Homenagem do Opus Ensemble Opus Ensemble

Idanha-a-Nova Origami centa@mail.telepac.pt

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Celorico da Beira Dixie Boys Dixie Boys 21:30h - Jardim Parque Carlos Amaral ESPECTÁCULO MÚSICA

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21:30h - Largo da Ajuda ESPECTÁCULO TEATRO

Mêda Zé do Telhado, segundo Camilo Castelo Branco Klássikus, Associação Cultural 21:30h - Centro Cívico e Social de Mêda ESPECTÁCULO TEATRO

Oliveira do Hospital Pax Romana ESTE - Estação Teatral da Beira Interior

Amarante Fernando Lopes Graça (1906-1994) Homenagem do Opus Ensemble Opus Ensemble 22:00h - Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso ESPECTÁCULO MÚSICA

Idanha-a-Nova Origami centa@mail.telepac.pt

Idanha-a-Nova Origami centa@mail.telepac.pt

22:00h - Largo António Aleixo ESPECTÁCULO MÚSICA

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Alpiarça Movimento Criativo Companhia de Dança Contemporânea de Évora

22:00h - Fórum Romano

09:30h - Biblioteca Municipal

da Bobadela ESPECTÁCULO TEATRO

de Alpiarça ATELIER DANÇA

agenda cultural 10

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Idanha-a-Nova Origami centa@mail.telepac.pt 10:00h - Centro Cultural Raiano ATELIER ARTES VISUAIS

Alpiarça Movimento Criativo Companhia de Dança Contemporânea de Évora 11:00h - Biblioteca Municipal

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Idanha-a-Nova uma história a penas Trigo Limpo Teatro Acert 15:00h - Centro Cultural Raiano ESPECTÁCULO TEATRO

de Alpiarça ATELIER DANÇA

Vila Nova de Foz Côa Falar Verdade a Mentir Grupo Teatroesfera

Alpiarça Movimento Criativo Companhia de Dança Contemporânea de Évora

21:30h - Centro Cultural de Vila

14:00h - Biblioteca Municipal de Alpiarça ATELIER DANÇA

Alpiarça Movimento Criativo Companhia de Dança Contemporânea de Évora 15:00h - Biblioteca Municipal de Alpiarça ATELIER DANÇA

Idanha-a-Nova Origami centa@mail.telepac.pt 16:00h - Centro Cultural Raiano ATELIER ARTES VISUAIS

Alpiarça Movimento Criativo Companhia de Dança Contemporânea de Évora 16:00h - Biblioteca Municipal de Alpiarça ATELIER DANÇA

Lagos Fernando Lopes Graça (1906-1994) Homenagem do Opus Ensemble Opus Ensemble 22:00h - Centro Cultural de Lagos ESPECTÁCULO MÚSICA

Nova de Foz Côa ESPECTÁCULO TEATRO

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Loulé Fernando Lopes Graça (1906-1994) Homenagem do Opus Ensemble Opus Ensemble 21:30h - Igreja de São Pedro do Mar ESPECTÁCULO MÚSICA

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Idanha-a-Nova Papagaios a voar... centa@mail.telepac.pt 10:00h - Centro Cultural Raiano ATELIER ARTES VISUAIS

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Idanha-a-Nova Papagaios a voar... centa@mail.telepac.pt 16:00h - Centro Cultural Raiano ATELIER ARTES VISUAIS

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Idanha-a-Nova Papagaios a voar... centa@mail.telepac.pt 10:00h - Centro Cultural Raiano ATELIER ARTES VISUAIS

Amarante Raízes Ibéricas Associação Vox Angelis 22:00h - Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso ESPECTÁCULO MÚSICA

10:00h - Centro Cultural Raiano ATELIER ARTES VISUAIS

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22:00h - Monte Gordo ESPECTÁCULO TEATRO

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Vila Real de Santo António Alma Grande

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I Gares Marítimasde

Alcântara Texto de Pedro Bragança | Fotografia de Fernando Coelho

Construída na década de 40, ao abrigo de um plano de modernização do Porto de Lisboa, foi inaugurada em 17 de julho de 1943, com projecto do arq. Pardal Monteiro, que visava facilitar a atividade no cais e dar ao passageiro o máximo de comodidade. A sua conceção revelou um edifício amplo, de linhas elegantes e modernas, com uma estrutura de betão armado, desenvolvido em 2 pisos, o térreo ligado às actividades e serviços do cais e o superior relacionado com o acesso e acolhimento de passageiros. Neste último, merecem destaque a nave alongada de linhas curvilíneas e o amplo vestíbulo central, decorado com pinturas murais de Almada Negreiros, subdivididas em 2 trípticos (a nascente,’’Quem não viu Lisboa não viu coisa boa’’, que retrata a vida da cidade no seu quotidiano, em especial as fainas marítimas e, a poente, subordinado ao tema da ‘’Nau Catrineta’’) e ainda, em 2 figuras avulsas, uma delas alusiva ao ‘’Milagre de D. Fuas Roupinho’’. No exterior, a parte central da fachada está definida por pano de muro côncavo, de supreficie suave e lisidíavazado ao nível do piso térreo por 3 portas rectangulares envidraçadas, protegidas por pala e encimadas até ao remate do alçado por 3 grandes janelões retangulares. Remate esse, feito por volume recuado vazado por 7 óculos circulares. Toda a fachada é, ainda, percorrida por um extenso terraço, que se estende em ambos os lados para além do edifício.

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ransportada de Itália, montada peça por peça segundo uma intricada operação logística, a sumptuosa Capela de S. João Baptista mostrava-se por fim na capital, palco privilegiado da intervenção do Magnânimo. Um prodígio da arte, ao nível do Rei-Sol português, e um instrumento político tão valioso como os materiais convocados para a obra. O projecto mostrava às potências europeias com acreditação diplomática no coração da Europa do século xviii, que Portugal dispunha de capacidade financeira para proteger o seu império.

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Portico sul da Gare de Alcântra com fresco de Almada Negreiros

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Apogeu de toda a sua produção artística, os frescos de Almada para as gares marítimas de Alcântara e da Rocha do Con­de de Óbidos constituem a sua produçãoo pictórica mais ambi­ciosa e mais trabalhosa, com mais de dois anos e meio dedicados a cada um dos conjuntos, tendo no primeiro sido ajudado apenas por um operário que lhe transportava as tin­tas e no segundo por Sara Afonso. Com um ano de distância entre o fim de um e o início do outro, é assinalável a mudança de registo, como se Almada tenha querido traçar uma frontei­ra entre passado e presente, ou, dentro do seu assumido ecletismo, mostrar que pode existir mais de uma maneira de ser moderno. Mas, acima de tudo, os frescos das duas gares revelam a solidão do criador, avesso a grupos num meio ago­ra dividido entre neo-realistas e surrealistas, percorrendo or­gulhoso o percurso por si traçado, sem se preocupar com a falta de companhia, certo de estar na via da salvação. O fresco social do contributo de Almada à arquitetura No Diário de Noticias,

Visão geral do exterior do edifico.

em 1939-1940, Almada utiliza linguagem clássica (invocando o Renascimento, que estuda e admira) para abordar temas mitológicos ou alegóricos. Na quase simultânea encomenda para os Correios d Aveiro, remete-se ao intimismo, com uma mulher do povo a escrever e outra a ler uma carta É uma simbologia clara, acabando os frescos destruídos.

Fresco de Almada Negreiros retratando contos d’Os Lusíadas de Luís de Camões. Fresco de Almada Negreiros retratando contos d’Os Lusíadas de Luís de Camões.

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Detalhe do exterior do edifico. Detalhe do interior do edifico.

Construída na década de 40, ao abrigo de um plano de modernização do Porto de Lisboa,foi inaugurada em 17 de julho de 1943, com projecto do arq. Pardal Monteiro, que visava facilitar a atividade no cais e dar ao passageiro o máximo de comodidade. A sua conceção revelou um edifício amplo, de linhas elegantes e modernas, com uma estrutura de betão armado, desenvolvido em 2 pisos, o térreo ligado às actividades e serviços do cais e o superior relacionado com o acesso e acolhimento de passageiros. Neste último, merecem destaque a nave alongada de linhas curvilíneas e o amplo vestíbulo central, decorado com pinturas murais de Almada Negreiros, subdivididas em 2 trípticos (a nascente,’’Quem não viu Lisboa não viu coisa boa’’, que retrata a vida da cidade no seu quotidiano, em especial as fainas marítimas e, a poente, subordinado ao tema da ‘’Nau Catrineta’’) e ainda, em 2 figuras avulsas, uma delas alusiva ao ‘’Milagre de D. Fuas Roupinho’’.

No exterior, a parte central da fachada está definida por pano de muro côncavo, vazado ao nível do piso térreo por 3 portas rectangulares envidraçadas, protegidas por pala e encimadas até ao remate do alçado por 3 grandes janelões retangulares. Remate esse, feito por volume recuado vazado por 7 óculos circulares. Toda a fachada é, ainda, percorrida por um extenso terraço, que se estende em ambos os lados para além do edifício.

Fresco de Almada Negreiros retratando contos d’Os Lusíadas de Luís de Camões. Fresco de Almada Negreiros retratando contos d’Os Lusíadas de Luís de Camões.

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Enquadramento do três frescos de Almada Negreiros retratando contos d’Os Lusíadas de Luís de Camões, e ampliação das obras.

A partir da década de 80, com o alargamento do cais e a extinção da maioria das carreiras de passageiros, esta estação viu o seu movimento reduzido e passou a ser disponibilizada para outros projetos, para além da sua função inicial. Este imóvel foi classificado como Monumento de Interesse Público. Construída na década de 40,ao abrigo de um plano de modernização do Porto de Lisboa,foi inaugurada em 17 de julho de 1943, com projecto do arq. Pardal Monteiro, que visava facilitar a atividade no cais e dar ao passageiro o máximo de comodidade. A sua conceção revelou um edifício amplo, de linhas elegantes e modernas, com uma estrutura de betão armado, desenvolvido em 2 pisos, o térreo ligado às actividades e serviços do cais e o superior relacionado com o acesso e acolhimento de passageiros. Neste último, merecem destaque a nave alongada de linhas curvilíneas e o amplo vestíbulo central, decorado com pinturas murais de Almada Negreiros, subdivididas em 2 trípticos (a nascente,’’Quem não viu Lisboa não viu coisa boa’’, que retrata a vida da cidade no seu quotidiano, em especial as fainas marítimas e, a poente, subordinado ao tema da ‘’Nau Catrineta’’) e ainda, em 2 figuras avulsas, uma delas alusiva ao ‘’Milagre de D. Fuas Roupinho’’. No exterior, a parte central da fachada está definida por pano de muro côncavo, vazado ao nível do piso térreo por 3 portas rectangulares envidraçadas, protegidas por pala e encimadas até ao remate do alçado por 3 grandes janelões retangulares. Remate esse, feito por volume recuado vazado por 7 óculos circulares. Toda a fachada é, ainda, percorrida por um extenso terraço, que se estende em ambos os lados para além do edifício. A partir da década de 80, com o alargamento do cais e a extinção da maioria das carreiras de passageiros, esta estação viu o seu movimento reduzido e passou a ser disponibilizada para outros projetos, para além da sua função inicial. Este imóvel é classificado como Monumento de Interesse Público.

Merecem destaque a nave alongada de linhas curvilíneas e o amplo vestíbulo central, decorado com pinturas murais.

Construída na década de 40, ao abrigo de um plano de modernização do Porto de Lisboa, foi inaugurada em 17 de julho de 1943, com projecto do arq. Pardal Monteiro, que visava facilitar a atividade no cais e dar o máximo de comodidade.

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Enquadramento do três frescos de Almada Negreiros retratando contos d’Os Lusíadas de Luís de Camões, e ampliação das obras.

A sua conceção revelou um edifício amplo, de linhas elegantes e modernas, com uma estrutura de betão armado, desenvolvido em 2 pisos, o térreo ligado às actividades e serviços do cais e o superior relacionado com o acesso e acolhimento de passageiros. Neste último, merecem destaque a nave alongada de linhas curvilíneas e o amplo vestíbulo central, decorado com pinturas murais de Almada Negreiros, subdivididas em 2 trípticos (a nascente,’’Quem não viu Lisboa não viu coisa boa’’, que retrata a vida da cidade no seu quotidiano, em especial as fainas marítimas e, a poente, subordinado ao tema da ‘’Nau Catrineta’’) e ainda, em 2 figuras avulsas, uma delas alusiva ao ‘’Milagre de D. Fuas Roupinho’’. No exterior, a parte central da fachada está definida por pano de muro côncavo, vazado ao nível do piso térreo por 3 portas rectangulares envidraçadas, protegidas por pala e encimadas até ao remate do alçado por 3 grandes janelões retangulares. Remate esse, feito por volume recuado vazado por 7 óculos circulares. Toda a fachada é, ainda, percorrida por um extenso terraço, que se estende em ambos os lados para além do edifício. A partir da década de 80, com o alargamento do cais e a extinção da maioria das carreiras de passageiros, esta estação viu o seu movimento reduzido e passou a ser disponibilizada para outros projetos, para além da sua função inicial. Este imóvel é classificado como Monumento de Interesse Público. Construída na década de 40, ao abrigo de um plano de modernização do Porto de Lisboa,foi inaugurada em 17 de julho de 1943, com projecto do arq. Pardal Monteiro, que visava facilitar a atividade no cais e dar ao passageiro o máximo de comodidade. A sua conceção revelou um edifício amplo, de linhas elegantes e modernas, com uma estrutura de betão armado, desenvolvido em 2 pisos, o térreo ligado às actividades e serviços do cais e o superior relacionado com o acesso e acolhimento de passageiros. Neste último, merecem destaque a nave alongada de linhas curvilíneas e o amplo vestíbulo central, decorado com pinturas murais de Almada Negreiros., subdivididas em 2 trípticos (a nascente,’’Quem não viu Lisboa não viu coisa boa’’.que retrata a vida da cidade no seu quotidiano, em especial as fainas marítimas. ¶

Retrata a vida da cidade no seu quotidiano, em especial as fainas marítimas.

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nOTA BIOgrÁFICA DE ALMADA nEgrEIrOS

José de Almada negreiros estreia-se como desenhador humorista em 1911, participando, em 1912 e 1913, nos I e II Salões dos Humoristas Portugueses. Em 1913 realiza os seus primeiros óleos, para a Alfaiataria Cunha, e a sua primeira exposição individual, na Escola Internacional de Lisboa. Em Março de 1914 publica o seu primeiro poema. Em 1915, colabora no primeiro número da revista literária Orpheu e ilustra o número espécimen da revista Contemporânea. neste mesmo ano chega a Portugal o casal robert e Sonia Delaunay, com quem manterá um estreito contacto. Procurando, entre os movimentos de vanguarda europeus, o rumo da sua individualidade artística e literária, digna da «pátria portuguesa do século xx» (tal como a descreve no Ultimatum Futurista às gerações Portuguesas do Século xx, 1917), Almada escreve A Cena do ódio (1915), o Manifesto Anti-Dantas e Litoral (ambos de 1916), A Engomadeira e K4 O Quadrado Azul (publicados em 1917). realiza a sua segunda exposição individual na galeria das Artes de José Pacheco, em Setembro de 1916, longe já do humorismo dos Salões. O rótulo futurista que, em 1917 ano da 1.ª Conferência Futurista e de Portugal Futurista -, assume com Santa rita Pintor, é adoptado provocatoriamente como estandarte da modernidade e da luta contra o passadismo já defunto. Durante os anos vinte publica Pierrot e Arlequim (1924) e começa a escrever nome de guerra (1925); colabora nas revistas Contemporânea, Athena, e Presença, no Diário de Lis-

boa, e no Sempre Fixe; participa na Exposição dos Cinco Independentes (1923), e nos I e II salões de Outono (1925 e 1926); pinta Auto -retrato num grupo e Banhistas, para a Brasileira do Chiado (1925), e um nu Feminino, para o Bristol Club (1926); integra o grupo de artistas «novos» que José Pacheco tenta, em vão, fazer entrar na Sociedade nacional de Belas Artes; e constata que «é viver o que é impossível em Portugal» (Modernismo, 1926). Como escritor, com a publicação de nome de guerra, em 1938, que inaugura a Colecção de «Autores Modernos Portugueses» (dirigida por João gaspar Simões, Edições Europa). Como pintor, premiado em 1942 (Prémio Columbano), em 1946 (Prémio Domingos Sequeira), em 1957 (Fundação Calouste gulbenkian), e em 1966 (Prémio Diário de notícias), e autor das decorações a fresco para as gares Marítimas de Alcântara (1943-1945) e da rocha do Conde de óbidos (1946-1949), e dos retratos de Fernando Pessoa para o restaurante Irmãos Unidos (1954) e para a Fundação Calouste gulbenkian (1964). Enquanto teórico de arte, com os ensaios Ver (1943), Mito – Alegoria – Símbolo (1948), e A Chave Diz: Faltam Duas Tábuas e Meia no Todo da Obra de nuno gonçalves (1950), textos que teorizam a incessante busca do cânone, fundamento da criação universal, que explora na série de quatro óleos abstracto-geométricos apresentados na I Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste gulbenkian (1957), e sintetiza no painel Começar (1968-1969), realizado para a entrada da mesma Fundação. ¶

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nOTA BIOgrÁFICA DE POrFírIO PArDAL MOnTEIrO

Pardal Monteiro nasceu em 1897, em Pero Pinheiro (Sintra). Estudou arquitetura na Escola de Belas Artes de Lisboa, onde se formou em 1919. Trabalhou desde então para a Caixa geral de Depósitos, onde assumiu o cargo de arquiteto-chefe.Em 1920 tornou-se assistente no Instituto Superior Técnico, passando a professor catedrático em 1942. A sua colaboração com o arquiteto Ventura Terra marcou o período inicial da sua vasta obra profissional. A influência da gramática da arte déco está patente numa das principais obras realizadas neste período, a Estação do Cais do Sodré (1925-1928). O projeto para o Instituto Superior Técnico representou uma charneira na sua obra arquitetónica, ligando-o definitivamente ao engenheiro Duarte Pacheco , na altura diretor do Instituto e futuro ministro das Obras Públicas. Iniciou assim o seu período das obras públicas, manifestando interesse pela grande escala e pela monumentalidade, revelados nos projetos para a Igreja de nossa Senhora de Fátima, em Lisboa e para as Estações Marítimas de Alcântara e da rocha do Conde de óbidos, nos quais recebeu a colaboração do pintor português Almada negreiros. O conjunto destes grandes equipamentos marcou decididamente a imagem urbana de Lisboa pela escala e pelo impacto urbano. nos anos 50, percebe-se uma vontade de atualização do vocabulário formal, referenciado ao movimento moderno internacional, numa gramática coerente mas rígida de grande rigor na formulação funcional, como é exemplo o pro-

jeto para o Hotel ritz, em Lisboa. A atividade profissional de Pardal Monteiro ultrapassou o simples exercício do projeto, acumulando cargos públicos como o Conselho Superior de Obras Públicas, o Conselho Superior de Belas -Artes, a Junta nacional da Educação e a Academia nacional de Belas-Artes. Foi ainda presidente da polífera entidade portuguêsa Sociedade nacional dos Arquitetos. recebeu vários prémios, entre os quais se contam os cinco prestigiados prémios Valmor, uma menção honrosa Valmor e o Prémio Municipal. Morreu em 16 de dezembro de 1957. O conjunto destes grandes equipamentos marcou decididamente a imagem urbana de Lisboa pela escala e pelo impacto urbano. nos anos 50, percebe-se uma vontade colossal de atualização do seu vocabulário formal não usual, referenciado ao movimento moderno internacional, numa gramática coerente mas rígida de grande rigor na formulação funcional, como é exemplo o projeto para o Hotel ritz, em Lisboa. A atividade profissional de Pardal Monteiro ultrapassou o simples exercício do projeto, acumulando cargos públicos como o Conselho Superior de Obras Públicas, o Conselho Superior de Belas-Artes, a Junta nacional da Educação e a Academia nacional de Belas-Artes. Foi ainda presidente da polífera entidade portuguêsa Sociedade nacional dos Arquitetos. recebeu vários prémios, entre os quais se contam cinco prémios Valmor, uma menção honrosa Valmor e um Prémio Municipal. Morreu em 16 de dezembro de 1957. ¶

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PatrimÓnio A

preocupação de proteger e estudar o património industrial é uma atitude muito recente. Aliás, todo o património datado de períodos cronológicos mais próximos e com cunho marcadamente funcional e menos prestigiante, tem uma menor aceitação, a não ser que constitua um exemplar arquitectónico excepcional. Como olhar então, no inicio do século xxI, para vestígios materiais que até há tão pouco tempo desempenharam uma função na modelação urbana ou na estrutura económica da sociedade? O movimento de defesa do legado industrial teve a sua génese em Inglaterra, na década de 50, devido à destruição de muitas fábricas, durante a segunda guerra mundial.Em Portugal, as preocupações relativas ao mundo industrial surgiram cerca de 1980. A expressão arqueologia industrial começou a divulgar-se através de exposições ou dos primeiros estudos de carácter científico. Os objectivos e os conceitos operativos tocavam-se, muitas vezes, com os do património industrial.O objecto de estudo do património industrial é múltiplo, considerando-se as várias áreas produtivas e as diversas soluções construtivas. Assim, quando se fala de património industrial, referimo-nos frequentemente aos vestígios deixados pela indústria: têxtil, vidreira, cerâmica, metalúrgica ou de fundição, química, papeleira, alimentar, extractiva - as minas, para além da obra pública, dos transportes, das infra-estruturas comerciais e portuárias, das habitações operárias, etc. Cada universo industrial tem a sua especificidade. Os processos de produção, a maquinaria utilizada (máquinas-ferramentas e máquinas-operadoras) divergem de acordo com a respectiva área de laboração, havendo similitudes nas diversas forças motrizes empregues ao longo do tempo.

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CEnTrAL TEJO | ESTAçãO ELEVATórIA DOS BArBADInHOS | TOrrE DE rEFInArIA DA gALP | ELEVADOr DE S.TA JUSTA

industriaL Os edifícios industriais são os testemunhos mais próximos das comunidades, impondo-se pela utilização de algumas linguagens próprias, difundidas através de diversas soluções construtivas, caso do telhado em shed ou da utilização de diversos materiais de construção, tal como o ferro, o tijolo vermelho e mais tarde o betão. O património industrial é uma área inter e multidisciplinar. O desejável na interpretação de um objecto industrial é a participação de diversos especialistas (historiadores, arquitectos, engenheiros, patrimonialistas, arqueólogos). De uma forma muito sintética, pode então dizer-se que o património industrial trata dos vestígios técnico-industriais, dos equipamentos técnicos, dos edifícios, dos produtos, dos documentos de arquivo e da própria organização industrial.

Os edifícios classificados agora divulgados inserem-se neste vasto universo patrimonial. Abarcam construções fomentadas por políticas régias ou áreas produtivas que se encontravam nos alvores da mecanização - manufacturas - ou sectores industriais que de algum modo se destacaram na salvaguarda do património industrial pelo seu carácter arquitectónico. As estruturas sociais associadas são tipologias construtivas e organizativas que reflectem uma filosofia industrial que não pode ser dissociada de uma análise de conjunto do processo de industrialização. As obras públicas ou infraestruras a seguir apresentadas relacionam-se, de algum modo, com a industrialização dos diversos sectores produtivos ou com a utilização de materiais decorrentes da revolução Industrial. 3.280 c.

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CEnTrAL TEJO | ESTAçãO ELEVATórIA DOS BArBADInHOS | TOrrE DE rEFInArIA DA gALP | ELEVADOr DE S.TA JUSTA

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Central Tejo | Estação Elevatória dos Barbadinhos | Torre de refinaria da Galp | Elevador de S.ta Justa

II.A Património Industrial

central tejo Texto de Ricardo Bento | Fotografia de Fernando Coelho

O conjunto edificado que actualmente se pode observar, foi construído em vários momentos. Durante cerca de três décadas ocorreram sucessivas ampliações, das quais se destaca a projectada pelo engenheiro Fernand Touzet e o grande edifício das caldeiras de alta pressão, já instalado nos anos quarenta. A actual Central Tejo localizou-se junto a uma fábrica de electricidade, de pequenas dimensões, ali instalada desde 1908.

A

construção inicia-se em 1914 e cinco anos mais tarde começa a sua laboração. Os edifícios destacam-se pela sua arquitectura, quer pela forma e volumetria, quer pela utilização plástica dos materiais, como o tijolo vermelho, o ferro e o vidro, relevando uma indiscutível modernidade e grande impacto urbano. Do conjunto destacam-se os grandes janelões de vidro, que conferem uma marca de leveza aos edifícios, sendo simultaneamente importantes do ponto de vista funcional. A Central Tejo insere-se nos modelos técnicos das centrais termo -eléctricas. Tinha como missão fornecer energia eléctrica e gás de iluminação pública à cidade de Lisboa, desempenhando um papel fundamental na produção eléctrica e sua divulgação, até ao surgimento das centrais hidro-eléctricas. Laborou de 1909 até cerca de 1975, ininterruptamente até cerca de 1954.

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BRAÇO A BRAÇO, MÃO A MÃO O equipamento tecnológico foi sendo alterado de acordo com exigências técnicas e de aumento de produtividade. No início da sua laboração contava com dois geradores e seis caldeiras de baixa pressão. Actualmente, pode visionar-se, no interior do edifício, caldeiras de alta pressão da firma Babcok & Wilcox e grupos turbo-alternadores tipo Parsons. Pertence à EDP desde 1976 (aquando da formação da empresa), constituindo um edifício para fins museológicos, denominado de Museu da Electricidade.

A enorme Central Tejo foi uma central termoelétrica, propriedade das Companhias Reunidas de Gás e Eletricidade (CRGE), que abasteceu de eletricidade, toda a cidade e região de Lisboa. Está situada em Belém, Lisboa, e o seu período de atividade produtiva está compreendido entre 1909 e 1972, se bem que a partir de 1951 tenha sido utilizada como central de reserva, produzindo apenas para completar a oferta de energia das centrais hídricas. Em 1975 foi desclassificada, saindo do sistema produtivo. Ao longo do tempo sofreu diversas modificações e ampliações, tendo passado por contínuas fases de construção e alteração dos sistemas produtivos.

O equipamento tecnológico foi sendo alterado de acordo com exigências técnicas e de aumento de produtividade. No início da sua laboração contava com dois geradores e seis caldeiras de baixa pressão. Actualmente, pode visionar-se, no interior do edifício, caldeiras de alta pressão da firma Babcok & Wilcox e grupos turbo-alternadores tipo Parsons. Pertence à EDP desde 1976 (aquando da formação da empresa), constituindo um edifício para fins museológicos, denominado de Museu da Electricidade.

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Retrato fotográfico dos primeiros anos de produção.

Desembarque de materiáis comsumiveis para produção de energia.

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A crge foi constituída em 1891,

com a finalidade de produzir e distribuir gás e eletricidade. Preparação da madeira para as caldeiras.

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Trabalhadores junto da caldeira sua responsável.

Preparação da madeira para as caldeiras.


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CRGE A CRGE foi constituída em 1891 e resultou da fusão entre a Companhia Lisbonense de Iluminação a Gás (1848) e a Companhia Gás de Lisboa (1887), com a finalidade de produzir e distribuir gás e eletricidade e obter contratos de exclusividade de fornecimento de energia à cidade de Lisboa.

A Companhia Gás de Lisboa era detida por capital financeiro de origem belga enquanto a CLIG era dominada por capitais portugueses. Na nova empresa, os capitais belgas dominavam a administração. Além do negócio principal do gás, a empresa detinha a pequena central elétrica da Avenida (1889). Em 1903, com a criação da Central da Boavista (local da futura sede da EDP), a empresa inicia a expansão na área da eletricidade.

Preparação da caldeira a vapor de baixa pressão.

A partir de 1898, com a criação da Sofina, sociedade financeira da iniciativa do grupo AEG-UEG, os interesses belgas são conjugados com os interesses industriais alemães e os interesses dos grupos americanos Thomson-Houston e General Electric. Sob o impulso de Dannie Heineman, que viria a constituir e a liderar o principal conglomerado energético mundial, a partir de 1913 a Sofina passa a dominar o capital da CRGE. Em Portugal, na gestão da CRGE, notabilizou-se nesta primeira fase a figura do eng. António Centeno.

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A primitiva Central Tejo dispunha de quinze pequenas caldeiras Belleville e cinco grupos geradores.

Central Tejo I (Central da Junqueira) A primitiva Central Tejo, popularmente conhecida como Central da Junqueira, cujos edifícios já não existem, foi construída em 1908, iniciou a laboração em 1909 e funcionou até 1921. Foi projetada pelo engenheiro Lucien Neu e a sua construção ficou a cargo da firma Vieillard & Touzet (Fernand Touzet).

A partir de 1921 até 1938, o edifício foi utilizado principalmente como espaço oficinal e de armazém. Em 1938 foi demolido para dar lugar à construção da Central Tejo III (Edifício da Alta Pressão). No apogeu da sua capacidade, a primitiva Central Tejo dispunha de quinze pequenas caldeiras Belleville e cinco grupos geradores que forneciam a rede elétrica da cidade de Lisboa. O edifício apresentava um tipo de arquitetura característica das pequenas centrais elétricas dos finais do século XIX, as então denominadas “fábricas de eletricidade”. A sua planta correspondia a uma nave longitudinal coberta a duas vertentes e três pavilhões contíguos transversalmente do lado ocidental; entre eles, duas esbeltas chaminés dobravam a altura do corpo da fábrica e “vigiavam” o espaço. Nas suas fachadas Norte – Sul podiase apreciar a inscrição: “1909 / Cªs Reunidas Gás e Eletricidade / Estação Elétrica Central Tejo”.

Manequim cénico da operação de uma caldeira de alta pressão - Museu Eletricidade, EDP.

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Central Tejo | Estação Elevatória dos Barbadinhos | Torre de refinaria da Galp | Elevador de S.ta Justa Manequim cénico da operação de uma caldeira de alta pressão - Museu Eletricidade, EDP.

Esta primitiva Central Tejo foi programada para laborar durante um período de seis anos (1909-1914), até as CRGE conseguirem os meios necessários para a construção de um central de maiores dimensões e capacidade. Contudo, devido a dificuldades de financiamento e à eclosão da Primeira Guerra Mundial nesse último ano, levou a que esta fase primitiva da Central Tejo se prolongasse e continuasse operativa até 1921.

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Promenor de uma caldeira a vapor de baixa pressão

Manequim cénico da operação de uma caldeira de alta pressão - Museu Eletricidade, EDP.

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Central Tejo II (Baixa Pressão) Em 1914, a 10 metros de distância da Central Tejo I, foram iniciadas as obras de novos edifícios que viriam a ser ampliados várias vezes. O projeto incluía diversos corpos da fábrica: sala para seis caldeiras, uma sala de máquinas com capacidade para dois turboalternadores alemães AEG de 8MW de potência; e um edifício de comando e subestação de menor dimensão. Pouco tempo depois do início das obras, estalou a Primeira Grande Guerra, provocando atrasos em prazos estabelecidos e problemas na receção dos turboalternadores encomendados à Alemanha, que permaneceram retidos até ao fim do conflito.

Só em 1921 o plano estaria concluído. Mas em 1922, em função do aumento dos consumos, foi de novo indispensável efetuar novos e importantes trabalhos na Central para aumentar a sala das caldeiras de baixa pressão. O programa elaborado pelas CRGE consistia na ampliação de uma nave industrial que alojaria três novas caldeiras de baixa pressão e a aquisição de um novo grupo gerador. Mais uma vez, no fim dos trabalhos em 1928 e pelas mesmas razões, decidiu-se optar por nova ampliação. Assim, no final dos anos trinta, existiam onze caldeiras em funcionamento e cinco turbo-grupos alternadores. Dez caldeiras Babcock & Wilcox (tecnologia britânica) e uma da marca Humboldt (origem alemã). A sala de máquinas alojava cinco grupos geradores de várias potências e diversas marcas: Escher & Wiss, AEG, Stal-Asea y Escher Wiss/Thompson. Menómetro da uma caldeira a vapor de baixa pressão

Ao longo deste período de 15 anos, também foram construídos os canais e dois sifões nas novas docas do circuito de refrigeração, o qual conduzia a água desde o rio até ao interior da Central.

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Edifício das caldeiras de alta pressão, o corpo de maior envergadura da central. Tubagem das caldeiras de alta pressão - Museu Eletricidade, EDP.

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Central Tejo III (Alta Pressão) Finalmente, em 1941 teve lugar a construção do edifício das caldeiras de alta pressão, o corpo de maior envergadura da central, o qual foi ampliado em 1951 com a inclusão de mais uma caldeira.

Tubagem das caldeiras de alta pressão - Museu Eletricidade, EDP.

Menómetro da uma caldeira a vapor de baixa pressão Menómetro da uma caldeira a vapor de baixa pressão

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Central Tejo | Estação Elevatória dos Barbadinhos | Torre de refinaria da Galp | Elevador de S.ta Justa

II.b Património Industrial Estação Elevatória dos

Barbadinhos Texto de Ana fidalgo | Fotografia de Fernando Coelho

A antiga Estação Elevatória a Vapor dos Barbadinhos destinada à elevação das águas provenientes do rio Alviela, para o reservatório da Verónica e para a Cisterna do Monte, foi inaugurada a 3 de Outubro de 1880, mantendo-se em funcionamento até 1928, data em que, com a construção da nova estação eléctrica, foi desactivada e, em 1950, remodelada para acolher a sede do Museu da Água.

H

ouve a preocupação de preservar as máquinas a vapor e as bombas, peças cuja beleza e estado de conservação justificavam a sua conservação como parte principal do património do Museu, marco importante da arqueologia industrial. Encontra-se classificada como Conjunto de Interesse Público. Destinada à elevação das águas provenientes do rio Alviela, para o reservatório da Verónica e para a Cisterna do Monte, a Estação Elevatória a Vapor dos Barbadinhos, inaugurada a 3 de Outubro de 1880, permitiu aumentar consideravelmente o volume de água fornecido à cidade de Lisboa. O seu principal equipamento, constituído por quatro máquinas a vapor construídas nas Oficinas de E. W. Windsor de Ruão, funcionaram, ininterruptamente, até 1928. As máquinas cujo vapor era produzido por cinco caldeiras, são todas do mesmo tipo: êmbolos verticais de dois cilindros cada, com camisa de vapor – sistema Woolf – de expansão variável e de condensação.

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Vista geral do interior, mostrando a maquinaria, os materiais que se mantêm com osanos, e a janela tão caracteristica do edifício.

EPAL A Estação Elevatória dos Barbadinhos faz parte do nucleo museológico da EPAL e foi classificado como Conjunto de Interesse Público (CIP) em 2010.

Desenvolve actualmente actividade cultural, quer sobre a sua vertente patrimonial que com eventos de arte nas suas duas salas de exposição: a Sala de Exposição Permanente e a de Exposições Temporárias.

A estação elevatória de águas dos Barbadinhos foi inaugurada a 3 de Outubro de 1880, e visava resolver os problemas de abastecimento de água a esta zona oriental da cidade, pelo intercâmbio que se passaria a estabelecer entre o rio Alviela e os reservatórios da Verónica e da Penha de França (Cisterna do Monte). A sua entrada em funcionamento permitiu aumentar muito o caudal de água fornecido a Lisboa. Na estação laboravam quatro máquinas a vapor importadas das Oficinas de E. W. Windsor, de Ruão, que elevavam a água do Alviela e a conduziam para os referidos reservatórios. O vapor que alimentava as máquinas cujo vapor era produzido por cinco caldeiras com êmbolos verticais de dois cilindros cada, e camisas de vapor (sistema Woolf ) de expansão variável e de condensação. A estação funcionou de forma ininterrupta até 1928. Actualmente constitui um dos núcleos do Museu da Água, que aqui mantém duas salas de exposições.

O vapor que alimentava as máquinas era produzido por cinco caldeiras com êmbolos verticais de dois cilindros cada.

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Central Tejo | Estação Elevatória dos Barbadinhos | Torre de refinaria da Galp | Elevador de S.ta Justa

Vista geral do interior, mostrando a maquinaria, os materiais que se mantêm com osanos, e a janela tão caracteristica do edifício.

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Vista geral do interior, mostrando a maquinaria, os materiais que se mantêm com osanos, e a janela tão caracteristica do edifício.

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Central Tejo | Estação Elevatória dos Barbadinhos | Torre de refinaria da Galp | Elevador de S.ta Justa Mecanismo de pompreamento do fluxo de àgua.

CONSTRUÇÃO Em 1919, nas sessões de 30 de Abril e 2 de Maio da Assembleia Geral da Companhia das Águas de Lisboa, foi aprovado um conjunto de alterações ao Regulamento Administrativo em vigor desde 1908, o qual viria a ser reformado na sua totalidade, com a inclusão das referidas alterações, por uma comissão nomeada na Assembleia de 30 de Abril do ano seguinte. De entre as alterações introduzidas, destaca-se a constante do Artigo 134º., referente à 3ª. Divisão da Repartição Técnica, designada por Trabalhos de desenho, Arquivo, Biblioteca e Museu: “A esta divisão compete em geral a coordenação de todos os elementos necessários para a preparação de projectos e realização de obras e em especial: [...] 6º. Ter a seu cargo a organização e a conservação do Museu em que estejam expostos os diversos tipos de canalizações, aparelhos acessórios, contadores e mais material usado, e bem assim um mostruário das avarias ou alterações no mesmo encontradas.” Em 1950 a Companhia, necessitando de resolver o problema das instalações dos Laboratórios, optou por demolir as caldeiras da antiga Estação Elevatória a Vapor dos Barbadinhos, elementos que, tal como a chaminé também então demolida, se apresentariam num estado avançado de degradação. A Estação havia sido desativada no final da década de 20, após a entrada em funcionamento, em 1928, da nova estação elétrica. Na remodelação, em que foi construído um 1º andar nos corpos sul e central do edifício, houve a preocupação de preservar as máquinas a vapor e as bombas, peças cuja beleza e estado de conservação justificavam a sua conservação como parte principal do património do Museu. Para a antiga sala das caldeiras, no piso térreo, veio a coleção de peças Houve a preocupação de preservar as máquinas a vapor e as bombas, peças cuja beleza e estado de conservação justificavam a sua conservação como parte principal do património do Museu, marco importante da arqueologia industrial. Encontra-se classificada como Conjunto de Interesse Público.

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Destinada à elevação das águas provenientes do rio Alviela, para o reservatório da Verónica e para a Cisterna do Monte, a Estação Elevatória a Vapor dos Barbadinhos, inaugurada a 3 de Outubro de 1880, permitiu aumentar consideravelmente o volume de água fornecido à cidade de Lisboa. O seu principal equipamento, constituído por quatro máquinas a vapor construídas nas Oficinas de E. W. Windsor de Ruão, funcionaram, ininterruptamente, até 1928. As máquinas cujo vapor era produzido por cinco caldeiras, são todas do mesmo tipo: êmbolos verticais de dois cilindros cada, com camisa de vapor – sistema Woolf – de expansão variável e de condensação.

A Estação Elevatória dos Barbadinhos faz parte do nucleo museológico da EPAL e foi classificado como Conjunto de Interesse Público (CIP) em 2010. Desenvolve actualmente actividade cultural, quer sobre a sua vertente patrimonial que com eventos de arte nas suas duas salas de exposição: a Sala de Exposição Permanente e a de Exposições Temporárias.

Promenor da máquina de pressão.

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Detalhe do mecanismo de pompreamento do fluxo de àgua.

Houve a preocupação de preservar as máquinas a vapor e as bombas, peças cuja beleza e estado de conservação justificavam a sua conservação. Heritage | número 1 | Junho de 2014 |

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INAUGURAÇÃO A estação elevatória de águas dos Barbadinhos foi inaugurada a 3 de Outubro de 1880, e visava resolver os problemas de abastecimento de água a esta zona oriental da cidade, pelo intercâmbio que se passaria a estabelecer entre o rio Alviela e os reservatórios da Verónica e da Penha de França (Cisterna do Monte). A sua entrada em funcionamento permitiu aumentar muito o caudal de água fornecido a Lisboa. Na estação laboravam quatro máquinas a vapor importadas das Oficinas de E. W. Windsor, de Ruão, que elevavam a água do Alviela e a conduziam para os referidos reservatórios. O vapor que alimentava as máquinas cujo vapor era produzido por cinco caldeiras com êmbolos verticais de dois cilindros cada, e camisas de vapor (sistema Woolf ) de expansão variável e de condensação. A estação funcionou de forma ininterrupta até 1928. Actualmente constitui um dos núcleos do Museu da Água, que aqui mantém duas salas de exposições.

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Central Tejo | Estação Elevatória dos Barbadinhos | Torre de refinaria da Galp | Elevador de S.ta Justa

Centro de destilágem da àgua.

Promenor do depósito do centro de destilágem da àgua.

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Complexo de tubégem da àgua.

ARQUEOLOGIA INDUSTRIAL Em 1950 a Companhia, necessitando de resolver o problema das instalações dos Laboratórios, optou por demolir as caldeiras da antiga Estação Elevatória a Vapor dos Barbadinhos, elementos que, tal como a chaminé também então demolida, se apresentariam num estado avançado de degradação. A Estação havia sido desativada no final da década de 20, após a entrada em funcionamento, em 1928, da nova estação elétrica. Na remodelação, em que foi construído um 1º andar nos corpos sul e central do edifício, houve a preocupação de preservar as máquinas a vapor e as bombas, peças cuja beleza e estado de conservação justificavam a sua conservação como parte principal do património do Museu. Para a antiga sala das caldeiras, no piso térreo, veio a coleção de peças houve a preocupação de preservar as máquinas a vapor e as bombas, peças cuja beleza e estado de conservação justificavam a sua conservação como parte principal do património do Museu, marco importante da arqueologia industrial. Encontra-se classificada como Conjunto de Interesse Público.

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Central Tejo | Estação Elevatória dos Barbadinhos | Torre de refinaria da Galp | Elevador de S.ta Justa

Conservação da parte principal do património do Museu. Destinada à elevação das águas provenientes do rio Alviela, para o reservatório da Verónica e para a Cisterna do Monte, a Estação Elevatória a Vapor dos Barbadinhos, inaugurada a 3 de Outubro de 1880, permitiu aumentar consideravelmente o volume de água fornecido à cidade de Lisboa. O seu principal equipamento, constituído por quatro máquinas a vapor construídas nas Oficinas de E. W. Windsor de Ruão, funcionaram, ininterruptamente, até 1928. As máquinas cujo vapor era produzido por cinco caldeiras, são todas do mesmo tipo: êmbolos verticais de dois cilindros cada, com camisa de vapor – sistema Woolf – de expansão variável e de condensação.

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torre de reFinaria da gaLP

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Central Tejo | Estação Elevatória dos Barbadinhos | Torre de refinaria da Galp | Elevador de S.ta Justa

II.c Património Industrial torre de

refinaria da Galp Texto de Wilson barbeiro | Fotografia de Fernando Coelho

Um dos pontos de interesse desta zona é a Torre da refinaria (ou Torre Galp), enorme construção que testemunha a época em que esta parte da cidade era ocupada por indústria pesada. As rampas circulares permitem subir até ao segundo “andar” e apreciar o panorama envolvente. Esta torre é apreciada pelos andorinhões-pálidos, que provavelmente nidificam no local e podem ser vistos a muito pequena distância.

E

sta torre é apreciada pelos andorinhões-pálidos, que provavelmente nidificam no local e podem ser vistos a muito pequena distância. A Torre Vasco da Gama pode ser vislumbrada no Parque das Nações na capital portuguesa, Lisboa, junto ao Rio Tejo. Esta é uma torre com cerca de cento e cinquenta metros de altura e a sua edificação data da bem conhecida exposição mundial de 1998, a EXPO 98. A responsabilidade do projeto desta construção cabe ao arquiteto Regino Cruz, sendo esta considerado presentemente como o mais alto edifício de Portugal.

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IMPONÊNCIA Enquanto decorria a citada exposição exibia-se um belíssimo restaurante mesmo no seu topo com uma vista panorâmica sobre o rio que ali passa e sobre a cidade que a alberga. O projeto deste restaurante foi da responsabilidade do arquiteto Nuno Leónidas. Durante três anos após a exposição terminar o restaurante ainda se manteve aberto, passando desde então a estar fechada ao público.

Com cento e oitenta e seis quartos distribuídos por vinte dois pisos, este é um hotel destinado a turismo de luxo não sendo por isso acessível a todos os visitantes da cidade. Fazem parte desta estrutura dois restaurantes sendo um deles panorâmico e está situado no topo do edifício, um spa e centro de congressos.

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Central Tejo | Estação Elevatória dos Barbadinhos | Torre de refinaria da Galp | Elevador de S.ta Justa

Considerado presentemente como o mais alto edifício de Portugal

Tanque de armazenamento após a estração.

Em Novembro de 2012 a Torre Vasco da Gama passa a ser um hotel considerado de luxo e que faz parte da cadeia Sana. Este hotel estava já projetado e a sua construção foi iniciada em 2008. Batizado com o nome de Myriad apresenta um toque do Dubai, destina-se a ser um ícone da hotelaria lisboeta e é apelidado de majestoso. Não há sombra para duvidas quanto à sua privilegiada e soberba localização que é banhada pelo rio Tejo como já foi referido. Com cento e oitenta e seis quartos distribuídos por vinte dois pisos, este é um hotel destinado a turismo de luxo não sendo por isso acessível a todos os visitantes da cidade. Fazem parte desta estrutura dois restaurantes sendo um deles panorâmico e está situado no topo do edifício, um spa e centro de congressos.

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Promenor da tubagem com o rio Tejo no horizonte.

LEGACIA Enquanto decorria a citada exposição exibia-se um belíssimo restaurante mesmo no seu topo com uma vista panorâmica sobre o rio que ali passa e sobre a cidade que a alberga. O projeto deste restaurante foi da responsabilidade do arquiteto Nuno Leónidas. Durante três anos após a exposição terminar o restaurante ainda se manteve aberto, passando desde então a estar fechada ao público.

Em Novembro de 2012 a Torre Vasco da Gama passa a ser um hotel considerado de luxo e que faz parte da cadeia Sana. Este hotel estava já projetado e a sua construção foi iniciada em 2008. Batizado com o nome de Myriad apresenta um toque do Dubai, destina-se a ser um ícone da hotelaria lisboeta e é apelidado de majestoso. Não há sombra para duvidas quanto à sua privilegiada e soberba localização que é banhada pelo rio Tejo como já foi referido. Com cento e oitenta e seis quartos distribuídos por vinte dois pisos, este é um hotel destinado a turismo de luxo não sendo por isso acessível a todos os visitantes da cidade. Fazem parte desta estrutura dois restaurantes sendo um deles panorâmico e está situado no topo do edifício, um spa e centro de congressos. A paredes meias com a torre encontra-se o elevador panorâmico que é sem duvida uma atração para alguns daqueles que se deslocam a esta zona, oferecendo-lhes desta forma a oportunidade de observar o Tejo, o Parque das Nações e as sua paisagem envolvente.

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Central Tejo | Estação Elevatória dos Barbadinhos | Torre de refinaria da Galp | Elevador de S.ta Justa

Detalhe da escadaria lateral da torre.

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Vista geral da torre.

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Central Tejo | Estação Elevatória dos Barbadinhos | Torre de refinaria da Galp | Elevador de S.ta Justa

EXPO Esta imponente torre é apreciada pelos andorinhões-pálidos, que provavelmente nidificam no local e podem ser vistos a muito pequena distância. A Torre Vasco da Gama pode ser vislumbrada no Parque das Nações na capital portuguesa, Lisboa, junto ao Rio Tejo. Esta é uma torre com cerca de cento e cinquenta metros de altura e a sua edificação data da bem conhecida exposição mundial de 1998, a EXPO 98. A responsabilidade do projeto desta construção cabe ao arquiteto Regino Cruz, sendo esta considerado presentemente como o mais alto edifício de Portugal.

A paredes meias com a torre encontra-se o elevador panorâmico que é sem duvida uma atração para alguns daqueles que se deslocam a esta zona, oferecendo-lhes desta forma a oportunidade de observar o Tejo, o Parque das Nações e as sua paisagem envolvente.

Esta magnifica e imponedte torre é apreciada pelos andorinhões-pálidos, que provavelmente nidificam no local e podem ser vistos a muito pequena distância. A Torre Vasco da Gama pode ser vislumbrada no Parque das Nações na capital portuguesa, Lisboa, junto ao Rio Tejo. Esta é uma torre com cerca de cento e cinquenta metros de altura e a sua edificação data da bem conhecida exposição mundial de 1998, a EXPO 98. A responsabilidade do projeto desta construção cabe ao arquiteto Regino Cruz, sendo esta considerado presentemente como o mais alto edifício de Portugal.

Esta magnifica e imponedte torre é apreciada pelos andorinhões-pálidos.

Detalhe do contra-forte de sustentação lateral da torre feito de aço.

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Detalhe da tubagem de extração com maior envergadura.

FORÇA EM BRUTO Enquanto decorria a citada exposição exibia-se um belíssimo restaurante mesmo no seu topo com uma vista panorâmica sobre o rio que ali passa e sobre a cidade que a alberga. O projeto deste restaurante foi da responsabilidade do arquiteto Nuno Leónidas. Durante três anos após a exposição terminar o restaurante ainda se manteve aberto, passando desde então a estar fechada ao público.

Em Novembro de 2012 a Torre Vasco da Gama passa a ser um hotel considerado de luxo e que faz parte da cadeia Sana. Este hotel estava já projetado e a sua construção foi iniciada em 2008. Batizado com o nome de Myriad apresenta um toque do Dubai, destina-se a ser um ícone da hotelaria lisboeta e é apelidado de majestoso. Não há sombra para duvidas quanto à sua privilegiada e soberba localização que é banhada pelo rio Tejo como já foi referido.

Com cento e oitenta e seis quartos distribuídos por vinte dois pisos, este é um hotel destinado a turismo de luxo não sendo por isso acessível a todos os visitantes da cidade. Fazem parte desta estrutura dois restaurantes sendo um deles panorâmico e está situado no topo do edifício, um spa e centro de congressos. A paredes meias com a torre encontra-se o elevador panorâmico que é sem duvida uma atração para alguns daqueles que se deslocam a esta zona, oferecendo-lhes desta forma a oportunidade de observar o Tejo, o Parque das Nações e as sua paisagem envolvente.

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Central Tejo | Estação Elevatória dos Barbadinhos | Torre de refinaria da Galp | Elevador de S.ta Justa Promenor da infrastrutura.

Esta torre é apreciada pelos andorinhões-pálidos, que provavelmente nidificam no local e podem ser vistos a muito pequena distância. A Torre Vasco da Gama pode ser vislumbrada no Parque das Nações na capital portuguesa, Lisboa, junto ao Rio Tejo. Esta é uma torre com cerca de cento e cinquenta metros de altura e a sua edificação data da bem conhecida exposição mundial de 1998, a EXPO 98. A responsabilidade do projeto desta construção cabe ao arquiteto Regino Cruz, sendo esta considerado presentemente como o mais alto edifício de Portugal.

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Promenor da infrastrutura.

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Central Tejo | Estação Elevatória dos Barbadinhos | Torre de refinaria da Galp | Elevador de S.ta Justa

Cisterna principal e sistema de alimentação proviniênte de toda a torre.

COMPLEXIDADE ESTRUTURAL Citada exposição exibia-se um belíssimo restaurante mesmo no seu topo com uma vista panorâmica sobre o rio que ali passa e sobre a cidade que a alberga. O projeto deste restaurante foi da responsabilidade do arquiteto Nuno Leónidas. Durante três anos após a exposição terminar o restaurante ainda se manteve aberto, passando desde então a estar fechada ao público.

Em Novembro de 2012 a Torre Vasco da Gama passa a ser um hotel considerado de luxo e que faz parte da cadeia Sana. Este hotel estava já projetado e a sua construção foi iniciada em 2008. Batizado com o nome de Myriad apresenta um toque do Dubai, destina-se a ser um ícone da hotelaria lisboeta e é apelidado de majestoso. Não há sombra para duvidas quanto à sua privilegiada e soberba localização que é banhada pelo rio Tejo como já foi referido.

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CEnTrAL TEJO | ESTAçãO ELEVATórIA DOS BArBADInHOS | TOrrE DE rEFInArIA DA gALP | ELEVADOr DE S.TA JUSTA

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ta Central Tejo | Estação Elevatória dos Barbadinhos | Torre de refinaria da Galp | Elevador de S. S.ta Justa Justa

II.d Património Industrial elevador de

S.ta justa

Texto de João Oliveira | Fotografia de Fernando Coelho

O Elevador de Santa Justa foi inaugurado a 10 de julho de 1902 e é o único elevador vertical em Lisboa que presta um serviço público. Trata-se de um trabalho do arquiteto Raoul Mesnier du Ponsard, com uma estrutura de ferro fundido, enriquecido com trabalhos em filigrana Em 2002 foi classificado como Monumento Nacional.

D

o topo do elevador, inaugurado em 1902, descobre-se toda a Baixa lisboeta e o Castelo de São Jorge. Situado em pleno coração pombalino da cidade de Lisboa, o Elevador de Santa Justa é um verdadeiro ex-líbris da capital portuguesa, tornando-se visita obrigatória para qualquer turista que se desloque a Portugal. Com o elevador vertical por trás, ou mesmo em plena viagem, já foram experimentados todos os ângulos possíveis de fotografia. Milhões de vezes fotografado, o fotogénico edifício constitui uma irresistível atracção. E não é caso para menos: o elevador de Santa Justa fornece a qualquer visitante uma das vistas mais bonitas da cidade de Lisboa, o que não é um facto surpreendente, se pensarmos que o elevador tem 45 metros de altura.

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PARA ALÉM DA ALTITUDE FÍSICA O Elevador de Santa Justa é um transporte público da era da arquitectura do ferro, subindo da Rua de Santa Justa, na Baixa, ao Largo do Carmo, sendo actualmente o único ascensor vertical na cidade, desde que, em 1915, desapareceu o da Biblioteca. A sua construção foi licenciada em 6 de Julho de 1899, com o projecto pioneiro a cargo do engenheiro francês R. Mesnier de Ponsard, ficando a obra a cargo da empresa Elevadores do Carmo.

O vistoso elevador de Santa Justa tem uma estrutura em ferro construída por viaduto metálico de 25 metros, apoiado ao meio num pilar de betão armado e, num dos extremos, numa torre metálica de 45 metros de altura. É fácil, assim, perceber a emoção que se sente durante os escassos minutos da lenta viagem, rumo aos céus. Mas quando se sai, quando as portas se abrem e o vento fresco acaricia a cara, é um mar de beleza que temos pela frente.

É fácil, assim, perceber a emoção que se sente durante os escassos minutos da lenta viagem, rumo aos céus.

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Entrada da escadaria e elevador. Ferro trabalhado ao gosto da arquitétura e ornamentação gótica.

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Descobre-se toda a baixa lisboeta

Detalhe do ferro trabalhado com Lisboa no horizonte.

UMA QUESTÃO DE PERCEPÇÃO Se preferir, em vez de seguir em frente, directamente para o Largo do Carmo (o Convento está em obras, não pode ser visitado, mas o Largo, só por si, é magnífico: tem uma igreja, tascas, esplanadas, um chafariz e o quartel do Carmo, protagonista da Revolução dos Cravos de 1974, para além de dar a acesso ao Chiado), pode subir até ao topo do elevador, onde poderá ver Lisboa de uma perspectiva única, descansar na belíssima esplanada, apanhar um pouco de sol e sentir a cidade a vibrar lá em baixo. Vale a pena a viagem, o passeio e a estada, lá em cima, perto do céu. O Elevador de Santa Justa foi inaugurado em 10 de Julho de 1902 e pertence à empresa Carris.

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e o Castelo de São Jorge.

Do topo do elevador, inaugurado em 1902, descobre-se toda a Baixa lisboeta e o Castelo de São Jorge. Situado em pleno coração pombalino da cidade de Lisboa, o Elevador de Santa Justa é um verdadeiro ex-líbris da capital portuguesa, tornando-se visita obrigatória para qualquer turista que se desloque a Portugal.

Com o elevador vertical por trás, ou mesmo em plena viagem, já foram experimentados todos os ângulos possíveis de fotografia. Milhões de vezes fotografado, o fotogénico edifício constitui uma irresistível atracção. E não é caso para menos: o elevador de Santa Justa fornece a qualquer visitante uma das vistas mais bonitas da cidade de Lisboa, o que não é um facto surpreendente, se pensarmos que o elevador tem 45 metros de altura.

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Vista do interior da escadaria intrísseca.

O ESQUELETO DO COLLOSO O Elevador de Santa Justa é um transporte público da era da arquitectura do ferro, subindo da Rua de Santa Justa, na Baixa, ao Largo do Carmo, sendo actualmente o único ascensor vertical na cidade, desde que, em 1915, desapareceu o da Biblioteca. A sua construção foi licenciada em 6 de Julho de 1899, com o projecto pioneiro a cargo do engenheiro francês R. Mesnier de Ponsard, ficando a obra a cargo da empresa Elevadores do Carmo.

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Tem uma estrutura em ferro construída por um viaduto metálico de 25 metros, apoiado ao meio num pilar de betão armado e, num dos extremos, numa torre metálica de 45 metros de altura.

O vistoso elevador de Santa Justa tem uma estrutura em ferro construída por viaduto metálico de 25 metros, apoiado ao meio num pilar de betão armado e, num dos extremos, numa torre metálica de 45 metros de altura. É fácil, assim, perceber a emoção que se sente durante os escassos minutos da lenta viagem, rumo aos céus. Mas quando se sai, quando as portas se abrem e o vento fresco acaricia a cara, é um mar de beleza que temos pela frente.

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O elevador de Santa Justa fornece a qualquer visitante uma das vistas mais bonitas da cidade de Lisboa.

IMPERADORES EFÊMEROS Se preferir, em vez de seguir em frente, directamente para o Largo do Carmo (o Convento está em obras, não pode ser visitado, mas o Largo, só por si, é magnífico: tem uma igreja, tascas, esplanadas, um chafariz e o quartel do Carmo, protagonista da Revolução dos Cravos de 1974, para além de dar a acesso ao Chiado), pode subir até ao topo do elevador, onde poderá ver Lisboa de uma perspectiva única, descansar na belíssima esplanada, apanhar um pouco de sol e sentir a cidade a vibrar lá em baixo. Vale a pena a viagem, o passeio e a estada, lá em cima, perto do céu. O Elevador de Santa Justa foi inaugurado em 10 de Julho de 1902 e pertence à empresa Carris.

Do topo do elevador, inaugurado em 1902, descobre-se toda a Baixa lisboeta e o Castelo de São Jorge. Situado em pleno coração pombalino da cidade de Lisboa, o Elevador de Santa Justa é um verdadeiro ex-líbris da capital portuguesa, tornando-se visita obrigatória para qualquer turista que se desloque a Portugal. Do topo do elevador, inaugurado em 1902, descobre-se toda a Baixa lisboeta e o Castelo de São Jorge. Situado em pleno coração pombalino da cidade de Lisboa, o Elevador de Santa Justa é um verdadeiro ex-líbris da capital portuguesa, tornando-se visita obrigatória para qualquer turista que se desloque a Portugal.

Com o elevador vertical por trás, ou mesmo em plena viagem, já foram experimentados todos os ângulos possíveis de fotografia. Milhões de vezes fotografado, o fotogénico edifício constitui uma irresistível atracção. E não é caso para menos: o elevador de Santa Justa fornece a qualquer visitante uma das vistas mais bonitas da cidade de Lisboa, o que não é um facto surpreendente, se pensarmos que o elevador tem 45 metros de altura.

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Vista do topo da escadaria/elevador.

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Vista para o Tejo.

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ICARUS A BILHETE O Elevador de Santa Justa é um transporte público da era da arquitectura do ferro, subindo da Rua de Santa Justa, na Baixa, ao Largo do Carmo, sendo actualmente o único ascensor vertical na cidade, desde que, em 1915, desapareceu o da Biblioteca. A sua construção foi licenciada em 6 de Julho de 1899, com o projecto pioneiro a cargo do engenheiro francês R. Mesnier de Ponsard, ficando a obra a cargo da empresa Elevadores do Carmo. O vistoso elevador de Santa Justa tem uma estrutura em ferro construída por

viaduto metálico de 25 metros, apoiado ao meio num pilar de betão armado e, num dos extremos, numa torre metálica de 45 metros de altura. É fácil, assim, perceber a emoção que se sente durante os escassos minutos da lenta viagem, rumo aos céus. Mas quando se sai, quando as portas se abrem e o vento fresco acaricia a cara, é um mar de beleza que temos pela frente.

Se preferir, em vez de seguir em frente, directamente para o Largo do Carmo (o Convento está em obras, não pode ser visitado, mas o Largo, só por si, é magnífico: tem uma igreja, tascas, esplanadas, um chafariz e o quartel do Carmo, protagonista da Revolução dos Cravos de 1974, para além de dar a acesso ao Chiado), pode subir até ao topo do elevador, onde poderá ver Lisboa de uma perspectiva única, descansar na belíssima esplanada, apanhar um pouco de sol e sentir a cidade a vibrar lá em baixo. Vale a pena a viagem, o passeio e a estada, lá em cima, perto do céu. O Elevador de Santa Justa foi inaugurado em 10 de Julho de 1902 e pertence à empresa Carris.

Vale a pena a viagem, o passeio e a estada, lá em cima, perto do céu.

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Crystal Ship

The crystal ship is being filled, A thousand girls, a thousand thrills, A million ways to spend your time, When we get back, I'll drop a line. The Doors

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DISPONIVÉL EM VERSÃO IMPRESSA E DIGITAL.

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III Da Patriarcal à Capela Real de

São João Baptista Regresso ao período áureo do século XVIII em São Roque Texto de sérgio Martins | Fotografia de Fernando Coelho

Quiseram todos os santos, talvez os mesmos que poucos anos depois veriam a cidade de rastos, que a jóia da coroa chegasse sã e salva a Lisboa. Nem sinal de naufrágio durante essa viagem a bordo de três naus. A ironia foi outra. D. João V, que reinou entre 1707 e a sua morte, em 1750, não chegou a testemunhar a inauguração, no ano seguinte, desta “Encomenda prodigiosa” edificada por sua iniciativa.

T

ransportada de Itália, montada peça por peça segundo uma intricada operação logística, a sumptuosa Capela de S. João Baptista mostrava-se por fim na capital, palco privilegiado da intervenção do Magnânimo. Um prodígio da arte, ao nível do Rei-Sol português, e um instrumento político tão valioso como os materiais convocados para a obra. O projecto mostrava às potências europeias com acreditação diplomática no coração da Europa do século xviii, que Portugal dispunha de capacidade financeira para proteger o seu império.

“O rei falava de igual para igual com Roma. Este momento marca uma transição sem paralelo. Criámos uma estética portuguesa com uma variante portuguesa da grande estética global do barroco cosmopolita. É uma situação de um Portugal na Europa e não de um Portugal além-mar, como nos Descobrimentos”, explica António Filipe Pimentel, perito na era joanina, comissário científico desta mostra, a par de Teresa Vale, e director do Museu Nacional de Arte Antiga, que aloja o pólo da exposição, que se estende agora à Igreja Museu de São Roque. Ambas se prolongam até 29 de Setembro, apresentando no seu total mais de 300 peças.

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Vista geral do altar renascentista ao gosto da época Dórica.

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Quiseram todos os santos,

talvez os mesmos que poucos anos depois viram a cidade de ra

Panorâmica do fresco do tecto na nave central da igreja.

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astos, que a jóia da coroa chegasse sã e salva

a Lisboa. 101

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a Patriarcal de Lisboa era uma espécie de réplica em miniatura do vaticano.

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Orgão muito badass, os Ghost B.C. deviam arranjar um destes.

“A Patriarcal de Lisboa era uma espécie de réplica em miniatura do Vaticano, engrandecida com encomendas a artistas estrangeiros. Com a sua extensão, a Capela de S. João Baptista, formava um conjunto único, situado na Igreja de S. Roque, pólo do roteiro eclesiástico da corte”, recorda Teresa Morna, directora da Igreja-Museu de São Roque, onde continua a morar a sobrevivente à ira da Terra. Se a capela se manteve de pé após o grande terramoto de 1755, de menos tolerância da natureza gozou a Patriarcal, arrasada pelo cataclismo, e evocada desde Maio no pólo do Museu Nacional de Arte Antiga, no âmbito desta iniciativa conjunta, que revela um processo de afirmação nacional.

“A capela não é um mero produto de importação a Roma, expressa muito o que era a vontade portuguesa. Na fase do projecto de arquitectura, o arquitecto ao serviço do rei chega a recusar os projectos enviados pelos melhores arquitectos italianos da altura. O rei queria uma arte que expressasse poder.” Encomendada a Luigi Vanvitelli e a Nicola Salvi, reputado arquitecto da Fonte de Trevi, e a vários artistas próximos da cúria papal, a capela, construída entre 1742 e 1747, e a Patriarcal de Lisboa, formavam então um conjunto edificado sob a direcção de João Frederico Ludovice, arquitecto e ourives de D. João V. A obra está na génese do próprio Museu de S. Roque, construído em 1905 para albergar o tesouro que a acompanha e que inclui uma colecção de paramentos única no mundo, peças de ourivesaria da autoria dos melhores mestres do período barroco, bem como peças de culto e ornamentais.

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Foi erguida na Igreja de S. roque, espaço contíguo ao da antiga Casa Professa da Companhia de Jesus, que a Santa Casa recebeu por doação régia, em 1768. Em 2006 encetou-se o seu projecto de reabilitação, beneficiando de um processo de restauro com requisitos especiais. “O rei quis que fosse feita com os materiais mais valiosos que fosse possível”, frisa Teresa Morna. Se quiser ficar a par das despesas exactas, os detalhes da encomenda estão bem documentados nos fundos da Biblioteca da Ajuda. Para uma tradução mais imediata dos gastos, digase que há um frontal de altar equivalente ao valor de uma quinta que o rei possuía em Belém, e falamos apenas de uma peça. A síntese deste debate é apenas um dos momentos altos. A exposição “A Encomenda Prodigiosa - da Patriarcal à Capela real de S. João Baptista” reúne ainda em S. roque centena e meia de peças do período barroco da arte italiana. Vindas de todo o país e de museus internacionais, algumas das obras vão poder ser vistas pela primeira vez em Portugal. Entre os destaques da mostra contam-se os desenhos do “Álbum Weale” da Biblioteca da Escola Superior de Belas Artes de Paris, com reproduções da desaparecida custódia em ouro da capela e dos painéis em mosaico.

Estátua de S.to António num polarinho barroco de talha dourada Surprise, surprise, another Christ.

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Altar barroco trabalhado em talha dourada. Quem tiver a ler estas legendas deve estar a pensar “este gajo é parvo“, talvez, mas se estas fotos não são um retrato do desperdício de dinheiro para algo que apenas alimenta a ideia utópica de puder explicar o que não se sabe ou de atribuir culpas a quem não existe. Isso sim, é parvo.

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Estas legendas não têm o objectivo de ofender ninguém, simplesmente tive que as inventar para a revista inteira, e chegando aqui ao fim com esta temática, não resisti. Mas também mal não faz, pois isto é uma revista fictícia não me parece que na exposição alguém vá estar a ler estas legendas, mas caso aconteça e se o leitor em questão for cristão, as minha sinceras desculpas.

O álbum, que se considerava perdido até à década de 1990, quando foi descoberto em Paris, e até agora apenas disponível em microfilme, é exibido pela primeira vez ao público. Também pela primeira vez em Portugal, no pólo de S. roque, vão poder apreciar-se os estudos preparatórios para as raríssimas composições em mosaico de Agostino Masucci, um favorito do rei, provenientes da Fundação Aldega, em Itália, que só estiveram em exibição fora daquele país na década passada. Passe em revista também o conjunto de custódias, muitas delas inéditas em contexto de museu, reunidas graças ao alto patrocínio de D. José Policarpo e ao cabido da Sé de Lisboa. Entre este espólio encontra-se a Custódia da Bemposta (do Museu nacional de Arte Antiga), da autoria de Mateus Vicente de Oliveira (discípulo de Ludovice), cujo trabalho artístico é visível na obra em talha e ourivesaria portuguesa a partir do terceiro quartel do século xviii, e a Custódia da Sé de Lisboa, do ourives Joaquim Caetano de Carvalho, considerada uma das peças mais notáveis da ourivesaria portuguesa.A relação do tesouro com a liturgia é um dos parâmetros explorados, bem como o impacto deste conjunto patrimonial no ambiente artístico nacional, com um peso sem precedentes.

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Promenor das estátuas da nossa Senhora com o miúdo ainda bebé já a mandar bitáites, e atrás mais uma cruz com o gajo, agora mais velho.

o rei quis que fosse feita com os materiais mais valiosos que fosse possível. heritage | número 1 | Junho de 2014 |

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vindas de todo o país e de museus internacionais, algumas das obras vão poder ser vistas pela primeira vez em Portugal.

Detalhe do detalhe da estátua da nossa Senhora.

Estátua de Vossa Senhora rodeada de anjos, isto deve ter um significado mártir qualquer.

Um gajo qualquer que eu não faço ideia quem seja, pelo “amor de deus“, eu sou ateu.

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Estátua de nossa Senhora com o miúdo, agora já um homem feito mas falecido, coitados.

“A exposição evoca o grande trabalho feito no reinado de D. João V em torno da renovação da cultura artística, a partir do consumo dos grandes artistas internacionais e da própria criação em Portugal de uma direcção artística cosmopolita eficaz, protagonizada pela figura de Frederico Ludovice.” Segundo António Filipe Pimentel, ficava assim lançada uma profícua bola de neve, que traz consigo “uma renovação do gosto, do mercado e do consumo artístico, a partir da norma emanada pela coroa, que se generaliza nas elites, com repercussões no Brasil”. Um enorme salto qualitativo, promovido em breves 40 anos, que permitiu reconstruir Lisboa após o grande terramoto e “dotar a cidade destruída de uma coerência estética de nível internacional”.

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O trabalho de restauro da capela, ex-líbris da Igreja-Museu de S. Roque, foi concluído o ano passado. Obra-prima da arte europeia do século xviii, foi montada na Igreja de Santo António dos Portugueses em Roma e sagrada pelo Papa, antes de ser enviada para Portugal para ser colocada peça a peça no local da antiga Capela do Espírito Santo, e inaugurada em 1752, já no reinado D. José. “É de ficar com o coração suspenso só de pensar se tivesse havido um naufrágio. Trazer por mar era o mais seguro, mas rezando ao Altíssimo para que tudo chegasse são e salvo, primorosamente, como chegou”, remata o comissário. Em S. Roque ainda encontra uma das caixas de transporte das alfaias litúrgicas. No final da mostra será lançada uma monografia sobre a Capela de S. João Baptista. 6.740 c.¶

É de ficar com o coração suspenso

Cristo na brincadeira a imitar o Gandalf.

só de pensar se tivesse havido um naufrágio.

Vista geral da nave central da igreija.

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IV A especificidade de cada

universo industrial A preocupação de proteger e estudar o património industrial é uma atitude muito recente. Aliás, todo o património datado de períodos cronológicos mais próximos de nós e com cunho marcadamente funcional e menos prestigiante, tem uma menor aceitação, a não ser que constitua um exemplar arquitectónico excepcional. Como olhar então, no inicio do século XXI, para vestígios materiais que até há tão pouco tempo desempenharam uma função na modelação urbana ou na estrutura económica da sociedade?

O movimento de defesa do legado industrial teve a sua génese em Inglaterra, na década de 50, devido à destruição de muitas fábricas, durante a segunda guerra mundial. Em Portugal, as preocupações relativas ao mundo industrial surgiram cerca de 1980. A expressão arqueologia industrial começou a divulgar-se através de exposições ou dos primeiros estudos de carácter científico. Os objectivos e os conceitos operativos tocavam-se, muitas vezes, com os do património industrial. O objecto de estudo do património industrial é múltiplo, considerando-se as várias áreas produtivas e as diversas soluções construtivas. Assim, quando se fala de património industrial, referimo-nos frequentemente aos vestígios deixados pela

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indústria: têxtil, vidreira, cerâmica, metalúrgica ou de fundição, química, papeleira, alimentar, extractiva - as minas, para além da obra pública, dos transportes, das infra-estruturas comerciais e portuárias, das habitações operárias, etc. Cada universo industrial tem a sua especificidade. Os processos de produção, a maquinaria utilizada (máquinas-ferramentas e máquinas-operadoras) divergem de acordo com a respectiva área de laboração, havendo similitudes nas diversas forças motrizes empregues ao longo do tempo. Os edifícios industriais são os testemunhos mais próximos das comunidades, impondo-se pela utilização de algumas linguagens próprias, difundidas através de diversas soluções construtivas, caso do telhado


em shed ou da utilização de diversos materiais de construção, tal como o ferro, o tijolo vermelho e mais tarde o betão. O património industrial é uma área inter e multidisciplinar. O desejável na interpretação de um objecto industrial é a participação de diversos especialistas (historiadores, arquitectos, engenheiros, patrimonialistas, arqueólogos). De uma forma muito sintética, pode então dizer-se que o património industrial trata dos vestígios técnico-industriais, dos equipamentos técnicos, dos edifícios, dos produtos, dos documentos de arquivo e da própria organização industrial. Os edifícios classificados agora divulgados inserem-se neste vasto universo patrimonial. Abarcam construções fomentadas por políticas régias ou áreas produtivas que se encontravam nos alvores da mecanização - manufacturas - ou sectores industriais que de algum modo se destacaram na salvaguarda do património industrial pelo seu carácter arquitectónico. As estruturas sociais associadas são tipologias construtivas e organizativas que reflectem uma filosofia industrial que não pode ser dissociada de uma análise de conjunto do processo de industrialização. As obras públicas ou infraestruras a seguir apresentadas relacionam-se, de algum modo, com a industrialização dos diversos sectores produtivos ou com a utilização de materiais decorrentes da Revolução Industrial. O movimento de defesa do legado industrial teve a sua génese em Inglaterra, na década de 50, devido à destruição de muitas fábricas, durante a segunda guerra mundial. Em Portugal, as preocupações relativas ao mundo industrial surgiram cerca de 1980. A expressão arqueologia industrial começou a divulgar-se através de exposições ou dos primeiros estudos de carácter científico. Os objectivos e os conceitos operativos tocavam-se, muitas vezes, com os do património industrial. O objecto de estudo do património industrial é múltiplo, considerando-se as várias áreas produtivas e as diversas soluções construtivas. Assim, quando se fala de património industrial, referimo-nos frequentemente aos vestígios deixados pela indústria: têxtil, vidreira, cerâmica, metalúrgica ou de fundição,

química, papeleira, alimentar, extractiva as minas, para além da obra pública, dos transportes, das infra-estruturas comerciais e portuárias, das habitações operárias, etc. Cada universo industrial tem a sua especificidade. Os processos de produção, a maquinaria utilizada (máquinasferramentas e máquinas-operadoras) divergem de acordo com a respectiva área de laboração, havendo similitudes nas diversas forças motrizes empregues ao longo do tempo. Os edifícios industriais são os testemunhos mais próximos das comunidades, impondo-se pela utilização de algumas linguagens próprias, difundidas através de diversas soluções construtivas, caso do telhado em shed ou da utilização de diversos materiais de construção, tal como o ferro, o tijolo vermelho e mais tarde o betão. O património industrial é uma área inter e multidisciplinar. O desejável na interpretação de um objecto industrial é a participação de diversos especialistas (historiadores, arquitectos, engenheiros, patrimonialistas, arqueólogos). De uma forma muito sintética, pode então dizer-se que o património industrial trata dos vestígios técnico-industriais, dos equipamentos técnicos, dos edifícios, dos produtos, dos documentos de arquivo e da própria organização industrial. Os edifícios classificados agora divulgados inserem-se neste vasto universo patrimonial. Abarcam construções fomentadas por políticas régias ou áreas produtivas que se encontravam nos alvores da mecanização - manufacturas - ou sectores industriais que de algum modo se destacaram na salvaguarda do património industrial pelo seu carácter arquitectónico. As estruturas sociais associadas são tipologias construtivas e organizativas que reflectem uma filosofia industrial que não pode ser dissociada de uma análise de conjunto do processo de industrialização. As infraestruras a seguir apresentadas relacionam-se, de algum modo, com a industrialização dos diversos sectores produtivos ou com a utilização de materiais decorrentes da Revolução Industrial. O movimento de defesa do legado industrial teve a sua génese em Inglaterra, na década de 50, devido à destruição de muitas fábricas, durante a segunda guerra mundial.

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Em Portugal, as preocupações relativas ao mundo industrial surgiram cerca de 1980. A expressão arqueologia industrial começou a divulgar-se através de exposições ou dos primeiros estudos de carácter científico. Os objectivos e os conceitos operativos tocavam-se, muitas vezes, com os do património industrial. O objecto de estudo do património industrial é múltiplo, considerando-se as várias áreas produtivas e as diversas soluções construtivas. Assim, quando se fala de património industrial, referimo-nos frequentemente aos vestígios deixados pela indústria: têxtil, vidreira, cerâmica, metalúrgica ou de fundição, química, papeleira, alimentar, extractiva as minas, para além da obra pública, dos transportes, das infra-estruturas comerciais e portuárias, das habitações operárias, etc. Cada universo industrial tem a sua especificidade. Os processos de produção, a maquinaria utilizada (máquinasferramentas e máquinas-operadoras) divergem de acordo com a respectiva área de laboração, havendo similitudes nas diversas forças motrizes empregues ao longo do tempo. Os edifícios industriais são os testemunhos mais próximos das comunidades, impondo-se pela utilização de algumas linguagens próprias, difundidas através de diversas soluções construtivas, caso do telhado em shed ou da utilização de diversos materiais de construção, tal como o ferro, o tijolo vermelho e mais tarde o betão. O património industrial é uma área inter e multidisciplinar. O desejável na interpretação de um objecto industrial é a participação de diversos especialistas (historiadores, arquitectos, engenheiros, patrimonialistas, arqueólogos). De uma forma muito sintética, pode então dizer-se que o património industrial trata dos vestígios técnico-industriais, dos equipamentos técnicos, dos edifícios, dos produtos, dos documentos de arquivo e da própria organização industrial. Os edifícios classificados agora divulgados inserem-se neste vasto universo patrimonial. Abarcam construções fomentadas por políticas régias ou áreas produtivas que se encontravam nos alvores da mecanização - manufacturas - ou sectores industriais que de algum modo se destacaram na salvaguarda do património industrial pelo seu

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precioso carácter arquitectónico . As estruturas sociais associadas são tipologias construtivas e organizativas que reflectem uma filosofia industrial que não pode ser de forma alguma dissociada de uma análise do processo de industrialização. As obras públicas ou infraestruras a seguir apresentadas relacionam-se, de algum modo, com a industrialização dos diversos sectores produtivos ou com a utilização de materiais decorrentes da Revolução Industrial.O movimento de defesa do legado industrial teve a sua génese em Inglaterra, na década de 50, devido à destruição de muitas fábricas, durante a segunda guerra mundial. Em Portugal, as preocupações relativas ao mundo industrial surgiram cerca de 1980. A expressão arqueologia industrial começou a divulgar-se através de exposições ou dos primeiros estudos de carácter científico. Os objectivos e os conceitos operativos tocavam-se, muitas vezes, com os do património industrial. O objecto de estudo do património industrial é múltiplo, considerando-se as várias áreas produtivas e as diversas soluções construtivas. Assim, quando se fala de património industrial, referimo-nos frequentemente aos vestígios deixados pela indústria: têxtil, vidreira, cerâmica, metalúrgica ou de fundição, química, papeleira, alimentar, extractiva as minas, para além da obra pública, dos transportes, das infra-estruturas comerciais e portuárias, das habitações operárias, etc. Cada universo industrial tem a sua especificidade. Os processos de produção, a maquinaria utilizada (máquinasferramentas e máquinas-operadoras) divergem de acordo com a respectiva área de laboração, havendo similitudes nas diversas forças motrizes empregues ao longo do tempo. São os testemunhos mais próximos das comunidades, impondo-se pela utilização de algumas linguagens próprias, difundidas através de diversas soluções construtivas, caso do telhado em shed ou da utilização de diversos materiais de construção, tal como o ferro, o tijolo vermelho e mais tarde o betão. O património industrial é uma área inter e multidisciplinar. O desejável na interpretação de um objecto industrial é a participação de diversos es-


pecialistas (historiadores, arquitectos, engenheiros, patrimonialistas, arqueólogos). De uma forma muito sintética, pode então dizer-se que o património industrial trata dos vestígios técnico-industriais, dos equipamentos técnicos, dos edifícios, dos produtos, dos documentos de arquivo e da própria organização industrial. Os edifícios classificados agora divulgados inserem-se neste vasto universo patrimonial. Abarcam construções fomentadas por políticas régias ou áreas produtivas que se encontravam nos alvores da mecanização - manufacturas - ou sectores industriais que de algum modo se destacaram na salvaguarda do património industrial pelo seu carácter arquitectónico. Grandes pilares culturais como são as estruturas sociais associadas são tipologias construtivas e organizativas que reflectem uma filosofia industrial que não pode ser dissociada de uma análise de conjunto do processo de industrialização. As obras públicas ou infraestruras a seguir apresentadas relacionam-se, de algum modo, com a industrialização dos diversos sectores produtivos ou com a utilização de materiais decorrentes da Revolução Industrial. O movimento de defesa do legado industrial teve a sua génese em Inglaterra, na década de 50, devido à destruição de muitas fábricas, durante a segunda grande guerra mundial. Em Portugal, as preocupações relativas ao mundo industrial surgiram cerca de 1980. A expressão arqueologia industrial começou a divulgar-se através de exposições ou dos primeiros estudos de carácter científico. Os objectivos e os conceitos operativos tocavam-se, muitas vezes, com os do património industrial. O objecto de estudo do património industrial é múltiplo, considerando-se as várias áreas produtivas e as diversas soluções construtivas. Assim, quando se fala de património industrial, referimo-nos frequentemente aos vestígios deixados pela indústria: têxtil, vidreira, cerâmica, metalúrgica ou de fundição, química, papeleira, alimentar, extractiva - as minas, para além da obra pública, dos transportes, das infra-estruturas comerciais e portuárias, das habitações operárias, etc. Cada universo industrial tem a sua especifici-

dade. Os processos de produção, a maquinaria utilizada (máquinas-ferramentas e máquinas-operadoras) divergem de acordo com a respectiva área de laboração, havendo similitudes nas diversas forças motrizes empregues ao longo do tempo. Os edifícios industriais são os testemunhos mais próximos das comunidades, impondo-se pela utilização de algumas linguagens próprias difundidas através de diversas soluções construtivas, caso do telhado em shed ou da utilização de diversos materiais de construção, tal como o ferro, o tijolo vermelho e mais tarde o betão. O património industrial é uma área inter e multidisciplinar. O desejável na interpretação de um objecto industrial é a participação de diversos especialistas (historiadores, arquitectos, engenheiros, patrimonialistas, arqueólogos). De uma forma muito sintética, pode então dizer-se que o património industrial trata dos vestígios técnico -industriais, dos equipamentos técnicos, dos edifícios, dos produtos, dos documentos de arquivo e da própria organização industrial. Os edifícios classificados agora divulgados inserem-se neste vasto universo patrimonial. Abarcam construções fomentadas por políticas régias ou áreas produtivas que se encontravam nos alvores da mecanização - manufacturas - ou sectores industriais que de algum modo se destacaram na salvaguarda do património industrial pelo seu carácter arquitectónico e conceptual. As estruturas sociais associadas são tipologias construtivas e organizativas que reflectem uma filosofia industrial que não pode ser dissociada de uma análise de conjunto do processo de industrialização. As obras públicas ou infraestruras a seguir apresentadas relacionam-se, de algum modo, com a industrialização dos diversos sectores produtivos ou com a utilização de materiais decorrentes da Revolução Industrial. O movimento de defesa do legado industrial teve a sua génese em Inglaterra, na década de 50, devido à destruição de muitas fábricas, durante a segunda guerra mundial Em Portugal, as preocupações relativas ao mundo industrial surgiram cerca de 1980. A expressão arqueologia industrial começou a divul-

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O património industrial é uma área inter e multidisciplinar. O desejável na interpretação de um objecto industrial é a participação de diversos especialistas. “

gar-se através de exposições ou dos primeiros estudos de carácter científico. Os objectivos e os conceitos operativos tocavam-se, muitas vezes, com os do património industrial. O objecto de estudo do património industrial é múltiplo, considerando-se as várias áreas produtivas e as diversas soluções construtivas. Assim, quando se fala de património industrial, referimo-nos frequentemente aos vestígios deixados pela indústria: têxtil, vidreira, cerâmica, metalúrgica ou de fundição, química, papeleira, alimentar, extractiva as minas, para além da obra pública, dos transportes, das infra-estruturas comerciais e portuárias, das habitações operárias, etc. Cada universo industrial tem a sua especificidade. Os processos de produção, a maquinaria utilizada (máquinasferramentas e máquinas-operadoras) divergem de acordo com a respectiva área de laboração, havendo similitudes nas diversas forças motrizes empregues ao longo do tempo. Os edifícios industriais são os testemunhos mais próximos das comunidades, impondo-se pela utilização de algumas linguagens próprias, difundidas através de diversas soluções construtivas, caso do telhado em shed ou da utilização de diversos materiais de construção, tal como o ferro, o tijolo vermelho e mais tarde o betão. O património industrial é uma área inter e multidisciplinar. O desejável na interpretação de um objecto industrial é a participação de diversos especialistas (historiadores, arquitectos, engenheiros, patrimonialistas, arqueólogos). De uma forma muito sintética, pode então dizer-se que o património industrial trata dos vestígios técnico -industriais, dos equipamentos técnicos, dos edifícios, dos produtos, dos documentos de arquivo e da própria organização industrial. Os edifícios classificados agora divulgados inserem-se neste vasto universo patrimonial. Abarcam construções fomentadas por políticas régias ou áreas produtivas que se encontravam nos alvores da mecanização - manufacturas - ou sectores industriais que de algum modo se destacaram na salvaguarda do património industrial pelo seu carácter arquitectónico. As estruturas sociais associadas são tipologias

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construtivas e organizativas que reflectem uma filosofia industrial que não pode ser dissociada de uma análise de conjunto do processo de industrialização. As obras públicas ou infraestruras a seguir apresentadas relacionam-se, de algum modo, com a industrialização dos diversos sectores produtivos ou com a utilização de materiais decorrentes da Revolução Industrial. O movimento de defesa do legado industrial teve a sua génese em Inglaterra, na década de 50, devido à destruição de muitas fábricas, durante a segunda guerra mundial. Em Portugal, as preocupações relativas ao mundo industrial surgiram cerca de 1980. A expressão arqueologia industrial começou a divulgar-se através de exposições ou dos primeiros estudos de carácter científico. Os objectivos e os conceitos operativos tocavam-se, muitas vezes, com os do património industrial. O objecto de estudo do património industrial é múltiplo, considerando-se as várias áreas produtivas e as diversas soluções construtivas. Assim, quando se fala de património industrial, referimo-nos frequentemente aos vestígios deixados pela indústria: têxtil, vidreira, cerâmica, metalúrgica ou de fundição, química, papeleira, alimentar, extractiva - as minas, para além da obra pública, dos transportes, das infra-estruturas comerciais e portuárias, das habitações operárias, etc. Cada universo industrial tem a sua especificidade. Os processos de produção, a maquinaria utilizada (máquinasferramentas e máquinas-operadoras) divergem de acordo com a respectiva área de laboração, havendo similitudes nas diversas forças motrizes empregues ao longo do tempo. Os edifícios industriais são os testemunhos mais próximos das comunidades, impondo-se pela utilização de algumas linguagens próprias, difundidas através de diversas soluções construtivas, caso do telhado em shed ou da utilização de diversos materiais de construção, tal como o ferro, o tijolo vermelho e mais tarde o betão. O património industrial é uma área inter e multidisciplinar. O desejável na interpretação de um objecto industrial é a participação de diversos especialistas (historiadores, arquitectos, engenheiros, patrimonialistas, arqueólogos). De uma forma muito sintética, pode então dizer-se que o património industrial trata dos ves-

tígios técnico-industriais, dos equipamentos técnicos, dos edifícios, dos produtos, dos documentos de arquivo e da própria organização industrial. Com isto, os edifícios classificados agora divulgados inserem-se neste vasto universo patrimonial. Abarcam construções fomentadas por políticas régias ou áreas produtivas que se encontravam nos alvores da mecanização - manufacturas - ou sectores industriais que de algum modo se destacaram na salvaguarda do património industrial pelo seu carácter arquitectónico. As estruturas sociais associadas são tipologias construtivas e organizativas que reflectem uma filosofia industrial que não pode ser dissociada de uma análise do processo de industrialização. As obras públicas ou infraestruras a seguir apresentadas relacionam-se, de algum modo, com a industrialização dos diversos sectores produtivos ou com a utilização de materiais decorrentes da Revolução Industrial. A participação de diversos especialistas (historiadores, arquitectos, engenheiros, patrimonialistas, arqueólogos). De uma forma muito sintética, pode então dizer-se que o património industrial trata dos vestígios técnico-industriais, dos equipamentos técnicos, dos edifícios, dos produtos, dos documentos de arquivo e da própria organização industrial. Os edifícios classificados agora divulgados inserem-se neste vasto universo patrimonial.

A participação de diversos especialistas (historiadores, arquitectos, engenheiros, patrimonialistas, arqueólogos). De uma forma muito sintética, pode então dizer-se que o património industrial trata dos vestígios técnico-industriais, dos equipamentos técnicos, dos edifícios, dos produtos, dos documentos de arquivo e da própria organização industrial. Os edifícios classificados agora divulgados inserem-se neste vasto universo patrimonial.¶

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V Modernidade e contemporaneidade em

museologia O processo de democratização no contexto de museologia levou a uma reposicionamento da imagem do museu templo para a imagem de museu fórum, ou seja, museu como recurso, como meio de comunicação, como meio alternativo de comunicações, como prestador de serviços, como vector dinâmico capaz de alterar a sua relação com as comunidades. Se fizermos uso da memória, elemento fundamental para a prática da museologia, lembraremos que já em 1972 na Mesa Redonda de Santiago do Chile os profissionais eram chamados ao trabalho museal por meio do reconhecimento dos “testemunhos representativos da evolução da natureza e do Homem”, em todo o documento o desafio feito é justamente no sentido dos profissionais alargarem o âmbito da sua intervenção no campo do património, nunca restringindo a acção museal na esfera do património tangível.

No ano de 1988, na apresentação do 1.º Encontro universitário luso-espanhol sobre a investigação e o ensino na área de museologia, organizado pelo Departamento de Antropologia da Universidade Nova de Lisboa, Henrique Coutinho Gouveia, docente daquela instituição e, ao tempo, diretor do Departamento de Etnologia do Instituto Português do Património Cultural (IPPC), referia que “a presença da museologia no contexto do panorama universitário português é |…| pouco significativa sendo escasso o número de instituições em que é ministrado o ensino nessa área”, esclarecendo que, nos casos em que essa situação se verifica, “|…| reveste |…| um caráter complementar integrando planos de estudo relativos a domínios disciplinares

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afins” (Gouveia 1991, 1), mais precisamente os curricula de antropologia, de pintura e de escultura (Gil 1991, 33). Apesar do aparente alheamento das universidades portuguesas, nessa área de estudos, tendo os primeiros cursos de pós-graduação sido criados, à margem do ensino oficial público, por organismos estatais, sendo dirigidos a funcionários de museus - caso do curso de “Pós-graduação em Museologia”, organizado pelo Instituto Português do Património Cultural (IPPC), em 1981-84 (Freire 1991, 37-48) -, detetavam-se, em seu entender, “|…| sintomas nítidos de mudança”, que teriam, a breve trecho, impacto na “multiplicação do número de realizações e serviços” e no “incremento de oportunidades profissionais” (Gouveia 1991, 2-3).


Aludia-se, em concreto, à criação, ao nível de estudos pós-graduados, do 1.º curso de museologia, em Portugal, aberto em 1989, na Universidade Lusíada de Lisboa, e, sobretudo, à “explosão museológica” que então se vivia no país, a qual veio colocar o problema da formação qualificada dos quadros dos museus, tanto do Estado como das múltiplas instituições museais que se encontravam em vias de criação, por iniciativa de municípios, de juntas de freguesias, de empresas privadas e públicas, de associações de defesa do património, entre outras organizações. Em rigor, o número de museus aumentou a partir da década de 1980: se no período anterior ao 25 de Abril de 1974 não chegavam a uma centena, em 1988 existiam, segundo António Nabais, 216 museus, registando-se, no ano de 1993, 260, números estes que, no entanto, ficam aquém de algumas contagens oficiais. Assim, no I Encontro sobre museologia e educação, realizado no Seixal, no ano de 1995, avançou-se o número de 750, o qual é considerado exagerado por diversos especialistas. Já no âmbito do Inquérito aos museus de Portugal, o estudo incide sobre 530 museus, embora, se reconhecesse que, caso tivessem sido adotados e reforçadps critérios mais rigorosos, só 10% mereciam aquela qualificação. Contabilidades à parte, o aumento do número de museus, a par das novas funções ou missões que lhes são atribuídas, impulsionou o aparecimento e/ou desenvolvimento de profissões ou de formações capazes de responderem aos desafios lançados à realidade museológica e que, em última instância, se refletiram no ensino superior, criando-se novos programas académicos, contribuindo, assim, para a profissionalização de ocupações ligadas aos museus. Vinte anos depois, no ano de 2009, o panorama do ensino universitário da museologia apresenta-se “irreconhecível”, como significativamente o qualificou João Carlos Brigola, na comunicação apresentada no Encontro O mercado dos museus e o ensino superior (Brigola 2009, 13-18). Em sua opinião, reforçara-se o investimento humano e material no ensino superior da museologia, tanto ao nível da docência como da diversificação de

atividades, o que veio a favorecer a aproximação entre as universidades, os museus e demais instituições museais, muito em particular no que respeita à formalização de parcerias em pesquisas e projetos de investigação, bem como na elaboração de catálogos, contratualização de estágios profissionalizantes e publicação de teses. De uma situação de um vazio quase completo transitara-se para um quadro de oferta excessiva, registando-se, no ano de 2009, 9 cursos de mestrado ou de 2.º ciclo, número acima das necessidades nacionais em termos de empregabilidade, com a agravante da sua maioria (mais de metade) se concentrar na cidade de Lisboa. Reconhecendo que, na base dessa inflação, se encontram, sobretudo, “factores de ordem orçamental e de ordem profissional que se têm vindo a impor nas direções das universidades”, João Carlos Brigola apontava, como soluções para ultrapassar essa situação, a bi-anualidade dos cursos de mestrado ou de 2.º ciclo; a criação de 2 ou 3 pólos descentralizados de formação avançada, ligados em rede; o investimento em cursos de 3º ciclo ou de doutoramento interdepartamentais, assim como a ligação de museus a projetos e a centros de investigação financiados pela Fundação para a Ciência e Tecnologia. A formação universitária em museologia, ao nível de cursos de 2.º Ciclo ou de mestrado, assegurada por universidades, institutos politécnicos e escolas superiores, regista diferenças relativamente ao quadro traçado para o ano de 2009. O número de cursos aumentou, passando de 9 para 12, contagem que apenas se reporta a todos aqueles que incluem a palavra museologia na sua designação oficial (Quadro I).No ano de 1988, na apresentação do 1.º Encontro universitário luso-espanhol sobre a investigação e o ensino na área de museologia, organizado pelo Departamento de Antropologia da Universidade Nova de Lisboa, Henrique Coutinho Gouveia, docente daquela instituição e, ao tempo, diretor do Departamento de Etnologia do Instituto Português do Património Cultural (IPPC), referia que “a presença da museologia no contexto do panorama universitário português é |…| pouco significativa sendo escasso o número de instituições em que é ministrado o ensino nes-

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sa área”, esclarecendo que, nos casos em que essa situação se verifica, “|…| reveste |…| um caráter complementar integrando planos de estudo relativos a domínios disciplinares afins” (Gouveia 1991, 1), mais precisamente os curricula de antropologia, de pintura e de escultura. Apesar do aparente alheamento das universidades portuguesas, nessa área de estudos, tendo os primeiros cursos de pósgraduação sido criados, à margem do ensino oficial público, por organismos estatais, sendo dirigidos a funcionários de museus - caso do curso de “Pós-graduação em Museologia”, organizado pelo Instituto Português do Património Cultural (IPPC), em 1981-84 (Freire 1991, 37-48) -, detetavam-se, em seu entender, “|…| sintomas nítidos de mudança”, que teriam, a breve trecho, impacto na “multiplicação do número de realizações e serviços” e no “incremento de oportunidades profissionais”. Aludia-se, em concreto, à criação, ao nível de estudos pós-graduados, do 1.º curso de museologia, em Portugal, aberto em 1989, na Universidade Lusíada de Lisboa, e, sobretudo, à “explosão museológica” que então se vivia no país, a qual veio colocar o problema da formação qualificada dos quadros dos museus, tanto do Estado como das múltiplas instituições museais que se encontravam em vias de criação, por iniciativa de municípios, de juntas de freguesias, de empresas privadas e públicas, de associações de defesa do património, entre outras organizações. Em rigor, o número de museus aumentou a partir da década de 1980: se no período anterior ao 25 de Abril de 1974 não chegavam a uma centena, em 1988 existiam, segundo António Nabais, 216 museus, registando-se, no ano de 1993, 260, números estes que, no entanto, ficam aquém de algumas contagens oficiais. Assim, no I Encontro sobre museologia e educação, realizado no Seixal, no ano de 1995, avançou-se o número de 750, o qual é considerado exagerado por diversos especialistas. Já no âmbito do Inquérito aos museus de Portugal, o estudo incide sobre 530 museus, embora, se reconhecesse que, caso tivessem sido adotados critérios mais rigorosos, só 10% mereciam aquela qualificação. Contabilidades à parte, o aumento do número de museus, a par das novas funções ou missões que

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lhes são atribuídas, impulsionou o aparecimento e/ou desenvolvimento de profissões ou de formações capazes de responderem aos desafios lançados à realidade museológica e que, em última instância, se refletiram no ensino superior, criando-se novos programas académicos, contribuindo, assim, para a profissionalização de ocupações ligadas aos museus. Vinte anos depois, no ano de 2009, o panorama do ensino universitário da museologia apresenta-se “irreconhecível”, como significativamente o qualificou João Carlos Brigola, na comunicação apresentada no Encontro O mercado dos museus e o ensino superior dessa mesma àrea. Em sua opinião, reforçara-se o investimento humano e material no ensino superior da museologia, tanto ao nível da docência como da diversificação de atividades, o que veio a favorecer a aproximação entre as universidades, os museus e demais instituições museais, muito em particular no que respeita à formalização de parcerias em pesquisas e projetos de investigação, bem como na elaboração de catálogos, contratualização de estágios profissionalizantes e publicação de teses. De uma situação de um vazio quase completo transitara-se para um quadro de oferta excessiva, registando-se, no ano de 2009, 9 cursos de mestrado ou de 2.º ciclo, número acima das necessidades nacionais em termos de empregabilidade, com a agravante da sua maioria (mais de metade) se concentrar na cidade de Lisboa. Reconhecendo que, na base dessa inflação, se encontram, sobretudo, “factores de ordem orçamental e de ordem profissional que se têm vindo a impor nas direções das universidades”, João Carlos Brigola apontava, como soluções para ultrapassar essa situação, a bi-anualidade dos cursos de mestrado ou de 2.º ciclo; a criação de 2 ou 3 pólos descentralizados de formação avançada, ligados em rede; o investimento em cursos de 3º ciclo ou de doutoramento interdepartamentais, assim como a ligação de museus a projetos e a centros de investigação financiados pela Fundação para a Ciência e Tecnologia. No transato ano letivo de 2010-2011, a formação universitária em museologia, ao nível de cursos de 2.º Ciclo ou de mestra-


do, assegurada por universidades, institutos politécnicos e escolas superiores, regista diferenças relativamente ao quadro traçado para o ano de 2009. O número de cursos aumentou, passando de 9 para 12, contagem que apenas se reporta a todos aqueles que incluem a palavra museologia na sua designação oficial (Quadro I).No ano de 1988, na apresentação do 1.º Encontro universitário luso-espanhol sobre a investigação e o ensino na área de museologia, organizado pelo Departamento de Antropologia da Universidade Nova de Lisboa, Henrique Coutinho Gouveia, docente daquela instituição e, ao tempo, diretor do Departamento de Etnologia do Instituto Português do Património Cultural (IPPC), referia que “a presença da museologia no contexto do panorama universitário português é |…| pouco significativa sendo escasso o número de instituições em que é ministrado o ensino nessa área”, esclarecendo que, nos casos em que essa situação se verifica, “|…| reveste |…| um caráter complementar integrando planos de estudo relativos a domínios disciplinares afins” (Gouveia 1991, 1), mais precisamente os curricula de antropologia, de pintura e de escultura. O alheamento das universidades portuguesas, nessa área de estudos, tendo os primeiros cursos de pós-graduação sido criados, à margem do ensino oficial público, por organismos estatais, sendo dirigidos a funcionários de museus - caso do curso de “Pós-graduação em Museologia”, organizado pelo Instituto Português do Património Cultural (IPPC), em 1981-84 (Freire 1991, 37-48) -, detetavam-se, em seu entender, “|…| sintomas nítidos de mudança”, que teriam, a breve trecho, impacto na “multiplicação do número de realizações e serviços” e no “incremento de oportunidades profissionais”. Aludia-se, em concreto, à criação, ao nível de estudos pós-graduados, do 1.º curso de museologia, em Portugal, aberto em 1989, na Universidade Lusíada de Lisboa, e, sobretudo, à “explosão museológica” que então se vivia no país, a qual veio colocar o problema da formação qualificada dos quadros dos museus, tanto do Estado como das múltiplas instituições museais que se encontravam em vias de criação, por iniciativa de municípios, de juntas de freguesias, de empresas pri-

vadas e públicas, de associações de defesa do património, entre outras organizações. Em rigor, o número de museus aumentou a partir da década de 1980: se no período anterior ao 25 de Abril de 1974 não chegavam a uma centena, em 1988 existiam, segundo António Nabais, 216 museus, registando-se, no ano de 1993, 260, números estes que, no entanto, ficam aquém de algumas contagens oficiais. Assim, no I Encontro sobre museologia e educação, realizado no Seixal, no ano de 1995, avançou-se o número de 750, o qual é considerado exagerado por diversos especialistas. Já no âmbito do Inquérito aos museus de Portugal, o estudo incide sobre 530 museus, embora, se reconhecesse que, caso tivessem sido adotados critérios mais rigorosos, só 10% mereciam aquela qualificação dos alunos. Contudo, e com as contabilidades à parte, o aumento do número de museus, a par das novas funções ou missões que lhes são atribuídas, impulsionou o aparecimento e/ou desenvolvimento de profissões ou de formações capazes de responderem aos desafios lançados à realidade museológica e que, em última instância, se refletiram no ensino superior, criando-se novos programas académicos, contribuindo, assim, para a profissionalização de ocupações ligadas aos museus. Já no novo ano de 2009, o panorama do ensino universitário da museologia apresenta-se “irreconhecível”, como significativamente o qualificou João Carlos Brigola, na comunicação apresentada no Encontro O mercado dos museus e o ensino superior (Brigola 2009, 13-18). Em sua opinião, reforçara-se o investimento humano e material no ensino superior da museologia, tanto ao nível da docência como da diversificação de atividades, o que veio a favorecer a aproximação entre as universidades, os museus e demais instituições museais, muito em particular no que respeita à formalização de parcerias em pesquisas e projetos de investigação, bem como na elaboração de catálogos, contratualização de estágios profissionalizantes e publicação de teses. De uma situação de um vazio quase completo transitara-se para um quadro de oferta excessiva, registando-se, no ano de 2009, 9 cur-

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Se fizermos uso da memória, elemento fundamental para a prática da museologia, lembraremos que já em 1972 na Mesa Redonda de Santiago do Chile os profissionais eram chamados ao trabalho museal por meio do reconhecimento dos “testemunhos representativos da evolução da natureza e do Homem” (...) “

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sos de mestrado ou de 2.º ciclo, número acima das necessidades nacionais em termos de empregabilidade, com a agravante da sua maioria (mais de metade) se concentrar na cidade de Lisboa. Reconhecendo que, na base dessa inflação, se encontram, sobretudo, “factores de ordem orçamental e de ordem profissional que se têm vindo a impor nas direções das universidades”, João Carlos Brigola apontava, como soluções para ultrapassar essa situação, a bi-anualidade dos cursos de mestrado ou de 2.º ciclo; a criação de 2 ou 3 pólos descentralizados de formação avançada, ligados em rede; o investimento em cursos de 3º ciclo ou de doutoramento interdepartamentais, assim como a ligação de museus a projetos e a centros de investigação financiados pela Fundação para a Ciência e Tecnologia. No transato ano letivo de 2010-2011, a formação universitária em museologia, ao nível de cursos de 2.º Ciclo ou de mestrado, assegurada por universidades, institutos politécnicos e escolas superiores, regista diferenças relativamente ao quadro traçado para o ano de 2009. O número de cursos aumentou, passando de 9 para 12, contagem que apenas se reporta a todos aqueles que incluem a palavra museologia na sua designação oficial (Quadro I). No ano de 1988, na apresentação do 1.º Encontro universitário luso-espanhol sobre a investigação e o ensino na área de museologia, organizado pelo Departamento de Antropologia da Universidade Nova de Lisboa, Henrique Coutinho Gouveia, docente daquela instituição e, ao tempo, diretor do Departamento de Etnologia do Instituto Português do Património Cultural (IPPC), referia que “a presença da museologia no contexto do panorama universitário português é |…| pouco significativa sendo escasso o número de instituições em que é ministrado o ensino nessa área”, esclarecendo que, nos casos em que essa situação se verifica, “|…| reveste |…| um caráter complementar integrando planos de estudo relativos a domínios disciplinares afins” (Gouveia 1991, 1), mais precisamente os curricula de antropologia, de pintura e de escultura. Apesar do aparente alheamento das universidades portuguesas, nessa área de estudos, tendo os primeiros cursos de pós-graduação sido criados, à margem do ensino oficial público, por


organismos estatais, sendo dirigidos a funcionários de museus - caso do curso de “Pós-graduação em Museologia”, organizado pelo Instituto Português do Património Cultural (IPPC), em 1981-84 (Freire 1991, 37-48) -, detetavamse, em seu entender, “|…| sintomas nítidos de mudança”, que teriam, a breve trecho, impacto na “multiplicação do número de realizações e serviços” e no “incremento de oportunidades profissionais”. Aludia-se, em concreto, à criação, ao nível de estudos pós-graduados, do 1.º curso de museologia, em Portugal, aberto em 1989, na Universidade Lusíada de Lisboa, e, sobretudo, à “explosão museológica” que então se vivia no país, a qual veio colocar o problema da formação qualificada dos quadros dos museus, tanto do Estado como das múltiplas instituições museais que se encontravam em vias de criação, por iniciativa de municípios, de juntas de freguesias, de empresas privadas e públicas, de associações de defesa do património, entre outras organizações. Analisando com rigor, o número de museus aumentou a partir da década de 1980: se no período anterior ao 25 de Abril de 1974 não chegavam a uma centena, em 1988 existiam, segundo António Nabais, 216 museus, registando-se, no ano de 1993, 260, números estes que, no entanto, ficam aquém de algumas contagens oficiais. Assim, no I Encontro sobre museologia e educação, realizado no Seixal, no ano de 1995, avançou-se o número de 750, o qual é considerado exagerado por diversos especialistas. Já no âmbito do Inquérito aos museus de Portugal, o estudo incide sobre 530 museus, embora, se reconhecesse que, caso tivessem sido adotados critérios mais rigorosos, só 10% mereciam aquela qualificação. Contabilidades à parte, o aumento do número de museus, a par das novas funções ou missões que lhes são atribuídas, impulsionou o aparecimento e/ou desenvolvimento de profissões ou de formações capazes de responderem aos desafios lançados à realidade museológica e que, em última instância, se refletiram no ensino superior, criando-se novos programas académicos, contribuindo, assim, para a profissionalização de ocupações ligadas aos museus. No ano de 1988, na apresentação do 1.º Encontro universitário luso-espanhol sobre a investigação e o ensino na área de museologia, organizado pelo Departamento de Antropologia da Universidade Nova de Lisboa, Henrique Couti-

nho Gouveia, docente daquela instituição e, ao tempo, diretor do Departamento de Etnologia do Instituto Português do Património Cultural (IPPC), referia que “a presença da museologia no contexto do panorama universitário português é |…| pouco significativa sendo escasso o número de instituições em que é ministrado o ensino nessa área”, esclarecendo que, nos casos em que essa situação se verifica, “|…| reveste |…| um caráter complementar integrando planos de estudo relativos a domínios disciplinares afins” (Gouveia 1991, 1), mais precisamente os curricula de antropologia, de pintura e de escultura (Gil 1991, 33). Apesar do aparente alheamento das universidades portuguesas, nessa área de estudos, tendo os primeiros cursos de pós-graduação sido criados, à margem do ensino oficial público, por organismos estatais, sendo dirigidos a funcionários de museus - caso do curso de “Pós-graduação em Museologia”, organizado pelo Instituto Português do Património Cultural. A criação, ao nível de estudos pós-graduados, do 1.º curso de museologia, em Portugal, aberto em 1989, na Universidade Lusíada de Lisboa, e, sobretudo, à “explosão museológica” que então se vivia no país, a qual veio colocar o problema da formação qualificada dos quadros dos museus, tanto do Estado como das múltiplas instituições museais que se encontravam em vias de criação, por iniciativa de municípios, de juntas de freguesias, de empresas privadas e públicas, de associações de defesa do património, entre outras organizações. Em rigor, o número de museus aumentou a partir da década de 1980: se no período anterior ao 25 de Abril de 1974 não chegavam a uma centena, em 1988 existiam, segundo António Nabais, 216 museus, registando-se, no ano de 1993, 260, números estes que, no entanto, ficam aquém de algumas contagens oficiais. Assim, no I Encontro sobre museologia e educação, realizado no Seixal, no ano de 1995, avançou-se o número de 750, o qual é considerado exagerado por diversos especialistas. Já no âmbito do Inquérito aos museus de Portugal, o estudo incide sobre 530 museus, embora, se reconhecesse que, caso tivessem sido adotados critérios mais rigorosos, só 10% mereciam aquela qualificação.¶

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CRÓNICA A FECHAR

Eu, embaixadora, me confesso Texto de Paula Alves Silva Haveremos de amar os países onde estamos por nos dar o que Portugal talvez nunca nos ofereça, mas haveremos de ter sempre o coração no local onde partimos, porque o princípio da história e aquilo que nos transforma no prólogo da vida marca-nos a ferro e fogo o coração.

E

ntrei uma noite num táxi e nesta cidade de chegadas e tantas partidas a pergunta obrigatória acabou por chegar: “De onde és?”. Portugal saiu-me da boca pela milésima vez ao longo destes últimos quatro meses. E com a palavra Portugal vi, através do retrovisor, nascer um sorriso no rosto do taxista. “Conheço uma portuguesa. Mariza”, disse vaidoso, nesse português de sotaque americano. Precisei de alguns segundos para perceber que quando ele dizia Mariza dizia Fado. Havia-a visto num concerto aqui em Washington há meses e desde então o Fado acompanhava-o. Tive, pois, de lhe perguntar se tinha percebido as letras. Foi então que não me olhou pelo retrovisor. Virou a cabeça na minha direcção e disse-me de sorriso aberto que não havia entendido nenhuma das palavras, mas que percebera todas as músicas através do que sentiu. Disseram-me antes de partir que deveria ser uma embaixadora de Portugal. Nós que deixamos o nosso país teríamos a obrigação de falar das nossas origens, de informar, de promover, de cativar. Não é uma obrigação, digo-lhes. É um prazer. Nós que partimos dizemos Portugal com orgulho, porque quando dizemos Portugal sentimos os cheiros, surgem-nos na retina as gentes, as paisagens, a comida, o mar. E portanto dizer Portugal é sentir, é estar lá não estando. Dizemos Portugal e as pessoas percebem que há algo de especial. Dizemos Portugal e dificilmente sabem onde é Portugal, como se vive em Portugal, o que tem de característico Portugal, mas quando sabem gosta-lhes a ideia de Portugal. Inesperadamente em alguns casos dizemos Portugal e do outro lado dizemnos Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral, falam-nos da ajuda militar prestada. São os taxistas (africanos), sempre os taxistas ou os viajados que lhe conhecem a narrativa. Por vezes não é preciso explicar onde fica no mapa. Reconhecem-nos a História e a nossa pequenez geográfica parece-nos de repente gigante. A verdade é que talvez nunca consiga colocar no patamar verbal coisas que apenas se sentem. Portugal será sempre para nós saudade, essa palavra sem tradução tão difícil de explicar na língua estrangeira. Será o Fado, será a gastronomia, serão as montanhas, o mar, as gentes. Não nos tomo portanto como embaixadores. Tomo-nos simplesmente como portugueses, onde quer que estejamos, diferentes na essência, no contacto, na adaptação. Haveremos de amar os países onde estamos por nos dar o que Portugal talvez nunca nos ofereça, mas haveremos de ter sempre o coração no local onde partimos, porque o princípio da história e aquilo que nos transforma no prólogo da vida marca-nos a ferro e fogo o coração. E o coração pertence às paixões. A nossa, a dos que partiram, está a alguns, a muitos ou a milhares de quilómetros de distância. É Portugal, esse país à beira mar plantado, essa palavra que nunca se gastará na boca.¶

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nO PróxIMO MÚMErO

estação do oriente METrOPLE DE AçO E BETãO

vento dos séCuLos

rETATO DA CULTUrA DO SÉCULO xx nUM CAFÉ-MUSEU

oLiva

MEMórIAS DE UMA MArCA POrTUgUESA

CerâmiCa da viúva Lamego A VESTIMEnTA DOS EDIFíCIOS LISBOETAS

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