Loule lock

Page 1

FOTOS: JOSÉ SÉRGIO

LOULÉ TEM PEDALADA +

DINÂMICA, MOBILIDADE, MODERNIDADE, TRADIÇÃO E CULTURA

Atrás dos muros onde Ronaldo e outros "craques" passam férias

PÁG 23

Jazz 30m abaixo do nível do mar PÁG 06 A Europa vai dar a volta por cima PÁG 17

Loulé e Créteil, cidades gémeas. Entrevista com o presidente da autarquia

PR na homenagem a Lídia Jorge. Entrevista com a escritora

PÁG 14-15

PÁG 10-13


02 | Domingo, 31 JUL 2016 | Caderno Extra Loulé | Abertura

Abertura | Caderno Extra Loulé | Domingo, 31 JUL 2016 | 03

RETRATOS DE UM CONCELHO

(Re)descobrir Loulé Os louletanos recebem bem quem vem de fora e oferecem-nos alguns dos prémios turísticos internacionais com que o nosso país é anualmente reconhecido

EDITORIAL | ANTÓNIO SALAVIZA MANSO

O centro e coração do Algarve

N

4 Ameixial Rocha da Pena 5

UM DESTINO PARA TODO O ANO O clima ameno e a gastronomia. O perfume dos campos, a frescura das ribeiras e o calor das pessoas. A segurança, um valor inflaccionado pelos tempos. São bens superlativamente maiores para desfrutar o ano inteiro. A qualidade da animação da serra ao barrocal que salpica de Janeiro a Dezembro e que se entorna de Junho a Agosto do barrocal até ao mar. O tapete de areia fina e branca beijada por um mar acolhedor. O Algarve tem o peixe fresco e o pão da serra. Os restaurantes de estrelas Michelin, as tascas reinventadas e as feiras tradicionais que convocam milhares de visitantes. Tem os segredos do mar partilhados ao final da tarde. A conquilha, a ostra, o camarão carabineiro. Os enchidos e os queijos. O vinho de qualidade internacional. Os teatros e os cinemas. A literatura, a música e a dança. A tia estará orgulhosa. Loulé é da Anica e de todos os que o desejam… e merecem! Bem-vindo a Loulé! Marinela Malveiro

Algarve

Salir

Alte

3 Querença

Loulé Vilamoura

Quinta do Lago Vale do Lobo

1

ALTE

Não perder os doces regionais e artesanato tradicional de uma aldeia que já foi considerada a mais típica de Portugal.

3

2

SALIR

No séc. XIII as muralhas do castelo, construídas em taipa, abrigaram os últimos focos da resistência árabe no Algarve

QUERENÇA

Água fresca a correr nos vales e uma mesa posta, rica e farta, para quem queira regalar-se com a serra algarvia em pano de fundo.

5

4

AMEIXIAL

Casas típicas e, no Miradouro da Serra do Caldeirão, 360º de panorâmicas do Atlântico ao castelo de Beja.

ROCHA DA PENA Para aventureiros: escalada e parapente, com vista de nascente a poente com o mar como brinde.

TIÂNGULO

DOURADO

Já se sabe: sol, praia e 14 campos de golfe de nível mundial para todo o ano.

FOTOS: DR

O Algarve dos diminutivos, do limanito e do panito, da ruralidade, da descoberta do mar e da serra esquecida são quase página virada no presente de um concelho que se projecta para o futuro. Loulé, o maior e mais rico concelho do Algarve, um dos maiores no País, lança-se à conquista de feitos maiores no aumentativo, aqueles que acabam em “ão”. Muitos ainda rimam com a estação quente, é certo, fruto de maior procura, mas também com “ambição” e “superação” de empresários, operadores, instituições e louletanos, da terra e de coração. Os campos de golfe são primeiros na Europa. As marinas, portas abertas ao Atlântico. O aeroporto, às low cost que permitem que muitos ingleses, russos e franceses façam daquele que consideram um pequeno paraíso a sua segunda ou até primeira casa. As infra-estruturas, o sector imobiliário, o ensino, a saúde, a oferta cultural, o riquíssimo património histórico e natural.

2

1

os anos sessenta e setenta do século passado começou por projectar Portugal nos mercados internacionais da indústria turística com uma marca de excelência na oferta de praia, golfe e resorts de luxo: o “Triângulo Dourado”, sonhado e lançado por um visionário, André Jordan, a quem o Algarve muito deve. Hoje são muitos mais os argumentos que o concelho de Loulé apresenta para consolidar a sua presença em mercados tradicionais, como o britânico e o escandinavo, ao mesmo tempo que desperta um interesse crescente noutros países europeus, em particular a França, e em mercados emergentes como a China e a Rússia. Dentro dos limites do concelho, Loulé reúne tudo o que de melhor a região algarvia tem para oferecer a nacionais e estrangeiros. O promontório de Sagres é a excepção, por razões óbvias. Mas não está longe porque Loulé, na geografia, ocupa o centro do Algarve. Essa centralidade, no mapa, não se limita às praias do litoral. Da serra, na fronteira com o Alentejo, ao mar, passando pelo barrocal, o concelho oferece uma ampla diversidade de propostas a quem o visita ou aí reside. E para além da geografia, também nas dinâmicas sociais e económicas Loulé se afirma cada vez mais como centro e coração de toda a região. Apesar de alguns erros do passado, com uma população mais jovem que a média regional e uma densidade populacional superior, ainda que inferior à do continente, o concelho alia cada vez melhor as características de ruralidade que mantém com o desenvolvimento acelerado dos centros urbanos. Com a inestimável ajuda do clima e das condições de segurança que o país oferece, Loulé transformou-se em invejável pólo de atracção para um crescente número de estrangeiros. Chegam como turistas primeiro. Depois constroem aqui a sua

segunda residência e, em muitos casos, acabam por promovê-la a morada definitiva. O censo de 2014 registou no concelho 16% de estrangeiros numa população residente de 69.211 almas. No conjunto do Algarve essa percentagem é de 12,9 e no País não ultrapassa os 3,8. Esta abertura ao mundo e à modernidade contribui para a valorização do património histórico e a dinamização do ambiente cultural, uma das prioridades do poder local. A prová-lo esteve a presença do Presidente da República, quartafeira passada, na homenagem prestada pela edilidade à escritora Lídia Jorge, uma filha da terra que dá a conhecer a um público universal, na língua portuguesa e nas inúmeras traduções da sua obra, tanto o mundo como a intimidade do ser humano. Mais ainda, é na vertente económica que a dimensão e dinâmica do concelho colocam Loulé no coração do Algarve. Os números disponibilizados pelas finanças públicas locais destacam o lugar cimeiro que ocupa no conjunto dos 16 municípios que integram a região. E a dimensão dos investimentos previstos, alguns dos quais damos nota nestas páginas, são prova cabal da atractividade do concelho e da dinâmica do seu tecido empresarial. Finalmente no domínio da política, apesar do saldo positivo apresentado pela Câmara contrastar com um valor médio negativo que ainda há dois anos o conjunto dos municípios da região apresentava, a realidade é mais difícil de contabilizar. Mas estamos cá para ver como é que, no plano concelhio e da região no seu conjunto, os poderes locais terão o discernimento e a coragem para, ultrapassando bairrismos e querelas de capela, afirmar uma visão capaz de projectar o futuro do concelho na região, da região no país e do país no mundo. ¶


04 | Domingo, 31 JUL 2016 | Caderno Extra Loulé | Lazer & Cultura

Lazer & Cultura | Caderno Extra Loulé | Domingo, 31 JUL 2016 | 05

GASTRONOMIA

ILUSTRES

REORDENAMENTO E REQUALIFICAÇÃO URBANA

Dieta Mediterrânica com estrela Michelin

Retratos em falta

Um concelho mais ordenado e mais verde

Se estiver em Quarteira ou Vilamoura não precisa de fazer muitos quilómetros para jantar três noites de seguida na companhia de uma estrela FOTO: JOSÉ SÉRGIO

FOTO: JOSÉ SÉRGIO

O

Guia Michelin anunciou na sua gala anual, a 25 de Novembro do ano passado em Santiago da Compostela, a atribuição das suas famosas estrelas a catorze restaurantes portugueses. Metade dos seis que abrem portas no Algarve estão no concelho de Loulé, uma verdadeira “capital da boa cozinha”. Um deles é o Willie’s, uma casa onde, nas mesas postas no interior ou no jardim, se serve uma cozinha que mistura influências internacionais. Na companhia de uma carta de vinhos de escolha atenta, das entradas de codorniz, sapateira, carabineiros e vieiras pode passar-se à sopa de peixe ou aos pratos de tamboril, peixe-galo, pato, borrego, novilho e outras sugestões, antes de rematar com as propostas de sobremesas, variadas e frutadas, e selecções de queijos nacionais e estrangeiros. A dar o nome ao restaurante e a dirigi-lo está um “chef” alemão. Tinha 22 anos quando se perdeu de amores pelo Algarve. E por cá se ficou. Hoje Wilhelm Wurger já se considera “meio algarvio” e preza a qualidade da matéria-prima nacional que leva para a sua cozinha: “é importante usar produtos locais”, diz-nos com pressa de voltar ao trabalho. Anunciava-se uma noite de verão daquelas que só o Algarve nos dá e, por isso, mais uma vez ia ter a sala e a esplanada exterior cheias. Willie chegou a Portugal no início dos anos 80 e em 1990 ganhava a sua primeira estrela Michelin. Apesar de definir a sua cozinha como internacional, a marca da “dieta mediterrânica” está bem presente no que serve e, confessa, gosta de comer. Ofereceu uma das suas receitas aos leitores do PÚBLICO. ¶

Risotto de amêijoas com gambas do Mediterrâneo • 250 g de Risotto Gran Reserva • 2 chalotas, 5 dentes de alho, coentro fresco • 20 g de manteiga • 10 g de azeite • 30 g de vinho branco • 300 g de "fumet" (caldo de peixe) • 200 g de natas • 30 g de cenouras e alho-porro em “brunoise” (cortados em pedacinhos pequenos e regulares) • 400 g de amêijoas • 400 g de gambas do Mediterrâneo (descascadas)

Coloque as amêijoas no alho salteado em azeite, refresque com um pouco de vinho branco e deixe cozinhar até que abram. Guarde o líquido. Retire os moluscos das conchas e reserve. Para o risotto derreta a manteiga com o azeite, adicione as chalotas picadinhas e deixe amolecer em lume brando. Adicione o arroz e mexa sem deixar queimar. Em seguida, acrescente o líquido onde cozinhou as amêijoas e o caldo de peixe e deixe ferver em lume brando durante 12 min. Adicione as natas e pouco antes de terminar de cozinhar junte os legumes em “brunoise”, as amêijoas, os coentros e corrija os temperos. Entretanto, numa frigideira antiaderente, doure as gambas de ambos os até que cozam e coloque-as sobre o risotto imediatamente antes de servir.

Faltam tantas fotos nesta página... Rostos de louletanos pelo berço ou coração, como estes aqui ao lado – objecto de recente homenagem – que já partiram. E de tantos outros ainda entre nós

Enquanto no centro da cidade de Loulé não reabre o histórico Café Calcinha, na envolvente de Quarteira trabalha-se para melhorar o trânsito FOTO: JOSÉ SÉRGIO

De cima para baixo: Manuel da Luz Afonso (Loulé, 1917 – Lisboa, 2000), bem presente na memória dos que há 50 anos vibraram com o 3º lugar de Portugal no Mundial de Futebol de 66 em Inglaterra. Foi seleccionador da equipa de Eusébio, Simões e Coluna. José Bernardo Lopes (Faro, 1882 – Loulé, 1956), o médico que em meados do século XX, com empenho e dedicação, transformou o secular hospital de Loulé no mais moderno do Algarve. Maria José Cabeçadas (Loulé, 1911 – Lisboa, 2004), a farmacêutica que, em 1945, fundou a Casa da Primeira Infância de Loulé com o objetivo de proteger, amparar, alimentar e tratar a saúde das crianças mais desfavorecidas. Manuel Gomes Guerreiro (Querença, 1919 – Lisboa, 2000), o engenheiro silvícola, docente e primeiro reitor da Universidade do Algarve (1979), a escola superior há muito ambicionada pela região sul. Catarina Farrajota (S. Bárbara de Nexe, 1923 – 2011), a enfermeira formada no Instituto Português de Oncologia que anos a fio serviu a população na Casa da Primeira Infância e depois na Santa Casa da Misericórdia de Loulé. António Aleixo (V. R. Sto. António, 1899 – Loulé, 1949), o poeta que, como ninguém, soube reflectir nas suas estrofes, em tom sarcástico e acutilante, a sabedoria popular e uma enorme perspicácia na análise do mundo do seu tempo. Nas montras do comércio local e até ao final deste mês quem se passeia pelas ruas de Loulé dá de caras com esta dúzia de rostos e suas histórias de vida. Estes filhos naturais ou adoptados e apaixonados pela cidade e os seus conterrâneos – juntamente com outros que totalizam a dezena e meia – estão assim a ser lembrados e homenageados em espaços públicos. Uma iniciativa bem recebida pelos comerciantes da Praça da República e que teve o apoio da ACRAL – Associação do Comércio e Serviços da Região do Algarve. Muitos outros louletanos ilustres se poderiam juntar a eles. Lembro, por exemplo, o nome de Maria José Estanco, a primeira mulher portuguesa a licenciar-se em arquitectura. Uma democrata que, nascida em 1905 na freguesia de São Clemente, ao longo dos seus 94 anos de vida deu lições de vida, integridade e cidadania, apesar de tão difícil terem tornado a sua vida, por ser mulher e não abdicar dos seus direitos. A.S.M. ¶

As “public bikes” de Vilamoura

A

FOTO: DR

FOTOS: DR

São muitos os que esperam pela reabertura do "Calcinha"

dquirido há dois anos pela autarquia por 182.599 euros, o espaço icónico que em tempos idos foi Café Central e depois Calcinha – petit nom dado ao antigo proprietário José Cavaco por clientes mais antigos e fiéis – foi renovado e prepara-se para reabrir portas. Estão a ser valorizados espelhos interiores e mesas com tampo de pedra, mas o convite à tertúlia permanecerá o mesmo de sempre no espaço que integra a rede nacional de Cafés com História. No final do ano, sempre com a estátua que na esplanada imortaliza a figura do poeta António Aleixo, louletanos e visitantes poderão regressar ao charme da Belle Époque e aos prazeres contemporâneos de um folhado de Loulé, do capilé ou da ginginha. Mas falar de obras no município de Loulé é também falar de novas construções, reabilitação de imóveis seculares, mobilidade e acessibilidades. Na sede do concelho estão já adjudicadas obras de recuperação do edifício da Música Nova, que voltará a abrir portas depois de cerca de duas décadas em silêncio, e do Palácio Gama Lobos, também conhe-

cido como Palácio dos Espanhóis, um edifício do séc. XVIII. A Música Nova voltará a ser a casa da Filarmónica Artistas de Minerva, que este ano assinala 140 anos, mas também o novo espaço do Conservatório de Loulé, que recebe alunos do ensino articulado das três escolas que o integram. “O ensino gratuito da música do 5º ao 9º ano é assegurado pela Academia de Música de Lagos que ganhou há dois anos uma extensão em Loulé, em parceria com o Ministério da Educação”. As duas empreitadas vão arrancar ainda este ano, com orçamento municipal. E porque o futuro se escreve entre os jovens, o lançamento da obra maior que a câmara inscreveu neste mandato é também uma escola: EB 2,3 em Quarteira. “Acreditamos que quando o projecto for concretizado, a escola D. Dinis vai recuperar os alunos que tem vindo a perder. É a obra com maior peso orçamental, 5 milhões de euros. A câmara irá entrar com cerca de 3 milhões, os restantes provêm de uma candidatura à CCDR Algarve que já tem o compromisso do Ministério da Educação em como o projecto será aprovado”, garante Júlio Sousa, director Municipal.

O ambiente como causa Empenhado no combate às alterações climáticas, o executivo camarário adoptou um conjunto de 28 medidas amigas do ambiente que, entre outros, tem por objectivo reduzir as emissões de dióxido de carbono. Entre elas a distribuição de 30 bicicletas para uso dos alunos de três escolas EB 2,3 de Loulé e Boliqueime. “A ideia é promover a partilha das bicicletas e estender o que agora se está a fazer nas escolas à cidade de Loulé, a exemplo do programa “Public Bikes” que a Inframoura – a empresa municipal que gere os espaços públicos em Vilamoura – já pôs em prática. Trata-se de um sistema de mobilidade individual que contempla 200 bicicletas e está desenhado para que cada utilizador possa, com a leitura de um simples cartão, levantar e devolver duas rodas num poste de qualquer das 39 estações existentes. Com um custo de aluguer mensal de 20 euros e anual de 35, a rede cobre toda a área de Vilamoura e convida a uma vida mais saudável. Para adquirir o primeiro cartão, grátis, o cliente da Inframoura só tem de solicitá-lo via Web ou dirigir-se aos escritórios da empresa. “Também temos um projecto de aquisição de viaturas amigas do ambiente, à medida que a frota da câmara for sendo substituída”, acrescenta Júlio Sousa. Ainda no domínio da mobilidade é incontornável o novo Passeio das Dunas, uma obra recentemente inaugurada na presença do primeiro-ministro, que apaga a memória do velho bairro da lata de Quarteira, desactivado há 20 anos. Uma reabilitação que trouxe um rosto moderno a uma zona que era de risco mas por onde agora passeiam famílias, a pé ou de bicicleta, por entre dunas e as pequenas exposições que por ali se vão fazendo. Um projecto que só terminará no cais de Vilamoura. Mais a Norte, destaque para a circular Vilamoura-Almancil. A Av. Papa Francisco abriu uma alternativa à circulação rodoviária até aqui só possível atravessando Quarteira. Melhorias também no eixo serra-litoral, na via que faz a ligação da N125 a Quarteira. A N396 recebe por esta altura obras de requalificação. “É uma ligação de pequena dimensão por agora mas o objectivo é trazê-la até à rotunda do Vila Sol e mais tarde até ao Aquashow. Baptizámo-la de Av. do Atlântico.” ¶


06 | Domingo, 31 JUL 2016 | Caderno Extra Loulé | Lazer & Cultura

F

oram quase quatro minutos, de suspense e receio natural, a descer até à cota -230. Duzentos metros abaixo das casas de Loulé, 30 metros abaixo do nível do mar. Aos quatro de cada vez, com o capacete dos mais altos a bater em cada descuido no tecto da gaiola a que chamam elevador, íamos chegando ao aos subterrâneos da mina de sal-gema. Nesse e no nível -2, ainda 33 metros para baixo, são mais de 40 quilómetros de galerias com a dimensão de túneis de metropolitano. Estendem-se sob a cidade por uma área superior a 1.200 campos de futebol. Fomos recebidos na “Casa da Mariquinhas”. Foi este o nome dado à sala que serve de escritório ao “primeiro piso” da mina, o nível -1, pelo humor e sarcasmo permanentes que encontrámos em cada um dos que trabalham naquelas profundezas. Esclarecem-nos a mina é explorada pela CUF, Grupo Mello, e a matéria-prima que dali sai destina-se a fins industriais – indústria quimíca, rações para animais, plásticos – e, pricipalmente, à utilização no degelo de ruas e estradas. Os maiores clientes são autarquias locais portuguesas e espanholas mas, um mercado emergente do sal-gema de Loulé começa a ser o das pedras de sal para a cozinha “gourmet”.

Lazer & Cultura | Caderno Extra Loulé | Domingo, 31 JUL 2016 | 07

O PIANO DE MÁRIO LAGINHA

TRILHOS PEDESTRES E CICLÁVEIS

Nas entranhas de Loulé

Anda que se faz tarde!

As minas de sal-gema de Wieliczka atraem mais de um milhão de visitantes por ano. Em Loulé as galerias subterrâneas ainda só se abriram a alguns eleitos

Ténis ou sapatos de caminhada. Aperte os atacadores se os tiver. Estique os músculos. Chapéu na cabeça. Talvez óculos escuros. Ah! E a garrafa de água! Em teoria, estamos prontos… Toca a andar!

É para leste da “Casa da Mariquinhas” que se estendem as galerias desse e do piso inferior porque, anos atrás, não era fácil a relação íntima que a “Mina da Campina de Cima”, assim se chama, mantinha com o casario da cidade que desce do Barrocal em direcção ao mar: a lei não a deixava distender-se à vontade por debaixo dele. A relação veio a tornar-se mais fácil: o casario foi autorizado a vir para cima da mina. Isto porque antes o sal era extraído à força de explosivos e alguns dos louletanos mais antigos ainda se recordam dos pequenos terramotos que faziam cair a loiça das prateleiras de suas casas. Hoje é explorado com a ajuda de “roçadoras” que não provocam esses estragos a céu aberto. Os “estragos” provocados no subsolo também não têm consequência de monta: estima-se que o veio de cloreto de sódio – que tem a provecta idade de 300 milhões de anos e é idêntico a um outro explorado numa mina de Barcelona – se estenda por mais de 500 metros em direcção ao centro da terra, o que dará ainda para 3.000 anos de exploração a bom ritmo. Terminadas as explicações saímos para tomar o caminho da galeria principal. Com uma extensão de 270 metros, liga as únicas “portas” da mina para o exterior: dois poços com a profundidade total de

São mais de 40 quilómetros de galerias que se estendem por debaixo da cidade

270 metros, que permitem a circulação do ar nos subterrâneos. Pelo “Poço 1” entra o ar que garante a ventilação, os mineiros, máquinas e equipamentos. Pelo segundo, a “Torre de Extracção”, sai o ar viciado, sugado para fora por potentes ventiladores, e a matéria prima que vai encontrar um tanque de lavagem logo que sai debaixo da terra. Por ali, guiados pelo Paulo Serra e os poucos metros de luz que nos dava a sua lâmpada de mineiro sempre acesa no capacete, seriam cerca de cem metros até ao “auditório” onde o Mário Laginha iria actuar. O caminhar era fácil e suave num chão plano acabado de ser atapeta-

do por sal de um branco imaculado que contrastava com as tonalidades ocres das paredes das galerias, enegrecidas pela poeira dos tempos. A temperatura era agradável: 22º constantes, 24 horas por dia, nos 364 ou 365 dias de cada ano. A meio do caminho passávamos pelas duas primeiras máquinas a “diesel” que trabalharam naqueles túneis – vindas directamente da construção da Ponte 25 de Abril que, com malfadado nome, tinha sido inaugurada em 1966 – quando alguém envolto na escuridão, pergunta: “Costumam aparecer muitos fantasmas por aqui?” “Não, só um. Eu!”, responde o Paulo, que é Encarregado na mina. Rimos com a resposta e a explicação que dá. “É essa a alcunha que os trabalhadores me deram. Dizem que, nos momentos mais inesperados, lhes apareço sempre vindo de onde menos esperam.” Iniciado o concerto, no auditório amplo a audiência de amantes de jazz e novas sensações quedou-se em êxtase com a música que tão bem se fazia ouvir naquele ambiente extravagante. O Mário Laginha improvisou no piano e na palavra: tocou como só ele sabe, finalizou com um seu tema dedicado a Carlos Paredes, com um título ali duplamente adequado – “Mãos na Parede” – e apresentou o programa do Festival Internacional de Jazz

de Loulé que, sob a sua direcção artística, iria ter início dentro de dias. O músico estava extasiado pelas condições acústicas que ali encontrou. E sentimentalmente tocado por, dias antes, ter descoberto que tinha sido o seu avô que, em 1963, vendeu a Quinta da Farrajota para, por baixo, se poder iniciar a exploração da “Mina da Campina de Cima”. Lá por a queda dos preços do sal e as estratégias empresariais terem atirado a produção das 120 mil toneladas /ano para as actuais seis/sete mil, a riqueza que Loulé guarda debaixo do solo, não deixa de ter um valor inestimável. Oxalá a saiba rentabilizar, seguindo o exemplo de Wieliczka. É de 3.500, chegando nalguns dias aos sete mil, o número médio de visitantes registado por estas minas polacas de sal-gema, classificadas pela UNESCO como Património da Humanidade. Só os ingressos nas galerias subterrâneas – de 12 a 20 euros por pessoa – representam uma receita diária superior a 50 mil euros. Contas feitas por alto, é este o valor que a cidade polaca – com quem Loulé tem um processo de geminação em curso – retira da sua mina. Que era de sal e agora de ouro, se considerarmos todos os rendimentos indirectos gerados por esta atracção turística, a fundação cultural mais procurada na Polónia. A.S.M. ¶

FOTO: JOSÉ SÉRGIO

Jazz “a bater no capacete”

Q

uatrocentos metros. Quando nos dizem que é essa a distância que devemos fazer a correr, a princípio rimo-nos. Mas chegados à Rocha da Pena, em Salir, o semblante muda de repente. Agora faz mais sentido o nome, Ultra. Ultra Trilhos Rocha da Pena, a 7 de Agosto, vai ser o trail mais quente do ano! Calma. Respire fundo. Apesar do nome, a actividade, promovida pelo Algarve Trail Running, está inserida num ambiente de convívio e familiar. E na verdade, sendo uma competição, se sentir que não está à altura da Rocha da Pena, pode sempre fazer parte da assistência e “atacar” a subida noutra altura, nem que seja a andar. A vista, do topo, é absolutamente fantástica! Se não é do tipo competitivo, Loulé continua a ser um destino obrigatório. Conhece o Ameixial? É uma pequena aldeia no interior do Algarve Central, na fronteira com o Alentejo. A Estrada Nacional 2, a nossa “Route 66” que liga Chaves a Faro, passa por lá. E é um dos pontos de intersecção do Walking Festival, que tradicionalmente em Abril atrai residentes e turistas a um peddy paper para fazer a andar e descobrir os vários pontos ligados à Escrita do Sudoeste, patente não nas estrelas, mas nas estelas (rochas com inscrições que herdaram a primeria escrita Ibérica, descendente dos fení-

cios). Os pequenos restaurantes locais e o pão feito localmente, que é exportado para todo o Algarve, são uma referência obrigatória. No Verão, época propensa a passeios, o calor poderá ser um bloqueio para alguns mas Loulé é um concelho rico em água. Parta à descoberta da Rota da Água. Está integrada na Via Algarviana, um enorme conjunto de Rotas Pedestres, para fazer a pé, de burro ou de bicicleta e que atravessa todo o Algarve. Entre tanto que há para descobrir, os cinco percursos da Rota da Água, numa extensão total de 130 km, são uma opção a considerar… para ir fazendo. Pode começar mesmo no centro da cidade de Loulé, com as Bicas Velhas. As quatro bicas de metal foram feitas, diz a História, a partir da fundição de um antigo sino da Igreja Matriz. A localização e estrutura da fonte actuais remontam a 1837. Esse poderá ser apenas o começo de um percurso fresco, em pleno Verão, que nos leva a visitar fontes, noras, tanques e aquedutos, nascentes e moinhos de água. Um dos locais obrigatórios, para quem não conhece, é a Fonte da Benémola. O sítio é classificado, tal como a Rocha da Pena, ambos áreas protegidas de conservação, devido à existência de flora pouco comum no Algarve e diversas espécies exclusivas de animais. O percurso pode

FOTO: JOSÉ SÉRGIO

Mário Laginha ficou entusiasmado com a acústica do “auditório” onde actuou

A Fonte da Benémola é um local de visita obrigatória para quem gosta de Natureza. Se tiver sorte, poderá ver lontras.

FOTO: JOSÉ SÉRGIO

Fonte da Benémola

até ser feito de carro, em terra batida, mas para melhor “beber” toda a riqueza não só da vegetação, como do património hidráulico existente, recomenda-se a caminhada. Se andar a pé, não se preocupe, o percurso total ronda apenas um quilómetro e vai poder ver o Moinho Velho, um pequeno moinho de rodízio hoje abandonado, com o respectivo tanque e nora. Um pouco mais à frente encontram-se as Nascentes da Várzea. As águas que as alimentam são de características diferentes e tinham, segundo os antigos, propriedades curativas. São elas as responsáveis pela abundância de água no Vale da Benémola, verde durante todo o ano. Ali quase ao lado, encontra-se a Fonte da Benémola, uma das nascentes mais famosas do barrocal algarvio. As suas águas estão hoje classificadas como minero-medicinais devido ao teor hipossalino com predominância de iões de cálcio e bicarbonato. Curiosamente, chegou mesmo a existir em 1932 um contrato de concessão para a exploração da nascente e futuro uso para tratamento de doentes reumáticos e do foro digestivo. O que acabou por nunca se concretizar. A Fonte da Benémola era em tempos idos local de peregrinação de doentes que se acomodavam em tendas, de modo a fazerem os seus tratamentos no local. Localizada no

seguimento da Ribeira dos Moinhos, praticamente seca no Verão, junta-se a sul do vale com a Ribeira da Tôr, mais adiante chamada Ribeira de Algibre. Mesmo sem a ajuda da Ribeira dos Moinhos, a Benémola mantém um fluxo de água constante que já os árabes conheciam e onde terá sido construído um primeiro sistema de captação de água. Protegida desde 1991, alberga um ecossistema único proporcionando vida à rica fauna aquática, tais como cágados, várias espécies de anfíbios, mas também a borboletas e libelinhas. Nas margens das ribeiras podemos observar um conjunto de espécies arbóreas e arbustivas pouco comuns noutras zonas do Algarve, como salgueiros, freixos e choupos. Entrelaçam posições com loendros, tamargueiras e canaviais. O cheirinho da vegetação mediterrânica característica do barrocal algarvio não deixa ninguém indiferente e convida a pequenas paragens para tocar o alecrim, o rosmaninho ou o medronheiro. Neste passeio mágico, apenas um de entre muitos que também se podem fazer de BTT, é obrigatório parar, escutar e olhar. É que entre a fauna, existem lontras, um dos animais aquáticos mais esquivos e por isso “cobiçados” pelos amantes da natureza. Ver uma lontra selvagem, ainda que possível, é algo bastante raro. M.L. ¶

FOTO: JOSÉ SÉRGIO

FOTO: JOSÉ SÉRGIO

Fazer a subida da Rocha da Pena não é para todos, pelo menos a correr…


08 | Domingo, 31 JUL 2016 | Caderno Extra Loulé | Lazer & Cultura

Lazer & Cultura | Caderno Extra Loulé | Domingo, 31 JUL 2016 | 09

HISTÓRIA, PRÉ-HISTÓRIA E CONTEMPORANEIDADE

TIME OUT

A cidade que já foi Al-‘Ulyà

The good vibes of Loulé Os milhares que se juntam nas ruas, a multiculturalidade que prevalece em eventos como o MED ou as Noites Brancas, colocam Loulé na rota das cidades cosmopolitas com movida, à escala da Europa

Animais pré-históricos e preceitos religiosos da ocupação árabe deixaram vestígios nas pedras de Loulé

I

magina-se a passar uma hora por dia num spa a custos reduzidos? No séc. XII não só era possível como obrigatório e as evidências estão em Loulé, o único lugar do País onde se podem visitar Banhos Islâmicos. A arquitectura é simples e pode ser facilmente reconstruída com o olhar: o chão sobrelevado mostra como o ar aquecido circulava e aquecia o pavimento. É tão fácil recriar os Hammam de Al-Úlyà (Banhos Turcos de Loulé) que quase ouvimos o chiar da água a cair no chão quente enchendo a sala de vapor. O bom estado de conservação das ruínas permite-nos ver a fornalha, o hipocausto (estrutura subterrânea ligada à fornalha que difunde o ar quente) e três salas: a quente, a tépida e a fria, denominador comum do sistema. Em Loulé, somam-se gabinetes para tratamentos e duas piscinas. O achado ficou ligado ao início do MED, o Festival que coloca a cultura do mundo em cartaz, pela necessidade de criar uma casa de apoio à organização. Isabel Luzia, arqueóloga há mais de 20 anos, sabe bem o tesouro que Loulé encerra: “No dia mais forte do MED, em seis horas recebemos 2002 pessoas. No mais fraco, 920! Com escavações a decorrer, chegam a entrar cerca de mil pessoas por dia.” Obras recentes de requalificação na zona continuaram a pôr os banhos a nú. “Descobrimos aquilo que seria a zona do vestíbulo. Canalizações que separavam as águas limpas das sujas e até uma latrina! Aqui, bem à superfície – guia-nos Isabel pelo entusiasmo da arqueologia – é a parede interna de uma piscina interior, que seria a fase final dos tratamentos.” E acrescenta valorizando a obra de engenharia: “É impressionante ver como uma civilização com pouquíssimos recursos, chega à Península Ibérica e aproveita o declive da encosta, a existência de água. A canalização dentro das paredes, o sistema de chaminés com efeito exaustor, o chão radiante, é notável!” Mais descobertas poderão ser feitas para aferir da história de Loulé-islâmico. As escavações serão retomadas a partir de Agosto. “Tio-avô” da salamandra morou em Loulé Em matéria de escavações pré-jurássicas, 2013 foi o ano em que se

abriu a página do período Triásico em Portugal. Octávio Mateus, 41 anos, é um dos contadores. Na véspera de ir para a inóspita Gronelândia, onde já assinou a descoberta do Fitossauro (réptil marinho), o paleontólogo recorda o dia em que descobriu uma nova espécie de anfíbio, o Metopossaurus algarvensis, um “tio-avô” longínquo da salamandra. “Esta é das descobertas mais importantes da minha vida. Trata-se de uma camada de ossos, num só local, com pelo menos nove anfíbios, crânios completos, ossos articulados, o que é extremamente raro em paleontologia e em termos internacionais.” Estávamos em 2015 mas o trabalho de campo do grupo internacional de cientistas começou em 2009. Desde aí o trabalho de laboratório tem sido intenso, no Museu da Lourinhã e na Faculdade de Ciências e Tecnologia da UNL, onde se encontram os fósseis. “Aguardamos validar algumas conclusões para só depois divulgar o potencial das novas descobertas.” Aguardam também as escavações, até para o ano, mas está desde já nas enciclopédias do mundo a descoberta daqueles que já eram fósseis quando os dinossauros da Lourinhã passearam por Portugal, há 150 milhões de anos. Perante o Metopossaurus algarvensis, voraz predador com dois metros de comprimento e uns “modestos” 100 quilos, o T-rex fica-nos a parecer algo recente, ainda que extinto há 60 milhões de anos. Guten Morgen ou Bonjour Para quem quiser testemunhar outros tempos da nossa História, basta seguir pelo labirinto das ruas medievais de Loulé. É aconselhável atravessar o Mercado Municipal e perceber a qualidade dos frutos secos e dos frescos. A laranja, a batata doce, as azeitonas temperadas e as compotas, o peixe e o marisco. Os comerciantes trazem nos olhos a alegria do Carnaval e na pele a cultura da cidade que move milhares por altura da Festa da Mãe Soberana. O momento apoteótico acontece quando a santa padroeira regressa em procissão à Ermida, no alto de um cerro, carregada aos ombros dos Homens do Andor, já homenageados em escultura, na rua da Nossa Srª da Piedade. O mercado, de inspiração árabe, é um concelho inteiro com as suas dife-

FOTO: JOSÉ SÉRGIO

A Escrita do Sudoeste, herdada dos fenícios não foi ainda decifrada mas está ao alcance da vista em Loulé renças harmonizadas. Mais de um século depois da inauguração, diminuiram os pregões mas multiplicaram-se as nacionalidades. Ouve-se o português, o inglês, mas também francês e alemão. A D. Fernanda reformou-se aos 75 anos mas, sempre que as amigas a chamam vem abrir-lhes a banca. Como aconteceu hoje. Em vez de fruta e hortaliças apregoa o miolo de amêndoa e o queijo de figo. A banca não é sua, mas o gosto pela vida no Mercado ninguém lho tira. Lá fora, os toldos coloridos colocados no topo das ruas estreitas abrigam-nos do calor e mostram-nos o caminho. As lojas de recordações e os cafés reinventados convidam a entrar. Refrescam-nos galerias e igrejas. Chegamos à alcaidaria do Castelo que acolhe o Museu Municipal. Salir, Benafim e Ameixial, freguesias do interior de Loulé, também aqui estão representadas. Foi de lá que vieram as estelas que falam da escrita adaptada do fenício, anterior ao latim. A “escrita do Sudoeste” viajou da Idade do Ferro até à actualidade em grandes blocos de pedra e só no concelho foram recolhidas 10 estelas. Uma das quatro expostas no Museu de Loulé (grauvaque), pesa mais de 400 quilos. As restantes podem ser vistas em Salir, no Museu de Faro e no Museu Nacional de Arqueologia, Lisboa. Indecifráveis, todas nos falam do mesmo, de pedaços de História brilhantes, escritos ao Sul. M.L. ¶

O

Festival do Mediterrâneo coroa esta evidência. A massa de visitantes provinda de todo o Algarve encheu recentemente as artérias da cidade e colocou vários idiomas a circular. No centro histórico o público foi constantemente surpreendido por performances, teatro, música, e até por património imaterial: o cante alentejano. Uma banda surpreendeu dando música a partir de um telhado, à temperatura morna das noites que o Algarve oferece. Música dos quatro cantos do mundo, servida por oito palcos em 55 concertos, Dieta Mediterrânica, chefes e degustações, artesanato e exposições. Em 2004 foram cinco os dias dedicados aos países do Magrebe. Hoje, depois de limadas as arestas, a viagem à volta do mundo faz-se em três. A edição deste ano foi um triunfo partilhado por público, músicos, restauração, artesanato, artes,

hotelaria e organização. O MED consolidou-se como peça-chave na estratégia turístico-cultural de Loulé. Com mais histórico, o Jazz. Vinte e dois anos de Festival Internacional já trouxeram a Loulé nomes sonantes deste e do outro lado do Atlântico. Com direcção artística de Mário Laginha e organização da Casa da Cultura, a pauta deste ano incluiu os mais novos e o cinema. "Ascensor para o Cadafalso" de Louis Malle, com banda sonora de Miles Davis foi exibido no Cine-Teatro numa parceria com o Cineclube de Faro e Universidade do Algarve. Ao longo de três dias, as sonoridades jazzísticas sobem ao palco da Alcaidaria do Castelo. Ainda vai a tempo de ouvir o Trio Jazz de Loulé, a partir das 21h30 deste Domingo. Magia branca Poderia ter sido retirada do esplendor dos grandes musicais de FOTO: DR

FOTO: JOSÉ SÉRGIO

Toldo coloridos colocados no topo de ruas estreitas

Mbongwana Star, uma estreia em Portugal que veio do Congo para o MED 2016

Hollywood, com uma pitada de Carmen Miranda. A Noite Branca de Loulé atingiu um patamar de glamour reconhecido na região e por todos os que a experienciaram. Para começar, cidade e visitantes vestem-se de branco e, num golpe de magia, a alegria toma conta. Acompanham a qualidade artística e musical assegurada por mais de 30 artistas. As lojas da baixa abrem portas noite dentro num convite à dinamização comercial, com descontos especiais para quem entre de branco vestido. Pontuada por malabaristas, cuspidores de fogo, homens-estátua, mágicos e muito improviso, a Noite Branca transforma Loulé num dos mais importantes palcos de eventos no final de cada Agosto, agora, de dois em dois anos para que não esmoreça o encanto da noite mais clara da cidade. Em ano “não”, da Noite Branca, Loulé recebe em Agosto uma das mais sonantes vozes portuguesas. Mariza actuará no próximo dia 15 no palco montado junto ao Monumento a Duarte Pacheco. Outros ritmos ouvem-se à beira mar. Sucedem-se os eventos musicais e de animação em locais tão in como Vilamoura. A presença de Black Coffee é disso exemplo. O sul-africano que dá novos tempos ao deep-house promete uma noite em cheio, no próximo Sábado. Uma volta pela animação do concelho que só fica completa com o regresso às origens. Salir do Tempo é o certame que leva milhares de pessoas ao interior, 15 quilómetros a Norte de Loulé. O Castelo de Salir dá o mote, já que foi ponto de encontro escolhido por D. Paio Peres Correia para aguardar por D. Afonso III e, juntos, tomarem o Algarve aos mouros. Hoje não há mortos nem feridos, o desafio é pacífico, basta circular por entre mouros e cristãos, nobres e populares, mendigos e representantes do clero, bobos da corte e guerreiros. Bailarinas de dança do ventre e cuspidores de fogo. A atmosfera da reconquista cristã serve-se também dos suculentos sabores da serra: o pão de torresmo, os enchidos e o queijo, o vinho ou a cerveja fresca, entremeada com a visita aos animais, da falcoaria aos dromedários que fazem sempre as delícias das crianças, as pequenas e não só. ¶

FOTO: DR

A magia branca que acontece em Loulé, de dois em dois anos.


10 | Domingo, 31 JUL 2016 | Caderno Extra Loulé | Lazer & Cultura

Lazer & Cultura | Caderno Extra Loulé | Domingo, 31 JUL 2016 | 11

LITERATURA

HOMENAGEM MUNICIPAL A LÍDIA JORGE

“Façam deste um lugar de transfiguração”

Fundação Manuel Viegas Guerreiro

Não é todos os dias que se recebe homenagens. E ainda que para Lídia Jorge já seja uma de entre várias, esta teve um sabor especial. O seu talento e carreira moveram e comoveram o Presidente da República, que aceitou o “irresistível” convite de entregar o prémio municipal maior à escritora

Querença é sinónimo de acto ou efeito de querer, de amizade ou amor. Neste caso de amor pela palavra dita e escrita: poesia e prosa

É

Lídia junta-se aos louletanos nas páginas da vida

O reconhecimento da personalidade e obra com a família por perto

o mais elevado galardão municipal. Lídia Jorge atravessou a plateia do Cine Teatro no passado dia 21, ao lado do Presidente da República e ao som das palmas de uma assistência vibrante com o reconhecimento da escritora da terra e com a primeira visita de Marcelo Rebelo de Sousa ao concelho, enquanto chefe de Estado. “É chegado o tempo da escritora Lídia Jorge e da atribuição da Medalha de Honra do Município porque, se não o fizéssemos, Loulé não seria merecedor de ter no seu seio esse valor humano que em Lídia Jorge se reconhece inteiramente.” As primeiras palavras foram as de Vitor Aleixo, autarca anfitrião que não perdeu a oportunidade para alertar para o risco da exploração de gás e petróleo no Algarve, matéria que na rua ganhava eco através de cerca de uma centena de manifestantes. Lídia Jorge acabaria por juntar a sua à voz do autarca, colhendo o apoio da assistência. Já Marcelo Rebelo de Sousa, quando interpelado à entrada do edifício, comentou que face à descida do preço do barril, o risco de haver exploração de petró-

Deixo aqui estas palavras de louvor e homenagem à grande escritora Lídia Jorge, a que descobriu prodígios e ouviu murmúrios, e que constrói nos seus livros um mundo fascinante e complexo, enorme “jardim de caminhos que se bifurcam” ou aberta alameda de histórias e de falas, vinda de quem sabe ouvir os silenciados e dar voz aos humildes da terra. Obrigado, Lídia Jorge, pela obra admirável que deu e continua a dar à Literatura Portuguesa. “” LUÍS FILIPE CASTRO MENDES

Ministro da Cultura

Perto de 300 pessoas assistiram à distinção da escritora louletana

Quando, no Verão de 2013, Lídia Jorge foi considerada uma das “10 grandes vozes da literatura estrangeira” pelo Magazine Littéraire, a revista francesa usava o termo “voz” no sentido habitual de “autoria” ou “personalidade”, mas talvez indicasse também a importância das várias vozes nos textos da nossa romancista. É preciso lembrar que a voz de Lídia Jorge tem procurado sempre a voz das mulheres, e as mulheres são com frequência protagonistas destes casos narrados, rasurados, opacos. Isso é verdade nos romances histórico-trágicos, por assim dizer, mas também noutros que têm sobretudo uma feição crítica e quase diria satírica, romances sobre a chamada “mentira social”, nomeadamente a violência, a corrupção, a desmemória, a subjugação do outro, e as muitas aparências que, como lhes compete, iludem. Ao estilo de escrita de Lídia Jorge já chamaram «manuelino», pela capacidade de aglutinar criativamente diversos motivos. Muitos motivos vêem de África, de Lisboa, do mundo inteiro, mas muitos são desta região, deste concelho, desta terra, aquela a que tem a honra de pertencer, aquela que se honra com essa pertença. “” MARCELO REBELO DE SOUSA

Presidente da República

leo no Algarve nos próximos 10, 20, 30 anos era como o de ele próprio ir à Lua, admitindo no entanto essa possibilidade. O ponto alto da cerimónia viria a ocorrer mais tarde, quando Lídia Jorge ergueu a Medalha de Honra do Município de Loulé, compartilhando o momento com todos os que testemunharam a sua distinção. Aproveitando o painel presente, a romancista apelou à criação de uma equipa de “embaixadores” da leitura. “Dir-se-ia pois que nesta sala está constituída uma task force natural para reforçar o plano de leitura e uma outra proximidade com os livros nesta região. Um plano de reforço que não precisaria de ser vistoso. Precisaria de ser envolvente e integrado, persistente e criterioso.” No final do agradecimento, deixou a semente: “Desejo em nome do amor que tenho por esta terra, que os jovens criadores de hoje, os que virão a seguir, façam deste território, um lugar de transfiguração. Aquilo que só a arte pode fazer: criar uma nova mitologia e assim se alargar a geografia do mundo.” Digno de reparo de Marcelo Re-

belo de Sousa, o gesto de Lídia Jorge de partilhar o seu galardão com o seu “companheiro de viagem”, o jornalista Carlos Albino, outro filho da terra. “Só os verdadeiros grandes do mundo são humildes. Há depoimentos que têm que ser feitos em certos momentos e em certos lugares. Só poderia ter sido este.” A humildade e a simplicidade da escritora foram de resto nota dominante do discurso de Marcelo Rebelo de Sousa que justificou a sua presença com o “imperativo categórico” de Kant, com um sentido de justiça e com uma intuição: “a intuição de que poderia viver mais um momento singular, não porque era a homenagem dos grandes no mundo mas, porque era a homenagem dos grandes da sua terra” – e explicou – “Se tivesse que escolher dos galardões que recebi na minha vida, teria escolhido a Medalha de Honra de Celorico de Basto”. O Presidente da República frisou a distinção em Loulé. “A gratidão dos louletanos por alguém que nunca deixou de ser fiel às suas raízes, a Boliqueime e Loulé e que, por causa delas, falou e escreveu para o mundo.” ¶

E

m Agosto serão três dias de literatura. Dias de conversas pelo universo das letras, de obras apresentadas ao cair da tarde. Em Querença, no I Festival de Literatura da Fundação Manuel Viegas Guerreiro. O programa inclui espectáculos de música e de dança, exposições e feira do livro. A rematar também haverá degustações da rica gastronomia local. O evento responde ao desiderato dos organizadores: a promoção da cultura do Algarve. Também pólo de investigação para o desenvolvimento social e económico da região, a Fundação que tem a sede em Querença, a apenas 10 quilómetros a norte de Loulé, disponibiliza uma biblioteca e um auditório com capacidade para 132 pessoas, destinado à realização de seminários e eventos culturais como este. Com uma envolvente paisagística que alcança o Atlântico, o palco do I Festival Literário de Querença irá atravessar os pátios que compõem a arquitectura moderna e funcional da Fundação e alcançar o Largo da Igreja, o Museu da Água, os cafés e restaurantes, convocando todos, os de Querença e os de fora, escritores, instituições regionais e anónimos, a partilharem a cultura. A palavra a Luís Guerreiro, presidente da Fundação: “Será um encontro de poetas no auditório, cerca de 12 entre portugueses e espanhóis, leitura de poemas e apresentação pública de livros no jardim sensorial da Fundação e, também associado ao Festival de Literatura, a gastronomia, tapas e petiscos portugueses e espanhóis, além de todos os restaurantes estarem a funcionar. Aliás, Querença, aldeia típica do concelho de Loulé, ficou conhecida a nível nacional pela sua gastronomia.” No topo do bolo, a cerejinha. Todos os anos o Festival de Literatura irá homenagear um escritor. A estreia acontece com a presença do poeta Casimiro de Brito, filho da terra, que narra os tempos de criança em que várias vezes ouviu as quadras de Aleixo, ditas pelo próprio, enquanto sentado ao seu colo. Uma exposição da vida e obra, com títulos raros, manuscritos do vulto da poesia contemporânea e várias homenagens decorrerão ao longo do segundo dia do encontro. O jornalista Carlos Albino, outro filho da terra, participou das conver-

Ao entardecer regressa a poesia... sas que fermentaram a indicação do nome daquela que seria a primeira personalidade literária convidada. Casimiro de Brito? Não poderia ser outro. “Os caboucos do movimento literário personificado no grupo Poesia 61 foram lançados por ele na sua terra Natal, num suplemento do jornal local (o Prisma de Cristal), caboucos que teriam definitivo desenvolvimento nos Cadernos do Meio-Dia que Casimiro de Brito fundou e dirigiu com António Ramos Rosa. Julgo que com as várias e recentes reaproximações de Casimiro de Brito à sua terra, ele volta a sentir-se sentado nos joelhos de António Aleixo.”

Parte da exposição da vida e obra de Casimiro de Brito tornar-se-á itinerante, com o apoio da Direcção Regional da Cultura do Algarve e irá ao encontro dos alunos de Loulé. O Festival vai também dar eco do Centenário da Morte de Miguel de Cervantes, com uma exposição dos livros do autor de D. Quixote. O diálogo será contínuo no primeiro fim-de-semana de Agosto, salpicado por poemas impressos e expostos pelas travessas de Querença, onde não vai faltar animação de rua, flamenco, jazz e um cair de tarde distinto da oferta do Algarve. M.L. ¶

“A cultura é só uma: tudo o que aprendemos do nascer ao morrer, da nossa invenção ou alheia, sentados nos bancos da escola ou da vida.” Manuel Viegas Guerreiro


12 | Domingo, 31 JUL 2016 | Caderno Extra Loulé | Lazer & Cultura

Lazer & Cultura | Caderno Extra Loulé | Domingo, 31 JUL 2016 | 13

LÍDIA JORGE, TECEDEIRA DE PALAVRAS

A Cavalgada do Tigre

Lídia Jorge junto da escada do seu avô Miguel.

FOTO: JOSÉ SÉRGIO

Figura mágica da literatura portuguesa contemporânea, Lídia Jorge descreve o Algarve como um tapete estendido ao mundo onde não são bem-vindos os interesses petrolíferos. Pede uma nova cartilha para o planeta. Revela o Capricórnio que ascende à Nação e abre o livro de memórias. Numa conversa intimista põe tudo em pratos limpos mas admite que muito fica por dizer

Na sessão fotográfica, comentou: “Eu faço tudo o que me dizem.” Sempre foi obediente? Não, só uma obediência funcional, para economizar esforços. Eu era uma rebelde controlada, muito ousada mas tinha a noção do abismo. Fui até muito perto em todos os domínios mas depois voltava para trás porque tinha a noção de que era fatal. Quem é a Lídia quando não está a ler ou a escrever? Gosta de cozinhar? Quando muito, gosto de arrumar cozinhas, arrumar coisas. Digo: “cozinhem à vontade que eu depois vou sozinha e arrumo.” Dá-me um bom sentimento perceber que as pessoas ficam a falar em conjunto enquanto ponho as coisas em ordem. E como é a relação com a sua neta? Vive em Edimburgo. Se não tivesse outra razão para viver, ela seria uma. Fez agora 7 anos e lê, escreve, desenha, dança… é um encanto de menina. Tenho pouco contacto com ela, mas estou descansada porque a outra avó é uma avó completa, como nunca conseguirei ser. Espero dar-lhe em intensidade aquilo que não dou em tempo. Quando ela vem, fecho tudo para estar com ela. Eu queria passar-lhe… queria passar-lhe uma mensagem… mas não sei se consigo. Vamos ver! Como é que é para si ensinar a escrever? Interessa-lhe? Acredito que há uma parte técnica que se pode passar, mas acho que o fundamental está no facto de se dar as obras adequadas aos leitores adequados que querem escrever. Eu acho que se escreve sempre por prolongamento. A Lídia será o prolongamento de que escritores? Bom, costumam fazer-me uma pergunta diferente, que é, quem admiro? Admiro muito Virginia Wolf mas não escrevo como ela, não tenho o talento que ela tem naquele sentido. Sou mais próxima na escrita de uma escritora catalã, Mercé Redoreda que escreveu a Praça do Diamante ou da também catalã Carmen de la Foret que escreveu Nada. Elas colocam um saber fazer da escrita em torno de uma experiência humana que não é literária. Virgínia Wolf dizia que a essência do literário não é literária, é humana, é a vivência. Eu escolho duas perspectivas que são arriscadas no tempo que

corre, mas que são as minhas. Uma que é a de escrever sobre o factor humano, uma espécie de intervalo que existe entre o nosso sonho de amor e a frustração do amor. Falar dessa perplexidade grande, de por que razão as duas coisas não se encontram e que é a tragédia da Humanidade. A outra perspectiva é falar sempre com a História do País à vista. Interessa-me muito a Portugalidade. O nosso país é misterioso, é difícil. Somos muito orgulhosos e muito resistentes. Talvez sejamos do signo do Capricórnio: rudes no primeiro trato, circunspectos, omissos, escondidos, com medo de aparecer mas, resistentes e estóicos. Mostrando que está sempre tudo bem e não está bem. Debaixo dos tapetes estão estórias enormes e por isso parecemos de brandos costumes e não somos. Por falar em Portugalidade, assistiu aos jogos de Portugal no Euro? Sim, assisti (risos). Como viveu os jogos? Com uma emoção extraordinária. Quando assisti ao primeiro jogo, com um empate, aliás numa noite muito especial, com vários amigos a jantar, em que entre eles estava o Eduardo Lourenço e ele dizia: “Isto é o nosso Alcácer Quibir!”. Porque ele achava, e eu também, que iríamos ganhar por 5-0 à Islândia... e aquilo significou uma derrota. No jogo frente à Croácia, ouvi o relato do jogo enquanto comprava plantas e quando percebi que tínhamos empatado, chorei, de alegria! Há uma espécie de ethos incontrolável, de pertença. Nós pertencemos! É muito curioso ver as reacções dos portugueses. Muitos disseram: isto não se repetirá, deixem-me ter alegria hoje. É muito comovente, porque mostra a nossa carência, somos carentes de êxito e de reconhecimento no mundo. Há cinco séculos fomos alguém e depois passámos cinco séculos a perder em prestígio, em dinheiro, em posição no mundo. Nós somos feitos desta carga. Tive pena de não estar em Lisboa, teria ido para a rua. Qual a sua relação com as novas tecnologias? São meios portentosos. Há um grupo de leitores que dá eco aos meus livros através desses meios e sobretudo na parte da internacionalização é muito importante. Mas eu não consigo mostrar o meu dia-a-dia, dizer olá a todas as pessoas ao mesmo tempo. Assusta-me essa dimensão

que se torna anónima. Preciso de ver os olhos das pessoas. Obras como Alice no País das Maravilhas, A Dama das Camélias e A Cabana do Pai Tomás fizeram parte da sua biblioteca de menina. Que influência tiveram no seu estilo narrativo? A Cabana do Pai Tomás foi um livro que me marcou profundamente. Deveria ter uns 13/14 anos quando o li pela primeira vez e percebi uma coisa interessante: na literatura, não existe cor na pele. Quando cheguei ao final, sabia que havia pessoas que ajudavam e outras não, desvalidos, pobres, miseráveis, quem tinha e quem não tinha mas, não tinha noção da cor das pessoas. Vi depois uma edição que tinha o Pai Tomás desenhado e outras figuras, e percebi que havia uma diferença. Percebi que a literatura remete para uma dimensão dos humanos em que a parte física é o que menos conta. É o fluxo interior que conta. A literatura diz que somos todos da mesma etnia. Há uma espécie de revolta que a impeliu para a escrita? Era mais justiça do que revolta. Claro que justiça tem uma componente de revolta, voltar contra aquilo que está a correr. Mas a revolta impele ao movimento imediato. E eu tinha a ideia que a transformação era lenta, que exigia um compasso. Aqui, havia comerciantes que tinham duas balanças. Uma para pesar o que vendiam, outra para pesar o que compravam… e os meus colegas… os que se sentiam predestinados para serem pobres e aceitavam! Dentro dos cestos, uma vez o pai ou a mãe pôs pão muito branco. E ele disse: “Ah, este pão não é meu”. Era, mas ele achava que era demasiado bom para ser dele… Que idade tinha quando começou a ler? Com 5 anos. Aprendi em casa com a minha mãe. Ela lia-me estórias em

voz alta e um dia disse-me: “Olha já sabes ler!” Eu tinha a sorte de ter livros em casa, num ambiente em volta que era muito estéril do ponto de vista cultural. Tinha um bisavô que deixou uma pequena biblioteca, que foi o fermento. Aqui lia-se em voz alta, mas na maioria das casas não havia livros, nem havia papel! O único papel era os cartuchos do açúcar, da massa, do feijão. Era uma cultura antes do papel. Lembro-me de uma senhora que sabia romances populares de cor. Mostrou-me uma cultura milenar. Os livros não existiam, estavam dentro da cabeça. Já disse sobre Lisboa que é labiríntica e secreta. E o Algarve, o que é? É um tapete. No bom e no mau sentido mas apetece-me dizer o bem. Ao menos que não toquem nele! Não me apetece dizer que destruam as casas que foram fruto da especulação imobiliária, agora que está tudo em perigo. Não concebo como se vendeu isto às petrolíferas, longe de nós de forma manhosa ou escondida. Assistimos aos consórcios em marcha entre os Estados Unidos e a União Europeia, o célebre TTIP, tratados e sociedades empresariais estatais e intercontinentais que vão ignorar por completo a opinião dos cidadãos para fazerem só trade, só negócio. Mas atenção, porque o mar e o solo são das populações. O País é uma porta, e o Algarve é o tapete que diz Welcome. É onde estão pessoas dispostas a abrir a casa, a partilhar o mar e um dos sítios mais extraordinários da Humanidade que é o Promontório de Sagres. Isto é único. Todas as crianças da Europa deveriam ver Sagres sem luz eléctrica e perceber o que aqui aconteceu há 500 anos atrás. Qual a probabilidade de as vivências no Algarve não fazerem parte de uma obra sua?

“A mulher do mundo que nasceu no campo” Escreve os sonhos e os ódios, os santos sem Deus, os heróis sem pátria e os amantes sem amor. O memorável e o futuro. Natural de Boliqueime, Algarve, estudou Filologia Românica na Universidade de Lisboa. Foi professora em Lisboa, Angola e Moçambique mas sempre à espera dos intervalos, da hora do almoço, para escrever, essa natureza que a move e que a “assaltou” na adolescência. Que a leva à descoberta das coisas que não conhece através da escrita, para encontrar novos sentidos ou para ser surpreendida com mais um inusitado atalho que se revela. Romances, antologias de contos, duas peças de teatro e muita

escrita, para além de 30 anos de caminho interior, muitos traduzidos em 20 línguas. Com obra reconhecida na atribuição dos principais prémios nacionais, a escritora já recebeu a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique. Foi primeira na estreia do Prémio de Literatura Albatros da Fundação Günter Grass. Conquistou o Prémio Latinidade. Num compasso de espera que considera necessário, opta pela “honestidade com o seu tempo” para ter reconhecimento maior. Gosta das árvores, do Sol, da noite, do mar. Perto dele, nasce a cada romper do dia. E depois há o bem maior, o belo, a partilha… Lídia Jorge.

Nenhuma. Haverá sempre pedaços que dirão: “Olha, esta mulher passou por aqui”. A Costa dos Murmúrios ganhou outro volume por ter sido adaptado para cinema? Sim, tenho de fazer um grande esforço para ver que a Eva Lopo tomou o rosto da Beatriz Batarda, um rosto tão forte e tão lindo. Não consigo descolar mas é bom. De facto, noutros livros vejo as personagens com um rosto menos nítido. Foi diferente, o sentimento em relação à adaptação de O Dia dos Prodígios? Foi muito belo, muito impressivo. Cucha Carvalheiro criou uma obra de uma beleza extraordinária e Os Memoráveis nasceram por causa dessa peça. No meu livro não há nenhuma Grândola mas ela resolveu introduzir na peça. Em 2014 lança Os Memoráveis. Pergunto: quem são hoje as suas pessoas memoráveis? Os memoráveis são aqueles que ficam a indicar-nos um caminho. Posso ir para clichés, como o Nelson Mandela ou o Salgueiro Maia, ou um homem que admirei como político que foi o Mário Soares. A minha avó Maria das Dores por tanto que me ensinou. O meu avô Jorge, um homem memorável apesar de no final da vida não se contentar com a sua terra que era quadrada, e as suas terras já eram quase redondas porque ia lavrar na terra dos outros. Acontece muito às pessoas que têm idade e não querem perder o seu território… São figuras marcantes, que são dignas de memória. Que memórias guarda da exposição em Loulé, há cinco anos, a propósito dos 30 anos da publicação de O Dia dos Prodígios? Gostei muito, fiquei surpreendida. Ainda foi para Paris, esteve em La Cité e isso foi muito bom mas em Loulé, naquele espaço, foi tornar grande e sério “O Dia dos Prodígios”, o que eu nunca vou esquecer. Agradeço muito ao Município e a todos os intervenientes, todos muito cuidadosos. Foi também uma homenagem a uma população que representa O Dia dos Prodígios. Ainda hoje me comove pensar nisso (pausa). Foi muito belo. E o que significa a atribuição da Medalha de Honra do Município de Loulé? Significa que o Município e os munícipes de Loulé sabem que eu nunca fui infiel a Loulé e ao Algarve, que nunca tive medo de dizer que nasci no Algarve e que escrevo com os torrões e as ondas do Algarve. Nunca a questão da dimensão exterior me privou de afirmar esta raiz muito forte. A sua obra permite fazer uma leitura das mudanças de paradigma em Portugal e no mundo. Como encara as mais recentes? A problemática dos refugiados, os atentados…

No “estúdio” onde trabalha no Algarve, de onde se pode ascender à açoteia. FOTO: JOSÉ SÉRGIO

Nós estamos a cavalgar o Tigre. Temos acesso aos transvases e percebe-se que existe uma armadilha a nível internacional. Há uma Terceira Guerra Mundial larvar e ela é filha das novas tecnologias. Há chefias que estão no deserto mas que comandam o que está a acontecer na Europa. Acho que estamos a caminho de emendar a mão, não sei se vamos a tempo. Basta vermos o que aconteceu na guerra do Iraque, há 11 anos. Estamos conscientes de que essa guerra foi forjada e que criou tudo o que está a acontecer. As pessoas estão aí. Então digam-me se, sabendo isto, não é possível criar uma nova cartilha? Acho que há necessidade de um novo mundo. Considera possível com interesses económicos tão elevados? Nós temos de falar! As associações de cidadãos que não têm mais nada para arriscar senão a sua pele... Temos a família e a nossa vida. Arriscamos tudo, mas não temos nenhum negócio escondido. As pessoas que são assim devem dar as mãos em nome do futuro. Tendo em conta o seu distanciamento do “tempo medido”, co-

mo se relaciona com a sua idade? A idade é um grande presente que se dilata permanentemente na nossa memória. É como se fosse à janela. Lembro-me perfeitamente da fotografia que tirei no meu triciclo, de quando a minha mãe me levou aqui ao lado para ver o nevoeiro. Eu devia ter dois anos e meio. Isso é presente, isso é hoje. Pouco me importo com os anos. O instante é o mais importante? Não. É a memória de muitos, cumulativos. Isso é o mais importante. Lembrar é juntar o passado com o futuro. Nunca é estar no passado. Olho e gosto da criança que fui e também da adolescente que fui. Vejo outros que estão aí e que são como eu. Quando um dia fechar os olhos, ficarão a fazer o que eu fiz noutro mundo, para outro mundo. Não tenho nada a lamentar. Tenho maturidade, interpreto, tenho opinião, prevejo o que vai acontecer, posso avisar. Este é o meu tempo e interesso-me por ele por inteiro. Até fechar os olhos vai sempre retornar ao Algarve? Espero que mesmo depois de fechar os olhos. M.M. ¶


14 | Domingo, 31 JUL 2016 | Caderno Extra Loulé | Município

Município | Caderno Extra Loulé | Domingo, 31 JUL 2016 | 15

ENTREVISTA

Vítor Aleixo, presidente da câmara de Loulé Convenceu o Presidente da República a vir até Loulé para prestar homenagem a uma filha da terra... Não foi bem convencê-lo.Tínhamos decidido distinguir a escritora Lídia Jorge com a maior distinção que o município atribui aos seus filhos, mas a nossa conterrânea não podia receber essa homenagem no Dia da Cidade. Tinha um compromisso numa universidade alemã. Foi por isso necessário agendar a cerimónia para outra ocasião e num encontro fortuito entre um director municipal e alguém da Presidência o convite foi feito. Para grande alegria nossa, o Professor Marcelo aceitou vir a Loulé presidir à cerimónia. Naturalmente, que ficámos muito felizes. Há outros filhos desta terra, como o Duarte Pacheco que os portugueses guardam na memória. Estranhamante o engenheiro que projectou Lisboa para a modernidade não deixou aqui marca visível, além da estátua que lhe levantaram... Bom, o monumento é um dos ex-libris da cidade que maior notoriedade exterior lhe confere e é uma incontornável homenagem que está prestada. E muito bem. Relativamente à ausência da marca pessoal na terra que o viu nascer é preciso ver que tendo ido estudar para Lisboa, a sua vida foi sempre por lá e lá morreu, ainda jovem, provavelmente sem ter tido tempo de dar a sua atenção a Loulé. Mas também poderá ter sido vítima de uma outra circunstância: ele era um homem que via muito longe, era um visionário e com uma capacidade de realização extraordinária. Mas Loulé, naquele tempo, era pequeno para o talento e a grandeza do Duarte Pacheco. Em dimensão? Sobretudo em relação à mentalidade. Porque sabemos que eram tempos fechados, de Portugal pobre e subdesenvolvido não só materialmente como até em termos culturais. Era a Loulé da tia Anica… Da tia Anica (sorriso aberto), da estratificação social fortemente marcada na consciência do dia-a-dia dos seus cidadãos. E o engenheiro Duarte Pacheco transcendia e estava muito para além dessa realidade, do seu torrão natal. Especula-se até, que se desenvolveu um relacionamento de Duarte Pacheco com a elite local louletana que não foi fácil nalgumas situações.

FOTO: JOSÉ SÉRGIO

O avô deixou-lhe um património riquíssimo que muitos, porque o desconhecem, não chegam a invejar: o amor pela cultura e as artes, que tem norteado a sua acção na presidência do município de Loulé

Era essa elite e a sua mentalidade retrógrada que o poeta António Aleixo tanto gostava de fustigar. O legado deste seu avô marca claramente a ênfase que na condução de política autárquica atribui aos valores da cultura e arte... Estamos de facto muito envolvidos nesses domínios, que para nós são estratégicos. Repare que essa nossa orientação é estratégica, porque num contexto de crise e num município que, apesar de algarvio, está um pouco encrustado no barrocal e na serra, com problemas de falta de dinamismo económico e social, a reabilitação e a disponibilização ao público do nosso legado histórico material e imaterial, quando recuperado e estudado é muito importante até do ponto de vista turístico. Não tenho dúvidas de que o património é um factor de atractividade económica. E nós estamos apostados em valorizá-lo. Quer destacar algumas das iniciativas nesse sentido? Várias e posso começar por um projecto de que muito me orgulho e vivo com grande entusiasmo: a reabilitação dos Banhos Islâmicos. Foram descobertos no centro histórico de Loulé e entraram já numa segunda fase de escavações. São de grande dimensão, estão muito bem conservados e prestam-nos informação muito rica sobre o quotidiano do período histórico em que populações islâmicas e islamizadas viveram aqui. Esse legado arqueológico abre periodicamente ao público. Vamos musealizá-lo para o que estamos a fazer um trabalho com o professor Cláudio Torres e o Alto Patrocínio científico do Campo Arqueológico de Mértola. Outra jóia que temos, em Salir, é uma descoberta verdadeiramente entusiasmante: uma jazida onde uma equipa de paleontólogos liderada pelo cientista português Octávio Mateus encontrou várias ossadas de quatro espécies diferentes de anfíbios do período Triásico, datadas entre 220 e 223 milhões de anos atrás. São anteriores aos próprios dinossáurios. Estou a falar do Metopossaurus algarviensis, e do Fitossaurus, espécies anfíbias, salamandras gigantes que foram predadoras das primeiras espécies de dinossáurios. E essa enorme riqueza científica e patrimonial está no nosso mu-

nicípio. Decorrem ainda escavações regulares por equipas internacionais e o passo seguinte é também a musealização e o aprofundamento do estudo científico desses achados. Para tal já criámos uma bolsa de Doutoramento em conjunto com a Fundação António Aleixo. Mas temos ainda mais, na serra algarvia: a escrita do Sudoeste, no Ameixial, onde há vários legados de um alfabeto que ainda não foi possível identificar. Desde tempos imemoriais até à actualidade temos uma história riquíssima, que passa também pela influência árabe e posterior período Medieval. Por isso, nos dias de hoje em que, como se sabe, Loulé é um importantíssimo destino turístico no país com notoriedade internacional, procuramos fazer com que se internacionalize muito para além dos domínios apontados pela economia tradicional. Queremos ir também pelos caminhos da cultura, do património e de outras actividades como o Turismo de Natureza, ganhando assim uma expressão de completa abertura ao Mundo. Que valor acrescentado pode esse “Turismo de Natureza” trazer a uma região que tão bem vende o produto tradicional: sol, praia, golfe e ‘resorts’ de luxo? É uma actividade económica que nos desperta um grande interesse porque, em primeiro lugar, nós colocamo-nos aqui sempre na perspectiva da sustentabilidade e, no passado, se nem tudo esteve mal, alguns erros foram cometidos no modelo de desenvolvimento turístico do Algarve. Foi excessivamente construtivo nalguns pontos. E nós não queremos replicar esses erros no interior. As autoridades públicas municipais já têm uma cultura apreciável de administração do seu território e assumiram que continuar a apostar no turismo sem ter presente a sustentabilidade da actividade económica e o respeito pelos valores ambientais é qualquer coisa que está à partida excluída. Em segundo lugar porque o turismo de Natureza, que tem a ver com a contemplação da flora, das aves – o birdwatching – , as caminhadas e os passeios de bicicleta em territórios que do ponto de vista da preservação são praticamente puros, não afectados pela mão humana, só nos pode valorizar o interior da região. Finalmente, queremos valorizá-lo porque do ponto de vista económico começam a manifestar-se já sinais de que é um segmento capaz de se afirmar como interessante para os investidores estrangeiros. Mas junto dos investidores estrangeiros não tenciona abandonar a promoção do produto tradicional deste destino turístico? Não, e queremos conquistar novos

mercados. Um deles, que ganha relevância crescente na região, é o mercado francês. Mas, mais do que isso e num campo bem mais vasto entendemos que os municípios são também chamados a envolver-se no fomento de uma cultura de bom relacionamento entre os povos. Mas voltando à economia e à procura de mais meios financeiros para o crescimento económico... Estamos a dar passos muito positivos nesse sentido e acreditamos que podemos captar mais investimento para a nossa região. Estivemos recentemente em França, um mercado novo que de repente descobriu que Portugal por muitas e fortes razões. Este interesse dos franceses pelo nosso país vem abrir novas oportunidade à indústria hoteleira e também ao imobiliário. Loulé, com uma oferta muito diferenciada em termos de preços e localizações pode fazer o gosto a qualquer tipo de cliente deste segmento. Já existem alguns portugueses com uma vida bem sucedida em França que adquiriram as suas segundas habitações no nosso concelho. Um deles é o Comendador Armando Lopes que, dadas as suas excelentes relações com as autoridades franceses, sobretudo de um município da Grande Paris, Créteil, me lançou o desafio de nos geminarmos com essa cidade. Pelo segundo ano consecutivo, estive lá recentemente. Desta vez, na companhia do nosso primeiro-ministro e do senhor Presidente da República, participei numa cerimónia em que a Mairie de Créteil homenageou o nosso compatriota Armando Lopes atribuindo o seu nome a uma Praça da cidade, o que é algo de excepcional. O recurso a personalidades estrangeiras é raro na toponomia francesa. Aí nasceu uma relação estreita com um dos políticos franceses mais emblemáticos. Julgo que é o autarca que mais vezes terá ganho sucessivas eleições, Laurent Cathala, maire (presidente da câmara) de Créteil. Formalizei em Portugal o entendimento entre as nossas duas cidades e só me desloquei a Paris para acertarmos o programa conjunto. A cerimónia de geminação decorrerá aqui nos Paços do Concelho de Loulé na primeira semana de Outubro deste ano. Uma das condições que estabelecemos por mútuo acordo – sem reservas de parte a parte – foi estimularmos o conhecimento mútuo entre franceses e portugueses, sobretudo na juventude. Em França há vários exemplos de jovens de ascendência portuguesa, cujos pais trabalhavam na construção civil, que hoje estão a dar cartas em várias áreas: no cinema, na cultura, no mundo empresarial, no

FOTO: JOSÉ SÉRGIO

mundo. E na vida política francesa são já cerca de 2.000 os autarcas eleitos de origem portuguesa. No contacto com investidores é-nos muita vezes referido que a burocracia, tanto a nível da administração central como local é, no nosso país, um travão ao investimento... Muitas vezes, uma das dificuldades com as quais os investidores se confrontam é a de os instrumentos de gestão do território serem pouco flexíveis na hora em que querem desenvolver os seus projectos. Se não estiver planeado, às vezes com antecipação de cinco, dez ou mais anos, torna-se muito difícil dar resposta a esse investimento o que nos deixa a todos, investidor e autoridades públicas, um pouco frustrados. Mas eu gostaria de me manifestar um pouco contra a corrente. Também têm aparecido investidores estrangeiros que nos dizem que também no país deles há trâmites a seguir. Uma coisa lhe digo, os nossos cuidados têm-nos garantido uma região turística que se está a desenvolver e que hoje é valorizada mundialmente. Exactamente porque fomos capazes de compaginar impulso investidor com salvaguarda de valores e regras que têm de estar presentes. Dito isto, importa dizer que há um caminho a fazer ao nível de simplificar os procedimentos administrativos. Há também a necessidade de haver mais estabilidade ao nível da moldura legal que gere e está presente nos processos de investimento. Um quadro de expectativa ao longo do tempo é importante para um empresário. Mas num período de

crise, o que é estável? Em Loulé pretendemos ser um oásis, no que depende só de nós. IMI baixo, esforços ao nível da segurança de pessoas e bens, qualidade das infraestruturas e espaço urbano. Julgo que isso fazemos bem. Não só no meu município, mas ao nível de todo o Algarve. Que futuro espera viver em Loulé quando se retirar da vida activa? Se quer que lhe diga olho à minha volta, olho para o Mundo, e tendo esperança, sou um homem angustiado com o que vou vendo. Mas nunca perco a esperança de que é possível fazer melhor. Gostaria que Loulé fosse uma cidade em que as pessoas vivessem uma vida menos apressada, mais tranqui-

la, que fossem mais felizes, que convivessem mais entre elas, que consumissem menos. Gostava de ver uma cidade, um território menos desigual. E é por isso, e sempre numa perspectiva de futuro, que queremos, cada vez mais e desde muito cedo, proporcionar aos nossos jovens o acesso ao Desporto e à Cultura, armas poderosíssimas de integração e coesão social. Das muitas quadras que o seu avô nos deixou, quer-nos declamar uma das que mais o tenham marcado? Quem prende a água que corre É por si próprio enganado O ribeirinho não morre Vai correr por outro lado. A.S.M. ¶

“Um regresso com o voto dos eleitores Vítor Aleixo nasceu há 60 anos em S. Clemente, uma freguesia urbana da sede do concelho a que hoje preside. Aí se preservam dois ex-libris do património histórico e arquitectónico que a edilidade reabilitou: o castelo medieval de Loulé e a ponte dos Álamos, construída na via romana que ligava Salir a Milreu, hoje ruínas em Estoi que são Monumento Nacional. Licenciou-se em História e Ciências Sociais na Universidade de Rostov/Don, depois de ter passado pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa e o Instituto de Engenharia

de Petróleos de Baku, no Azerbaijão. Politicamente empenhado em causas públicas e sociais desde os tempos de juventude e deputado municipal a partir de 1986, em 1999 ocupou pela primeira vez a presidência da edilidade depois da renúncia de quem o tinha antecedido. Há três anos regressou ao cargo após ter vencido as eleições autárquicas de 2013. No executivo municipal detém os pelouros da Cultura, Bibliotecas e Arquivo; Ordenamento do Território e Urbanismo; Obras Municipais; Edifícios e Equipamentos; Relacções Públicas e Comunicação; Relacções Institucionais.


16 | Domingo, 31 JUL 2016 | Caderno Extra Loulé | Economia

Economia | Caderno Extra Loulé | Domingo, 31 JUL 2016 | 17

FRUTOS DA TERRA PARA A INDÚSTRIA

SAÚDE

ILUSTRE NA “GRAND PARIS”

A alfarroba. Mais o figo e a amêndoa

Hospital de Loulé

Armando Lopes

Na rua o calor aperta e dentro da fábrica o cheiro a cacau é intenso. Parece África, mas não é. Estamos na freguesia de Boliqueime, concelho de Loulé

O diagnóstico está feito: a “dilatação” da esperança média de vida exige outra resposta clínica

Portugal detém uma quota de 15% da produção mundial de Alfarroba.

E

m pleno barrocal algarvio – assim se chama a zona entre o litoral de praias e a serra que nos separa do Alentejo – a matéria-prima processada nas instalações é criada na região: muita alfarroba, alguns figos e amêndoas. Também natural da região é a gente que criou e continua a administrar um negócio que fica assim com dois bons argumentos para se manter sólido: a matéria-prima, produto endógeno de qualidade e a gestão familiar. Mercado também não tem faltado: concentrada no Algarve, a produção nacional de alfarroba, cerca de 45 mil toneladas em 2015, representa 15% da produção mundial. Ainda vinham longe os dias de hoje quando na região onde a cultura de frutos secos está arreigada desde há séculos, Gregório Chorondo começou a comprar aos agricultores locais amêndoas, figos e principalmente alfarroba que depois levava para vender aos industriais do ramo. O seu filho Joaquim Chorondo deu continuidade ao negócio instalando na localidade de Tenoca, onde se mantém a sede da empresa, uma pequena fábrica de transformação do Pão de São João, como era conhecido o fruto da alfarrobeira nos primórdios do cristianismo. Para responder ao aumento da procura as instalações e o negócio cresceram e em 1988 Joaquim fundou, com os filhos Isaurindo e Angelina, a sociedade por quotas Chorondo & Filhos. Seis anos depois ad-

FOTO: JOSÉ SÉRGIO

quiriu a “Industrial Farense, Lda” que veio acrescentar à actividade uma segunda unidade fabril, instalada então em São Brás de Alportel. Na quarta geração da famíla Ismael Chorondo é um jovem de 34 anos que finalizou uma licenciatura em Gestão na Universidade do Algarve. Não se deixou seduzir por apelos que vinham do exterior: “Nascemos neste meio e ficamos sempre com gosto pelo negócio”. Na qualidade de gerente esclarece-nos: “Dispomos actualmente de uma capacidade de transformação na ordem das 30 mil toneladas/ano. Nesta fábrica processamos a polpa da alfarroba e, a jusante, a semente é tratada nas novas instalações da nossa outra empresa.” O fruto da alfarrobeira representa 99% dos inputs da matéria-prima utilizada. O valor residual, composto por amêndoas e figos, é comprado apenas para fidelizar e responder às expectativas e necessidades de centenas de fornecedores, médios e pequenos agricultores desde sempre agarrados à trilogia dos três frutos tradicionais do Algarve. “Empregamos quase trinta pessoas e o volume de negócios rondou, em 2014, os dez milhões de euros – sete dos quais gerados aqui na Chorondo & Filhos e o restante na Industrial Farense”, esclarece o jovem gerente que acrescenta: “As nossas vendas, cerca de metade agora, cada vez mais são feitas no exterior porque o mercado interno está estagnado. A nossa produção concor-

Ismael Chorondo re com a espanhola e marroquina, também, que com uma qualidade inferior à nossa aparece nos mercados com preços “esmagados”, altamente competitivos”. A semente, a parte mais valorizada, sai da fábrica de Faro em farinha para as indústrias cosmética – cremes, bâtons – e alimentar, como por exemplo o espessante sem efeitos adversos E410, utilizado nos gelados para lhes dar mais consistência. Da Tenoca, onde estamos, a polpa da alfarroba sai quase que em exclusivo para a indústria que a incorpora nas rações para animais: vacas, coelhos e na sua maioria... hamsters! “Os nórdicos são loucos por estes animaizinhos que, por sua vez, adoram a alfarroba!”, surpreende-nos o Ismael. A.S.M. ¶

A

profilaxia vem aí e promete sanar os desafios que o futuro da região antecipa. “Somos muito fortes em Imagiologia e na Cirurgia Endoscópica. Na Oftalmologia somos a única unidade privada a sul de Setúbal que faz cirurgia de retina.” Filipe Vieira assume uma missão que vai além da prestação de cuidados médicos no hospital que administra. “Cada operador tem tentado à sua maneira fazer um rebranding da saúde em Portugal. Os nossos serviços são bons e temos de ter consciência disso. Toda a gente elevou muito a fasquia.” Instalado no maior e mais rico concelho do Algarve, uma região que vê triplicar a sua população no Verão, o Hospital de Loulé é mais um aliado na resposta à procura estrangeira. “Temos clientes que vivem cá ou que estão alojados nos empreendimentos turísticos de primeira da região e que estão habituados a serviços de excelência. Nós elevámos o patamar a esse nível. Contribuiu o currículo internacional dos nossos médicos e o reconhecimento do serviço que aqui é prestado.” Com uma percentagem de cirurgias a expatriados na ordem dos 20% do total das intervenções, as perspectivas são para aumentar, não só porque a unidade vai crescer, mas porque o aumento da esperança média de vida transformou o quadro clínico da população. As doenças que antes conduziam à morte são hoje crónicas e essa cronicidade exige novas soluções. José Estevens, director clínico do Hospital, faz a radiografia: “Temos serviços para responder ao conjunto de patologias associadas

à ‘mais idade’ ao nível da urgência e do tratamento contínuo, como as de origem cardíaca, osteoarticular, de reabilitação pós-AVC…” Geriatria, Oncologia e Reabilitação Física são três áreas de aposta deste hospital que passará a contar, a partir do próximo ano, com duas salas cirúrgicas, 37 consultórios e 48 camas, além do atendimento domiciliário que já disponibiliza, imbuído do espírito da antiga Santa Casa, espaço que ocupa. Para os louletanos, a reabertura há cinco anos traduziu-se num direito reposto. A história do Hospital da Misericórdia remonta ao séc. XV, tendo ficado ligada ao Carnaval no último século, quando o velho edifício precisou de obras. Nessa altura, foram os louletanos que reergueram o “hospital da terra” com os lucros daquele que é hoje considerado o Carnaval mais emblemático a sul do Tejo. Depois do apogeu, seguiu-se novo período difícil na vida da instituição, no pós-25 de Abril, até que a Misericórdia e duas empresas da área da saúde vieram a relançar o hospital, com o apoio do município. Hoje, sob gestão privada, prepara-se para fortalecer relações com a Universidade do Algarve, no intercâmbio com os alunos de enfermagem. À escala da Europa, vai disseminar pacotes cirúrgicos competitivos no quadro da Estética, dos Implantes Dentários e da Oftalmologia, numa parceria com os operadores turísticos locais. Agarrar a ideia do turismo de saúde e a geminação de Loulé com Créteil, comuna francesa dos arredores de Paris com cerca de 87 mil almas, está também na linha do horizonte. M.L. ¶ FOTO: DR

FOTO: DR

FOTO: DR

FOTO: JOSÉ SÉRGIO

Encheu-se de coragem e “deu o salto” para França. Como muitos outros portugueses construiu um futuro que o país de então lhe negava

Fachada da "Médiathèque de l'Abbaye – Nelson Mandela" o único estrangeiro que, a par de Armando Lopes, deu o nome a um espaço público de Créteil.

Armando Lopes com o Presidente da República e o primeiro-ministro na cerimónia em que foi homenageado pelo Maire de Créteil, Laurent Cathala, um “dinossauro” da política francesa. Radicado há tanto tempo em França, como sentiu a vitória da nossa selecção no Europeu de futebol? Desportivamente foi um grande sucesso e, nestes 55 anos que já levo em França, guardo dessa vitória uma imagem que nunca tinha tido antes: muito, muito orgulho na comunidade portuguesa em França e sobretudo na região de Paris, onde somos cerca setecentos mil portugueses. Pelas manifestações de união, pelo seu apoio à equipa nacional – desde o estágio em Marcoussi, ao acompanhamento de todos os jogos – e sobretudo na final.Foram de facto momentos de alegria e honra que senti e recordações que nunca esquecerei. Sobretudo quando o Éder marcou o golo da vitória. Não tenho de facto palavras para descrever a emoção sentida nestas terras de França, por mim e por todos os meus compatriotas. Hoje a imagem que os franceses têm dos “Portugais” é a mesma que tinham quando, com 17 anos de idade, desembarcou na Gare de Austerlitz? É totalmente diferente. Eu faço parte da primeira geração de portugueses que chegaram a França nos anos 60 e durante muitos anos a imagem dos portugueses era a de mulheres de limpeza, pedreiros e carpinteiros, olhados como aqueles que vi-

nham fazer o serviço que os franceses não sabiam ou não queriam fazer, porque o consideravam degradante. Mas ao longo dos anos os emigrantes souberam impor-se, mostrando o que valem. Veio depois a segunda e a terceira geração e, felizmente, já há muitos anos que encontramos tantos portugueses e seus descendentes formados e com altos cargos de direcção em muitas empresas francesas – como Carlos Tavares, presidente da Peugeot – ou em profissões liberais, advogados, médicos, enfermeiros, notários, presidentes de câmara, engenheiros informáticos, gestores de empresas, etc. E não é por acaso que, em França e por esse mundo fora, muitos portugueses são convidados para desempenhar altos cargos ou para fazer pesquisa científica, médica e em muitas outras áreas. Soubemos mostrar aos franceses que, tal como eles, éramos capazes de ocupar cargos de grande importância. Lá por virmos de um país pequeno, quando o sol brilha, brilha para todos. O primeiro-ministro e o Presidente da República Portuguesa estiveram recentemente a seu lado quando foi homenageado pela Mairie de Créteil, uma comuna da metrópole parisiense. Porque mereceu essa distinção?

É evidente que me sinto muito orgulhoso por ter sido o primeiro português em França a receber esta distinção com vida mas, como disse na altura aceitei-a em nome de todos os familiares e compatriotas radicados no país. Penso que se tratou do reconhecimento pelos cinquenta anos que levo de vida associativa, ajudando aqueles que mais necessitam. A somar ao trabalho desenvolvido pela Rádio Alfa para informar os portugueses do que se passa no nosso país, com noticiários e programas de desporto e cultura. Possivelmente também, pelo tempo que dediquei ao desporto durante os 40 anos em que cheguei a ser presidente de dois clubes de futebol. Primeiro o clube US Lusitanos de Saint-Maur, fundado em 1966, e depois, desde 2002, o U. S. Créteil Lusitanos. Creio que foi por essas razões que deram o meu nome a uma rotunda da cidade. Confirma-me que, além do seu, apenas mais um estrangeiro – Nelson Mandela – teve a honra de ver o seu nome atribuído a um equipamento público da cidade francesa que agora se vai geminar com Loulé? Sim. Créteil inaugurou no dia 13 de Dezembro 2014 a Médiathèque de l'Abbaye – Nelson Mandela e eu sinto-me muito feliz por me fazerem ombrear com o homem que combateu para conquistar a democracia na Africa do Sul. Para mim foi uma honra e uma imagem inesquecível ter sido, em vida, o segundo estrangeiro e primeiro português a receber esta honra em França. Sendo um ribatejano, natural da vila de Caxarias, o que o liga a Loulé para que esteja tão empenhado nesta aproximação entre as duas cidades?

No Algarve, que vim a descobrir nas férias de 1977 com a minha família, Loulé foi sempre uma cidade de que gostei imenso. Bem como todo o concelho: Quarteira, Vilamoura, Vale de Lobo, Vale Garrão, Quinta do Lago e Almancil. Pelos seus óptimos restaurantes, que tão bem representam a nossa gastronomia algarvia e as suas belíssimas praias. Foram terras que se souberam desenvolver ao nível de outras cidades europeias. Sempre adorei a região do Algarve e a aposta que faz no turismo e na política cultural. Nesta bela região, tenho também o prazer de ser amigo do actual presidente da câmara, Dr. Vitor Aleixo, com quem eu tive contactos extraordinários para desenvolver a ideia da geminação de Loulé com Créteil, onde tenho as minhas empresas – que ficam assim ligadas a Loulé. Tudo faremos para fortalecer laços culturais, desportivos e comerciais entre ambas as cidades como também para canalizar investimentos de Créteil e Paris para Loulé e a sua região. Apesar de ter nascido em Caxarias e manter uma grande amizade com Leiria, onde tenho uma estrutura empresarial montada, é no Algarve que está a minha segunda cidade-pátria, onde descanso e gozo momentos de lazer: Vilamoura, “Loulé”! O interesse dos franceses por Portugal, como destino de férias e até de residência permanente, tem estado a crescer de forma surpreendente. Porquê? É uma outra época. Nos anos sessenta eram os portugueses a emigrar para o estrangeiro, hoje são os franceses a vir para Portugal duma maneira diferente. Vêm usufruir das suas reformas e é evidente que o go-

FOTO: DR

verno português criou um estatuto muito especial para os europeus e especialmente para os franceses que podem investir no país não pagando impostos sobre as suas reformas durante dez anos. Mas não são só os reformados que vêm para Portugal. Fruto também de uma campanha enorme, feita em França há alguns anos, são outros cidadãos e empresas francesas que apostam no investimento, não só no Algarve como também em Lisboa, Porto, Caldas da Rainha, Peniche, Leiria e outras localidades do centro do País. Tudo isto vai no bom sentido e esperamos que, como é um país do sul da Europa, um país de sol que sabe receber, cada vez haja mais estrangeiros a radicarem-se em Portugal para que assim possamos beneficiar de um maior desenvolvimento. Temos todas as condições para os poder receber. Já provou ser um empresário de visão a longo prazo. Olha para esse interesse como mera consequência de uma conjuntura internacional passageira ou acha que é um fenómeno que veio para ficar? Estou convencido que a presente crise sentida pelos portugueses será passageira visto que já estamos há alguns anos a sofrer. E é evidente que os países mais pequenos como Portugal sofrem mais. Em Portugal, como na Europa, o desemprego é um problema mas acredito que vamos conseguir vencê-lo apoiando as pequenas e médias empresas que criam postos de trabalho. E quanto menos desemprego houver, maior será a estabilidade. Espero que os novos empresários possam acreditar no nosso País porque a Europa vai dar a volta por cima. ¶


18 | Domingo, 31 JUL 2016 | Caderno Extra Loulé | Qualidade de Vida

Qualidade de Vida | Caderno Extra Loulé | Domingo, 31 JUL 2016 | 19

REINALDO TEIXEIRA, ADMINISTRADOR DA ENOLAINVEST, SA

ENSINO

Loulé é a capital económica do Algarve. Está bem e recomenda-se

Uma Babel de línguas Só por si o amor e uma cabana não bastam, mesmo que o clima, a qualidade de vida e as acessibilidades sejam as melhores. Também é preciso educar os filhos para o mundo, ainda que longe da pátria

Natural de Salir, Reinaldo Teixeira ergueu e administra um grupo de empresas que já ganhou dimensão nacional e internacional. Mas mantém as suas raízes firmadas no concelho de Loulé

Em que geografias e áreas de negócio já está presente o grupo de empresas que dirige? Começámos esta caminhada em 1983 e hoje, centrados no turismo, hotelaria e imobiliário, apresentamos soluções chave na mão em todas as áreas do sector dos serviços. Começámos em Quarteira e agora, com a sede do grupo em Vilamoura, temos 38 empresas sedeadas neste concelho. Com os nossos postos de venda em quase todo o Algarve e em Lisboa, temos parceiros em todo o Mundo. Quer clientes nossos, que são nossos amigos e embaixadores nos quatro cantos do Mundo, quer agentes e parceiros de negócio, em Inglaterra, França, Suíça, Bélgica, Angola, Brasil, Rússia, Suécia, Holanda e Irlanda, onde temos um peso significativo. Temos também parcerias na China e alguns investidores, mais em Lisboa do que no Algarve. Estes últimos anos levaram-nos a criar empresas complementares de modo a que possamos estar ao longo de todo o ciclo de vida do imobiliário. Como colaboradores contamos no período de Verão com cerca de 700 colaboradores. O volume de negócios atinge, nos serviços, cerca de 30 milhões mas há anos em que esse valor sobe. Lutou duro e viu finalmente licenciado o seu projecto “Algarve Cluster Multiusos”. Quais as valências e dimensão do investimento? Porquê em Loulé? Porque Loulé é, de facto, a capital económica do Algarve, está bem e recomenda-se. O projecto ocupa cerca de 40 hectares, 60 se incluirmos as acessibilidades. Terá várias valências e será complementar do que vai existir no nó seguinte com o investimento do IKEA. Situado na Zona Industrial da Loulé – junto ao nó de Loulé Centro que serve Vilamoura, Vale do Lobo e Quinta do Lago – vai revitalizá-la prolongando-a para sul. Estenderá a sua zona de influência a todo o Algarve, de Barlavento a Sotavento, e porque está numa zona central da região também vai contribuir para projectar a força económica do litoral para o interior. Prevê a criação de 2 a 3 mil postos de trabalho e será constituído por uma grande área de serviços; um Parque Temático; um Centro de Eventos; al-

gum comércio e um Pólo de Saúde. A dimensão do investimento, que se estima situar entre os 300 a 400 milhões, dependerá dos parceiros que se venham a instalar em cada uma das suas áreas. Espera trazer indústrias para um projecto instalado numa zona em que o turismo e os serviços são dominantes. E os riscos ambientais? Pretendemos atrair serviços e indústrias não-poluentes, nomeadamente as chamadas TIC, tecnologias de informação e comunicação. A nossa região tem esta beleza, esta luz, este clima e qualidade de vida desejados por toda a gente. Cada vez mais sentimos que grandes investidores querem transferir as suas residências para a nossa região. E quanto mais conseguirmos criar aqui novas empresas, atrair para cá a sede de empresas de outros países que – apenas a 2-3 horas de voo do aeroporto de Faro – estão agora em zonas frias, onde o Sol raramente existe e chove com frequência, tanto melhor. Queremos trazer para o “Algarve Cluster Multiusos” as tecnologias de informação, um centro tecnológico, infra-estruturas logísticas e empresas de logística. Com o Centro de Eventos e o Centro de Inovação Empresarial temos a intenção de criar uma articulação entre este tipo de oferta e o comércio local, um Centro de Distribuição do Comércio Local. Facilitará a vida dos comerciantes e o desenvolvimento do comércio com o apoio de tecnologias modernas e inovadoras, mantendo com os produtos, a tradição e o comércio original. No domínio da Saúde, onde hoje temos já uma boa oferta, quer no sector público quer no privado, continuamos a sentir um aumento e diversificação de procura nesta área. Com o aumento generalizado da esperança de vida, o nosso clima e perto do centro da Europa, o Turismo de Saúde é uma realidade que já cá está e vai continuar a crescer. Mantém contactos com investidores de todo o mundo. Como é que eles olham para as condições de investimento em Portugal? De 2008 a 2013 o nosso país e a nossa região passaram por grandes dificuldades. Depois, foi o crescimento do turismo e o projecto dos “Golden Visa” que também sofreram.

Mas agora o Brexit motivará cada vez mais ingleses a optarem pela nossa região. Cada vez mais, também, a atractividade fiscal e os incentivos do “Golden Visa” terão impactos positivos. Mas é, fundamentalmente a qualidade da oferta da nossa região que os atrai a vários níveis. São as praias, o território, o clima, a segurança, a gastronomia, as nossas gentes. Por isso, cada vez mais as pessoas quando cá vêm, gostam. Ainda há dias um avião cheio de franceses aterrou aqui em Faro e todos ficaram surpreendidos. Enquanto que o mercado inglês já está connosco há uns 50 anos ou mais, este mercado francês, por exemplo, começou a surgir há uns três anos mas está a crescer muito rapidamente . Quanto mais cá vêm, mais gostam. Sentimos, no imobiliário, que há uma grande apetência pelo retalho. Os clientes que cá vêm em turismo gostam, depois investem. Mas esta realidade também traz grandes investidores. Temos o caso recente do Fundo americano que comprou Vilamoura e vai investir mais para levar esse destino a todos os cantos do Mundo. Diria que os mercados tradicionais se mantêm com cada vez mais apetência pela nossa região, com a procura dos mercados emergentes a crescer em simultâneo. Haja paz, vontade de fazer melhor, uma boa relação entre o tecido empresarial, autarquias e governos, desconcentrados e em parcerias para melhor servir os nossos turistas. Quanto mais assim for melhor será a nossa oferta de segurança e de qualidade de nível internacional no plano dos serviços de saúde e até de educação, a todos os níveis do ensino Desde o secundário, onde temos o Colégio Internacional de Vilamoura, ao superior com a Universidade do Algarve, que tem um slogan feliz: “Estudar onde é bom viver”. Com toda esta oferta de qualidade queremos aumentar o número de residentes estrangeiros no Algarve: passar dos 450 mil para os 600 ou 700 mil. E penso que não será difícil. O Algarve consegue atingir e captar residentes com facilidade. Mas temos de deixar de pensar que já somos muito conhecidos. Essa imagem é falsa. Ainda somos muito pouco conhecidos no mundo. Temos os mercados inglês, alemão, holandês, irlandês, francês mas, mesmo aí, a nos-

P

FOTO: JOSÉ SÉRGIO

“A nossa quota nos mercados internacionais do turismo e imobiliário é insignificante” FOTO: JOSÉ SÉRGIO

sa quota de mercado no turismo e imobiliário é insignificante. E por isso o factor promoção é determinante. Promoção nas várias vertentes: enquanto destino de férias, de investimento, para trabalhar, estudar e viver. A promoção é determinante nestas quatro vertentes. Que medidas poderiam ser tomadas, pela Administração Central e o Poder Local, para facilitar, “olear”, essa vaga de investimento estrangeiro? Tenho o privilégio de ser acarinhados e convidados pelas estruturas associativas na região. Tenho aprendido muito com os meus colegas, temos um diálogo muito construti-

vo e o tecido empresarial da região tem desenvolvido um trabalho importante nas várias áreas que aqui represento. Uma palavra de reconhecimento por esse trabalho desinteressado. E o que se pode fazer? Turismo do Algarve, AMAL e CCDR, quanto mais próximas estiverem melhor é, e hoje existe um entendimento e uma reflexão conjunta sobre isso. A voz e o entendimento dessas entidades é determinante para que depois possam ser interlocutores de peso junto do Governo a nível nacional. Também sinto que essa realidade é cada vez mais aceite, quer pela região, quer pelo Governo. Não vejo os Gover-

nos a tomarem medidas sem ouvirem as regiões. O que é importante é que a região se faça ouvir, mas que haja uma linha e uma estratégia de comunicação e entendimento para a região e que essa voz seja transmitida ao Governo. E acho que isso acontece. O que foi feito nos últimos 30 anos foi determinante, no espaço público. As ofertas que temos hoje, a qualidade das infraestruturas são totalmente diferentes, para melhor, do que tínhamos no passado. Há zonas e cidades que foram massacradas pela construção, o caso de Quarteira por exemplo, que na altura tinha uma imagem negativa mas hoje está totalmente recuperada. Tem uma Avenida exemplar, o Calçadão, espaços verdes e proximidade ao mar com uma cota quase plana. Porque é preciso dizer o seguinte: por mais que as empresas invistam e mantenham níveis de qualidade nos seus empreendimentos, se o espaço público não acompanhar esses níveis de qualidade as coisas não resultam. Por isso queria deixar uma palavra de reconhecimento a todos os autarcas, pela sua acção, desde os presidentes de Câmara aos presidentes de Junta, que têm feito um trabalho exemplar. Também quero dizer que se é uma realidade que há entendimento entre essas enti-

dades, esse entendimento também é cada vez maior entre elas e as várias associações da região e o tecido empresarial. Concertam estratégias, quer ao nível de grandes projectos, quer ao nível da comunicação, quer ao nível da gestão do espaço, do território e da região. Há sempre coisas a melhorar, mas é preciso uma estratégia que dote a região com cada vez melhores acessibilidades, nomeadamente a nível da internet, com uma boa “autoestrada digital”. Hoje as ligações rodoviárias, ferroviárias são importantes mas as virtuais são determinantes. Algo foi feito mas há muito mais para fazer. A oferta de recursos humanos também tem de crescer. Precisamos de conseguir atrair quadros e recursos humanos para servir a região. Fala-se em mas eu digo que cada vez mais é difícil encontrar pessoas para trabalhar. Todos os meus colegas empresários se queixam que há falta de recursos humanos. E essa falta acentua-se mais nesta época alta de Verão. Temos talvez de começar a pensar em criar residências para atrair pessoas à região e fortalecer os períodos de maior pico, de Junho a Setembro. É uma área que é determinante, quer na captação quer na formação. Por outro lado, o Algarve ainda é muito visto apenas pelo Sol, Praia e Golfe. A.S.M. ¶

ara qualquer família a educação dos mais novos é um ponto-chave e o Algarve consegue estar à altura. Para muitos estrangeiros, o Colégio Internacional de Vilamoura foi a solução encontrada. Na maturidade da sua acção pedagógica junto da comunidade portuguesa, o Colégio Internacional de Vilamoura (CIV) tem vindo, nas últimas três décadas, a positivar a decisão de muitos estrangeiros que ponderam a deslocação de toda a família para o Algarve. A oferta de um projecto educativo multicultural onde as línguas estão presentes, do Jardim de Infância ao Secundário, conquistou 650 alunos inscritos só no ano passado, 30% dos quais estrangeiros. “Não posso deixar de referir a satisfação de quem nos visita, pelo facto de poder inscrever os filhos no Colégio. Encontrar o local perfeito para viver, a casa dos seus sonhos, uma zona tranquila, junto ao mar, com proximidade ao aeroporto não chega! Ter uma escola com um currículo internacional é uma condição no momento da escolha.” Cidália Bicho é directora pedagógica do CIV há quatro anos, mas conhece a orgânica da escola há 12, altura em que leccionava português. O universo estudantil estrangeiro é representado por 44 países, com maior expressão para os ingleses (10%), russos (5%) e chineses (3%). Mas uma nova nacionalidade começa a ganhar dimensão na vida deste colégio. Nos últimos dois anos, o CIV foi abordado por cerca de 40 famí-

lias francesas, devido a uma potencial mudança de residência. Um aumento de 167% na procura, relativamente ao biénio anterior. “Actualmente temos 14 famílias inscritas para o próximo ano lectivo, o que representa um aumento significativo face ao ano que agora terminou.” A língua francesa é obrigatória para todos os alunos a partir dos 10 anos e, ao longo do percurso escolar, o CIV providencia os exames da Alliance Française, tornando-o num dos principais centros no Algarve. “Somos a escola algarvia que propõe mais alunos a exames e com uma taxa de sucesso de 100%. Além disso, há 18 anos que realizamos anualmente um estágio em França que envolve os alunos do 7.º ano e ‘Year 8’”. Também tem morada no CIV e é aberto ao público em geral. O único Centro de Certificação de língua inglesa a sul do Tejo, Cambridge English Language Assessment, recebe adultos e crianças para aferir o seu nível de proficiência e realizar exames. Conhecido por ousar, o Colégio de Vilamoura tem apostado no ensino de Mandarim ao nível do Jardim de Infância e na Filosofia para crianças e jovens. Apostas ganhas, tal como os vários projectos de aproximação às associações e instituições locais, regionais e internacionais, que pretendem fomentar os pressupostos humanistas nos alunos e abrir janelas para a comunidade exterior. Também o uso de laptops em contexto de sala de aula se revelou um

sucesso. “Ainda me recordo de um conselho pedagógico em que aprovámos, com muita preocupação, o projecto de laptops na sala de aula. Foi em 2007. Estávamos divididos, parecíamos Velhos do Restelo a enfrentar Adamastores, mas juntos conseguimos superar os nossos medos e implementar um projecto que nos retirou da nossa zona de conforto e que tem conduzido os alunos a patamares de desempenho que muito nos orgulham.” – lembra Cidália Bicho, que já se habituou a receber ex-alunos que retornam à escola. Vêm inscrever os filhos na casa que os ajudou a trilhar o caminho do conhecimento.M.L. ¶

No Colégio de Vilamoura há alunos de 44 nacionalidades. Aos ingleses, russos e chineses começam agora a juntar-se os franceses. FOTO: DR

A aula de Mandarim no Jardim de Infância


20 | Domingo, 31 JUL 2016 | Caderno Extra Loulé | Qualidade de Vida

FOTO: JOSÉ SÉRGIO

Qualidade de Vida | Caderno Extra Loulé | Domingo, 31 JUL 2016 | 21

ENTREVISTA

ENTREVISTA

Aqui temos tudo. É portanto o sítio ideal para investir

Queremos trazer o mundo para Portugal

Vilamoura e Vila Sol têm uma "diversidade concentrada" sustenta Fátima Catarina, presidente da Inframoura, Empresa Municipal

O CEO de um dos maiores investimentos feitos no Algarve quer duplicar a dimensão de Vilamoura

Qual é estrutura accionista da empresa por quem dá a cara? São dois accionistas, a Câmara Municipal de Loulé com 51 por cento do capital social, assim o exige a Lei, e a Vilamouraworld, com 49 por cento. Que missão e funções lhe foram atribuídas? Prestar um serviço de excelência na gestão, conservação e manutenção de todos os espaços públicos que garantam elevados padrões de vida nos territórios de Vilamoura e Vila Sol. Para garantir essas exigências que infra-estruturas já foram levantadas e que serviços são prestados pela Inframoura? As nossas competências incidem no abastecimento da água, na recolha de resíduos sólidos, na manutenção das áreas verdes, cumprindo com tudo aquilo que a ERSAR – Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos – nos obriga, em particular não podermos fazer investimentos cruzados, ou seja, as receitas que temos com a venda da água não podem ser investidas senão na água, as dos resíduos nos resíduos, etc. A consequência disto é que somos obrigados a investir muito mais nas infra-estruturas enterradas do que nas visíveis. E o que é facto é que temo-lo feito, até porque as infraestruturas enterradas já têm 40-50 anos, o que nos causa imensos problemas de rupturas, abatimentos, etc. E temos investido imenso na reabilitação dessas infra-estruturas. Dou-lhe um exemplo: vamos investir meio milhão no FOTO: JOSÉ SÉRGIO

Uma intervenção da Inframoura num espaço público que até há pouco era um terreno de matos

final do Verão para reabilitar e enterrar uma estação elevatória que está agora ali em frente ao Hotel Ampalius, junto à praia, e as pessoas não vão ver este investimento. Mas quanto menos virem, melhor... Claro, é sinal de que estamos a funcionar bem. Mas também é necessário que façamos alguma coisa que seja visível porque Vilamoura tem que mostrar qualidade. Temos de ter os espaços verdes bem tratados, tendo o cuidado de investir em plantas que sejam o menos consumidoras de água possível e que ocupem o mínimo tempo disponível dos nossos 133 funcionários, dos quais mais de cem são operacionais. Muitos dos projectos em que estamos a trabalhar tornam-se possíveis porque o fazemos em colaboração com os nossos stakeholders. E que projectos são esses? Posso-lhe referir o projecto, que vamos desenvolver em conjunto com a câmara municipal, da alameda lindíssima que vai ser construída levando o conceito que existe no anel dos hotéis, na Avenida Tivoli, para mais perto do mar, fazendo a transição para a segunda fase do Passeio das Dunas, ligando Vilamoura a Quarteira ao longo da orla marítima. Entre outros refiro uma intervenção que fizémos no Pinhal Velho, a melhor área de Vilamoura, com urbanizações de grande qualidade e vivendas lindíssimas, que tinha uma entrada horrível, de matos e onde fizémos uma requalificação paisagística que ficou muito bonita.

Face a qualquer outra alternativa de investimento que argumentos pode apresentar a um fundo nacional ou internacional, ou até mesmo a uma família, em favor de Vilamoura? Vilamoura e Vila Sol têm uma diversidade concentrada. Aqui temos tudo: campos de golfe dos melhores do mundo, a marina mais premiada da Europa, animação, diversão nocturna, espaços verdes, um parque ambiental, escolas privadas e públicas em todos os graus do ensino, clínicas, o aeroporto a 20 quilómetros, boas ligações rodoviárias que estão a ser melhoradas, um território de qualidade. É portanto o sítio ideal para investir. Pode apontar um par de investimentos recentes nestes territórios? Temos um que acabou de ser inaugurado e outro que está em construção. No primeiro trata-se da abertura de um hotel, o Vilamoura Garden, num edifício devoluto, completamente abandonado há décadas. Foi totalmente reabilitado e está espectacular. A sua inauguração veio dar resposta a uma procura que se fazia sentir. Tínhamos uma boa oferta de hoteleira de cinco estrelas mas um défice de unidades de 4 estrelas que agora foi minimizado. O segundo é a urbanização L’Oran-gerie, um empreendimento imobiliário de qualidade em que o nosso accionista privado está a dar passos muito seguros para a sua rápida concretização. A.S.M ¶ FOTO: JOSÉ SÉRGIO

FOTO: JOSÉ SÉRGIO

A

História do turismo no Algarve, e do desenvolvimento do sector no país passa por este edifício no centro de Vilamoura, onde já esteve instalado o casino e agora é a sede da Vilamouraworld. O último inquilino, que ainda dá o nome à Praça Fronteira, foi a Lusotur. Quem nos recebe aqui é Paul Taylor, um cidadão britânico que já era proprietário e gestor do Monte da Quinta, na Quinta do Lago. Hoje accionista e CEO da Vilamouraworld onde tem como sócio um dos maiores fundos de investimento do mundo, a Lone Star, que além do turismo e imobiliário, está presente noutras áreas de negócios em Portugal. Com esta entidade financeira, com que já trabalha há muitos anos, em 26 de Março do ano passado comprou ao Catalunya Banc, intervencionado, os activos da Lusotur em Vilamoura. Incluiam na altura um empreendimento turístico com dois mil hectares e a concessão da Marina. Paul Taylor recorda que o investimento foi bem recebido pelo governo anterior e que o actual continua a vê-lo com muito bons olhos. Não se queixa do regime fiscal em vigor,

mas sustenta que os níveis de burocracia com que se defronta, o “red tape” como diz, ainda é pior do que aquilo que esperava encontrar. “Temos que arranjar paciência para nos habituar ao tempo que a decisões levam até que sejam tomadas. Em Inglaterra não é assim...”, queixa-se. O negócio, segundo a imprensa, rondou os 210 milhões de euros, um valor que não confirma, tal como diz não estar autorizado a divulgar a repartição do capital entre os actuais accionistas. Paul Taylor e o Fundo norte-americano a que está associado não tencionam abri-lo ao público com uma entrada nas Bolsas de Valores. Apesar de terem anunciado futuros investimentos que se elevam a um montante total de mil milhões de euros querem continuar a ser uma companhia fechada à entrada de novos sócios accionistas. Pedimos-lhe para apontar as razões que determinam um investimento dessa dimensão em Vilamoura:“Primeiro porque adoro Portugal. As suas gentes, o sol, a gastronomia, o vinho. Em segundo lugar porque, tanto nas ruas como do ponto de vista político, é consi-

derado o quinto país mais seguro do mundo e, talvez, o primeiro da Europa. Vilamoura em si mesma é o terceiro argumento. Não tem aquilo que nós designamos por ‘border and greenfileld risks’, isto é, por um lado temos a certeza que não vamos ficar cercados por cimento, porque o que temos nos limites de Vilamoura são as praias, o mar e zonas protegidas onde não é possível construir e, em simultâneo, porque quando chegámos não encontrámos um deserto. Já existia um centro urbano ordenado e infraestruturado, com restaurantes, hotéis, duas excelentes praias, cinco campos de golfe, dos melhores da Europa. Metade de Vilamoura já estava construída. E nós queremos agora erguer o resto.” Para isso, o que designa como segunda fase do projecto, poderá vir a contar com o “apport” de outros investidores de todo o mundo, interessados em estabelecer parcerias e desenvolver os seus próprios projectos nos limites do “resort”. De imediato já está em marcha o empreendimento L'Orangerie, um condomínio fechado de luxo, rodeado pelos fairways de dois campos de golfe: Millennium e Victoria. Mas o “master plan” de um anunciado investimento de um bilião contempla um empreendimento turís-

tico de 400 hectares que prevê a criação de milhares de postos de trabalho directos e indirectos num “resort” com uma área de total de 1.700 hectares, o equivalente a oito vezes a dimensão do principado do Mónaco. “Queremos trazer o mundo para Vilamoura e para Portugal, trazer os melhores serviços e marcas internacionais, que criam emprego e geram receitas fiscais.” No que toca às perspectivas para o futuro, Paul Taylor revela-se optimista. Constata que neste momento a Vilamouraworld mantém uma clientela fiel de holandeses, escandinavos e britânicos, “que com o Brexit podem vir a aumentar”, mas afirma que o seu melhor mercado já é, agora, o francês. Refere que o Aeroporto de Faro registou no corrente ano um aumento de 164% nas chegadas de cidadãos franceses. A concluir, e quanto ao objectivo do investimento que está a desenvolver com a Lone Star, Paul Taylor revela-se ambicioso: “Queremos que, no prazo de cinco anos Vilamoura, se torne no mais importante ‘resort da Europa”, afirma confiante e seguro. “Gosto de desafios”, sublinha. E quando se reformar, onde é que se vê a passar o resto dos seus dias? Responde novamente seguro de si: “Somewhere in the Algarve, for sure!” ¶

A paixão do Golfe Faça sol ou caia chuva, vê-se sempre gente nos “greens” do Algarve. Custo? Romeu Gonçalves, “golf manager” do grupo Oceânico dá-nos valores aproximados: 350 euros por pessoa para cinco voltas ao campo, incluindo buggie e aluguer de saco. Isto na época baixa, que aqui corresponde aos

meses de Dezembro, Janeiro, Julho e Agosto. Na época alta – Março, Abril, Outubro e Novembro – o valor sobe para os 650€. No caso dos estrangeiros, estes valores, somados ao custo do alojamento, refeições e todas as outras despesas feitas em Portugal, entram nas contas nacionais como exportações... FOTO: JOSÉ SÉRGIO

Oceânico Victoria, considerado um dos melhores e mais sofisticados campos de golfe da Europa era um terreno de matos


22 | Domingo, 31 JUL 2016 | Caderno Extra Loulé | Qualidade de Vida

Qualidade de Vida | Caderno Extra Loulé | Domingo, 31 JUL 2016 | 23

OPINIÃO | MICHAEL R. REEVE, AFPOP*

ANNE-MARIE: “LE PORTUGAL? C’EST ‘COOL’ ”

JANE: “PORTUGAL? IT’S ‘COOL’ ”

Direito de voto

Os Muti e os Loustalot

O autor dirige a associação que reivindica ser “Portugal's largest Foreign Residents' Association”

O fluxo migratório do século passado inverteu-se. Agora são os franceses que escolhem Portugal como destino das suas vidas

Peter e Jane compraram um lote onde Ronaldo passou férias

FOTO: DR

Um dos factores que atrai estrangeiros a Portugal, particularmente do Norte da Europa, é certamente o clima e consequentemente o estilo de vida mais saudável. Outro factor é uma maior sensação de segurança. Portugal tem um índice de violência e criminalidade mais baixo do que muitos outros países. O facto do povo português ser acolhedor e normalmente disposto a falar-lhes em inglês é um factor importante para britânicos e para nacionais de outros países que poderão não falar português, mas terão pelo menos um conhecimento básico de inglês. Portugal tem um charme próprio que muitos acham enriquecedor. É ainda um país de orientação familiar, mas mais do que isso, tem raízes, tradições e ligações ao seu passado, o que muitos acham não só agradável mas também interessante. Recentemente organizámos, em colaboração com a Universidade do Algarve, um curso para os associados da afpop chamado 'Discover Portugal'. Outros cursos estão planeados para um futuro próximo. A história e a cultura deste país é fascinante para a comunidade estrangeira e é algo que muitos gostariam de conhecer melhor. Os residentes estrangeiros, na generalidade, sentem-se bem acolhidos pelos portugueses, mas há ainda uma divisão em muitas áreas. Isto é em parte devido ao facto dos estrangeiros terem comprado propriedades em comunidades já estabelecidas e a interacção entre estes e os seus vizinhos portugueses concretizou-se mas essencialmente a um nível superficial, em lojas e restaurantes, por exemplo. É também de notar que, sendo o Algarve uma região particularmente baseada no turismo, os portugueses muitas vezes têm dificuldade em distinguir quem está de férias, e quem cá está durante todo o ano. Não é fácil construir relacionamentos, mas isso não significa que os residen-

tes estrangeiros não se sintam bem-vindos. O Turismo de Portugal e as Câmaras locais poderiam envolver mais a população residente como parte da sociedade. Estas pessoas são muitas vezes ignoradas, quando na verdade são um potencial na publicidade do país lá fora, através de amigos e familiares. Muitos concelhos já incluem estrangeiros nas suas organizações e isto deve ser incentivado. Os estrangeiros que já cá estão contribuem grandemente e poderiam fazer ainda mais, na verdade muitos querem fazer mais. Fazer uso de um recurso tão disposto a promover Portugal e a ajudar nas suas áreas de residência, não só iria fazê-los sentir-se parte da sociedade como também beneficiaria o país. Há muito que Portugal pode aprender com os seus residentes estrangeiros, tanto quanto os estrangeiros podem aprender com os portugueses. A promoção de um cruzamento cultural é algo que deve ser activamente encorajado. Também ajudaria se os estrangeiros residentes em Portugal tivessem direito de voto nas eleições nacionais e presidenciais. Actualmente só é possível fazê-lo adquirindo cidadania, mas o alargamento dessas regras para os estrangeiros residentes há mais de cinco anos e que votaram em, pelo menos, uma eleição local poderia ser considerado. ¶

A História e a cultura deste país é fascinante para a comunidade estrangeira

Nas traseiras fica a propriedade de Rio Ferdinand, que na defesa do United tantas vezes jogou com CR7 à frente, balanceado para o ataque

S

ão dois casais. O primeiro, sem nunca perder a ligação à pátria, andou pelo continente africano a trabalhar, antes de regressar a França. O segundo ainda vai tendo de se apresentar ao serviço em Paris. Mas, para seu descanso, todos os quatro já encontraram os espaços de privacidade onde pretendem viver o resto das suas vidas. No Algarve. O destino eleito por estes franceses com quem falámos. Em 1962 Anne-Marie e Jacques já eram expatriados. De origem europeia, ela com antepassados franceses e espanhóis, italianos os dele, vindos da Argélia encontraram um primeiro porto de abrigo em França. Anos depois estavam de novo a fazer as malas com bilhetes de passagem para um regresso a África. Desta vez os Camarões e depois a Costa do Marfim, onde viram os filhos crescer até se tornarem adolescentes, altura em que regressaram a França. Nice primeiro, Toulose depois e, finalmente, Aix-en-Provence. Agora, com três filhos e sete netos, Jacques confessa-nos: “Passámos toda a vida a viajar de um lado para o outro e, chegada a reforma, decidimos que era finalmente o momento de ‘pousar as malas’”. Mas não em França, “onde se vive hoje com muito ‘stress’”. “Foi o clima que nos atraíu a Portugal. É o que mais se aproxima do clima africano, onde nos sentimos bem, mas que não nos obriga a ficar longe da família”, constata Anne-Marie. Chegaram a Loulé por um erro de GPS, confessam-nos entre risos, mas o que viram decidiu-os a comprar o apartamento no centro da cidade onde se instalaram há 15 dias. Em Outubro já cá terão filhos e netos de visita e dizem-nos que os amigos que deixaram para trás sentem inveja por ainda não terem podido seguir os seus passos. “Encontrámos aqui tranquilidade, segurança, gente muito prestável, mesmo que não compreenda o francês – mas esforçam-se por o fazer – uma cidade muito limpa e dinâmica, campos e paisagens lindas e com o mar e as praias por perto. Encontrámos aqui a tranquilidade de espírito que procurávamos”. Os Loustalot são outro casal de franceses que também acabou de se instalar no sul de Portugal. “Como vejo o Algarve? Como um pequeno cantinho do Paraíso.

É

uma casa de Vilamoura com história e histórias. Jane e Peter são um casal que, longe ainda da idade de reforma, criou uma meia dúzia de filhos que já lhes deram uma neta. Vivem na região de East Midlands, em Inglaterra, onde ele já foi director de uma das maiores multinacionais de bebidas não alcoólicas. Com uma carreira profissional no sector da distribuição é agora CEO de uma empresa que na área do “homestyle” gere várias marcas de prestígio para a jardinagem e acessórios domésticos para o jardim, animais de estimação e aves ornamentais. Amante dos desportos náuticos decidiu-se há uns anos atrás pela

compra de uma residência de férias nas costas do sul da Europa, junto ao Mediterrâneo. Nos limites do orçamento que definiu, a Côte d’Azur era a sua primeira opção: o Mónaco ou qualquer outra localização, desde que servida por uma marina de qualidade, equipamento de que não prescindia. Entretanto conheceu o Algarve e a alternativa inicial foi perdendo argumentos em favor das propostas que lhe iam sendo apresentadas pela Ana Abrantes, “foreign investment manager” da Garvetur. Até que após duras negociações, que se arrastaram de Dezembro de 2013 a Fevereiro do ano seguinte,

acabou por se sentar para assinar o contrato-promessa de compra e venda que iria colocar no seu património a moradia onde, no Verão anterior, Cristiano Ronaldo tinha passado as suas férias algarvias. CR7 deixou-lhe Rio Ferdinand como vizinho e uma propriedade, hoje avaliada em 3,5 milhões, um valor irrisório quando comparado com os 46 milhões que em 2002 o Manchester United pagou ao Leeds pelo passe do defesa central. No dia dos namorados de 2014, em Vilamoura e com o contrato assinado, Peter tirou Jane do hotel de 5 estrelas onde estavam alojados e disse-lhe: “Tenho uma prenda paFOTO: JOSÉ SÉRGIO

Anne-Marie e Jacques Muti

"Encontrámos aqui a tranquilidade de espírito que procurávamos”

É uma região muito aberta, muito cosmopolita, e para nós é importante existirem várias nacionalidades, várias culturas.” Apaixonaram-se pela paisagem, pelo clima, pelas casas e decidiram que Vilamoura era o local perfeito para passar a fase madura da vida. “Hoje somos mais selectivos, mais abertos às coisas simples, para viver bem, procurar momentos verdadeiros… Sabemos que o nosso tempo não é eterno e por isso mes-

mo procuramos que cada momento seja especial e único.” Christine, parisiense, recebe-nos na casa que adquiriu com o marido, Philippe, no final do ano passado. Assume o comando da conversa para contar como ambos descobriram a região: “Foi por acaso! Andávamos à procura de um local para a nossa reforma. Primeiro pensámos no Sul de Espanha, mas há um ano e meio viemos pelo Natal ao Algarve. Alugámos um apartamento nas residências Victoria, em Vilamoura e achámos que era magnífico. Depois alugámos um apartamento por um ano inteiro na Quinta do Lago e daí pensámos em comprar”, recorda-se, orgulhosa da aquisição. Apesar de passarem por cá muito tempo, as viagens entre Paris e o Algarve ainda se cumprem, facilitadas pela proximidade ao aeroporto, a 25 Kms de Vilamoura. “Amanhã vou trabalhar... em França (risos), porque ainda trabalho, numa pequena empresa. A 1 de Outubro entro na reforma!” Philippe faz consultoria para companhias francesas que constroem campos de ténis. Em Outubro, também ele entrará na reforma. A razão para deixar Paris é clara. A cidade tornou-se opressiva e ape-

FOTO: JOSÉ SÉRGIO

sar de fazer parte do seu ADN, Christine sente que de momento não é segura. Outras há que a fazem deixar tudo para trás e dar uma nova face à vida. Mas Christine tem dificuldade em hierarquizá-las: “Não sei se gosto mais do golfe, da gastronomia, das pessoas, que são muito acolhedoras. E o clima, claro… – diz, levantando a palma da mão para o céu. “Já para não falar dos impostos, que também são mais apelativos aqui do que em França.” Deslumbrados com Vilamoura, de momento não mudariam nada na região. Depois de uma vida de trabalho admitem ter aqui o triângulo perfeito: o Sol, o golfe e o barco, que há-de chegar de França em Novembro. Futuramente, querem descobrir o interior do Algarve e Lisboa. Até lá, e enquanto não chegam à reforma, deliciam-se com o que consideram o maior prazer de todos: “De manhã, abrir as cortinas e ver o sol aqui neste jardim. Sinto tranquilidade.” Philippe assina por baixo. Os dois filhos, já grandes, virão mais tarde conhecer a nova casa. Os amigos já foram convidados a visitar o local onde Christine e Philippe nunca se sentem sós. “Aqui? Não. Há vida a toda a hora!” ¶

ra ti”. Apresentou-lhe a propriedade que tinha acabado de adquirir e antes que o dia terminasse levou-a de volta à Marina. Aí, quando tinham pela frente uma embarcação de recreio acabada de chegar de Cascais deixou cair: “Acho que também mereço um presente!”. O “bote” está avaliado em 800.000 euros. Peter e Jane agora passam férias rodeados de filhos, neta, familiares e amigos que dão vida a uma casa de piso térreo e seis lugares de estacionamento na cave, com uma volumetria de 1500 m3 e uma área de construção de 465 m2. A moradia, os jardins envolventes e a piscina ocupam 4200 m2 de um condomínio envolvido pelo pinhal. Junto à janela rasgada para o exterior interrogamos Jane, a porta-voz do casal. “Que mais lhe agrada em Portugal?” “A minha casa!” é a resposta pronta, com um sorriso rasgado. Mas acrescenta de seguida: “Os portugueses são gente simpática e quando saímos para a marina com as crianças vemos tudo limpo e sentimo-nos em segurança”. “No pós-Brexit aconselharia os seus amigos ingleses a comprarem também as suas casas de férias em Portugal?” “NÂO! Eles já têm a minha”. ¶ FOTO: JOSÉ SÉRGIO


24 | Domingo, 31 JUL 2016 | Caderno Extra Loulé | Informação Útil

OPINIÃO | JOÃO LUÍS CALÇADA CORREIA, EMPRESÁRIO E CONSULTOR

Um clima muito positivo para o investimento no Algarve Os projectos em curso no concelho têm um impacto positivo na economia nacional FOTO: DR

N

uma altura em que se vive uma crise económica e financeira global muitos investidores procuram “activos de refúgio”: activos de qualidade superior, normalmente menos elásticos a flutuações resultantes da conjuntura económica. O Algarve tem esse activos: uma oferta de qualidade superior no turismo ocasional e no turismo residencial, ambiental, de saúde e desportivo. Os pilares que atestam essa quali-

dade e têm potenciado o crescimento do investimento são reconhecidos internacionalmente: um clima extraordinário numa costa mediterrânea e atlântica com excelentes praias e boas marinas; campos de golfe ao nível dos melhores do mundo; uma elevada qualidade de vida; excelentes hotéis e boas infra-estruturas; serviços de saúde e educação também de qualidade e uma gastronomia apreciada dentro e fora de fronteiras. Aliado a estes atributos regionais, a segurança no território nacional assume hoje uma importância determinante para quem nos visita ou para quem investe. Adicionalmente, o custo de vida bastante acessível, conjugado com alguns benefícios fiscais e com a política dos “Vistos Gold” também potencia a nossa região como destino de investimento. No rótulo de qualidade que o Algarve possui, o concelho de Loulé assume uma posição de destaque. Concentrando o melhor da oferta turística do Algarve, beneficia de uma ampla percentagem do investimento canalizado para a região.

Apesar da sua grande diversidade territorial (serra, barrocal, e litoral), o protagonismo na captação de investimento têm-se concentrado no chamado Triângulo Dourado: Vilamoura, Quinta do Lago e Vale do Lobo, um conjunto de empreendimentos de referência mundial. Mas o poder local tem-se preocupado com a sustentabilidade do seu modelo de desenvolvimento, apostando forte na requalificação de infra-estruturas, na criação de condições para a diferenciação da sua oferta e para a atenuação da sazonalidade turística. É de destacar o golfe, com a perspectiva de desenvolvimento de dois novos campos na zona interior, o que representará um grande passo em termos do desenvolvimento das zonas mais afastadas do litoral. A saúde e a educação são outros dois sectores com relevência. Apresentam uma oferta sólida de nível superior, muito suportada na iniciativa privada. São inquestionavelmente áreas de qualidade diferenciadora que podem ser potenciadas porque representam mais-valias pa-

ra quem aqui investe, reside, trabalha ou passa férias. O presente clima de investimento na região é muito positivo. Atesta-o o sector imobiliário, que continua a dar sinais de extrema vitalidade com o desenvolvimento de projectos como a Quinta da Umbria (Golfe, Hotel e Vivendas) no montante de 210 milhões de euros, a aquisição da entidade gestora de Vilamoura pelo grupo Lonestar, que prevê um investimento de 1.000 milhões de euros nos próximos anos, o projecto de Vale do Freixo (Golf & Country Estate) com um investimento previsto de 125 milhões de euros, o projecto em marcha do grupo IKEA no montante de 200 milhões de euros – que se espera que venha a dinamizar os concelhos de Loulé e Faro com a criação de 3000 novos postos de trabalho – e ainda o desenvolvimento de um grande complexo multiusos, Algarve Cluster Multiusos, que comporta um investimento de 300 milhões de euros. Pelas razões apontadas, a região, e em particular o concelho de Loulé, revela grande capacidade de atrac-

ção de capital reprodutivo. Isto porque além de todas as razões estruturais acima referidas oferece ainda atractivos no domínio fiscal, nomeadamente benefícios fiscais para determinados investimentos (PIN – “Vistos Gold”) assim como a redução do IRC. É igualmente importante assinalar a política da atracção e fixação de população por parte do município com a redução da taxa de IMI em 5% nos últimos dois anos, situando-se actualmente em 0,38% e com a expectativa de nova e substancial redução no próximo ano. A reversão, para o contribuinte residente no concelho, de 1% do valor do IRS cobrado é outra medida com grande impacto. Os instrumentos fiscais têm sido assim utilizados pelo município de Loulé como alavancas de desenvolvimento, captando investimento e promovendo a coesão territorial com resultados expressivos. Os projectos em curso no concelho têm um impacto positivo na economia nacional e traduzem o reconhecimento, por parte dos investidores, das condições de excepção que Loulé oferece. ¶

ALGARVE CENTRAL

FOTO: MELANIE MAP'S

Servida por uma boa rede de ligações rodoviárias e ferroviárias, entre dois dos mais importantes aglomerados urbanos da região, Loulé e Faro, e junto ao aeroporto internacional e aos pólos de investigação da Universidade desta última cidade, a zona envolvente do Estádio do Algarve constitui uma plataforma logística e de serviços capaz de acolher investimentos de grande dimensão como o projectado Hospital Central do Algarve e, em breve, o IKEA.

FOTO: DR

Ficha Técnica | PÚBLICO • CADERNO EXTRA da responsabilidade da Direcção Comercial Editor António Salaviza Manso | Textos Mário Lino | Paginação João Pedro Mota | Dir.-G. Comercial Mário Jorge Maia | Publicidade Guerra Ferreira, Cláudia Martins


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.