Ant贸nio Pacheco
Coordenação Editorial Luis Moreira
Autores António Pacheco
Design e paginação João Mota
Fotografia e Tratamento de Imagem John Doe
Revisão John Doe
Impressão e Acabamentos Ipt - Instituto Politécnico de Tomar Museu Machado de Castro Tiragem: 1000 exemplares ISBN: 978-972-8848-95-8 Depósito Legal: 215468546513 Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio, incluindo fotocópia, gravação ou informação computadorizada, sem permissão do Museu Machado de Castro
Ant贸nio Pacheco
Fรกbrica de Joaquim Alfredo Pessoa
CONSIDERADO UM DOS MELHORES fabricantes da cidade e Vereador da Câmara de Coimbra de 1874-1876, era fi lho de Manuel Joaquim Pessoa (+1850), que se tinha estabelecido na cidade c. de 1810 e que esteve na origem de uma família de ceramistas, ainda activos no primeiro terço do século XX.
Para a exposição de 1869, Joaquim Alfredo Pessoa apresentou uma muito
variada colecção de louça, que se torna notável pelo seu bem acabado. O
expositor não fez preços, por não ter sortimento correspondente e porque está comprometido a ceder parte delas para formar colecção. O cuidado posto neste
pagina anterior Pormenor da Fig. 8. Séc. XIX. MNMC 9849
a baixo Fig. 1. Travessa Fábrica de Joaquim Alfredo Pessoa. Séc. XIX.
fabrico é confi rmado pelas diversas fornadas perdidas até que fosse atingida a qualidade pretendida. Esta situação
reflecte o carácter empírico do fabrico, quando com as
inovações estabelecidas na Inglaterra, no fi nal do século
XVIII, por Josiah Wedgwood, há muito estavam disponíveis no mercado.
Face à procura, acedeu a estabelecer preços para as
peças, satisfazendo posteriormente as encomendas.
O conjunto de peças, com marca de posse J.A.P.,
entrado no Museu Nacional de Machado de Castro, em
Fábrica de Joaquim Alfredo Pessoa
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1963, que inclui a travessa, identificando o fabrico, açucareiros, pratos e quatro garrafas antropomórficas faria parte dessa colecção.
Na exposição de Paris a sua louça foi também premiada, inexplicavel-
mente, sob o nome de José Nobre Garem. Conimbricense nº 2294, 20/7/1869
As garrafas antropomórficas, uma inovação coimbrã, iniciada por
Domingos Vandelli, inspirado nos toby jugs ingleses e com continuação na
Fábrica do Rato, quando Alexandre Vandelli assumiu a sua direcção, faziam também parte deste conjunto.
As duas imagens seguintes representam a mesma figura, sendo a segunda,
só vidrada, reflectindo que a pintura foi fi xada numa terceira cozedura, depois da peça ter sido enchacotada e vidrada.
Além de chávenas e pires, com a decoração da travessa, destacam-se
topo à esquerda: Fig. 2. Garrafa antropomórfi ca. Séc. XIX. MNMC 9852
topo à direita: Fig. 3 Garrafa antropomórfi ca. Séc. XIX. MNMC 9851
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outras peças que pretendiam exemplificar as possibilidades técnicas da fábrica. Referem-se a taça, de fundo azul decorada a branco e o açucareiro, pintado, imitando as cerâmicas estampadas, importadas.
A cópia, pintada, do motivo estampado pressupunha um dispêndio de
tempo incomportável, que condicionava, à partida qualquer hipótese de
Louça Tradicional de Coimbra 1869-1965 - António Pacheco
concorrer com as cerâmicas decoradas mecanicamente. A dificuldade de repro-
duzir as imagens estampadas é manifesta se tivermos em atenção a observação dos exímios pintores de louça chineses, que desconhecendo como eram feitas, as consideravam obra do diabo.
topo à esquerda: Fig. 4. Séc. XIX. MNMC 9839
topo ao centro: Fig. 5. Séc. XIX. Col particular
topo à direita: Fig. 6. Séc. XIX. MNMC 9840
baixo à esquerda: Fig. 8. Séc. XIX. MNMC 9849
baixo à direita: F ig.7. Séc. XIX. MNMC 9848
Louça Tradicional de Coimbra 1869-1965 - António Pacheco
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Cer창micas Falantes
MUITO TÍPICAS DE COIMBRA e produzidas em enorme quantidade, desde o último quartel do séc. XIX foram as cerâmicas falantes, cujos ancestrais se
podem procurar nas ceramiques parlantes, divulgadoras dos ideais da Revo-
lução Francesa, embora sejam conhecidas exemplares, bem anteriores, alusivas à restauração da independência de Portugal, em 1640. (Ilustração portuguesa
página anterior e a baixo: Fig. 1. Travessa Fábrica de Joaquim Alfredo Pessoa. Séc. XIX.
nº 101 Lisboa, O Século, 27-01-1908)
No caso presente foram óptimos veículos transmis-
sores dos grandes acontecimentos nacionais, como os
centenários, as campanhas de África e depois de 1910,a implantação da República.
Este prato será uma homenagem a José Bento Pessoa,
ciclista figueirense que além de outros feitos, bateu o recorde mundial dos 500m, na inauguração do velódromo de Chamartin, em Madrid, no ano de 1897. Pratos
com
dixotes,
motivos
infantis,
temas
amorosos e de casamento foram outros temas recor-
rentes, retratando os usos e costumes da época, sendo neste aspecto ainda mais expressivos que os ratinhos, que abordaremos adiante.
Cerâmicas Falantes
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Fábrica Viúva Alfredo Oliveira (VAO Coimbra)
A FÁBRICA VIÚVA ALFREDO OLIVEIRA, sucessora da Fábrica Alfredo Oliveira,
para além de ter sido a única sobrevivente das olarias tradicionais, teve um
papel pioneiro no que se refere á decoração da louça na cidade de Coimbra. A produção mais significativa verificou-se no seu primeiro período, entre meados dos anos trinta, até 1965, quando passou a ser administrada pela Sociedade
pagina anterior e a baixo: Fig. 1. Travessa Fábrica de Joaquim Alfredo Pessoa. Séc. XIX.
Cerâmica Antiga de Coimbra.
As peças mais antigas conhecidas são dois pratos,
datados de 1937, ano seguinte à morte do fundador, repro-
duzindo uma figura típica da cidade, á maneira dos personagens presentes em muitos pratos de faiança ratinha e uma paisagem inspirada nas tradicionais coimbrãs e a fazer lembrar pinturas a óleo de alguns pintores da Escola Livre de Artes e Desenho.
Em meados da década de 1940, assiste-se a uma
mudança no paradigma, quando, a par da produção tradi-
cional, iniciou a produção de faianças decorativas, inspiradas em exemplares presentes na colecção do Museu
Machado de Castro, nomeadamente as faianças orientalizantes do século XVII, as de Brioso do séc.XVIII e as de
Fábrica Viúva Alfredo Oliveira (VAO Coimbra)
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