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Distribuição gratuita

Especial “80 anos do Parque Farroupilha”

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Foto: Matheus Chaparini

Lei de Bairros Moradores da Ramiro:

“Sempre fomos do Bom Fim” Foto: JÁ Bom Fim

Projeto vai à Câmara com emenda que aumenta o bairro

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uem entrar na rua Ramiro Barcelos pela Osvaldo Aranha e perguntar para moradores da região ou comerciantes locais em qual bairro está, certamente receberá esta resposta: Bom Fim. A verdade é que a Ramiro, da Osvaldo pra cima, pertence hoje ao bairro Rio Branco. Mas quem mora ou trabalha ali, sente-se do Bom Fim. O que é hoje um sentimento de pertencimento pode virar lei. A nova lei de bairros está em tramitação na Câmara de Vereadores de Porto Alegre. O projeto original da Prefeitura prevê a delimitação do bairro na rua Irmão José Otão, depois Vasco da Gama, eliminando a linha imaginária que vai até a Castro Alves com a Felipe Camarão. O bairro ganharia um pedaço, até a Ramiro, e perderia outro, acima da Vasco. Mas após entrega de um ofí�cio da Associação dos Amigos do Bairro Bom Fim ao Conselho do Plano Diretor, a Comissão de Urbanização, Transportes e Habitação da Câmara (CUTHAB) enviará uma emenda que estabelece a permanência da linha

Foto: JÁ Bom Fim

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Para Pierre, bairro é uma questão pessoal

imaginária. Se a lei for aprovada com a emenda, o bairro ganhará três quarteirões. O projeto está prestes a ser votado na Câmara. “Aqui sempre foi Bom Fim, mesmo a gente sabendo que não era”, afirma a comerciante Sara Astarita, que foi moradora do bairro durante 40 anos e hoje é proprietária do restaurante Mid Bar, localizado no Clube de Cultura. Ela mostra suas correspondências que indicam, para o mesmo endereço, os bairros Rio Branco, Bom Fim, Independência e até Floresta. Para o restaurante de Sara a mudança do bairro será positiva. “Aos sábados servimos comidas do oriente médio, é importante que façamos parte do bairro com essas raí�zes”, afirmou ela, referindo-se ao fato do Bom Fim ser um tradicional bairro judaico.

Surpresa entre moradores da Bento Figueiredo

João Ferreira mora há 45 anos na Bento Figueiredo: “O cotidiano é do Bom Fim“

Com apenas uma quadra, entre as ruas Ramiro Barcelos e Felipe Camarão, hoje a Bento Figueiredo está oficialmente no bairro Rio Branco. Se aprovado o novo mapa, seus moradores mudarão de bairro sem sair de casa. Seu João Ferreira mora há 45 anos na mesma casa

da Bento Figueiredo e confirma: “Aqui o cotidiano é do Bom Fim, nós vivemos esse bairro, e não outro.” A prova disso é que carrega atrás de sua carteira de identidade um papel com um pequeno mapa e o endereço de onde mora, indicando o Bom Fim como bairro.

Pierre Rosa, proprietário da loja Gama, vai além. Para ele, trata-se de uma questão pessoal, cada um se identifica com o bairro que bem entender. “A loja fica no Bom Fim, lógico. Para mim o bairro começa ali depois da São Manoel. Se aqui não fazia parte e agora vai fazer, pra mim não muda nada.”


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Nota do Editor Vivi um dia histórico no sábado, 26 de setembro, na Associação Riograndense de Imprensa, quando lançamos o “kit antiditadura” – três edições especiais da revista JÁ sobre os idos de 1964. Na mesa, dois lutadores pela democracia – o jornalista Flávio Tavares e o presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, Jair Krischke. Tavares trouxe a ideia que norteou os debates: a prática de simulação introduzida pelo regime militar (ditadura que simulava que era democracia) é o vírus que contamina até hoje o organismo político do país. “To dos simulam que defendem o interesse público”, disse. Uma dura crítica à imprensa se seguiu: “A imprensa que temos também é uma herança da ditadura”.

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No Domingo no Parque... O Auditório Araújo Vianna volta a contar com shows gratuitos, uma vez por mês. É� o projeto Domingo no Parque, que vai até junho de 2016 e receberá mais de 150 artistas. A entrada é gratuita, mas os ingressos precisam ser retirados com antecedência nas lojas Oi ou na bilheteria do Araújo no dia de cada apresentação.

... só não vai quem já morreu

O evento foi lançado em um coquetel para imprensa e artistas. Algumas gafes no release chamaram a atenção. Na programação de novembro, está anunciada a presença de Mestre Borel, referência das religiões de matriz africana no estado, e do poeta Oliveira Silveira. Só que suas presenças fí�sicas no evento não serão possí�veis. Os dois são falecidos. Walter Calixto Ferreira, o Mestre Borel, morreu em 2011 e Oliveira Silveira, em 2009. Alguns veí�culos divulgaram a informação.

Unicred já está no Torreão

A Unicred, braço financeiro da Unimed, já está ocupando a Casa do Torreão. A mudança começou em agosto, após a reforma do casarão. Para o dia 15 de outu-

BOM FIM

URGENTE

bro a empresa prepara atividades abertas ao público para a inauguração oficial.

Ampliação da coleta seletiva

A Prefeitura ampliou a coleta dos resí�duos recicláveis. Desde 28 de setembro, o recolhimento é feito duas vezes por semana em todas as ruas da cidade que permitem acesso de caminhão. Em 19 bairros que já contavam com o serviço, ele passa a ser realizado três vezes por semana. Um deles é o Bom Fim, onde os caminhões passam nas segundas, quartas e sextas-feiras, a partir das 18h. A consulta por endereço pode ser feita pelo site: www.portoalegre.rs.gov.br/dmlu

Clínicas abre concurso

O Hospital de Clí�nicas abriu concurso público para diversos cargos de ní�vel técnico e superior. As inscrições vão até 19 de outubro. As vagas são para preenchimento de cadastro reserva. Os salários variam de R$ 3.148,14 a R$ 6.991,11.

Expediente O Jornal Já Bom Fim é uma publicação de Jornal Já Editora Editor: Elmar Bones Reportagem: Felipe Uhr, Matheus Chaparini e Patrícia Marini Fotografia: Arquivo Jornal JÁ e Matheus Chaparini Comercial: Matheus Dias Diagramação: Cabeças Fumegantes DG

Distribuição gratuita Redação: Av. Borges de Medeiros, 915, conj. 203, Centro Histórico CEP 90020-025 - Porto Alegre / RS Edição fechada às 18h do dia 6 de outubro de 2015 Contatos: (51) 3330-7272 www.jornalja.com.br jornaljaeditora@gmail.com jornaljaeditora jornal_ja


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O bolo da vovó virou negócio

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quele bolo gostoso, molhadinho, estilo caseiro está virando moda entre os consumidores e sendo percebido por empreendedores como um novo nicho de mercado. “São bolos caseiros, com uma massa bem úmida, que nem bolinho da vovó”, explica Marcelo Silva sócio da recém inaugurada Boutique do Bolo. A loja abriu em 16 de setembro, na rua Giordano Bruno. É� o primeiro negócio de Marcelo, que tem 20 anos de experiência em panificação. As casas de bolo se baseiam em um conceito simples: bolo caseiro, de forma redonda, furados no meio, para levar para casa ou consumir no local. Um bolo grande custa entre R$ 20 e R$ 30, dependendo do sabor e do estabelecimento.

Dois meses antes de inaugurar a Boutique, a Maria Bolaria abriu para o público na paralela Miguel Tostes. Thaise Silvestre é nutricionista e chefe confeiteira e há dois anos começou uma pesquiMarcelo e sua sócia querem expandir e criar franquias sa para abrir um negócio próprio. Foi de São Paulo que ela trouxe a ideia. “Ainda não existia nenhuma casa de bolos aqui. Fui pra São Paulo em abril do ano passado e lá já estava super disseminado.” Aí� começou o planejamento: de dia Thaise tinha um emprego como nutricionista, à noite testava receitas e colocava no papel a criação da sua empresa. Todas as receitas da Maria Bolaria são dela. Maria Bolaria é pioneira no bairro Além destas, tem a Fome Em Porto Alegre, este é de Bolo na Fernandes Vieira, um novo negócio que cresce. próximo à Osvaldo. Em breSomente na região do Bom ve inaugura a Bolinhos da Fim, são pelo menos quaMaroca, na Venâncio Aires tro novos estabelecimentos. próximo à Vieira de Castro.

Matheus Chaparini Matheus Chaparini

Com receitas simples, casas de bolo se espalham pelo bairro

BROWNIE BLONDIE COM biscoito OREO O que era uma brincadeira de duas primas, vindas de uma família de doceiras, se tornou um negócio. Há cerca de um mês, a Caramellas abriu sua primeira loja, na rua Vieira de Castro, 52, pertinho da Redenção. A empresa já trabalhava com doces por encomenda. As primas e sócias Roberta e Bruna Vargas misturam receitas familiares com criações suas. A produção é toda feita por elas e o processo é artesanal. “A nossa linha de trabalho é na tendência da ‘confort food’, são doces mais caseiros, que lembram a infância. Nós não fazemos um doce fino, fazemos um doce pra pessoa querer se lambuzar, é doce pra quem não tem medo de açúcar”, explica Roberta. Ela estava cansada da carreira de publicitária e Bruna já trabalhava no ramo de gastronomia. No início deste ano, elas criaram a Caramellas. As especialidades da casa são os brownies, cupcakes e

Arquivo JÁ

Ingredientes • 300g de chocolate branco • 200g de manteiga sem sal • 4 ovos inteiros • 300g de açúcar • 4g de sal (uma pitada) • 300g de farinha de trigo sem fermento • 100g de biscoito Oreo picado

Modo de preparo 1 Pré-aquecer o forno a 180° 2 Untar e forrar a forma com papel manteiga (preferência forma retangular) 3 Derreter o chocolate com a manteiga em banho maria e reservar até esfriar 4 Em outro recipiente bater os ovos com o açúcar, o sal e a farinha. Adicionar o chocolate e a manteiga 5 Misturar até que a massa fique homogênea e misturar o biscoito Oreo picado 6 Colocar no forno e assar por 20min ou até “craquelar” a cobertura.

os brigadeiros de diversos sabores. A Caramellas oferece doces para consumir no local ou para levar. O Brownie Blondie é o que mais sai. Mas para ele ficar com a consistência certa, é bom observar a quantidade

de açúcar, o tempo de forno e a quantidade de massa na forma. O Brownie Blondie combina com uma bebida de sabor amargo. A dica é uma cerveja tipo Porter ou um café preto sem açúcar.


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s atividades do Planetário Professor José Baptista Pereira, o Planetário da Ufrgs, foram retomadas no dia 1º de setembro. O prédio estava fechado desde fevereiro para a realização de obras, que não aconteceram. As reformas eram de adequação à legislação de acessibilidade e de prevenção contra incêndios, além de reparos nos banheiros. Mas a empresa responsável, a Esfinge Construções Ltda, abandonou as obras. A direção do Planetário decidiu retomar as atividades em caráter precário, com a contratação de banheiros quí�micos. O funcionamento está garantido até 6 de dezembro, quando vence o contrato dos banheiros. A partir daí�, o futuro é incerto.

Matheus Chaparini

Empresa responsável abandonou as obras pela metade

Feira Ecológica da Redenção faz 26 anos

A capacidade das apresentações é para 120 pessoas. Atualmente o Planetário está funcionando com cerca de 50% da capacidade. O planetarista Marcelo Cavalcanti explica que o movimento no primeiro mês não foi tão grande pois as escolas precisam de tempo para se organizar e agendar as visitas. A greve dos professo-

espaço de cultura, saúde e lazer

res estaduais também gerou alguns cancelamentos. O Planetário abre para visitações de escolas de segunda a sexta, das 10h às 15h. Nos domingos, há uma programação especial com sessão para o público infantil às 16h e adulto às 18h. O Planetário fica no Campus Saúde da UFRGS, na Avenida Ipiranga, 2000. O Café está localizado dentro de um espaço cultural, a Casa Coletânea, que promove periodicamente eventos, palestras, saraus e cursos.

Cafés especiais, chás, sucos, tortas doces e salgadas, sopas, alimentos integrais Venha degustar nossa seleção especial de cafés, acompanhado por saborosas opções em doces e salgados.

Matheus Chaparini

ça da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Smam) e da Agência Nacional de Petróleo (ANP), mas a segunda depende da primeira”, afirma Gian Rambor, sócio-gerente. A previsão é que o posto, o único da Osvaldo Aranha, reabra no mês de outubro. O posto e a loja de conveniências devem funcionar 24 horas. Gian explica que será vendida apenas gasolina, comum e aditivada e especial, pois o etanol não compensa. “Vendo menos de 100 litros de etanol em um dia, enquanto vendo 5 mil litros da gasolina comum.”

Av. José Bonifácio, 731 - Porto Alegre Segunda à segunda da 11h às 19h Telefone: (51) 3331-1646

Segunda a sábado das 11h às 14h45 Buffet livre com 1 carne R$ 12,90 Rua Bento Figueiredo, 23 - fone 3332- 2200

Aberto todos os dias das 11h às 15h Felipe Camarão, 719 - fone 3312-4379

LANCHERIA DO PARQUE

BOM

Reformas estão prontas, só faltam as licenças da Smam e da ANP

A Feira dos Agricultores Ecologistas (FAE) está completando 26 anos no dia 17 de outubro. A organização da feira está promovendo um concurso cultural para escolher a arte comemorativa do aniversário. Os prêmios são uma cesta de produtos orgânicos e uma camiseta. O resultado será divulgado em 10 de outubro, na feira e pelo Facebook. No mesmo dia, das 9h até o meio dia, acontece a feira de troca de brinquedos. Para o dia 17, a FAE prepara uma programação especial com bolo, abraço simbólico na feira e uma atração musical ainda não confirmada. A Feira Ecológica da Redenção acontece todos os sábados, das 7h às 13h, no primeiro quarteirão da José Bonifácio.

Direção optou por reabrir com banheiros químicos: ”é melhor do que ficar sem funcionar”

Avenida Osvaldo Aranha volta a ter posto de combustível em outubro O posto de combustí�vel da esquina da avenida Osvaldo Aranha com a José Bonifácio, junto ao Parque Farroupilha, deve reabrir em outubro. Fechado desde julho, o posto foi adquirido pelo antigo proprietário do Ecoposto da esquina da avenida Ipiranga com a José de Alencar. O ponto foi reformado e sofreu algumas readequações, como o sistema de monitoramento eletrônico de vazamentos, que foi trocado. “Já estamos com o PPCi dos Bombeiros e o alvará da Prefeitura. Agora só falta a licen-

Arquivo JÁ

Planetário reabre sem as reformas

FIM

Almoço de segunda a sábado com 12 variedades de pratos quentes e saladas e 3 opções de sobremesa por apenas R$ 10,00

Osvaldo Aranha, 1086 - Fone 3311.8321

Av. Osvaldo Aranha, 228 Próximo ao Túnel da Conceição


Especial Parte integrante do jornal JÁ Bom Fim edição de outubro de 2015

Fotos: Sioma Breitman

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população de Porto Alegre começa com os casais açorianos. Os primeiros desembarcam no porto de Viamão em 1752 e erguem choupanas de taquara e barro no descampado à beira do Guaí�ba, onde hoje está localizada a Praça da Alfândega. Só 20 anos mais tarde recebem terra e conseguem se estabelecer no povoado. Durante quase um século, a população ficou restrita à pení�nsula, atual área do Centro, ligando-se a outros núcleos de povoação por caminhos ao longo dos quais foi se expandindo a cidade. Entre a estrada dos Moinhos e o Caminho do Meio, por exemplo, os terrenos foram sendo ocupados por chácaras que se estendiam até o Campo da Várzea. Foi do loteamento destas chácaras que nasceu o bairro Bom Fim, denominação decorrente da capela que começou a ser construí�da em 1867. O Campo da Várzea passou a se chamar Campo do Bom Fim, também por causa da capela. Mais tarde, em 1884, com a libertação dos escravos na cidade, muitos acabaram se instalando na área, que passou a se chamar oficialmente Campo da Redenção. Nessa época, a área pública tinha 69 hectares. Ali acampavam carreteiros e ficava o gado para abastecimento da cidade - havia um grande matadouro no local que depois foi o Cinema Avenida e hoje é ocupado por uma faculdade. Foram diversas as tentativas de se lotear o enorme logradouro público, cedido ao municí�pio em 1807 pelo então presidente da Proví�ncia, Paulo José da Silva Gama. Em 1826, a Câmara Municipal tentou “parcelar e dividir a várzea em terrenos foreiros”. O imperador Pedro I interveio, alegando se tratar de área para exercí�cios militares. Em 1833, Câmara aprovou o projeto do vereador Francisco Pinto de Souza para dividir parte da área e distribuir

Antigo ponto de descanso para os carreteiros que cruzavam o Caminho do Meio, depois foi a “redenção” dos escravos alforriados, campo para exercícios militares, recebeu prédios institucionais e por pouco não virou um loteamento imobiliário. O parque está presente em todas as fases da cidade.

Parque Farroupilha na década de 1960

Redenção, vista do Cine Avenida, 1955

terrenos a particulares. Um abaixo assinado da população frustrou o plano. O primeiro prédio que surgiu na grande várzea foi o quartel do exército, atual Colégio Militar, construção iniciada em 1872. No final do século seriam construí�dos na outra extremidade os prédios da Faculdade de Medicina, depois a de Direito e em seguida a Escola de Engenharia. Nessa época havia um velódromo junto à Redenção, onde hoje é a Faculdade de Arquitetura, na rua Sarmento Leite. Os eventos ciclí�sticos eram atração na cidade, com movimento equivalente ao que hoje representa o Brique da Redenção. Em 1914, o arquiteto João Moreira apresenta o projeto para o parque. Em 1935, o local é sede da grande exposição para marcar o centenário da Revolução Farroupilha e passa oficialmente a chamar-se de Parque Farroupilha. Perde então mais um pedaço, com a construção do Instituto de Educação. Em 1941, é completada a obra de ajardinamento do parque. Foram sendo instalados chafarizes e monumentos, e o mercado, que rendeu muita polêmica. Em 1964, é construí�do o auditório Araújo Vianna dentro do parque. Hoje a Redenção tem 37,5 hectares, praticamente o mesmo tamanho do bairro Bom Fim, que tem 38 hectares e uma população de 11 mil habitantes, segundo o último censo, de 2010. Atualmente, o parque está em obras. A reforma do eixo central foi concluí�da recentemente, mas a Prefeitura decidiu restaurar a fonte luminosa. O sistema de drenagem foi refeito só ali. Está sendo instalado um novo sistema de iluminação. A previsão inicial era de que os trabalhos estivessem encerrados no aniversário do parque, na véspera da data Farroupilha. Recentemente o prazo havia sido recalculado para o dia 3, agora a previsão da Prefeitura é o dia 24 de outubro.


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Como foi a mudança do auditório da Praça da Matriz para o Parque da Redenção? Na Praça da Matriz, era uma concha acústica em forma de um quarto de esfera voltada aos bancos de praça, e uma pérgola com cobertura vegetal. Era de frente à antiga Assembleia, um prédio muito antigo. O atual prédio está onde ficava o auditório. Por um convênio, a Assembleia executaria um novo auditório para a cidade, desde que o municí�pio fornecesse o terreno. Como foi a escolha da nova localização? Na Redenção, não tinha sido executado ainda todo o projeto original de paisagismo. Esta zona onde hoje está o auditório era um banhado, a parte mais baixa do parque, inundava, e por não ser usada, virou um depósito de lixo. Uma parte muito feia e inútil. Eu e o colega Carlos Fayet escolhemos essa parte da Redenção, tendo ali um auditório para o público sanava a questão da drenagem e completava a organização do parque.

Quais ideias nortearam este projeto do novo auditório? A localização e a função acústica que deveria ter o auditório. Na época, a avenida Osvaldo Aranha tinha linhas de bonde, e o bonde, como a gente sabe, faz grande ruí�do. Por isso o auditório tem um recuo de 100 metros, para se afastar desse ruí�do. Além disso, optamos por um paisagismo que se integrasse ao parque: a elevação da nova construção aparece de fora como um grande talude gramado, uma elevação. As paredes de tijolo aparente, com diferentes inclinações, são para deter o som que vem de fora, e internamente essas

ENTREVISTA MOACYR MOOJEM MARQUES

“Estacionamento su é a solução aceita p

paredes refletiam o som produzido no palco. Entendo que esta concha foi um marco da arquitetura nacional quanto à sonorização do auditório.

E a torre de iluminação externa? Essa torre foi prevista para, uma vez iluminada, anunciar à população os dias de espetáculo. Ela também tem uma relação com o parque, porque está diretamente no eixo do chafariz principal, que por sua vez é o eixo do grande lago do parque, no seu projeto original.

Quais foram as maiores dificuldades para a construção do auditório na Redenção? Não quero fazer nenhum juí�zo de valor, mas naquela época a gente tinha a função pública como uma espécie de religião. O Fayet e eu fizemos o projeto. Podia ter sido feito fora, mas nos aventuramos a construir o auditório, para a Prefeitura não depender de empresas e para ser mais econômico. É� ramos muito moços, pouco experientes, mas bancamos a obra junto com a Prefeitura, foi na época do Loureiro da Silva. Quanto tempo levou a construção? Levou uns quatro anos, durante a gestão do Loureiro da Silva, não tenho esse registro. Foi inaugurado em 13 de março de 1964, pelo prefeito Sereno Chaise, que depois foi cassado.

Como foi a inauguração? Olha, o Fayet e eu ficamos exultantes, porque de certa forma foi um projeto pessoal, fizemos todo o processo com a Assembleia, escolhemos o terreno, fizemos o projeto e o executamos. Então, na inauguração foram dias de glória, eu pelo menos senti isso. Houve uma

A concha acústica foi construída no parque em 1964 Fotos: Fototeca Sioma Breitman

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arquiteto Moacyr Moojen Marques, 85 anos, nasceu em Lagoa Vermelha mas se considera cidadão portoalegrense. Vive na capital desde 1947. Formou-se em Arquitetura pela UFRGS em 1954 e mantém ativo até hoje seu escritório. Lecionou na Faculdade de Arquitetura por dez anos (até o iní�cio da ditadura de 1964) e trabalhou 35 anos na Divisão de Urbanismo da Prefeitura. Participou dos Planos Diretores, da criação do Parque Marinha do Brasil, do Parque da Redenção, do auditório Araújo Vianna, do prédio da SMOV, de prédios do DMAE, entre outros. “Os projetos eram todos feitos pelos funcionários do municí�pio, não eram terceirizados como hoje se faz.” A seguir, parte do depoimento gravado sobre a história do Auditório Araújo Vianna, que, em breve, será lançada em livro.

Auaújo Vianna e Theatro São Pedro, no centro, nos anos 1930

solenidade com música de Tchaikovsky, foi muito bonita, uma emoção indescrití�vel.

É verdade que os senhores tiveram problemas com o regime militar, que achou que o Araújo tivesse a forma de uma foice e um martelo? É� , existe até uma publicação, se não me engano da UFRGS, que relata esse fato, porque a forma curva do auditório, mais a passarela ali, podem dar a ideia, para quem tem preconcebido isso, de uma alusão ao martelo do Partido Comunista. Nós todos recebemos inquérito. O arquiteto Fayet foi cassado na Faculdade, eu respondi a inquérito lá e na Prefeitura, e essa era uma pergunta que era feita. E os primeiros tempos de atividades?

O funcionamento do auditório, mesmo sendo descoberto, foi um sucesso. A população aceitou, principalmente a juventude. Havia muita atividade. Aos domingos, mesmo não tendo espetáculo, as pessoas vinham e sentavam nos bancos. Foi um perí�odo muito bom. Tanto que nós achávamos que não se devia cobrir o auditório. Só que muitas programações eram canceladas por causa do clima. Então, quando começou a haver imprevistos em espetáculos contratados, surgiu uma campanha em vários setores para cobrir o auditório. Como foi feito o projeto para cobertura com lona? Entregamos o projeto da lona ao prefeito Tarso Genro, acompanhado de um relatório, no qual voltamos a insistir que ao invés da lona se fizesse a co-

bertura permanente, por uma questão de patrimônio público, de permanência no tempo. Já sabí�amos que a lona tinha um perí�odo de tempo limitado, era de oito anos, depois passou a dez. Mas, por causa do custo e da velocidade de execução, já que era o final do mandato dele, ele optou pela lona.

Como foi a implantação da cobertura com lona? A lona trouxe vários problemas. Primeiro, porque era uma lona distendida, começou a dar eco, reverberação interna, e o som fugia todo. O próprio municí�pio se adiantou na legislação ambiental, de conter o som e tal, o auditório não acompanhava a legislação posterior, e os vizinhos entraram na justiça, proibindo a emissão de ruí�do. Isso foi fundamental para o novo projeto da cober-


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Qual seria a solução? Quando o Fayet e eu nos demos conta de que o auditório seria revitalizado sob a vigência de uma lei que obriga a ter estacionamento, passamos a estudar uma forma de suprir essa carência. A forma que encontramos é aceita internacionalmente. Em vários lugares da Europa, os estacionamentos são subterrâneos, também no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte. Aqui seria sob o Ramiro Souto.

tura definitiva - se não quero que o som se espalhe pela vizinhança, tenho que fechar todo o prédio; fechando o prédio, precisa ter ar-condicionado. Em 2005, o senhor foi convidado pela Prefeitura para apresentar um projeto? A lona foi se deteriorando até que o auditório não teve mais condições de funcionar, e a Prefeitura passou a receber crí�ticas porque tinha abandonado o Araújo. Foram o prefeito José Fogaça e o secretário da Cultura, Sérgius Gonzaga, que nos chamaram para solucionar o problema. Fizemos um estudo e foi estimado um orçamento, mas era só um estudo, ali se revelaria uma obra três vezes mais custosa. Como ficou a acústica depois da reforma?

O Carlos Konrath, diretor da Opus, sugeriu que fôssemos a São Paulo procurar técnicos para tratar da acústica, mas o trabalho do arquiteto Flávio Simões, que é gaúcho, foi espetacular. Saiu no outro dia no jornal que a acústica era perfeita. O Lulu Santos falou numa entrevista que gostava muito de atuar no Araújo, porque parece que a plateia abraça os artistas, e o som é muito adequado.

Esse projeto é tecnicamente viável? Não tem problema nenhum, a questão de maior ou menor custo é inerente às condições do local. O shopping Praia de Belas está todo abaixo do ní�vel do Guaí�ba. Nesta parte da Redenção, que antes era um banhado, encarece a construção, mas isso é contornável.

O quê o senhor sente quando está no Araújo Vianna? O arquiteto é pai de sua obra, e quando essa obra é pública, para a frequência popular, é uma parte de cada um dos cidadãos... eu me emociono muito.

O projeto Domingo no Parque traz apresentações mensais gratuitas ao auditório Araújo Vianna. Ao todo serão nove edições do evento, envolvendo mais de 150 artistas. O projeto é parceria entre as Secretarias de Cultura do Estado e do Município com patrocínio da Oi e financiamento da Lei de Incentivo à Cultura. A programação começou em setembro e vai até junho de 2016 e as atrações são bastante diversificadas, contando com rock, reggae, metal, pagode e música afro-gaúcha. O coordenador geral

do projeto, Carlos Caramez, disse que a ideia do projeto é “tornar o Araújo Vianna uma vitrine de tudo de legal que está acontecendo na música do Rio Grande do Sul.” Em novembro, a temática é a música afro-gaúcha, com apresentações de Tonho Crocco, Andréia Cavalheiro, Marcelo Delacroix, do grupo Alabê Oni, entre outros. A entrada é gratuita mediante apresentação de ingresso, que pode ser retirado antecipadamente nas lojas Oi ou no próprio Araújo Vianna, na data de cada evento.

Programação 2015

Juliano Ambrosini/Cena Um

Araújo Vianna terá shows gratuitos aos domingos

2016

ubterrâneo pelo mundo”

Como o senhor vê a questão do Auditório ter um estacionamento? Essa é outra batalha. Antigamente, era um veí�culo para cada 400 metros quadrados de construção. Hoje, para o auditório, é um veí�culo para cada quatro espectadores. O Araújo Vianna que foi feito há 50 anos, não tinha esse tipo de solicitação. Hoje em dia não existe uma atividade assim que não necessite de estacionamento, é uma obrigatoriedade pela lei urbaní�stica do municí�pio. Um estacionamento no parque também poderia servir o bairro, o HPS, o parque esportivo e outras atividades da Redenção. Existem equipamentos públicos nas proximidades que não têm estacionamentos porque os prédios são anteriores a esse volume de automóveis.

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0 de novembro Música afro-gaúcha 2 20 de dezembro Tarde de samba, pagode e swing 21 de fevereiro Tarde do reggae 13 de março Império da Lã 17 de abril Tributo aos Garotos da Rua com diversas bandas 8 de maio Cantoras gaúchas 26 de junho Tarde heavy metal


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Multidão em frente ao pórtico de entrada

Embarcadouro depois abrigou café do Lago, hoje desativado

Maior pavilhão era o da indústria local Texto: Matheus Chaparini Fotos: Acervo do Museu Joaquim José Felizardo / Fototeca Sioma Breitman

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ra uma tarde ensolarada de sexta-feira quando, às 15 horas, se abriram para o público os portões da maior exposição já vista no Rio Grande do Sul. Mais de 50 mil visitantes ocupavam toda a rede hoteleira da cidade, alguns precisaram se hospedar em pensões e até mesmo em casas de famí�lia. A cidade estava em polvorosa, nunca vivera dias tão palpitantes, bradavam os jornais. A Exposição do Centenário Farroupilha foi inaugurada em 20 de setembro de 1935, no então recém-criado Parque Farroupilha, e durou quatro meses. O jornal A Federação, veí�culo do Partido Republicano, exaltava o vultuoso evento. O Correio do Povo chamava atenção para o enorme gasto de dinheiro público - municipal e estadual - em um perí�odo de recessão econômica, e para a alta de preços na cidade, em virtude do movimento de turistas. Para a solenidade de abertura,

Vista aérea da exposição de 1935

No cassino aconteciam os eventos de gala

A exposição do centenário farrapo Mais de um milhão de visitantes em quatro meses veio o presidente Getúlio Vargas. O governador, general Flores da Cunha, definiu o evento como “simplesmente formidável”. Além deles, ocupavam os espaços de honra o prefeito Alberto Bins, representantes de diversos estados brasileiros, do Uruguai, da Argentina e autoridades municipais. O pórtico de entrada era formado por duas torres de 22 metros de altura. Havia pavilhões de oito estados, da agricultura, da pecuária, da indústria local e estrangeira, além de um dedicado à cultura do Rio Grande do Sul, no prédio onde hoje funciona o Instituto de Educação General Flores da Cunha.

Tudo pelo poder

A Exposição Internacional de 1935 no Parque da Redenção foi uma grande jogada política do governador Flores da Cunha para promover sua candidatura às eleições presidenciais marcadas para 1938. O presidente Getúlio Vargas, que veio do Rio para inaugurar a exposição e ficou doze dias no Rio Grande do Sul, voltou cabreiro com “as atitudes intempestivas do Flores” (expressão registrada no volume 1 do seu diário, editado pela FGV em parceria com a Siciliano) e passou a manobrar contra o velho amigo dos idos de 1923. E também contra outros pretendentes ao Palácio do Catete: o paulis-

Reuniu mais de 3 mil expositores, foram montados restaurantes, parque de diversões e um cassino, onde aconteciam os eventos de gala. Um dos grandes bailes foi a escolha da Senhorita Porto Alegre, concurso de beleza promovido pelo Jornal da Manhã. Para entrar, pagava-se pelo ingresso. Ou seja, a ideia de cercar o parque, que volta ao debate público periodicamente, vem desde sua criação. Mais de um milhão de pessoas visitaram o local, segundo o relatório da Prefeitura, sendo que a população de Porto Alegre à época era de apenas 300 mil habitantes. Os números são astronômicos. A

ta Armando de Salles Oliveira, o mineiro Antonio Carlos de Andrada e o paraibano José Américo de Almeida. Um ano depois da inauguração das “festas farroupilhas” (expressão do diário de Vargas), o presidente tinha certeza de que Flores da Cunha pretendia derrubá-lo a partir da organização de uma força de 50 mil provisórios e a convocação de velhos caudilhos para mais uma cavalgata. O general Fontoura, comandante da 5ª Região Militar (Paraná), foi ao Rio contar a Getúlio que Flores o convidara para comandar o golpe. Em 9 de outubro de 1936, o pre-

iluminação do evento, por exemplo, tinha seis vezes mais lâmpadas do que toda a cidade. Foram utilizadas 28.289 lâmpadas e 2.143.325 velas. Mais do que exaltar o heroí�smo dos farrapos, a ideia de Flores era passar a imagem do Rio Grande do Sul como um Estado desenvolvido industrialmente, e não somente agrí�cola. “O maior pavilhão era da indústria. O principal objetivo era mostrar o crescimento econômico”, defende o historiador Giovani Ceroni, que fez sua dissertação de mestrado sobre o tema. Os preparativos começaram dois anos antes, com o projeto de “embelezamento” da área do Campo da Redenção, elaborado pelo arquiteto francês Alfred Agache.

Foram feitos aterros, escavações, obras de calçamento e um sistema de drenagem. Em 1934, começa a construção dos pavilhões. Esta foi a primeira iniciativa de ocupação total do terreno. “A área era um banhadão. Hoje é uma área de sociabilidade que caracteriza Porto Alegre. Este foi o principal legado da exposição”, afirma Ceroni. Boa parte do que sem tem hoje no parque é herança da exposição, como a fonte luminosa, o espelho d’água e o lago artificial. Comitivas de diversos paí�ses se fizeram presentes. O Clube Uruguaio presenteou o municí�pio com a escultura do Gaúcho Oriental; a colônia espanhola, com a Fonte Talavera, no Paço Municipal, e as colônias argentina, portuguesa e sí�rio-libanesa entregaram obeliscos. A exposição foi até 15 de janeiro de 1936. No encerramento, foi inaugurado o monumento a Bento Gonçalves, esculpido por Antônio Caringi. A escultura ficou no parque até 1941, quando foi transferida para a avenida João Pessoa, em frente ao colégio Júlio de Castilhos. Os prédios construí�dos para a exposição só foram demolidos em 1939.

sidente da República anota em seu diário: “Continuam as explorações políticas e os pretextos de que eu preparo minha reeleição, para a mobilização do Flores, quase 15 meses antes da eleição. Só mesmo um maluco.” E assim foi até que, em novembro de 1937, quem deu o golpe foi Getúlio, criando, com o apoio das Forças Armadas, o Estado Novo, nome oficial da ditadura varguista que duraria até 1945. Para não ser preso, Flores fugiu para o Uruguai, sendo substituído no governo gaúcho pelo general Daltro Filho.

Geraldo Hasse

Autoridades presentes na cerimônia de abertura


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