Boletim 135 do Mensageiro da Poesia

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Mensageiro da Poesia - 1 Julho/Agosto 2016

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O nosso patrono Mensageiro da Poesia Associação Cultural Poética Bimestral - n.º 135 Julho/Agosto 2016 Anuidade 20€

Silvia Martinho

Poetisa do Mês Pág. 15

Navegando com a Poesia


Nota de Abertura

Julho/Agosto 2016

2 - Mensageiro da Poesia

Poeta José Afonso Neste dia 2 de agosto de 2016, Zeca Afonso faria 87 anos. É imperativo destacá-lo nesta edição do Mensageiro da Poesia, não apenas porque a sua obra poética é imortal, mas também porque o conjunto de preocupações que a dominaram, se mantêm de grande atualidade. Zeca Afonso, evocou a amizade, a solidariedade, a justiça, a fraternidade, a denúncia da desigualdade, da prepotência, da tirania dos poderosos contra os humildes. Exaltou a utopia, sonhou com “cidades sem muros nem ameias, de gente igual por dentro e igual por fora…”. Materializou essa poesia, dando-lhe forma em canções, com ritmos e melodias de fusões muito variadas e de uma criatividade imensa. Superou estilos padronizados, deu nova forma ao fado, à balada coimbrã, à musica popular... Cantou outros grandes poetas da nossa literatura como Camões, Fernando Pessoa, Jorge de Sena, Ary dos Santos, Natália Correia… dimensionando a mesma mensagem. Mas acima de tudo e além da sua valiosíssima obra, José Afonso deixou-nos o seu testemunho de vida assente nos mesmos valores dos seus poemas e canções: participação cívica, integridade e simplicidade.

Simplicidade e grande dimensão poética bem patente neste poema publicado no Jornal de Sintra a 8 de fevereiro de 1959:

Jhs Jornalista CPJ 4927

Ficha Técnica: Tipo de publicação Bimestral - Propriedade: Mensageiro da Poesia, Associação Cultural Poética Rua dos Vidreiros, Loja 5 Antigo Mercado de Amora - 2845-456 Amora - Portugal • E-mail: mensageiropoesia@gmail.com • Director: Jorge Henriques dos Santos Director Adjunto: Luís Fernandes - Sócio Fundador • Colaboram nesta edição: Donzília Fernandes, Helena Moleiro, Berta rodrigues, José Maria Caldeira, Sílvia Martinho, Emília Mezia, Damásia Pestana, Dolores Guerreiro Costa, Nelson Fontes Carvalho, Maria Adelaide Palmela, Telmo Montenegro, Mami” Ru, José Frias, António Bicho, Francisca São Bento, Domingos Pereira, António Mestre, Carmindo Carvalho, José M. Vaz Jacinto, Manuela Lourenço, Manuel M. Nobre, Hermilo Grave, Alexandrina Pereira, Maria Vitória Afonso, Danny Freitas, Laura Santos, Armanda Rosa, Chico Bento, Preciosa Gamito, Isidoro Cavaco, Emídia Guerreiro, Ana Santos, José Gomes Camacho, Lúcia Carvalho, Maria João Lopes, Dolores Carvalho, Maria de Lurdes Emídio, João Ferreira, Miraldino de Carvalho, Elmano Gomes, Arménio Correia. • Isenta de Registo na ERC ao abrigo do disposto no Decreto Regulamentar n.º 8/99 de 9/06, art.º 12.º, n.º 1 a) • Depósito Legal: 3240411/06 • Tiragem: 300 exemplares Paginação / Impressão / Acabamento: Tipografia Rápida de Setúbal, Lda. • Travessa Gaspar Agostinho, N.º 1 -2.º 2900-389 Setúbal Telef.: 265 539 690 Fax: 265 539 698 • e-mail: trapida@bpl.pt


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Vida Associativa

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Mensageiro Poesia

Próximas actividades Festas de Amora: De 11 a 15 de Agosto o Mensageiro da Poesia vai estar presente nas Festas Populares de Amora, com a sua exposição e venda de livros, tal como a sua quermesse. Tertúlia Poética: Dia 25 de Setembro (Domingo) o Mensageiro da Poesia realizará no Centro Cultural e Desportivo das Paivas, uma Tertúlia Poética, em homenagem póstuma ao nosso saudoso associado, Marcus Vinícios de Moraes, grande poeta e escritor brasileiro.

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Concurso de Quadras Populares de Almada 2016 O Mensageiro da Poesia A. C. P. foi agraciado com uma Menção Honrosa, no Concurso de Quadras Populares de Almada de 2016, em que estiveram a concurso cerca de oitocentas quadras. Primavera é melodia. Almada inspiração. Esperança é sinfonia Tocada por São João. O Mensageiro

Destaques nesta

edição:

s - Pág. 13 • Tertúlia dia dos avó - Pág. 08/09 • Poemas Premiados ica- Pág. 04 • XIV Antologia Poét Lisboa à vista - Pág. 14 m co a ic ét o p ia úl rt • Te as - Pág. 19 • Diálogo entre cultur - Zeca Afonso Pág. 27 ue q ta es D em a et • Po


Vida Associativa

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Apoios:

Junta de Freguesia de Amora UNIÃO DAS FREGUESIAS DE SEIXAL, ARRENTELA E ALDEIA DE PAIO PIRES

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Mensageiro da Poesia Associação Cultural Poética Rua dos Vidreiros, loja 5 (Antigo Mercado de Amora) 2845=456 AMORA – Portugal

XIV Antologia Poética Para participar preencha esta ficha Nome completo: __________________________________________________________ Morada: ___________________________________________________________________ Código postal: __________ - _________

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Telefone: ____________________

Telemóvel: _________________________

E-mail: _____________________________________________________________________ As condições são as seguintes: Cada associado/a pode ocupar 2, 4 ou 6 páginas, no máximo. Cuja importância será de 25, 50, e 75 euros, tendo direito a 5, 10, e 15 livros, respectivamente. Os interessados deverão enviar os trabalhos, por E-mail, CD, ou por escrito, com a respetiva importância, em cheque, vale de correio ou transferência bancária, para Montepio Geral – NIB – 0036 0022 99100077597 96. Caso optem por transferência bancária, deverão enviar o respectivo comprovativo, para a morada acima indicada, até ao dia 2 de Setembro de 2016, data limite para poderem participar. CLUBE RECREATIVO DA CRUZ DE PAU

Os trabalhos só serão publicados mediante o comprovativo de pagamento. O Mensageiro da Poesia agradece a sua participação na XIV Antologia Para mais informações, ligar de segunda a sexta-feira entre as 9:00 e as 21:00 horas para os seguintes números: Luís Fernandes – 212246702 – 938484312 Arménio Correia – 210897969 – 967260385 Hermilo Grave – 216062630 – 910175685


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Os Nossos Poetas

Ao meu neto Alto da montanha Depois de vida tamanha Chegadas à alta montanha Miramos o horizonte! O que vivemos está longe Muito longe, Como uma névoa distante. Não dá pena nem saudade Saudade porquê? Do pão que não comemos. Do muito que sofremos. Sempre esperando um amanhã Que não veio, que não tivemos! Foram caminhos difíceis Que abrimos, desbravamos Teimosamente limpando Para todos os dias passar A vida a pulso conquistando.

Escrevi ao mar e á terra A tudo eu escrevi Ainda não tinha escrito Um poema para ti . É para ti meu neto Que escrevi este versinho Com todo o meu afeto Com amor e carinho Aproveita a mocidade Segue por bons caminhos Goza a tua liberdade Olha que a vida tem espinhos Foge das más companhias Que elas não levam a nada Não caias em fantasias Segue firme a tua estrada

Brincando com os netos Sou avô de tantos netos, Como dias tem a semana. São seis rapazes corretos, E a corretíssima Joana! Sou avô para o Tiago, Para o Riky e o Miguel… Um “avu” muito vago, Para os manos do Manel,

Luta por teus ideais Se honesto e trabalhador Foi muito? Foi nada? Não te importes com os demais Foi o possível para aqui chegar Só assim se tem valor No caso, a Joana e o João… Daqui melhor se vê o sol O Manuel ainda não fala, E de noite mais estrelas a brilhar. Foge das falsas promessas Mas não perde a ocasião, E como um sonho, perguntei Houve a voz dos teus pais De me puxar para a sala. Para lá o que há? Da juventude não te esqueças Será que para lá, Essa não volta mais. Do alto da sua irreverência, Temos lugar para morar? Para o Vasco, o Zé Maria . Segue sempre em frente Adoro em todos a inocência, Um dia saberemos Quando te sentires só Todos me dão muita alegria. Partimos, voamos, sem regresso Tens sempre presente Depois de vida tamanha! Os concelhos da tua avó Sou avô sempre presente! Para lá da alta montanha. Nem sempre para brincar… Berta Rodrigues Gosto de todos igualmente. Helena Moleiro E todos me fazem sonhar!... José Caldeira


Poetisa do Mês

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Silvia Martinho A 27 de Setembro de 1975 casavam-se Manuel e Natalina na igrejja de Cunheira, uma aldeia perto de Portalegre. E a 16 de Dezembro de 1976 nascia às 20h numa quinta-feira Sílvia Alexandra Ribeiro Gonçalves Martinho na Freguesia de São Lourenço, Portalegre, a mais nova associada do Mensageiro da Poesia. Entrou para a escola com 5 anos e licenciou-se em Professores do 1ºCiclo na Escola Superior de Educação de Setúbal,

para a Cruz de Pau e gostava de ter ido para o ballet mas na altura os recursos eram poucos pois tem uma irmã mais nova três anos. Mas aos 16 anos foi para a dança moderna no Clube Recreativo da Cruz de Pau, aprendeu também danças de salão e mais tarde experimentou a dança do ventre e gostou tanto que até hoje a pratica. Sabemos que adora ler, mas muito mais escrever pois como nos citou: ”se não escrevesse morria… tenho de por no papel tudo o que me vai na alma…” Já ganhou vários concursos literários de poesia e prosa e diz que já plantou uma arvore, já fez um filho e já escreveu um livro, que esta dentro da gaveta à espera de ser publicado e não vai desistir de publica-lo, é o seu sonho ser escritora e nunca desiste dos seus sonhos. Gosta de ler José Rodrigues do Santos, Margarida Rebelo Pinto, Paulo Coelho, Sophia de Mello Breyner Andersen, Eugénio de Andrade, Herberto Hélder e Pablo Neruda. Adora música e diz escrever sempre ao som de musica, principalmente musicas românticas. Adora comédias e romances e o seu filme preferido é o Titanic que já viu uma dezena de vezes e chora sempre.

Portalegre

mas o seu sonho era ser psicóloga. Viveu na Cunheira terra natal dos pais até aos 4 anos, por isso diz adorar a natureza e a liberdade, bem como andar descalça e gostar de papoilas pois a sua avó paterna quando ia buscar leite trazia-lhe sempre no regaço do avental papoilas, flor que tatuou em 2005 por segundo ela ser a sua flor preferida e representar o que ela é: não tem espinhos nasce onde quer e quando quer e se as apanhamos ela murcha… Com 5 anos veio viver com os pais e a irmã

Casamento dos pais na igreja de Cunheira, aldeia perto de Portalegre


Mensageiro da Poesia - 7 Julho/Agosto 2016

 Aos 30 anos foi mãe e considera a maternidade uma bênção de Deus e um milagre da Vida… teve uma menina de nome Letícia que significa alegria. Nunca casou e foi mãe solteira pois sofreu de violência doméstica e separou-se e ainda hoje considera que as mulheres não se devem calar nunca. Condena as guerras, o terrorismo, a violência e o racismo por achar que são formas de ignorância. Admira muito o pai, aposentado da Marinha por achar que é um homem inteligente, com a mente aberta, com cultura, e sempre pronto a descobrir e a aprender coisas novas, tem sido segundo ela o verdadeiro pai da sua filha. Passou-lhe valores como a generosidade o otimismo e o ser uma guerreira. Diz que o pai a conhece muito bem e sempre soube que não ia ser uma mulher submissa junto do pai da Quero-te… Quero adormecer nos teus lábios Ao vento que sopra dentro de mim… Quero perder-me de desejo No sonho lavrado na pele… Quero voltar a ouvir a tua voz Nas pedras da calçada… Quero as tuas silaba do nosso tempo outra vez… Quero-te… Quero que venhas Sem mapas Nem linhas tortas Mas numa página em branco… Tenho fome do pretérito perfeito Das nossas madrugadas… Não quero respostas as minhas perguntas… Só quero que venhas com a nudez de um beijo Porquê? Porque te quero…

A cumplicidade com a filha Leticia

sua filha, pois ele nunca soube porque é que ela escrevia e atrasava ao jantar (confessa-nos hoje em risos). A mãe é para ela o pilar da casa de personalidade forte que a ensina todos os dias a não olhar para o passado. Por isso, hoje vive um dia de cada vez o melhor possível. E sonha com um Mundo melhor. Considera-se bem disposta, amiga, um bocado impulsiva quando lhe pisam os calos, adora rir e é segundo ela é muito sensível pois se assim não fosse não saberia escrever e fala sempre da filha com emoção, pois é para ela e citamos :” o meu sol, a minha alegria, a minha força a minha ancora e o meu farol… uma princesa…”


Os Nossos Poetas

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Menção Honrosa N º IV Concurso Do Mensageiro da Poesia

Pedras Amigas Falei com as pedras… e rochas… fascinantes!... O mundo sacrificou-me nos espinhos E o meu sonho perdeu-se nos caminhos!... Procurei o amor… Na verdade do amante!... As pedras amigas… riram-se num instante!... Disseram-me… vai!... a dor é o sonho da vida!... Em cada pedra que pisas… é a subida!... No altíssimo amor… o teu diamante!... Caminhei… caminhei… sem saber por onde andava!... Uma sombra de oiro, com minha alma cantava… Nos gestos, das tuas mãos cariciosas!... Hó! Há quanto tempo corri atrás de ti!... Porque não me disseram que estavas ali?... As pedras! Já não eram pedras!...mas… rosas!... Emília Mezia

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Olhei o firmamento Acordei sobre a luz da madrugada, Senti a brisa fresca no meu rosto, O orvalho refrescava o mês de Agosto E as flores da paisagem perfumada. Mais tarde nasceu o sol da alvorada, Ao ver tanta beleza dava gosto, Ao romper da aurora até sol-posto Brilhava a natureza iluminada. E bendita essa luz do firmamento, Brilhante resplendor em movimento Que brilho, que pureza deslumbrante. E depois de uma tarde soalheira, O jantar é cozido na lareira Tudo é belo num lar aconchegante Dolores Guerreiro da Costa

Quinta da Amora (Hoje Quinta da Princesa) 1ª Menção Honrosa Eras quinta da Amora, Deleite de muitos infantes Onde as princesas outrora Deliravam por instantes. Nas tuas quintas reais A história marcou lugar. Para curas e festivais Neste burgo singular. Com zona ribeirinha, Tens Baía sem igual, Que do Tejo é rainha, Tendo um extenso sapal. Tu inspiras melodia, Tanges as liras da alma Do poeta que te elogia Na tarde amena e calma. Pelo garbo, amor e vida Em gestos de amizade, Tens fulgência merecida. Hoje, Amora, bela cidade. Pseudónimo= Gaivota Maria Damásia Pereia Pestana


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Quinta da Atalaia 3ª Menção Honrosa És marujo na proa de uma caravela Ardendo em desejo, És craveiro numa Janela És gaivota do Tejo. Sorrindo gaiata És a minha canção, A minha fragata Que eu trago no coração. Quero dizer ao povo descrente Que anda só pela rua Saiu-me assim de repente Como os versos que mando à lua. E meu amigo escuta bem! Se és poeta como eu Com o dom que Deus te deu Ama a Atalaia sem desdém. E no calor de um beijo Atira fora a saudade, És a gaivota do Tejo És a quinta de liberdade! Pseudónimo= Esperança Maria Adelaide Palmela

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Os Nossos Poetas

Quintas D’Amora 2ª Menção Honrosa Amora tem tempos idos, As quintas eram abundantes, De fidalgos conhecidos, Ou ricos comerciantes! Algures, a gente cita A quinta onde mora, A quinta da Piriquita, Do bom vinho d’Amora! Amora de tantas belezas, Palácios! Casas distintas, Pelas suas redondezas, Havia famosas quintas! Com fama, com história, Rica de real nobreza, Viveu toda a glória, A quinta da Princesa! Amora terra de pescadores, Ali com a Baía, à beira, Quinta de grandes senhores, Era quinta da Medideira! Pseudónimo= Poeta Sonhador Nelson Fontes Carvalho


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Quadras Tradicionais I Populares Da minha janela à tua É um saltinho de cobra Quem me dera chamar À tua mãe minha sogra.

Quero ver-te voltar Voltei hoje, meu amor, ao nosso jardim, Vim sentir o perfume destas nossas flores, Onde, pela primeira vez, olhaste para mim. Aqui senti teus inebriantes odores. Regresso todas as Primaveras, meu amor, De olhos fechados e braços estendidos, Imóvel e estático, até ao sol-pôr, Apenas as flores percebem os meus gemidos. Um dia voltarás, envolta nestas flores, Por isso te espero, em todas as Primaveras, Como um raio de sol, pousarás sobre mim, Virás buscar-me, libertar-me-ás das dores. Vem, meu amor, já estou a sentir-me cansado, Passou já tanto tempo, desde que partiste, Tenho tantas saudades de estar a teu lado, Mas como sei que virás, não quero estar triste. Agora tenho a esperança de te ver chegar, Virás na companhia de anjos diversos, Contigo virão andorinhas a cantar, E assim conquistaremos os universos. Seremos um só, meu grande e eterno amor, Livres, rasgaremos todos os Universos, Cantaremos celestiais hinos de amor, Por entre galáxias, sois, luas, tão diversos. Telmo Montenegro In: À Esquina do Tempo Edição: Chiado Editora

Chapéu preto desabado Faz figura de ladrão Ainda nunca me encontraste A roubar teu coração. Chapéu preto não se usa Quem o tem não é ninguém O que há – de o meu bem fazer Ao chapéu preto que tem. Já lá vai, já acabou O tempo em que eu te amava Tinha olhos e não via Na cegueira que eu andava. Minha mãe é minha amiga Amiga de me compor Põe-me o lenço na cabeça Vai à missa, linda flor. O coração mais os olhos São dois amigos leais Quando o coração está triste Logo os olhos dão sinais. Tu andas por aí dizendo Que o meu rosto não tem graça Também eu me posso gabar Que te dei uma cabaça. Teu pai, tua mãe não quer Que eu contigo à porta fale Queres tu amor, mais eu Que o falar deles não vale. Quadras recolhidas por D. Maria Belo Caldeira, Aldeia da Mata, 2014. Publicadas no blogue: “aquém-tejo.blogs. sapo.pt/”, em 13/Junho /2015


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Recados de fé e amor

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Os Nossos Poetas

Uma única vida

Em noite de calmaria vem de longe a melodia talvez das ondas do mar, ou talvez de uma sereia que nosso ser enleia numa noite de luar faz-nos sonhar com amor, esquecendo por vezes o pescador que saiu dali ao sol pôr, leva na alma o torpor algumas doses de dor. Na areia aquecida pelo calor que de esse dia ficou a sua mulher querida com lágrimas de despedida, e o terço com que rezou. Lenços brancos a acenar, pés molhados de maresia coração em sobressalto nessa maré de alma vazia. Há uma réstia de esperança que as redes lançadas ao mar pelo seu homem com confiança lhe traga o que precisa para sustentar a família, nessa mistura de ansiosa dor manda a Deus recados de fé e amor.

O que se leva da vida A vida que se leva Ou que levamos dessa vida Tudo por nós escolhido Um amor bem vivido Um sorriso maroto No olhar de um garoto Uma vida inteira de sonhos Uma esperança, um desejo O milagre que rompe entre um beijo O pólen de uma flor Navegar nos braços do meu amor Andar no seu leito e sorrir Na sinante proeza do existir Sorrir nas madrugadas Na relva debulhar em gargalhadas Às escondidas nesses bosques Me entregar aos riscos dos teus toques Nesse sorriso rasgado Um tato ofegante de um cristal Quebrando a vida rara que se leva Um eco do coração em grito Soltando palavras de paixão O gosto da fruta solta no chão Um prazer comum dos sábios A tentação húmida dos seus lábios A vida é um paraíso dentro duma flor Diluída em pequenas doses de amor.

Mami" Ru

José F. Almeida

Uma noite de verão Que cenário este, idílico. Lá nas suas alturas, a ramagem das “ tuas árvores “, deixaram a sua dança, deixaram de ser o leque de uma noite de Verão, deixaram de ser o conforto, inesperado, daquelas noites, abafadas, pela subida do termómetro. O vento, tinha ido embora, tinha-se ausentado, deixando para trás esse calor saído da terra em silêncio mas agonizado pela sua retirada. Uma dor sustentada nas lágrimas escondidas por uma voz embargada, asfixiada pelo seu afastamento. Essa dor enraizada, que nos queria comer até ao tutano, embora o nosso querer, a nossa vontade de resistência, a venha aos poucos vencer, como essa energia libertada do interior do asfalto. Pessoas, muitas, encontravam-se nos jardins, nas esplanadas, nas soleiras das suas portas, todos os lugares serviam no ”combate” das altas temperaturas que se faziam sentir. Havia comentários das mais variadas formas, uma catadupa de opiniões, onde até o riso fazia esquecer esse aquecimento rebelde. Hortícola de folhas em baixo, lembrando por vezes a melancolia que nos invade mas a nossa perseverança vem ao de cima, como estas hortícolas desenvolvendo suas folhas e levantando-as pela noite através da força da água. António Bicho Escrito sem acordo ortográfico


Os Nossos Poetas

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Vida é respeito Há muita gente a pensar Que o mundo deve girar em seu redor, É gente que não sabe mudar Para uma vida que se quer melhor.

Rotina Chegou a manhã: O Sol brilha num céu azul Esplendoroso sem fronteiras. Começa a rotina do dia a dia, Sempre apressada Lá vou eu Maria pela calçada, Vejo a vizinha que está à janela, Digo bom dia ao passar por ela. O autocarro está a chegar, É mais um dia, vou trabalhar. Ando pra trás, ando prá frente, Sempre no meio de tanta gente. Oiço o relógio na torre da igreja, Digo pra mim, bendito seja, Já está o dia a chegar ao fim. Volto pra casa, faço o jantar, Vou pró sofá pra descansar, Fico sentada, ligo a televisão, Mas o que vejo faz doer o coração. Bombas destroem cidades inteiras, Crianças famintas cheias de fome, Multidões caminham fugindo da guerra, Passando fronteiras, que destino as espera? Mas onde é que está a moral do homem?! Fecho os olhos, não quero ver, Na terra de Deus tanto sofrer. Quero dormir, quero acordar, Quero ver o Sol de novo brilhar. Quero acreditar que amanhã Todas as guerras irão acabar, Que num Mundo de paz Não exista mais dor, onde a criança possa brincar, E que o homem saiba o significado Da palavra -- Amor. Francisca São Bento

O mundo é feito de diferenças Que devemos aceitar e respeitar. Haja harmonia, e não desavenças Nas atitudes que devemos tomar. Saber respeitar a vida É saber viver a liberdade. Porque a vida, sem respeito não é tida Como uma vida de respeito e amizade. Não entres pelo egocentrismo Porque viver assim não é saudável Entra sim, por uma vida de dinamismo Tudo será assim, mais aceitável. Domingos Pereira

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Sob a Luz do Sol Por todo o tempo que tenho vivido Meu olhar sente-se dolorido Porque o poder da riqueza Veste o homem de fraqueza Neste mundo tão apodrecido. Sou o poeta que vai vivendo Meditando sobre a mãe terra Porque a fome, a miséria e a guerra Dá voltas ao meu coração cansado Envolto por ela com dor Ouço Deus na minha poesia de amor! Em mim trago um gesto de bondade Neste dia de Primavera em flor. Meu grito vai mais além Levar ao sol distante… O que meu coração sente, Sempre existiu no meu olhar… Para aliviar a dor, que Deus sente Sob a luz do sol distante Luís F. N. Fernandes


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Vida Associativa

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Dia dos avós

Foi no dia 24 de Julho que o Mensageiro da Poesia, A. C. P. comemorou o Dia dos Avós, “26 de Julho” na sua habitual Tertúlia Poética, do 4º domingo de cada mês. Numa tarde de calor intenso, não se intimidaram os poetas que compareceram em número assinalável, e que durante duas horas animaram a nossa tertúlia com os seus poemas, no

nosso espaço Associativo. Estiveram presentes, Maria Francisca São Bento, Manuel M. Nobre, Maria de Lurdes Emídio, Telmo Montenegro, Margarida Moreira, Hermilo Grave, e Arménio Correia que disseram poemas de sua autoria, alguns dos quais dedicados aos avós e netos, no fado tivemos a voz do fadista António Dias, sempre presente nas nossas Tertúlias Poéticas, também a presença de António Mateus, poeta popular repentista, que em resposta aos poemas que iam sendo ditos, respondia com as suas quadras, feitas na altura. Grata surpresa, veio também do poeta Telmo Montenegro, que relembrando tempos passados, nos brindou com um lindo fado, “O meu viver” que foi um dos primeiros fados cantado pela voz inconfundível do saudoso António Mourão. De salientar ainda a leitura do poema “Palavras” de Joaquim Pessoa, dito Arménio Correia, e Francisca a duas vozes, por Arm São Be Bento. Já a hora ia adiantada, quando demos por terminada a nossa T Tertúlia, havendo ainda t tempo para refrescarm mos as gargantas entre d dois dedos de conversa, e salutar convívio. A próxi xima Tertúlia Poética será só em Setembro, uma vez qu no mês de Agosto, que com vem sendo hábito, é como mês mê de férias. Saudações Poéticas a toS dos os associados, e umas boas boa férias.


Vida Associativa

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Tertúlia Poética com Lisboa à Vista A tertúlia mensal de Maio converteu-se numa das mais belas atividades do Mensageiro da Poesia, a atividade decorreu no barco restaurante – Cacilheiro do Tejo, agora denominado “Lisboa à Vista” gerido por Dina e Luís Oliveira. O evento contou com a participação do novo sócio desta associação Cultural Poética, o covilhanense António José da Silva, com ocasião para apresentação da sua obra literária. António José da Costa Silva, nasceu e reside na cidade da Covilhã. Escreveu os livros – “O Rosto da Poesia”, “Chuva de Mel” e “Varanda dos Carqueijais”, tendo com um poema do livro “O Rosto da Poesia” Poesia obtido um prémio de mérito (nos 15

xall di divulgar a suas obras l b e partilhar tilh numa sublime bli tarde de cultura com poesia e fado. À sessão acorreram várias dezenas de sócios do Mensageiro, familiares e amigos do poeta convidado, num feliz ambiente de casa cheia, emoldurado pela singular beleza do espaço com o enquadramento natural da baía do Seixal. A temática era livre e para além dos poemas de António José da Silva mais 16 poetas apresentaram e declamaram suas poesias, acompanhados com fundo de viola pelo artista

melhores poemas de 2013) por uma prestigiada Associação de Escritores. Publi-cou alguns poemas nos finais dos anos sessenta e setenta no Diário Popular, no célebre suplemento o juvenil de Alice Vassalo Pereira. Assinou três An-tologias – Volumes IV – V, e VI “Entre o Sono e o Sonho”. Representante Regional da Chiado Edito-ra, e coordena o programa de Rádio “ Bastidoress o da Cultura”, na Rádio Cova da Beira. A convite do Mensageiro da Poesia veio ao Sei-

local Vítor Paulo Casaleiro. Houve ainda espaço para o fado cantado à capela pelos fadistas Lina Almeida, José Frias e António Dias. O convívio culminou com um soberbo lanche, repleto das boas iguarias do “Lisboa à Vista”, com um excelente serviço, típicos deste soberbo restaurante que é cartão de visita do Seixal. jhs


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Vida Associativa

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Navegando com Poesia A bordo de uma embarcação tradicional do Seixal, sócios e amigos do Mensageiro da Poesia, partilharam um deslumbrante passeio náutico, com poemas dedicados ao Tejo, suas margens e suas gentes. Jhs de um lado e com o Seixal, Arrentela e Amora, na moldura do outro lado, disfruta-se o silêncio e a paisagem. Acontece poesia na natureza com tudo o que nos envolve e acontece poesia no interior da embarcação. Como de costume nos encontros e tertúlias desta cultural associação, deu-se voz aos poetas, à sua vez cada um desceu ao convés e, ao estilo de anfiteatro grego (de baixo, com o publico em cima), partilhaA tarde solarenga ilumina a águas do Tejo que devolvem uma brisa amena que afaga o rosto e as peles dos transeuntes. Junto ao cais da Amora, a tripulação do “Varino Amoroso” liderada pelo mestre “Bogas” executa as manobras de acostagem e amarração. Em terra uma pequena multidão de homens e mulheres bem-dispostos e acautelada em chapéus de sol, se vai dispondo para subir a bordo ajudada pelos tripulantes. No patamar cimeiro não sobrou lugar e a moldura humana que envolve a borda da embarcação, dá ainda mais vida ao colorido pitoresco deste ex-libris do Seixal. Levanta-se ferro que é como quem diz, desamarra-se o barco que com a ajuda dos motores se faz a água mais profunda e procura bom vento. Içam-se depois as velas e, como alguém já referiu “o Varino fica mais vaidoso”. Agora bem no canal do rio Judeu, com a imensidão do mar da palha sustida por Lisboa, Barreiro e Moita

ram poeaa toria dedicados ao Tejo mas de ssua autoria Tejo, ao Seixal à Amora ou de simples exaltação dos sentimentos da poesia. Ho Houve ainda espaço para o fado, em silêncio e sem acompanhamento, como já se vem tornando hábito, nas vozes de António Dias e Telmo Montenegro. O tempo voara como voavam as gaivotas no corrupiar da embarcação. Mestre “Bogas” orienta o leme no sentido do coreto da Amora e o Varino ruma ao cais, “Amoroso” no seu deslize como de s nome, assim como “amorosamente” seu s concluiu este passeio, proporcionado se p pela autarquia do Seixal, aos sócios e a amigos do Mensageiro da Poesia.


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Tarde de mar

A inveja e a vaidade O nosso melhor amigo Tem todo o seu valor Podendo tornar-se o pior inimigo E também um grande traidor.

Boa tarde meus amigos ... A fugida até ao mar ... Depois de trabalhar ... Hoje não há vento ... Apetece mar e ficar ... A água está fria ... É para estimular ... Há mais gente hoje Alguns fazem barulho ... Outros jogam ... Mas o vazio está cá ... O espaço o lugar ... Já não sei ... O que será! ... Hoje as gaivotas ... Estão noutro lugar ... Sou eu ... A água o sol .., O livro ... E até o telemóvel Para acompanhar !... E assim se passam 2h ... Ao sol e à beira mar ... Aí minha Sesimbra ... És a minha alma ... Só tu acalmas o meu vazio !... Margarida

As pessoas bem intencionadas Daqui podem tirar várias conclusões Têm de ver se existe ali verdade Ou se os outros são uns grandes aldrabões. Não queiras a degradação Na imagem do teu vizinho Porque ele pode ser sincero e ter razão E assim tens de lhe dar todo o carinho. Homens bons e honestos Poucos existem neste mundo E quando o são, persistem no seu protesto E tem de o levar até ao fundo. Nunca fales de outras pessoas Naquilo que não podes confirmar Porque a semente da língua Mais cedo ou mais tarde irás pagar. António Mestre

Julguei que era loucura Foste o homem dos meus sonhos Quando era rapariga Nos momentos mais risonhos Cantava-te uma cantiga. Quando pensei em te amar Julguei que era loucura Mas quando te quis deixar Foi uma grande tortura. Então fiquei a pensar Muito tempo podes crer E fiz contas de somar P’ra saber o que fazer. Fui somando a alegria Também somei a tristeza Sem saber o que queria Dividi a incerteza. E deu-me partes iguais Divididas bem a meio Então eu não pensei mais Acabou-se o meu receio. O que aconteceu depois Eu não sei bem descrever Estamos juntos os dois Nesta vida até morrer Maria João Lopes


Julho/Agosto 2016

Constatação

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Mensageiro da Poesia - 17

Cantinho do Escritor

Tantos deuses já criaste e destruíste na tua memória, tantos ídolos já tombaste, ergueste e cantaste a glória, que ciclicamente se vai renovando em vários lugares, à medida que os altares se vão alternando, no decorrer da História! Mas o teu Deus, está no teu Irmão. Esse é o teu DEUS! Está mesmo à tua mão, precisando mais de Obras, que de Oração! Só assim estarás de acordo com o Deus da tua Religião, e mesmo que sejas pagão, serás melhor que o crente que não tem Salvação, pois de joelho no chão, e de livro na mão apregoa apenas a sua Fé, mas quando se põe de pé esquece o Irmão, que está ali mesmo ao pé! E afinal, depois de tanta lição só aprendeu a dizer Não! Reprovou no exame de admissão ao exercício da sua Profissão de Fé. O coração colou-se ao chão! Mais vale derrubar um palácio para salvar uma Pessoa, do que derrubar uma pessoa para salvar um palácio. Na maioria das vezes, a Humanidade, funciona ao contrário. Guerra…Infelicidade que se mantém, só muda o calendário. José Manuel Vaz Jacinto

Mensagem Poética Mensageiros (as), vou começar por dar as boas vindas ao Verão, que se tem feito sentir com dias de calor intenso. A Natureza é algo que não nos é possível controlar e ensina-nos que temos de a respeitar e aceitar como ela se nos apresenta, enquanto nós humanos temos o dever de ir corrigindo os nossos erros. Estamos em tempo de férias, para uns recheadas de grandes viagens e divertimentos, para outros apenas fazendo por ter uns dias mais calmos, com menos correrias, mas apertando bem os cordões à bolsa, deixando o coração apertado para gerir os trocaditos tão reduzidos. Mas tempo de férias é sempre altura de se relaxar um pouco, se houver paz e amor a reinar. Também é tempo de os pais desfrutarem mais das suas crianças, por vezes tão carenciadas de afectos. Nesta vida conturbada é quando pais e filhos melhor se podem mimar e usufruir de carinho e algumas brincadeiras. Envio o meu abraço poético desejando umas boas e descontraídas férias, se possível com alguma poesia. Manuela Lourenço


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18 - Mensageiro da Poesia

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Julho/Agosto 2016

A Europa recua e não avança Quem ajudou a união a crescer Com alegria e muita esperança Hoje não consegue entender A Europa recua não e avança I Nesta grande Europa unida Muita gente chegou a pensar Que a pobreza ia acabar E nunca mais faltava comida É uma vontade defendida Por quem tem e gosta de ter Esperança de um dia ver Este nosso país respeitado E ser sempre bem tratado Quem ajudou a união a crescer

III Foram escritos alguns artigos E publicados nos jornais Não estavam a falar de mais Esses políticos mais antigos Alertavam para os perigos Que hoje estão a acontecer Quem quiser ainda pode ler O alerta que aí foi dado Se não leu andou errado Hoje não consegue entender

II Se esta Europa foi criada Para todos viverem melhor Porque é que se vive pior E ninguém explicou nada? Assim, a união está falhada Apesar de muita lambança, Quem acredita ainda lança Algumas ideias para ajudar E esforça-se para acreditar Com alegria e muita esperança

IV Quem chega à terceira idade Já lhe roubam na reforma A Europa faz a sua norma Que vem cheia de maldade Dizem com grande vaidade Quem manda não se cansa De fazer a grande mudança Roubando sempre o pequeno Com o povo muito sereno A Europa recua e não avança

Manel Martins Nobre

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Arrábida meu amor, meu poema A verde folhagem dos ciprestes acorda ao leve voo da andorinha. Reflexo cintilante no orvalho da madrugada... Na Serra nada mudou Alexandrina Pereira

Nosso amor chegou ao fim! (Fadista Procura-se) Tu por outro me trocaste, Por ser rico, eu pobre sou, Tudo aquilo que juraste De mentira não passou. Foi um momento bem triste A nossa separação, Pois, quando tu partiste, Partiste meu coração. Abalaste, de repente, Sozinho, fiquei sem ti. Agora vivo contente: Ganhei mais do que perdi. Não era este o caminho Que há muito tinha traçado. Mas mais vale viver sozinho Do que mal acompanhado. Jogaste forte, sem pejo, Venha a Sorte em tua ajuda. Eu, com franqueza, desejo Que tenhas ganho a taluda. Mas se tu vires que erraste, Não queiras voltar pra mim. Uma vez que me deixaste, Nosso amor chegou ao fim! Hermilo Grave


Julho/Agosto 2016

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Mensageiro da Poesia - 19

Cantinho do Escritor

Diálogo entre Culturas Já por diversas vezes falei da diáspora alentejana e da sua influência na zona do Seixal, que me alberga com calor humano há mais de trinta anos. Zona de acolhimento de gente de muitas origens, é uma verdadeira manta de retalhos humana onde proliferam pessoas dos Palops, indianos, chineses, ciganos; sem falar dos naturais de muitas regiões do nosso país como alentejanos beirões algarvios etc.. E cá pacificamente vivemos todos com a sadia conivência dos naturais daqui. Há pois aqui um diálogo entre culturas, ou seja uma faceta multicultural, que de certeza não é alheia ao dinamismo e ao interesse pelos fenómenos sociais nomeadamente aos da cultura que são apanágio deste nosso concelho. Não sei se sou suspeita mas uma das influências com grande incidência é a dos alentejanos aqui existentes. É sempre um privilégio, para mim, falar de poesia e invocar metaforicamente essa dama que já me deu tantas alegrias e tantos amigos. O poeta que vos apresento hoje é José Manuel Vaz Jacinto, que fui incumbida de apresentar num recital na Amora e a quem chamei o Cesário Verde do século XXI Pelo realismo e calor humano dos seus poemas. Para começar alguns dados da sua biografia. Nasceu em Malange Angola, em Outubro de 1960.Em 1975 veio para Portugal e em Outubro foi para São .Paulo onde viveu até 1978.Voltou a Portugal esteve 5 anos no serviço militar onde atingiu o posto de tenente miliciano. Licenciado em Gestão, pertenceu aos quadros da União de Bancos Portugueses onde foi Gestor de Conta. Licenciado também em Matemática Aplicada, actualmente é professor de Matemática na escola secundária da Amora. Colaborador do Mensageiro da Poesia e dos Confrades da Poesia entrou já em várias

antologias. É autor dos livros de poesia”O meu Bairro Azul” e “Triângulo Atlântico”. Características da sua poesia: i -Os locais onde circula motivam-no. -A Escola e a sua grande fonte de inspiração -É grande a sua aceitação por parte dos alunos que assimilam a nível de subconsciente o seu sentido pedagógico e o seu calor humano. -Os seus temas transmitem alegria e boa disposição:” Cruz de Pau,”“ Conversa Cigana,” “Os pintas da Escola.” Excelente diseur e grande comunicador é um animador cultural das associações da Amora: Casa do Educador, Confrades da Poesia etc. Eis um seu poema seu:

Grândola e Cercal O céu me deu o rumo, fui em frente Contratado deixei minha cidade Levando comigo a generosidade Meu ensino iria ser diferente. A evocação me fez ficar contente E ao lembrar-me então tive vontade De escrever e falar desta saudade Que tenho dessa terra e dessa gente. Da querida e boa gente alentejana Que encontrei em Grândola e no Cercal E a quem passei a ver como mana. Desejando que me visse como tal Alentejano de terra angolana Que deixei, e no Alentejo vi igual. Está assim explícito neste poema aquilo a que chamo diálogo entre culturas. Maria Vitória Afonso


Os Nossos Poetas

20 - Mensageiro da Poesia

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Julho/Agosto 2016

Portugal Eu adoro Portugal País dos meus avós A Pátria como é natural, Que defendo e ergo a voz Esta verdade imortal: No meu sangue português , Quem navega é Portugal Danny Fernandes Freitas

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O princípio De mim não se devem rir Troça não façam portanto Falar não sei Escrever, só por enquanto Poucas letras consegui Mas quero tentar fazer mais Sempre diferente, nunca iguais Na roda viva da vida Todos os dias se aprende Por este, aquele, ou o outro Pois que tudo é diferente Do simples ao exigente Do magro, a seguir o gordo Do simplório ao vaidoso Do brando ao resistente É tudo tão diferente Tão diferente e tão custoso! Agradar a todos é difícil Por vezes até é impossível Neste mar tão tormentoso Onde uma mão invisível Nos conduz a um fundo poço No lodaçal da vida Há que fugir em alvoroço E a Deus pedir guarida. Sely=Poemas – Laura Santos

Somos todos irmãos! Quem gosta só De pessoas e não gosta de animais, Tenha dó: Verdes Tem sentimentos anormais! Por outro lado, Quem gosta só de animais E não é dado A gostar de pessoas Também Não tem Ideias boas E deve andar um tanto Ou quanto Desarranjado, Sem reparação! O melhor A sabermos dar amor A rodos, Termos um coração Onde caibam todos, Todos, sem exceção. Ser ou não ser racional, Pra ao amor ter direito, É um assunto sem jeito, Que nada vale! Todos nós, irmanados, Animais racionais, Ou irracionais, Precisamos ser amados! Armanda Rosa

são os seus olhos Já disse vezes sem fim E continuo nos meus ditos Nunca vi olhos assim Nesta vida tão bonitos São os olhos sim senhor Aqueles que estou falando Os olhos do meu amor Pelos meus estão esperando

Se disse, torno a afirmar Nos meus ditos não findos Quero muito tempo olhar Aqueles olhos tão lindos São os olhos mais belos Que neste mundo eu vi São verdes, não amarelos Como dizer já ouvi Refrão Verdes são os olhos seus Verdes são, como uma sebe Que mais parecem ter sede De olhar, os olhos meus De olhar, os olhos meus E neles matar a sede Verdes são como uma sebe Verdes são os olhos seus. Chico Bento


Julho/Agosto 2016

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Mensageiro da Poesia - 21

Os Nossos Poetas

Ressuscitei

Poesia à esquadria Os arquitectos patéticos E os engenheiros punheteiros Da poesia perfeita Com obrigatórias rimas E métricas bem medidas São as maleitas da poesia. Fazem-na à esquadria. Pintam-na perante as gentes de cor tão esbatida Que geram uma guerra perdida Que em vez de atrair afugenta As massas e entregam-na toda A uma tísicoquerica elite eclética. E eu, leigo destas lides, avesso a estes emolumentos Pego nos meus pensamentos Por inteiro ou em fragmentos Embrulho-os em palavras Sento-me às esquinas das ruas E praças deste caminho que é a minha vida... E com beijos, abraços Caretas, sorrisos Alguma alegria e algum sofrer Faço o meu viver Que escrevo e deixo Para quem quiser ver.

Certo gavião visitou-me Numa linda manhã de sol… Disse ter visto nos meus olhos Uma felicidade sem igual. Dei-lhe guarida em meus braços. Partilhei meu travesseiro. Surgiu a serenata, quente e doce Desde a noite até alvorada: Mas um dia o gavião Voou bem alto! Partiu de madrugada, Perdi o sono, Nunca mais comi. Veio então a cotovia, Dei-lhe guarida no meu leito: Nunca mais tive frio. Certo dia a cotovia Voou para lá do Arco-íris, Meu coração ficou desfeito, Eu gelei. - Veio então uma andorinha Que para mim abriu as asas, Cobriu a minha alma desfeita. Ressuscitei!... Damásia Pestana

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Os sete poemas

Carmindo Carvalho

Tenho sete poemas escritos, Que o amor torna discretos, Gravados nos rostos bonitos, Dos meus sete lindos netos!

Pensamento

Tão lindos, todos diferentes… Um imaginário Sete Estrelo, Em constelações reluzentes, Num firmamento de desvelo!

A hipocrisia nata, que vemos todos os dias em nosso redor, é psiquismo que não mata, mas precisa da ajuda de um doutor!

São Ricardo, Tiago, Miguel, Vasco, João, Joana e Manuel, Os títulos dados, aos poemas

Hermilo Grave

Duma vida d’ amor e carinho, Que o avô, agora já velhinho, Tem como estrelas supremas!

Do meu livro __ Entre Olhos e Folhos , edição 2002

José Maria Gonçalves


Os Nossos Poetas

22 - Mensageiro da Poesia

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Julho/Agosto 2016

Criança O sonho de uma criança Não cabe no infinito... Sua vida é só Esp’rança, Nada lhe é interdito.

Não tenho casa nem pão Fui desprezado na rua, Á noite durmo no chão, Meu cobertor é a lua…

Cobertos por loiras tranças, Há sonhos e fantasias, Até mesmo nas crianças Que sofrem todos os dias.

Quem me devia ajudar, Atirou-me para o chão E para me levantar, Ninguém hoje me dá a mão,

Tantas crianças em pranto, Tanta miséria escondida... Porquê, meu Deus, sofrem tanto Na Primavera da vida?

Ninguém de mim quis saber, Na escola nunca andei, Como não sabia ler Peguei num livro e chorei.

Por causa de tanta guerra Há crianças a sofrer... E os grandes donos da terra Não querem disso saber.

Menino de pés descalços, Na rua aos trambolhões, Dão-te beijos e abraços, Só quando há eleições,

Lamentamos quando vemos Essa miséria tão crua, Mas depois, nada fazemos Pelos meninos da rua.

Isidoro Cavaco

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Lisboa filha do Tejo

Vagueando de olhar triste, De alma faminta e nua, Quanta tristeza existe Nesses meninos da rua.

O Tejo corre beijando as margens Dando as mãos a Almada e a Lisboa Da barra, soprar ventos e aragens Desfraldando ao vento as velas da canoa.

Não tenho pais nem ninguém Fui por todos desprezado, Olham p’ra mim com desdém, Como se eu fosse culpado.

Lisboa encimada de colinas Espreita o Tejo, lindo e majestoso Dele surgiram as vozes das varinas Os lindos pregões da voz do povo.

Aos meninos a quem dão, Só armas para matar... Vamos dar amor e pão, Para que possam sonhar…

Lisboa cheia de símbolos Coroados pelo mar Os marinheiros, os ídolos Puseram Lisboa a navegar.

Cheio de fome e de frio Pobre menino da rua, Todos te chamam vadio, Sem verem que a culpa é sua.

Cruz de Cristo nas caravelas Um símbolo de além-mar Lisboa desfralda as velas E põe os marinheiros a navegar. Domingos Pereira


Julho/Agosto 2016

Meu Alentejo O Alentejo é lindo de verdade É a minha terra afinal E de lá viver tenho saudade E de lá passar um natal São Teotónio e Odemira Fazem parte de mim Toda a gente as admira E é bom sentir isto assim Não interpretem como asneira Eu sentir este meu desejo Visitar a praia da Zambujeira Que fica no meu Alentejo Nela não faltara quem queira Toda aquela imagem linda Aquelas rochas aquela areia Ajuda-nos a dar-nos vida Emídia Guerreiro Salvador Nascida no Baixo Alentejo A todos saúde paz e amor É tudo o que eu mais desejo Emídia Guerreiro Salvador

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Nossa Senhora

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Mensageiro da Poesia - 23

Os Nossos Poetas

Aljustrel sem igual Aljustrel, meu encanto, Qu’inda em menino deixei. Minha alegria, meu pranto, Meu abrigo, meu manto, Que p’ra sempre guardei. Andei p’lo mundo distante, Da indiferença à mercê. Troquei o sol radiante Pela vida de emigrante, Inda hoje não sei p’ra quê. Refrão: Não tenhas ciúme e queixume Das lindas cidades que já conheci. Se foi para ti, afinal, que eu sempre vivi. Não tenhas ciúmes, não tenhas Das terras que tenho abraçado, Se foi para ti, Aljustrel, que nasceu este fado. Aljustrel sem igual, De memórias e façanhas, Do odor a mineral, Da riqueza natural, Que vem das tuas entranhas. Aljustrel, eu te mereço, Hoje sou feliz, ao voltar. Para te dar meu apreço, Fiz da ausência o regresso, P’ra nunca mais te deixar!

Nossa Senhora, Mãe do meu Senhor José Gomes Camacho Acolhei-me no regaço do vosso Amor Protegei-me com a luz do vosso olhar Acalmai o meu desespero na aflição Escutai as preces que nascem no meu coração Enxugai as minhas lágrimas que teimam deslizar. Nossa Senhora, sede o meu porto de abrigo Ajudai-me a resistir e a lutar perante o perigo Libertai os meus medos com o poder da oração Aumentai a minha Fé quando ela tende desvanecer Orientai o meu caminho e tudo conseguirei vencer Aceitando com gratidão a grandeza do perdão. Ana Santos


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24 - Mensageiro da Poesia

Estas lembranças da vida

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Julho/Agosto 2016

Estas lembranças da vida Parece que estou a ver Quarenta anos passados Eu não consigo esquecer I É sempre de recordar Um dia de aventura Naquela noite escura Tivemos de caminhar Depressa e devagar A viagem foi cumprida Assim fizemos a despedida Sem ter dito o adeus Estes sonhos eram os meus Estas lembranças da vida

III Com dificuldades se vivia Nós soubemos enfrentar Sem nunca desanimar Era assim o dia a dia A tristeza e a alegria São momentos recordados Passámos maus bocados Nunca serão esquecidos Sempre tivemos unidos Quarenta anos passados

II Em Alcácer embarcámos No comboio da madrugada Chegámos à minha morada Foi quando nós descansamos Assim nós começamos Um para o outro a viver Ao fim de um ano veio a nascer O nosso filho o desejado No dia do baptizado Parece que estou a ver

IV No mesmo dia se festeja Doze de Março de calendário Do filho o aniversário Este dia se deseja É bom que assim seja Nunca se deve perder É chama para aquecer Que nunca se vai apagar O tempo é que faz mudar Eu nunca vou esquecer

Lúcia Carvalho

O amigo O amigo que é amigo, Verdadeiro na amizade, Ao amigo dá abrigo Estando este em dificuldade. Ser amigo é não deixar Cair no esquecimento Seu amigo e ajudar, Quando é chegar o momento. Quando a amizade é pura, Saída do coração, Para toda a vida dura, Sem pedir compensação! A amizade não se paga Tem de ser contribuída E quem assim não fizer É uma amizade fingida Preciosa Maria Gamito

Apelo aos Sócios Alguns dos nossos associados têm deixado atrasar as suas quotas no Mensageiro da Poesia - Associação Cultural Poética. É do conhecimento geral que é com o conjunto destes pequenos contributos que é possível continuar a editar este boletim bimensalmente e cuja regularidade queríamos manter. Por uma questão de justiça também não é aceitável que o Mensageiro continue a publicar poemas de quem para ele não contribua. Pelo que apelamos aos sócios nesta situação que atualizem a sua contribuição, anunciando que o boletim deixará de publicar textos e poemas de quem não tenha a sua situação regularizada.


Julho/Agosto 2016

Céu Falam do céu com fervor, Crentes, neutros, até ateus, Mas sublime céu meu amor É junto de ti, seja como for Dádiva assim só de Deus! É pena que isto não se estime, Exacto, como génese de verdade, Porque o mútuo amor é sublime, Seja quem for, sem olhar a idade! O amor sublime não é tudo, Como calculamos no começo, Há que fazer apurado estudo, Porque a máscara do Entrudo, Surge breve certa e com preço! Há muitas formas de amor, E de amar, não tem conta, Mas quem mais audaz for A vitória breve aponta! Dolores Carvalho

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Naquela noite Lembras-te? Naquela noite eu gritei que te amava. Levei-te a jantar. Ofereci-te flores. Naquela como em todas as noites Eu fui honesto contigo: Não bastava amar-te… Senti necessidade de o dizer em voz alta Era preciso prova-lo e eu fiz isso. Naquela noite sem amor Senti-te tão distante Que me assaltou a ideia De que tinhas outro amante. Naquela noite. Gritei ao mundo o meu amor por ti E nessa noite. Nessa mesma noite Eu te perdi..! João Ferreira

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Mensageiro da Poesia - 25

Os Nossos Poetas

Mote Procurei o amor que me mentiu Pedi à vida mais do que ela dava; Eterna sonhadora edificava Meu castelo de luz que me caiu. Poema “Inconstância” de Florbela Espanca Glosa Quis ser estrela, rasgar a escuridão, Quis ser riso, afundar a tristeza, Quis animar meu triste coração, Achar do amor a tal beleza. Em beijos alados... beijos de rosas... A luz divina que minha alma sentiu Apagou-se em noites tenebrosas... Procurei o amor que me mentiu. Afaguei lindas açucenas em meu seio Mas todas me morreram de frio, O amor que procurei nunca veio Sem ternura meu coração ficou vazio; Ao recapitular anos de memória Vejo como do sonho fui escrava, De desventuras é feita a minha história Pedi à vida mais do que ela dava. O estalar do silêncio empalidece, Até as pedras soluçam baixinho; O chilreio do rouxinol em prece Angustia meu caração sozinho; E clamo ao vento, aos espaços Onde estás tu solidão q’ansiava? Amor desejado que em meus braços Eterna sonhadora edificava. Num desolado ai... num negro grito Anseio pelo meu “Prince Charmant”: _ Esplendor de todo o meu infinito! Virá nas brumas de uma manhã, Esperarei por ele a vida inteira... Não! Meu sonho não se extinguiu Erguerei com esperança verdadeira Meu castelo de luz que me caiu. Maria de Lurdes de Jesus Emídio


Os Nossos Poetas

26 - Mensageiro da Poesia

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Julho/Agosto 2016

Pescador de quimeras Acabrunhado, a fumar a “beata“, Absorto e vergado às artes da pesca, Vai o “lobo do mar“ p'rá sua “chata“, Ao anoitecer, já com bruma fresca. Alheado, puxa a barca p'ró mar, Arruma a tralha e pendura o candeio. Pronto. Põe o motor a trabalhar. Quanto mais movimento, mais enleio. A sua falua, o “Sonho Feliz“ . Frágil, porém forte quais galeras, Franca, livre e ágil como um petiz.

Ser idoso é ter passado I Ser idoso é ter passado Muitos anos da sua vida Deve ser respeitado Não lhe deve ser negado A dignidade merecida

De madrugada, o pescador, com vida, Lá regressa à família querida, Sem espectativa, apenas quimeras. “manoel beirão“ Elmano Gomes

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Princípio do fim

II Hoje há pouco respeito Muita falta de educação Ser velho é um direito Tratado como um sujeito É o nome que lhe dão

V O desespero e a solidão São palavras muito usadas Muitos têm a noção Que vivem em distinção Nas suas próprias moradas

III Alguns ficam esquecidos Por quem lhes deu a vida Esquecem os tempos vividos E já não lhe dão ouvidos Só lhes resta a despedida

VI Quem se pode movimentar Para se poder distrair Com medo de escorregar Que pode ser o seu azar E não poder mais sair

IV Muitos vão para o lar Os que têm mais poder Aquele que não pode pagar Pode ter que mendigar Para se poder defender

VII Todos temos o nosso fim Há quem pense que não vai ter Nunca se riam de mim Quando fores também assim Não vais gostar de sofrer

Miraldino Carvalho

Neste princípio do fim De um viver atribulado, A vida passa por mim Como um sonho ignorado. Um lúcido silêncio paira No ar como um turbilhão Num som cavo de vis danças, As ondas outrora mansas Volteiam em vagalhão Neste mar encapelado. Olho pró céu e reparo Que o seu azul se parece Com um mar de ilusões, Ergo minhas mãos em prece Ao Sol que já se fenece Neste mundo de ambições. No despertar deste sonho Sem fazer disso reparo Olho pró mar… no céu vejo, Um Sol que em seu ocaso Se esconde no horizonte Numa carícia sem fim. Arménio Correia


Julho/Agosto 2016

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Mensageiro da Poesia - 27

Poeta em Destaque Zeca Afonso

De seu nome completo José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos, nasceu a 02 de agosto de 1929 em Aveiro e ficou conhecido como Zeca Afonso, tendo iniciado a carreira em Coimbra, onde fez parte do Orfeão Académico e da Tuna Universitária, seguindo-se uma carreira a solo como intérprete de fados e baladas. Gravou o primeiro disco, nos inícios da década de 1950, de 78 rotações, com fados de Coimbra, editados pela discográfica Alvorada. O músico cumpriu o serviço militar obrigatório e, já licenciado em Ciências Histórico - Filosóficas pela Universidade de Coimbra, iniciou a carreira docente, mantendo ligações com o meio musical coimbrão, relacionando-se em simultâneo com Adriano Correia de Oliveira, Manuel Alegre e José Niza, Francisco Fanhais, entre outros. Em 1963 editou aqueles que são os primeiros temas de cariz político, “Os Vampiros” e “Menino do Bairro Negro”, que faziam parte do alinhamento do disco “Baladas de Coimbra”, que a Censura proibiu. Fez digressões pela Europa e estabeleceu residência em Moçambique, entre 1964 e 1967, onde estavam os pais, regressando a Portugal, onde voltou a lecionar, tendo a ditadura procedido à sua expulsão do ensino, por razões políticas. Em 1969, em Paris, participou no I Encontro da “Chanson Portugaise de Combat”. Gravou o disco “Cantares do Andarilho”, que lhe valeu o Prémio da Casa da Imprensa, para o Melhor Disco do Ano, e o Prémio da Melhor Interpretação, ao qual se sucedeu “Cantigas de Maio”, tendo sido preso, em 1973, pela PIDE, no Forte de Caxias. Após o 25 de Abril de 1974, envolveu-se diretamente na política, participando em sessões de Canto Livre e na campanha de alfabetização do Movimento das Forças Armadas. Apoiou os candidatos presidenciais Otelo Saraiva de Carvalho (1976) e Maria de Lourdes Pintasilgo (1984). No dia 23 de fevereiro de 1987, morreu em Setúbal, vítima de esclerose lateral amiotrófica, que lhe fora diagnosticada em 1982, o seu funeral foi acompanhado por cerca de 30 mil pessoas.

Zeca Afonso Foi indiscutivelmente uma das grandes vozes da Revolução de Abril. A sua canção “Grândola, Vila Morena” criada em maio de 1964, numa ocasião em que veio cantar à Sociedade Fraternidade Operária Grandolense, fez parte do álbum “Cantigas do Maio”, gravado em 1971 e foi usada como senha para a saída dos militares na madrugada da revolução dos cravos. A canção tornou-se num Hino à Liberdade usada na evocação do 25 de Abril de 1974, assim como em manifestações populares e movimentos de protesto. Para além da sua intervenção musical, social e politica, José Afonso destaca-se também pela sua obra poética sobre a qual o escritor João Melo, na sessão evocativa dos seus 87 anos, promovida pelo Núcleo de Lisboa da AJA, realçou duas fases distintas: Antes do 25 de Abril, em que a mensagem da sua poesia lançava apelos de denúncia da ditadura e reposição das liberdades; e depois do 25 de Abril, onde a poesia de José Afonso, apontava para a uma sociedade igualitária, fraterna e solidária consubstanciando um ideal de “Utopia”, precisamente o tema desta sessão a qual contou para além de João Melo, com Francisco Fanhais e Fernando Paulouro e decorreu neste dia 2 de Agosto em Lisboa. Fontes: Associação José Afonso, portalivros.wordpress.com Arranjo de texto: Hermilo Grave e jhs


Segredo é Amar

Julho/Agosto 2016 28 - Mensageiro da Poesia

Grândola Vila Morena

Grândola, vila morena Terra da fraternidade O povo é quem mais ordena Dentro de ti, ó cidade Dentro de ti, ó cidade O povo é quem mais ordena Terra da fraternidade Grândola, vila morena Em cada esquina um amigo Em cada rosto igualdade Grândola, vila morena Terra da fraternidade Terra da fraternidade Grândola, vila morena Em cada rosto igualdade O povo é quem mais ordena À sombra duma azinheira Que já não sabia a idade Jurei ter por companheira Grândola a tua vontade Letra e música: Zeca Afonso In: "Cantigas do maio", 1971

e-mail: mensageiropoesia@gmail.com http://.facebook.com/mensageirodapoesia.com


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