Boletim 142 Mensageiro da Poesia

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Mensageiro da Poesia - 1 Outubro/Novembro/Dezembro 2017

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Bocage O nosso patrono Mensageiro da Poesia Associação Cultural Poética Trimestral - n.º 142 Outubro/Novembro/Dezembro 2017

Poeta do Mês

José Maria Caldeira Pág. 15

19º Aniversário


Nota de Abertura

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Dias Pequenos O clima de Inverno e os dias pequenos chegaram-nos à porta, embora o período de seca nos continue a acompanhar e nos permaneça na memória a maior tragédia coletiva que Portugal viveu nos últimos anos… Começam a aparecer os sinais de mais um anunciado Natal e com ele os convites ao consumo, os cabazes ocasionais, os jantares do ano e o encher da barriga por um dia, aos mais necessitados… Assim acontece todos os anos e se repete como um ritual celebrativo que parece aliviar-nos para todo o resto do ano. Por um dia todos nos tornamos Cristãos, Solidários e Fraternos. Depois “Deus nos ajudará”, a continuar a viver indiferentes aos que sofrem, aos que padecem tanto da

insuficiência económica, como das insuficiências de afecto, de companhia, de mobilidade, de cuidados de saúde e de isolamento. O isolamento foi talvez a maior evidência que ficou demostrada na tragédia dos incêndios que atingiu Portugal e se fez sentir sobretudo no interior do País. Os “teimosos” que durante as ultimas décadas resistiram a abandonar as suas terras, depois de terem ficado sem escolas, sem Centros de Saúde, sem farmácias, sem transportes e ultimamente até sem bancos, viram-se para finalizar, condenados ao inferno das chamas neste verão. Inevitavelmente, neste Natal caberia aqui uma palavra de solidariedade para com todas as famílias que nesta quadra cho-

ram a perda dos seus ente-queridos, dos seus vizinhos, ou dos seus bens. Porém porque Poesia também é interpelação, reflexão e denúncia, caberá também nesta modesta publicação, fazer um Apelo aos que planeiam, gerem e governam para que sejam ágeis na reposição possível dos danos e tomem medidas para que situações destas sejam evitadas. A Todos Um Bom Natal.

Jorge Henriques Santos Jornalista.

Sentidos pêsames À família enlutada do nosso associado Manuel Martins Nobre pela morte de José Duarte Nobre, o Mensageiro da Poesia endereça sentidos pêsames.

Ficha Técnica: Tipo de publicação Bimestral - Propriedade: Mensageiro da Poesia, Associação Cultural Poética Rua dos Vidreiros, Loja 5 Antigo Mercado de Amora - 2845-456 Amora - Portugal • E-mail: mensageiropoesia@gmail.com • Director: Jorge Henriques dos Santos Director Adjunto: Luís Fernandes - Sócio Fundador • Colaboram nesta edição: Donzília Fernandes, Luís Fernandes, Ivone Mendes, Miraldino Carvalho, Maria Francisca S. Bento, Hermilo Grave, Berta Rodrigues, Dolores Guerreiro Costa, Bia do Taxi, Magui, Euclides Cavaco, José Jacinto, Chico Bento, Mário Pão-Mole, Margarida Moreira, Joana Mendes, João Ferreira, Preciosa Gamito, Maria de Jesus Ferreira, José Gomes, José Camacho, José Maria Caldeira Gonçalves, Emília Mezia, Maria de Jesus Procópio, Pinhal Dias, Laura Santos, Arménio Correia, Lúcia Carvalho, Elmano Gomes,Manuel Sapateiro, Damásia Pestana, Manuela Lourenço, Lurdes de Jesus Emídio, Emídia Guerreiro Salvador, José de Frias, Maria Vitória Afonso, Isidoro Cavaco, Carmindo Carvalho, Sílvia Helena Xandy, Armanda Rosa, Maria de Lurdes Brás, Adelaide Palmela, António Bicho, Ana Santos, Maria Laurinda Pacheco, António Pepe • Isenta de Registo na ERC ao abrigo do disposto no Decreto Regulamentar n.º 8/99 de 9/06, art.º 12.º, n.º 1 a) • Depósito Legal: 3240411/06 • Tiragem: 300 exemplares Paginação / Impressão / Acabamento: Tipografia Rápida de Setúbal, Lda. • Travessa Gaspar Agostinho, N.º 1 -2.º 2900-389 Setúbal Telef.: 265 539 690 Fax: 265 539 698 • e-mail: trapida@bpl.pt


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Vida Associativa

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Próximas actividades

Destaques nesta edição:

Tertúlia Poética no dia 26 de Novembro de 2017 (Domingo) pelas 15 horas na sede da nossa Associação. Tertúlia Poética no dia 28 de Janeiro de 2018 (Domingo) pelas 15 horas na sede da nossa Associação. Tertúlia poética alusiva ao dia dos Namorados com lanche convívio com a colaboração de todos os participantes dia 18 de Fevereiro pelas 15 horas, no Espaço Associativo.

• 19º aniversário - Pág. 14 e 15 • Cantinho do escritor - Pág. 13 • Entrevista com: Lúcia Carvalho - Págs. 16 e 17 • Poeta do mês: José M. Caldeira - Pág. 10 e 11 • Poeta em Destaque: Fernando Pessoa - Pág. 27 e 28 • Sílvia Xandy - Pág. 22 e 23

Agradecemos a vossa participação.

Quotas de 2017 Caros associados (as) Estão quase fechadas as contas do ano de 2017, e o Mensageiro da Poesia, Associação Cultural Poética verificou a falta de pagamento de quotas de alguns associados. A nossa sugestão é dirigida aos sócios do Mensageiro da Poesia que por esquecimento, falta de oportunidade ou dificuldades operativas têm o pagamento de quotas em atraso. Como a nossa Associação vive exclusivamente da cotização dos seus associados e só com a participação de todos pode prosseguir os seus objetivos, solicitamos, que procedam ao pagamento das mesmas, podendo, para o efeito fazê-lo por transferência bancária para o NIB 003600229910007759796 por vale de correio, ou por cheque remetido para a nossa sede. Para quaisquer dúvidas de cada sócio quanto à sua situação, contacte os Nº. indicados. Luís Fernandes 938484312 – Arménio Correia 967260385 – Hermilo Grave 910175685 Gratos pela vossa compreensão, recebam as nossas Saudações Poéticas. A Direção


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Apoios:

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IX Concurso

Menção Honrosa - Poema livre Junta de Freguesia de Amora UNIÃO DAS FREGUESIAS DE SEIXAL, ARRENTELA E ALDEIA DE PAIO PIRES

CLUBE RECREATIVO DA CRUZ DE PAU

Apelo Ao idoso dá a mão Trata com educação Essa cara envelhecida Ajuda-o a caminhar Para a rua atravessar Sem correr risco de vida. Idosos que estão sozinhos Vivem tristes sem carinhos Tão cheios de solidão No silêncio que não dorme A mágoa que os consome É dor que lhe mata o coração. No avançar da idade Segurança e qualidade São elementos preciosos Com alguma ignorância Muitos não dão importância Ao bem estar dos idosos. Sendo o mundo um Universo Eu deixo aqui neste verso Um apelo tão gritante Porque é grande a sua dor Da solidariedade ao amor Um sorriso é importante. Pseudónimo = Alma Maria Francisca São Bento 1ª Mensão Honrosa

Muitos vão para o lar Os que têm mais poder Aquele que não pode pagar Pode ter que mendigar Para se poder defender. Pseudónimo = O Desejado Miraldino de Carvalho 2ª Mensão Honrosa

Ser idoso é ter passado Muitos anos da sua vida Deve ser respeitado Não lhe deve ser negado A dignidade merecida. Pseudónimo = O Pensador Miraldino de Carvalho 3ª Mensão Honrosa


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IX Concurso

Menção Honrosa - Quadra livre

O Idoso O idoso que sabe amar, Tem a alma protegida! Só é velho quem pensar Que já fez tudo na vida.

A glória de ser idoso O tempo nunca venceu O ancião destemido. Ser idoso é ser troféu Por tanto se ter vivido. Nunca despreses um velho (Ouve bem o que te digo) Ele pode dar-te um conselho E vir a ser teu amigo. Eu estou na terceira idade, Mas a vida não me enfarta. Gostaria, na verdade, De chegar até à quarta. No Japão, há tradição Que deixa o mundo espantado: Venera-se o ancião, Mesmo depois de enterrado. Minha cabeça está boa, Bom está meu coração; Não digo coisas à toa E adoro ser ancião! Tens razão, estou velho, sim. E, afinal, o que é que tem? Se não como amendoim E ainda me porto bem! Pseud. – Fernando Calvo Hermilo Grave 1ª Mensão Honrosa

O baile das idosas Numa tarde domingueira Lá vão elas para o baile. Em alegre cavaqueira Em casa ficou o xaile. De faces bem maquilhadas, Vão de pouchet na mão. Cinturas espartilhadas Os lábios em coração. Vão pró baile dos idosos Relembrar os tempos idos. Levam vestidos vistosos Pra agradar aos preferidos. Dançam a valsa, o baião, Com idosos aguerridos. Pôem o pé no travão Aos que são mais atrevidos. Ser odoso é uma chatice, Não adianta carpir. Eu faço com que a velhice Pareça não existir. Pseud. – Pomba Branca Berta Quaresma Rodrigues 2ª Mensão Honrosa

A velhice pode sonhar E mesmo a brincar dizer, Parada não vou ficar Sou velha quero lá saber. O que teve e já não tem Para quê pensar agora, A juventude já não vem E a mocidade foi embora. Que a vida é passageira Só temos que aceitar, A esperança é mensageira, Dá-nos luz para caminhar. O idoso deve ter, Pensamentos positivos E também agradecer, Porque ainda estamos vivos. Conviver é importante Com amigos, filhos e netos Num lar aconchegante, Nunca faltam os afetos. Pseud. – Crente Dolores Guerreiro Costa 3ª Mensão Honrosa


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A guerra e a paz Encontraram-se um dia a guerra e a PAZ, Em discussão acesa mais ou menos assim: A guerra disse, arrogante, com todo clarim Como fosse invencível sempre contumaz! …”A força que tenho é a minha arma sem fim; As minhas leis são firmes, não voltam atrás, Com ferro e fogo, ninguém m’enfrenta audaz, Eu venço todos que s’aventurem contra mim!”…

A sereia

Em bem tento em esquecer Saudades, não me venhas trazer Só de pensar eu sinto frio

Era uma onda na praia deserta Que com leveza deslizava... Sobre a fina areia da praia Uma mulher dormitava!... Nada seria estranho Se essa mulher não fosse... Uma sereia perdida... Trazida pelo mar... E ali chorava!... Sem saber que rumo tomar!... E passaram as gaivotas... E até homens do Mar... Até que os peixes... Lhe vieram Falar... E em breves Sons... Na linguagem de peixe... Lhe ecoaram... Que o seu habitat... Era para lá daquele mar!... E a Sereia!... Já sem forças!... Se lançou de novo ao Mar!... Afinal tantas vezes!... A outras praias foi parar!... E já não sabia Se teria forças para voltar!... Mas a Sereia partiu... Com seus olhos a chorar!... Ela só procura... Um espaço para ficar!... Um mundo para amar!... E alguém para Abraçar!...

Bia do Táxi

MAGUI

Calou-se a guerra. A PAZ em resposta pronta N’uma voz, reverente, austera, de justiça Lançou contra seu rival um olhar d’afronta… A mim o Universo procura-me em cada canto, Com ternura, ansiedade, sem ódio, nem cobiça, A lei do amor eu a dito, sem haver triste pranto!... Dolores Carvalho

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Meu rio de saudade Tenho um rio de saudade No peito bem dentro de mim Voz sufocante falando assim Para isso não tens mais idade Será mesmo assim verdade Ouço passos será ela! Saudade triste e singela Ou será minha ansiedade! Lá vem ela dar-me de beber Já não sei o que hei-de fazer Uma fonte que se fez rio


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Filosofia da felicidade Não chores coisas perdidas Preza o que tens p'ra vencer E sem lesares outras vidas Faz o que te dá prazer.

A voz da mudança

Não lamentes o passado Estima o que vai surgindo Sem te mostrares revoltado Desfruta a vida sorrindo. Não revivas a tristeza que outrora te magoou Com a mesma natureza Esquece quem te deixou. Não antecipes as penas Que te possam causar dor Faz grandes, coisas pequenas Que têm p'ra ti valor. Não penses em quem te odeia Ama quem está contigo Não cobices coisa alheia Nem atraiçoes um amigo. Segue esta filosofia Escuta o que o sábio diz Vive em perfeita harmonia Luta para seres feliz !... Euclides Cavaco

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Mensagens de reflexão Tudo o que um sonho precisa para ser realizado é alguém que acredite que ele possa ser realizado. Roberto Shinyashiki

Planalto infinito

No decorrer do tempo, Há sempre uma voz: Que fala aqui e ali… Por mim, por si e por nós Para ver reproduzir, Tudo o que seja feito, Por amor… Bem aventurado seja: Todo aquele que adere! Alegar com honestidade… Pureza e fulgor.

No decorrer do tempo, Malanjino, Cá, Há sempre uma voz: não é imigrante, Que desperta o sol; apenas residente, Levanta as nuvens; habitante E fala aqui e ali… desabitado Por mim por si e por nós. nesta terra de outra Gente Mas não se esqueça, de Cá.. Que viver no mundo sem amor: Mas, É pior que ser mudo de nascença! como Malanje está onde a sua Gente está, Porque, na cor e na idade, Não existe indiferença! Malanjino cá, Para se respirar o ar tem sempre Dos Céus, da claridade: Malanje ao pé. Devemos procurar a mudança!... Lá, se tornar, é retornado, Luís Filipe N. Fernandes se cá ficar, é Malanjino na mesma. Malanjino, mesmo que não vá à Terra, traz sempre a Palanca Real consigo. Malanjino não fica na espera, Malanjino é dono do abrigo, onde Malanje repousa sempre do mesmo jeito, encostada no seu peito feito planalto infinito. José Jacinto "N'Django"


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Fiel retrato Olho pensativo As águas deste lago E tão calmo como ele Sonho contigo. Vejo o teu corpo reflectido, Sei que é o meu sentido, Que te desenha, Assim tão perfeita, Como se fosse a realidade. E vendo-te na profundidade Daquela mansidão azul, Tão calma como o lago Dá vontade de mergulhar Para te abraçar E dizer-te Meu amor, como és linda Como eu te amo ainda, Assim sempre te amarei, Em todo o lado te encontrarei Porque tu estás e estarás sempre No meu sentido E é ele que te vê Que te deseja Que te abraça Que te beija Tudo em pensamento Porque mesmo longe Eu te afago Até mesmo na profundidade Deste lago.

Hoje

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Chega o Outono Chega o Outono tão triste É tempo de vindimar Folhas amarelas, existe Vamos os figos secar

Hoje!... Vamos todos festejar E sempre hoje... Com nozes e umas castanhas Muitos hoje seguidos Bom vinho pra acompanhar Alguém livre!... Ó que belezas tamanhas Que esteja pronto!... Pronto para Amar ... Caem folhas amarelas Hoje!... No Outono há nostalgia Um hoje em cada dia... Árvores nuas mas belas E nesse hoje... Com flores sem ramaria De Hoje... Ser tua cama ... Colher azeitonas p’ró lagar Mas nunca... É motivo de reflexão Cama vazia... E com o Outono a chegar Ser TUA!... Também chega a solidão Matar desejos... Como sempre sonhei! É tempo de migração Hoje... Andorinhas vão embora Quero Amar!... Para outro país então Quero partilhar... Está chegando a sua hora Este fogo... Que é Desejo!... Maria João Cristino Lopes De Amar... E morrer...  Em teus braços... O planeta Sem pejo!... Meu eterno... O nosso planeta está doente E doce Amor!... e já há muito que se queixa, Mário Pão-Mole está pedindo a toda a gente Margarida Moreira com os sinais que nos deixa.  A toda a hora pedindo remédio para a sua cura, parece mais uma tortura. Contra o ar que respiramos, Pensamento do mês contra o nosso próprio ser, o caminho por onde vamos Ser poeta, é cantar a beleza quando o vamos entender? da alma de todo e qualquer ser humano. Há dois mil anos, Jesus É reconhecer a imensa grandeza a todos veio avisar, de um sentimento puro, soberano. o caminho está na Sua Luz, vamos a Sua voz escutar! Marco Vinicius de Moraes Joana Mendes


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Oferta Mulher… A ti me dou Em taça lapidada, Por ti, já estou Numa guerra sem quartel. Eu quero saborear O teu néctar, o teu mel; Nem que para tal Seja o fio da espada… A ti me dou, Em manhãs de Primavera, Com o raiar do sol No horizonte. Por ti, Enfrentarei qualquer quimera, Até abrir caminho, P’ra beber na tua fonte!... João Ferreira

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Alentejo

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O que é a vida A vida pra ser vivida Tem fases complicadas. As agruras desta vida Precisam ser bem levadas. Pessoa que tem bom pensar Deve estar bem preparada. Para a sua vida levar Sem cair numa alhada. A vida não são só rosas Também tem os seus espinhos. Picam as calamitosas A quem fica plos caminhos. Ela também nos ensina, Coisas com que não contamos. Mas é esta a nossa sina Por isso nos lamentamos. Preciosa M. Gamito

Alentejo deslumbrante Tão sincero como estes versos Sempre de braços abertos Para acolher teus visitantes. Os teus campos verdejantes Cenário de rara beleza, És belo por natureza Tão belo que não posso passar Sem um dia lá voltar P’ra sentir tua franqueza. O teu Sol Divino e quente, Se confunde com o calor E até com o valor Que existe na tua gente. Alentejo, segues em frente E no progresso hás-de vencer, Mas há coisas más d’entender. Teus amigos te enaltecem E enquanto alguém te esquece, Mais eu desejo de te ver. José Gomes

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“Poeta”

Lindas flores E a meditar… eu fico, Sempre junto á natureza. Meu coração é mais rico, A alma tem mais beleza. Flores do meu jardim… Perfeitas e tão belas, Deixo e ganho em mim, Quando estou entre elas. Vermelhas ou amarelas, Para mim… tanto faz. São lindas… são belas… Transmitem calma e paz. Minha terra, meu Alentejo, Uma alegria para mim… É regar, mandar um beijo, Às flores do meu jardim. Alentejo sem idade, Tu me dás energia. Calma e serenidade… Paz para o meu dia. Maria de Jesus Ferreira

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Poeta que vês nas Estrelas, Melodias que compuseste, Palavras que ontem perdeste, Hoje, consegues reavê-las. Tens o poder de retê-las Insistindo fortemente, Com teu poder persistente Um dia hás-de vencê-las. Mesmo em noites sem luar, Que estranha a tua inspiração Descobrindo na escuridão, A luz que ao Mundo queres dar. Não consegues descansar Na doçura do teu leito, Mas a revolta no teu peito, Um dia há-de triunfar. José Camacho


Poeta do mês

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José Maria Caldeira Gonçalves dade da empresa holding de um grande Grupo Económico do país. Passados alguns anos, chefiou a contabilidade da referida empresa e de algumas associadas. Tornou-se pouco tempo depois director financeiro de duas das empresas do grupo. Com o desmonoramento deste durante a crise de 1983, formou a sua própria empresa.. Em idade de reforma e com a saúde diminuída retirou-se da actividade empresarial. Aos 70 anos retomou o hábito de versejar que suspendera aos vinte e três devido em

Nasci e vivi in natura

José Maria Caldeira Gonçalves, nasceu a 9 de julho de 1940 na fraguesia de Malpica, hoje Malpica do Tejo, concelho de Castelo Branco. Publicou em 2014 o livro MALPICA QUE MINHAS SAUDADES TECES... em 2015 o livro TER SAUDADE e em 2017 o livro MALPICA – POEMAS DE AMOR E SAUDADE. Em Malpica fez a quarta classe aos dez anos e aos onze iniciou-se nos trabalhos do campo a guardar gado e em outras tarefas condizentes com a sua idade. Aos doze anos começou a lavrar com uma junta de bois, pela qual ficou responsável quanto à alimentação e limpesa da mesma. Com a idade de 14 anos ingressou, como aprendiz de serralheiro, numa fábrica em Castelo Branco. Em 1956, com 16 anos, tornou-se aluno fundador da Escola Industrial e Comercial de Castelo Branco, tendo-se matriculado no Curso Geral de Comércio. Concluído este, foi alistado no Exército para cumprimento do Serviço Militar Obrigatório, em 1961. A 5 de Dezembro de 1962 embarca para Angola, onde fez a guerra, na região dos Dembos em Nambuangongo. Em Fevereiro de 1965, passou à disponibilidade. Ingressou como escriturário na contabili-

Nasci e vivi in natura, Bebendo dos seus valores, E amando demais suas cores!... Tive uma vida partilhada Com o tudo e o nada, Mas adoravelmente pura!... Nos sonhos que sonhava O amor que neles entrava Era um amor permanente... Ao próximo e aos meus, Como o mandamento de Deus O aconselha solenemente!... Hoje, e apesar de velho, Continuo a pedir conselho Ao amor, sobre a vontade Que me anima a continuar, A conjugar o verbo amar Partilhando a vida com verdade! José Maria Caldeira Gonçalves

continua da pág. 11


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continuação da pág. 10

Hoje, para além do amor por companhia Hoje, para além do amor por companhia Sinto o respirar da felicidade Colocando em meus sonhos. a fantasia De a tornar eternamente verdade! Nos sonhos e, no desejo dum futuro Prenhe de deleitável forma de viver!... Nascida a esperança, parece seguro Que o resto do tempo. até deixa de correr... Em muitos momentos felizes, hiberna Dando-nos a ideia duma duração eterna, Onde o tempo parece de beatitude! É assim quando o amor simples e sério existe, E no seu puro seio o desejo subsiste Como se trazido desde a juventude! José Maria Caldeira Goncalves

parte, ao assumir responsabilidades pelo nascimento do primeiro filho e à formação técnica que julgava indispensável para o desenvolvimento profissional. Tem trabalhos dispersos em algumas publicações, nomeadamente na Antologia Poética da Poesia de Guerra Colonial. No livro Rumos, publicado pelos alunos finalistas de Português do Curso Geral de Comércio no ano de 1959, no BCAV 399 Os Cavaleiros de Cavalaria e em algumas Antologias poéticas do Mensageiro da Poesia, Associação Cultural Poética, bem como em diversos Boletins bimensais da mesma Associação.


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É preciso saber viver

"Pedras amigas"

Aproveita bem todos os instantes; Se tens muito dinheiro não te gabes; Evita ter gestos pedantes E não digas jamais o que não sabes.

Falei com as pedras...e rochas... Fascinante!... O mundo sacrificou-me nos espinhos E o meu sonho perdeu-se nos caminhos!... Procurei o amor... Na verdade do amante!... As pedras amigas...riram-se num instante!... Disseram-me... Vai!... A dor. é o sonho da vida!... Em cada pedra que pisas...é a subida!... No Altíssimo Amor...o teu diamante!...

Sê compreensivo e benevolente, Recusando vinganças e castigos, Porque, se assim fores, aos olhos de muita gente, Passarás por ser mau e terás poucos amigos.

Com a Sorte, tem a língua comedida. Caminhei...caminhei...sem saber por onde andava!... Não lhe lances, pois, injúrias a esmo. Uma sombra de oiro, com minha alma cantava... Nada de melhor há do que estar-se Nos gestos, das tuas mãos cariciosas!... de bem com a vida, E de se estar em paz consigo mesmo! Hó!... Há quanto tempo corri atrás de ti!... Porque não me disseram que estavas ali?... Hoje ou amanhã, seja quando for, As pedras! Já não eram pedras!...mas...rosas!... Põe-te sempre do lado da Razão. Sê fiel na amizade e no amor Emilia Mezia E teu semelhante trata como irmão.

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Alentejo terra do sol queimado Alentejo! Ceifam trabalhadores! Pela noite o javali que assombra No romper da aurora vês caçadores E fazes do sobreiro a tua sombra És Alentejo no Alto e no Baixo E de Évora a cidade global Rio Tejo, Alentejo mais abaixo Torrão matriculado em Setúbal Alqueva com margens fertilizantes Turismo, com muitos simpatizantes Alentejo…grande potencial Alentejo terra do sol queimado A terra é lavrada no seu fado Vês na cortiça o teu manancial Pinhal Dias (Lahnip) PT (In: “Está tudo dito”)

Sempre que possas, distribui teu pão Com o pobre, que pouco ou nada tem. Verás que ser fraterno faz bem ao coração E que saber viver é o nosso melhor bem! Hermilo Grave

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O idoso Para do idoso falar Eu não sei como começar Mas resolvi procurar... Idoso é sinónimo de tristeza E digo isto com firmeza Todos gostamos que os anos passem por nós Porque queremos ser, Pais e Avós Dar continuação às vidas Que por nós passam concebidas. Nem idosa nem velha, eu quero ser A idade irá acontecer Mas enquanto eu poder escrever Aqui estarei para o fazer. Laura Santos – Sely=Poemas


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Cantinho do Escritor

Opinião

Para os meus amigos-amigas com um beijinho de amizade

Amizade não tem cor Amizade um sentimento Que nos sai do coração Vivido a todo o momento Sem haver explicação Amizade é algo nobre Tem de ser bem definida Sendo rico ou pobre É algo que nos prende á vida São ideias partilhadas Carinho e sinceridade Caminhando a mesma estrada Assim explica a amizade Amizade quando sincera É um mundo a descobrir É sentir a Primavera Numa criança a sorrir Amizade não tem cor Nem raça ou ideais Quando dada com amor Todos nós somos iguais Seja o motivo que for Quem parte deixa saudade Pode acabar o amor Fica sempre uma Amizade Berta Rodrigues

É madrugada, duas horas, estive a ver o filme na televisão que pode ser a vida de qualquer um com opção para o bem ou para o mal. Está calor, fui até à varanda respirei fundo, olhei o céu que estava com algumas nuvens de incerteza, passando e tapando a lua, talvez adivinhando um chuvisco de Verão, mas breve foram levadas pela aragem, sem pressa. Pouco a pouco o céu ficou limpo, cheio de estrelas, deixando brilhar a lua. Pensando em toda esta metamorfose do Universo, na sua grandeza. Quem possa olhar e compreender com o olhar do coração, pode elevar o seu espírito humano. Então porquê tanta mentalidade doentia, de tanto retrocesso no nosso país? Todos os portugueses ouviram o embalar de palavras bonitas cheias de esperança, que tudo estava preparado para os fogos, e viu-se o resultado. O mundo está cheio de agressividade e maldade, porque só se vê agressões e mortes todos os dias pelos motivos mais fúteis, nomeadamente em discotecas, onde deve haver vigilância mas com democracia e não brutalidade. Os problemas que podem surgir resolvem-se com o diálogo, mas não! É o que se vê e não vê. Há violência demais. Estou farta de tanta maldade e de tanta mentira. Portugal está desprotegido de tudo, fogos, agressões. Nós precisamos de paz, tranquilidade, boa orientação política equilibrada, sem sonhos de opas, tgv`s é loucura falar disso neste momento. Arrumem Portugal, Lisboa cheia de buracos e prédios a ruir, e tanta gente sem emprego, casa e com fome. O nosso aeroporto da Portela, fica muito bem, aproveitando todos os espaços, até porque está mito melhor que tantos outros onde constatei que são inferiores ao nosso e onde há mais estabilidade a todo o nível. Tanta coisa interna para preocupar, as águas dos rios poluídas (mais atenção aos faltosos e coimas) a ponto dos peixes morrerem envenenados aos montes, e que são colhidos para fabricar farinhas para a alimentação dos animais. Como pode haver saúde em Portugal se vamos ingerir carnes alimentadas de farinhas provenientes de peixes mortos envenenados? Meu Deus, sinto a minha alma doente. A noite já vai muito longa, adormece lentamente cansada da agitação do dia, suavemente, até só restar o silêncio e quando o Sol nascer, numa radiosa manhã de Verão vou tentar pensar que será um dia lindo cheio de esperanças renovadas. Mas bem no fundo do meu ser, há o pânico e angustia da terrível realidade de todos. Ivone Mendes


Vida Associativa

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19º Aniversário Mesa de Honra

No passado dia 22 de outubro, o Mensageiro da Poesia – Associação Cultural Poética de Amora, comemorou o 19º Aniversário da sua fundação. O evento realizou-se no Centro Cultural e Desportivo das Paivas. Com a sala repleta de sócios e amigos da nossa Associação, formou-se a Mesa de Honra, que foi constituída pela representante do executivo da Junta de Freguesia de Amora, Helena Quinta; o Presidente do Centro Cultural e Desportivo das Paivas, António Pepe; o Fundador e Presidente da Direção da nossa Associação, Luís Filipe Neves Fernandes; e o poeta que apresentou o seu livro de poemas “Maresia”, Elmano Amaral Gomes. Ao usar da palavra, , Luís Fernandes começou por agradecer, reconhecidamente, o apoio prestado à nossa Associação pela Junta de Freguesia de Amora, pela Câmara Municipal do Seixal, pelo Centro Cultural e Desportivo das Paivas e pela União de Juntas de Freguesias do Seixal, tendo ele também feito um breve resumo sobre o percurso dos 19 anos de existência da nossa Associação, citando, na mesma ocasião, algumas palavras de apre-

nossa associada Adelaide Palmela, a quem ço à nos foi atribuída uma justa homenagem. Na sua intervenção, o Presidente do Centro Cultural e Desportivo das Paivas pediu para que toda a assistência fizesse um minuto de silêncio, em homenagem às vítimas da tragédia que, recentemente, assolou o nosso País, dizendo ainda que, tanto as instalações da aparelhagem assim como a sala do Centro Cultural e Desportivo das Paivas, estavam ao nosso dispor para outros eventos que passaremos a realizar. Por sua vez, a representante da Junta de Freguesia de Amora enalteceu todo o trabalho que temos feito em prol da Cultura e disse que o mesmo órgão de poder local continuará a apoiar-nos. Após as intervenções oratórias e a apresentação do livro de poesia de Elmano Amaral Gomes, efetuou-se um espetáculo de Poesia, Música e Fados, coordenado pelo nosso sócio Pinhal Dias. A atuação começou com os Jograis da Poesia e depois foi a vez do Grupo Musical Cantar d’Amigos de intervir. Em seguida, atuaram os nossos sócios poetas e fadistas, intercalando-se, e cada um dentro da sua especialidade. No final, houve um lan-

Jograis do Mensageiro da Poesia


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Vida Associativa

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Justa homenagem a Adelaide Palmela

Lanche convívio

che compartilhado e, a propósito, queremos deixar aqui um agradecimento a todos que colaboraram nesse lanche, nomeadamente ao sr. Carlos Fernandes, à D. Lina de Almeida, à D. Donzília, à Armanda Grave assim como a todos que participaram com a sua ajuda, para que este evento tivesse sido um sucesso. Gravação para a

rádio online - Co

nfrades da Poes

ia

O Mensageiro da Poesia deseja a todos os Associados, familiares e amigos um Santo e Feliz Natal e um Próspero Ano Novo Oferta da pintora Helena Moleiro


Entrevista com

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Lúcia Carvalho M. P. – Sabendo que diz poesia do seu marido, que diferença há em dizer poesia sua e dele? L. C. – A diferença que existe entre ler a poesia do meu marido e ler a minha existe no facto de que além de considerar o meu esposo um grande poeta, sendo eu ainda uma aprendiza nesta estrada na qual eu ainda estou a dar os primeiros passos, que é a poesia. Sinto um grande orgulho ao poder fazer parte deste percurso com o meu esposo. M. P. – Com que idade começou a fazer poesia? L. C. – Comecei a escrever poesia relativamente há pouco tempo, influenciada pelo meu marido. M. P. – De onde é natural? L. C. – Sou natural de Cepões do concelho de Satão, Viseu. M. P. – Como surgiu o gosto pela poesia? L. C. – O meu gosto pela poesia começou por causa do meu marido ser um grande poeta popular. Ele escreve tudo o que lhe vai na alma. Um dia os amigos do Mensageiro disseram-me para eu começar a ler os poemas dele e mais tarde eu pensei em começar a fazer os meus próprios poemas, foi assim que iniciei esta pequena jornada na poesia, sendo o primeiro intitulado "Fui Menina que não brinquei" e o segundo, "Passado da nossa vida." M. P. – Como teve conhecimento do Mensageiro da Poesia? L. C. – Eu tive conhecimento do Mensageiro da poesia, através de alguns amigos poetas que me explicaram como me devia associar e foi assim que fiquei sócia, já lá vão 10 anos e estou muito contente, pois tenho lá bons amigos. M. P. – Quais os poetas Portugueses que mais admira? L. C. – Os poetas Portugueses que mais admiro e que tenho mais conhecimento das suas obras são Luís de Camões, Bocage e António Aleixo.

M. P. – A sua escrita restringe-se apenas à poesia? L. C. – Sim, limito a minha escrita apenas à poesia, pois vejo a poesia como uma comparação melódica do que é a nossa vida. M. P. – Que acha que o Mensageiro da Poesia poderia fazer mais, além das Tertúlias Poéticas, e convívios? L. C. – Acredito que o Mensageiro poderia realizar mais actividades, tais como mais tertúlias, passeios, almoços entre outras actividades, de forma a que comunidade do Mensageiro fosse mais conhecida. Desta forma creio que daria aos sócios a oportunidade de conviver mais uns com os outros e usufruir mais da sociedade em si. M. P. – Dê-nos a sua opinião sobre o nosso boletim? L. C. – Gosto bastante da composição do boletim, mas como tudo na vida há aspectos que creio podem ser melhorados.

continua na pág. 17


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Mensageiro da Poesia - 17

Os Nossos Poetas

Fui menina que não brinquei Aos setenta anos de idade Eu pensei em escrever Nunca será esquecida Parte da minha vida Que tive de percorrer Foi em Serpões que nasci No conselho de Viseu Pouco tempo lá vivi Outro caminho segui Este não me esqueceu Em menina não brinquei Este tempo me faz lembrar Dos trapos que eu arranjei Com eles eu inventei Uma boneca para brincar Em pequena fui pastora Mal vestida e calçada Um dia uma senhora Que foi munha professora Levou-me para sua criada Foi lá que eu cresci Era casa de boa gente O que eu sei lá aprendi O caminho que percorri Está escrito na minha mente Aos quatorze anos saí Minha mãe me procurou Nestes anos que servi Este caminho eu percorri Foi assim que se passou Trabalhei nos arrozais Ainda com pouco poder Dando suspiros e ais Como eu outras mais Eu não consigo esquecer Eu fiz a minha aventura Um dia de madrugada Não tinha vida futura Naquela manhã escura Foi grande a caminhada Ao meu namorado me juntei Não tinha dinheiro para casar Dificuldades eu passei Mas nunca desanimei Sempre unidos a caminhar Lúcia Carvalho

Digo-te meu amor Digo-te meu amor Sem os beijos da tua boca Não haverá flores na primavera Nem água fresca nas fontes Nem os grilos cantarão no entardecer Digo-te meu amor Sem o sorrir dos teus olhos As madrugadas vão acordar sem estrelas O inverno soltará as suas crinas Alagando a Terra de punhais Digo-te meu amor Sem o calor do teu corpo Nenhum rio chegará ao mar Nem as ondas se afogarão No silêncio das areias brancas Digo-te meu amor Sem as carícias das tuas mãos A fogueira do amor jamais crepitará E a noite enforcará as rosas do teu peito Que fazem ninho em minhas mãos abertas Digo-te meu amor Sem ti nada fará sentido Os barcos não encontrarão o cais Nem as aves os seus ninhos E até as dunas se recusarão A serem afagadas pelas mãos do vento Se não nos amarmos Arménio Correia


Os Nossos Poetas

18 - Mensageiro da Poesia

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Outubro/Novembro/Dezembro 2017

Ao nosso Mensageiro da Poesia Nesta minha madrugada Nasceu um novo dia Com a minha palavra dada Ao nosso Mensageiro da Poesia E não foi em vão Que um dia o conheci E não foi em vão Que nossos caminhos se cruzaram Desde do primeiro momento reconheci Que sempre me ajudaram Para melhor me transformei Escrevendo poemas que nunca pensei De um dia os vir a escrever Cada dia é uma surpresa Que Deus me dá com amizade Mas a vida será melhor Se soubermos vivê-la em liberdade Sem nenhuma falsidade´ Saber sempre todos respeitar E os tratar com igualdade Para o mundo assim melhorar. Adelaide Palmela

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Ego psico dialético Na torre de inexpugnável castelo, Na alcantilada e bruta penedia; Estoico, só, e cioso de sê-lo, Por meus valores luto noite e dia. Eis a arma principal: Lealdade . . . Já de reserva, guardo a Timidez; As munições: Amor e Verdade. A camuflagem, pura Limpidez. Jovem planta arrancada p'la raíz, Da leiva, da vetusta Casa Mater Para o sacerdócio que não quis. Romântico. Nem lírico sequer; Mas fiel à ética instituída, Da Liberdade não prostituída. . . Elmano Gomes

Pensamentos sábios Feliz a rosa não chora Uma rosa num jardim Um dia fui encontrar E pensei cá para mim Comigo a hei-de levar

A amizade e a lealdade residem numa identidade de almas raramente encontradas. Epicuro

Outono Procurei o jardineiro P’ra da rosa me dar a mão da minha vida Disse não, muito altaneiro E eu roubei-lhe a rosa então Folhas verdes e belas Estão tristes, amarelas, De manhã não viu a rosa Caídas, jazem no chão. E o jardineiro me procurou Vejo o passado distante Quis levar a flor airosa E o futuro inconstante, Mas só que esta recusou No presente sem ilusão. E ao jardineiro dizia Ter direito à felicidade Sozinha muito sofria Queria amar de verdade Refrão Essa rosa pura Que um dia roubei Em tão feliz altura No peito a guardei E ainda lá mora Seu amor perdura Feliz já não chora Essa rosa pura. Chico Bento

Árvore de grande porte, Não há vento que te corte. Leva folhas, não faz mal. Acreditas na natureza, Que a primavera traz beleza. Tu sabes: és intemporal. Árvore da minha memória, Faço parte da tua história. Enfrentei marés e ventos, Fui forte na adversidade, Também senti fragilidade Muitos ais muitos lamentos. Será somente uma miragem, Essa árvore, que coragem! Me deu forças desmedidas. Mas Outono: o teu rigor Me tirou todo o vigor, Hoje sou: «folhas caídas», Maria de Jesus Procópio


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Mensageiro da Poesia - 19

Os Nossos Poetas

Lei igualitária

Avô carente

Depois de perderes a vida, fortaleza desguarnecida és… Não mais mistérios nem coisas tais; acabou-se… A condição é a mesma para todos os animais. Voltas ao princípio do estado da matéria e da eterna lei do movimento; e continuarás para todo o sempre a girar continuamente na amplidão infinita do Universo! …

Andar trôpego vacilante vai o avô velhinho de bengala amparado vai num passo lento errante... sem destino, vai para qualquer lado. Vai entregue à sua solidão sem saber o que fazer, já não tem nenhuma missão vive apenas por viver. Os filhos e netos têm a sua vida por isso fica sem companhia, sem uma palavra amiga que lhe dê alguma alegria. À noite quando todos estão reunidos nem sequer têm tempo... vivem uns dos outros esquecidos nem ligam ao seu lamento. e o esquecido avô velhinho não tem o mínimo carinho ninguém liga ao que sente, ali fica o avô de coração carente vazio na alma , olhar ausente.

Manuel Sapateiro

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Teus olhos cinzentos

São lindos os teus olhos Que penetraram nos meus, Já não sou menina de folhos Manuela Lourenço Mas agradeço muito a Deus. Sendo verdes ou cinzentos  Seja a cor que for… meu bem, Eles transmitem sentimentos Que me dá amplitude no além. Vem espírito! Olhá-los não me cansa O seu brilho já me ilumina, Vem espírito da alegria verdadeira! Ainda mantenho esperança Vem abrir tua luz em mim, faz-me florir… No meu coração de menina. De novo sou outra vez criança a rir, Sou feliz, ao fitá-los… meu amor Sou um gesto da tua brisa primeira. Em mim, reflectem absoluta candura, Simplicidade divinal, com primor Trazes nos olhos a luz inteira, Nesta bela felicidade que perdura. Cataratas d’oiro e sol a sorrir, Como que degustar um belo manjar Rendas raras dos teus gestos a sair, Afogo-me na loucura do teu abraço, A madrugada a nascer uma fogueira. Mantenho nas asas do tempo o sonhar Não sei prever sombra de embaraço. Um aroma forte de rosas de amor Alimentada pelo teu sublime olhar Sereno, lindo…sabor a bênção Na doçura de desejos tão nossos, No meu peito cresce huno de louvor! Vibro enleada no teu belo abraçar Desses braços longos e fogosos Sublimes, doces canções minh’alma exala, Teus olhos estrela incandescente Forma-se um céu aberto no meu coração; Que trespassam meu pobre coração, Deus está feliz, e isso não cala… Com volúpia numa paixão ardente Soa como serenata a nossa feliz união. Damásia Pestana

Lurdes de Jesus Emídio


Os Nossos Poetas

20 - Mensageiro da Poesia

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Outubro/Novembro/Dezembro 2017

Meus sonhos perdidos Meus sonhos perdidos Para minha infelicidade Oiço no escuro ruídos Trazidos pela falsidade

Eu não sei como explicar Esta minha admiração E esta cabeça a trabalhar E também o doente coração

O amor é dar bem estar Dar conforto é confiar E ter um no outro confiança Para um futuro de esperança

Esta carta vou enviar Já com muita saudade E os parabéns poder-te dar Sempre mais para coleccionar

Quando é correspondido O amor é de verdade lindo E ser pelos dois respeitado Nunca se tornar cansado

Nos meus minutos de ourar Sempre peço ao senhor Para me acompanhar Aos braços de um amor

Ao fazerem seu ninho Com muito carinho Não faltará seu calor Para o fruto do seu amor

Era mesmo a tua atenção Que eu queria na verdade Será no teu que o meu coração Procura a sua felicidade

Quem sou eu para de amor falar Se a mim ninguém me falou Porque também não sabia dar Por isso a vida triste me deixou

É preciso saber dar amor Para também poder receber Dar carinho é dar calor E da pessoa não esquecer

Falar de amor é tempo perdido Experiencia da própria vida Não ter amor de marido Foi para mim vida perdida Emídia Guerreiro Salvador

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Próximos temas:

naval, Paz, Ano Novo, Car s, Dia dos Namorado do Pai Dia da Mulher, Dia

Amália Amália voz sublime Tem nome que sabe a fado. Mesmo que o verso não rime Para nós será sagrado. Amália imperatriz, Fez-se rainha do fado. Da canção deste país, Que levou pra tanto lado. Deixaste de luto o fado, Por te teres calado assim. Neste choro consternado Que parece não ter fim. Amália tu foste mãe! Deixados pla tua voz Fados são filhos também Herança de todos nós. És verso, és oração, Do povo tu és herança. Orgulho de uma nação Na voz de uma criança. José Frias


Outubro/Novembro/Dezembro 2017

Vida

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Mensageiro da Poesia - 21

Os Nossos Poetas

Vida, pela estrada conseguida E não por essa que sonhei um dia Pouco a pouco se esvai e a magia Some-se em vãos atalhos, de perdida. Fantasia foi já fogueira ardida Do rescaldo só resta a poesia Que me deixa uns laivos de alegria E alimenta a alma foragida. Ínvios, os caminhos espinhosos Não colhi os proventos frutuosos Me remeti ao sonho e á loucura. Minha dor que sarei por tão dolente Vencido triste drama bem pungente Resta a consolação da alma pura. Maria Vitória Afonso

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Outono

As brisas são mais suaves E até o voar das aves É mais terno e mais dolente, Neste encanto sem medida Faz o sol a despedida No seu mais belo poente. Tudo é suave e ameno Neste entardecer sereno Onde a vida se harmoniza. Só meus sonhos vão fugindo Ao som de folhas caindo Arrastadas pela brisa. Traz-me o Outono a magia De viver esta harmonia Da doce transformação: O verde passa a dourado E o sol surge moderado, Trazendo laivos de Verão. Noites ternas descansadas, Suavemente embaladas Pelos sonhos cor-de-rosa, São noites melodiosas, Tão doces e amorosas, Como voos de mariposa. Isidoro Cavaco

Se esse momento chegar Quando já tiver desistido De quase tudo Quando já tiver abdicado Do meu querer dizer sim ou dizer não Do direito à minha indignação Quando concordar Com tudo a cem por cento Quando já resignado Tiver deitado a toalha ao chão E aceitar a subjugação: Então o melhor é suicidar-me. Se esse momento chegar Já não andarei por cá a fazer nada Já terei chegado ao estado De quase abaixo de cão! Entretanto e enquanto Conseguir resistir Recusarei esse estado lastimoso Continuarei a remar Neste mar encrespado Ainda que seja contra a maré! ... É preferível ser o cão raivoso Que ladra mas fala! E esse falar é protestar É desabafar Como água que teimosamente Ora aos trambolhões ora simplesmente Fluindo teima e galga Os entulhos que atrasa O seu desaguar! Atrasa mas chega! À sua desejada foz. Carmindo Carvalho


Vida Associativa

22 - Mensageiro da Poesia

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Silvia Helena Xándy Roteiro Poético Autora: Silvia Helena Xándy

Currículo Literário Silvia Helena da Glória Borges, mais conhecida no meio cultural como Silvia Helena Xándy1979 - Licenciada em Administração de Empresas. 2006 - Licenciada em Letras – Português e Literatura Brasileira; Autora dos livros: 1993 - “Natal Cósmico”, Conto Infanto- juvenil; 2003 - Amor nas Alturas – romance. Edição esgotada./ Roteiro Poético / Poesias - Lançamento em 29 de setembro 2017- Biblioteca Municipal Rau Leoni – Vila Santa Cecília – Volta Redonda-RJ Atividades e algumas premiações: 1998/2006 Presidenta do Glan- Grêmio Literário de Autores Novos. 2001 – Recebeu o Diploma de Membro Honorário do Glan por relevantes serviços prestados. /2004 Tornou-se Membro da Academia Barramansense de Letras . /2014 – Tornou-se membro da Academia de Artes, Ciências e Letras do Brasil – Volta Redonda. / 2004- Participou como universitária –UBM do concurso da UNESCO onde concorreram doze mil inscrições com o tema “Solidariedade” ficando entre os cem melhores textos/2006 - Participou pela Folha Dirigida do concurso Centenário de Santo Dumont, quando concorreu com dezessete mil participantes ficando entre os cem melhores trabalhos. Desses dois concursos originou dois livros traduzindo em três idiomas. (português, inglês e francês) que percorreu 191 países. /1999 - Foi Convidada pela Fundação da Biblioteca Nacional para abertura da Exposição em Homenagem a José Saramago – Prêmio Nobel de Literatura, com a presença do escritor, em 19 de abril de 1999, na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.

A elaboração desse se livro me permitiu viaajar virtualmente para ra outros países em bus-ca de novos caminhoss da poética, além da-queles já conhecidoss como soneto, cordel,, trova e a poesia mo-derna. Fui muito além m do meu imaginário, visitando o berço dos antigos e novos estilos. Iniciei pelo Brasil, é claro, e me aventurei devagar até chegar ao exterior quando então conheci os novos poetas e seus países lindos como a Itália, Portugal, Espanha, Porto Rico, Grécia, França, Malásia, Japão, Arábia. Daí o título desse livro “Roteiro Poético”. Estudei muito para chegar até aqui. Foi um aprendizado tão profícuo que resolvi dividir com meus leitores, esse resultado para que pudessem escrever também essas modalidades até então desconhecidas por mim e por muitos de vocês. Acreditem! Existe novas trilhas para se chegar à essência e à harmonização da palavra e da poética do amor, da religião, da sátira, da política, do sexo... Podemos fazê-lo sem medo, basta estudar. O importante é crescer e enriquecer literariamente, não se esquecendo é claro que o poeta tem a obrigação de relatar o que acontece em sua época por meio de sua escrita. Um diferencial em seu livro: O diferencial deste livro está na setenta modalidades diferentes de poetar, além daquelas que são mais frequentes e comumente usadas pelos poetas, que são os sonetos, trovas, cordel e poesia com versos brancos, ou seja, a poesia moderna (sem métrica e rimas).

Nota: A nossa Associação tem um intercâmbio com o Grémio Literário de Autores Novos de Volta Redonda, RJ Brasil, desde a sua fundação, por isso, seguimos os seus trabalhos atentamente, promovendo os seus sócios. Já tivemos o prazer de ter alguns dos seus associados como capa do nosso Boletim: O saudoso amigo José Luiz Oliveira, fundador do GLAN e a sua ex-presidente Silvia Helena Xandy, por exemplo.

continua na pág. 23


Outubro/Novembro/Dezembro 2017

continuação da pág. 22 Fragmento da poesia “Ao poeta Desconhecido” – do livro Roteiro Poético. (Versos brancos) O poeta não morre, somente adormece dentre as páginas de seus livros, embalado pelo folhear do leitor. Ele é “Transcendental!” Sobrevive através de suas obras e de seus pensamentos impressos em um simples cartão postal. (Silvia Helena Xándy)

Poetrix é formado por um terceto (estrofe de três versos) com, no máximo, 30 sílabas poéticas. Deve ser intitulado, tendo o título grande importância no poetrix. A rima e o tema ficam a critério do autor. Para escrever um bom poetrix, é preciso ter alguns cuidados: - Evitar as conjunções coordenativas / Cortar palavras e expressões dispensáveis para a compreensão do texto, deixando-o mais enxuto/ Usar à vontade fi guras de linguagem/ Empregar a rima com naturalidade, sem forçar.

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(Silvia Helena Xándy)

Rubai - Composição poética de origem persa, formada por uma quadra cujos versos possuem dez por uma quadra cujos versos possuem dez sílabas poéticas (decassílabos). O esquema da rima é AABA, isto é, rimam o 1º, o 2º e o 4º versos, ficando o 3º sem rimar (verso branco). O rubai admite qualquer tema e dispensa título. O plural de rubai é rubaiyat.

Os Nossos Poetas

Haicai é um poema de origem japonesa que chegou ao Brasil no início do século 20. Consiste em 17 sílabas japonesas dividida em três versos de 5, 7 e 5 sílabas. O tema se refere a natureza ( acontecendo agora) e não no passado.

Haicai A caminho do dia madrugada em passos lentos pantufa encantada. (Silvia Helena Xándy)

Senryu - nada mais é do que um haikai (três versos de 5-7-5, mas sem rigor absoluto). Também sem título e sem rima , porém, linguagem geralmente coloquial, de conteúdo cômico, humorístico, jocoso, irônico ou satírico, conceitual ou filófico. Trata principalmente do cotidiano da vida, dos sentimentos, hábitos, atos e vicissitudes do homem e da sociedade.

Senryu Perdi toda a vida no meu mar interior sou um morto- vivo

Passado

Poetrix. varal da memória secando a vida encolhida pelo tempo.

Mensageiro da Poesia - 23

Aldravias – É um poética minimalista que defende a expressão de liberdade e o rompimento de barreiras formais de produção. É ter o máximo de poesia no mínimo de palavras. São seis versos (cada palavra é um verso) que se iniciam por letras minúsculas e sem pontuação (apenas ponto de interrogação e exclamação), nem título, nem métrica; · o poema aborda qualquer tema; emprega-se mais a metonímia que a metáfora; nomes de pessoas com sobrenomes e palavras unidas com hífen são considerados um verso.

Rubai Nem sempre a solidão me apavora Nem mesmo essa vida de nove hora. Só o vigor dos anos que voam Que me faz envelhecer como agora. (Silvia Helena Xándy)

tomei um porto no jantar ancorei!


Os Nossos Poetas

24 - Mensageiro da Poesia

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Sopro de vento Nessa imensa tristeza Encontrarás de certeza Algum laivo de alegria Não vale a pena chorar Por quem já não vai voltar Mas te fez feliz um dia

Respeitar o homem é respeitar Deus (A todos os homens que têm o mau hábito de não saber respeitar o seu irmão.) Do temor a Deus, um respeito profundo, Nenhum mal advém Ao mundo! Assim, o Homem, com menos doidice, Acreditando em Deus, Como é natural, É mais equilibrado, Com medo, muito medo, do Juízo Final! Se Deus não existisse, Ele teria, Para nosso bem, Um dia, De ser inventado! Porém, O fanatismo exacerbado Também Faz o Homem mau e desequilibrado, Capaz de agir ferozmente… O merecido respeito, A que todos os homens têm direito, Está, pois, inerente Ao amor Queles devem ter ao seu Criador. Alguém imagina Que o Homem, a maior criação divina, Possa, constantemente, Ser ultrajado? Pois isso é, infelizmente, O que acontece, diariamente, Um pouco por todo o lado, No nosso Mundo, de cristão chamado! Armanda Rosa

Nesta enorme solidão Existe um nobre coração Que vive à mercê da sorte Viveu grande felicidade Hoje só resta a saudade Mas sua moral é forte É nessa cidade enorme Há um silêncio disforme Tão amargo e tão cruel Vagueio p' la noite errante A amargura já distante Ainda tem um travo a fel Vou vivendo o dia-adia Com mais ou menos alegria Sem nenhum deslumbramento O meu olhar é tristonho O que foi esperança ou sonho Desfez-se em sopro de vento. Maria de Lurdes Brás Do seu novo livro de poesia “Lamiré Poético”

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A Direcção do Mensageiro da Poesia, Associação Cultural Poética informa que tem uma parceria com o Boletim online “Confrades da Poesia”, assim como com a rádio que possui o mesmo nome.


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José Duarte Nobre

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Mensageiro da Poesia - 25

Os Nossos Poetas

Homenagem de Manuel Martins No bre a seu irmão José Duart e Nobre

Penso que fui desenrascado Eu sempre me desenrasquei Antes de eu ser reformado Em vários sectores trabalhei I Trabalhei muito na agricultura Logo aos oito anos de idade Era um pastor com vaidade Andei descalço na terra dura Antes duma idade madura Fui lavrar com um arado Continuei a guardar gado A cavar milho e ceifar trigo Por tudo o que penso e digo Penso que fui desenrascado

III Trabalhei no Algarve e Lisboa E também no meu Alentejo Província que eu mais invejo Onde hoje tenho a vida boa Nunca andei por ai á toa Nunca fui um abandalhado Gosto de tudo organizado Sempre fiz o melhor que sei Por estes caminhos andei Antes de eu ser reformado

II Trabalhei na construção civil Comecei aos dezanove anos Alterei logo os meus planos Esse trabalho era mais baril Para mim e para muitos mil Como servente eu lá andei Logo que aprendi mudei Para a profissão de pedreiro Profissional de corpo inteiro Eu sempre me desenrasquei

IV Trabalhei muito na França Trinta anos fui lá emigrante Andei numa luta constante Mas foi uma boa mudança Correr de gosto não cansa Assim cheguei onde cheguei De trabalhar eu não parei Comi açordas de pão e alho Nunca estive sem trabalho Em vários sectores trabalhei Manuel Martins Nobre

Quando o meu toque suave chorou O Verão tinha acabado… A folhagem das árvores não podia ser tocada com o prazer pretendido das tuas mãos. O ciclo da vida começara e com ele uma lágrima despontou da tua porta enfraquecida, para um desamparo lúgubre do acontecimento vivido… Sempre absorto, nos afazeres de uma vida complexa, deixavas-te envolver no silêncio eloquente de uma floresta sem forças mas resignado às suas tendências… A tua “escapadela”, deixara de ter sentido mas era sempre apreciada nessa planície de relíquias onde se vincaram audazes sentimentos… Tentaras desviar os olhares penetrantes, embora a tua oriunda personalidade ficasse presa, no silêncio do grito ousado de um arvoredo irrequieto no seu comentário… Não esquecias o manjar dos sonhos e sempre no teu jeito, desarticulado, procuravas aquela saída, banhada pelo teu azul sobressaído do infinito e um ouvido de mar que espraiando seus braços, brindavam a este acolhimento… António Bicho


Os Nossos Poetas

26 - Mensageiro da Poesia

Saudade

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Dizem que o tempo gasta tudo Eu sei que não é verdade. Se gasta tudo no mundo Porque não gasta a saudade. Há saudade, que me faz doer Cá dentro, do coração. Se é de mágoa podem crer Pois essa, não passa não. Para quê tanto sofrer Se Deus é poder e amor. Eu vou tentando esquecer Pra dar à vida valor.

Outubro/Novembro/Dezembro 2017

Quietude É na quietude da noite de luar que mil sonhos vêm até mim viajo no pensamento a voar, por jardins de esperança com cheiro a jasmim. A lua cheia sonha com ar risonho clara brilhante, serena e calma, partilhei com ela o meu sonho abri para ela as portas da alma. Manuela Lourenço

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Por vezes estou a sorrir, Mas, cá por dentro a chorar. Quero todos os dias pedir Para Deus me aliviar. Maria Laurinda Pacheco

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Semente da caridade Nossa Senhora Concedei a todos nós a Vossa proteção Colocai as nossas preces no Vosso coração Iluminai os nossos caminhos com o Vosso olhar Escutai os nossos lamentos com sabedoria e bondade Ajudai a entender a gratidão e a humildade Ensinai a descobrir a grandeza de orar e perdoar. Nossa Senhora Abençoai os nossos lares com o Vosso amor maternal Protegei os jovens das más atitudes e de quem lhes quer mal Aumentai a confiança dos que vivem na tristeza e na solidão Incentivai as famílias em não abandonar os seus velhinhos A respeitar com dignidade os que estão doentes e sozinhos Despertai a semente da caridade, no coração de um cristão. Nossa Senhora de Fátima Rogai por nós!... Ana Santos

Troco a Chuva pelo sol Troco a Chuva pelo sol Troco o odio pelo amor A fronha pelo lençol A manta plo cobertor Troco o frio pelo calor Troco o cozido pelo cru A preguiça pelo labor Troco a roupa pelo nu Troco a guerra pela paz Troco o receber plo dar Troco o não sei, plo capaz O parado plo andar Troco o só pela multidão Tristeza pela alegria A indiferença pla gratidão A pera pla melancia A cidade pela aldeia Troco a camisa plo polo A bonita pela feia Troco tudo plo teu colo Troco o idoso plo velho O jovem pelo catraio Troco o baço pelo espelho O toucinho pelo paio Troco o injusto pla lei O calar pelos protestos O que nunca trocarei É o amor plos meus Netos António Pepe


Um breve olhar sobre a vida e obra de

Fernando Pessoa

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Mensageiro da Poesia - 27

Poeta em Destaque q

Fernando António Nogueira Pessoa, nasceu em Lisboa a 13 de Junho de 1888. Faleceu em Lisboa a 30de Novembro de 1935. Perdeu o pai aos 5 anos de idade. Foi um dos mais importantes poetas da língua portuguesa e inglesa: considerado, um dos melhores poetas da literatura universal. Passou a infância em Durban, (África do Sul) onde o seu padrasto era cônsul Português. O contacto com a língua inglesa privilegia a sua vasta obra a qual se tornou universal. Volta para Lisboa aos 17 anos, chegou a matricular-se no curso Superior de Letras que acabou por abandonar, para prosseguir, sozinho, estudos filosóficos e literários. Desde os 13 anos escrevia poesia em inglês, mas foi como ensaísta que, na revista “A Águia” em (1912), pública a obra redigida em português “Mensagem”. Em (1913), poetava ora em inglês ora em português. Depois de ter lido poemas de Almeida Garret, junta-se a Mário Sá Carneiro, Almada Negreiros e outros. Foi idealizador e director da revista Orfeu, considerada a mais influente publicação modernista. Em 1914 (Figura Enigmática) marca decisivamente na biografia interior do poeta, como aparecimento dos principais heterónimos: Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Alberto Caeiro, sendo este, o mestre de todos. Fernando Pessoa, para além de poeta, filósofo e escritor, foi também empresário, editor, crítico literário, jornalista, comentador político, tradutor, inventor, astrólogo e publicitário. Ao mesmo tempo, que produzia a sua vasta Obra Literária em verso e em prosa, fez diversas e fecundas experiências poéticas, tentando um novo horacianismo sob o pseudónimo de Ricardo Reis. Uma poesia de senso comum assinada com o nome de Alberto Caeiro, a epopeia e o lirismo versilivrista da vida moderna subscritos por Álvaro de Campos, e ainda a subtil apreensão do mundo inconsciente e do mistério metafísico nas poesias que subescreve com o próprio nome. Obras Clássicas de Fernando Pessoa Livro do” Desassossego”- Romance; “Mensagem”- Livro com 44 poemas Poemas completos de Alberto Caeiro (heterónimo) - Colectânea. Poesias mais Célebres: “Tabacaria,” “Ode marítima,” “Autopsicografia,” “Aniversário,” Todas as cartas de amor” e “ Não sei quantas almas tenho”. Damásia Pestana


Outubro/Novembro/Dezembro 2017

Autopsicografia

28 - Mensageiro da Poesia

O poeta é um fingidor. Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente. E os que leem o que escreve, Na dor lida sentem bem, Não as duas que ele teve, Mas só a que eles não têm. E assim nas calhas de roda Gira, a entreter a razão, Esse comboio de corda Que se chama coração. Fernando Pessoa

e-mail: mensageiropoesia@gmail.com http://.facebook.com/mensageirodapoesia.com


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