Boletim 143 Mensageiro da Poesia

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Mensageiro da Poesia - 1 Janeiro/Fevereiro 2018

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Bocage O nosso patrono Mensageiro da Poesia Associação Cultural Poética Bimestral - n.º 143 Janeiro/Fevereiro 2018

Escritor do Mês

Sérgio Bentes Pág. 15

Lançamento do livro de José Maria Caldeira Gonçalves


Nota de Abertura

Janeiro/Fevereiro 2018

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Que seja um Novo Ano mais solidário Assisti por estes dias a uma palestra proferida pelo Professor Doutor, Amílcar Couvaneiro, sobre a escravatura. O palestrante realçou acima de tudo, o quanto é difícil falar sobre a escravidão ao longo dos tempos, sobretudo por se verificar que este fenómeno é tão remoto como a organização do homem em sociedade e são ainda, nos nossos dias, testemunhadas tantas formas de subjugação humana, as quais apenas têm uma roupagem diferente. Inúmeras noticias nos chegam todas as semanas dando conta de situações de dominação, abuso, tráfego e exploração desumana.

O Papa Francisco na sua mensagem de Ano Novo proferida no Dia Mundial da Paz (1 de janeiro), chamou à atenção para a situação dos mais de 250 milhões de migrantes no mundo, dos quais 22 milhões e meio são refugiados. São temas recorrentes nas mensagens que vamos proferindo neste nosso Boletim. Poderá parecer que não têm a ver com Poesia, como se a Poesia e a criação poética pudesse ficar indiferente aos fenómenos que se atravessam na nossa actualidade. Não sabemos a capacidade que temos para mudar o Mundo, mas sabemos que, apesar de tudo, “ele pula e avança” . É

hoje diferente, para melhor, em muitos aspetos e que isso se deveu ao contributo de “muitas utopias”. Prosseguiremos neste novo ano a “nossa utopia”: A de contribuir com o nosso Mensageiro da Poesia, na construção de Um Mundo Mais Justo, Solidário e Fraterno. Um Bom Ano para todos .

Jorge Henriques Santos Jornalista.

Donativos Reconhecidamente agradecemos os donativos de:

Adelaide Palmela.................................30€ Helena Moleiro.....................................10€ Dolores Carvalho.................................10€ Preciosa Gamito...................................10€

Lina de Almeira..............................................5€ Hermilo Grave................................................5€ Lúcia de Carvalho.........................................5€

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http://.facebook.com/mensageirodapoesia.com Ficha Técnica:

Tipo de publicação Bimestral - Propriedade: Mensageiro da Poesia, Associação Cultural Poética Rua dos Vidreiros, Loja 5 Antigo Mercado de Amora - 2845-456 Amora - Portugal • E-mail: mensageiropoesia@gmail.com • Director: Jorge Henriques dos Santos Director Adjunto: Luís Fernandes - Sócio Fundador • Colaboram nesta edição: Donzília Fernandes, Luís Fernandes, Ivone Mendes, Sérgio Bentes, Emília Mezia, Dolores Guerreiro da Costa, José Jacinto, Adelaide Palmela, António Bicho, Domingos Pereira, Márcia Cristina de Moraes, Fanny, Francisca São Bento, Isidoro Cavaco, Miraldino Carvalho, Rosélia Maria Guerreiro Martins, Pinhal Dias, Manuel Sapateiro, José de Frias, Chico Bento, Lúcia Silva de Carvalho, Mário Pão-Mole, Magui, João Ferreira, Bia de Táxi, Jorge Santos,Maria José Portugal, Laura Santos, Preciosa Gamito, Emídia Salvador, Berta Rodrigues, Telmo Montenegro, Lourdes Emídio, Manuela Lourenço, Maria Vitória Afonso, Marcus Vinicius de Moraes, Nelson Carvalho, Manuel Martins Nobre, Euclides Cavaco, José Maria Caldeira Gonçalves, Armanda Rosa, Carmindo Carvalho, José Camacho, Arménio Correia, Hermilo Grave, Maria de Lurdes Brás, Dolores Carvalho, Helena Moleiro, Maria de Jesus Procópio, Damásia Pestana • Isenta de Registo na ERC ao abrigo do disposto no Decreto Regulamentar n.º 8/99 de 9/06, art.º 12.º, n.º 1 a) • Depósito Legal: 3240411/06 • Tiragem: 300 exemplares Paginação / Impressão / Acabamento: Tipografia Rápida de Setúbal, Lda. • Travessa Gaspar Agostinho, N.º 1 -2.º 2900-389 Setúbal Telef.: 265 539 690 Fax: 265 539 698 • e-mail: trapida@bpl.pt


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Próximas actividades

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Vida Associativa

Destaques nesta edição:

Comemoração do Dia Internacional da Mulher e lançamento do livro “Palavras Sentidas” de Maria de Jesus Procópio, no Centro Cultural e Desportivo das Paivas no dia 11 de Março (Domingo) às 15 horas com lanche partilhado. Haverá Poesia, Fado e outras actuações musicais. No dia 25 de Março (Domingo), haverá uma Tertúlia Poética dedicada ao Dia Mundial da Poesia, com local e hora a definir. Haverá uma Tertúlia Poética alusiva ao 25 de Abril, na nossa sede, no dia 29 de Abril, Domingo, pelas 15 horas, com lanche partilhado.

• Apresentação do livro de Damásia Pestana - Pág. 14

• Apresentação do livro de José Maria Caldeira Gonçalves - Pág. 15

• Cantinho do escritor - Pág. 7 • Entrevista com: Jorge Santos - Págs. 16 e 17 • Escritor do mês: Sérgio Bentes - Pág. 11 • Poeta em Destaque: Antero de Quental - Pág. 27 e 28 • Tertúlia Poética - Pág. 13

Aviso de pagamento de quotas Estimado(a) associado(a) Como poderão imaginar para a nossa colectividade é tão importante o pagamento das quotas como os apoios das Autarquias e todos os outros. Assim sendo, torna-se extremamente difícil continuar… A quota anual estará a pagamento até ao final do mês de Março e o valor é de 20 euros para Portugal, 25 euros estrangeiro e 15 euros para os juniores. Por isso, agradecemos que procedam ao seu pagamento, por depósito Bancário na conta do Mensageiro da Poesia no Banco Montepio Geral – NIB 0036 0022 99100077597 96, por cheque ou Vale Postal para: Mensageiro da Poesia – Associação Cultural Poética Rua dos Vidreiros, Loja 5 (antigo mercado de Amora) 2845-456 Amora – Portugal Envie o seu comprovativo por carta ou e-mail Caso não regularize as suas quotas, deixará de ter direito a publicar os seus trabalhos e de receber o Boletim.

A Direção


Vida Associativa

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Apoios:

Junta de Freguesia de Amora UNIÃO DAS FREGUESIAS DE SEIXAL, ARRENTELA E ALDEIA DE PAIO PIRES

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MENSAGEIRO DA POESIA ASSOCIAÇÃO CULTURAL POÉTICA (Antigo Mercado de Amora) 2845-456 – AMORA – Portugal E-mail:mensageiropoesia@gmail.com

XV ANTOLOGIA POÉTICA Para participar, preencha esta ficha. Nome completo___________________________________________________________________ Data de nascimento__________/________/_____________________ Natural de_________________________________________________________________________ Morada____________________________________________________________________________ Código Postal______________-________

Localidade_______________________________

Nº. de telefone__________________________ Telemóvel______________________________ E-mail_____________________________________________________________________________ AS CONDIÇÕES SÃO AS SEGUINTES:

CLUBE RECREATIVO DA CRUZ DE PAU

- Podem ocupar 2, 4 ou 6 páginas e terão direito, respetivamente, a 6, 12 ou 18 livros ; - Os participantes pagarão, respetivamente, 30, 60 ou 90 euros e os não associados deverão apresentar uma fotografia; -Os interessados deverão enviar os seus trabalhos por e-mail, CD ou pene e a respetiva importância em vale de correio ou transferência bancária para Montepio Geral – NIB 0036 0022 99100077597 96. Caso optem pela transferência bancária, deverão enviar o respetivo comprovativo até ao fim do prazo para participar, dia 31 de março de 2018. Gostaríamos que a participação, desta vez, fosse com um maior número de poetas, para aliviar os custos da publicação da Antologia. Para mais informações, ligar de segunda a sexta feira, entre as 9:00 e as 19:00 horas, para: Luís 938484312; Arménio 967260385 e Hermilo 910175685.


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Vida Associativa

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MENSAGEIRO DA POESIA ASSOCIAÇÃO CULTURAL POÉTICA

Convite O Mensageiro da Poesia convida todos os seus associados, familiares e amigos, para uma tarde convívio, de poesia e fado, alusiva ao Dia Internacional da Mulher, e outras surpresas musicais, a realizar no dia 11 de Março de 2018 (domingo), pelas 15 horas, no Centro Cultural e Desportivo das Paivas, havendo, na mesma oportunidade, a apresentação do livro “Palavras Sentidas”, de autoria da nossa associada Maria de Jesus Procópio e um lanche compartilhado.

Mensagem do Ano Novo Estimados associados e amigos do Mensageiro da Poesia Em primeiro lugar quero desejar-vos paz, alegria, amor, saúde e que Deus vos proteja, assim como aos vossos familiares e pessoas queridas. Que 2018 seja próspero e correspondendo às vossas expectativas. Em nome do Mensageiro da Poesia-Associação Cultural Poética, gostaria de vos agradecer pela vossa amizade, pois sem amigos nada somos. Espero que estejam satisfeitos com o nosso Boletim, que faz parte de vós há vinte anos, tendo sido fundado em 20 de Outubro de 1998 e é o órgão principal da nossa Associação Poética. Contamos com todos e esperamos que nos ajudem pela continuidade por muitos e longos anos, trazendo até nós mais amantes da Poesia. As minhas sinceras e cordiais saudações poéticas.

Luís Fernandes

Amor e solidariedade Não há distância para o amor e a solidariedade, por essa razão, agradeço do fundo do meu coração às pessoas que me têm apoiado… Senhor Luis Fernandes e esposa Dona Donzilia Fernandes; Senhor António Bicho e esposa Dona Fátima; Dona Ivone Mendes; Dona Susana Roldão e todos aqueles e aquelas pessoas, que me esqueci dos nomes. O meu Bem-Haja ao Mensageiro da Poesia Associação Cultural Poética e a todos os Poetas um Feliz Ano Novo. Os Poetas aumentam e acalmam o mundo revoltado e afastam a maldade com a mensagem de amor, na melodia de um verdadeiro poeta… Um Fraterno Abraço Poético

Emília Mezia


Os Nossos Poetas

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Margem Sul

É importante respeitar a vida

Margem sul é alicerce dos pontos cardeais Das gentes de todo o lado que a enriquecem De solidariedade, diversidade, tolerância Quando chegam aqui e querem estar Junto das pessoas boas da margem Dela.

Tão importante é respeitar a vida Quero partir, mas na hora marcada, Vejo papoilas à beira da estrada… Entre as flores não fico perdida

Margem sul tem mapa das ruas Que chegam do mundo. Tem Gente igual Mesmo que as casas sejam diferentes. Não interessa cor. Grafites nas paredes Vencem mais prémios que o Louvre Ou os fechados quadros nos museus Onde se paga e se apaga a vontade de ir. Tem na essência a Liberdade de falares Como te apetecer, Tem receção boa das humanidades. que chegam sem credenciais, Mas depois têm muito valor na recomendação que dão. Valem bué. Margem Sul, tá mesmo no centro, Não tem vertigem nas esquinas, tem fugitivos, tem Famílias, tem de Nós, de A a Z. Margem Sul tem bondade, Mesmo que as sirenes, às vezes, tragam a realidade das ruas Para perto das portas E as persianas subam nas madrugadas. Na margem não está a Margem Sul. O seu sentir traduz o Mundo, que só se sente seguro se se muda para aqui. E agradeço bué à Margem Sul. José Jacinto “Django”

E a erva verde pode ser colhida A seara que está seca e é ceifada Brilha no jardim rosa acetinada, Bendita Primavera tão florida! Gosto de sentir o cheiro da terra, E da floresta lá no alto da serra! Onde o perfume tem mais validade. Preciso caminha sem preconceito Canto amor, vida, com todo o respeito, Minha alma quer trilhar esta saudade. Dolores Guerreiro Costa

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Como é bonita a vida Pela manhã gosto de acordar, Para ver o sol brilhar, E ao anoitecer ver, As estrelas e o luar! É bom poder passear E ao findar o dia Ver o entardecer Todo ele feito de magia Como deveria ser nosso viver Mas hà quem não saiba apreciar O que a vida tem de boa Tentem ir uma vez passear À tardinha à beira-mar Para verem como a gaivota voa E os barcos no seu vaivém Regressando da faina com seu pescado Pois é esse o nosso fado Bonito e bem cantado Como só o pescador sabe cantar E ainda há quem não saiba apreciar. Adelaide Palmela


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Cantinho do Escritor

Criança

As crianças do mundo Como são lindas as crianças. São como um desabrochar de flor. Suas folhinhas tão mansas. Formam frases de amor. Neste mundo conturbado, Andam crianças ao abandono. Muitas são um ser Mal-amado. Neste mundo de engano. Temos de fazer algo Por esses inocentes. Criar instituições de afago. Para esses meninos dependentes. Vinde crianças ao mundo dos homens. Vinde trazer-lhes alegria. Eles também já foram jovens. E hoje precisam de harmonia. A harmonia dos homens. Vai reflectir em vós crianças. Eles já foram jovens. Hoje vivem na esperança. Na esperança de um mundo melhor. Sem guerras nem destruição, Que vós, crianças, sejam uma flor, Criadas em ambiente de boa educação. Viva a criança! Viva o amor! Viva a esperança. E ao nascer de uma flor! … Domingos Pereira

Brincavas nessa terra imprópria... tua "decisões" inimputáveis eram desvalorizáveis pela meninice alcançada... Olhavam tuas vestes e admirados silenciavam as palavras, pouco abonatórias da incompreensão mórbida... Como te sentias bem e pouco preocupado com a imagem suja, dada nessa festa de aparências desfeitas, mas mantida por uma vaidade imprópria, alegadamente aparente da condição humana... Saltimbancos e carrosséis faziam vibrar a vulnerabilidade adjacente de mentes em formação com ruídos sibilantes e constantes em forma de eco nessas ruelas históricas, apaixonadamente por gentes maduras... Não te furtavas a um divertimento, fosse ele qual fosse, pelo simples prazer da convivência sentida, esquecendo por completo as regras de etiqueta, na qual eram constantemente desrespeitadas e absorvidas pela tenra idade... sem fazeres perigar o estatuto adquirido até deixares de ser criança... António Bicho

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Subjetividade Se fosse eu dona dos meus encantos, enfeitiçaria todos os meus delírios, e os colocaria prostrados como aliados inertes, presos a uma lógica abstrata. Passaria então, A desligá-los Pra ser mais irracional Do que qualquer ser normal. Desativaria minhas correntes elétricas Magnetizadas por imãs invisíveis E que me tornaria cada vez mais e mais poética... Márcia Cristina de Moraes


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Menção Honrosa

Amigo Quando a tarde caía, Suaves melodias me envolviam. Eu ficava nessa onda que me fascinava, Pelo mundo das palavras E sentimentos viajava. Entre cascatas deslumbrantes, Um mensageiro encontrei, Desde o momento que Nesse espaço entrei. Uma voz amiga me acolheu, Como se eu fosse A estrela da manhã. Ao entardecer, perdida, Encontrada ao amanhecer De um novo dia. Os sonhos ganharam asas; Para o Mensageiro da Poesia voaram, Voaram alto, nesse voo fiquei, Voo magnífico que encontrei. Eu queria saber escrever Palavras bordadas a ouro, Como os poetas sabem fazer. Ah se eu fosse poeta…daria ao Mensageiro da Poesia mais de mim. Na tela dos desejos, pintaria o seu nome, Nas mais belas cores Que o tempo não apagasse. Quando a noite caísse, iluminava os corações Dos poetas enlouquecidos de amor. Fanny

Pensamento A bondade em palavras cria confiança; a bondade em pensamento cria profundidade; a bondade em dádiva cria amor. Lao-Tsé

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Esperteza ou inteligência? Resvalando… Nos provérbios populares “Sacana…sacana e meio” Cavalo domestica-se Através do freio Esperteza da raposa De noite caída nos laços! Homem inteligente No povo é gente… E o poeta Reflecte com inteligência Vidé: – Esperteza ou Inteligência!? Pinhal Dias (Lahnip) PT (In: “Está tudo dito”)

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Grito Olhando as ondas do mar Eu ouvi a voz do vento Nos oceanos do mundo Era um constante gritar Num lamento tão profundo Era um constante gritar Nos oceanos do mundo. Ali fiquei a olhar Esta grande imensidão E escutei no pensamento Como quem está a sonhar Eu ouvi a voz do vento Como quem está a sonhar Escutei-o no pensamento. E com um grito partiram Em desvario sobre o mar Meus olhos em solidão Olharam mas já não viram Esta grande imensidão Olharam mas já não viram Perderam-se na solidão. Francisca São Bento


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Ilusão cega

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Os Nossos Poetas

Nesta grande ilusão em que vivemos Uma vida agitada e sem vagar, Para dar atenção e reparar,... Um pouco pelos filhos que nós temos. Enquanto sem pensar nos esquecemos, Que precisam de nós para os guiar, E sem o amor que temos p’ra lhes dar, Ficam abandonados,...E o que vemos? Juventude sozinha e perdida, Sem saber encontra-se para a vida, Sem rumo cai na lama onde se afoga. Há cada vez mais jovens a morrer, Porque nada se faz p’ros defender, Das redes que os arrastam para a droga. Isidoro Cavaco

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Quero Quero a esperança que teima em fugir Quero os teus braços que não consigo alcançar Quero o calor dessa vida que se esvai Quero sentir amor muito amor para dar Quero a força dos titãs para atingir o caminho Que se abre em linhas paralelas E que não consigo enxergar Quero a força das velas dos moinhos Girando em constante vai e vem Quero ser a flor abrindo no teu caminho Quero ter um amor como ninguém Paro medito mente fugidia Nesse querer quase inglório Mas eu sinto quero sempre queria Dentro deste caos um querer contraditório Corro em busca do que quero Fujo se não atinjo essa meta Atravesso a barreira do espaço Confundo-me com qualquer cometa Mas eu quero sei que te quero Sei que quero disso estou certa Rosélia Maria Guerreiro Martins

Mensageiro da Poesia Mensageiro da Poesia Em AMORA, nesta cidade Festeja-se com alegria Dezanove anos de idade Nasceu em liberdade O mensageiro está feliz, Por festejar mais um dia, Parabéns ao Senhor LUÍS, Com sua vontade quis Divulgar a poesia! A poesia é cultura, O poeta escreve e sente Assim, em qualquer altura, Sentida com alma pura, Escreve pra toda a gente! No símbolo da sua bandeira, Uma pombinha leva e traz, Um raminho d’oliveira Ela é a mensageira Entre a guerra e a Paz! Ao poeta do passado Deixaram recordações, O Mensageiro está ligado Entre a poesia e o fado, Para as novas gerações! No espaço concedido, Mesmo em frente à baia, Estes momentos são vividos, Os poetas não são esquecidos, Na JUNTA DA FREGUESIA! Miraldino Carvalho!


Os Nossos Poetas

10 - Mensageiro da Poesia

Passado da nossa vida Vivemos com dificuldade Esta não foi esquecida, Com a nossa capacidade, Vivemos com unidade, Soubemos vencer a vida!

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Canção suprema

Homem!... Pai dos deuses E Rei do Universo Assim com o meu marido, Lego em ti Na vida soubemos vencer, A minha fé e esperança suprema Neste tempo já vivido, Para novas conquistas… Nunca será esquecido, Eu escrevo pra não esquecer! Serás dentro dos limites Ainda não conhecidos Aos dezasseis anos de idade, O mensageiro desta chama A vida tinha os porquês, Irrefreada Não gozei a mocidade, Em que virás a ser Mas tinha capacidade, O Criador de novas formas Fui mãe a primeira vez! De vida noutros Planetas Dos filhos que Deus me deu, Manuel Sapateiro Dois já cá não estão, A eles disse o adeus;  Estes sentimentos meus, Com a dor no coração!

Um idoso caminhava Os anos foram passando, Com dificuldades na vida, Tivemos que ir esperando, Um idoso caminhava Eu lembro de vez em quando, Enquanto eu reparava Sempre de cabeça erguida! Onde o idoso seguia Segurava em sua mão Quisemos ter o nosso lar Uma beirinha de pão Tivemos que o construir, E uma voz que assim dizia Para o nosso bem estar, Já não vejo como via E na vida descansar Para um dia repartir! Não posso como podia Já se foi a mocidade Estes foram os projectos, Quando a velhice aparece Que lutamos para ter, Aqui está o que acontece Debaixo dos nossos tectos, A quem chega á minha idade Hoje temos oito netos, Coitado de quem é pobre Assim os vemos crescer! Que pede à porta de um nobre Hoje na terceira idade, Uma fatia de pão Felizmente estamos bem, Mal o pedinte repara Só nos resta a saudade Bate-lhe a porta na cara Da nossa capacidade, Tratando-o como um cão Que foi e já não vem! Disse-me então o idoso com voz Cheio de carinho Eu pensei em escrever, Nunca maltrates ninguém O que tenho na memória, A nossa maneira de viver, Amanhã tu és idoso também Para que outros possam ler Uma vida que faz história! José de Frias Lúcia Silva de Carvalho

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Como eu sou… Nas belas terras do sul Onde o céu é mais azul E onde a luz do dia eu vi Para saudades matar Vou lá e quero visitar A velha casa onde nasci Posso afirmar sem lamento Cresci ao sabor do tempo Toda a vida a trabalhar Também quero dizer aqui Que a terra onde eu nasci Honrei-a sendo militar Para a vida melhorar Á Suíça eu vim parar País onde ainda estou Com uma minhota casei Pelo Minho me apaixonei E o meu coração encantou Do Minho fiz o meu lar Sem nunca me desligar De onde vim, minhas raízes Com carinho, esperança e calor No nosso ninho de amor Digo sempre, somos felizes Entre Ourique e Ponte de Lima Ando para baixo e para cima Tantos lugares visitando Da minha terra, meu lar Não me canso de falar E Portugal vou honrando. Chico Bento


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Escritor do mês

Sérgio Bentes Sérgio Bentes é escritor e músico, com centenas de participações e dezenas de premiações em eventos culturais como festivais de música popular (desde 1968), concursos, coletâneas, antologias, feiras e bienais, no Brasil e no exterior (Portugal, Espanha, Itália, França e México), como concorrente, jurado ou na organização. Tem editados os livros de poesias Qualquer palavra e Quinta estação (Ed. Grupitrupiartes, 1999) de prosa O canto, o encontro e outros tantos contos (Vencedor do Prêmio Associação Capixaba de Escritores, 1996) e um de prosa poética, Nos tempos de quintais – roteiro lírico e histórico de uma cidade (edição do autor, 2007). Em parceria com a cantora Sara Bentes, tem, aprovados pela Lei de Incentivo Municipal, em Volta Redonda, dois CDs (Faz sempre sol, de músicas para crianças e A cidade que não dorme, de músicas instrumentais); o primeiro lançado em 2008 e o outro ainda aguardando o empenho da Secretaria de Cultura local. Ganhador de dezenas de prêmios literários de contos e poesias em Vitória-ES (Prêmio Associação Capixaba de Escritores); Cabo Frio-RJ (duas vezes o Prêmio Teixeira e Souza); Campos-RJ (Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima); Rio de Janeiro-RJ (Taba Cultural Editora); Ourinhos-SP (cinco vezes o prêmio da Fundação Cultural Miguel Mofarrej); Barretos-SP (Prêmio Jorge Andrade); Paranavaí-PR (Prêmio Fundação Cultural de Paranavaí); Piracicaba-

-SP (Prêmio Escriba); Itapetininga-SP (Prêmio Manoel Cerqueira Leite) e Araguari-MG, entre outros. Um dos organizadores da I Feira Literária de Autores de Volta Redonda em 1998 e participante da I Bienal de Literatura do Médio Vale Paraíba, em Volta Redonda, em 1999. Promotor do I e II Concurso de Poesias Gravadas (edições 2000 e 2001) para a Ed. Grupitrupiartes, declamando e compondo o fundo musical para os trabalhos vencedores. Junto ao Estúdio VOX realiza gravações musicais independentes e produz CDs de poesias de autores locais. Foi Diretor Cultural e Tesoureiro do GLAN (Grêmio Literário de Autores Novos) de 1997 a 2003 e Secretário Geral do Conselho Municipal de Cultura de Volta Redonda de 2001 a 2007. Revisor, apresentador e capista de livros e CDs de diversos autores (Gilberta Florenzano, Marcio Marinho, Eldo Costa, Jean Carlos, entre outros, além de produtor e músico do CD O som da Poesia, de Elisa Carvalho, em 2002. Compositor, músico, intérprete e produtor da trilha musical da peça A caravana de sonhos, em 2003, para o grupo Arte em Cena, de Stael de Oliveira, tem músicas gravadas em CDs da Secretaria de Cultura de Volta Redonda (Volta Redonda canta assim (2002) e Vitória Régia(2004)), da Casa de Cultura de Resende (2004); nos CD’s Artesã de Sonhos (2007) e Mergulhar (inédito) de Sara Bentes.


Os Nossos Poetas

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Onde estás?

O sonho não tem idade Gosto muito de sonhar Qualquer sonho enfeitado Acordo, viro p`ro outro lado Faço p`ra continuar A sonhar fico acordado Sonho boas fantasias No meu espírito de criança De onde sai uma esperança Que passados alguns dias Possa haver uma mudança Sonho que estou a voar Alcançando o infinito Vejo lá teu nome escrito Aí, fico a pensar Volto para trás aflito Acalmo ao ouvir-te perguntar Amor, diz que horas são Descanso o meu coração Quando ao infinito voltar Escrevo com minha mão Teu nome e o meu Dentro de um coração Por só haver uma razão O meu coração é teu É meu sonho, minha canção A voar vou sonhando Meus sonhos sem ter vaidade Tenho a facilidade De continuar julgando Que o sonho não tem idade. Mário Pão-Mole

Em sonhos, Caminhas a meu lado De mãos entrelaçadas… Avançamos no tempo. Procuramos construir O meu, o nosso mundo. Mas pensas nos outros. Vives mais para os outros… Para ti, Só existem outros. E é por isso Que ofereço apenas A minha amizade. Por isso sou tua irmã. Por isso, a ti, te basta… Irmã por natureza. Irmã que te respeita Irmã que se orgulha de ti, Mas que continua a perguntar: - Onde está o companheiro? João Ferreira

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Perseguição

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Ser gente Ser gente... É tudo que importa Ser!... Formados... Alguns serão Doutores Professores... Advogados... Mestres de muitos louvores... Jardineiros... Ou cantores... Que importa? Todos são importantes ... E necessários... Basta que sejam Gente!... Gente com Valor!... Ser Gente... Com muitos dotes... Com ou sem canudos... Todos seremos Gente... De braços abertos... Ou não... Tudo depende... Se o queremos ser!... Ser Gente!... Todos queremos Ser!... Mas apenas alguns... O farão para SER!... MAGUI

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Não! …Não são folhas soltas que caem, Mas sim alguém que me persegue Na penumbra, mas meus sentidos atraem Os passos de seda que o silêncio ergue Alguém a esconder-se bastante ledo Quando de repente me volto e não vejo Lendo só os ramos do meu arvoredo Vendo o vento os agitando em doce beijo Alguém deitado, e de sombra fingir Para que os meus olhos não possam perseguir Pintados na treva e nas folhas secas do chão Alguém que eu criei para lhe poder gritar Alto aí! …Podeis nos meus bosques parar! Porque não existes! Não e não! Bia do Táxi


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Mensageiro da Poesia - 13

Vida Associativa

Janeiro/Fevereiro 2018

Tertúlia Poética

Como já se vem tornando tradição, realizou-se, no dia 26 de novembro, na sede do Mensageiro da Poesia – Associação Cultural Poética de Amora, mais uma Tertúlia, com Poesia e Fados, na qual os que estiveram presentes declamaram ou cantaram letras de sua autoria ou de outros autores. Os nomes dos intervenientes, assim como dos trabalhos declamados ou cantados, foram os seguintes e na ordem abaixo citada: José Maria Caldeira – As Voltas do Teu Colar; Damásia Pestana – Ouço; Maria José Portugal – Digo-te, Meu Amor (poema de Arménio Correia); Maria Margarida Moreira – Que Aconteceu?; Maria Francisca São Bento – A Chama; Helena Moleiro – Memória da Minha Infância; Maria de Jesus Procópio – Meu Poema Ilustrado; Hermilo Grave – Acessório Quase Sem Serventia; Luís Fernandes Querida Donzília; Lina de Almeida – Cansaço (fado); Arménio Correia – Atribulação e Sempre a Mesma Rotina; José Maria Caldeira – As Nuvens Fugiram do Vento; Damásia Pestana – No Silêncio da Noite; Maria José Portugal – Amizade Não Tem Cor (poema de Berta Rodrigues);

Maria Margarida – Leva-me; Maria Francisca São Bento – Partida; Helena Moleiro – Contradições; Maria de Jesus Procópio – A Sereia e o Mar; Hermilo Grave – Há Sempre Uma Chave Para Uma Fechadura; Emídia Guerreiro – Sonhos Perdidos; Luís Fernandes – O Poeta; Lina de Almeida – Não Fujas da Minha Cara e Loucura (fados, o primeiro declamado e o segundo cantado, sendo os dois escutados com muita atenção pela assistência). No final, houve um lanchinho partilhado. A Direção da nossa Associação sente-se grata pela presença de todos os participantes nesta tertúlia. Hermilo Grave


Vida Associativa

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Apresentação de mais livro de Damásia Pestana, com o título “CHAMA-ME” Foi no dia 18 de novembro de 2017 que decorreu a apresentação do livro da nossa associada Damásia Pestana. O evento teve lugar na grande sala da Sociedade Filarmónica Operária Amorense, pelas 16 horas, e contou com a presença de um elevado número de convidados, que quiseram apoiar a autora. Da mesa de Honra, fizeram parte, além da Poetisa, o Presidente da Junta de Freguesia da Cidade de Amora, Sr. Manuel Araújo, o membro da Direção da SFOA, Sr. Amável Teles, o poeta José Maria Caldeira Gonçalves. A apresentação do livro e do espetáculo foi coordenada pela D. Catarina Silva, nora da autora do livro. Ao usar da palavra, Damásia Pestana agradeceu a todos os membros da Mesa de Honra, assim como ao Presidente da Casa do Educa-

dor, sr. Tomás de Aquino Bento, ao técnico de som, sr. Fernando Morgadinho, à Direcção da SFOA, aos assistentes, aos presentes e a todos aqueles que colaboraram no evento. O fadista Júlio Marques, acompanhado pela sua esposa Isabel Marques, que numa atitude muito especial de

atenção disponibilizou-se para atuar, cantou alguns fados “à capela”, e alguns poetas presentes declamaram vários poemas do livro da Damásia e não só… Por fim, e para se fechar o espetáculo com chave de ouro, Catarina Silva deliciou toda a assistência com suas notas musicais e a sua linda voz. Mensageiro da Poesia


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Vida Associativa

“Poemas de Amor e Saudade“

Decorreu no passado dia 9 de Dezembro, no auditório da Junta de Freguesia de Fernão Ferro, o lançamento do livro “Malpica – Poemas de Amor e Saudade”, do nosso associado José Maria Caldeira Gonçalves. Uma sala com uma bonita moldura humana, para uma tarde que se converteu em sublime tertúlia cultural e poética. Na mesa tomaram parte: o autor, José Maria Gonçalves; o representante da Junta de Freguesia, José Alberto Gonçalves; o representante do Mensageiro da Poesia, Jorge Henriques Santos; a poetiza Damásia Pestana e Catarina Silva que apresentou a sessão. Este terceiro livro de Caldeira Gonçalves, embora represente uma homenagem à sua terra natal, Malpica do Tejo, é também o reflexo

de todo o seu percurso de vida que o trouxe a Fernão Ferro. Comunidade onde se radicou há mais de 40 anos e granjeia de extraordinária simpatia e afecto. A edição foi apoiada pela Câmara Municipal de Castelo Branco e a receita da venda reverte integralmente para o Centro Social de Malpica do Tejo. Falou-se do livro e do autor, realçou-se o seu percurso na escrita e na poesia, mas acima de tudo na sua vivência humana e social. Por isso familiares e amigos se juntaram também nesta tarde, para dar seu testemunho e dizer poemas do livro. Houve espaço para a Poesia e para o Fado, como já se torna vulgar nestas tertúlias promovidas pelo Mensageiro da Poesia. Nas vozes de Lina Almeida, Júlio Marques e Catrina Silva, exaltaram-se nomes como António Gedeão, Florbela Espanca, Fernando Pessoa, Miguel Torga, entre outros. No final houve um pequeno lanche patrocinado pela empresa local Setcereal que coroou também de modo edível o fraterno ambiente desta tarde cultural, em prelúdio de Natal. jhs


Entrevista com

16 - Mensageiro da Poesia

o

Janeiro/Fevereiro 2018

Jorge Santos M.P. - Onde estudou e qual é a sua atividade profissional? JHS: - Comecei por estudar na escola pública primária e depois Escola Industrial, pois na altura havia a escola Industrial e o Liceu. Para a Escola Industrial iam os filhos de operários e classes congéneres para ter um curso técnico. Para o Liceu iam os que tinham perspetivas mais largas para fazer um Curso Superior. Conclui a Escola Industrial antes de ir par a tropa. Depois veio a crise dos têxteis, quase todos da minha idade emigraram. Eu não tinha muita vocação para emigrar para o estrangeiro e vim para Lisboa. A minha atividade profissional foi como jornalista, da qual mantenho ainda Carteira Profissional, dediquei-me à imprensa regional durante 24 anos. Porém já com 40 anos fiz o Curso Superior de Animação Sociocultural e posteriormente uma pós-graduação de Gestão de Projetos Culturais. M.P. - E como coo-habitam as duas atividades? JHS: - Digamos que se complementam uma com a outra. Se faço um trabalho de comunicação social, acabo por acompanhar o que em termos sociais decorre no terreno. Por isso, os meus projetos de Jornal do Seixal e Jornal Nova Morada, sempre acabaram por desenvolver iniciativas e ter parcerias interessantes na área social. Ao desenvolver trabalho social, dá muito jeito dominar algumas técnicas na comunicação e assim tem acontecido também.

Nesta edição o destaque vai para a pessoa do Diretor do nosso Boletim que há três anos assume essa função e é também presidente da Assembleia Geral da nossa Associação. Mensageiro da Poesia - De onde é natural e o que faziam os seus Pais? Jorge Henriques Santos - Sou natural da Covilhã, nasci numa família operária. O meu Pai foi emigrante em França durante sete anos, conseguiu um pequeno “pé de meia” e regressou. Apesar disso os rendimentos eram poucos e eu comecei a trabalhar com 12 anos para ajudar a casa.

M.P. - Como surgiu o gosto pela escrita? JHS - Bem o gosto pela escrita existiu sempre, já de miúdo era eu que escrevia aquelas cartinhas ou bilhetes aos amigos de turma para as raparigas que eles gostavam. Nos projetos de animação havia quase sempre um pequeno jornal ou boletim. À semelhança de muitos sócios do mensageiro, também “escrevia para a gaveta”. Não poderei dizer poemas, mas textos que às vezes encontro e acho piada… M.P - Quando e em que circunstâncias publicou pela primeira vez? JHS - Digamos que textos sobre várias temáticas, colaborei com vários jornais e boletins desde muito novo. Também durante 24 anos publiquei notícias, crónicas, editoriais, entrevistas, reportagens, etc.,. mas uma publicação de autor em formato de livro nunca publiquei nem me vejo com talento para isso…

continua na pág. 17


Mensageiro da Poesia - 17 Janeiro/Fevereiro 2018

continuação da pág. 16 M.P - E até à presente data em que publicações já participou? JHS - Para este público é o editorial do nosso Boletim que faço, desde que assumi ser diretor deste nosso mensageiro, bem como das nossas Antologias. Fiz o prefácio para vários livros de amigos que me pediram, alguns até aqui do Mensageiro. Os Jornais Nova Morada, Voz de Almada e Jornal do Seixal que chegaram os três a ser semanários e pouco mais. M.P - Digamos que é uma carreira recheada, com muitas participações? JHS - Não lhe posso chamar uma carreira, até que não sei o que isso significa em termos da escrita que hoje se faz. Mas sim muitas participações com contributos escritos em projetos, que vão muito para além da edição em papel. Como, por exemplo, o Boletim da Universidade Sénior que coordeno, o nosso Mensageiro da Poesia e próprios jornais regionais que liderei e são componentes de projetos sociais muito mais vastos, embora a componente informativa tenha um papel fundamental. M.P - A sua escrita restringe-se apenas à poesia ou tem também escrita em prosa? JHS - Pelo contrário! Não me sinto com talento para publicar Poesia. Adoro Poesia, aprecio muito o que boa parte dos nossos poetas escrevem, venero os nossos Poetas clássicos. Temos na poesia a arte sublime da palavra que recheia a nossa literatura. Mas a minha escrita não chega por enquanto a esse patamar…

M.P - Quais são os temas centrais da sua escrita? JHS - Os temas centrais acabam por ser as questões sociais, as assimetrias do Mundo em que vivemos, o olhar para os mais excluídos. A interpelação sobre a indiferença e o Egoísmo. Acho mesmo que a indiferença é a doença que mais contagia a humanidade no Mundo em que vivemos. M.P - O seu percurso literário cruza-se com vários projetos de animação e descoberta de outros valores. Neste momento que projetos está a apostar? JHS - Para além do Mensageiro da Poesia, que é já um abundante alfobre de talentos, estou a dinamizar a Universidade Sénior da Quinta do Conde, onde decorrem 21 disciplinas, entre elas um Clube de Poesia; A Liga de Amigos dos Penedos Altos (uma IPSS na Covilhã), onde sou corresponsável pela área social e ainda o Núcleo da Covilhã e Belmonte da AJA (Associação José Afonso). M.P. - Também daí têm vindo muitas alegrias, quer destacar? JHS - As alegrias são imensas e decorrem de várias circunstâncias. Desde as mudanças que um ano após outro, ou às vezes apenas um mês após outro, verificamos em pessoas que se sentiam isoladas e deprimidas e que hoje apresentam um bem-estar psicológico e social bem visível. Assim como a forma como são coroadas de sorridente moldura humana muitas iniciativas que promovemos. M.P - Uma palavra final? JHS - A palavra final vai inequivocamente para os voluntários que ao longo destes 20 anos se têm dedicado a este nosso Mensageiro da Poesia, tanto nas edições do Boletim como nas iniciativas que se levam a cabo, tornando-o num grande projeto cultural. Entrevista conduzida por: Maria José Portugal


Os Nossos Poetas

18 - Mensageiro da Poesia

Perdão Reconheço que pequei Mas castigo não mereço Reconheço que errei Perdão pois eu a Deus peço Neste mundo de pecado Qualquer que seja o sofrer O meu corpo tão cansado Anseia pois por morrer No “Além” em paz eu fico Aí! Tudo é perdoado E na terra em que vivo Meu nome será lembrado Será pra bem ou pra mal Seja qual for afinal O pensar de cada um Não apontes com desdém A quem tanto te quis bem E se pecar houve alguém! Esse alguém foi tão somente Tão somente foste tu! Laura Santos

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A vida em que vivemos

Já fiz versos à minha vida Já fiz versos há minha vida E também já os fiz á morte Seja ela curta ou comprida Eu faço deles o meu mote Também os fiz ao amor Em momentos de alegria E também os fiz á dor A quem me deixou um dia Também os fiz á minha mãezinha Como os irei fazer ao meu pai Por me sentir sozinha E tanto tempo já lá vai Vou cantando e vou chorando Vou chorando á minha vida Porque vou sempre pensando Na minha hora de partida De partir confesso tenho pena Eu tenho que confessar, Mas que seja uma hora pequena Para eu, ninguém cansar Emidia Salvador

A vida tem os seus problemas, Muitas vezes complicados, Mas nem com todos tremas, Pois, com jeito são tratados!

Refl exão Creio pra viver o dia-a-dia

Não se deve perder a confiança, Nunca é fácil, certa arrelia, Com fé é dar-lhe mudança As complicações da vida Nem sempre têm solução, Mas há sempre uma saída Pra alegrar doce o coração! Com mais ou menos felicidade, As vidas nem todas são iguais, Temos que ter e dar amizade, Pra que sejamos os principais! Preciosa Gamito

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Reflexão

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Amizade Vai-te embora falsidade Do meu pobre coração Só quero ter amizade E a todos dar a mão Nesta vida de incerteza Quero ter a alma pura Deixei partir a tristeza P’ra dar lugar à ternura Grande amizade, senti Que sentimento tão lindo Quando eu a conheci Meus lábios foram sorrindo Amizade e o amor Caminhando lado a lado Pra mostrar seu valor Vão sempre de braço dado Amizade verdadeira Tem sempre muita beleza Se ela dura a vida inteira É sincera com certeza Maria João Cristino Lopes

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Eu Sou Eu sou a lágrima Que corre em teu rosto Toda a vez que sintas Tristeza ou desgosto Eu sou o sorriso Que vem a teus lábios Quando sintas carinho Eu sou teu suspiro De paz e de calma Sou a tua sombra Sou o teu caminho Acordo contigo Nas madrugadas de Verão Estou nos teus olhos Ao entardecer Sinto o pulsar do teu coração Sofro contigo Se estiveres a sofrer Eu sou aquilo Que Deus me quis dar Coração aberto Para quem precisar. Ivone Mendes


Janeiro/Fevereiro 2018

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Os Nossos Poetas

Quando já não existir

Sou costureira

Quando eu já não existir… Procura-me na praia Estarei no vento que vem do mar; Então fecha teus olhos

Sou costureira Desde criança Costurei a vida De amor e esperança

E abre-os bem lentamente, Sente a cintilação do sol nas ondas A limpidez do céu E a brisa marinha.

Retalhos sem fim Eu fui costurando Dizendo para mim Deus até quando

Quando eu já não existir Busca-me nas flores, nos frutos Falarei contigo nos seus aromas.

Ainda pensei Que todos juntinhos Assim costurei Todos os trapinhos

À noite procura-me nas estrelas Que teus olhos vêem, Serei frio de luar que te ilumina Serei brisa que te beija. Quando eu já não existir, Olha em teu redor, E vê-me no sorriso duma criança Com cheiro de algodão doce - Sou eu para te fazer feliz! Quando eu já não existir, Toca Liszt em minha memória Para que te aconteça Uma inspiração: De prece, de doçura e de luz. Dizer-te: Busca-me na transparência das águas Dum lago Onde verás meu rosto dizer-te: - Amo-te! Lourdes Emídio

Mensageiro da Poesia - 19

Com agulha e linhas Fui costurando As mágoas minhas Mas foi um engano Retalhos de dor Eu todos juntei Estórias de amor Sonhos costurei Deixei muito amor Em tudo que fiz Dei o meu melhor Tentei ser feliz Com muito carinho Amor e esperança Unindo os trapinhos Desde criança Berta Rodrigues

Leito do meu rio manso Passou por mim uma aragem, Deixou-me notícias tuas, Zumbiu, parou um momento, Falou-me do teu tormento, Sem destino, pelas ruas. Eu pedi então ao vento, Que te levasse um recado, Mas ele não quis ouvir, Continuou a zumbir, Eu fiquei tão desolado... Se eu te pudesse encontrar De qualquer forma ou feitio, Eu só te queria abraçar, E nunca mais te deixar, Para aquecer o teu frio. Meu coração destroçado Pelas saudades do teu, Perdeu toda a alegria, Espera por ti, noite e dia, Chego a pensar que morreu. Bate lento, lentamente, E de repente se altera, Na esperançam de um recado, Fica todo acelerado, Pergunto ao vento...o que era? Mais uma esperança perdida, O vento nada me diz... Já perguntei tantas vezes, Passaram dias e meses, Só queria ver-te feliz! Vou mandar-te uma mensagem, Secreta, sem remetente, Talvez assim a recebas, E ao recebê-la percebas, O que o meu coração sente. Portas do meu coração, Abertas estais, à espera, Eis que o vento, finalmente, Bate-me à porta da mente, E tudo é como era. A teu lado, finalmente, Teu corpo é um rio manso, Percorro as tuas margens, Já conheço essas paragens, E no teu leito, eu descanso. Telmo Montenegro In: À Esquina do Tempo Edição: Chiado Editora


Os Nossos Poetas

20 - Mensageiro da Poesia

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A liberdade do pedinte O pedinte estende a mão à caridade No seu olhar à réstias de bondade Olha as folhas que bailam sob a orquestra do vento O som da brisa aquece-lhe o pensamento. Ele que fez das nuvens, o seu lençol Da noite o seu cobertor… De manhã bebe a taça do nascer do sol Dando-lhe os bons dias com amor. Mais tarde bebe álcool, que é aconchego para a sua dor. E vive… vive ao Deus dará… Sem saber, o amanhã como será… Não à sonhos nem planos, A vida já lhe serviu copos de desenganos, Sente que não tem nada para semear, Recebe apenas o que lhe querem dar… No jardim fala com a flor… linda e perfumada, Diz-lhe obrigado!... Por invadires, e encantares os meus olhos Sem me exigir nada… Abraça a árvore, diz-lhe enfrentaste a tormenta E hoje gratuitamente, dás sombra e beleza, A mim que sou órfão da pobreza, Obrigada pela tua perseverança, És o abrigo da minha carência. Vê a multidão a passar, Quase todos nem lhe oferecem um olhar, Ele que pede tão pouco, Os poucos que olham, acham-no louco. Desses ele sorri, e fala para dentro, Loucos são eles, a correr do tempo, Nem tempo têm, para ouvir seu próprio lamento. Eu vivo em paz e amor!... Há muito que deixei de sentir frio, ou calor… Ninguém quer saber de mim, Nem eu quero saber de alguém, Tenho muitas carências sim!... Mas tenho a liberdade… que os outros não têm!... Manuela Lourenço

Dueto na aldeia Queria contigo ao serão Fazer um poema a meias Do Alentejo a sedução Martela nas nossas veias. As meias que me propões Nunca serão de poesia Só para azeite em garrafões E se for de Santa Luzia. Eu uso as meias nas pernas No frio Inverno aos serões Não serão meias modernas As meias que me propões. Estas nossas caminhadas Com geada e manhã fria São morosas caminhadas Nunca serão de poesia. Na Quinta das Bacorinhas Há azeitonas aos milhões Não se comem curtidinhas Só para azeite em garrafões. O azeite é bom tempero Se alimenta e se alumia Cozinhado com esmero E se for de Santa Luzia. Nem só de pão vive o homem Mas também de poesia Não dá prazer aos que comem Se a vida não tiver magia. Maria Vitória Afonso Manuel Gervásio (meu irmão)


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Inventário de vida

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Mensageiro da Poesia - 21

Os Nossos Poetas

A paz

Eu pouco fiz na estrada percorrida, Distribui sonhos, semeei estrelas! E todas as pessoas que encontrei na vida, Eu sempre soube amar e compreendê-las.

A Paz é o elo nobre da terra, Que todos devemos preservar, Se não houvesse tanta guerra, Tudo poderia melhorar

Da minha esposa não fui companheiro, Aos meus filhos e netos pouco dei. Mas algo restou e ficará inteiro. Este coração que lhe entreguei.

Se tiveres Paz segura e amor, Tens sossego e sabes amar, A PAZ tem grandioso valor, Com ela nos podemos salvar!

Da cigarra vivi toda alegria, Da formiga, só previsão e prudência. Embora dando asas à fantasia, Busquei a honestidade, a decência!

Um dia saí pra admirar o Céu, Encontrei alegria e civilidade, A sorte que Deus concedeu, Achei a Paz e a fraternidade!

A vida toda, dia a cada dia, Cantei a eternidade do carvalho, Que na fé dos simples eu oferecia Na oração constante do trabalho!

Pois esta fecunda semente, Que é gostosa e tão boa, Encontrei o povo fremente, A chamar Paz em cada pessoa!

E agora, quando se aproxima o fim, Uma grande lição ficou, bem sei: - Se não fui o que esperavam de mim, Fui muito mais do que sempre sonhei…

Dá gosto de ouvir: Paz! Paz! Assim como melodiosa canção, Com boa energia de ser capaz, De sentir a salvo cada nação!

Marcus Vinicius de Moraes

Luís Filipe Neves Fernandes

Estrelas O dia apresentava-se limpo…previa-se uma noite maravilhosa… Um passeio ao luar, estava nos horizontes para uma visão nocturna, a via láctea “esperava” por uma exploração… A noite caiu e tu lá estavas por fim… Uma estrela sobressaía de milhões de outras que eram observadas desde o inicio, sem que um olhar para o tempo passado fosse preocupação… Tinhas ficado deslumbrado, sem reacção por essa estrela brilhante… Perguntavas, como seria possível tal brilho? E a aproximação dela? “convidava-te”, “acenava-te” mas algo te prendia, te puxava, queria apagar teu “sonho” … Jamais essa sensação ocorrera, não querias “despertar” porque “o sonho comanda a vida” pois esse teu impulso era um sonho lindo, que querias alimentar sem que para tal o contrário te fosse sugerido… António Bicho


Os Nossos Poetas

22 - Mensageiro da Poesia

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A mulher e sua beleza “Nada é mais belo para os nossos olhos do que um rosto formoso." (Jean de La Bruyère ) “O que há de mais belo na vida são as ilusões da vida." (Honoré de Balzac ) Se a beleza constituísse o único mérito das mulheres, às feias só restaria enforcar-se. Theophile Gautier ) Toda mulher quer manter intacta a beleza, Quando se mira ao espelho na juventude. Então usa os cosméticos pra que não mude Sua figura, pr’a atrair. É isto, de certeza! Co’o correr dos anos, nota-se que se ilude, Solução faz plásticas sem olhar a despesa, Pura ilusão pra se ver ou sentir princesa, Que a idade, logo asinha dá cabo da saúde! Entendo a mulher sempre foi assim, faceira Seus casos co’a beleza vivem à sua beira, Eternar a beleza nada tem de insensata… Tudo bem, mas o exagero teve sempre meta, Todo homem vê essa “reparação” completa, Pois em mulher idosa fica mais caricata! Nelson Carvalho

Próximos temas:

a Mulher, Dia Internacional d dial da Poesia Dia do Pai, Dia Mun o Trabalhador, d ia D l, ri b A e d 25 Dia Temas Livres

As mulheres são as flores Um jardineiro organizado Traz sempre boa harmonia Se ama também é amado E ficará sempre enleado Numa flor que o jardim cria As mulheres são as flores Vamos tratá-las com carinho São elas os nossos amores Vamos dar-lhe seus valores Vamos-lhe dar um beijinho Trazem amor nos corações Trazem carinho e lealdade Trazem alegres intensões Trazem agradáveis razões Para florir a boa amizade Sem as atitudes vaidosas Florescem tão bonitas vidas Dentro dum jardim de rosas Tão lindas e tão amorosas Onde há flores tão queridas Manuel Martins Nobre


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Mensageiro da Poesia - 23

Os Nossos Poetas

Ser mulher Ser mulher É ser esposa e companheira Amante terna e fagueira Que o amor sabe entender Ser mulher É ser mãe e conselheira Dedicada de alma inteira A que devota o seu ser. Ser mulher É ser do lar timoneira Na doença a enfermeira É dar mais que receber Ser mulher É ser fonte de existência Que cala a voz da ciência A força de ser mulher... Ser mulher não é somente A figura e a fulgência É muito mais transcendente Do que essa mera aparência. Ser mulher é ter coragem De pôr fim à injustiça Dessa humilhante imagem Que outrora a fez submissa. Ser mulher é dizer não Ao abuso e violência À vil discriminação E à austera prepotência. Ser mulher é procurar O direito à igualdade E sem tabus comungar Tudo com justa equidade

O futuro, o presente e o passado O futuro sempre me apaixonou! Vivo o presente com intensidade... O passado, esse, das marcas que deixou, Resta só, uma imensa saudade! Uma saudade feita de amor... Amor ao sol, à lua e às gentes da minha terra, Onde uma vivência de cariz recolector, Subsistia, naturalmente, da Baixa até à Serra! Trocavam-se ovos por sardinhas, Amor por amor e azeite por trigo... E se o lume se apagasse na lareira, Qualquer das vizinhas, Ofertava um tição amigo, Para o acender ou à braseira.

Ser mulher é esse alguém Avó, neta, irmã ou filha Devotada esposa e mãe Que o seu amor compartilha.

Naquele meu mundo de então, Nas ruas da Ruinha e Detrás da Igreja, É amor, trabalho e pão O que qualquer pobre almeja!

Ser mulher é sim lutar Para ser compreendida E sem medo conquistar Os seus direitos na vida !...

Recuso-me regressar aos dias da dor, Pois a saudade que me incendeia, Só me pede que lembre daqueles entes, o amor, O carinho e a alegria que perpetuaram na aldeia!

Euclides Cavaco

José Maria Caldeira Gonçalves


Os Nossos Poetas

24 - Mensageiro da Poesia

O Poeta é um sonhador

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Quando a voz do poeta ecoa, Ou ele escreve Um poema breve, Dizendo coisas de encantar, É aí que reside a parte boa Do seu versejar. Por favor, não o queiram calar, Porque ele sonha e faz sonhar. Nesse momento, Não há tristeza, nem lamento. E o poeta pensa que é possível Todos alcançarmos o inatingível! De nós o que seria, se neste mar medonho, Agitado e profundo, Não houvesse sonho? Diz um famoso poeta, De forma correta, Decidida: “É o sonho que faz avançar o mundo E alimentar a vida!” Armanda Rosa

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“Poeta“ Poeta que vês nas Estrelas, Melodias que compuseste, Palavras que ontem perdeste, Hoje, consegues reavê-las. Tens o poder de retê-las Insistindo fortemente, Com teu poder persistente Um dia hás-de vencê-las. Mesmo em noites sem luar, Que estranha a tua inspiração Descobrindo na escuridão, A luz que ao Mundo queres dar. Não consegues descansar Na doçura do teu leito, Mas a revolta no teu peito, Um dia há-de triunfar. José Camacho

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Sei que sei Sei que muito sei! E sei que o tanto Que sei Que sei É somente Um grão de semente Numa imensa sementeira Uma partícula do infinito Uma gota de água num Oceano Um grão de areia Numa praia Uma folha de uma árvore De uma imensa floresta. Em cada dia que vem Passa e acaba Em cada momento Que acontece Aparece, diz-me olá e desaparece Envolto na névoa Que no vento se desvanece! ... Aprender Quero algo mais aprender. Aprender Até morrer. Ou até que os neurónios Já cansados Tão emperrados De tanto enferrujados Se recusem a aprender. Carmindo Carvalho

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A Direcção do Mensageiro da Poesia, Associação Cultural Poética informa que tem uma parceria com o Boletim online “Confrades da Poesia”, assim como com a rádio que possui o mesmo nome.


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Mensageiro da Poesia - 25

Os Nossos Poetas Recordando...

Vai subindo lentamente Só assim serás alguém Que quem sobe de repente Raramente sobe bem

Quadras sem rima

António Aleixo

Há um amor alapado Nas paredes do meu peito. Com penas cor de luar Vermelho da cor do sangue.

Glosa

Há uma palavra dita Erguida em cada muro. A perfumar o caminho Que nos leva à liberdade. Há uma mulher perdida No dobrar de cada esquina. Resistindo à maldade Cruel, do cruel destino. Há uma força trazida Mais leve que uma asa. Dentro dos teus lindos olhos Amendoados, maduros. Há um destino marcado Na vida de todos nós Levado por brando vento Para infindos desertos. Há um fado em cada vida Que traça nosso destino Vesgos caminhos pejados De sarças, que martirizam. Há uma rosa na sombra Do calor da madrugada. Parida pelo engenho Destes meus versos sem rima. Arménio Correia

O riso de minha neta Mote: O riso de minha neta, Espontâneo, inocente, Aos meus olhos de poeta, É um sol resplandecente. Hermilo Grave

Glosa: O riso de minha neta Tem precioso condão: Bem sonoro, se projeta Dentro do meu coração. É ele, por natureza, Espontâneo, inocente. Com ele, não há tristeza, Pois faz sorrir toda a gente. Tem também ele a faceta De ser tão puro e singelo. Aos meus olhos de poeta, Nada existe de mais belo. E desde o romper do dia, E de modo comovente, Luz intensa irradia. É um sol resplandecente! Hermilo Grave

Aquela escada Estás a ver aquela escada De aspecto tão decadente Para não ficares cansada VAI SUBINDO LENTAMENTE Põe de parte essa vaidade Estrelas, só o céu tem Não percas a humildade SÓ ASSIM SERÁS ALGUÉM Um degrau de cada vez Com firmeza e calmamente É mais seguro talvez QUE QUEM SOBE DE REPENTE E terás a recompensa Que muita gente não tem Quem quer subir depressa RARAMENTE SOBE BEM. Maria de Lurdes Brás


Os Nossos Poetas

26 - Mensageiro da Poesia

Primavera

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Janeiro/Fevereiro 2018

(21 de Março 2013)

E era meio-dia

(LULI que seja, tenha sempre Primaveras No seu destino e que eu Possa versejar tão venusta personagem…!)

Tantãs de luz e sombra, Brincavam na minha janela Como se fosse batuque Algures em África distante!

Chegou a Primavera! O seu verdor Não há desesperança que não lave. O Céu e a terra vestem-se de cor E a fonte chora um pranto mais suave! Há beijos de paixão em cada flor, Um desejar de ninho em cada ave. O ar murmura um cântico de amor, A aspereza do solo é menos grave! A minha Primavera inda não veio E trago cá no peito o mesmo anseio Que trouxe o prado inteiro, à sua espera. A seiva dos meus lábios, dos meus sonhos, A luz que faz meus olhos mais risonhos, És tu, és tu a minha Primavera…. Dolores Carvalho

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O silêncio Do silêncio… eu faço a oração. O silêncio é: saúde para a alma. Transmite leveza ao coração… É um íman de paz, amor e calma. Silêncio é : minha paz de espírito. O silêncio me ajuda a reflectir. Se é no silêncio… que eu medito. Silêncio: me faz chorar ou sorrir. No silêncio… eu ganho alento. Renovo o meu pensamento… Com ele… me sinto revigorada. Tudo em mim é transparente… O silêncio me acalma a mente, Para outro dia … outra jornada. Maria de Jesus Ferreira Procópio

Tantãs! O jogo de luz e sombra Dançavam alegremente Espreitando na janela Fui ver o que assim batia Era um pinheiro alto e imponente Que brincava com a ramada Com o sol e com o vento E era meio-dia. Tantãs de luz e sombra Brincavam na minha janela! Foi um momento tão curto Rápido como um pensamento Mas tão grande como é a poesia Ou quando cheiramos um fruto. Tantãs de luz e de sombra Brincavam na minha janela Trouxeram das distâncias do tempo Mares, desertos, Índias, Áfricas, Cheiros e brilhos misturados no vento. Helena Moleiro


Um breve olhar sobre a vida e obra de

Antero de Quental

Janeiro/Fevereiro 2018

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Mensageiro da Poesia - 27

Poeta em Destaque

Antero de Quental nasceu a 18 de Abril de 1842 em Ponta Delgada no arquipélago dos Açores. Faleceu a 11 de Setembro de 1891 (49 anos). Descendente de família nobre, filho de Fernando de Quental e Ana Guilhermina da Maia Quental. Aos 16 anos foi estudar direito em Coimbra. Durante a sua vida Antero de Quental dedicou-se à poesia, à filosofia e à política. Aos 23 anos abandonou a sua carreira de advocacia, lançando-se à procura de si mesmo e da sua inserção no mundo de então. Mundo esse que assistia ao nascimento da revolução industrial e das suas sequelas estruturais, a alteração dos tradicionais ritmos de vida, as questões sociais e aos apelos à liberdade e à justiça. O socialismo versus liberalismo é no plano da fundamentação da natureza e da caminhada humana, o transformismo, pondo em causa de modo drástico a quase estabilidade milenária da filosofia e teologia. E em tudo isto, os conflitos da esperança e ou da obstinada recusa dos novos caminhos entreabertos, reequacionamento ou reajuste da problemática das relações entre os homens e as instituições numa sociedade de ritmos cada vez mais céleres. Foi um escritor e poeta português do século XIX que teve um papel importante no movimento da geração de1870, verdadeiro líder intelectual do Realismo em Portugal. A sua principal obra poética segundo os críticos é: “Sonetos Completos”… com características autobiográficas e simbolistas, na qual expressa a sua inquietação religiosa e metafísica. Verifica-se que a produção poética anteriana seria contínua desde os 16 anos aos 43 ou seja, de 1858 até 1885, altura do seu último soneto. No que toca à filosofia, Antero não só silenciaria a publicação do pensamento filosófico em 1886, dir-se-ia que além do mais, logo após ter cumprido ou se ter exaurido do seu longo ciclo poético.

Já muito fragilizado, física e psicologicamente, abandona a cidade do Porto, onde por fim vivia. Regressa à sua terra natal, seu refúgio muitas vezes em especial quando regressava da américa ou da europa! Escreveu várias obras quer em francês, quer em inglês e português. Em 1861-- publicou “Sonetos de Antero”. Em 1865--publicou “Odes Modernas”. Em 1866 decide viver em Lisboa, onde trabalho numa tipografia. Em 1867, foi para Paris, só regressa a Lisboa em 1868. Em 1869, fundou o jornal “A República”. Em 1871, junto com Eça de Queirós, Oliveira Martins e Ramalho Ortigão, planeja conferências democráticas dizia entre outras coisas preocupação com a transformação social, moral e politica dos povos, da necessidade de ligar Portugal com os movimentos modernos de agitar na opinião pública, as grandes questões da filosofia e da ciência. 1872__”Primaveras românticas” 1886__” Sonetos Completos” 1892__”Raios de extinta Luz” __ “ A bíblia da humanidade” e muitas outras obras. Antero de Quental é considerado ao lado de Camões e Bocage, os grandes sonetistas da literatura portuguesa. Sofrendo de Depressão com doença bipolar suicidou-se em1891 num banco de jardim com 2 tiros no parietal, isto, na sua terra natal. Damásia Pestana


Janeiro/Fevereiro 2018 28 - Mensageiro da Poesia

Hino à Razão

A um poeta

Razão, irmã do Amor e da Justiça, Mais uma vez escuta a minha prece. É a voz dum coração que te apetece, Duma alma livre, só a ti submissa. Por ti é que a poeira movediça De astros e sóis e mundos permanece; E é por ti que a virtude prevalece, E a flor do heroísmo medra e viça. Por ti, na arena trágica, as nações Buscam a liberdade, entre clarões; E os que olham o futuro e cismam, mudos Por ti, podem sofrer e não se abatem , Mãe dos filhos robustos, que combatem Tendo o teu nome escrito em seus escudos! Antero de Quental

e-mail: e-mail: mensageiropoesia@gmail.com mensageiropoesia@gmail.com http://.facebook.com/mensageirodapoesia.com http://.facebook.com/mensageirodapoesia.com


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