Boletim 136

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Mensageiro da Poesia - 1 Setembro/Outubro 2016

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O nosso patrono Mensageiro da Poesia Associação Cultural Poética Bimestral - n.º 136 Setembro/Outubro 2016 Anuidade 20€

Poeta do Mês

José Jacinto Pág. 15

Homenagem ao saudoso amigo Marcus Vinicius de Moraes


Nota de Abertura

Setembro/Outubro 2016

2 - Mensageiro da Poesia

18º Aniversário do Mensageiro da Poesia O Mensageiro da Poesia Associação Cultural Poética, comemora no próximo dia 5 de Novembro o seu 18º aniversário. Um marco que na vida de uma pessoa representa atingir a maioridade, ou passar à idade adulta. Na vida de uma associação não será bem assim, porque a maioridade associativa já se atinge quando um conjunto de homens e mulheres embebidos pelo mesmo ideal decidem juntar-se e constituir-se em associação, para dar concretização a esse objectivo comum. Por isso este aniversário do Mensageiro, já representa 18 anos de história em partilha de um ideal que é a difusão e promoção da poesia, quer se trate de gé-

nero mais simples ou mais erudito. Nem tudo são rosas, apesar de se emanar perfume e beleza sempre que se escreve poesia. Como seres humanos e sociais também somos atacados colectiva e individualmente, muitas vezes, pelos vírus da presunção, da vaidade, da impostura, da intolerância, da impudência… Porém a quantidade de iniciativas e o nível de participação em cada uma delas, representam a convergência de muitas vontades e o empenhamento voluntário de um número muito alargado de pessoas. Colocando-nos perante uma grande instituição difusora e produtora de cultura. Nesta comemoração do

18ºaniversário, lançamos a 14ª Antologia Poética, registamos a edição de 136 boletins e marcamos a agenda cultural com uma média de dois eventos culturais por mês. Revelador de uma grande actividade associativa, tanto no quadro de associações do género a nível nacional, como no quadro da grande actividade colectiva que é o concelho do Seixal. O Mensageiro da Poesia. Associação Cultural Poética, está de parabéns não apenas pela sua idade associativa, mas também e sobretudo, pelo que a sua actividade cultural representa nestes 18 anos. jhs

Ficha Técnica: Tipo de publicação Bimestral - Propriedade: Mensageiro da Poesia, Associação Cultural Poética Rua dos Vidreiros, Loja 5 Antigo Mercado de Amora - 2845-456 Amora - Portugal • E-mail: mensageiropoesia@gmail.com • Director: Jorge Henriques dos Santos Director Adjunto: Luís Fernandes - Sócio Fundador • Colaboram nesta edição: Donzília Fernandes, Helena Moleiro, Berta Rodrigues, J. M. Caldeira Gonçalves, Sílvia Martinho, Luís Fernandes, Damásia Pestana, Ana Cristina Videira, Nelson Fontes Carvalho, Maria Adelaide Palmela, Rosa Martins, José Frias, Hermínia Dias da Silva, Francisca São Bento, Domingos Pereira, Fanny, Carmindo Carvalho, José M. Vaz Jacinto, Manuela Lourenço, José Francisco Bento, Hermilo Grave, Margarida Moreira, M. Laurinda, Márcia Cristina de Moraes, Laura Santos, Bia do Táxi, Armanda Rosa, Maria de Lurdes Brás, Preciosa Gamito, Isidoro Cavaco, Ivone Mendes, Ana Santos, Manuel Martins Nobre, Lúcia Carvalho, Manuel António Avelar, Dolores Carvalho, Maria de Lurdes Emídio, João Ferreira, Pinhal Dias, Manoel Beirão, Arménio Correia, Marcus Vinícius de Moraes, Miraldino Carvalho, Emídia Guerreiro Salvador. • Isenta de Registo na ERC ao abrigo do disposto no Decreto Regulamentar n.º 8/99 de 9/06, art.º 12.º, n.º 1 a) • Depósito Legal: 3240411/06 • Tiragem: 300 exemplares Paginação / Impressão / Acabamento: Tipografia Rápida de Setúbal, Lda. • Travessa Gaspar Agostinho, N.º 1 -2.º 2900-389 Setúbal Telef.: 265 539 690 Fax: 265 539 698 • e-mail: trapida@bpl.pt


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Vida Associativa

Setembro/Outubro 2016

Mensageiro Poesia da

Agradecimentos A Direção da nossa Associação agradece à nossa associada Helena Moleiro, pelo contributo que tem proporcionado à nossa Associação, com a dádiva de vários quadros de sua autoria, tendo sido leiloado o último quadro oferecido, que rendeu o valor de 100 euros. Um grande “Bem-haja” pelo seu coração generoso.

Próximas actividades No dia 23 de Outubro de 2016 teremos uma Tertúlia Poética na nossa sede. No dia 5 de Novembro de 2016 comemoramos o nosso 18º Aniversário e lançaremos a XIV Antologia, com almoço convívio na Sociedade Filarmónica Amorense. No dia 27 de Novembro de 2016 terá lugar mais uma Tertúlia Poética na nossa sede.

Apelo aos Sócios Alguns dos nossos associados têm deixado atrasar as suas quotas no Mensageiro da Poesia - Associação Cultural Poética. É do conhecimento geral que é com o conjunto destes pequenos contributos que é possível continuar a editar este boletim bimensalmente e cuja regularidade queríamos manter. Por uma questão de justiça também não é aceitável que o Mensageiro continue a publicar poemas de quem para ele não contribua. Pelo que apelamos aos sócios nesta situação que atualizem a sua contribuição, anunciando que o boletim deixará de publicar de textos e poemas de quem não tenha a sua situação regularizada. Obridado.

A Direcção

Destaques nesta edição: • Aniversário do Mensageiro da Poesia- Pág. 04 • Cantinho do Escritor- Pág. 05 • Cantinho do Escritor- Pág. 17 • Homenagem a Marcus Vinicius de Moraes- Pág. 13, 14 e 15 • Mensageiro da Poesia nas Festas da Amora- Pág. 09 • Poetisa em Destaque: Sophia de Mello Breyner Andersen- Pág. 27 e 28


Vida Associativa

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Apoios:

Junta de Freguesia de Amora UNIÃO DAS FREGUESIAS DE SEIXAL, ARRENTELA E ALDEIA DE PAIO PIRES

18º Aniversário do Mensageiro da Poesia Associação Cultural Poética Dia 5 de Novembro de 2016 Almoço - Convívio com poesia e fado Lançamento da XIV Antologia Poética O Mensageiro da Poesia, convida os seus Associados, amigos, familiares, e todos os amantes da poesia e do fado a comparecerem ao almoço convívio, a realizar na S. F. O. A. Sociedade Filarmónica Operária Amorense. Almoço às 12H30 Ementa Entradas — Pão, azeitonas, e salgadinhos Prato — Bacalhau à Minhota ou carne assada Bebidas — vinhos tinto e branco, água, sumos e café Sobremesa – arroz doce, Mousse ou fruta da época RESERVAS ATÉ AO DIA 30 DE OUTUBRO

CLUBE RECREATIVO DA CRUZ DE PAU

Contactos E-mail: mensageiropoesia@gmail.com Luís Fernandes – 212246702 – 938484312 Arménio Correia – 210897969 – 967260385 Hermilo Grave – 216062630 – 910175685 PREÇO –XXX Pombinhas Grátis para crianças até aos 6 anos Crianças dos 7 aos 12 anos 6 pombinhas Organização: Mensageiro da Poesia Associação Cultural Poética


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Cantinho do Escritor

Violência doméstica Bombeiros b i do d meu País í

Deixo aqui o meu apelo Não deixem ao desmazelo Terras dos nossos avós. Olhem mais para os bombeiros Amigos leais verdadeiros Que lutam por todos nós.

A violência doméstica é uma realidade amarga que afeta muitas mulheres portuguesas e essas situações muitas delas são vividas perante um cenário violento, e em alguns casos macabro. Embora já se tenha evoluído em algumas situações o problema é que a violência e morte continua acontecer e em muitos casos estão referenciados na polícia com medidas aplicadas pelo tribunal, mas a tragédia aumenta, porque o conceito " entre homem e a mulher não se mete a colher " ainda se aplica em pleno século XXI. As causas que motivam a esta situação dramática são muitas; medo, dependência financeira, falta de auto estima, filhos, mas a causa principal que pouca gente fala é a culpa, a falta de coragem para assumir, que se o amor falhou na relação a culpa não morre solteira, o problema é dos dois, e o elo mais fraco é que paga a fatura. Antigamente os "vizinhos" estavam atentos e socorriam, nos dias de hoje a indiferença é a realidade do Mundo, ninguém se preocupa, escutam gritos, pedidos de socorro e por receio de complicações, indiferença, egoísmo, a frieza da situação deixa tudo acontecer, ficando apenas o lamento, muitas das vezes da perda. A verdadeira culpada desta realidade é a vítima, que não consegue assumir que o amor não combina com violência, porque amar é sinónimo de entrega, respeito, sabedoria em aceitar o outro com virtudes e defeitos, no amor não existem fórmulas, mas emoções e sentimentos vividos com a intensidade e a verdade do coração.

Hermínia Dias da Silva

Ana Santos

Os bombeiros do meu País São heróis assim se diz Estou de acordo plenamente. Quando tombam de cansaço Precisam de um abraço Pra se erguerem novamente. Quando dormem descansados Por vezes são acordados Pra enfrentar o inimigo. Este chega de mansinho Tapando-lhes o caminho Pondo suas vidas em perigo. E nas encostas das serras Vão surgindo labaredas Como que por magia. Pobres bombeiros coitados Lutam quase inanimados Quer de noite quer de dia. No meio do fogo maldito Ouve-se um grito aflito O que já é de prever. Por vezes tarde demais E no meio desses pinhais Há um bombeiro a morrer.


Poetisa do Mês

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José Jacinto

José Manuel da Cruz Vaz Jacinto, nasceu em Malange – Angola, em 18 de Outubro de 1960. Em Junho de 1975 veio para Portugal e em Outubro desse ano foi para S. Paulo - Brasil, onde viveu até Maio de 1978. Aí estudou e desempenhou várias atividades, nomeadamente frentista de um posto de combustível e lavador de carros. Voltando a Portugal, trabalhou na Lisnave em trabalho indiferenciado, através da firma Metalvico, (lavagens de convés e mudanças de mobiliário), e em oficina de automóveis, como aprendiz de mecânico, bate-chapas e pintor. Continuou a estudar à noite, chegando a frequentar o 2º ano de Engenharia Mecânica no Instituto Superior Técnico, curso que interrompeu para cumprir o Serviço Militar, no qual esteve 5 anos em regime de contrato, atingindo o posto de Tenente Miliciano.

É licenciado em Gestão e Licenciado em Matemática Aplicada e frequenta o Curso de História da Universidade Aberta. É Técnico Oficial de Contas e Professor de Matemática do Ensino Básico dos 2º e 3º Ciclos e Ensino Secundário pertencendo ao quadro da Escola Secundária de Amora. Anteriormente lecionou em Corroios, Laranjeiro, Almada, Paivas, Baixa da Banheira, Grândola e Cercal. Fez parte dos quadros técnicos da União de Bancos Portugueses, trabalhou como agente imobiliário, de seguros e auditor financeiro, foi formador do IEFP no Centro Profissional do Seixal e esteve na DREL (Direção Regional de Educação de Lisboa) como técnico do Gabinete de Apoio Financeiro-Ensino Particular e Cooperativo. É colaborador do Mensageiro da Poesia e dos Confrades da Poesia. Participou das VII e VIII Antologias Poéticas e foi Premiado no IV Concurso de Poesia 2008 com Menção Honrosa. Foi Vice-Presidente da Assembleia-Geral do Mensageiro da Poesia.


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 José Jacinto é autor dos livros: “O Meu Bairro era Azul”; “Triângulo Atlântico” e “Sina-Malanjeu”. Reside em Pinhal de Frades-Arrentela, no Concelho do Seixal, há 38 anos. É divorciado, tem 3 filhas, um neto e uma neta. E é Motard. (motociclista).

FFado C Chega do outro lado do mapa, Na paisagem tem uma capa, N Mas caminhante dispensa… M Vai andando…e vai parando V Vai pensando se é verdade V O que esquece ou o que pensa. E Especialista do passo, V Vai mudando de espaço, M Mas se apresenta sempre igual, N Não usa gravata nem laço, N Nunca diz, antes: “eu faço! FFaz antes e às vezes mal. Depois de tanto mudar, Rotina é de caminhar, Mas sabe qual é o destino, É estar sempre em movimento, Fazer corridas com o vento, Mas nunca perder o tino. Já deu voltas e mais voltas. Da terra não se esqueceu Saudosa abria as portas À espera do filho seu.. Mas demora a caminhada, Ainda há muita estrada Que ele ainda não percorreu, Terra acorda de madrugada, Acende o sol, a lua deitada, A ver se ele adormeceu. E a constante do descanso É caminhar mesmo sonhando Que numa paragem qualquer Vai acontecer um encanto Que vai espalhar aos 4 cantos, Que a casa voltou a encher. José Jacinto


Os Nossos Poetas

8 - Mensageiro da Poesia

A cidade é um livro que se lê aos pés A cidade e um livro Com os pés posso lê-la Eles são o que preciso Pra poder conhecê-la Andar é como ler O caminho que se pisa São páginas a conhecer Do livro que se organiza Ruas, carros e avenidas Gentes, animais, arvores e mar São as páginas a ser lidas Como o nosso próprio andar. Domingos Pereira

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Sem me cansar Exaltar a sensualidade Na dança de um tango O meu corpo o meu ventre... Sem ser mera casualidade Dá voltas e reviravoltas Porque ingeriu a rosa vermelha Que de teus lábios se libertou Sem me cansar dos tempos Sorrisos afáveis E sempre atentos me ofereci Dei por mim sozinha a procurar-me O encanto que tanto me deleitava E como bem me assentava Umas pregas a vincar Como o tempo caprichoso Ao passar por mim Me havia assentado Nessa espera De me haver libertado Apressa em mim O tempo a reclamar Já há muito que me distraí Chegou a hora de poisar Mas não me vejo a cansar Damásia Pestana

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Amizade Amigo O que é um amigo? Certamente não será Aquele que nos dá Comida em troca dum favor Não é aquele que sem amor Apregoa aos quatro ventos Todos os nossos sofrimentos Segredos e tudo o mais Transformando assim em ais O que era íntimo entre nós Não é egoísta ,mentiroso, ingrato Mas sim aquele que tem a voz Suave, doce, compreensivo, pacato Nos oferece a joia mais ditosa Como o perfume duma rosa Num cofre silencioso Aquele que o encontrar Será assim feliz e ditoso Conhecendo então o verbo amar Num deserto de areia, perceber Palavras vindas da boca E o coração nos oferecer Sem nada pedir em troca. Bia do Táxi

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A natureza Amar sempre a natureza É de todos nosso dever, Não devemos com certeza, Deixar que ela vá morrer! Todo ar que respiramos, É feito pela natureza, É só pena que não gritamos Ó fogo poupa esta beleza! Devemos sempre cuidar E respeitar a natureza Pois temos a ganhar Com a sua grande beleza. A natureza como é linda Com suas tão belas cores, Rios plantas e…..ainda Com lindas e belas flores! Preciosa Gamito


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Vida Associativa

O Mensageiro nas Festas de Amora Pelo 10º. ano consecutivo, em que a nossa Associação esteve presente nas festas da cidade de Amora, na zona ribeirinha, com um programa cultural vasto e milhares de pessoas a encherem, todos os dias, a área onde decorreram os festejos. O “Mensageiro da Poesia – Associação Cultural Poética” participou nas festas com um stand gentilmente cedido pelo executivo da Junta de Freguesia da Cidade de Amora, com exposição e venda de livros

d poesia i e outros, t s, de pertencentes à nossa Associação e muitos outros cedidos pelos seuss a autores, que fazem parte da nossa camada associativa. Tivemos a honra de receber, no nosso espaço, a visita do Sr. Manuel Araújo, Presidente da Junta de Freguesia de Amora, a Srª. D. Helena Quinta, Secretária da mesma Junta, o Sr. Joaquim Santos, Presidente da Câmara Municipal do Seixal, o Sr. Jorge Gonçalves,

Vereador da mesma Câmara, o Sr. António Santos, Presidente da União de Juntas do Seixal, Arrentela e da Aldeia de Paio Pires, além de outras ilustres individualidades, autarcas e dirigentes associativos. As festas decorreram num ambiente alegre e saudável convívio e, uma vez mais (nunca é demais realçar), o Executivo da Junta de Freguesia de Amora está de parabéns, pelo boa organização do evento.


Os Nossos Poetas 10 - Mensageiro da Poesia

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Coração liberto

Três lindas flores Temos três lindas flores Mimosas de inverno e verão São estas os três amores Que nos alegram o coração I São a alegria de todos nós São três meninas amorosas São bonitas e carinhosas São riqueza de pais e avós Trazem alegria na sua voz Com gestos encantadores Os avôs são uns senhores Sentem carinho e amizade Dizem com muita vaidade Nós temos três lindas flores

III Temos a nossa flor Beatriz É uma flor de laranjeira É uma flor que se cheira No Seixal Odemira e Avis Faz sua gente, muito feliz É menina de mil valores Dizem os seus educadores Tudo o que faz é perfeito Todas merecem respeito São estas os três amores

II Temos a nossa flor Carolina É uma brilhante gerbera Não é só flor de primavera É sempre bonita flor fina É assim esta nossa menina Faz tudo com perfeição Sempre em alegre união Com as primas é um amor Três meninas com valor Mimosas de inverno e verão

IV Temos uma flor de roseira É a nossa florinha Matilde É uma rosa bonita e humilde Esta é uma flor de primeira Como a flor de amendoeira A todas damos nossa mão Para não caírem no chão Estarem sempre mimosas São estas tres bonitas rosas Que nos alegram o coração

Manuel Martins Nobre

Dos sonhos de criança... Desfiz minha prisão!... E num desejo Sem tréguas... Fiz da vida Meu destino!... Não quero mais... Sonhos de menina!... Não quero mais... Tormentos! ... Nem tão pouco pensamentos!... Nem desejos loucos!... Quero a liberdade!... O momento!... A alegria!... A VIDA!... Que TU não tens!... Tudo foi ... Tempo perdido!... E se ... Outrora eram sentimentos!... Hoje... São apenas ... Esquecimentos... De coisas sem valor... E desmedidas!... Vôo nas asas do vento!... Amo a Liberdade... O Mar e o Vento... Serei eternamente menina... Poeta!... Dona dos meus sentimentos!... Liberta ... de TI ... Que apenas exististe ... Por breves momentos .... No meu louco pensamento!... Margarida Moreira Magui


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Os Nossos Poetas

O sonho do poeta Eu quisera ser trovador, Com nobre poetar d’amor Cantar João de Deus e Cabral Dois heróis do nosso mar, Cabral no mar a “passear” João de Deus sem igual Eu quisera ter grande chama, D’imitar esse nosso Gama,, Das entranhas do Oceano, Dar-lhe alma, dar-lhe alma, Ir pelo mundo com essa palma, Co’as galeras a todo pano! Eu quisera ser Alorna, Pelo menos inspiração morna, Voltar lá ao seu Ribatejo, Cantar com lirismo igual, Todas belezas de Portugal Lusas proezas como desejo! Eu quisera ser grande bardo, Dos tais, bem galhardo, Em concursos ter boa nota, Fazer um soneto notável, Ao unigénito Contestável, Pela vitória de Aljubarrota! Eu quisera ser dos heróis, Que ocorreram co’os espanhóis, Em Mil seiscentos e Quarenta, Enfim d’essa maldita caipora, Os Filipes foram-se embora, Por lusos de chama benta! Eu quisera ser Camões Poeta de todas gerações , Até hoje aos nossos dias, Que no Lusíadas escreveu, É pra nós hoje o apogeu, D’exalta nossas ousadias. Nelson Fontes Carvalho

As Férias Riem para mim as pedras do rio, As árvores, as praias, o luar, o vento, As aves, o sol, o mar, as flores; Um histórico monumento. Que aliciante! Que corrupio! A Natureza tem laivos de novas cores: Os campos, as cidades, os montes, As cristalinas fontes; São de caleidoscópica fantasia; Imaginativa utopia . É isso! É isso! São as férias! Que alegria! Retemperar energia; Não cumprir sequer um dever, E nisso ter prazer. É o tempo da apatia, afinal; De, com tranquila suavidade, Cometer até alguma excentricidade. É o tempo da “dolce vita“. Chegou a hora de apenas existir, De viver espontaneamente, De vegetar, qual eremita; De zarpar em viajem havaiana, De, lírico, ir em busca do Nirvana, E, com suave delonga, afinal, Obter a Pedra Filosofal. . . Férias! Lugares sublimes! Ideais! Dir-se-iam surreais Paraísos tropicais . . . “manoel beirão “ = elmano =


Os Nossos Poetas

12 - Mensageiro da Poesia

Amigo

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Quando a tarde caía, Suaves melodias me envolviam. Eu ficava nessa onda, que me fascinava. Pelo mundo das palavras E sentimentos, viajava. Entre cascatas deslumbrantes, Um mensageiro encontrei, Desde o momento em que Nesse espaço entrei. Uma voz amiga me acolheu, Como se eu fosse A estrela da manhã. Ao entardecer, perdida, Encontrada ao amanhecer De um novo dia. Os sonhos ganharam asas; Para o Mensageiro da Poesia, voaram, Voaram alto e nesse voo fiquei. Voo magnífico que encontrei. Eu queria saber escrever Palavras bordadas a ouro, Como os poetas sabem fazer. Ah! Se eu fosse poeta, daria ao Mensageiro da Poesia mais de mim. Na tela dos desejos, pintaria o seu nome Nas mais belas cores Que o tempo não apagasse. Quando a noite caísse, se iluminassem os corações Dos poetas enlouquecidos de amor! Fanny N.B.: Menção Honrosa do Mensageiro da Poesia

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Amor nunca perde a validade O silêncio selou o meu coração Destruiu alegria e entrou a solidão As lágrimas secaram a minha face enrugada E o sorriso deixou de dar brilho ao meu olhar A tristeza ficou vincada no meu jeito de falar E afastei o desejo de mulher apaixonada. O passado é uma ferida difícil de cicatrizar Capaz de destruir a vontade de sonhar Numa vida preenchida pela família e amizade O tempo apaga tudo, até as más recordações E faz pensar que a felicidade é feita de emoções Num Mundo onde o Amor nunca perde a validade. Ana Santos

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Portugal minha Pátria Meu país tão pequenino Mas tem tantos campeões Amá-lo é o meu destino Minha pátria de Camões Este nosso Portugal Tem os melhores cirurgiões Foi o primeiro país A separar dois irmãos Foi uma admiração total Que hoje vivem felizes Graças á ciência de Portugal Dr. Gentil Martins Assim se chama o médico Que á sua deficiência pois fim Eu, no quintal dele brinquei E no terraço me debrucei Mesmo por cima do chafariz. E como o meu povo diz Ele é o melhor cirurgião Do nosso querido país Alcácer sua Terra Natal Tem a honra em dizer Que esta família sem igual Em Alcácer vieram a nascer Adelaide Palmela


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Mensageiro da Poesia - 13

Vida Associativa

Homenagem ao saudoso associado e amigo, poeta e escritor Marcus Vinícios de Moraes Foi no passado dia 25 de Setembro, que o Mensageiro da Poesia A. C. P. homenageou um dos seus sócios pioneiros, o saudoso poeta e escritor Marcus Vinícius de Moraes grande amigo da nossa associação, falecido em 3 de Maio de 2013 Perante uma sala totalmente esgotada, a nossa associada Ana Cristina Videira procedeu à composição da Mesa de Honra, começando por chamar o Sr. António Pepe presidente do Centro Cultural e Desportivo das Paivas, Sr. Luís Fernandes e D. Manuela Lourenço, Presidente e Vice-presidente do Mensageiro da Poesia, D. Helena Quinta representando a Junta de Freguesia de Amora, Dra. Elisabete Cortinhal pela Câmara Municipal do Seixal, e D. Márcia Moraes, viúva do homenageado. Teve a palavra o Sr. Luís Fernandes, Presidente do Mensageiro, e grande amigo do homenageado, que, num discurso sentido, enalteceu as qualidades de Marcus Vinícius de Moraes, frisando a importância da sua obra na cultura poética, com relevância para os diversos prémios alcançados, assim como o reconhecimento recebido por toda a comunidade, muito em especial das autoridades de Poços de Caldas, sua terra adotiva, tendo o seu nome sido atribuído à Biblioteca ali existente. Com os sentimentos à flor de pele, e de voz embargada pela comoção, o Presidente do Mensageiro da Poesia viu-se forçado a abreviar o seu discurso, momento sentido por todos os presentes, na calorosa salva de palmas que se fez ouvir. Também o Sr. António Pepe Presidente do C. C. D. das Paivas se mostrou emocionado, e muito honrado, por terem escolhido a casa a que ele preside, para tão importante evento cultural, enaltecendo ainda a partilha entre os povos. A D. Helena Quinta, representando a Junta

de Freguesia de Amora, frisou todo o trabalho poético cultural, que o Mensageiro da Poesia tem desenvolvido neste seu percurso, não se tendo limitado apenas ao Concelho, e ao País. Mas indo mais além, abrindo portas a povos que desejem fazer parte desta grande família que é o Mensageiro da Poesia. A Dra. Elizabete Cortinhal, representando a Câmara Municipal do Seixal, disse estar muito sensibilizada, pelo simbolismo do ato em si, sendo de louvar tal iniciativa, do Mensageiro da Poesia, mas também pela participação massiva de amigos da poesia. Por último D. Márcia de Moraes agradeceu comovida, a prova de amizade e carinho recebida de todos os presentes, com um agradecimento muito especial ao Mensageiro da Poesia pela homenagem prestada; para o Presidente do Mensageiro Sr. Luís Fernandes, e D. Donzília, sua esposa, ficaram palavras de agradecimento e carinho, pelo fortalecimento continua na pág.14


Vida Associativa

14 - Mensageiro da Poesia

continuação da pág.13

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Homenagem ao saudoso associado e amigo, g da amizade que os une, há já vários anos. Também a filha do homenageado, Dra. Márcia Cristina de Moraes, referenciou o parte do trabalho desenvolvido porr e seu pai, assim como a amizade que este tinha pelo Mensageiro da Poesia.. rDe salientar que entre as diversas intere venções foi-se procedendo à entrega de te pequenas recordações, quer por parte te do Mensageiro da Poesia, quer por parte da família do homenageado, quer ainda da por parte da Junta de Freguesia de Amoora, Câmara Municipal do Seixal, e União de Juntas de Seixal, Arrentela, e Aldeia de Paio Pires, em que o seu Presidente António dos Santos, devido a compromissos anteriores, numa visita rápida, apenas cumprimentou os presentes e entregou lembranças da União de Juntas à viúva do homenageado e sua filha.

Estava na hora dos poetas prestarem a sua homenagem ao saudoso poeta que partira, dizendo poemas do seu livro “Poesia de outono”, que foram sendo ditos de forma sentida e emocionada, sempre antecipados de palavras de carinho, agradecimento, e saudade. Arménio Correia, Laura Santos, João Ferreira,


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Mensageiro da Poesia - 15

Vida Associativa

poeta e escritor Marcus Vinícios de Moraes Damásia Pestana, Helena Moleiro, José M. Caldeira, Sílvia Martinho, Hermilo Grave (com um poema de sua autoria dedicado ao homenageado), tal como Manuela Lourenço que disse um poema seu, e outro da nossa associada Bia do Táxi que não pôde estar presente, Miraldi-

no de Carvalho, e Manuel M. Nobre, sem esquecermos os fadistas José de Frias, e António Dias que se disponibilizaram a cantar dois fados à capela. Intercalando a poesia, tivemos lindos momentos musicais, com as jovens e talentosas Mariana Dias, Inês Cardoso, e o grupo Black and White a cargo da sempre presente Ana Cristina Videira. Mesmo a finalizar a nossa festa, o Sr. António Pepe lançou um convite aos elementos do Grupo Coral r do C. C. D. P. a juntarem-se a nós e a cantar duas modinhas, convite que foi aceite por vários c voluntários e que se juntaram ao v grupo. Foi com este momento g de d convívio e partilha que encerrámos tão justa homenagem ce havendo, de seguida, um lauto ha lanche compartilhado, desta vez lan com co algumas conversas de sotaque qu brasileiro. Arménio L. F. Correia


Os Nossos Poetas

16 - Mensageiro da Poesia

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Que a felicidade a abrace É meu desejo que a felicidade a abrace Usando a amplitude dos braços e do peito, Para ajudar a promover o doce enlace Que lhe traga um mundo melhor e mais perfeito! Acabar-se-iam os seus receios e medos; Os receios do futuro e medos do passado!... Abriria a alma para libertar os segredos, E ao coração daria o futuro almejado. Tenho em mente, aquela figurinha de gente Que deambula com ligeireza pela vida, Numa gôndola de sonho permanente!... Parar, seria bom para encontrar a saída E um piso firme, onde um sonho diferente Ousasse mostrar-lhe a vida merecida! J. M. Caldeira Gonçalves

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Amor e amar

Amamos mais aquilo que com mais esforço conseguimos. (Aristóteles)

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À mulher mãe! A semente que o homem deixou No seu ventre de mulher! Germinou, criou vida, Ao nascer já formada, Com dor deu ao mundo o homem! Orgulho e amor de Mãe feliz! Mãe, foi, e por toda a vida. Vendo os seus filhos crescerem como árvores, de planta pequenina que foi semente tal como a Mãe natureza criou orgulho criou ventura! Mulher e Mãe igual a tal grandeza, tanta beleza, é e sempre, e para sempre Mãe! Ao contemplar a Mãe natureza Mostra toda a beleza Por si criada! Árvores, flores e frutos, tudo conta A sua grandeza. Pois tudo é dado pela Mãe natureza E oferece-nos todo o encanto! Helena Moleiro

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As paixões cegam. O verdadeiro amor torna-nos lúcidos. (?)

O Mar

Amar é descobrirmos a nossa riqueza fora de nós.(?)

Vou dedicar ao mar Este meu poema Melhor não sei fazer Confesso tenho pena

Isto d’amor e amar é, tema quente controverso, Do qual poetas e escritores muito têm dito, Há escritores que a escrever amor é um mito; Há poetas que só falam d’amor no seu verso! Sempre houve ideias díspares, até ao infinito, Amor? O primeiro, sempre de ternura submerso, Amar perdidamente tem de sonho um terço, Nos romances muito d’esse amor está escrito! Amor surge como novidade, que embriaga, Co’o tempo, ora nos eleva ou logo nos esmaga, Amar sincero, muito, tem que se fazer por isso... Encanto? Desencanto? Amor, amar é surpresa, Que cada um deve gerir, fiel ou esperteza, Amor e amar é do mortal o eterno feitiço! Dolores Carvalho

Confesso tenho pena De mal saber rimar Mas quem me condena Não me deve condenar Não me deve condenar Porque fica sujeita A ninguém a louvar Com conversas de treta Com conversas de treta Não chegamos até ao mar Porque a ribeira é estreita Nunca vai lá chegar Adelaide Palmela


Setembro/Outubro 2016

Minha avózinha adorada Hoje estou feliz iluminada, Pela minha santa Avozinha, Por ela fui sempre amada, E o seu nome era Teresinha Muitas histórias me contou E, nos seus braço me enlaçava, Sempre deveras me apoiou, E, minhas lágrimas enxugava! Era simples real e sincera, E a todos tinha amizade, Pois eu hoje aqui na terra, Sinto profunda saudade! A graça que Deus lhe deu, No meu peito está gravada Merece estar lá no Céu Num cantinho abençoado! M. Laurinda

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Loucura

Feliz porque vivo e não estou morta Feliz porque de proveitoso Da vida tudo aprendi Desde que te conheci! E os anos passaram por mim Mascando minha alma perturbada Da vida algo espero ou talvez nada Feliz por amar alguém E esse alguém! Não sabe, e ainda bem Pois ninguém está livre de pecar Não em atos nem palavras Mas pensamentos profanos E quando nós alguém amamos Oh! Quanto é bom viver e recordar Tudo o que houver para dizer Saber calar… Saber esperar… E até chorar… Mas de alegria incontida Tudo faz parte da vida E eu só vivo para te amar. Laura Santos (Sely=Poemas)

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Mensageiro da Poesia - 17

Cantinho do Escritor

Mensagem Poética Olá Mensageiros (as) Começo por dar as boas vindas a Setembro. Imagino que devem ser poucos a fazê-lo, mas eu, por mim, não tenho razões para não o fazer. Continuo na Costa Vicentina, tentando suavizar as agruras da vida, olhando este mar por vezes bastante inquieto, com suas ondas de castelos de branca espuma, seu odor a maresia, que tanto me apraz. De vez em quando ,aparece uma atrevida gaivota a espreitar do alto do rochedo e eu fico embevecida com estas maravilhas da Natureza. Este mês, para muitos de regresso de férias, com alguns nervos à flor da pele com o recomeço da labuta diária e com o acréscimo do começo das aulas, que tantos receios e despesa vêm abalar as famílias sobretudo as mais desfavorecidas, o preço dos livros e do material escolar é de deixar os cabelos em pé. Para pais e crianças mais pequenas, é a expectativa das primeiras aulas para alguns, com entusiasmo; para outros, nem tanto, onde impera o nervosismo para pais e filhotes. No mês de Outubro, temos, no dia cinco, um feriado sempre desejado e esperemos que seja mais calmo, onde tudo vai voltando à normalidade. Por hoje, vou despedir-me. Espero que todos tenham tido um bom regresso, bom começo de aulas e, se possível, com uma dose de poesia. Um abraço Manuela Lourenço


Os Nossos Poetas

18 - Mensageiro da Poesia

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Amor com harmonia é luz O sol dá pão e também luz A água e o sangue da terra O pobre com muito suor produz Mas o poderoso faz a guerra A água é o sangue da terra Mas olha que do céu vai caindo Passa pela cidade e pela serra E quem é pobre vai sentindo O pobre com muito suor produz Pão para muita gente comer Há quem se lembre de Jesus Quando algo à sua mente vem ter Mas o poderoso faz a guerra Numa linda poltrona sentado Por vezes não é aquilo que era Mas canta muito bem o fado A humildade amor produz E também pode haver uma cruz Amor com harmonia da luz Manuel António Avelar

Pensamento Eu amo tudo o que foi Tudo o que já não é A dor que já me não dói A antiga e errônea fé O ontem que a dor deixou, O que deixou alegria Só porque foi, e voou E hoje é já outro dia. Fernando Pessoa

Setembro/Outubro 2016

Saudades Na tua carta amorosa, P'ra disfarçar falsidades... Num lindo botão de rosa, Vermelha muito mimosa, Tu me mandaste saudades. Com carinho eu recebi, As saudades que detinhas; E quando essa rosa abri, Foi com surpresa que vi, Que eram menos que as minhas. Porque nunca me escreveste Cartas de amor e verdades, Ao ler o que não disseste, Nas juras que não fizeste, Cresceram minhas saudades. E essas saudades mesquinhas Que um dia mandaste assim, Ao ver que eram pouquinhas, Juntei as tuas às minhas, Fiquei com todas p’ra mim. Depois de eu dar abrigo Às que mandaste meu bem; Ficaram todas comigo, E agora p’ra meu castigo, Eu tenho mais que ninguém!... Isidoro Cavaco

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Quando Quando meu corpo for apenas cinza morta, Continuará a vida: terra, céu e mar… E como hoje lindo, o Sol irá beijar As camélias vermelhas à tua porta. Outra, noutro Abril passeará no pomar Onde tantas vezes eu passei, E nas árvores em flor irá espalhar A beleza do sonho que eu sonhei. Será o mesmo ideal, a mesma brisa, O mesmo embalo doce que desliza, E o mesmo rubro êxtase a arder. A mesma prece cheia de luz e doçura, A mesma paz, carinho e ternura, E dentro de ti…Voltarei a viver! Maria de Lurdes Emídio


Setembro/Outubro 2016

Coisas da vida

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Maior amor que este não há, E tudo o resto é linda aguarela: Com tantos maus tratos que a vida nos dá, E nós a gostar tanto, tanto dela! Mesmo em situação De grande sofrimento, Chegado o trágico momento Em que pressentimos que as forças se vão, E sabendo nós que a vida é tão má, Teimosos, renitentes, Agarramo-nos a ela, Com unhas e dentes, E não consentimos que ela se vá! Soltamos, às vezes, um grande palavrão, “Que puta de vida!”, Mas logo freamos a taramela E, de forma incontida, Gritamos, bem alto: “Como é bela a vida!” “Gosto tanto dela!”. Armanda Rosa

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Sinistra Senhora Morrer estupidamente, Viver insidiosamente, Transcrever sem entender, Ilusoriamente se conhecer. Viajar por vias angustas. Perder-se nos caminhos terrenos. Afundar-se num mar de angústias. Tornar-se um furacão de medo. Insubstituível senhora! Cobrando-nos caro o viver. Lembrando-nos a toda hora, Como é raro o conhecer. Quando nos confrontamos com o pleroma Não se passa um só dia, Em que voltados para os nossos dramas, Ela não se faça ver. Se o momento nos liberta, Aparece finalmente o seu poder. Márcia Cristina de Moraes

Mensageiro da Poesia - 19

Os Nossos Poetas

Se a saudade tivesse asas Meu lençol da cor do céu Pedra dura é minha cama Não sei que sono é o meu Que o corpo não reclama No dia que tu partiste Até deixei de viver Eu não sei o que sentiste Mas eu senti-me morrer Mandei recado p' lo vento Para te ir procurar Voou o meu pensamento Com a brisa que ia a passar Se a saudade tivesse asas Eu a mandava voar Passar em todas as casas Todas as mágoas levar Quero a solidão distante P' ra não sofrer d' ansiedade A loucura é inconstante Empedrada de saudade Maria de Lurdes Brás

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Quimera Se o homem adulto tornasse À pureza e governasse Com a ternura E a candura De uma criança O mundo tornar-se-ia mais belo E mais puro. Assim, como adulto Com soberba E arrogância governa Com exacerbada Ganância de um predador. Sem fome Tudo come. Sem dor Sem um ui Nem sequer Um ai Destrói: sua mulher Sua mãe seu irmão e seu pai. Carmindo Carvalho


Os Nossos Poetas

20 - Mensageiro da Poesia

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Setembro/Outubro 2016

As netas

Diz-me baixinho Diz-me que ainda há sementes de amor… A medrar nos beirais das casas… Diz-me que não vou morrer de sede Em frente ao mar… Diz-me que ainda me amas… Mostra-me as flores do campo em dezembro… Que eu quero acreditar nos contos de fadas… Diz-me que ainda vamos plantar a poesia Debaixo de uma figueira E que eu vou acordar e ver o céu azul por entre as nuvens… Diz-me que a tua ausência não passou de um sonho mau… diz-me que nunca +partiste Onde estas agora? Faz-me uma sopa com meia-dúzia de beijos… Diz-me baixinho… o que nunca ouvi… Sílvia Martinho

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Divagando Na penumbra, sinto que meu ser se biparte, A alma, lentamente, a deixar a matéria, Vai habitar, tranquila, paragens outras; Após a doce viagem num carrossel de estrelas. Na imensidão do espaço infinito, Seguindo o cometa-guia, na esteira da saudade; Vou tecendo espirais de fios de luz, Para enfeitar o alvo altar da felicidade. Muito longe, ouço um festivo bimbalhar de sinos; O cantar dos anjos, em lindo coro, Chega com graça celeste, cheio de doçura, Completando o suave enlevo do arrebol do amor! In Saudoso: “Marcus Vinícius de Moraes” Poços de Caldas /MG/Brasil

A minha neta Carolina É uma miúda muito fina Todos dizem lá na escola Sabe bem o que fazer Para melhor aprender A puxar pela tola A minha neta Beatriz Como toda a gente diz É uma miúda educada Aprende com facilidade De todos ganha amizade É uma menina engraçada A menina Ana Rita É uma miúda bonita Que encanta toda a gente Sabe bem o que fazer Gosta muito de aprender Porque é inteligente. M. Martins Nobre

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Uma loucura de vaca Tenho uma vaca amorosa Que tem talento a rodos Bonita e muito vaidosa Das que dá leite pra todos. Às vezes a ruminar Cheia de sobranceria Sente-se o leite a pingar Parece uma leitaria. Dona de grande presença Até falou aos jornais Desmentindo essa doença Que hoje afecta os animais. Não é fama que eu mereça Nem tenho nada com isto Estou muito bem da cabeça Não é assim Sr. Ministro? Gritou até ficar rouca Eu não quero ir pra faca Não sou uma vaca louca Sou uma loucura de vaca. João Ferreira


Setembro/Outubro 2016

Persistência Caminhando levo lassos os meus braços Como lassos são os laços que carrego Nesta vida que se rege por compassos Da batuta do desnorte que renego. Cerro os olhos de cansaço e fico triste Em lamúrias me desfaço como se fosse Uma baga de azedume um pé em riste Uma lágrima de ciúme agridoce. O espaço que perpasso passo a passo É um sulco é um traço um resistir Ao convite que me faz o teu regaço Ao passar junto a mim com teu sorrir. Cada passo que é dado um estilhaço Que se crava no pescoço como a canga Que é posta rudemente no cachaço De quem cumpre tão-somente e veste ganga. Caminhando sempre avante ganho espaços Aos espaços que percorro nesta estrada Cada passo destes passos são o abraço Que é dado ao companheiro ao camarada. Arménio Correia

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Embriagues de nada Nesta embriaguês de nada… De calmaria ansiada Perturbação dos sentidos De frutos apetecidos Na noite que a acolheu Com cansaço adormeceu Até chegar a alvorada Já desperta acordada, Recorda o sonho vivido De um sono mal dormido Abraça o novo dia… E o sol que a acaricia, Aquece-lhe o coração Como por magia ou condão Prepara-se para mais uma jornada Nessa embriagues de nada… Manuela Lourenço

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Mensageiro da Poesia - 21

Os Nossos Poetas Praia e mar Vinte e nove, foi S. Pedro, Nesse dia muito cedo Praia da fonte da Telha. Vi rostos com muito amor Na sua pequenez e cor Com bonés sobre a orelha. Fila com longa distância Nada tinha importância Nem em mim pairava medo. A praia a ficar cheia Na pureza da areia No feriado de S. Pedro.

Eu sorri ao apreciar Os miúdos a chegar Foi o mais puro que Deus fez. Com seu balde e pá em punho Nesse lindo mês de Junho Nas férias do Português. Sorrisos e gargalhadas Nessas toalhas molhadas Entre o Sol, e o fresco mar. Nessas praias e areais Entre filhos, avós e pais Onde todos vão brincar. Na água hospitaleira Que parece uma banheira Não há imposto, eu creio. Entram todas as idades Com muitas facilidades Dos pais atenção e receio. A teu povo, dás um abraço, Se te tirarem o espaço Tens arte de empregador. Tanta água fresca e boa Dela a ave come e voa Dá trabalho ao pescador. José de Frias


Os Nossos Poetas

22 - Mensageiro da Poesia

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Setembro/Outubro 2016

Menino que vives na rua Menino que vives na rua Sem teres casa nem lar Às vezes no vão das escadas Para te poderes abrigar I Vieste ao mundo para viver Não sabes a origem de quem Vives sem ter ninguém Para te fazer crescer Para depois aprender Na vida que é a tua De noite quando a lua É cheia de luar Para te iluminar Menino que vives na rua

III Mal calçado e vestido Todos te dão o desdém Sonhas sempre com alguém Que venha a ser teu amigo Gostavas de ser ouvido A tua história contada Para ser avaliada E um pouco de atenção Tua cama é no chão Às vezes no vão da escada

II És chamado o sem abrigo Para comeres tens que pedir Algumas vezes fugir Teu nome é o mendigo Parece teres um castigo Para te acompanhar Ninguém te quer ajudar Ou mesmo compreender Nada podes fazer Sem teres casa nem lar

IV Os anos vão passando Deixas de ser rapaz Serás um dia capaz Mas tens que ir esperando Um dia não sabes quando O tempo há-de chegar Vais-te sempre lembrar Um dia de alguém Aquele que nada tem Para te poderes abrigar

Miraldino Carvalho

róximo mês: p o a r a p s a Tem o, Natal. rn e v In , o h n ti r São Ma

Moçoila formosa (aquela) Há muitos anos um dia Conheci uma garota Era tão linda, tão linda Mas também muito marota Era sábado, na matiné Com ela horas dancei Confesso que nesse dia Por ela me apaixonei Quando o baile terminou Saiu e nem mais a vi Por todo o lado a procurei E um grande vazio senti Onde ela está agora Confesso que eu não sei Escrevi-lhe esta cantiga Que agora mesmo cantei Refrão Moçoila formosa Vem cá ter comigo Quero ser teu amigo Dá-me a tua mão Eu dou-te uma rosa E um malmequer E se Deus quiser O meu coração. José Francisco Bento


Setembro/Outubro 2016

Sob a luz do sol Por todo o tempo que tenho vivido Meu olhar sente-se dolorido Porque o poder da riqueza Veste o homem de franqueza Neste mundo tão apodrecido. Sou o poeta que vai vivendo Meditando sobre a mãe terra Porque a fome, a miséria e a guerra Dá voltas ao meu coração cansado Envolto por ela com dor. Ouço Deus na minha poesia de amor! Em mim trago um gesto de bondade Neste dia de Primavera em flor. Meu grito vai mais além Levar ao Sol distante… O que meu coração sente, Sempre existiu no meu olhar… Para aliviar a dor, que Deus sente Sob a luz do Sol distante. Luís F. N. Fernandes

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Versos controversos Versos controversos, e que chegam a nós adversos e que chocam a alma por dentro. Trovador declama, com potência de voz! Desgarradas são desafiadas ao centro Controversos, animados ao desafio fado que virou a cancioneiro imortal brilham as pautas, com músicas de arrepio o turismo aplaude – nosso Portugal Versos controversos e deixados ao vento mão do autor, desafiando o parlamento desmascarando a política dos perversos Controversos, que andam à sombra da rosa descarrilam na problemática duvidosa… Há versos de revolta, que andam imersos Pinhal Dias (Lahnip) PT (In: “Memórias em versos”)

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Mensageiro da Poesia - 23

Os Nossos Poetas

Poema para uma amiga

Esperando Tua alma Vive em desejos de ternura De amor e carinho Espiritual És como uma andorinha De asa ferida Procurando ternamente O seu beiral Teus olhos derramam ondas De bondade Menina nasceste para amar E precisas de encontrar No amor uma verdade Para todo o teu ser desabrochar És frágil e forte ao mesmo tempo É de Deus que te vem Todo esse alento Porque o mereces E neste mundo sofredor Teus braços se erguem Teu peito se abre Com ternura e encanto Para todos os que sofrem Podes mitigar a tua dor E tu andorinha Já tens o teu beiral Espera com fé Que Deus te envie O teu amor da verdade O teu anseio, o teu ideal. Ivone Mendes


Os Nossos Poetas

24 - Mensageiro da Poesia

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Um beijo com amor

Jesus Cristo Maior que o sol Maior que a lua És a força que preciso Para respirar

Um beijo com amor Quando ele é verdadeiro Pode nascer o perdão No momento derradeiro I Filha te vi nascer Logo te ouvi chorar Meu rebento para criar Depois te fiz crescer Também te fiz aprender Eu fui teu criador Sempre o mesmo dispor E a mesma confiança Recordo-te de criança Um beijo com amor

III Aos vinte anos te casei No mesmo ano fui avô Tudo por mim se passou O que nunca imaginei Muito de ti esperei Eu nunca fiz questão Seis anos já lá vão Depois desta mudança Naquele dia de esperança Pode nascer o perdão

II Eu te dei a criação Nela muito trabalhei Com o esforço te criei Fiz minha obrigação Sempre te dei atenção Estavas sempre primeiro Sempre que havia dinheiro Eu gostava de comprar Devias sempre lembrar Quando ele é verdadeiro

IV Filho és, pai serás Seja homem ou mulher Tudo o que se fizer Assim tu receberás O tempo tudo nos trás Ele é o justiceiro É o melhor companheiro Que nos ajuda a vencer E nos faz compreender No momento derradeiro

Lúcia Carvalho

Setembro/Outubro 2016

Maior que a estrela Maior que a terra És todo o poema Que a mensagem encerra Maior que o mar Maior que o vento És toda aluz Do meu pensamento Maior que o mundo Maior que o universo És as palavras Deste simples verso Maior que o homem Só trazes amor Tu és meu guia E o meu salvador És a minha vida Por isso eu existo O meu conselheiro És tu Jesus Cristo Berta Rodrigues

O Grupo de Arte Musical - As Cores O Grupo de Arte-Musical AS CORES, criado em 2008 pela sua atual responsável, atingiu um elevado nível de desempenho participando em espetáculos diversificados por todo o território nacional e várias presenças em vários canais de televisão. Tem dinamizado parcerias com outras instituições, como os Filhos do Coração que luta contra a escravização de crianças no Gana. Desenvolve padrões de socialização e integra os alunos na aprendizagem musical e movimento corporal que se materializam com as brincadeiras e os afetos, conseguindo atingir a estabilidade emocional de grupo. Desta forma, crianças e jovens introvertidos com dificuldades de relacionamento e de integração ganham nova vida ao serem respeitadas no ambiente em que se inserem ao participarem nas atividades sem distinção. Aqui transformam-se em seres humanos realizados e capazes de enfrentar os desafios mais difíceis acabando por constituir casos de sucesso e de prestígio social. O grupo já conta com 2 Livros + CD, editados pelo CCRAM e um terceiro CD está para muito breve. Ana Cristina Videira


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Setembro/Outubro 2016

Mensageiro da Poesia - 25

Os Nossos Poetas

Ao nosso Portugal Nosso querido Portugal Esta pequena nação A governa-lo tão mal Levam-no à destruição.

O amor de mãe

Fizeram a revolução Para o País melhorar Formaram a constituição Só tem vindo a piorar.

Ó meu poderoso Senhor Para que nada de mal aconteça Cuide de minha filha com amor Ajuda-a na operação á cabeça

No tempo da ditadura Faziam coisas tão más Mas em qualquer criatura Sentia-se carinho e paz.

Que a sua operação seja perfeita Que seja com muito sucesso Dá-lhe Senhor sua mão direita Deus Senhor, eu lhe agradeço

O Senhor é nosso amigo E eu pedi-lhe protecção Para ele ficar contigo Ficar contigo e dar-te a mão

Com força e fé eu peço Esperança na sua saúde Minha filha, não esqueço Peço que Deus a ajude

Agora vou-lhe agradecer Com amor e alegria E ele não te irá esquecer Ficando contigo noite e dia

Senhor és dono do mundo Á minha filha dá protecção Ela para mim é tudo Dá-lhe muita atenção

E hoje a falar contigo Ainda percebi melhor O Senhor era-te livrar Do sofrimento e da dor

Tenho respeito por o que vem Deposito no Senhor confiança E no seu poder tão bem Vou vivendo com esperança

Salva a minha filha por favor Eu te peço e imploro Salva minha filha meu Senhor Aquela que eu tanto adoro

A minha rosinha em botão Vai sempre continuar a ser Não quero triste seu coração Fortes temos que tentar ser

Peço sempre em oração Pra minha filha proteger Ela é a minha salvação Salvação do meu sobreviver

Emídia Guerreiro Salvador

Caminhava-se à vontade Fosse criança ou velhinho Hoje com tanta liberdade Não se pode andar sozinho. Os campos do Alentejo Cobertos com seus trigais Agora olho, o que vejo! São enormes matagais. Montes de branco caiados Ao longe se podiam ver Hoje caem desmoronados Sem ninguém neles viver. É muito triste afinal Chegar a esta situação Nosso querido Portugal Esta pequena Nação. Francisca São Bento


Os Nossos Poetas

26 - Mensageiro da Poesia

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Setembro/Outubro 2016

De nada serviu tanto aviso! Ouvindo falar o Senhor Quintanilha Duma pequena ilha, Desabitada, verdadeiro Paraíso, Uma manhã, meteu ele tudo o que era preciso Dentro do seu pequeno barco à vela, E sem aos conselhos da mulher dar trela, Ele aí vai rumo à ilha, todo contente. Mal põe ele o pé em terra segura, O que é que ele vê na sua frente? Um enorme cartaz, onde, em toda a sua grandura, Em letras bem gordas, estava grafado “Cuidado com o tarado!” Não obstante ter da vida grande trato, Sem olhar pra trás, Destemido, embrenha-se no mato, E à medida que avança, intrépido, sereno, Vê sempre o mesmo cartaz, Mas cada vez mais pequeno. Até que, a certa altura, Pra poder enxergar E do minúsculo cartaz fazer a leitura, Teve de todo se curvar. Estava ele nesta triste posição, Quando sentiu ser por detrás agarrado, Que alguém lhe tirava o calção, E de modo bem brusco, ser penetrado! Quando liberto se sentiu Cheiinho de medo, Bem na sua frente, o que é que ele viu? Um gigante enorme, Grotesco e disforme, Que no seu rosto lhe apontou um grande dedo, Ao mesmo tempo que lhe falava, em tom agreste: “Curioso, não soubeste te conter… Deste prova de não teres grande juízo… Levaste no rabo, porque assim quiseste. E, agora, não vás dizer Que foi… por falta de aviso! Hermilo Grave

A irmã que eu perdi Foste bonita e graciosa Distribuías simpatia, Mas eras também vaidosa E tudo o mais que havia. Conseguiste ser feliz, Vencendo os obstáculos Que a vida por vezes traz. Foste forte e valente, Olhando sempre de frente Sem nunca olhares para trás. Fizeste o teu mundo belo, E cheio de fantasias, Olhavas à tua volta E só vias o que querias. Nele só existia, Beleza, conforto, alegria, Não davas sequer lugar À tristeza e ao azar, Por esse teu belo mundo Sempre pronta a lutar. Mas um dia tudo mudou, E tiveste de abdicar, Dessa tão bela vida Que teimavas em conservar. Veio a doença e venceu, Levou-te toda a alegria E tudo o que era teu. Partiste e eu tão distante Nem pude dizer-te adeus, Mas fica sempre a lembrança Dos bons tempos vividos De toda a nossa infância. Mas tenho ainda a esperança Que um dia te encontrarei, Nesse distante mundo do Além. Rosa Martins


Sophia de Mello Breyner Andresen

Setembro/Outubro 2016

Y

Mensageiro da Poesia - 27

Poetisa em Destaque

O seu nome próprio tem origem no grego Sophia, que significa literalmente “sabedoria” e “sabedoria divina”, o que estava de acordo com todo o vasto conhecimento desta excelsa poetisa, nascida no Porto, a 6 de novembro de 1919 e falecida em Lisboa, a 2 de julho de 2004. Estreou-se nas artes literárias com o livro Poesia, no ano de 1944, revelando aí toda a sua vocação na arte de versejar, traduzida numa enorme simplicidade de linguagem, realçando todo o esplendor da Natureza e o amor que ela dedicava ao seu semelhante. Em O Livro VI, Grande Prémio de Poesia da Sociedade Portuguesa de Escritores, em 1964, estas qualidades estão bem presentes e fáceis de descortinar ao leitor atento e avisado. Tinha Sophia uma maneira própria de escrever e nunca se preocupou com escolas, correntes ou modas (“sempre a poesia foi para mim uma perseguição do real. Um poema foi sempre um círculo traçado à roda de uma

coisa, um círculo onde o pássaro do real fica preso”). Prossegue nas obras seguintes: Geografia (1967), Dual (1972), O Nome das Coisas (1977, Prémio Teixeira de Pascoaes), Navegações (1983), Ilhas (1989)… Também foi autora de textos em prosa, principalmente Contos Exemplares (1962), Histórias da Terra e do Mar e contos para crianças. Apesar do seu nome estrangeirado, devido à origem dinamarquesa do seu progenitor, Sophia era bem portuguesa, nascida no Porto, e teve uma educação aprimorada num meio aristocrático, o que não a impediu de estar ligada à luta antifascista e de ter lutado audaciosamente pela liberdade do nosso povo, tendo sido, logo após o 25 de Abril, deputada à Assembleia Constituinte. Na antologia Grades, estão inseridos os seus principais poemas de resistência política. A sua carreira literária foi consagrada com o Prémio Camões, em 1999. Hermilo Grave e Donzília Fernandes


Segredo é Amar

Setembro/Outubro 2016

Soneto à maneira de Camões

28 - Mensageiro da Poesia

Esperança e desespero de alimento Me servem neste dia em que te espero E já não sei se quero ou se não quero Tão longe de razões é meu tormento. Mas como usar amor de entendimento? Daquilo que te peço desespero Ainda que mo dês – pois o que eu quero Ninguém o dá senão por um momento. Mas como és belo, amor, de não durares, De ser tão breve e fundo o teu engano E de eu te possuir sem tu te dares. Amor perfeito dado a um ser humano: Também morre o florir de mil pomares E se quebram as ondas no oceano. Sophia de Mello Breyner Andersen

e-mail: mensageiropoesia@gmail.com http://.facebook.com/mensageirodapoesia.com


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