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As provações continuam

Strand6 para um galão de melaço ou aguardente, conforme o caso exigisse, e “circular ao redor”, como ela se expressa. Era uma vida que lhe convinha na época, desprovida de dificuldades ou terror, assim como de progresso; uma necessidade que ainda não havia se tornado um desejo. Em vez de melhorar neste lugar, moralmente ela retrocedeu. Seguindo o exemplo deles, aprendeu a praguejar; e foi aqui que ela disse seu primeiro palavrão. Depois de morar com eles por cerca de um ano e meio, ela foi vendida a um John J. Dumont, pela soma de setenta libras. Isso foi em 1810. O senhor Dumont vivia no mesmo município que seus antigos senhores, na cidade de New Paltz, e ela permaneceu com ele até pouco tempo antes de sua liberdade pelo Estado, em 1828.

6 Rua comercial à beira do rio Hudson, em Ulster.

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SUA POSIÇÃO PARA COM OS NOVOS SENHORES

Tivesse a senhora Dumont a veia da bondade e consideração pelos escravos, tão perceptível no caráter do marido, Isabella teria ficado mais confortável, ou o que se possa chamar de conforto na vida de um escravo. Senhor Dumont fora criado no seio da escravidão e, sendo naturalmente um homem de sentimentos gentis, tratava seus escravos com toda a consideração que ele dedicava a seus outros animais, talvez mais. Mas a senhora Dumont fora criada e educada numa família que não era proprietária de escravos, e como muitas outras, acostumada somente a trabalhadores que recebiam pagamento e, diante desse que é a mais estimulante das motivações humanas, se dispunham a empregar todas as sua energias no serviço. Assim, não tinha paciência com o andar rastejante, com a estupidez e nem via qualquer justificativa para as maneiras apáticas

e os hábitos descuidados e desleixados dos pobres oprimidos, esquecendo-se completamente de que as motivações mais nobres e eficientes foram negadas aos escravos, e que o próprio intelecto deles havia sido deliberadamente esmagado para que não tivessem consciência de seu despojo e sua desesperança. A partir daí teve início uma longa série de provações na vida de nossa heroína, que devemos passar em silêncio; alguns por motivos de delicadeza e outros porque seu relato pode infligir dor imerecida a alguns que agora vivem, dos quais Isabella se lembra com estima e amor; portanto, o leitor não ficará surpreso se nossa narrativa parecer um pouco contida neste momento, e pode ter certeza de que não é por falta de fatos, pois os incidentes mais comoventes dessa parte de sua vida serão suprimidos por vários motivos.

Um incidente relativamente banal que ela deseja contar causou uma profunda impressão em sua mente na época — mostrando, como ela pensa, como Deus protege os inocentes e os faz triunfar sobre seus inimigos, e também como ela ficava entre o senhor e a senhora. Em sua família, a senhora Dumont empregava duas meninas brancas, uma das quais, chamada Kate, demonstrou disposição para “senhorar” Isabella e, em sua linguagem enfática, “reduzi-la a pó”. Seu senhor muitas vezes protegia Isabella dos ataques e das acusações de outros, elogiando-a por sua prontidão e capacidade de trabalhar, e esses elogios pareciam estimular um espírito de hostilidade

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