Jornal Cobaia - edição #135

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Cobaia

Itajaí, abril de 2015 Edição 135 Distribuição gratuita

J OR NA L L A B O RAT Ó R I O D O CUR S O D E JO R N A L IS MO DA U NIVALI

Foto: Ainhoa Sanchez

Volvo Ocean Race Páginas 8 e 9

Série Tecendo Perfis

Alessandra Ogeda foi premiada na categoria Mídia Impressa - página 15

Os dois lados da mesma celebração: o religioso e o comercial - página 12

Fotos: Arquivo pessoal

Entenda os problemas com a carteirinha do estudante

Foto: Marco Santiago/Divulgação

Foto: Olga Luisa dos Satnso

Irene, na quarta parte da série de matérias extraídas do TCC de Olga Luisa dos Santos - página 16

Egressa recebe Outros olhares sobre prêmio da ONU a Páscoa

página 13


Editorial

Crônica

Na boca da barra

Crescer pra onde? Por Thiago Furtado

Jane Cardozo da Silveira*

O

mar, os ventos, a boca da barra do Itajaí-Açu. Nesse cenário poético, é fácil ter inspiração para boas matérias. Abril foi generoso com a equipe do Cobaia, porque neste mês tivemos oportunidade de cobrir os bastidores de uma competição esportiva de dimensão mundial: a Volvo Ocean Race, regata de volta ao mundo que desde 2012 incluiu Itajaí entre seus pon-

Nem bem os veleiros partiram e já estamos em outro agito: Olhares Múltiplos 2015 - dias 5, 6 e 7 de maio tos de parada. O acadêmico Gabriel Elias acompanhou, como repórter, o cotidiano na Vila da Regata e ainda atuou como intérprete junto ao

Centro de Imprensa montado para o evento. O resultado dessa experiência fascinante ele compartilha nas páginas centrais (8 e 9). Nem bem os veleiros partiram, encerrando a etapa local da VOR, e já estamos envolvidos em outro agito: Olhares Múltiplos 2015, promovido pelo Centro de Ciências Sociais Aplicadas – Comunicação, Turismo e Lazer, entra no circuito acadêmico dias 5, 6 e 7 de maio sacudindo a galera nos campi Balneário Camboriú, Itajaí e Florianópolis. Informações preliminares estão disponíveis nesta edição e a cobertura em tempo real das palestras, oficinas e bossas você acessa no endereço https://www. facebook.com/olharesmultiplos. Vale conferir e participar. Mesmo porque os sintonizados de plantão costumam ser bem sucedidos.

Leia a respeito na página 15. Esperamos que exemplos como os de Ogeda inspirem todos os profissionais em formação, estejam eles cursando Jornalismo ou qualquer outra das mais de 30 graduações oferecidas pela Univali. Parte considerável desse público, por sinal, deve se ligar na página 5, em que nossa repórter estreante, Bruna Costa Silva, do 1º período, encara o desafio de destrinchar os problemas vividos por quem apostou no FIES pensando em cobrir os custos do ensino superior. Para compensar tais agruras, ainda bem que temos o mar, os ventos, a boca da barra... Boa leitura!

É o caso da nossa egressa Alessandra Ogeda. Jornalista formada aqui na casa, Ogeda teve reconhecida a série de reportagens que produziu para o jornal “Notícias do Dia” sobre agricultura familiar. O trabalho de fôlego, que partiu de uma pauta conhecida e a virou do avesso, mereceu prêmio da Unesco.

Jane Cardozo da Silveira *Editora - Reg. Prof. SC 00187/JP

Fica esperto! Idas e vindas

De 4 a 6 de junho, Joinville recebe o XVI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul. O tema, “O desafio de pensar a comunicação no processo de construção da cidade espetáculo”, remete a uma tradição de estudos críticos que investigam a onipresença dos meios de comunicação na formação do imaginário social. As inscrições, que variam entre 30 e 60 reais para estudantes de graduação, vão até o dia 18 de maio, sem restituição da taxa em caso de desistência. Na programação estão mini cursos e oficinas, palestras, mesa de debates e atividades culturais. O evento se realiza na Univille, em Joinville. Mais informações pelo site intercomsul.univille.br

poroesdecadernos.tumblr.com

Tem algum assunto que você gostaria de ler nas próximas edições? Conte-nos! E-mail: cobaia@univali.br

Expediente JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVALI IN - Agência Integrada de Comunicação Itajaí, abril de 2015. Distribuição gratuita EDIÇÃO Jane Cardozo da Silveira Reg. Prof. SC 00187/JP

Você é conectado. O Cobaia também! issuu.com/cobaia 02

Confira mais trabalhos do Thiago em:

Espaço do Leitor Encontro de comunicadores

Nesta edição, nós nos despedimos da acadêmica Bárbara Porto Marcelino que, depois de completar período de estágio na Agência IN dedicado às edições do “Cobaia”, entrou no mercado de trabalho com conhecimento e capacitação. Nós a parabenizamos por esta conquista, desejando sorte e sucesso. Deixamos aqui o abraço e o carinho dos amigos que, com certeza, sentirão sua falta. Quem assume a partir deste mês a vaga de estagiário na redação do Cobaia é o acadêmico Gabriel Elias, que já vinha prestando serviço voluntário a este jornallaboratório desde o ano passado. Nossa gratidão a Bárbara e boas vindas ao Gabriel!

A gente tem muita gente E é gente que tem andado Com mania de querer crescer Os movimentos todos são espasmos Da vontade de expandir Meu caro, se puderes me responde Crescer mais pra onde? Se a cada passo do homem O bicho se esconde Faz um buraco Se embrenha no mato Que ainda restou Não ardeu na fogueira Que o vento alastrou E queimou a floresta Que o tempo cultivou É difícil entender Mas anda tudo muito fácil E eu nem acredito Prédio em cima de fóssil Se troca macaco por pirulito Natureza clama, reclama Diz que é mana e maná Emana seu último grito Chamando pra perto Esse bicho feroz Que se diz esperto Mas da própria Mãe Não ouve mais a voz

PROJETO GRÁFICO Raquel Cruz DIAGRAMAÇÃO Estagiário Gabriel Elias da Silva TIRAGEM 2 mil exemplares DISTRIBUIÇÃO Nacional Cobaia

Itajaí, abril de 2015


Feliz dia do trabalhador! São os desejos da equipe do Jornal Cobaia e da Agência IN.

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Crônica

A dor crônica Thomas Falconi*

E

le era só mais um homem. Um daqueles tipos que acordam, trabalham, estudam e dormem e fazem coisas comuns nos intervalos de tempo entre essas quatro grandes coisas comuns. A vizinha dele era só mais uma senhora. Uma daquelas que se aposentou após uma vida de desgaste sem planejamento e que mal conseguiu comprar um cubículo que ela chama de apartamento. Ela vivia apartada a maior parte do tempo, e só saía para comprar coisas, comidas e remédios para seu apartamento. Em uma dessas saídas, ela encontrou com ele enquanto os dois esperavam o elevador. Ela, que estava meio curvada para frente, foi logo se justificando. “É uma dor crônica na coluna”, disse ela. “Começou de repente, minhas costas estalaram e nunca mais pararam de doer”. Na hora, ele mal deu importância à situação. Quase maquinalmente, ele a con-

solou e a ajudou a entrar no elevador. Foi só no fim do dia, enquanto fazia uma coisa comum – escovar os dentes –, que ele parou para pensar na senhora, sua vizinha. Em um estalo, veio a pergunta agonizante. “Por que as pessoas fazem coisas?”. Essa questão meio mal elaborada foi resultado de uma série de assuntos sobre os quais ele nunca tinha pensado antes, e que começaram a perturbar a vida dele de uma forma assustadora. Ele não entendia mais o que fazia as pessoas acordarem, levantarem, trabalharem, estudarem, comprarem, e fazerem todo aquele resto de coisas comuns. Não entendia mais o porquê nem o pra quê. Ela sofria para fazer as coisas comuns. Aquela dor que convivia com ela todo o tempo, a atrapalhava quando andava, quando escovava os dentes, quando ia ao mercado, à farmácia, ao banco, quando cozinhava, tomava banho. A dor a atrapalhava

até enquanto ela discava números de telefones. Ela, porém, nunca sofria ao segurar o telefone próximo ao ouvido, afinal, o telefone dela nunca conseguia conexão com outros. Ela também não sofria muitas vezes para abrir ou fechar a porta, só quando ela própria precisava sair ou entrar. Ele começou a sofrer ao fazer coisas comuns. Ele não conseguia mais andar, escovar os dentes, ir ao mercado, ao trabalho, às aulas, sem aquele pensamento que o fazia questionar tudo. O que levava aquela senhora do apartamento do lado a ainda viver? O que fazia ele próprio estar fazendo aquilo que ele estava fazendo? Por que as pessoas fazem coisas? Até virar a chave para destrancar a porta virou motivo de questionamento na cabeça dele. Todas as coisas comuns que ele fazia deixaram de ser simplesmente coisas comuns. Ele, que não era acostumado a

fazer coisas incomuns, começou a ficar incomodado com a insistência da própria mente em tentar entender tudo sobre tudo sem entender nada sobre nada. Ela resolveu assistir televisão. A dor na coluna, entretanto, a impedia de se sentir confortável. Ele resolveu assistir televisão. O questionamento insistente de seu cérebro, entretanto, o impediu de se sentir confortável. Ela procurava, em vão, uma posição no sofá em que a dor não a atrapalhasse. Ele procurava, em vão, uma posição no sofá em que a questão inoportuna não o atrapalhasse. Ela virava, revirava e desvirava, mas a dor não a abandonava. Ele virava, revirava e desvirava, mas a questão não o abandonava. Ela foi para a cama e tentou dormir, mas a dor não deixava. Ele foi para a cama e tentou ir dormir, mas a questão não deixava. Qualquer remédio que ela tomava não era suficiente. Ou

ela sentia algum efeito colateral pior que a dor ou a dor não passava, ou ambos. A ela restava apenas tentar fazer suas coisas comuns e se acostumar com a dor na coluna, carregar a dor junto com ela para onde ela fosse, junto com qualquer coisa que ela fizesse – afinal, ela precisava fazer suas coisas comuns... ou não? A cabeça dele estava tomada por perguntas como essa. Qualquer resposta que surgia não era suficiente. Ou a resposta fazia surgir uma dúvida pior, ou não respondia nada, ou ambas as coisas. A ele restava apenas fazer suas coisas comuns e se acostumar com aquela questão fundamental meio mal elaborada que ele mesmo elaborou, carregar a questão junto com ele para onde ele fosse, junto com qualquer coisa que ele fizesse – afinal, ele precisava fazer suas coisas comuns... ou não? Por que as pessoas fazem coisas?

A luz da lua se refletiu naquelas moedas Thomas Falconi*

A

luz da Lua se refletiu naquelas moedas, mas não tocou ninguém. Você já reparou que a luz da Lua nos toca sempre que saímos à noite? Talvez as luzes da cidade, talvez a eletricidade efervescente das sinapses dos nossos cérebros... não vemos a luz da Lua. Não somos como o mar, que reflete a luz da Lua e ainda vai e vem, de acordo com o que a Lua deseja. Não deixamos a Lua nos movimentar. Aquelas moedas refletiram a luz da Lua. Eram pouquíssimas moedas, para nós que não notamos a luz da Lua. Mas as mãos que seguravam aquelas moedas estavam cheias. O corpo corcunda, apoiado por uma bengala, se esforçava para manter o equilíbrio e contar o valor de cada uma das refletoras da luz da Lua. Os grandes cabelos e a barba volumosa, ambos brancos, funcionaram

como uma segunda Lua, refletiam também a luz da Lua. Se a Lua reflete a luz do sol, como chamar algo que reflete a luz da Lua? Ninguém nota a luz da Lua. Ninguém notou aquela Lua que segurava Luazinhas. Que valor tem aquelas Luazinhas? Aquelas moedinhas talvez tivessem para o senhor dos cabelos brancos o mesmo valor que a Lua tem para o mar. Aquelas moedinhas provavelmente moveram, por algum tempo, a vida daquele senhor que vagava pelas calçadas iluminadas artificialmente. O mar reflete a luz da Lua. Talvez os reflexos nas barbas e cabelos brancos fossem das moedinhas. É bem provável que aquelas Luazinhas tenham sido mais sensíveis à luz da Lua do que à luz da iluminação pública, e tenham fornecido a luz necessária para a cabeleira branca funcionar

como Lua. Mas nós temos nossa iluminação artificial, não precisamos desse monte de Luas. Temos Luas em potencial demais para nos preocuparmos com essas Luas vagantes. Temos Luas em potencial demais para nos tornarmos Lua. Temos Luas em potencial demais para enxergar essas Luas que não são nossas. Nossa rede de sinapses mantém nossos cérebros concentrados demais nas nossas próprias Luas para que enxerguemos a Lua. A Lua está lá, bem no alto. Talvez até seja por isso que não a enxergamos. A luz da Lua toca as nossas cabeças, mas não nos toca, por causa da energia efervescente que corre nos nossos cérebros. Não precisamos da ajuda da Lua para nos mover. Nós somos movimentados por nossas próprias Luas. A Lua está na calçada ao lado, mas não a vemos, a ilu-

minação artificial a ofusca. As Luas brilham ao nosso lado, mas, quem liga? Aquelas Luas não são nossas Luas. Nossas Luas são só nossas. Não precisamos de nenhuma Lua alheia. Temos nossa energia efervescente, temos nossa iluminação pública. Nós somos nosso próprio mar, somos reflexos de nós mesmos, temos nossas próprias Luas, somos nossa própria Lua. Que belas Luas nós somos! Somos Luas que não refletem a luz de nenhum sol. Somos Luas que não deixam que nada nos reflita. Somos Luas que não movem nada. Uma Lua sozinha, parada lá no topo do mundo, consegue movimentar mares. Nós, projetos inacabados de Luas, não movemos sequer moedinhas! Aquelas moedinhas moveram a vida daquele senhor corcunda. Aquelas Luazinhas movimentaram um pequeno mar

que caminhava na calçada ao lado. Nós, rascunhos mal feitos de Luas, sequer nos permitimos enxergar outras Luas. Não enxergamos nem aquela Lua gigante que reflete a luz do sol, toda noite, sobre nossas cabeças. Nossa iluminação artificial e nossa efervescência de sinapses nos cegam diante de nós mesmos. Não enxergamos sequer a nossa própria Lua.

*Thomas Falconi é acadêmico do quinto periodo de Jornalismo

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Cobaia

Itajaí, abril de 2015


Educação

Acionar FIES vira desafio em 2015 MEC aponta sobrecarga no site como causa do problema e Univali orienta os candidatos ao programa Bruna Costa Silva

E

studantes que vinham pagando o curso superior por meio do Programa de Financiamento Estudantil (FIES) do Ministério da Educação têm enfrentado dificuldades para renovar o contrato com o MEC. Em janeiro de 2015, o site (SisFIES) ficou fora do ar, voltando apenas em fevereiro para os aditamentos, ou seja, a renovação semestral do contrato para quem já usufruía do programa. A data de abertura para novos solicitantes, prevista para 27 de fevereiro, não foi cumprida: sistema fora do ar, instabilidades, lentidão, pedidos recusados sem explicação e mensagens de erro são relatados com frequência por estudantes estressados diante de tantos obstáculos. Segundo o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), que administra o FIES, o site tem passado por algumas atualizações e seria este o motivo da dificuldade para finalizar as inscrições. O problema atinge os acadêmicos da Univali. De acordo com a professora Márcia Roseli da Costa, responsável pela Gerência de Atenção ao Estudante: “Tanto a universidade quanto os alunos estão tentando se adaptar a essas

novas regras e dificuldades que surgem no próprio site do SISFIES. Nós não conseguíamos dar continuidade ao procedimento e os alunos não conseguiam contratar, tínhamos todo um planejamento e não conseguimos dar continuidade a ele”. Para os novos contratos feitos a partir do fim de março, o MEC não está concedendo 100% de financiamento nem mesmo a quem atende a todos os critérios exigidos para comprovação da carência. A situação levou a Univali a firmar um termo de responsabilidade com os alunos: estes, ao assinarem o contrato com o FIES, declaram estar cientes de que o valor repassado não cobre toda a mensalidade. A professora Márcia salienta que a Universidade está procurando esclarecer os acadêmicos quanto às mudanças sofridas pelo FIES: “Estamos aqui com o nosso grupo da Comissão Permanente de Supervisão e Acompanhamento (CPSA) informando os próximos passos, todos os trâmites - que inclusive têm mudado constantemente nas últimas semanas – e dando suporte para os casos mais difíceis. Estamos trazendo o aluno para próximo de nós, resolvendo junto

com eles”. A estudante de jornalismo, Eliz Maria Haacke, conta como foi a sua experiência na solicitação do programa. “A maior dificuldade foi o site, não carregava, e quando carregava era metade da página, fiquei horas e horas fazendo a inscrição. No meu caso, a Univali ajudou bastante, quase todos os dias eu estava na Gerência de Atenção ao Estudante tirando dúvidas com relação à inscrição e sempre fui bem atendida. Talvez se existisse um guia de como fazer a inscrição no portal do aluno, teria ficado mais fácil. Acredito que a demora para efetuar a inscrição é por causa do número de acessos, o site ficou sobrecarregado e por isso demorava. Esperamos que o governo não corte o FIES, mas ultimamente não dá pra ter certeza de nada”. A reportagem do Cobaia entrou em contato por e-mail com a assessoria de comunicação do FNDE para saber os motivos dos problemas relacionados ao FIES em 2015. Acompanhe a entrevista com o assessor Luciano Machado. COBAIA: O que está realmente acontecendo com o programa?

Requisitos

Como era

Taxa de Juros

6,5% ao ano

Prazo para quitar a dívida:

LM: Em primeiro lugar, é importante reafirmar: os contratos já existentes com o Fies estão assegurados. O prazo para aditamento e para novas inscrições vai até o dia 30 de abril. FNDE e Ministério da Educação estão trabalhando continuamente para garantir estabilidade ao Sistema Informatizado do Fies (SisFies), seja para aditamentos de contratos ou para novas inscrições. Ocorre que a grande demanda registrada desde o início do período de inscrições causou impacto no desempenho dos servidores do Fies. COBAIA: Os boatos da falta de verba são reais? LM: Cerca de 1,7 milhão de estudantes com Fies contratado (de um total de 1,9 milhão) já iniciaram o processo de aditamento, e 196 mil novos contratos já foram fechados neste ano. COBAIA: Que posição o MEC pode dar aos alunos que estão passando por dificuldades? Quando esta situação deve se normalizar? LM: Com os ajustes feitos já feitos, o MEC e o FNDE esperam que o processo de inscrição e aditamento ocor-

ra com menos problemas até o dia 31 de maio, último dia do prazo. COBAIA: O programa continuará existindo futuramente para novos solicitantes? Caso ocorram problemas para fazer o aditamento ou se inscrever no Fies, pedimos aos estudantes que entrem em contato via central telefônica gratuita, no número 0800616161. O estudante também pode enviar mensagens eletrônicas através do SisFies, clicando na opção ‘Contato’. Também é importante lembrar que a partir deste ano o Fies passou a exigir mais qualidade dos cursos das instituições de ensino superior. Funciona assim: há atendimento pleno aos cursos nota 5 (nota máxima nas avaliações do MEC). Com relação aos cursos nota 3 e 4 são considerados alguns aspectos regionais, ou seja, cursos e localidades que historicamente foram menos atendidos terão prioridade. Para resumir, as requisições de novas inscrições são liberadas por instituição de ensino e por curso, em ordem cronológica, ressalvados os critérios de qualidade, distribuição regional e disponibilidade de recursos.

Como fica 3,4 % ao ano (a partir de 2010)

Carência de 12 meses para começar a pagar, restante do saldo devedor dividido por um tempo equivalente a duas vezes o período financiado do curso.

Carência de 12 meses, o estudante passa a ter três vezes o período financiado do curso para pagar. Em um curso de quatro anos, o prazo seria de 12 anos para quitação da dívida.

Não existia essa possibilidade.

Para estudantes de licenciatura e medicina, cumprindo 20h semanais o ministério abate 1% da dívida a cada mês de trabalho. (A partir de 2010)

Caixa Econômica Federal.

FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação.)

Fiador:

Apresentação obrigatória.

FGEDUC (Fundo de Garantia de Operações de Crédito Educativo) isenta alguns estudantes para apresentação de fiador.

Carência na residência médica:

Não existia possibilidade.

Os estudantes formados em medicina que optarem por ingressar em programas de residência médica credenciados pela Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM) terão a carência estendida por todo o período de duração da residência.

Abatimento do saldo devedor:

Agente Operador:

Enem:

400 pontos. (Não havia mínimo de nota para redação)

450 pontos e ter nota superior a zero na redação. (A partir de 30 de março de2015) Estão isentos deste quesito os estudantes que forem professores permanentes da rede pública de ensino.

Fonte: www.mec.gov.br Itajaí, abril de 2015

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Cultura

N

Tradições ucranianas Guarapuava: onde a Páscoa típica sobrevive no Brasil Nathalia Fontana Metelski

que com certeza os primeiros descendentes de ucranianos tinham mais enraizados em si essa cultura, essa valorização, mas percebo um resgate bem grande da cultura ucraniana em vários aspectos, um deles a confecção das pêssankas”- afirma Maria Rosa. Mas não apenas de pêssankas se compõe a Páscoa ucraniana. A missa de páscoa é celebrada em ucraniano, língua ainda falada por alguns moradores da região, e conta com eventos

No café da

manhã de domingo, o ovo bento é o

primeiro alimento a ser consumido, numa espécie de ritual

específicos, como a procissão ao redor da igreja, além da benção dos alimentos. As famílias ucranianas passam o sábado de aleluia preparando uma grande cesta com pães, ovos, carnes, manteiga, linguiça e outros alimentos, e a levam para a missa, para receber a benção. “A benção dos alimentos é muito importante, sendo que as famílias passam 40 dias em abstinência de alguns alimentos, então essa primeira refeição de Páscoa torna-se uma festa celebrando a vida, e ao mesmo tempo o direito de agora

A partilha do ovo bento é feita na manhã do domingo de Pascoa e é ministrada pelo Padre

se alimentar bem.” – menciona o Pe. Mário Prediasniuk, Paróco da Paróquia Assunção de Nossa Senhora. No café da manhã de domingo, o ovo bento é o primeiro alimento a ser consumido, numa espécie de ritual onde o pai da família ou o mais velho da casa o distribui pronunciando “Chrestos Voskres” (Cristo ressuscitou), e se responde “Voistenu Voskrés” (verdadeiramente ressuscitou!). Entre cânticos nessa língua tão exótica, desenhos que trazem consigo uma tradição milenar e muita significação, e hábitos

diferenciados, descobre-se uma cultura rica, plural e profunda. Em meio a nossa compra compulsiva de chocolates, paramos para ver que nem só ele pode ser um símbolo importante dessa celebração. A miscigenação

brasileira fica evidente, mostrando uma das várias culturas que compõe essa colcha de retalhos, e a riqueza de poder vivenciar tudo isso, um pedaço da Ucrânia bem perto daqui.

Fotos: Nathalia Fontana Metelski

o ano de 1891, seduzidas pela propaganda do Brasil como o “paraíso na terra”, cerca de 30 famílias vindas da região que hoje é considerada a Ucrânia, desembarcaram no porto de Paranaguá, e se espalharam pelo estado do Paraná. Com a contínua divulgação das terras brasileiras e falsas promessas de recursos gratuitos para os imigrantes, em janeiro de 1895 inicia-se a chegada em massa de muitos daqueles que habitavam a chamada Galícia. Mais de 5 mil famílias de ucranianos deixaram seus lares, e 90% desse contingente fixou-se no estado mais ao norte da região sul do Brasil. As tradições e costumes desse povo continuam vivas nos seus descendentes em diversas cidades do Paraná, entre elas, Guarapuava, há 247 km de Curitiba. Os ucranianos mantêm o hábito de celebrar a Páscoa segundo seus costumes, que são compostos por diversos eventos durante toda a Semana Santa. O grande símbolo da celebração da páscoa nessa cultura é a pêssanka, ovo decorado artisticamente com motivos ucranianos. A técnica cheia de significados próprios encanta pessoas de todas as etnias e é mantida por alguns, entre eles, a pedagoga Maria Rosa, residente de Guarapuava, que hoje dá aulas ensinando a produzir pêssankas na Paróquia Assunção de Nossa Senhora. O projeto se iniciou nesse ano e conta com 20 participantes interessados na arte. O que chama atenção nessa atitude é seu caráter em prol da preservação da cultura, repassando a técnica para as próximas gerações. “Acredito

Pêssankas, um grande símbolo da celebração da Páscoa, produzidas pela artesã Maria Rosa

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As pêssankas são bonitas e cheias de detalhes que encantam

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Saúde

Chocolate Caseiro

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Industrial

Os prós e contras do chocolate caseiro e industrial, e a preferência entre os consumidores Bruna Costa Silva

Fotos: Arquivo pessoal

C

hocolate caseiro ou industrial? Para respondermos a esta pergunta, questões como preço, sabor e qualidade não podem ficar de fora. No mês de abril, época de Páscoa, não se fala em outra coisa: chocolate é o melhor presente. Mas, qual? Caseiro ou industrial? Segundo a ABICAB (Associação Brasileira de Amendoim, Balas e Derivados) a compulsão por chocolate apresenta níveis de 40% em mulheres e apenas 15% em homens. O chocolate é uma atração especial em datas comemorativas, considerado um dos doces preferidos entre os brasileiros, sendo um alimento diversificado entre o consumo mundial. Conhecido pelo sabor, carga energética e a popular sensação de prazer, o chocolate estimula a produção de serotonina pelo cérebro, uma substância ligada à sensação de prazer que pode aliviar a depressão e diminuir o stresse. Afinal, o chocolate caseiro tem diferença nutricional do industrial? A estudante de Nutrição Ana Paula Cortezze Ott, do 5º período da Univali, esclarece. “O caseiro normalmente não contem conservantes, corantes, etc. Porém, do ponto de vista de segurança alimentar, pode ser que o caseiro não tenha sido fabricado dentro das normas de higiene, mas se for dentro das normas o caseiro é sempre melhor, se for meio amargo ou amargo também, o açúcar é o vilão, o indicado é ingerir, por dia, no máximo110 kcal de doces”. O consumo exagerado de chocolate causa efeitos maléficos como o ganho de peso, a

Ana Paula, estudante de nutrição

enxaqueca, diabetes e pode até se tornar um vício. Mas e o consumidor, tem preferência pelo quê? Ana Cristina Schork é mãe de dois filhos, Enzo e Isis. Ela afirma que tem lá as suas exigências com a saúde dos pequenos. “Caseiro. Por que gosto de cozinhar e sempre opto pelo mais natural possível, tratando de alimentos”. Ana ainda afirma que em questões de preço também tem suas preferências. “Na compra do chocolate caseiro não pago pela marca, como no caso do industrial, e sim pela qualidade”. Os mais favorecidos com esse tipo de consumidor são os fabricantes de chocolates caseiros, que usam este meio para complementar a renda familiar. Alessandra Santos é dona da Dolce e Art Brigadeiria, ficou famosa em Tijucas por seus chocolates e brigadeiros gourmet, tanto festivos

quanto pascais, “Além de gostar de comer, sempre procuro os melhores ingredientes, faço muita pesquisa de mercado e procuro atender de maneira diferenciada. Como precisava completar minha renda e gosto de cozinhar, lembrei desses docinhos populares, mas precisava ser diferente, foi aí que surgiu a ideia dos brigadeiros e docinhos gourmet”, acrescenta. Dona Neiva, proprietária da padaria Doce e Pão, em Guabiruba, afirma que vende tanto chocolate industrial quanto caseiro. “O foco são as especiarias feitas por nós e assim disponibilizamos o básico do chocolate industrial, a venda como complementos para uma cesta ou presente, com bis e barras de chocolate. O destaque

Na compra do

chocolate caseiro não pago pela

marca, como no

caso do industrial, e sim pela qualidade Ana Cristina Schork, consumidora

é o nosso produto, até mesmo porque os clientes sentem falta de alguns dos nossos doces quando não temos à venda, como a torta Floresta Negra”. Em uma pesquisa feita pela ABICAB, o Brasil aparece como

o terceiro maior consumidor e produtor de chocolate no mundo. Tem o terceiro maior consumo per capita, 2,8kg por habitante/ano, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e da Alemanha. O amor e o desejo pelo chocolate é antigo. O alimento derivado do cacau era utilizado como oferenda para os deuses maias. Foi, durante anos,

consumido apenas pelos nobres, e já serviu até como moeda de troca entre os maias e astecas. Hoje ele pode ser encontrado em qualquer lugar. No mercado, na padaria da esquina e na lanchonete da escola. Está ali ao alcance da mão. E mesmo tendo prós e contras, entre o industrial e o caseiro, ninguém dispensa um pedacinho.

Curiosidades sobre o chocolate 1. Chocolate é um termo grego que significa “alimento dos Deuses”ou “Theobroma”. 2. O chocolate branco não é chocolate de verdade. É feito com a manteiga do cacau misturada com leite e açúcar; 3. Chocolate já foi mais valioso que ouro e prata no império asteca. 4. Foi em 1875 que o suíço Henri Nestlé, juntamente com Daniel Peter, desenvolveu o primeiro chocolate ao leite da história. 5. Portugueses comem cerca de 1,5kg de chocolate por ano. 6. Na Suíça, cada cidadão consome em média 10kg de chocolate por ano. 7. A Costa do Marfim é o maior produtor de cacau. O país africano cultiva o equivalente a 32% da produção mundial. 8. O chocolate estimula a produção de hormonas semelhantes às que são produzidas quando estamos apaixonados. Ele ajuda no combate à depressão, à hipertensão, aos tumores e ao stress.

Fotos: Arquivo pessoal

Fotos: Arquivo pessoal

Ana Cristina prefere chocolates caseiros, optando pela qualidade do produto

Itajaí, abril de 2015

Alessandra é conhecida no facebook pelas fotos de seus doces, que dão água na boca

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VOR

Itajaí no mapa mundi Única parada da Volvo Ocean Race na América Latina, cidade bateu recorde de público Gabriel Elias

A

maior competição de vela do mundo passou por Itajaí, transformando a cidade no novo polo náutico do Brasil. Durante 15 dias, o município foi sede da Volvo Ocean Race, Itajaí Stopover, e abrigou seis veleiros de diferentes países. A Vila da Regata recebeu mais de 300 mil visitantes vindos de outras cidades e estados, que vieram acompanhar, de perto, um evento que já entrou pra memória da regata: além de ser a única cidade da América Latina a sediar a corrida, Itajaí foi a “melhor stopover da história da Volvo Ocean Race”, segundo os próprios organizadores do evento. A experiência do repórter

Corrida feita não apenas por atletas A Vila da Regata em Itajaí não foi feita apenas por veleiros e velejadores. Um grande número de pessoas trabalhou nesta edição do evento: pessoal da segurança, de limpeza, jornalistas, fotógrafos, cinegrafistas, cozinheiros, toda a equipe das secretarias de Comunicação e de Turismo de Itajaí, e um grande número de voluntários, sem contar todo o time de organização da própria

Foto: Ainhoa Sanchez

Eu iniciei meu serviço voluntário na Volvo uma semana antes de a Vila ser aberta ao público. Ainda estou surpreso de como eles conseguiram montar uma estrutura tão grande em tão pouco tempo. A interação com todos aqueles jornalistas brasileiros e estrangeiros me motivou a ajudar em tudo o que era necessário. Aos poucos, fui ganhando a confiança dos “gringos” e, para apoiá-los, até reserva em restaurantes ou consultas em dentistas eu marquei. Em alguns dias, ao cair da noite, chegaram a ministrar aulas de samba na Stopover. Acabou, mas apenas para Itajaí. Os navegadores seguem para Newport, Estados Unidos, e ainda vão passar por Lisboa, em Portugal, e Lorient, na França, até chegarem a

Gothenburg, na Suécia. Um diferencial nesta edição é a parada de 24 horas que os veleiros farão em Hague, na Holanda: eles partem exatamente 24 horas depois de chegarem ao porto. A perna 5, de Auckland para Itajaí, é a mais comprida e difícil de todas as 9 pernas do circuito. O mastro da equipe chinesa Dongfeng quebrou quando eles passavam pela Argentina. O novo mastro chegou a Itajaí durante a madrugada do dia 13 de abril, e os navegadores puderam continuar a corrida a partir daqui. A equipe feminina SCA, única embarcação tripulada apenas por mulheres, também enfrentou algumas dificuldades: o barco das 12 velejadoras virou, ficando de lado. Elas conseguiram reverter a situação, mas um problema na quilha atrasou de novo o percurso. Para adiantar, elas passaram a navegar mais próximas da costa gaúcha, de modo a pegar mais vento. Outra dificuldade da equipe SCA é a falta de experiência das atletas: apenas duas já haviam participado da Regata.

Volvo. A francesa Agathe Armand foi uma das pessoas que eu tive o privilégio de conhecer durante o trabalho na Vila da Regata. Ela é a escritora do site da Volvo, e se reveza em visita aos países com Juno, outra escritora: “Eu vou para um país, para uma stopover, e Juno vai para outro”, conta. “Nós escrevemos as histórias que vão para o website, fazemos todo o conteúdo e as entrevistas para o site. Trabalhamos muito quando os botes estão chegando ou partindo. Todo dia é alguma coisa diferente”. Agathe trabalha para a corrida há quatro anos. Antes, não viajava tanto quanto viaja agora. Quando eu perguntei como era trabalhar em algo assim, os olhos dela brilharam: “Eu me sinto sortuda. Eu amo essa corrida, faço bons amigos, conheço lugares maravilhosos. Cada viagem é uma lição, um aprendizado diferente. Eu estive em Cape Town (África do Sul), Sanya (China) e agora em Itajaí e estou amando a cidade, as praias, os restaurantes, as festas. Eu amei o Brasil”, ela diz. Outra pessoa que faz o conteúdo do website da Volvo é o britânico Rhys Dyer. “Eu faço o conteúdo de vídeo que vai para o website, filmo os botes, os velejadores. Trabalhar aqui é bom, as pessoas aqui são uma equipe, somos amigos. Itajaí é uma ótima cidade”, afirma. Eu acredito que esse seja um emprego cobiçado por qualquer um: viajar o mundo fazendo o que você gosta, e sendo pago pra isso. Algumas pessoas não viajam o mundo com a Volvo, mas tiveram a oportunidade de trabalhar no evento em Itajaí. É o caso da egressa de Jornalismo, Raquel Cruz. Ela integra a equipe da Secretaria de Comunicação da Prefeitura local, e dentro da Itajaí Stopover, Raquel era gerente do Media Centre, onde eram acolhidos os jornalistas locais e de outros estados, ou estrangeiros. “Eu me mudei da prefeitura pra Vila da Regata algumas semanas antes de o evento começar, pra acompanhar todo o processo

de montagem do Media Centre, desde onde as mesas seriam postas, até como funcionaria o sistema de internet, que neste ambiente é bem importante”, conta Raquel. As primeiras equipes de jornalistas estrangeiros começaram a chegar ao Media Centre um dia antes da abertura oficial da Vila da Regata. Os locais não se instalaram ali, já que têm seus próprios escritórios na cidade. O Media Centre tinha capacidade para receber 60 jornalistas simultaneamente, além dos telões para acompanhar ao vivo as chegadas e as largadas dos barcos. Também havia barcos de imprensa, para que as equipes de jornalistas pudessem acompanhar de perto as corridas in-port e as chegadas ou saídas dos botes. “A gente teve um pico de trabalho nos primeiros dias, quando o fluxo de pessoas e informações era muito rápido, por conta da chegada de quatro barcos num intervalo de tempo de 55 minutos, e dois dias depois a chegada de um novo barco. Eu acho que é o nosso dever dar as boas-vindas a todo mundo, acolher da melhor forma possível e fazer com que o período em que eles estejam em Itajaí seja o mais produtivo possível. Eu acho que essa troca de experiência, entre jornalistas mais novos e jornalistas mais velhos, jornalistas que nunca vieram ao Brasil, jornalistas que já passaram por aqui outras vezes em outros eventos, essa troca é muito rica e é isso que torna a cobertura do evento ainda mais interessante”, avalia Raquel. Ela diz que a diferença entre trabalhar com brasileiros e estrangeiros é pouca, é mais questão de idiomas. A essência da pessoa, reforça, é independente da bandeira de qualquer país. “É a primeira vez que eu trabalho em um evento nessa função, estando na organização local. Eu tive outras experiências em que eu estava em outras posições, ou estava em veículos de comunicação, trabalhando do outro lado do balcão, ou então pela própria organização da regata, mas

não como comitê local. Mas é interessante porque tu acabas entendendo os vários lados. É uma bagagem que, nos próximos anos, eu ainda vou colher frutos desta experiência. Eu espero que vários outros eventos deste porte ou desta natureza apareçam pela frente”. Minions - Serviço Voluntário Outras pessoas que trabalharam no evento foram os voluntários. Os “Minions”, como se autointitularam por causa do uniforme amarelo, fizeram todo o diferencial no evento, trabalhando em diversas áreas da Vila da Regata, desde o balcão de informações, o Dome, o Planetário, o Media Centre, até a Cross Section e outros lugares, recebendo o público, passando informações e orientações. Um trabalho elogiado por toda a organização do evento. O serviço voluntário, coordenado pela equipe de Gestão de Eventos da Univali, foi considerado o mais organizado de todos. Tanto que a equipe ganhou um presente da Volvo: o sorteio de uma viagem a Portugal, para conhecer a Vila da Regata em Lisboa. O sortudo foi Douglas Werner Lima, de 23 anos, estudante de Administração. Douglas fez aniversário dia 22 de abril, e ganhou este presentão. Ele participou das duas edições da Volvo em Itajaí, e diz que foram experiências incríveis. “não somente por ser voluntário e ter ajudado na organização do evento, mas por estar em contato com outros idiomas, diferentes culturas e costumes. E representar não só a cidade, mas o estado, o pais, na Volvo de Lisboa, será grande”, ele diz. A Vila da Regata fechou. Restam as lembranças, as fotos, e as amizades feitas no decorrer desse período. Itajaí já se candidatou para sede da próxima corrida, dentro de três anos. As negociações começam em junho e se estendem até dezembro. Agora, é torcer pra repetir o feito.

A largada para a próxima etapa da corrida aconteceu dia 19 de abril

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Cobaia

Itajaí, abril de 2015


Benn, coordenador de voluntários da Volvo Ocean Race. O programa de voluntários é incrivelmente importante. Sem os voluntários, nós simplesmente não poderíamos fazer este evento. Alguns podem dizer que são os velejadores ou membros das equipes, mas, para mim, são os voluntários. Eles representam o país e são responsáveis por nos ajudar na comunicação com as pessoas que não falam inglês. Os voluntários daqui foram os mais engajados, mais entusiasmados, o melhor grupo com que eu estive. Foi um prazer trabalhar com os voluntários todos os dias. Eu estou animado em conhecer outro país, mas estou triste em ter que deixar o Brasil.

Alan, 25 anos, estudante de construção naval na Univali. É um evento novo de que eu estou participando, eu me mudei pra cá faz uns três meses. Eu vim também pra conhecer o evento, conhecer novas pessoas e ganhar novas experiências. Trabalhar aqui foi bem divertido. Não tive a oportunidade de conversar diretamente com os velejadores, mas eu trabalhei no estaleiro, no Dome, no planetário, no Marejópolis. As pessoas pediam informações, a gente explicava, caso a gente não soubesse a gente corria atrás da informação.

Ana Claudia, coordenadora assistente. O trabalho dos voluntários foi muito bom. A gente já havia tido experiência com os voluntários na outra edição do evento, e realmente é muito positivo, porque a gente vê que quem vem retorna, e retorna com vontade, querendo trabalhar sempre, querendo fazer mais turnos do que estava escalado. Então o pessoal se envolve e isso deixa a gente muito contente.

Amanda, 20 anos, estuda fisioterapia na Univali. Foi minha primeira vez como voluntária neste evento. Eu gostei muito. A gente fez muitas amizades. Eu sou Terapeuta da Alegria, então eu fui convidada pela Helena, organizadora do evento, para estar acompanhando a equipe Alvimedica no hospital pequeno anjo, como a mascote, Wisdom. Foi uma experiência muito bacana também, tanto para o lado pessoal quanto profissional. Se tiver de novo eu estarei aqui, com certeza.

Humberto, 18 anos, descobriu o trabalho voluntário através do site da Univali. A minha experiência na Volvo foi muito boa, eu trabalhei em vários setores, mas, a melhor experiência foi na Cross Section, onde aprendi muito sobre barcos. Foi uma experiência muito boa. Estou muito grato. Eu vou me lembrar e me emocionar muito por isso.

João, 29 anos, descobriu o voluntariado através da televisão. Eu curti demais. Eu fui mascote da festa. Os adultos trataram o mascote (um albatroz) muito bem, e as crianças adoraram. Foi muito legal. Muito importante.

Eduardo, 33 anos, estudante de Fotografia na Univali. É a segunda vez que eu trabalho como voluntário na Regata. Mais uma vez foi muito bom. Tive bastante experiência, fiz bastante contato, bastante amizade. É uma experiência boa. É legal fazer parte deste evento que traz bastante coisa boa pra cidade.

Foto: Eduardo da Rocha

A população de Itajaí e turistas marcaram presença no último dia

Itajaí, abril de 2015

Igor Coimbra, coordenador de voluntários. O trabalho de voluntários foi muito bom, foi elogiado de todas as partes, tanto da Volvo quanto da Univali. E a gente está bem contente com o envolvimento e com o trabalho de cada um dos voluntários, que, realmente, fez toda a diferença.

Foto: Buda Mendes

Aline, 25 anos, descobriu o voluntariado através do facebook da prefeitura. Eu queria ter participado na outra edição, mas não consegui. Então, eu aguardei pra que, quando abrisse a vaga, eu pudesse me inscrever. Participar do evento foi muito legal, porque eu pude fazer coisas que eu nunca tinha feito. Pude conhecer o pessoal das equipes, o pessoal da organização. Foi muito bom poder ir nos barcos, poder conhecer. É diferente de você como público, porque você tem acesso a uma informação, e aqui, ajudando, trabalhando, você tem outra informação. Foi melhor do que eu esperava.

Luana, 17 anos, estudante de Publicidade e Propaganda na Univali. Eu adorei, foi uma experiência ótima. Eu não sou daqui, sou de Salvador, e conheci muitas pessoas, treinei um pouco do inglês também, foi bem divertido. Tem pessoas que vêm aqui, que você vê que agradecem mesmo. No primeiro dia, logo de início, a primeira pessoa que a gente atendeu foi muito carinhosa, abraçou e beijou a gente. Então, isso é legal, é recompensador.

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Os voluntários deram um show, inclusive ajudando as crianças

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Gastronomia

Guia Gastronômico: história com sabor Bruna Froehner, Francielle Luiza Mianes, Priscila Cristina Baade

O Casarão A

Foto: Priscila Cristina Baade

casa de tijolos empilhados com colunas de madeira fica na esquina da rua Samuel Morse com a rua Guilherme Scharf, no bairro Fortaleza, em Blumenau. O estilo enxaimel da residência encanta quem passa pela movimentada rua e atrai os olhos para a placa que fica acima da porta de entrada “O Casarão – café e restaurante”. A casa, construída por volta de 1910, foi restaurada para abrir o estabelecimento, inaugurada em março deste ano. A fachada do restaurante possui detalhes pintados de vermelho e uma pequena varanda, cercada por uma grade de madeira. As janelas e portas de madeira, pintadas de branco, complementam a beleza do estabelecimento. Ao entrar no restaurante o estilo rústico da arquitetura se mistura com acessórios decorativos modernos, como quadros da Marilyn Monroe, de Elvis Presley e do filme “O poderoso chefão”. Uma das paredes é de tijolos à vista com prateleiras suspensas que expõem diversas bebidas. Há também uma estante com fotos antigas de família, que mostram o caráter familiar do restaurante. A decoração e a arquitetura do lugar fazem o ambiente ficar aconchegante e agradável. O atendimento é feito por pessoas simples e simpáticas, que cativam os clientes. A ida ao restaurante é uma boa pedida para os apreciadores de instalações antigas, que gostam de reviver a história por meio dos lugares. A estrutura, as paredes e as divisórias da casa não foram alteradas e por isso é possível observar o estilo original da construção que tem mais de cem

anos de existência. A comida oferecida no buffet livre é preparada de modo caseiro. “Preparamos as comidas no estilo natural, não utilizamos nada em conserva”, afirma a coordenadora da cozinha, Fernanda Goedert. Alguns itens do cardápio oferecido variam de um dia para o outro, mas sempre integra pratos tradicionais, como arroz, feijão, batata, aipim e polenta. Fernanda disse que já tentou inovar e oferecer comidas diferentes, mas o público está acostumado e sempre pede o cardápio habitual.

Aos sábados, O Casarão oferece feijoada, com acompanhamentos. O preço é justo e acessível, de segunda a sexta R$ 12 o buffet livre, e, aos sábados, R$ 15. Artur Wruck conta que já apreciava a comida preparada por Fernanda e as outras cozinheiras quando ela era servida em um bar que fica atrás do restaurante, mas diz que agora é muito mais agradável almoçar por causa do ambiente. “A comida sempre foi boa, mas depois que abriram o restaurante é muito melhor almoçar, por causa do lugar”.

O Casarão – café e restaurante Proprietário: Cláudio Luiz Wan Dall Endereço: Rua Guilherme Scharf, 3556, Bairro Fortaleza, Blumenau Telefones: (47) 8835-2714/ (47) 8821-5744 Atendimento Segunda - Sexta: 11h/14h Sábados - 11:30/ 14h

Empório Gourmet Itajahy A

o entrar é possível notar o cheiro inconfundível dos queijos. O provolone e o serrano se destacam e mesclam com o das linguiças penduradas na parede. Uma mistura que aguça o paladar. Sem ao menos colocar na boca pode-se saborear os tradicionais petiscos. Na entrada o cliente é recepcionado por uma guirlanda de rolhas, neste mês, estilizadas com o verde e o amarelo. A porta de madeira alta e estreita

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evidencia o ambiente rústico. Para aconchegar o visitante, luminárias vermelhas penduradas com uma luz quente. Um convite irrecusável para a escolha de um aperitivo acompanhado a uma boa roda de conversa. O local é todo decorado com quadros coloridos e artesanatos feitos em madeira. Nas prateleiras que vão até quase o teto, vinhos de todos os tipos, marcas, anos, nacionalidades e cores. Ao mesmo

tempo em que aparenta ser um local americanizado, os potes feitos no capricho caseiro desmistificam o estrangeirismo. Geléias, broas e grãos estão entre as especiarias da terra. O ambiente é arrojado, sem esquecer-se da essência açoriana. Cada espaço desse lugar leva um pouco de cultura, de arte, de história. O local é pequeno, apenas dois corredores estreitos entre uma mesa central onde ficam os frios, Cobaia

servidos em forma de buffet. Com cinco reais e mais oitenta centavos a cada 100 gramas, o cliente consegue deliciar-se. O buffet oferece de três a quatro tipos de queijos, coração de alcachofra, salame, relich de pepino, pasta de berinjela, pimenta biquinho, cebolinha, cremes de queijo, ovo de codorna e frutas secas. Além do prato quente - cada dia um diferente. Para acompanhar, se o cliente não gostar de um vinho, pode es-

colher entre as cervejas. São três geladeiras dividas em categorias: cervejas artesanais, importadas e importadas comerciais da Coca-Cola. Sofisticação nos produtos e no nome: Empório Gourmet Itajahy. Um dos espaços do Mercado Público de Itajaí, ganho por meio de Edital. Seu Rui Bittencourt não perde tempo. O sol acaba de se pôr e ele já está na porta de entrada do empório. Pega seu prato e se Itajaí, abril de 2015


nômico da Universidade do Vale do Itajaí, Univali, que elegia o melhor prato à base de Pescados do Mercado do Peixe de Itajaí. O prato que a fez ganhar trata-se de uma desconstrução do Camarão na Moranga. Uma invenção de Fátima. Creme de aipim com leite de coco acompanhado com camarões defumados e outros segredos da chef. Quem prova diz: não há nada igual. Come-se com os olhos, saboreia-se com o cheiro e degusta-se com o paladar. “É de comer rezando”, conta um cliente. O único problema é que esse só é feito uma vez ao mês. Fátima só faz os pratos salgados aos sábados e reduzidos a apenas 20 porções. “Quem comeu, comeu, quem não comeu precisa chegar mais cedo no próximo sábado”, enfatiza a gerente. E o diferencial não fica só por conta dos pratos deliciosos e com nomes sofisticados como: Cuscuz Marroquino com Salmão na crosta de gergelim, mas também no dia 29 de cada mês. É que Fátima leva consigo há 15 anos uma tradição italiana, o Nhoque da Fortuna: antes de comer é preciso colocar uma nota de dinheiro embaixo do prato, comer setes nhoques em pé, para então, sentar e apreciar à vontade. Para os tradicionalistas ou supersticiosos, sempre dia 29 o Empório oferece esse prato. De segunda a sábado. “Aos domingos fica por conta do cliente”, conta aos risos Fátima.

Foto: Barbara Werner Bernardes

serve com todos os tipos de queijo fatiados disponíveis, creme de queijo e um ovo de codorna. Para acompanhar uma Bohemia gelada. Senta-se em uma das mesas de botequim próxima a parede, na parte do centro do Mercado Público, e delicia-se com o petisco. Está sozinho e pensativo. Parece degustar cada pedaço com imenso prazer, enquanto pesca seus pensamentos. Engenheiro Civil e cronista por hobbie é interrompido apenas pelos cumprimentos. “Seu Rui já é da casa”, conta a gerente do Empório. Ele se contenta em dizer que visitava esse local antes mesmo de se tornar o que é hoje. O local era um ponto de encontro entre os amigos. “Somos guardiões desse espaço”, adianta Élio Jorge Cordeiro, escritor amigo de Rui que chega a mesa e senta-se para uma conversa, enquanto toma uma cerveja artesanal. A gerente do local, Cláudia Coelho, conta que o estabelecimento é muito bem visitado. Os pensadores itajaienses são os maiores clientes. Amantes da arte, da história e da gastronomia. E não é à toa. A poesia está por todo o lado. Na comida e nas páginas de um livro assinado pela chef de cozinha do empório. Dona Fátima Vanzuita é também poetisa. Sabe lidar muito bem com as palavras e com o paladar de quem prova seus pratos. Como ninguém, consegue combinar muito bem ambos. Ganhou recentemente o 1º Lugar no Concurso Gastro-

Empório Gourmet Itajahy Proprietária: Ana Kátia Araújo Endereço: Mercado Público de Itajaí Telefone: (47) 3349-6320 Facebook: Empório Gourmet Itajahy

Atendimento Segunda - Sexta: 09h/00h Sábados - 09h/21h

Fotos: Bruna Froehner

Café Democrático É

na esquina do Mercado Público de Itajaí que fica localizado o Café Democrático. As cadeiras e mesas de madeiras rústica trazem um aconchego especial para o local. Quem passa na frente já fica com vontade de entrar e tomar um café da tarde. Mas o Café Democrático é muito mais que uma simples pausa no dia, o lugar é um passeio pela história de Itajaí, pois funcionava na década de 50 e era ponto de encontro de personalidades da cidade. Agora, meio século depois, o Café Democrático está de cara nova, ganhou cores que contrastam com o preto e branco das fotografias da história do local expostas na parede. Além do ambiente que acolhe, é claro, as delícias do paladar. A casa possui mais de vinte e cinco tipos de café, desde o tradicional café com leite até bebidas mais elaboradas como os capuccinos variados de baunilla, Itajaí, abril de 2015

nutella, paçoca, além do capuccino democrático que leva o nome da casa. Tudo feito sob o olhar minucioso da Chef de Cozinha Eloísa Siqueira que diz que além de fazer parte da história da cidade de Itajaí o Café Democrático é um lugar aconchegante e descontraído, onde moradores e turistas buscam café de qualidade. “O ambiente proporciona reuniões de negócios, reuniões entre amigos, além de encontros políticos, resgatando o clima que existia no antigo Café Democrático.” O lugar já ganhou clientes fiéis, assim como Ronaldo Camargo Souza, advogado que vai geralmente aos fins de semana. “Posso dizer com toda certeza que o local é fantástico, cafés, doces e salgados maravilhosos. As tortas são fantásticas”. Afirma Ronaldo que tem a torta Banof como preferida.

Café Democrático Proprietário: Eloísa Siqueira Endereço: Mercado Público de Itajaí Fone: 47 3046-6613 Facebook: Café Democrático

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Atendimento Segunda - Sábado 09h/20h Domingos 09h/19h

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Opinião

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Outros olhares sobre a Páscoa

A data mais importante do calendário cristão analisada por diferentes prismas Gabriel Fidelis

nam inaceitável para Deus. Nossa decisão de não comemorar a Páscoa se baseia firmemente na Bíblia, que nos incentiva a usar sabedoria prática e raciocínio em vez de simplesmente seguir tradições humanas.” Sua filha, Isabela Naiade Vargas, de doze anos, acha desnecessária a troca de presentes nessa data, ato que se torna superficial no seu ponto de vista: “A pessoa briga com a mãe a semana toda e no dia dá um ovo de chocolate e diz que a ama”, ironiza a menina. Para o historiador Marcelo Azeredo, a Páscoa tornou-se algo capitalista que foge de bases religiosas, pois as famílias estão cada vez mais reféns da publicidade infantil, que, em geral, apresenta como primeira imagem sobre a data uma criança ganhando um ovo de chocolate. “Virou uma moeda de troca, praticamente. É como se os pais falassem aos filhos: “Eu te amo, então pega um ovo de chocolate”, critica o historiador. Para ele, a Páscoa pode ser dividida em dois lados – ambos não necessariamente ligados ao Cristianismo. Um deles, pela vi-

são da astrologia, seria algo voltado à renovação de votos, à fartura. Em tempos atuais, prática do amor, da compaixão e da so-

Virou uma moeda

de troca. É como se os pais falassem aos filhos: “Eu te amo, então pega um ovo de chocolate Marcelo Azeredo

lidariedade. Já o outro lado é a Páscoa explorada pela sociedade de consumo, numa atmosfera que faz com que as famílias de menor poder aquisitivo sintam-se diminuídas por não terem condições de comprar o tão desejado e caro ovo de chocolate.

7 curiosidades sobre a Páscoa 1 - A origem da palavra “Páscoa” é Hebraica. Vem de “Pessach”, que significa passagem. 2 - É a partir da Páscoa que todas as outras datas do calendário são estabelecidas. 3 - No Hemisfério Norte, a Páscoa é comemorada no início da primavera, e também celebra o fim do inverno, a volta da vida. 4 - Alguns cristãos ortodoxos rejeitam a tradição dos ovos de chocolate na Páscoa, pelo caráter pagão que a festa acabou adquirindo. 5 - O ovo aparece em muitas tradições antigas como símbolo de vida ou início dela. 6 - O maior ovo de Páscoa do mundo foi construído na cidade de √egreville, em Alberta, no Canadá. 7 - Na Suécia e partes da Finlândia, um mini Halloween acontece na quinta ou sábado antes da Páscoa.

Fotos: Arquivo pessoal

áscoa é tempo de confraternização, de renovação dos votos familiares e um dia para se partilhar o bem, o amor e a bondade. Mas será que todos a encaram assim? Como diferentes famílias festejam esta data? Na visão de Elisângela Caminada, a Páscoa é um momento de celebrar a união. Por isso, para ela, é comum no domingo de Páscoa haver um almoço em família e a entrega de ovos de chocolate, principalmente para a filha. Porém, a pequena Maria Eduarda, de quatro anos, diz que não ficaria triste se não ganhasse chocolate nessa ocasião. A sexta-feira que antecede o sábado de Páscoa, dia santo de guarda mais importante do calendário cristão, é um feriado comum para os adeptos de outras religiões. É o caso da família de Denise Reis Vargas, que não comemora essa festa. Para ela, a Páscoa está muito distorcida e virou comércio como todas as outras datas comemorativas. Denise afirma: “Nós acreditamos que as origens dos costumes da Páscoa moderna, que vêm de antigos ritos de fertilidade, a tor-

Marcelo Azeredo, em uma apresentação durante o Festival Rock in Beer 2014, que aconteceu nos dias 5 e 6 de setembro. Marcelo, além de historiador, é flautista.

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Itajaí, abril de 2015


Transporte

Estudantes reclamam de coletivos

Usuários da linha Brusque - Itajaí precisam de outras opções de horário para as aulas de sábado Bruna Costa Silva

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lunos que moram na cidade de Brusque e região, a mais de 30 quilômetros de Itajaí, pegam ônibus diariamente para chegar à Univali. O percurso leva pouco mais de uma hora, em média, e os acadêmicos aproveitam esse tempo para fazer amizades, ler, estudar para as provas e dormir. Mas esse ambiente tranquilo pode se tornar bem agitado quando começa o semestre de aulas. Esta é a época dos ajustes e, até que eles sejam feitos, os estudantes enfrentam transtornos, como ônibus lotado e atrasos. A empresa de transporte coletivo procura fazer adequações. Contudo, a logística é bem complicada e as soluções não atendem a todos. Algumas turmas que frequentam disciplinas aos sábados, por exemplo, chegam à Universidade até uma hora e meia antes de a aula começar e acabam tendo de sair cerca de 45 minutos mais cedo, perdendo conteúdo e acumulando faltas. Isso porque, a partir deste semestre, nem todas

as aulas vão das 8 h às 12 h. Algumas começam às 9 h 30 min e terminam às 13h. De acordo com o setor de Recursos Humanos da Univali, o novo horário atende a uma exigência da legislação trabalhista: o artigo 66 do capítulo II da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) determina que se respeite um intervalo de 11 horas consecutivas de repouso entre uma jornada de trabalho e outra. Assim, professores que dão aula até as 22 h 30 min às sextas-feiras, não podem ministrar disciplinas antes das 9 h 30 min do sábado. Representantes da empresa concessionária da linha alegam que oferecer um ônibus mais tarde fica inviável, e mudar o horário atrasa os que têm de chegar mais cedo. “A saída - apontam - é uma coisa que tem que ser discutida, podemos estender esse horário. Da mesma maneira que alguns alunos chegam muito mais cedo, os outros podem esperar um pouco mais para pegar o ônibus de volta, estamos estudando uma forma que fique

viável a todos.” A Coordenadoria de Transporte Universitário de Brusque um setor do governo municipal - admite que o serviço oferecido aos acadêmicos da Univali pode ser melhorado, principalmente quanto ao cadastro dos passageiros. A ideia é implantar um sistema mais preciso de monitoramento das pessoas que estão entrando e saindo dos ônibus. Outra medida em estudo diz respeito ao fluxo de informações entre o prestador do serviço e os estudantes, pois existe muita divergência quanto a horários, rotas, onde pode parar, por que não pode parar. Existe a possibilidade de que se edite uma cartilha para entregar aos alunos que vêm fazer o cadastro, informando principalmente sobre o meio de comunicação disponível: um grupo no facebook pelo qual se divulgam as mudanças de horário, de rota e responde-se a reclamações. Mas, e os acadêmicos brusquenses, o que acham do transporte e do ritmo de vida que es-

colheram para frequentar uma boa universidade? A aluna de Publicidade e Propaganda do 1º período Débora Butsch conta a sua trajetória diária para chegar à faculdade usando o transporte universitário “Pra mim está ótimo, não vejo maiores problemas. Geralmente aproveito o tempo, eu escuto música e tento descansar, a menos que eu tenha algum documento para ler ou livro pra faculdade. Escolhi a Univali porque falavam muito bem dela, assim como do próprio curso. O único transtorno, ressalva, é o fato de os ônibus saírem muito cedo: “Por medo de ficar a pé eu acabo perdendo um pouco da aula”. A experiência da repórter Estudante do 1º período de Jornalismo, Bruna Costa Silva é moradora de Guabiruba, a 43 quilômetros do Campus Itajaí. Ela também utiliza os serviços do coletivo com sede em Brusque e faz questão de falar sobre a ex-

periência: “Como estudante da Univali em Itajaí no período noturno, eu vejo todos os dias a fila de acadêmicos que aguardam pelos ônibus atravessar a rua, uma fila longa. Na volta para casa, o pessoal vem ‘’desmaiado’’, a grande maioria trabalha o dia todo. Noto que falta muita informação. É comum ouvir: ‘’Que horas são? Essa fila é de Brusque? Já é o terceiro ou o último ônibus? Motorista, pode ir em pé para não ter que esperar mais 20 minutos até o próximo chegar?” Uma vez, no sábado, tive que enrolar o motorista por mais de 10 minutos porque uma amiga estava atrasada. Para frequentar a faculdade diariamente muitas vezes passamos por situações que nos levam a pensar como é difícil, imagina frequentar uma faculdade que fica a aproximadamente 1 hora de distância da sua cidade? Ou seja, você sai 2 horas antes de casa e torce pra que nada de ruim aconteça durante o caminho, principalmente em dias de prova”.

Entenda o que está acontecendo com a carteirinha do estudante: No início do semestre, a Coordenadoria de Transporte Universitário de Brusque teve dificuldades com a máquina que fazia a impressão das carteirinhas, apenas um pequeno número foi distribuído e grande parte dos alunos ainda não a receberam. Foi cogitado fazer carteirinhas manuais, mas como são 1.500, ficou inviável. Não tem data prevista para que essa situação se resolva. Enquanto isso, os estudantes circulam sem carteirinha e a falta de controle preocupa.

Banco de imagens

Participe do Grupo ‘’Busão Univali’’ no facebook, o grupo foi criado com intuito de melhorar o serviço oferecido e auxiliar no caso de extravio de pertences. Fique por dentro!

Todos os dias, diversos acadêmicos aguardam o transporte para o retorno ao seus lares. Além da demora, enfrentam insegurança.

Itajaí, abril de 2015

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Literatura

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A leitura em tempos de internet No papel ou nas telas, um bom livro mantém sua magia Katyanne Karinne Krull; colaborou Bruna Costa Silva

êm gente que se sente especialmente feliz em um determinado ambiente. Neste caso, falo por mim: - adoro um lugar que abrigue livros! Sejam eles usados, em um sebo, novos em uma livraria, ou um misto em uma biblioteca. O fato é que qualquer um desses endereços é superlotado de informação, palavras e conhecimento. Você já pensou nisso? Abril é um mês interessante para refletir sobre o assunto: no dia 18, aniversário de Monteiro Lobato, comemorou-se o Dia Nacional do Livro Infantil. No dia 23, foi lembrado o Dia Mundial do Livro e do Direito do Autor, instituído pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). A data foi criada com a intenção de encorajar as pessoas a descobrirem o quão gratificante pode ser a leitura. Mas por que 23

de abril? Nos endereços http:// www.calendarr.com/brasil/dia-mundial-do-livro/ e http://prolivro.org.br/ home/newsletter/noticias, lê-se que grandes escritores como Cervantes, Shakespeare e Nabokov nasceram ou morreram nesse dia, muito embora o dia 22 também apareça ligado a esses autores. Mudança em curso Em tempos de internet e mídias digitais, ler livros tradicionais, com capas, cores, cheiros e texturas pode deixar de ser algo comum. O uso dos Ebooks, livros disponibilizados em suporte eletrônico, foi desenvolvido em 1971, porém apenas em 1993 surgiu o primeiro software para a leitura de livros digitais, tendo chegado ao Brasil em dezembro de 2009. De lá para cá praticamente todas as livrarias

aderiram à plataforma digital. A praticidade é a justificativa apontada pelos que preferem esse tipo de leitura. A oferta total de Ebooks em português já ultrapassa a marca de 16 mil títulos, segundo a página “Revolução Ebook’’, que explica tudo sobre essa tecnologia. Mas, seja em versão de papel ou digital, a comemoração traz à tona a importância da leitura. Aprimorar o vocabulário, se informar, ampliar os horizontes. Tantos são os motivos para ler, que faltaria espaço pra escrever todos. Mas a questão é: quantos livros você já leu neste ano? Se a quantidade for baixa, não se preocupe, ainda está em tempo de recuperar o tempo perdido. A dica é ler algo que seja prazeroso, para começar a ter gosto pela leitura. E para quem tem o hábito de ler livros com frequência, mantê-lo é a palavra de ordem.

Para inspirar a sua leitura: os livros mais vendidos atualmente 1. Nada a perder, de Edir Macedo - 752.973 exemplares 2. A culpa é das estrelas, de John Green - 639.502 exemplares 3. Ansiedade: como enfrentar o mal do século, de Augusto Cury - 346.543 exemplares 4. Destrua este diário, de Keri Smith - 332.940 exemplares

8 coisas que você precisa saber sobre a história do livro 1. A Bíblia de Gutemberg é considerada o primeiro livro impresso da história. 2. A primeira obra editada no Brasil foi Marília de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga, em 1808. 3. A primeira biblioteca do mundo foi construída em Nínive, a cidade mais importante da Assíria. 4. A Biblioteca Real de Alexandria foi uma das maiores bibliotecas do mundo antigo. Reinou como centro da cultura mundial entre os séculos III a.C. e IV d.C. e continha cerca de 700 mil rolos de papiro e pergaminhos. 5. A primeira biblioteca pública fundada no Brasil foi a da Bahia em 1811, criada por iniciativa da população. 6. De acordo com a UNESCO, a autora mais traduzida é Agatha Christie, com aproximadamente 7.000 versões de suas obras, entre romances, contos e peças teatrais. 7. O maior livro do mundo é uma versão de “O Pequeno Príncipe”, lançada na Bienal do Livro do Rio de Janeiro em 2007 com aproximadamente 2m de altura e 3m de largura. 8. Paulo Coelho é o escritor brasileiro que mais vendeu livros, ultrapassando a marca de 150 milhões de exemplares, segundo dados de 2014.

5. Quem é você, Alasca?, de John Green - 161.954 exemplares 6. Se eu ficar, de Gayle Forman - 158.189 exemplares 7. Cidades de papel, de John Green - 143.404 exemplares 8. Não se apega, não, de Isabela Freitas - 130.054 exemplares 9. O pequeno príncipe, de Antonie Saint-Exupéry 123.576 exemplares 10. A menina que roubava livros, de Markus Zusak - 121.876 exemplares

1 – Exercita a mente: atividades como leitura podem diminuir o risco de desenvolver o Alzheimer em cerca de 30%, diz pesquisa. Manter o cérebro ativo e trabalhando previne a perda de força. 2 – Diminui o stress: apesar de todos os problemas que você tenha, no trabalho, em relacionamento, na vida, quando você lê uma boa história, tudo isso simplesmente parece mais distante. 3 – Promove conhecimento.

Banco de imagens

4 – Expande o vocabulário: quanto mais você ler, mais estará em contato com novas palavras, e inevitavelmente vai agregar essas palavras ao seu dia a dia. 5 – Ajuda a ter boa memória. 6 – Contribui para o pensamento crítico. 7 – Colabora na concentração. 8 – Faz nascer bons redatores.

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Cobaia

Itajaí, abril de 2015

Fonte: http://prolivro.org.br/home/newsletter/noticias

Benefícios da leitura que você precisa saber:


Prêmio

Egressa da Univali recebe prêmio da ONU Alessandra Ogeda destacou-se em concurso de jornalismo impresso sobre agricultura familiar Gabriel Elias

A

organização do 1º Prêmio Agricultura Familiar de Jornalismo – Região Sul do Brasil anunciou a lista de vencedores. E entre eles está Alessandra Ogeda, egressa do Curso de Jornalismo da Univali. O prêmio, que contou com o apoio da FENAJ e dos Sindicatos dos Jornalistas do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, e outras instituições, tem por finalidade promover e divulgar projetos, ações e experiências bem sucedidas na área da agricultura familiar, e aproximar os veículos de comunicação dessa temática. As matérias foram selecionadas pela comissão julgadora entre os 184 inscritos. Os vencedores desenvolvem atividades nos estados do Sul. Além de prêmios em dinheiro, eles receberam troféus e certificados. Alessandra Hernandes Ogeda, do jornal Notícias do Dia,

venceu com uma série de reportagens sobre a vida dos agricultores que moram nas cidades da Grande Florianópolis, a tecnologia no campo e o cinturão produtivo, publicadas em agosto de 2014. A egressa da Univali morou em Madri durante três anos, onde fez doutorado em Comunicação, Mudanças Sociais e Desenvolvimento. Ela ficou sabendo da premiação ano passado, quando fazia uma pesquisa sobre prêmios jornalisticos. A reportagem de Alessandra ficou em terceiro lugar na categoria Jornalismo impresso do prêmio, patrocinado pela ONU/FAO. “Quando entrei no Noticias do Dia, em julho de 2014, conversei com a editoria de Economia do Jornal sobre algumas pautas especiais. Já havia a intenção de fazer uma matéria sobre a agricultura na Grande Florianópolis, mas foi após fazer uma reportagem sobre o crescimento nas ex-

portações do mel catarinense que, no meio da conversa com uma das fontes, surgiu a ideia

Jornalismo é

vocação. É preciso ter perseverança para entrar e seguir na carreira

Alessandra Ogeda

de “virar” a pauta. A partir daí, sugeri e esbocei uma série de reportagens que abordasse, além da produção na Grande Florianópolis, o retorno e permanência dos jovens no campo

e o uso crescente de tecnologia na agricultura da região. A partir daí, nos agendamos para viajar para quatro cidades atrás de bons exemplos nestes dois quesitos: jovens nos campos e uso de tecnologia”, conta Alessandra. As matérias foram publicadas na edição conjunta de 9 e 10 de agosto de 2014 e também na edição de 11 de agosto de 2014. “É sempre uma satisfação receber um prêmio de jornalismo porque esta é uma forma de reconhecimento de um bom trabalho. Fiquei feliz e honrada por ter sido lembrada neste prêmio que tem uma organização reconhecida mundialmente por trás e que teve uma alta concorrência - 184 trabalhos inscritos e, na categoria impressa, que recebeu a maior parte das inscrições, a disputa ocorreu entre meios generalistas, como é o caso do Notícias do Dia, e revistas especializadas. Estarmos entre os premiados foi um

privilégio e o resultado de um trabalho feito em equipe”, declara. Quando perguntada sobre o que esse prêmio traz de lição, ela diz que ele ensina o quanto vale a pena investir em uma abordagem diferenciada e especial de um assunto já bastante tratado, como pode ser a agricultura familiar. Aos estudantes de jornalismo, Alessandra lembra: “Jornalismo é vocação. É preciso ter perseverança para entrar e seguir na carreira, mas quem tem o dom de facilitar a comunicação entre as pessoas deve utilizar bem este dom. Também recomendo que o profissional tenha uma visão ampla da profissão, sabendo que pode atuar em diversificadas frentes, e que tenha humildade para aprender diariamente, seja com profissionais mais experientes, seja com as fontes e entrevistados que têm sempre muito a nos ensinar”.

Foto: Marco Santiago/Notícias do Dia/Divulgação

Foto: Carlos Ruggi

Foto: Carlos Ruggi

Alessandra Ogeda ganhou um prêmio de R$ 3 mil

O certificado foi recebido por Alessandra com alegria e gratidão

O sorriso acompanha o rosto dela

Foto: Arquivo produção do evento

Na foto, diversos outros jornalistas que participaram do prêmio e tiveram sua produção reconhecida nas categorias: mídia eletrônica, impressa e digital

Itajaí, abril de 2015

Cobaia

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” IV s i f r e P o “Tecend Por Olga Luísa dos

b

b

Série

Santos

Um salário, um dia de folga e um corte de tecido

Foi o que Irene Sartori recebeu como gratificação ao se aposentar no setor têxtil. Conheça a história de Irene neste quarto capítulo da série “Tecendo Perfis”, assinada por Olga Luisa dos Santos

O

estrondo alto e forte dos trovões e o flash dos raios anunciam a chegada de uma chuva típica dos fins de tarde de verão. Também, pudera, a temperatura e a sensação térmica naquele dia se aproxima dos 40 graus. De dentro do carro avisto uma mulher. Vestida de shorts e regata, ela acena para mim em frente ao portão. Irene Beuting Sartori parece ansiosa ao me aguardar. Ela sabe que me dirijo à Rua Padre Antônio Eising, no bairro Paquetá, à procura dela e, por isso, decidiu indicar onde mora. Cordial, me convida a entrar e pede que eu escolha o local para conversarmos. Sugiro que opte pelo que mais lhe faça se sentir à vontade. Decidimos nos sentar em banquetas, no balcão da cozinha, um lugar arejado e aconchegante. A história de Irene se funde e confunde com a de muitos outros brusquenses. Iniciar a vida profissional na indústria têxtil parecia destino traçado para a maioria dos filhos dos colonos-operários. Bastava o pai ou os irmãos trabalharem na Renaux, Buettner ou Schlösser, para que mais alguém da família fosse inserido nesse nicho de mercado. Com Irene não foi diferente. Assim que uma das irmãs decidiu sair da Schlösser para casar-se, o pai e a outra irmã indicaram seu nome para substituí-la. Guardada na memória, a data do primeiro dia de trabalho é relembrada por Irene com precisão: “Eu entrei

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dia 1º de outubro de 1970”. Orientada pela irmã, aprendeu os passos iniciais para começar na fábrica. Como os demais novatos, foi direcionada à limpeza do setor para posteriormente assumir uma função na produção. De frente para uma máquina cheia de espulas, Irene passou 25 anos de sua vida. “Quando eu comecei a trabalhar, meu pai não queria que a gente trabalhasse no primeiro turno, tinha que ser no segundo, porque ele dizia que era melhor. Mas, era melhor pra ele, não pra nós”. Durante 19 anos não soube o que era assistir a uma novela à noite. As tardes ensolaradas de sábado foram, por muito tempo, apenas um sonho cobiçado pelas espiadas na janela de dentro do setor. Se precisasse, trabalhava de segunda a segunda. Férias de fim de ano, então, nem pensar. Se dia 24 de dezembro a empresa concedesse folga, eles retornavam dia 27 e trabalhavam até dia 31, das 5h às 12h. Criada segundo os princípios morais do pai, Irene usou a imagem do patriarca como exemplo durante todos os anos de sua vida profissional: ele trabalhou por cerca de 20 anos na Schlösser, e assim que saiu da Companhia, permaneceu até se aposentar na Fábrica de Tecidos Carlos Renaux. Mesmo sem conhecer o pai dela, apenas pela descrição, consigo perceber semelhanças evidentes entre ele e outros trabalhadores de garra e coragem. Um trovão nos surpreende e desperta em Irene lembranças das tardes chuvosas em que ia de bicicleta para a empresa. As meninas, ainda de vestido – porque vestir calças compridas na época era reprovado pela sociedade local

–, seguiam junto aos outros dois integrantes da família Beuting em direção ao Centro, pedalando por alguns quilômetros. Muito bem humorada, ela afirma: “Trabalho não mata ninguém”. Irene é uma mulher divertida, e vê motivos para sorrir em cada memória narrada. As gargalhadas saem naturalmente quando remete aos episódios engraçados dentro da fiação. Com um grande sorriso nos lábios, fala sobre a colega Terezinha que, por minutos, fugia rapidamente para perto dela para confidenciar coisas sobre o namoro. Sempre de olho, o contramestre percebia que isso se repetia com frequência e do corredor gritava: “Eu não sei, mas parece que tem açúcar na máquina da Irene”. E novamente entre risos, completa: “Era um tal de se esconder atrás de máquina pro contramestre não ver, que, olha!” No fundo do baú das boas histórias, arquiva as amizades que às vezes paravam “por uns minutinhos” para conversar, e os colegas como Cláudia, que também esteve por 25 anos na Schlösser. As frases passam a ser finalizadas com um desabafo de saudade: “Mas, foi bom!” Irene precisa expressar os bons momentos de alguma forma, talvez como uma justificativa para tanto tempo de entrega ao serviço e à empresa: “Eu gostava de trabalhar lá, como eu tinha bastante amizade era divertido, sabe? Nós tínhamos um grupo de amigas que se juntavam no fim do expediente sempre no ponto de ônibus, e era aquela bagunça”. O calor naquele momento remete ao que sentia na fiação. Em voz alta, começa a contar quantas pessoas trabalhavam na mesma sala. O número preenche todos os dedos de uma mão e ainda resta gente. O som alto do funcionamento do maquinário é aspecto da indústria têxtil que não poderia ser deixado de lado. Um barulho que nunca cessava. Durante o horário de café e das trocas de turno, era preciso ter alguém para supervisionar o equipamento. Certos detalhes não só evidenciam como definem os trabalhadores desse setor. Os dedos machucados, por vezes queimados ou cortados pelos fios, tornavam as mãos das moças fiandeiras um pouco menos macias e delicadas, Cobaia

mas, em compensação, mais ágeis e experientes. Porém, a modernidade veio para maximizar a produção. A instalação de freios possibilitou paralisar a máquina sem utilizar as mãos. Inovação e tecnologia começavam a ocupar o lugar dos operários. Apesar da inserção de novos métodos, Irene se considerava valorizada no emprego. “Eu acho que eu ganhava bem, porque tudo o que eu queria eu consegui fazer”. Novamente somos surpreendidas por um trovão e também pelo vizinho de Irene. A chuva está por vir e amedronta a todos nós. Enxurradas são intempéries temidas pelos brusquenses, já que diversos pontos da cidade sofrem com alagamentos. A Avenida Getúlio Vargas, onde o parque fabril da Schlösser foi construído, é uma das ruas atingida pelas cheias. Irene lembra os estragos causados pela enchente de 1983, quando os funcionários que não tiveram suas casas afetadas foram ajudar na retirada da água do refeitório da fábrica. Momentos tristes e de dificuldades também não foram apagados de sua memória, como o de quando uma colega teve o pagamento furtado do armário no vestiário. Uma equipe que montava novas máquinas, vendo a situação da moça, se reuniu para conseguir dar um novo pagamento a ela. Irene relata o caso ressaltando detalhes. Os mesmos dedos calejados de anos atrás, hoje passam entre os fios de cabelo loiro, coloridos com mechas mais escuras. A aparência não revela os 59 anos de idade. O jeito experiente de relatar determinados assuntos talvez aponte o percurso dessa longa jornada. Aposentada há 19 anos, Irene começou a receber o benefício quando ainda trabalhava na Schlösser. Assim que completou 25 anos de registro, entrou com o pedido no INSS e teve a solicitação aceita. Ainda muito ativa, se considerava nova

demais para parar de trabalhar e permaneceu na empresa. Como gratificação pela aposentadoria recebeu um salário, um dia de folga e um corte de tecido. Os dias de aposentada dentro da fiação não foram muitos. Boatos de um possível fechamento da fábrica começaram a percorrer os corredores. O primeiro sinal da crise foi dado em fevereiro de 1995, quando a Companhia decidiu exonerar todos os trabalhadores aposentados. Já são nove anos afastada daquele local que ela define como “segunda casa”. “Se hoje a firma estivesse funcionando, eu estaria lá ainda. Porque a gente vai se acostumando tanto com aquilo, que quando saí fiquei muito triste.” Sentimento esse que não parece ter fim. “Eu ainda sinto saudade. Quando eu passo ali na frente da Schlösser que eu vejo aquilo tudo parado, eu digo para o meu marido: Meu Deus que saudade, será que saberia ainda trabalhar ali?” Em vias de terminar nossa conversa, questiono sobre o tédio causado pela monotonia do serviço. Rápida e firme, ela me responde que não se entediava. “Aquilo passava o dia tão rápido. E daí quanto mais tu produzias mais tu ganhavas. Então tu focavas em produzir”. Assim o tempo passou tão depressa que, em 2014, 25 anos da vida de Irene na indústria têxtil tornaram-se apenas lembranças, reafirmadas mais uma vez pela frase que caracteriza nosso diálogo: “Foi bom e divertido enquanto durou”.

Itajaí, abril de 2015


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