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Em morada lusitana
Thais Porsch
Dizem que a língua portuguesa é uma das mais belas do mundo. E aí eu concordo. Mas não concordo com quem diz que os brasileiros e portugueses se entendem. O português de Portugal não tem nada a ver com o brasileiro. No meu primeiro dia em Lisboa, para mim, foi mais fácil entender inglês do que o que aqueles portugueses diziam. Eles falam rápido, aglutinam as palavras e, sem querer ser grossa nem nada, falam mais do que o ouro que roubaram do Brasil.
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Os lusitanos têm certa dificuldade de entender ironia, talvez por não ter a “zoeira brasileira” dentro de si. E, por sinal, pra eles uma pessoa “zoeira” é um “gozão”. Também dão nome estranho para as coisas, como uma marca d’água chamada Penacova ou o fato de calcinha se chamar cueca (imagina a confusão na loja da H&M). A apostila é sebenta e fila se chama bicha.
O português de Portugal não tem nada a ver com o brasileiro também na fala. Eles dialogam muito mais rápido que nós, pronunciam as vogais de maneira fechada e usam mesóclise, bem estilo século XVI mesmo. O português vai à lavandaria e dirige autocarro. São extremamente corteses e o pronome mais formal deles é “você”, enquanto “tu” é usado para todo mundo. Eles se expressam como Machado de Assis escreve.
Os portugueses gostam do Brasil e, diferentemente de nós, eles não têm piada de brasileiro. Adoram conhecer gente que vem do Brasil, se sentem íntimos, só não gostam muito de brasileiro que vai para lá trabalhar. Eles gostam de turista que vai a museu e come pastel de nata (pastel de Belém, só em Belém). Mas, me questionei ao sentir a proximidade deles, não era só pela língua. Talvez uma amistosidade por dívida histórica? Não sei, só sei que o português de Portugal não tem nada a ver com o brasileiro.
Um dia, cheguei até a duvidar da hospitalidade dos portugueses ao ser muito mal atendida por uma garçonete em Lisboa. Levantava a mão, erguia o pescoço e chamava “Moça, moça!”. Nada. Aí fui descobrir, por meio de uma amiga brasileira, que moça e moço são termos pejorativos que significa pessoa que realiza um trabalho sujo, desvalorizado ou servil e, para alguns, se refere até a prostituta. Bom, depois do acontecimento vergonhoso, só restou para a rapariga aqui pedir a conta, ir-me para a bicha e pegar o comboio para a próxima paragem. Realmente, o português de Portugal não tem nada a ver com o brasileiro!
Thais Porsch