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Você colhe o que planta
from CDM 60
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VOCÊ COLHE COLHE
O QUE O QUE Neri Volpato, idealizador da horta urbana no condomínio e morador do Terra da Mata.
PLANTA
A nova forma sustentável de tornar as casas e cidades produtivas preservando a natureza por meio de hortas urbanas e agrofl orestas
Allanis Menuci, Isadora Martelli, Maria Eduarda Cassins e Milena Chezanoski
No condomínio localizado no bairro Mossunguê, em Curitiba, o morador e professor da Universidade Tecnológica do Paraná (UTFPR), Neri Volpato, percebeu que havia um espaço disponível e que poderia ser utilizado para fazer uma horta. Então, ele teve a iniciativa de arrumar os canteiros e começar a plantar alguns vegetais no local com a aprovação dos moradores do condomínio. “Eu sempre gostei de mexer com planta e então comecei a organizar, meio que sozinho, com ajuda de um ou outro que apareciam.”
A ideia deu tão certo que outros moradores começaram a se organizar junto com Neri para contribuir com a horta comunitária, ou ajudando no que fosse necessário e topando participar. Por mais motivador que fosse o grande apoio dos condôminos para o projeto, ele percebeu que algumas pessoas não conhecem o processo e, por conta disso, acabam sem querer, impedindo o crescimento da horta.“O problema é que, às vezes, a pessoa não tem experiência em mexer com terra, então arranca coisas que ainda estão crescendo pensando que é mato.” Apesar disso, o morador se orgulha do projeto estar dando certo.
O professor da UTFPR e morador do condomínio Terra da Mata conta que, além de sua utilidade, a horta funciona como uma terapia para ele. “Às vezes passo uma semana tão carregado e no fim de semana eu vou lá e esqueço do horário.” O projeto ainda não foi oficializado como horta comunitária, mas com a alta procura dos moradores Neri espera que isso aconteça logo.
A horta urbana talvez seja uma das principais opções sustentáveis de aproveitamento de espaço. Entretanto, este meio de agricultura não é o único existente. A agrofloresta é um sistema recente que está sendo estudado como uma opção super rentável para a agricultura familiar. Um dos principais motivos é o fato de a agrofloresta fazer o uso de recursos naturais sem elementos externos, trazendo alimentos frescos e saudáveis de maneira simples e proporcionando O sistema agroflorestal tem o princípio de conservação e equilíbrio ambiental entre a preservação e produção de um terreno. Funciona como uma forma de diminuir os danos e impactos no meio ambiente causados pela produção agropecuária, utilizando sustentavelmente os recursos naturais disponíveis para reconstituir esses solos degradados, assim, aumentando a fertilidade do terreno e equilibrando novamente o ecossistema. A agrofloresta parte da ocupação do solo degradado com uma variedade de plantas, que consequentemente geram uma alta diversidade de interações ecológicas.
Para o agrônomo e professor do curso de agronomia da PUCPR, Tiago Jarek, a agrofloresta é um sistema muito produtivo e vantajoso, mas também é algo que demanda muito conhecimento técnico, completando que o amparo técnico para a construção de agroflorestas é primordial para gerar maior rentabilidade para o local. Já sobre hortas urbanas, Jarek comentou que esse tipo de agricultura, feita em pequena escala e de forma a otimizar espaços, é tão válida quanto a própria agrofloresta. Alguns dos benefícios de se ter uma horta em espaços urbanos, na visão do professor, são a obtenção de alimentos de melhor qualidade, os cuidados sem agrotóxicos e qualidades como a ‘terapia’ de cultivar seus próprios alimentos.
Guilherme Leite, criador do projeto Casa da Ciclovia – espaço voltado à Casa da Ciclovia – espaço voltado à prática de agrofloresta no centro urbaprática de agrofloresta no centro urbano de Curitiba –, conta que, além da no de Curitiba –, conta que, além da recuperação do solo em médio e longo recuperação do solo em médio e longo prazo, o sistema agroflorestal tamprazo, o sistema agroflorestal também possibilita gerar novas formas de bém possibilita gerar novas formas de renda. ‘’Por diversificar o plantio, você renda. ‘’Por diversificar o plantio, você não fica mais dependendo de apenas não fica mais dependendo de apenas um cultivo que o preço pode baixar de um cultivo que o preço pode baixar de repente e inviabilizar a colheita. Ou repente e inviabilizar a colheita. Ou vir uma grande geada e levar a lavouvir uma grande geada e levar a lavoura toda. Quanto mais diversidade nós ra toda. Quanto mais diversidade nós temos no nosso cultivo, nos tornamos temos no nosso cultivo, nos tornamos mais resilientes a essas intempéries, mais resilientes a essas intempéries, sejam as naturais ou as do mercado.’’ sejam as naturais ou as do mercado.’’
Promover a combinação de árvores, Promover a combinação de árvores, culturas e animais de forma intencioculturas e animais de forma intencional, projetando e administrando nal, projetando e administrando Victor Bertoncello e Marcos Chaves cuidando da horta comunitária.
Alimentos crescendo na horta urbana do condomínio Terra da Mata.
tudo em uma única unidade não é uma tarefa fácil, especialmente em se tratando da capital paranaense. Com as quatro estações não tão bem definidas, é preciso encontrar plantas que resistam aos períodos irregulares de chuva. Por essa razão, é muito importante prestar atenção na escolha das espécies e no preparo do solo.
Outro ponto que deve ser levado em consideração é o tamanho do espaço destinado ao cultivo. A prática de agrofloresta exige um ambiente maior, sendo sugerido pelo menos 100 metros quadrados para um bom desenvolvimento do espaço. Hortas são mais versáteis e podem ser realizadas nos mais diversos espaços, contanto que sejam levados em conta o tamanho do recipiente, o crescimento da planta e a quantidade de exposição à luz.
A agrofloresta e a horta urbana são muito bem-vindas quando se trata de arquitetura sustentável. Segundo o professor de Arquitetura e Urbanismo da PUCPR Carlos Hardt, há muitas formas de se trazer a agricultura sustentável para dentro de casa, deixando o ambiente agradável, natural e ao mesmo tempo benéfico para as pessoas e para a natureza. “A vegetação exerce um forte poder de amenização de espaços nas pessoas. Ao invés de se ter apenas vasos tradicionais de flores e plantas verdes, se pode ter vasos ou canteiros com espécies que, além de exercerem essa sensação agradável às pessoas, também sejam uma fonte de alimentação saudável”, comentou ele.
No entanto, há muitos questionamentos na internet sobre como fazer uma horta urbana ou até mesmo um tipo de agricultura que sirva de paisagismo e que colabore com o meio ambiente. Em relação a esse assunto, o professor indicou algumas dicas para que as pessoas possam construir seu local sustentável no ambiente doméstico.
De acordo com Hardt, o primeiro passo é analisar o tamanho da área disponível para implantar a sua horta, fator que deve ser levado em conta junto com a insolação do local. Após feito isso, deve-se escolher uma forma de plantio - como por exemplo o tamanho do vaso, o tamanho do canteiro e o que será plantado. Em seguida, é necessária uma análise do que se tem interesse em plantar no local preparado e as condições de plantio. Se existe uma planta cuja raiz cresce
Hortaliças que são plantadas na horta urbana do condomínio.
profundamente, talvez um vaso raso não seja a opção mais adequada.
Um terreno ou um local reconstruído com o sistema agroflorestal, engloba culturas agronômicas essenciais para uma produção sustentável de alimentos seguros de agrotóxicos e ricos em nutrientes orgânicos pela intensificação da sua ciclagem.
CUSTO-BENEFÍCIO
Um dos fatores que mais desmotiva as pessoas a terem e cuidarem de hortas urbanas e sistemas agroflorestais é o custo, que em alguns casos pode ser mais alto do que simplesmente ir até o mercado mais próximo e comprar os vegetais necessários. Porém, depois de se colocar os prós e os contras de se ter uma horta dentro de casa ou até mesmo priorizar tipos de agricultura doméstica, percebe-se que deixar de comprar vegetais produzidos em grande escala é a melhor opção para ajudar o meio ambiente e preservar a saúde.
De acordo com o professor Tiago Jarek, a discussão sobre o que vale a pena quando se trata de fazer uso de agricultura é muito atual. “A dificuldade em criar uma resposta sobre custo-benefício é porque estamos tocando em valores não tangíveis. A simples comparação de preço de hortaliças, ou uma análise de investimentos incluindo as horas trabalhadas na horta podem levar [embora] o sonho de muitos de ter sua própria horta para o espaço”, comenta Jarek. Mesmo assim, ele acredita que o retorno em termos de saúde faz o investimento com hortas urbanas e agricultura doméstica valer a pena, afinal a não-utilização de agrotóxicos e o próprio ato de cultivar os alimentos trazem benefícios à saúde mental e física das pessoas.
Em termos financeiros, o arquiteto e urbanista Carlos Hardt comentou que o custo de construir uma horta, considerando toda infraestrutura como vasos, canteiros, terra, dispositivos para irrigação, ainda somados a insumos como adubo e sementes tem baixo custo se for pensar na possibilidade de reutilização da maioria dos materiais. Ainda, o retorno efetivo desse investimento seria maior no final do que simplesmente comprar produtos vegetais no mercado, em curto prazo.
Para ambos, que reconhecem o custo inicial de investimento em hortas urbanas e agroflorestas como alto, o retorno futuro de construir e cuidar dos espaços onde se junta a sustentabilidade com a possibilidade de cuidar da saúde vale a pena.
Como fazer uma horta urbana?
Confi ra no QR code abaixo como fazer sua própria horta urbana e apoiar a agricultura urbana e sustentável.
portalcomunicare.com.br Espaço destinado ao projeto de agrofl oresta Casa da Ciclovia.
Legislação
Existe alguma lei ou regras para implantar hortas urbanas e agroflorestas em Curitiba?
A lei nº 15.300 de 28 de setembro de 2018 foi estabelecida em Curitiba para regulamentar a atividade de criação de hortas e espaços reservados.
A leigislação o permite que as pessoas plantem em locais que não afetem outras pessoas, desde que haja cuidados com a plantação. Cultivo de plantas tóxicas são proibidas, por exemplo.
Ainda, a lei permite a atividade apenas para uso pessoal, não podendo usar o espaço para comércio, entre outros. A plantação pode ser feita em locais perto de rios, desde que não atrapalhe a mobilidade das pessoas.