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Uma nota de esperança
from CDM 60
A limitação de shows presenciais e outros diversos impactos causados pela pandemia no setor musical de Curitiba deixam os artistas com altas expectativas para 2022
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Allanis Menuci, Helene Mendes, Maria Eduarda Cassins, Milena Chezanoski e Vanessa Guimarães
MélanyCordeiro Duo Honeymoon ensaiando para seu show.
Com um projeto musical iniciado no meio da pandemia do Covid-19, a cantora curitibana Mélany Cordeiro,19,se dedicou a investir no seu sonho, contornando os obstáculos causados pela quarentena, com a divulgação de seu duo musical pelas redes sociais, mas ela deposita suas esperanças de maior visibilidade e audiência no início de 2022. ‘’O fluxo de pessoas novas conhecendo o nosso duo é menor devido à pandemia, principalmente pelos shows serem realizados em ambientes menores e mais exclusivos, com um público bem limitado.’’
Além da instabilidade das bandeiras na capital paranaense, a cantora enfrenta questões restritivas dos locais como espaço, estilo e agenda, que acabam prejudicando. ‘’É muito difícil conseguir credibilidade em lugares novos, pois ainda estamos muito no início. Querendo ou não, a pandemia nos atrasou muito com isso, mas agora com as campanhas de vacinação em andamento e os protocolos sendo cumpridos, os locais voltam a operar e o nosso público começa a crescer, assim como o nosso engajamento nas redes”, completou ela.
Em relação a fazer shows, a banda O Som-de-Brinkedo relata uma grande ansiedade para voltar em 2022, o que motiva a banda a continuar fazendo música. Segundo o integrante da banda e cantor Marcelo Brum-Lemos, os dois anos de quarentena tiveram pontos positivos para sua música. “A pandemia também possibilitou o momento de organização da produção pessoal. No meu caso, compus e gravei bastante e tenho lançado basicamente uma nova canção a cada 15 ou 20 dias no Spotify e demais plataformas.”
Ele comenta, ainda, que sua audiência cresceu durante esse período, e que isso serviu de incentivo para sua produção de músicas. “Além dos novos singles, estou também preparando um
e o nosso público começa a crescer, assim como o nosso engajamento nas redes”, completou ela.
Em relação a fazer shows, a banda O Som-de-Brinkedo relata uma grande ansiedade para voltar em 2022, o que Ele comenta, ainda, que sua audiência cresceu durante esse período, e que isso serviu de incentivo para sua produção de músicas. “Além dos novos singles, estou também preparando um
novo álbum com as canções do que defino como meu ‘ciclo pandêmico’”, completa Brum.
A pandemia no universo da música contribuiu para o encerramento de muitas atividades musicais, seja por conta da impossibilidade de se sustentar financeiramente, pela ausência de shows ou até mesmo por não conseguir desenvolver novos projetos. No entanto, muitos artistas curitibanos aproveitaram esse momento para “debutar’’ na indústria musical e até mesmo ascender.
Do ponto de vista do estudante de Produção Musical da PUCPR e artista Gabriel Cadenas, a pandemia teve seus pontos negativos e positivos. Segundo ele, algumas das coisas boas que foram possibilitadas foram o tempo para adquirir conhecimento musical por meio de softwares e cursos; o aumento de colaborações com artistas de diversos lugares e, como estudante; e a construção de um portfólio maior.
Em contrapartida, Cadenas comentou sobre o aumento no custo de equipamentos para produção musical e a falta de inspiração, impulsionada pelo fenômeno pandêmico conhecido como burnout e pela falta de contato com o mundo afora. “Por você não estar saindo tanto, você tem menos inspirações às vezes. Apesar do maior tempo para reflexão, você está menos em contato com natureza, pessoas e lugares. Acho que isso complicou bastante”, relatou o estudante.
Puxando para o lado de audiência, um estudo realizado no ano passado pelo aplicativo de streaming Deezer mostrou que 51% dos brasileiros estão ouvindo mais músicas do que antes da pandemia. Além disso, a pesquisa revelou que 80% das pessoas ouvem música para melhorar o humor, enquanto 34% ouvem para se sentirem menos sozinhos em tempos de isolamento social.
Tanto para Brum quanto para Cadenas, a procura de música por parte dos curitibanos aumentou, o que é bom e incentiva artistas locais a fazerem e produzirem música. Trazendo para o lado da produção, a busca por estudos na área musical aumentou significativamente pelos próprios artistas que tiveram que se adaptar às tecnologias e ao autodidatismo. Essa é uma percepção positiva do produtor cultural e fundador da Curitizoom, Luciano Moro. “Muitos artistas tiveram que ser seus próprios produtores no momento pandêmico para poder sobreviver e para poder continuar produzir sua arte.”
A música curitibana não é algo muito presente nas grandes paradas nacionais. A falta de visibilidade e investimento por parte de setores públicos - e ainda agora com a situação da pandemia - dificultou ainda mais o posicionamento de holofotes para artistas musicais da capital paranaense. Enquanto nomes nacionais grandes como Marília Mendonça, que morreu em um acidente aéreo em novembro passado, Anitta e a banda Lagum, por exemplo, conseguiram patrocínios para realizar lives, shows online e outras atividades, artistas locais enfrentaram uma grande dificuldade em achar lugar dentro dos gigantes da música brasileira.
Para isso, os músicos locais precisaram encontrar alternativas para produzir música e gerar rentabilidade. Luciano Moro comentou que, apesar dos poucos editais de ajuda do município, especificamente vinculada à Fundação Cultural de Curitiba, essa foi uma das principais alternativas para ajudar o pessoal que lida com música. Com a impossibilidade de ajudar todos os artistas, muitos tiveram que buscar suas próprias maneiras de pagar as contas e conseguir novos fãs.
Rentabilidade na música
Segundo pesquisa feita pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), durante a pandemia, 86% dos 883 músicos pesquisados tiveram sua renda afetada significativamente, enquanto 30% dos trabalhadores do setor perderam toda sua renda.
Com a impossibilidade de shows e turnês, artistas apostam nas redes sociais para se manterem durante a pande
mia. Plataformas de streaming e lives têm sido a melhor alternativa para quem quer se manter no setor musical.
Na capital paranaense, além da pandemia, o setor ficou desfalcado em relação a sua representação. De acordo com a unidade curitibana da Ordem dos Músicos do Brasil, o período marcou também uma ruptura em sua direção, fato que paralisou completamente suas atividades nesse momento que já era complicado. A entidade não quis dar maiores explicações sobre o ocorrido.
No cenário nacional o sancionamento da Lei Aldir Blanc, foi o que propôsauxílio aos músicos e empresas do setor, já que a lei oferece mecanismos de apoio financeiro neste setor.
O artista paranaense e proprietário da produtora Cia Ilimitada, Marcio Juliano, destaca que, apesar de a lei ter dado uma esperança, o momento gerou muita instabilidade, principalmente no seu trabalho, que é voltado para o teatro. “Nosso ofício é das artes vivas! Estar no teatro para eventos das artes cênicas e da músicaé o que faço nos últimos 20 anos.” O músico reforça que o ambiente online é muito complexo, e seu retorno financeiro é mínimo, mesmo assim suas expectativas para o próximo ano são de voltar ao teatro já em março, com propostas de trabalho na região e até fora do Brasil, com seus trabalhos Contos e Outro Samba.
Marcelo Freitas é sócio da Academia do Rock, conhecida escola de música na capital paranaense, e sentiu que, por mais desafiadora que tenha sido, a pandemia foi um período fértil para a criação e encontrar maneiras de ganhar dinheiro com a música.
De acordo com ele, a presença nas plataformas digitais é a chave. “O músico tem que conhecer o seu nicho e marcar presença constante nas redes sociais para divulgar o seu trabalho.” Mesmo assim, Freitas conta que viu colegas recorrerem a bicos de frete e até vendendo instrumentos para sobreviver. “Muitos músicos tentaram sobreviver do auxílio emergencial, fazendo shows online (lives com QR
GabrielCadenas
Gabriel Cadenas fez shows antes da pandemia.
CODE para doações), serenata por WhatsApp. Enfim, teve de tudo na pandemia.”
O empresário ainda salienta que, provavelmente, os professores de música, que conseguiram migrar para as aulas online, tiveram mais êxito em continuar vivendo de música.
Mas isso não ocorreu com todos os artistas. Como já foi dito anteriormente, a maioria teve dificuldade em se adaptar às formas de produzir e criar música online de uma forma independente.
Muitos músicos ainda não têm condições de investir em equipamentos e produção que o permitam um conteúdo de qualidade para tentar se equivaler a artistas que têm contratos com gravadoras e toda uma produção profissional por trás. Consequentemente, a rentabilidade acaba diminuindo.
Aprender a tocar
No Conservatório de MPB de Curitiba, as aulas não paralisaram por conta da pandemia. Mari Lopes Franklin, coordenadora pedagógica da instituição, afirma que boa parte dos alunos aderiu bem ao ambiente on-line, tendo apenas 10% de desistência no início de 2020. Em relação aos professores, apenas dois não conseguiram migrar o curso para o online, e claro, cursos de prática não puderam continuar.
Mari conta também que a apresentação de encerramento dos cursos “Afine-se” que era realizada no auditório do Conservatório passou a ser produzida com gravações de responsabilidade dos professores, e transmitida no perfil do Facebook da instituição. “Isso foi um desafio também para os professores, que além de dar as aulas, eles tiveram que mostrar esse resultado.”
Mesmo com as dificuldades, o conservatório não se apressa em retornar ao presencial, pensando também nos alunos que não são de Curitiba e se inscreveram para participar das aulas neste formato. “O que provavelmente vai acontecer é que nós trabalharemos com com os professores trabalhando com turmas presenciais e online paralelamente.”
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Ouça as músicas dos artistas curitibanos aqui no QR code ao lado ou no Portal Comunicare.
portalcomunicare.com.br
Mas quanto ganha um artista brasileiro?
Um estudo realizado no início de 2021 pela empresa zoOme comparou diversos aplicativos de streaming e sua rentabilidade para cada artista que possui sua(s) obra(s) nestes. Os valores são bem baixos e são baseados por número de vezes que a música foi tocada em dispositivos ao redor do mundo. Como se pode perceber na tabela, cada aplicativo monetiza o artista de uma maneira diferente. Para um artista brasileiro que tem sua música em plataformas de streaming como o Spotify, é preciso que seu conteúdo alcance, pelo menos, 60 mil visualizações para que o músico consiga ganhar um salário mínimo (R$1.102). É importante ressaltar que o número de escutas que realmente é monetizado se refere apenas aos usuários premium das plataformas. No caso do Spotify, que possui mais de 340 milhões de usuários mensais, menos da metade estaria monetizando os artistas por ouvir suas músicas.